100 anos da Revolução Bolchevique / Contraponto / 2017
Os 100 anos que transformaram o mundo
O aniversário de 100 anos da Revolução Russa é o tema do dossiê da Revista de História Contraponto. Nesse sentido, os historiadores têm a oportunidade de tratar em seus artigos de um dos mais importantes processos ocorridos no século XX, a narrativa sobre a construção do primeiro Estado operário da história. A Revolução Russa – com a Revolução Francesa – consiste em um dos maiores eventos da história humana. Trabalhadores e camponeses da Rússia mostraram sua determinação de não mais se submeterem a uma sociedade de classe opressiva.
Durante o século XIX, houve sacrifícios, coragem e militância, resultados de muitas lutas em diferentes países da Europa e da América. Mas o elemento que causou uma ruptura efetiva com o capitalismo em outubro de 1917 foi a ação de um partido de massa revolucionário que pode dar uma direção clara ao movimento político que ocorria na Rússia.
A burguesia nunca admitiu que houvesse perdido seu poder político. Até hoje a direita no mundo continua a dizer que a democracia foi suprimida na Rússia czarista. À época, uma alternativa diferente foi escolhida pela burguesia, pela aristocracia e pelos brancos: a opção militar com uma guerra civil entre 1917 e 1921. Nela, a burguesia poderia contar com o apoio de exércitos intervencionistas do Japão, França, Grã-Bretanha e EUA. — Seria essa a alternativa democrática? A posterior subversão da memória e da história da Revolução, e a criação de mitos sobre o Comunismo seriam outras opções. Alguns dos artigos do dossiê trataram dessas e de outras questões.
O impacto e o legado da Revolução Russa de outubro de 1917 são de importância crucial em todo o mundo. Para a Rússia e os países do antigo bloco socialista, a Revolução deixou uma herança profunda em diversos campos da sociedade, é o que vai tratar o artigo do Prof. Dalton Macambira.
Entre acertos e erros a Revolução também levou à fundação de uma tradição jurídica completamente nova, cujas influências ainda são sentidas nos dias atuais. Sobre as questões jurídicas, o artigo do Prof. Guilherme Barbon aborda a questão do constitucionalismo na Revolução Russa de outubro de 1917, e a importância acerca da construção dos direitos fundamentais.
Quanto ao texto do Prof. Johny Santana, procura mostrar como as historiografias – liberal ocidental; oficial soviético e libertário-revisionista – trataram e tratam a questão da Revolução Bolchevique de outubro de 1917, e qual o sentido de revolução hoje.
O trabalho do Prof. Ramsés Souza procura analisar as relações entre a construção do Programa Agrário dos Bolcheviques e a dinâmica da luta de classes no campo russo, no período dos anos de 1901 e 1917.
Entre a multiplicidade de seus efeitos, a Revolução Russa de outubro de 1917 também se tornou o ponto de partida da desconexão entre comunidades científicas, culturais e sociais do bloco socialista de países e outras regiões do mundo. Esse isolamento persistiu ao longo do tempo na União Soviética. Tais eventos foram vividos, contados, escritos, reescritos, analisados, reinterpretados. No entanto, nos dias atuais, apresenta-se ainda profundo desconhecimento do que foi a Rússia Soviética de ontem e o que é a Rússia Federalista de hoje; certamente muito mais herdeira de um nacionalismo czarista do que necessariamente do Socialismo, o que gera grande tormenta sobre o que ela foi e o que é.
A Revolução Russa de 1905 e de 1917 forma a maior caixa de ferramentas histórica, ideológica e política do século XX e parte do século XXI, portanto, ambas merecem ser estudadas e debatidas. Em razão disso, criou-se um imaginário que evoluiu por cem anos, alimentando alternadamente um ideal, ao mesmo tempo, uma nostalgia, uma hostilidade, e uma cultura comum que se liga à memória das gerações mais antigas, e mexe com a vida dos contemporâneos.
A todos uma ótima leitura!
Sabrina Steinke – Professora Doutora.
Túlio Henrique Pereira – Professor Doutor.
STEINKE, Sabrina; PEREIRA, Túlio Henrique. Apresentação. Contraponto, Teresina, v. 6, n. 1 jan / jun, 2017. Acessar publicação original [DR]