A imagem nos livros infantis: caminhos para ler o texto visual | Graça Ramos

A literatura infantil vive seu auge no mercado editorial. A produção de livros de leitura no Brasil que, no início do século XX, priorizava a composição e a elaboração mais aprimorada da linguagem escrita, passa a ter como destaque, na atualidade, a articulação da linguagem visual. Na obra A imagem nos livros infantis: caminhos para ler o texto visual, de Graça Ramos, publicada pela Editora Autêntica em 2011, a autora explora a temática da linguagem visual como um recurso de valor igualitário e, muitas vezes, imprescindível na produção de livros infantis.

Trata-se de uma obra pertencente à série Conversas com o professor – uma coleção organizada por Sônia Junqueira, com o intuito de facilitar ao professor o acesso ao conhecimento acadêmico. Nesse trabalho, Graça Ramos traz algumas questões sobre a literatura infantil, como o percurso histórico da arte da ilustração disposta nos livros infantis, explicita as denominações ou classificações mais indicadas para os livros infantis, além de apontar como a imagem foi ocupando lugar de centralidade na produção editorial. A obra apresenta uma linguagem poupada do uso acentuado de expressões puramente acadêmicas e apresenta-se acompanhada de ilustrações de diferentes livros de literatura infantil, expostas em constante diálogo com a produção escrita.

Neste viés, articulando a linguagem escrita e a visual, Graça Ramos tece a introdução da obra, sob o título Início da coleção, citando e comentando as principais obras que marcaram sua própria infância. A partir de sua experiência como leitora de livros infantis, a autora destaca a importância da imagem nos livros para crianças, visto que “no caso da relação das crianças com as ilustrações dos livros, as imagens se tornam de fundamental importância para a adesão delas à história narrada” (RAMOS, 2011, p.23).

A obra se divide em cinco capítulos. No primeiro, Olhar os livros como paisagem, a autora traz para a discussão a leitura de imagens, compreendida como uma atividade tão complexa quanto a própria leitura da escrita, pois “debruçar-se sobre o que os olhos captam provocará análises e, o mais produtivo, provavelmente ativará a capacidade de inventar. Olhar, portanto, é uma soma que inclui o físico, o psicológico, a percepção e a criação” (RAMOS, 2011, p.34).

No segundo capítulo, Quando o passado interessa, Graça Ramos apresenta argumentações significativas para compor a historicidade da ilustração nos livros infantis. Desde Comenius (1592-1670) com a publicação de Orbis Pictus, em 1658, às fábulas de La Fontaine (1621-1691), aos contos de Charles Perrault (1628-1703), aos contos dos irmãos Grimm, entre outras obras, a autora percorre o caminho da historiografia da produção de livros para crianças, apontando que, num momento inicial, a ilustração exercia um papel secundário nos livros infantis. A imagem era considerada apenas um “respiro” para a densidade do texto escrito.

Nesse percurso histórico, a autora passou pelo século XIX destacando várias obras, com realce para Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll, em que a imagem começava a ter lugar e função diferenciados nas obras de literatura infantil, de forma que a figura completava ou antecipava informações da história narrada. Chega-se, enfim, ao século XX – período considerado como a vanguarda moderna das ilustrações nos livros de leitura –, momento em que surgiram propostas diferenciadas para a elaboração do livro infantil, entre elas as revistas de histórias em quadrinhos, o que iria trazer fortes influências para a produção das ilustrações nos livros infantis. As últimas décadas do século XX iriam receber outras inovações, como o uso exclusivo de imagens para compor uma narrativa visual e a preferência por técnicas variadas para a composição e apresentação das ilustrações nos livros.

Em Um diálogo entre diferentes, terceiro capítulo, o texto busca esclarecer e diferenciar a origem de algumas expressões utilizadas recentemente na denominação dos livros infantis, como picturebooks ou livro-álbuns, descrevendo que “[…] os povos de língua inglesa denominam picturebook esse tipo de produto, em que a imagem e a interação dela com a palavra adquirem grande poder. Os países de tradição hispânica traduzem o termo por livro-álbum” (RAMOS, 2011, p.83).

A termologia livro-imagem é explicitada no quarto capítulo, A dança dos visuais, momento em que a autora traz para a discussão uma determinada forma de livro que dispensa palavras, visto que “[…] o leitor se torna responsável por criar o texto verbal. As crianças, pouco compromissadas com a lógica, são capazes de dar diferentes rumos para uma história proposta a partir dessa linguagem em que as palavras estão ausentes” (RAMOS, 2011, p.109).

No quinto capítulo, O futuro já começou, as versões em e-book, de vários clássicos da literatura infantil, ganham espaço na roda de reflexão proposta pela autora. O texto e a imagem, materializados nesse novo suporte, oferecem uma nova possibilidade de leitura e encontram-se de posse da praticidade de acesso dispostos em telas variadas, seja no computador, no celular, na televisão. Percebe-se, com isso, que “[…] a leitura do e-book pode se transformar em um jogo interativo capaz de reunir muitas pessoas em torno dele, e essa é uma diferença importante” (RAMOS, 2011, p.127).

Para finalizar, em Anotações para uma leitura visual, Graça Ramos apresenta algumas questões que, para ela, precisam ser consideradas ou valorizadas diante de uma obra infantil, como o projeto gráfico e a ilustração.

Utilizando uma linguagem clara e objetiva, Graça Ramos permite uma aproximação das questões teóricas que envolvem a temática da linguagem visual presente na literatura infantil, propiciando o conhecimento de diversas obras utilizadas como recurso de ilustração no decorrer do livro. As discussões e explicitações apresentadas pela autora favorecem uma melhor compreensão da complexidade da produção editorial de livros infantis, o que se torna uma fonte de informação e de enriquecimento para o trabalho docente – desenvolvido com e sobre os livros de literatura infantil, em sala de aula –, ou mesmo para aqueles que se dedicam ao estudo da produção editorial de livros infantis. A obra possibilita tecer fios de uma rede dialógica.


Resenhista

Ilsa do Carmo Vieira Goulart – Doutoranda em Educação, pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas. E-mail: ilsa.vieira@uol.com.br


Referências desta resenha

RAMOS, Graça. A imagem nos livros infantis: caminhos para ler o texto visual. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011. Resenha de: GOULART, Ilsa do Carmo Vieira. Revista Práticas de Linguagem. Juiz de Fora, v.3, n. 1, p.122-124, jan./ jun. 2013. Acessar publicação original [DR]

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