A formação docente do PIBID Letras. Alguns recortes de experiências | Alexandra Santos Pinheiro e Rita Maria Decarli Bottega
O livro “A formação docente do PIBID Letras no Brasil: reflexões e (con)vivências”, organizado pelas autoras Alexandra Santos Pinheiro e Rita Maria Decarli Bottega, e publicado pela editora Pontes em 2014, reúne artigos que relatam experiências vivenciadas em subprojetos do PIBID Letras de 8 universidades brasileiras, localizadas em cinco estados das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. A inquestionável validade do PIBID para a formação do licenciando dos cursos de Letras é o tema gerador do livro e uma posição partilhada pelos 11 subprojetos, cujo relato das atividades e/ou reflexão de conceitos e metodologia de trabalho compõe(m) a obra. Apesar dessa posição partilhada, os 10 capítulos que integram a obra distinguem-se pela natureza das atividades realizadas em cada subprojeto e/ou por buscarem embasamento teórico em proposições teóricas distintas, ainda que o alvo seja a formação do professor de língua portuguesa.
O capítulo 1, “Formação inicial dos docentes de letras na UFT – Experiências a partir da interdisciplinaridade”, discute as dificuldades enfrentadas com o trabalho interdisciplinar no âmbito do Projeto PIBID-PIBID, envolvendo os cursos de licenciatura em Letras, História, Biologia e Geografia da UFT. Dentre as considerações que o capítulo apresenta para o professor de língua portuguesa, ressaltam-se: a necessidade de repensar conteúdos tradicionais, que valorizam apenas conhecimentos linguísticos e literários em detrimento do desenvolvimento de habilidades e competências, as quais devem ser contempladas; e a necessidade de valorizar “discussões sociais” na proposição de conteúdos conceituais e metodologias de ensino.
O capítulo 2, “Os gêneros do discurso no PIBID/EAD/UFMS – matizes sócio-históricas na formação docente”, apresenta uma breve descrição das oficinas de leitura e produção de textos do subprojeto Letras EaD da UFMS. As oficinas, realizadas em quatro escolas de três municípios do Mato Grosso do Sul, com alunos que apresentavam “algum déficit de aprendizagem” ou eram participantes do EJA, trabalharam com gêneros diversos (histórias em quadrinhos, conto, poemas, fábula, romance, memorial, diário, carta, bilhete, música, paródia, receita, folder, panfleto, etc.), objetivando proporcionar aos alunos das escolas “contextos de leitura e escrita diferentes do espaço tradicional da sala de aula” (p.74).
O capítulo 3, “PIBID de Letras da UFFS/Realeza: a leitura sob uma perspectiva dialógica”, assinala o desafio de formar leitores críticos na escola, apresentando as atividades e/ou etapas estruturantes do subprojeto para a importância da prática de leituras variadas na escola a fim de “promover reflexões sobre o contexto social em que as crianças e /ou adolescentes estão inseridos” (p.85), possibilitando desde cedo o prazer de ler como ato significativo. Por último, o capítulo lista os módulos teórico-práticos que estruturam o subprojeto e indica alguns resultados, como a produção de materiais didáticos e o “Círculo de leitura” na escola.
O capítulo 4, “Configuração do PIBID de Letras – Língua Portuguesa da UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon”, destaca a importância do PIBID na formação do professor, uma vez que o programa possibilita unir estas dimensões, fomentando a pesquisa e o contato permanente do licenciando com a escola. Embora não descreva experiência específica vivenciada no subprojeto, o capítulo apresenta a estruturação de suas atividades – “Estudo”, “Organização pedagógica para a área”, “Presença nas escolas” e ações previstas.
O capítulo 5, “Formação inicial do professor de língua portuguesa: a parrhesía e as dimensões pedagógica e psicológica, assinala as três fases de realização do subprojeto de mesmo nome, desenvolvido na UNITAU. O PIBID é concebido como “um espaço privilegiado para a construção do fazer pedagógico cuja especificidade é não constituir nem o primado da teoria e nem o primado da prática” (p.117), pois defende uma noção interconstrutiva da teoria e da prática, sendo o fazer docente da ordem da “teoria-prática”. Em sua parte final, expõe os efeitos parrhésicos das ações desenvolvidas.
O capítulo 6, “Uma experiência do PIBID/Letras no sul do país: os desafios da transposição didática”, problematiza a aplicação do conceito de gêneros para o ensino de Língua Portuguesa e Línguas Adicionais (Espanhol e Inglês), resultante da experiência de formação docente em dois subprojetos do PIBID Letras na UNIPAMPA. Ao apontar o contraste entre o que é curricularizado na universidade para o ensino de língua na perspectiva de gêneros e o ensino da tradição gramatical na escola, o capítulo constrói a reflexão sobre os desafios da transposição didática vivenciada pelos subprojetos com a realização das “Oficinas de linguagem” pelos professores em formação com os alunos da educação básica.
O capítulo 7, “O PIBID em Letras e a mediação de leitura: um relato de experiência com o gênero conto no ensino fundamental”, descreve a experiência realizada no âmbito do subprojeto Letras /UEMS/Jardim com o gênero conto em uma turma de 6º ano do ensino fundamental. O subprojeto “Quem conta um conto ganha um ponto”, visando à formação do leitor literário e o interesse por este letramento, desenvolveu-se durante dois meses e explorou a leitura de cincos contos presentes na obra “Literatura em minha casa”. O capítulo, além de apresentar, logo de início, noções basilares sobre o gênero conto, avalia, ao final, o resultado positivo das oficinas realizadas na escola, reforçando a importância do PIBID na formação docente.
O capítulo 8, “Leitura, escrita e reescrita de gêneros de textos: PIBID Letras UFGD”, destaca a reescrita como uma prática que perpassa todas as atividades desenvolvidas no âmbito do projeto, valorizando os aspectos linguísticos e a ampliação de informações na construção dos textos. A reescrita “contribui para o exercício da interpretação e da possibilidade do sujeito reescrever seu texto a partir do diálogo com o(a) professor(a) e com os(as) demais colegas” (p.181).
O capítulo 9, “PIBID Filmatura e a tríade cinema, literatura e ensino”, buscando preservar o “direito inalienável à ficção” (p. 200), relata as experiências em que dialogam literatura e cinema. Aponta a “sequência básica exemplar”, de Rildo Cosson, como também adequada para as atividades do PIBID Filmatura, embora não se tenha uma descrição de vivências do projeto.
Por último, o capítulo 10, “Jornal escolar: renovando os horizontes da Educação”, apresenta a experiência, pelo PIBID Letras UFMS, com a criação do jornal escolar, justificando a escolha por este possibilitar uma interação entre alunos, professores e sociedade. Ao relatar as etapas da experiência, são focalizadas não apenas as práticas de produção de notícias, mas também as ações paralelas como visita à sede de jornal e oficina com especialista em jornal da escola. O êxito do projeto é sinalizado com previsão de continuidade de edição do Mary Russo Informa.
Pode-se dizer, então, que os 10 artigos que constituem a obra, distinguem-se não apenas pelo contexto em que as propostas foram aplicadas, mas também pela natureza das atividades propostas: seja porque põem em foco determinado conteúdo de ensino-aprendizagem da língua portuguesa e/ou de habilidades a serem desenvolvidas, seja pela compreensão sobre a prática e formação docente por meio de proposições teóricas específicas e diferentes. Em suma, a obra mostra o quão diversificadas são as perspectivas que podem contribuir para a formação do professor de língua portuguesa, assim como diversificados podem ser as metodologias e os materiais de ensino-aprendizagem da língua.
Resenhistas
Suzana Leite Cortez – Professora da Universidade Federal de Pernambuco, Recife. E-mail: sucortez@gmail.com
Angela Paiva Dionisio – Professora da Universidade Federal de Pernambuco, Recife. E-mail: angelapaiva27@gmail.com
Referências desta resenha
PINHEIRO, Alexandra Santos; BOTTEGA, Rita Maria Decarli (Org.). A formação docente do PIBID Letras. Alguns recortes de experiências. Campinas: Pontes, 2014. Resenha de: CORTEZ, Suzana Leite; DIONISIO, Angela Paiva. Revista Práticas de Linguagem. Juiz de Fora, v.7, n. 2, p.390-392, jul./dez. 2017. Acessar publicação original [DR]