MEYER, Michael. 1989: O ano que mudou o mundo. A verdadeira história da queda do muro de Berlim. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009. 247 p. Resenha de: MARTINS, Mônica de Azevedo. A queda do muro de Berlim: mitos e verdades. Marinha do Brasil/Proleitura, 2016/2017.
Michael Meyer, escritor e jornalista, foi chefe da sucursal da revista Newsweek, na Alemanha Oriental, Europa Central e Balcãs, entre 1988 e 1992. Trabalhou no corpo diplomático da ONU, em Kosovo, entre 1999 e 2001. Foi porta-voz do atual secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon. Em sua obra, “1989 – O ano que mudou o mundo”, o autor desmitifica a visão simplista sobre a queda do Muro de Berlim, desvendando, por meio de uma linguagem simples e fluente, a realidade dos fatos que culminaram na instauração de uma Nova Ordem Mundial que perdura até os dias de hoje. Sob a óptica de quem vivenciou pessoalmente esse evento histórico, e teve a oportunidade de conhecer e entrevistar diversos dos seus principais personagens, o autor narra os fatos de forma leve e agradável, convidando o leitor a um verdadeiro mergulho no tempo e no espaço.
De acordo com o escritor, as economias dos países do bloco oriental estavam em pleno desmoronamento nos anos anteriores à queda. Embora fosse grande a pressão do governo de Ronald Reagan para que o muro fosse derrubado, o processo de derrocada do status quo vigente foi alavancado pelas próprias Nações comunistas, e não pela vitória do capitalismo sobre o comunismo ou dos Estados Unidos sobre a Rússia, como muitos acreditaram. Pobreza, miséria e privação de bens essenciais eram a realidade das populações da Polônia, Hungria e Alemanha Oriental, entre outras. As reformas nos campos económico e político orquestradas por Mikhail Gorbachev – a Glasnost e a Perestroika – foram um sinal de que a União Soviética não mais interviria nas mudanças que viessem a ocorrer em outros países integrantes do bloco socialista.
Nesse contexto, os húngaros foram os primeiros a abrir, literalmente, um buraco na Cortina de Ferro, ao permitir o rompimento da parte do muro que ficava em sua fronteira. Na Alemanha Oriental, a população encontrava-se confusa e dividida mas, aos poucos, ia transpondo os limites que os impedia, não somente de adquirir bens de consumo, mas de rever parentes e amigos. Nos conta o autor que a total abertura do muro, permitindo o livre acesso dos alemães orientais ao ocidente, deu-se de forma inusitada, quase como um susto, em decorrência de um pronunciamento do governo que deixou confusos tanto os guardas quanto a população que, logo que pôde, correu em direção ao sonho de liberdade.
Em todo o Leste Europeu, em maior ou menor escala, ressurgiram líderes e partidos, antes perseguidos ou extintos, associados, em alguns casos, a integrantes das próprias cúpulas comunistas, que perceberam a insustentabilidade de seus governos ou, simplesmente, precisavam de alguém em quem pôr a culpa pelo seu fracasso. Assim, o partido Solidariedade foi reconhecido na Polónia, a fim de assumir o país economicamente falido, e Václav Havei, após inúmeras e sucessivas prisões, retoma sua força política na Checoslováquia, que passará pela Revolução de Veludo, uma das mais belas e pacíficas resistências da história.
Finalmente, o autor enfatiza as repercussões do fim da Guerra Fria, principalmente quanto ao seu efeito, quase que de cunho psicológico, para os governantes Norte Americanos. Diante da pseudovitória do capitalismo, os Estados Unidos assumiram o papel de superpotência hegemónica, capaz de intervir e solucionar quaisquer problemas mundiais, enfraquecendo-se tanto economicamente, ao financiar guerras como a do Iraque, como politicamente, ao interferir sistematicamente em questões além de suas fronteiras.
Em linhas gerais, nesta obra o autor narra os fatos que precederam a queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria, sob o ângulo de quem teve o privilégio de presenciá-los, podendo assim perceber o que realmente foi crucial para o seu desenlace. Ao partilhar sua experiência com o leitor, Michael Meyer, além de fornecer um registro histórico franco e o mais próximo possível da verdade, convida-o a uma reflexão sobre um passado histórico recente que foi essencial para a configuração da realidade atual, bem como, para construção de um futuro no qual há cada vez menos espaço para bipolaridades ou unipolaridades, na medida em que diversas outras potências vêm conquistando seu espaço político e econômico.
Mônica de Azevedo Martins Cardoso – 1º Tenente da Marinha do Brasil
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