A EaD e os processos de formação na área da saúde | EmRede – Revista de Educação a Distância | 2017
O contexto educacional da Saúde no Brasil, apoiado numa reflexão sobre a filosofia, a estrutura, o conteúdo e a metodologia do processo educativo, deve buscar explorar a introdução de novas alternativas, incorporando avanços tecnológicos e fundamentos científicos de diferentes campos do saber, de forma a promover uma apropriação crítica da tecnologia aos seus processos pedagógicos, assim como buscar a reflexão crítica sobre as influências da denominada cultura digital sobre as concepções epistemológicas e práticas pedagógicas dos docentes desse campo.
O tema central deste número da Revista – A EaD e os processos de formação na área da saúde visa lançar luz nesse debate, considerando ainda a importância de se planejar processos formativos com base nas necessidades de saúde das pessoas e das populações. Vale destacar o contexto de ampliação de demandas na modalidade a distância, de formação e qualificação profissional na área da saúde, observadas nos últimos anos no Brasil, como decorrentes da prioridade que assumem, na política pública na área da Saúde, conforme define a Constituição Brasileira. Porém, é importante avançar na discussão sobre a qualidade dessas formações e a avaliação das mesmas como um processo crítico e reconstrutivo das práticas em saúde. Evidencia-se, portanto a necessidade de espaços para o compartilhamento de reflexões e experiências que ampliem a compreensão e superem a visão instrumental ainda vigente, centrada apenas no uso de recursos tecnológicos desprovidos de consistência pedagógica.
Nesse sentido, a organização desse número temático conta com a participação de autores convidados que trazem, em seus artigos, importantes reflexões a respeito da formação de profissionais na área da saúde na modalidade a distância. O primeiro artigo “Desafios para a qualidade da Educação a Distância na área da saúde: Teoria Crítica, Processo de Trabalho e Interação Social”, discute alguns critérios de qualidade para a educação na modalidade a distância e busca mapear desafios para um modelo crítico de EaD na área da saúde; o segundo artigo, intitulado “Formação em Saúde e Educação a Distância: as escolhas desafiadoras de uma escola socialmente compromissada”, analisa as práticas de formação em saúde por meio da modalidade a distância desenvolvidas no âmbito da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz) discutindo os fundamentos éticos e políticos de suas escolhas pedagógicas. O terceiro narra a experiência de construção e implantação do Sistema Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS) e, por fim, no último artigo dessa seção, os autores relatam a experiência do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon), da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com a inclusão de objetos de aprendizagem no “Acervo de Recursos Educacionais em Saúde” (ARES).
Na sessão de artigos científicos, as diferentes aplicações das tecnologias em educação a distância (EaD) na área da saúde no Brasil são apresentadas, como em um dos artigos que traz a revisão sobre o projeto Telessaúde. Outros artigos relatam o crescimento nos últimos anos dos materiais digitais abertos disponíveis no ARES; a oferta de cursos no formato Massive Open Online Courses (MOOC); e de cursos de extensão na modalidade. A interface com a comunidade também é abordada em artigos sobre cursos de extensão na área da nutrição, tendo como público-alvo professores da rede pública e, na utilização da mediação tecnológica na realização de classes hospitalares. Em artigo de reflexão teórica, os autores destacam a Educação Permanente em Saúde como política pública que, na modalidade a distância, democratiza a formação dos profissionais, bem como em outro artigo o relato de redes interdisciplinares colaborativas na perspectiva da educação permanente, demonstrando a viabilidade das ações desenvolvidas. Por fim, outros estudos que apresentam: revisão integrativa, em que foi constatado que há a necessidade de aprofundamento das teorias de aprendizagem na utilização das atividades a distância na área da saúde; comparação da formação em saúde na modalidade EaD e presencial, quanto ao conhecimento adquirido e às percepções de aprendizagem em um curso de especialização, concluindo que não houve diferenças significativas entre as modalidades; e ainda, revisão sobre a utilização da modalidade EaD em cursos da área da saúde.
A última seção desse número temático, destinada aos relatos de experiência, apresenta três artigos em que os autores e autoras descrevem e analisam experiências de construção de cursos de formação/atualização profissional ou utilização de metodologias ativas de aprendizagem na formação de profissionais de saúde. Outro artigo relata a experiência de construção e avaliação de um recurso educacional digital sobre o processo de envelhecimento junto a Agentes Comunitários de Saúde.
Esperamos que as experiências e os estudos apresentados pelos artigos presentes neste número especial iluminem e mobilizem o suficiente para ativar a reflexão crítica sobre a formação em saúde e EAD trazendo para a centralidade do debate aspectos como o sentido pedagógico e social da formação em saúde, a afirmação da Educação a Distância entendida como Educação, a importância da ação docente nos processos formativos, a apropriação crítica da tecnologia nos processos pedagógicos e a avaliação como um dos pilares para a reconstrução das práticas em saúde que, por conseguinte, concorrem para o avanço da discussão da qualidade da educação a distância em saúde. Que estas leituras sejam inspiradoras de novos estudos, pesquisas e o repensar sobre as “velhas” e “novas” práticas!
Organizadores
Ana Luisa Petersen Cogo – Escola de Enfermagem – UFRGS.
Cecília Dias Flores – PPG Ciências da Saúde/PPG Ensino na Saúde – UFCSPA.
Cristianne Famer Rocha – Escola de Enfermagem – UFRGS.
Henriette dos Santos – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca – ENSP/FIOCRUZ.
Lúcia Dupret – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca – ENSP/FIOCRUZ.
Referências desta apresentação
COGO, Ana Luisa Petersen; FLORES, Cecília Dias; ROCHA, Cristianne Famer; SANTOS, Henriette dos; DUPRET, Lúcia. Editorial. EmRede – Revista de Educação a Distância. Porto Alegre, v. 4, n.1, 2017. Acessar publicação original [DR]