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A História vai ao público: universidade, sociedade e o negacionismo | Revista Hydra | 2019

A Revista Hydra tem a alegria de tornar pública mais uma de suas edições, reafirmando seu compromisso com a divulgação de pesquisas científicas da área de humanidades. Essa preocupação tem ainda mais urgência em nosso tempo presente. Esse tempo, em que tudo corre mal e as inseguranças aumentaram, tornou imperativo que a ciência precise provar o seu valor diariamente diante de um ataque constante e calculadamente destruidor por parte do próprio Governo deste país.

Os cortes orçamentários e a diminuição dos números de bolsas para as pesquisas de pós-graduação, as tentativas de controlar internamente as Instituições de ensino e pesquisa e as calúnias lançadas, ao que parecem, fazem parte de um mesmo propósito: enfraquecer essas instituições, que são sólidas e democráticas, diante da sociedade de modo que os questionamentos por elas levantados não ofereçam nenhum risco imediato. É o caso de negar, de forma autoritária e sem dados de contra prova, as informações apresentadas pelo Inpe sobre o crescimento do desmatamento. E de acusar, sem provas, as Universidades Públicas de fugirem de seu papel ao manterem vínculos irregulares com determinados tipos de plantações. Uma acusação tão vergonhosa que é até mesmo difícil descrevê-la neste texto.

Apesar das investidas, a comunidade científica prova e provou, a cada uma das inúmeras calamidades ocorridas em 2019 e no início deste ano de 2020, que o conhecimento por ela produzido é maior e mais forte do que qualquer tentativa de desmoralização e sucateamento. E que, ao contrário do que vem afirmando este governo, os seus resultados oferecem um impacto real e positivo em nossa sociedade.

A estratégia de ataque ao conhecimento científico tem um aspecto problemático que tem crescido muito no meio da crise em que vivemos: os negacionismos. Embora os abusos do passado não sejam uma novidade no campo da História, existe certa novidade atual que consiste em negar uma parte específica do passado, principalmente quando se trata da ditadura civil-militar. A negação sobre essa parte dolorosa de nosso passado se iniciou ainda na campanha presidencial e foi reforçada ao longo do primeiro ano de governo, inclusive com as falas de alguns ministros. Portanto, não se trata mais de debater certos aspectos desse período, mas de negá-lo. Além disso, conforme a fala adotada pelo governo, todos os sérios trabalhos acadêmicos realizados até este momento sobre a ditadura teriam mais a ver com uma narrativa criada pela esquerda do que uma análise crítica que busca desnudar e expor o que alguns grupos políticos ainda buscam esconder.

Tendo em vista esse cenário, a Revista Hydra planejou uma edição pensada nos desafios que nos foram colocados. O Dossiê “A História vai ao público: universidade, sociedade e o negacionismo” pretendeu criar um espaço de discussão que abordasse de diferentes formas a relação que há entre a sociedade, a universidade e os negacionismos que atingem o conhecimento produzido por essas instituições, principalmente sobre o passado brasileiro. Pensamos que de certa maneira, esse tema se conecta com outros problemas que nos causam aflição, como os ataques que também sofrem o setor cultural, principalmente o cinema nacional. Sabemos que o caso do Brasil não é isolado e que cresce o conservadorismo em outros países assim como também crescem os negacionismos e que ambos estão relacionados. Dessa forma, se torna essencial nos debruçarmos sobre os acontecimentos atuais e entendê-los diante de uma perspectiva histórica, pois, como se pode observar, trouxeram consequências graves que podem se desdobrar e permanecer ainda durante muito tempo.

Sendo assim, além dos textos do dossiê, procuramos o diálogo através de outras formas, o que resultou nas três entrevistas publicadas nesse número. O objetivo é obter um panorama, dentro dos limites que uma entrevista impõe, de como pesquisadores de humanidades e de exatas lidam com o negacionismo.

Porque, como, quando e em nome de quem são as perguntas que precisam nos mover. E que os medos, preocupações e incertezas sobre um futuro que seja de fato democrático não nos paralisem.

Por fim, a Revista Hydra agradece o apoio da Reserva Técnica Institucional (número do processo 2017 / 24616-1) pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e à Universidade Federal de São Paulo, que possibilitou a publicação dessa edição.

Boa leitura a todos e todas!


Editorial. Revista Hydra. São Paulo, v.4, n.7, dez., 2019. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Itamar Freitas

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