A Batalha do Atlântico na costa do Brasil | Navigator | 2020

De que maneira a Segunda Guerra Mundial se descortinou no horizonte oceânico dos brasileiros? Com o intuito de responder a esta e outras problemáticas, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM), por meio da revista Navigator, abriu a chamada de artigos para o dossiê temático “A Batalha do Atlântico na Costa do Brasil”. Os organizadores desta edição da Navigator estão vinculados ao Programa de Pós- -Graduação em História, da Universidade Federal da Bahia, onde desenvolvem pesquisas acadêmicas sobre a referida temática.

Convém assinalar que este trabalho começou a ganhar corpo, alma e sangue em meio ao sofrimento pandêmico de 2020 e diante das sequelas do confinamento impostas pelas medidas sanitárias do governo. Esta situação de anormalidade exigiu a prorrogação do prazo das submissões ao dossiê, visto que os pesquisadores tiveram o acesso interrompido aos arquivos, bibliotecas, memoriais, museus e universidades.

Com efeito, foi preciso estabelecer contato virtual por sites, redes sociais, e-mails, aplicativos de mensagens, ligações telefônicas etc. Por um lado, registra-se a disposição em enfrentar desafios impostos pela Covid-19; por outro, uma conquista importante se materializou: o reconhecimento do ofício do historiador e da historiadora. No exercício da sua profissão, o historiador sempre precisou ser combatente audaz, na luta contra um inimigo invisível, seja no hoje ou no ontem, sempre exigiu resiliência de quem se dispõe a enfrentar o desconhecido. Desta forma, o “tempo-de-agora”, no dizer de Walter Benjamin, foi levado em consideração no seu processo de feitura.

O empenho acadêmico de arqueólogos, diplomatas, historiadores brasileiros e estrangeiros romperam, de uma vez por todas, com a interpretação recorrente de que o Brasil teve uma mera participação nominal no maior conflito militar da história. Portanto, a elaboração deste dossiê contribuiu para libertar as leituras engessadas e retrógradas sobre a Marinha brasileira. Sua maior qualidade é servir de parâmetro para quem almeja ampliar horizontes investigativos, visando inspirar, assim, as novas gerações de pesquisadores para a importância de se estudar os acontecimentos militares em seu mar territorial.

Certamente, tornar-se-á um legado oportuno, algo reivindicado há décadas pelas gerações do passado que viveram o clímax da Batalha do Atlântico. Afinal de contas, desde 1942, os brasileiros sempre tiveram mais perguntas do que respostas em “sua” Segunda Guerra Mundial. Com vistas a este legado histórico, estudiosos do Brasil e Portugal atenderam à chamada de artigos, confiando- -nos os seus textos inéditos.

Abre o dossiê, o artigo de Ricardo Pereira Cabral, que desenvolveu uma oportuna contextualização histórica sobre o papel da Marinha do Brasil no período da Segunda Guerra Mundial. Na sequência, Giovanni Latfalla analisou importantes informações político-militares sobre a visita ao Brasil do Secretário da Marinha dos Estados Unidos, Mr. William Frank Knox. Dennison de Oliveira, por sua vez, elaborou um estudo de caso a respeito do bombardeamento do U-513, no litoral de Santa Catarina, em 19 de julho de 1943. João Claudio Platenik Pitillo e Roberto Santana Santos analisaram as dramáticas movimentações diplomáticas do Brasil para repatriar seus diplomatas após a declaração de guerra aos países do Eixo. Luiz Antônio Pinto Cruz e Lina Maria Brandão de Aras destacaram a batalha aeronaval no Atlântico baiano, área do Comando Naval do Leste. Manoel Felipe Batista da Fonseca trouxe informações inéditas sobre o comboio AS-4 e sua passagem pelo Recife. Já Armando Augusto Siqueira analisou a história da do U.S.O. Club em Recife, principal espaço de lazer e descontração no Brasil das tropas militares norte-americanas durante a Segunda Guerra Mundial. George Henrique de Vasconcelos Gomes e Wanderson Ramonn Pimentel Dantas desenvolveram um estudo comparativo entre as formas de vigilância, mobilização e defesa empreendidas nos litorais dos estados da Paraíba e do Piauí durante o conflito. Roberta da Silva Rosa e Gilson Rambelli lançaram um olhar arqueológico sobre a cultura material relacionada aos torpedeamentos realizados pelo U-507 na costa sergipana. Encerrando o dossiê, Augusto António Alves Salgado analisa a história do arquipélago de Cabo Verde, especialmente os acontecimentos da Ilha do Sal relacionados a atuação da LATI (Linee Aeree Transcontinentali Italiane S.A.), ao longo da Batalha do Atlântico Sul.

Em vista às diferentes abordagens históricas, somos levados a perceber que ocorreram importantes contribuições científicas à temática proposta. E, assim, como já foi dito, o legado do dossiê temático se materializou. O conjunto de artigos evidencia o quanto o Atlântico brasileiro é um espaço oceânico prenhe de acontecimentos militares do período da Segunda Guerra Mundial e fora dele também.

Que as novas gerações aceitem o desafio de avançar ainda mais sobre os mares dos Brasil. Certamente, ganha o conhecimento histórico-naval quando o mundo militar e as universidades estreitam diálogos profícuos, porque contribuições científicas entre ambas se materializam.

Uma boa leitura!


Organizadores

Luiz Antônio Pinto Cruz – Doutor em História e professor da Secretaria de Educação e Cultura de Sergipe (SEDUC-SE).

Lina Maria Brandão de Aras – Doutora em História e professora do Departamento e do Programa de pós-graduação em História/ FFCH-UFBA.


Referências desta apresentação

CRUZ, Luiz Antônio Pinto; ARAS, Lina Maria Brandão de. Apresentação. Navigator – Subsídios para a história marítima do Brasil. Rio de Janeiro, v. 16, n. 32, p.7-8, 2020. Acessar publicação original [DR]

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