Ditaduras latino-americanas no século XX: corrupção, violência e meio ambiente | Em Tempo de Histórias | 2021

A proposta fundamental deste dossiê centra-se na análise das relações entre as ditaduras latino-americanas e o meio ambiente. Essa perspectiva serviria de catalisador para as diferentes dimensões que compõem a complexa história das ditaduras militares que assolaram a América Latina na segunda metade do século XX. Tais ditaduras impuseram modelos econômicos liberais agressivos que moldaram para sempre a região em termos socioculturais.

Pois bem, o poderoso imaginário neoliberal, que acabou desenhando cidades, áreas rurais e demais territórios, produziu e continua a produzir muitas tensões nas sociedades onde está presente. Assim, o aumento da violência, corrupção, desigualdade e marginalização acaba causando grande impacto ambiental. Essa perspectiva se faz necessária em razão do progressivo interesse das sociedades latino-americanas por seu passado autoritário, tanto por parte de grupos sociais que – cada vez mais representados na política institucional – buscam valorizá-lo, quanto por setores que percebem no estudo da história recente uma fonte de significados para compreender o momento atual. A ascensão do autoritarismo na América Latina em geral, e no Brasil em particular, está sendo acompanhado por duas grandes crises ambientais: a acelerada destruição dos biomas e da biodiversidade e a pandemia gerada pelo coronavírus. Ambas estão associadas a modelos de produção e consumo que, paulatinamente, mostram-se perversos e autodestrutivos. Leia Mais

Violencia y Sociedad | Artificios – Revista Colombiana de Estudiantes de Historia | 2020

El presente dossier, Violencia y Sociedad, fue pensando originalmente a finales del 2019, sin tener en cuenta las condiciones de violencia actual por las cuales atraviesa Colombia. Hasta el 25 de agosto de 2020, han ocurrido 33 masacres, más de 20 en el octavo mes del año e, incluso, tres en tan solo 24 horas en diferentes departamentos. Estas cifras demuestran que la violencia en el país es algo vivo, actual y álgido. Mucha de la opinión popular gira en torno a recordar la coyuntura presente frente al periodo más difícil del Conflicto armado en Colombia, 1998-2002, cuando, al igual que ahora, se presentaba una sangrienta lucha por territorios, hegemonías, ideologías, etc.

Entender las diferentes morfologías que ha tomado la violencia en Colombia es complejo. Las formas, motivos, lugares, actores, etc., han ido cambiando y/o evolucionando en otras estructuras. Así, si bien la periodización en torno a la violencia es algo que levanta muchas discusiones. Podemos situar una violencia sistemática a partir de 1948, comenzando a visibilizarse, en los sectores urbanos, a principios de la década del 60. Esto nos lleva a considerar que la sociedad colombiana actual ha crecido y vivido en la violencia. Claramente, la afección de ella es mas directa y ruin para algunos; para otros meramente simbólica. Pero ello no invalida la huella imborrable que ha dejado aquel fenómeno en la sociedad en general. Leia Mais

Memórias da Violência Colonial: reconhecimentos do passado e lutas pelo futuro / Estudos Ibero-Americanos / 2019

Memórias da Violência Colonial: reconhecimentos do passado e lutas pelo futuro*

O crescente interesse sobre a memória dos colonialismos tem tornado cada vez mais evidente a necessidade de se confrontarem os legados das violências instauradas pelos impérios modernos. Nesse sentido, este dossiê reúne artigos que contribuem para uma reflexão sobre a atualidade do passado colonial português em uma perspectiva que privilegia o peso das heranças da violência colonial. Pretende-se, por um lado, avaliar uma realidade social invadida pelas implicações das lógicas que instauraram genocídios, escravidões, elisão de culturas ancestrais, guerras coloniais, deslocamentos, trabalhos forçados e todo um rol de opressões quotidianamente reiteradas. Por outro lado, pretende-se reconhecer de que modo o presente é também, e significativamente, o resultado de resistências e lutas anticoloniais que, inscritas historicamente, contribuíram para o fim do colonialismo político e que legaram ao tempo presente inspiradoras narrativas de dignidade humana. É esse o sentido mais amplo dos artigos aqui reunidos.

Em “As múltiplas vidas de Batepá: memórias de um massacre colonial em São Tomé e Príncipe (1953-2018)”, Inês Nascimento Rodrigues examina as reverberações memoriais produzidas por um evento disruptivo ocorrido na ilha de São Tomé em fevereiro de 1953, quando um número indeterminado de são-tomenses foi massacrado a mando do poder colonial. Posteriormente conhecido como o “Massacre de Batepá”, ele viria a transformar-se em um marco paradigmático da violência, mas também em um dia comemorativo que, a partir de 1975, permitirá conectar o imaginário de sofrimento e resistência ao colonialismo com a legitimação da nova nação independente. A autora analisa diacronicamente as três vidas do “Massacre de Batepá”, mostrando como a sua evocação é sensível a mudanças políticas e socioculturais e como o evento se mantém em uma relação espectral com o percurso pós-colonial da nação são-tomense.

Rosa Cabecinhas, por seu turno, compara representações sociais sobre o passado colonial em Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e Timor Leste. Socorrendo-se do conceito de Mia Couto de “luso(a)fonias” – implicitamente denunciador de desencontros entre antigos países colonizadores e colonizados e recorrendo a uma noção como a de lusofonia, ela própria problemática nas suas emanações neocoloniais –, a autora analisa um amplo conjunto de dados que denotam diferenças substanciais no modo como se caracterizam e valorizam as histórias nacionais ligadas a um “passado comum” colonial. Não obstante as diferenças de percepção detetadas entre os jovens participantes nos estudos, denota-se uma distinção essencial entre os participantes portugueses, que de forma dominante referem-se positivamente ao passado dos “Descobrimentos” e secundarizam a violência colonial e os jovens dos países africanos, que valorizam as lutas de libertação e tendem a visibilizar o peso e o carácter desestruturante dos modos de violência intrínsecos à experiência colonial.

No texto de Clodomir Cordeiro Matos Júnior, “A perspectiva das vítimas e a teoria social contemporânea: entre memórias do passado e futuros alternativos”, é explorada a centralidade da figura da vítima para a compreensão da violência colonial. Nessa perspectiva, a partir das contribuições de Enrique Dussel, Aníbal Quijano e Boaventura de Sousa Santos, o autor procura aprofundar a importância do processo de reconhecimento das vítimas do colonialismo na produção de uma teoria social comprometida com a superação de políticas de esquecimento. Debruçandose sobre as críticas que envolvem a versão eurocêntrica e hegemônica da Modernidade (DUSSEL, 1993), as heranças materiais e subjetivas dos arranjos coloniais (QUIJANO, 2005) e as possibilidades das Epistemologias do Sul (SANTOS, 2018), o artigo faz emergir o reconhecimento da figura da vítima e suas experiências dentro de processos significativos para a validação de memórias silenciadas e a imaginação de futuros impensados.

Em “Escrita e cicatriz: da colonização à prisão”, de Ivete Walty, são colocadas em diálogo algumas imagens da série Cicatriz, de Rosângela Rennó, com a escrita de / sobre a prisão em diferentes momentos da história da literatura brasileira, à luz do conceito de colonização em seu sentido lato, em relação com os conceitos de biopolítica (Foucault) e necropolítica (Mbembe). Representando momentos ditatoriais diversos, a autora analisa, sob o enfoque da imagem da cicatriz / tatuagem associada à da escrita, cenas de Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos (1954), Cartas da Prisão (1977), O canto na fogueira (1977) e Batismo de Sangue (2006), de Frei Betto, para além da trilogia de Luis Alberto Mendes: Memórias de um sobrevivente (2001), Às cegas (2005) e Confissões de um homem livre (2015).

No artigo “Existências deslocadas pelo colonialismo e pela guerra”, Fátima da Cruz Rodrigues toma como pano de fundo a experiência da guerra colonial combatida, entre 1961 e 1974, pelo Estado português e por movimentos de libertação africanos. Depois de uma guerra, os que lhe sobrevivem têm de se reconstruir e de recompor as suas vidas em articulação com a realidade que o fim do conflito inaugura. É de algumas dessas heranças que trata esse texto que apresenta uma reflexão sobre a forma como a guerra colonial interferiu nas existências de antigos combatentes africanos que integraram as Forças Armadas Portuguesas (FAP) e que passaram a residir em Portugal após a libertação dos territórios onde nasceram. Com base em um trabalho de pesquisa de caracter qualitativo, com recurso a histórias de vida, reconstroem-se os percursos de alguns desses homens e procura-se perceber o sentido que os mesmos atribuíram às suas existências marcadas por descontinuidades e momentos particularmente fraturantes no que toca a construção dos seus projetos de vida. Nesse texto, caracterizam-se os diversos tipos de percursos que resultaram dessa análise, bem como os principais eixos discursivos que esses homens mobilizaram para justificar as diversas opções tomadas. A análise desses percursos e discursos permitiu, por sua vez, interpelar a problemática da construção de identidades marcadas por descontinuidades e por posicionamentos múltiplos, ambíguos e aparentemente contraditórios.

Este volume conta ainda com uma detalhada entrevista a Mustafah Dhada, professor na California State University e um estudioso da violência colonial no Império português. Percorremos, nessa entrevista, aspectos relacionados com o seu último livro sobre o massacre de Wiriyamu, perpetrado pelas tropas portuguesa em 1972, em Moçambique, no contexto da guerra colonial. Dhada revela-nos desafios associados ao trabalho com entrevistas, examina a articulação entre violência e colonialismo e traz-nos uma cuidadosa autorreflexão sobre o posicionamento do historiador na escrita da história. Ao mesmo tempo, levanta um pouco o véu sobre o seu próximo livro – que terá ainda como tema o massacre de Wiriyamu – e faz um balanço, mais de quinze anos depois, sobre a originalidade e também os limites da sua obra Warriors at Work, um trabalho seminal sobre o PAIGC e a guerrilha anticolonial na Guiné.

Os textos aqui reunidos colocam ao centro a violência colonial e se posicionam ante os quadros de sentido complacentes com políticas do esquecimento e com versões triunfalistas dos mundos que o colonialismo criou. Olhar o futuro a partir das tensões, discriminações e lutas instauradas pelo passado-presente da imaginação eurocêntrica, racista e imperial convida, nessa perspectiva, a uma imaginação política renovada e ampliada por um dever cívico da memória, ou seja, por um imperativo ético que conecte o necessário reconhecimento do passado com as lutas por futuros questionadores das heranças de violência instauradas pelos colonialismos.

Nota

* O presente dossier foi organizado no âmbito do projeto CROME – Crossed Memories, Politics of Silence. The Colonial-Liberation Wars in Postcolonial Times, financiado pelo Conselho Europeu para a Investigação (StG-ERC-715593).

Referências

DUSSEL, Enrique. Eurocentrism and modernity: Introduction to the Frankfurt lectures. Boundary 2, Durham, v. 20, n. 3, p. 65-76, 1993. Disponível em: https: / / doi.org / 10.2307 / 303341 . Acesso em: 7 maio 2019.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2005.

SANTOS, Boaventura de Sousa. O fim do império cognitivo. Coimbra: Almedina, 2018. Recebido em: 1 / 4 / 2019.

Sheila Khan – Socióloga, é atualmente investigadora do Centro Estudos de Comunicação e Sociedade, da Universidade do Minho. Doutorada em Estudos Étnicos e Culturais pela Universidade de Warwick, tem, no seu percurso académico, centrado a sua atenção nos estudos pós-coloniais, com especial enfoque nas relações entre Moçambique e Portugal, incluindo a questão dos imigrantes moçambicanos em Portugal. De entre os temas que tem trabalhado inclui-se a história e a literatura moçambicana e portuguesa contemporâneas, narrativas de vida e de identidade a partir do Sul global, autoridades de memória e de pós-memória. É de destacar os seus recentes livros, “Portugal a Lápis de Cor: A Sul de uma pós-colonialidade” (Almedina, 2015); “Visitas a João Paulo Borges Coelho: leituras, diálogos e futuros” (et al., 2017, Colibri); “Mozambique on the Move: Challenges and Reflections” (com Paula Meneses e Bjorn Bertelsen, Brill, 2018). Atualmente, investigadora doutorada do projeto financiado pelo Conselho Europeu de Investigação, EXCHANGE e membro da equipa de investigação do projeto FCT / Aga Khan sobre as relações interculturais entre Moçambique e Portugal. E-mail: sheilakhan31@gmail.com  https: / / orcid.org / 0000-0002-8391-8671

Bruno Sena Martins – Investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES / UC). É Co-coordenador do Programa de Doutoramento Human Rights in Contemporary Societies e Co-coordenador no Programa de extensão académica “O Ces vai à Escola”. É docente no Programa de Doutoramento “Pós-colonialismos e cidadania global”. Com trabalho de campo em Portugal, India e Moçambique, tem pesquisado e publicado sobre o colonialismo, o corpo e os direitos humanos. E-mail: bsenamartins@gmail.com https: / / orcid.org / 0000-0003-3367-9155

Miguel Cardina – Investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES). Foi Presidente do Conselho Científico do CES (2017-2019) e membro da coordenação do Núcleo de Humanidades, Migrações e Estudos para a Paz (NHUMEP) (2013-2106). Recebeu em 2016 a bolsa Starting Grant do European Research Council (ERC – Conselho Europeu para a Investigação) na qualidade de coordenador do projeto de investigação “CROME – Crossed Memories, Politics of Silence. The Colonial-Liberation Wars in Postcolonial Times” (2017-2022). É autor ou coautor de vários livros, capítulos e artigos sobre colonialismo, anticolonialismo e guerra colonial; história das ideologias políticas nas décadas de 1960 e 1970; e dinâmicas entre história e memória. E-mail: miguelcardina@gmail.com https: / / orcid.org / 0000-0001-5428-457X


KHAN, Sheila; MARTINS, Bruno Sena; CARDINA, Miguel. Apresentação. Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre, v. 45, n. 2, maio / ago., 2019. Acessar publicação original [DR]

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Desigualdades – violência – relações de poder na história / Manduarisawa / 2019

A presente edição especial da Revista Manduarisawa reúne um conjunto de artigos apresentados durante o I Encontro Estadual de História da ANPUH Seção Roraima, realizado entre os dias 01 e 04 de outubro de 2018, na Universidade Federal de Roraima (UFRR).

O encontro promovido pela ANPUH / RR, que no mesmo ano iniciava suas atividades no estado de Roraima, objetivou promover, incentivar e fortalecer a disciplina História no estado, na região norte e em nível nacional. O encontro estadual contou quatro conferências, cinco mesas redondas, dezesseis simpósios temáticos e lançamentos de livros. Durante os quatro dias de evento, os mais de trezentos participantes puderam debater acerca de uma grande variedade de temas historiográficos e de questões políticas e sociais de interesse da comunidade de historiadores e historiadoras, como da sociedade em geral. Destes participantes, registrou-se a presença de pesquisadores das mais variadas localidades do país, como das cidades de Tefé, Manaus e Coari (AM), Rio de Janeiro (RJ), Niterói (RJ), Santarém (PA), Belém (PA), Salvador (BA), Ponta Grossa (PR), Florianópolis (SC) e cidades do estado de Roraima. Os historiadores tiveram uma rica oportunidade de dialogar com um grande número de pesquisadores oriundos de diversas áreas do saber que prestigiaram o evento, como: Antropologia, Sociologia, Agroecologia, Arquitetura e Urbanismo, Serviço Social, Artes Visuais, Comunicação, Direito, Educação do Campo, Filosofia, Economia, Letras, Odontologia, Psicologia, Pedagogia, Medicina, Música e Patrimônio.

Um dos resultados do evento consiste na publicação do livro “Desigualdade, violência e relações de poder na História”, publicado em 2019 pela editora da UFRR, disponível em acesso livre na página da editora1. O livro é fruto dos 110 trabalhos inscritos para apresentação nos simpósios temáticos.

Este dossiê especial é composto por oito artigos, todos eles apresentados nas cinco mesas redondas, que compuseram a programação do evento: 1) Relações Internacionais: história e fronteiras; 2) História do Tempo Presente: metodologia e possibilidades de pesquisa; 3) Recortes da América Portuguesa; 4) Educação e diversidade; 5) Diálogos entre o passado e o presente: escravidão, quilombola e indígena. As mesas redondas tiveram como preocupação principal debater questões teóricas e metodológicas dos mais diversos campos e abordagens da História.

A comissão organizadora do evento e do dossiê agradece a parceria firmada com a equipe da Revista Manduarisawa para publicação dos presentes trabalhos.

Boa leitura

Nota

1 Livro disponível para download gratuito em: http: / / ufrr.br / editora / index.php / editais?download=409

Tiago Siqueira Reis

Monalisa Pavonne Oliveira

Carla Monteiro de Souza


REIS, Tiago Siqueira; OLIVEIRA, Monalisa Pavonne; SOUZA, Carla Monteiro. Desigualdade, violência e relações de poder na História. Manduarisawa, Manaus, v.3, n.1, 2019. Acessar publicação original [DR].

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História, Criminalidade e Violência: representações, fontes e abordagens | Revista Latino-Americana de História | 2018

É com imensa alegria que damos as boas-vindas ao vigésimo número da Revista Latino-Americana de História e nos despedimos do ano de 2018. Para esse final de ano gostaríamos de anunciar que nossa Revista, ao longo de 2018, conseguiu ampliar suas indexações, o que valoriza cada vez os trabalhos nela publicados. Atualmente contamos com as seguintes parcerias: Latindex, Dialnet; MIAR: Information Matrix for the Analysis of Journals; LatinRev; Sumários de Revistas Brasileiras (Sumários.org), Livre – Revistas de Livre Acesso, niversitat de Girona; International Standard Serial Number – International Center e Elektronische Zeitschriftenbliothek da Universität Regensburg. Leia Mais

Violência, Guerra e Migração no Mundo Antigo / Anos 90 / 2018

Se fosse preciso definir com três conceitos-chave a conjuntura deste primeiro quarto de século XXI, os organizadores deste dossiê acreditam que a maioria dos questionados conviria em utilizar, pelo menos, alguma das palavras que propomos como título. A ideia, então, de organizar um volume sobre a temática da guerra, da violência e da migração no mundo antigo nasce, simplesmente, de nossa observação da realidade contemporânea. Impotentes como historiadores, professores e / ou seres humanos, assistimos à eclosão de conflitos militares de rara violência na região do Oriente Próximo que atingem o planeta inteiro. A guerra na Síria, a ofensiva do autointitulado Estado Islâmico, a invasão do Iraque pela chamada “coalizão internacional”, liderada pelos EUA, trouxeram enorme instabilidade política e, mais importante, uma tragédia humanitária sem precedentes na história recente. Não podemos esquecer a outra face das guerras, tão dramática quanto a primeira, que representa as migrações forçadas de milhares de pessoas. Tudo isso, associado à destruição, ao espólio e ao saque do patrimônio cultural da humanidade presente nesses territórios, teve um efeito provocador a nós, historiadores da antiguidade.

Nosso dever de ofício aceita como tarefa primordial, então, o fato de tentarmos entender o mundo que hoje nos cerca estabelecendo um diálogo entre passado e presente, se quisermos construir o melhor futuro possível. Eis aí, para nós, a pedra fundamental do conhecimento e do estudo da antiguidade. Mais do que nunca, faz- -se necessário propor o debate, instigar a pesquisa, incitar a reflexão construtiva como nossa contribuição para a sociedade. E assim, algumas indagações nortearam nossa proposição. É possível tirar lições do passado? Somos capazes de compreender o conflito como fato e suas diversas dimensões na antiguidade e na atualidade, para estabelecermos paralelismos válidos e evitá-los, no futuro?

A partir dessas questões, formulamos a proposta do dossiê Violência, Guerra e Migração no Mundo Antigo, com o objetivo de refletir sobre temas urgentes e atuais a partir do estudo das sociedades antigas. Sabemos que as práticas de violência legitimadas pelas guerras, tendo como consequência a migração massiva de populações, têm uma longa historicidade, pois essas diversas experiências históricas foram preservadas e deixaram inúmeros indícios nos textos, nas imagens e na cultura material. Assim, entendemos que investigar essa temática na antiguidade pode contribuir para a compreensão dos recentes acontecimentos que atingem o mundo, especialmente o Mediterrâneo, a Europa e os EUA.

O enunciado deste dossiê abraça, entretanto, diversos outros enfoques, tais como questões relacionadas à tecnologia da guerra, à retórica da violência, à situação das mulheres e crianças nos conflitos, às agressões sexuais, à migração e ao fenômeno de transculturação, entre outros. Como afirma Magnoli (2006, p. 14): “A guerra é um fenômeno total, uma expressão condensada das formas de pensar, produzir e consumir das sociedades, o espelho de um tempo e um lugar”.

Foram vários os autores que atenderam ao nosso chamado. Eles provêm de distintos horizontes de pesquisa, alguns atuando no Brasil e outros no exterior. Vários são especialistas no Mundo Clássico, enquanto outros se interessam pelo Oriente, mas todos aportam uma reflexão original e uma boa dose de erudição.

O dossiê abre com a contribuição de Pedro Paulo A. Funari, intitulada “Migration flows from a long-term perspective”, que traz um estudo de longa duração sobre o fenômeno das migrações na história da humanidade. O autor discute os fluxos migratórios desde o processo de hominização até o período pós-segunda guerra mundial, incluindo a história brasileira, e argumenta que as migrações são um grande desafio tanto para as sociedades como para os intelectuais que refletem sobre elas.

A professora Katia Maria Paim Pozzer contribui com “Guerra, violência e memória cultural nas imagens assírias”, artigo no qual faz partir sua reflexão dos baixos-relevos em pedra resgatados dos palácios assírios de Nínive, analisando alguns elementos estéticos da antiguidade que o mundo contemporâneo tem reutilizado, levando a cabo um interessante paralelismo multisecular.

Com “The power of a powerless woman: examining the impact of violence on a Biblical nation”, Elizabeth Tracy nos conduz pelos caminhos da concubina levita, ou Pilegesh, analisando os últimos capítulos do bíblico Livro dos Juízes, cruel em algumas das suas imagens de violência contra a mulher e tão atual, lamentavelmente.

Viajamos depois para a Bretanha na pena da Dra. Tais Pagoto Bélo, com “Britannia: violência, poder e contato”, que propõe uma reflexão contemporaneamente válida através da cultura material representada por epitáfios da província da Britannia.

A professora Lorena Lopes da Costa contribui com “Troianas, de Eurípides (415 a. C.): a guerra injusta e o fim da linhagem dos heróis”, no qual traça um paralelismo da história de Atenas, dos crimes e excessos da guerra, com a tragédia euripidiana.

Estefanía Bernabé-Sánchez trata o tema da violência sexual em “El mito de Inanna y Šukaletuda: violencia sexual en Sumer”, mito no qual a deusa Inanna é estuprada pelo mau jardineiro Šukaletuda. A autora estabelece um paralelismo entre o crime sexual cometido contra a deusa suméria e aqueles que estão sendo, hoje, moeda comum nos conflitos armados do Oriente Médio, especialmente na Síria.

Finalmente, encerra este dossiê o trabalho do professor Fábio Vergara Cerqueira, “‘Melodia sangrenta’ (Anth.Pal. VI.159): a trombeta e a guerra na Grécia Antiga”, em que ele analisa o instrumento de vento chamado salpinx (σάλπιγξ) na iconografia e nos textos relacionados com a guerra na Grécia antiga, particularmente em Atenas, estabelecendo paralelismos entre as funções militares e os simbolismos.

O intuito deste volume que apresentamos, então, nos convida à reflexão crítica sobre a nossa realidade, partindo do conhecimento da remota antiguidade, de seus personagens e suas histórias, assim como da ideia de que guerra e violência, entendidas em todas as suas manifestações, são nefastas e não atendem aos pressupostos em que a humanidade deve enxergar a evolução e o desenvolvimento.

Frente àqueles que esquecem o passado e, por conseguinte, descuidam do presente enquanto olham para o futuro, anotemos aqui a definição que Sêneca nos deixou em De brevitate vitae (Sobre a brevidade da vida): sábio é aquele que lembra o passado, sabe aproveitar o presente e dispõe do futuro.

Que isso seja como uma de nossas bússolas.

Referência

MAGNOLI, Demétrio (Org.). História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2006.

Estefanía Bernabé-Sánchez – Professora da Pontificia Universidad Católica del Peru – PUCP. E-mail: e.bernabe1976@gmail.com ´

Katia Maria Paim Pozzer – Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. E-mail: katia.pozzer@ufrgs.br

Pedro Paulo A. Funari – Professor da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. E-mail: ppfunari@uol.com.br


BERNABÉ-SÁNCHEZ, Estefanía; FUNARI, Pedro Paulo A.; POZZER, Katia Maria Paim. Apresentação. Anos 90, Porto Alegre, v. 25, n. 47, jul., 2018 .Acessar publicação original [DR]

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Violência no Século XX: entre trauma, memória e história (II) / Boletim Historiar / 2017

É com grande satisfação que nesta edição damos continuidade a publicação do “Dossiê Violência no Século XX: entre trauma, memória e história” com seu segundo volume. Organizado pelas professoras Monica Grin e Silvia Correia, o dossiê foi composto por trabalhos de alunos do curso “Violência no Século XX: entre trauma, memória e história”, oferecido pelo Programa de Pós-graduação em História Social da UFRJ em 2016.

No primeiro artigo Lucas Vinicius Erichsen, analisa o livro “Matadouro 5, ou A Cruzada das Crianças: Uma dança de etiqueta com a morte” de Kurt Vonnegut, (1969). É uma narrativa-testemunho do autor que serviu ao exército americano e foi prisioneiro dos nazistas durante a II Guerra. Assim, Erichsen procura estudar sobre a historicidade das práticas do matadouro, entendendo as possíveis maneiras de abordar sobre o tempo, o testemunho e a memória de guerra. Ainda sobre Historia e Memória no campo da História do Tempo Presente, Willian Santos Pereira estuda as cartas publicadas pela revista Veja em 1989 sobre Fernando Collor de Mello. O autor analisa a representação da imagem política de Collor pelos leitores durante a eleição presidencial. Desta forma, trabalha com a memória em depoimentos escritos para entender como essas pessoas expressavam seus sentimentos utilizando suas experiências para discutir o presente.

Em seguida, Lucas de Mattos Moura Fernandes estuda ideias de ensaístas e historiadores sobre a relação entre História e Memória e as experiências traumáticas do século XX causadas por atos de violência. Para assim compreender como tais acontecimentos foram reelaborados através de testemunhos, favorecendo a construção de uma narrativa e de uma identidade. Seguindo o campo da História e Memória, João Paulo Henrique Pinto procura compreender a construção de uma memória histórica oficial angolana. Foram analisados livros didáticos de história do país após a independência e utilizados pelo seu sistema educacional. O autor apresenta como ocorreu o processo pela busca de uma identidade nacional ao questionarem a colonização portuguesa em meio a uma diversidade étnica, racial e cultural. Contextualizando esse processo com o desenvolvimento de seu sistema educacional.

No último artigo do dossiê e sobre História e Cinema, Andrey Augusto Ribeiro dos Santos analisa como as narrativas israelense e palestina sobre o confronto entre ambos aparecem no cinema. Seu objeto são os filmes, Munich, uma produção norte-americana de Steven Spielberg, e Paradise Now, uma produção palestina do árabe-israelense Hany Abu-Assad, ambas de 2005. Sendo Marc Ferro e Robert Rosesntone os seus principais referenciais teóricos para buscar no cinema reflexos da sociedade que o produziu em torno a um debate político e uma construção da memória coletiva.

Além do dossiê temos Caroline de Alencar Barbosa em trabalho sobre a importância da propaganda nazista na educação dos alemães durante a II Guerra. Suas fontes são os cartazes publicados no periódico Der Stürmer, pertencente ao publicitário Julius Streicher. Tais cartazes disseminavam o ódio antissemita, trazendo o judeu como o “outro” conveniente. Também sobre Educação, Matheus Oliveira da Silva debate sobre a Base Nacional Curricular Comum, referente às mudanças no ensino de história. Devido à quantidade de críticas que a proposta sofreu de diferentes seguimentos, o autor buscou notas, cartas e pareceres de entidades de classe sobre a Base a fim de compreender qual é o ensino de história idealizado.

Agradecemos a todos pela colaboração e apoio com submissões de textos e com a frequente divulgação do periódico. Desejamos uma boa leitura.

Os editores.


Editores. [Violência no Século XX: entre trauma, memória e história-2º Volume]. Boletim Historiar. São Cristóvão, n.18, 2017. Acessar publicação original [DR]

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Violência no Século XX: entre trauma, memória e história (I) / Boletim Historiar / 2016

Foi com grande satisfação que acolhemos o convite da Revista Boletim Historiar para realizar um Dossiê com os trabalhos realizados pelos alunos do curso Violência no Século XX: entre trauma, memória e história, oferecido no Programa de Pós-graduação em História Social da UFRJ, no primeiro semestre de 2016.

Franz Rosenzweig, filósofo judeu-alemão que lutou na I Guerra Mundial, em seu Estrela da Redenção, obra escrita em cartões postais desde as trincheiras dos Balcãs, lembra-nos do significado daquela guerra como a preeminência da humanidade em marcha em relação aos homens de carne e osso: “Que o homem se enterre como um verme nas entranhas da terra nua, diante dos tentáculos sibilantes da morte cega e impiedosa, que ele possa sentir lá, em sua violência inexorável, o que normalmente ele nao sente jamais: que seu eu passaria a ser apenas um isso se viesse a morrer, e que cada um dos gritos ainda contidos em sua garganta possa clamar seu eu contra o implacável que o ameaça desse aniquilamento inimaginável… diante de toda essa miséria, a filosofia sorri com seu sorriso oco”[1]

O longo século XX testemunhou diferentes formas de violência – genocídios, colonialismos, guerras nacionais e civis, lutas por autodeterminação, movimentos civis armados, revoluções, golpes de estado, atos de terrorismo que desafiaram tradições de sociabilidade e pacificação, construídas com alguma esperança e com fundamentos éticos, desde o iluminismo. Um importante repto vem se impondo à reflexão historiográfica, uma vez que esses fenômenos, de pertubadora violação de vidas e de direitos, movidos por formas cada vez mais sofisticadas de violência, promoveram traumas, medos, ressentimentos, melancolia, vingança, ódio e desesperança. Uma atmosfera recorrente de sentimentos morais difusos, confusos e de difícil apreensão ontológica e epistemológica, impõe-se, além das estruturas, dos fatos e da temporalidade moderna, como desafio crucial para os que enfrentam de algum modo o tema da violência em suas variadas manifestaçoes. Há, nesse cenário, descontinuidades narrativas, geralmente negligenciadas pelos historiadores, mas obviamente presentes no recalcamento dos que viveram e sobreviveram à violência desse longo século. Inevitavelmente, essa miríade de fenómenos históricos violentos precipitaria uma viragem epistemológica pós-estruturalista, que só a partir no desfecho da II Guerra Mundial ganha maior ênfase. O curso “Século XX: entre trauma, memória e história”, teve como objetivo explorar um certo tipo de produção historiográfica que vem assumindo desde o final da II Guerra Mundial o papel nada confortável de tratar o tema da memória e da história em tempos sombrios.

O conjunto de trabalhos elaborados no curso e que perfazem esse dossiê, qualifica-se pela diversidade de focos, abordagens e temas que resultaram da reflexão sobretudo das formas em que a história e a memória esgrimam pela legitimidade narrativa de circunstâncias que envolvem violência, violações, genocídios, como também pelo desafio de refletir e elaborar narrativas sobre a atmosfera dos sentimentos morais que nasce dessas circunstâncias.

Algo de surpreendente resulta desses trabalhos. Cada um ao seu modo dialoga com teorias, métodos, narrativas, interpretações, literatura que direta ou indiretamente correspondem à questões tratadas ao longo do curso. Há desde temas sobre história, memória e a I Guerra Mundial, sobre monumentos, patrimônios históricos, sobre holocausto e sentimentos morais, sobre justiça de transição e o conceito de história, sobre testemunho, trauma e homossexualidade, sobre cinema e conflitos, sobre cultura de guerra e Guerra Fria, sobre memória, opinião pública e imprensa, sobre violênciae literatura de ficção, sobre dilemas da identidade nacional, enfim, um leque extenso de variações sobre o mesmo tema da violência-história-memória. O resultado vocês terão a oportunidade de conferir no Dossiê que ora se apresenta no Boletim Historiar e que, esperamos, possa colaborar com debates e pesquisas no campo da história da contemporaneidade, séculos XX e XXI.

Nota

[1] Franz Rosenzweig, L’Etoile de la rédemption, Paris, Seuil, 1982, p. 11.

Monica Grin

Silvia Correia


GRIN, Monica; CORREIA, Silvia. [Violência no Século XX: entre trauma, memória e história-1º Volume]. Boletim Historiar. São Cristóvão, n.17, 2016. Acessar publicação original [DR]

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Raça, Gênero e Violência na História / História.com / 2016

É com satisfação que o Conselho Editorial da Revista Eletrônica Discente História.com apresenta seu novo número com o dossiê temático Raça, Gênero e Violência na História. Esta escolha foi decidida a partir da pertinência dessas temáticas no presente, característica que vem se tornando chave na escolha dos dossiês do nosso periódico.

A evocação que o presente realiza em relação às relações raciais e gênero e aquelas mediadas pela violência – o mais bárbaro dos conflitos – tem respaldo nos episódios que vêm se tornando fatos corriqueiros no cotidiano do Brasil e de vários países do mundo.

Recentemente, no último dia de natal, um caso chocou e comoveu o nosso país, que foi o homicídio de um vendedor ambulante numa estação de metrô, em São Paulo, ao defender dois travestis de agressões causadas por dois homens. Estes espancaram o autônomo até a morte, sendo que o mesmo era negro e os agressores eram brancos.

Este episódio sintetiza o horror que a intolerância tem proporcionado ao círculo civilizado que anseia por uma sociedade em que as diferenças e as desigualdades tenham, no mínimo, um tratamento mais humano e igualitário, onde as violências não sejam justificadas por preconceitos e demais visões mesquinhas em relação ao outro.

O papel das Universidades diante do fenômeno da intolerância é proporcionar debates que procurem estabelecer diretrizes que possibilitem os movimentos sociais terem embasamentos para proporem políticas públicas, sejam elas com o aval do Estado ou por iniciativa comunitária. Sendo assim, a universidade jamais deve se furtar ao seu papel de definidora de conceitos para ações de promoção das igualdades e reparações.

E foi com muito brilhantismo que os autores que colaboraram com suas produções acadêmicas contribuíram para o dossiê supracitado. Textos que podem fomentar debates enriquecedores.

O artigo “Mulheres comunistas na Bahia: contribuições para a fundação da federação de mulheres do Brasil e para o movimento pela paz” de Iracélli da Cruz Alves é uma instigante contribuição ao estudo da História das mulheres nos movimentos comunistas, oferecendo às nossas leituras uma visibilidade até então não destacada do lado feminino dessa história.

Encontra-se também o texto “Ofícios estatais e a heterovitimização das mulheres” de Michelle Silva Borges que aborda de forma original a mulher enquanto sujeito dentro das hierarquias e violações às quais são submetidas na relação com a polícia.

No texto “Representações sociais e mulher trabalhadora: implicações do imaginário social na (re)produção de desigualdades de gênero no mercado de trabalho” de Pablo Luiz Teixeira Gomes de Moraes e Flávio Badaró Cotrim, encontramos um balanço bibliográfico que analisa as representações a qual são sujeitas às mulheres no mercado de trabalho.

O estudo presente em “Discursos repressores recifenses: a questão de gênero e da raça através dos discursos sobre o suicídio durante a década de 1920, na cidade do recife” de Pedro Frederico Falk nos traz o retrato da violência no Recife da década de 1920, destacando as diferenças raciais e de gênero nos discursos médico, religioso, jornalístico e jurista, em especial, quando tratavam da questão do suicídio.

E, por fim, “A participação de mulheres na faculdade livre de direito da Bahia no período 1911-1920” de Vitor Luis Marques dos Santos é uma interessante análise que busca descortinar as condições históricas em que as mulheres que ingressaram nessa instituição de ensino superior conseguiram agir.

Desde já, a equipe editorial também convida a você leitor para apreciar os textos das outras sessões: Artigo Livre e História na Sala de Aula. São textos que abordam outras discussões não contempladas no dossiê temático e que também contribuem para temas historiográficos e de diálogos com as disciplinas afins para que possamos melhor entender o presente e o passado e termos condições de lutar por um futuro.

Boa leitura!

Antônio Cleber da Conceição Lemos – Conselho Editorial. Graduado em Licenciatura em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e mestrando em História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Correio eletrônico: cleberhist@hotmail.com


LEMOS, Antônio Cleber da Conceição. Apresentação. História.com. Cachoeira, v.3, n.6, 2016. Acessar publicação original [DR]

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História e violência: discursos e identidades | Revista Eletrônica da ANPHLAC | 2011

Este número 11 da Revista da ANPHLAC traz o dossiê História e violência; discursos e identidades. O grande número de artigos recebidos e aprovados pela Revista por ocasião da chamada de trabalhos para o número 10 (no qual se publicou o dossiê Cultura e autoritarismo nas Américas) resultou na organização de um segundo dossiê, contendo seis artigos e uma resenha, todos relacionados a temas e fenômenos históricos do século XX, que aqui temos a satisfação de apresentar aos leitores.

Os dois artigos que abrem esse número tratam de temas nos quais a violência política figura como um dos principais componentes dos objetos analisados. Maria Valéria Galvan, em Cambios y continuidades en las representaciones actuales sobre Tacuara, explora as transformações ocorridas na memória social e na opinião pública acerca da organização nacionalista argentina Tacuara, abordando o período que se estende do início da década de 1960 ao começo do século XXI. A autora analisa as mudanças operadas também no discurso dos ex integrantes desse grupo de extrema direita, tomando como fontes depoimentos, produções audiovisuais e artigos da grande imprensa. A pesquisadora destaca a nova visão que emergiu sobre o grupo, no final dos anos 1990, considerando-o uma espécie de “escola de formação” da luta armada e até mesmo da militância de esquerda dos anos 1970. Leia Mais

Violência e Poder / Projeto História / 2009

O tema da violência, sob as mais variadas formas, vem ocupando cada vez maior espaço na historiografia, tanto acadêmica quanto aquela produzida por entidades e organizações voltadas para ações sociais. Debruçam-se os especialistas em análises sobre suas variadas formas, perpassando do campo da criminalidade do Estado, para as que se evidenciam nas relações entre indivíduos ou grupos, sobre o que perscrutam em busca tanto de suas raízes, formas de ser, finalidades objetivas ou ocultas, impactos, quanto na objetivação da posição relativa que ocupam no conjunto das relações societárias.

A perplexidade com que se depara o mundo de hoje ante a aparente contradição entre o avanço do conhecimento humano (tecnologia) e a reincidente barbárie das guerras, dos genocídios e das violações de direitos dos indivíduos [1], particularmente os perpetrados pelos poderes constituídos enquanto Estados, explica o interesse pelo tema que retoma o recorrente debate sobre a relação entre violência e política. Assim a negação sistemática da determinação da natureza de classe dos processos de dominação política expressos no Estado, em prol de uma falsa ampliação da democracia, subsume nas evidências acima apontadas, conforme se observa em artigos apresentados neste número da Projeto História, que analisam tanto as novas formas de pobreza e de iniqüidade, quanto questionam os preceitos da mundialização, a violência dos interesses privados na agressão ao meio ambiente, os limites dos mecanismos de representação democrática e das resolução negociadas e pacíficas dos conflitos, impeditivos da real emancipação dos povos em países subordinados.

No interior das polêmicas historiográficas contemporâneas, observa-se a recorrência tanto aos clássicos que argumentaram sobre a violência enquanto meio necessário à ação política, quanto aos que enfatizam sua condição de inerência à condição humana, com a ressalva que naturalizar a violência resulta no império da anti-política institucional, ou seja, o fim de uma racionalidade que ordenaria a polis [2], o que pode ser referido ao politicismo no uso da razão, conforme já analisado por Hegel.

Para outros, no entanto, a condição de inerência da violência está dada, não na condição humana, mas nas formas objetivas postas na ordenação social ao longo da história, decorrente das condições que têm configurado as relações societárias, particularmente pelo aprofundamento e pela mundialização paulatina do sócio-metabolismo do capital, regido pela apropriação privada impeditivas da planificação do gênero humano, uma vez que se reproduz sob o trabalho alienado. Assim o sentido inexorável da violência, posto nas abstrações primeiras, é substituído pela percepção do caráter histórico, particular a cada contexto e / ou momento em que essa se manifesta, em que pese, aí sim, a aparente identidade do fenômeno. Pode-se tomar, por exemplo, neste sentido, a relação entre norma e punição que se manifesta desde os primórdios das civilizações. Embora sua ordenação seja reconhecida desde a antiguidade, em códices como o de Hamurabi, ou plasmado em um Alcorão, ou no Antigo Testamento, será apenas no bojo da revolução industrial do século XVIII, da emergência do estado Moderno como um subproduto do capitalismo que surge o que se denomina de ciência penal, ou seja, a criminologia, constituída pela política criminal, pelo direito penal, penitenciário, pela psiquiatria forense, pela psicologia judiciária, pela medicina legal, criminalística, com seus respectivos fundamentos epistemológicos e “características de cientificidade”. Como fundamentos esta “ciência” tem o determinismo lombrosiano que fixa o estereotipo delinqüente pela estrutura biológica, apenas minimizada neste mesmo século pela incorporação, nos Estados Unidos, de aspectos do tipo sociológico [3]. Uma criminalização estereotipada que se expressa também em outras institucionalidades “científicas”, como leprosários ou manicômios, por exemplo, tratada com maestria em textos deste número da revista.

Tal normatização criminalística fora precedida pelas reflexões de um Maquiavel, Hobbes ou Weber, apenas para citar os mais reconhecidos, que trataram da violência do ponto de vista da política do dominador, da opressão, no sentido de justificá-la, ou como meio de permanência do poder, ou como necessária à ordem vigente, em que pesem as distinções entre os autores citados. Ao que contrapõe Marx, na radicalidade, quando analisa as relações entre o Estado e a sociedade à luz das evidências constitutivas das relações societárias no capitalismo, as quais nos permitem demonstrar como tal violência é um dos mecanismos que põe em movimento a força política das classes dominantes em defesa, não da humanidade, apesar dos discursos e das leis humanitárias, mas da apropriação privada [4] e de seus interesses mesquinhos, egoísticos e particularistas.

A barbárie das grandes guerras e particularmente da segunda demonstrará para os autores, a necessária “distinção entre a violência repressiva exercida pela dominação e a progressiva violência por liberdade e defesa de direitos”, o que será explorado por autores como Merleau-Ponty, Beauvoir, Fanon e Sartre. [5]

A terceira revolução industrial e a introdução da microeletrônica no processo de produção de mercadorias têm levado a uma verdadeira devastação no mercado de trabalho internacional. Cerca de 1,5 bilhões de pessoas em todo o mundo tornaram-se dispensáveis ao processo produtivo e a tendência é que o desemprego aumente ainda mais nas próximas décadas. Este é um processo irreversível que está mudando o panorama do mundo e atinge não apenas pessoas, mas também países, aprofundando a diferença internacional entre países ricos e pobres e promovendo exclusão em continentes inteiros, como a África, por exemplo. Com isto, levas de marginalizados arriscam-se todos os dias nas fronteiras da Europa e da América do Norte, para tentar entrar no “paraíso” do capitalismo do Primeiro Mundo. E de modo geral, em todas as grandes cidades do mundo mais pessoas empobrecem e vêm engrossar o bloco dos sem moradia e sem trabalho, das pessoas com empregos precários informais e às vezes considerados ilegais, e por isso sujeitos à repressão policial.[6]

Paralelamente, no quadro no neoliberalismo, observamos a diminuição do gasto público em políticas sociais abrangentes e universais. Ao contrário, são propostas e implementadas as chamadas “políticas focalizadas”, projetos que só atingem as comunidades mais miseráveis ou pedaços dela, aparecendo como uma vitrine da boa índole dos governos, o brasileiro, inclusive. Em nosso país, como em muitos outros lugares, o Estado Social vem diminuindo, porém cresce, como complemento de toda essa política, o Estado Penal.[7] Para os marginalizados e excluídos que não se mantém na estrita ordem, o Estado reserva a construção de cada vez mais prisões e a implementação de penas cada vez mais rígidas para os crimes contra o patrimônio dos ricos.

Tanto o aumento da criminalidade e da violência nela contida, como a resposta do Estado Penal são o contraponto dessa situação criada pela mundialização [8] do capital com sua razão manipulatória. Há cada vez menos emprego no mundo e cada vez mais gente marginalizada. Há cada vez menos dinheiro para o Estado investir em políticas que reduziriam as desigualdades sociais, e cada vez mais dinheiro para construir prisões ou aumentar os efetivos policiais. A crise sem precedentes do sistema do capital a partir de setembro de 2008, no coração do sócio-metabolismo, aprofunda as determinações da crise estrutural que lhe é inerente.

A violência que se exerce na esfera pública – a da criminalidade e a do aparelho repressivo do Estado – está, portanto inserida neste contexto. No entanto, se no Brasil ela tem aparecido como subitamente explosiva, há todo um substrato histórico, assentado sobre a estrutura de classes sociais presente nas formações capitalistas, que já indica a possibilidade de tal explosividade. Ela apenas ganhou, sob os efeitos desagregadores das políticas neoliberais, atualidade e com a desagregação das forças sociais do leste europeu, prolongou a utilidade histórica do capital.

Denominada violência institucional tais ações ilegais são praticadas por agentes do Estado, lotados em órgãos públicos que compõem os sistemas de segurança, mas que se destacam por sua função repressora nas diferentes instâncias da federação brasileira. Referem-se tanto às redes de segurança voltadas para a repressão política, quanto as voltadas para as que, instituídas para o controle das contravenções legais que integram o campo da criminologia, cometem, no exercício destas funções, ilegalidades. Só esta afirmação já nos remete a múltiplas considerações, particularmente ante as ponderações de analistas clássicos que discutem a natureza do Estado no capitalismo e a violência, conforme tratado em vários dos textos presentes neste número.

Nos períodos em que vigora a autocracia burguesa institucionalizada, travestida da democracia política, dois fenômenos se manifestam: de um lado, o não reconhecimento do aprisionamento por razões políticas, sendo toda ação deste teor enquadrada como crime comum. Em contrapartida, a lógica de ação vigente nos períodos ditatoriais não se altera, expressando-se no quotidiano das delegacias, nas tramitações e resultados processuais, nas práticas de tortura, nos assassinatos praticados por agentes policiais civis ou militares, apenas por suspeição de possíveis contravenções, ou de pessoas nos cárceres, portanto, sob custódia do Estado, nas denominadas “chacinas” e na impunidade de toda ordem.

Embora levadas a cabo por agentes do Estado, tanto militares quanto civis, não são resultado de iniciativas individuais, mas expressam um complexo integrado por idéias, padrões de comportamento, relações inter-humanas com respaldo de equipamentos materiais e denotam uma dada forma de ser do Estado, afirmativas que se respaldam nas evidências inerentes às informações contidas no imenso acervo documental existente tanto em arquivos públicos reconhecidos como históricos, como nos arquivos de delegacias, nos fóruns da justiça e em inúmeros outros órgãos que guardam a memória das ações dos Departamentos de Segurança Pública nos mais diferentes países, particularmente os latino americanos. Assim, de responsáveis pela segurança da nação, tais órgãos se transformam em sistemas de repressão, cumprindo a função social de coagir, cooptar e proceder à coerção utilizando-se para tanto das mais variadas estratégias na manutenção da autocracia burguesa.

Evidências que já vêm sendo apontadas pela produção acadêmica e congêneres, embora ainda pouco pelos historiadores, particularmente no concernente aos períodos não ditatoriais. Assim, em um primeiro momento, observa-se que a ênfase dos estudos recaía na análise da repressão e das arbitrariedades do Estado nos períodos ditatoriais, quando a função de segurança nacional incorpora a da repressão política. Mais recentemente vêm se destacando a emergência de uma produção intelectual voltada para analisar a continuidade da institucionalização destes órgãos e de suas práticas repressivas em períodos não ditatoriais, isto é, denuncia-se a permanência de investidas do Estado que confrontam a vigência dos direitos humanos e a ordem constitucional. [9]

O preceito identificado é o de que a segurança nacional significa estar vigilante e atacar preventivamente, não apenas iniciativas que se configuram, para a ordem vigente, como inimigos externos, mas também aqueles que são indicados como inimigos internos o que abrange uma enorme gama de pessoas e situações.

Tal perspectiva encontra respaldo na historiografia que analisa a posição dos militares na sociedade, assim como a dos policiais civis e militares em tempos de democracias, e que concluem que estes atuam com autonomia em relação ao governo e em relação aos diferentes segmentos da sociedade.[10]

Quanto às evidências da articulação dos militares com determinados segmentos da sociedade civil, alguns autores consideram que se trata de um acordo entre classes, já que os militares comporiam uma classe à parte.[11]

Uma crítica radical a tais posturas demonstra como em sociedades cujo desenvolvimento das forças produtivas capitalistas tem suas origens na particularidade da organização colonial e do trabalho escravo é hiper-tardio, a fragilidade da burguesia tornou-a incapaz de proceder à necessária revolução burguesa, rompendo com a dominação de classe oligárquica, com o apoio, mesmo que momentâneo, dos segmentos populares. Não por acaso observa-se neste volume a incidência de reflexões sobre ditaduras e institucionalidades autocráticas, assim como sobre a banalização da violência por agentes do Estado.

Expressão, conforme alguns dos autores, de formas particulares da autocracia burguesa que se constituíram-se em dominações exercidas de modo indireto pelo conjunto da burguesia, pelas armas, subjugando, castrando ou atrelando os poderes legislativo e judiciário. Esta estrutura de poder montada sob um executivo absolutizado, forte, ditatorial, foram capturadas por Marx e Engels em suas análises históricas do poder imperial de Napoleão III e de Bismarck no período guilhermino, na segunda metade do século dezenove. Em suas reflexões ontológicas, Marx apontava para esse executivo forte que atua no sentido de desmanchar as formas democráticas, pelas quais as classes sociais podem se contrapor com seus interesses antagônicos.

Está claro que é preciso acima de tudo diferenciar as circunstâncias e especificidades históricas do bonapartismo clássico com relação aos bonapartismos brasileiro e latinoamericanos, formas particulares identificadas às ditaduras militares. A figura de um aventureiro e oportunista no poder como ocorre no segundo império francês, ou a presença marcante de um estadista do porte de Bismarck, certamente, não encontram paralelo em nossa realidade. Há que atentar que não se trata de uma colagem histórica, mero recurso analógico de empréstimo de figuras. Trata-se de, nas palavras de Marx, compreender a lógica específica de um objeto específico.

Na história brasileira, a entificação do capital não se verificou por um amplo processo democrático de massas. A via colonial desconheceu processos instauradores que conformaram um regime democrático-burguês consolidado. Ao contrário, na particularidade brasileira, nasce uma burguesia cuja potência auto-reprodutiva é extremamente limitada, não possuindo uma dinâmica própria que pudesse efetivamente representar os interesses das demais categorias sociais. É graças a essa determinação histórica, à sua incompletude de classe do capital, que se constitui o capital atrófico, com suas características particularista e exclusivista:

Desprovido de energia econômica e por isso mesmo incapaz de promover a malha societária que aglutine organicamente seus habitantes, pela mediação articulada das classes e segmentos, o quadro brasileiro da dominação proprietária é completado cruel e coerentemente pelo exercício autocrático do poder político. Pelo caráter, dinâmica e perspectiva do capital atrófico e de sua (des)ordem social e política, a reiteração da excludência entre evolução nacional e progresso social é, sua única lógica, bem como, em verdade, há muito de eufemismo no que concerne à assim chamada evolução nacional.[12]

Notas

1. BRICEÑO-LÉON, Roberto (2002) La nueva violencia urbana en América Latina, Dossiê Sociologias, nº 8, Porto Alegre jul. / dez. http: / / www.scielo.br / scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517- 45222002000200003&lng=pt&nrm=iso

2. FRAZER, Elizabeth and HUTCHINGS, Kimberly. On politics and Violence: Arendt against Fanon. Contemporary Political Theory. Feature Article: Political Theory Revisited, 7, Doi:10.1057 / palgrave. cpt.9300328, 2008, pp. 90-108.

3. MARTINO, Paolo di. Criminologia. Analisi interdisciplinare dellla complessità del crimine. Studi Superiori. Universitá e Specializzazioni. Prefazione di Pier Luigi Vigna. Napoli, Edizioni Giuridiche Simne, 2009.

4. MARX, Karl. A burguesia e a contra-revolução (1848), As lutas de classe em França de 1848 a 1850 (1850) e O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte (1852).

5. FRAZER and HUTCHINGS, op. cit..

6. “Según la CEPAL, el desempleo en la región pasó de 5,7% en 1990 a 9,5% en 1999, pero lo que llama la atención no es tan sólo el incremento de los desocupados, sino la particularidad de los nuevos trabajos, pues de cada diez empleos que se crearon en la región entre 1990 y 1997, siete (6,9 exactamente) se originaron en el sector informal (CEPAL, 1999). Es decir, ocurre una doble exclusión laboral, pues hay menos empleos y aquellos que surgen tienen un carácter tan precario como su condición de informalidad lo sugiere.” BRICEÑO-LÉON, R., op. cit., p. 7.

7. BATISTA, Nilo (2003). “Todo crime é político”, entrevista à revista Caros Amigos, nº 77, agosto.

8. Publicação do Centro de Estudios Legales y Sociales (CELS), da Argentina caracteriza esta situação da seguinte maneira: “Así, la velocidad con que se marcan algunos rasgos del “Estado policial” contrasta com la pereza con que se recobran ciertas notas del “Estado social”. CELS. Políticas de seguridad ciudadana y justicia social. Buenos Aires, Siglo XXI, 2004, p. 7.

9. CARDIA, Nancy. Transições democráticas: continuidades e rupturas; autoritarismo e democracia: desafios para a consolidação democrática, in: PINHEIRO, Paulo Sergio (et ali) Continuidade autoritária e construção da democracia. Relatório final da pesquisa. Fapes / CNPq / Fundação Ford USP: NEVE, 1999, pp. 11 a 37.

10. FERNANDES, Heloisa. Os militares como categoria social. São Paulo, Global, 1978. OLIVEIRA, Eliezer Rizzo de. As forças armadas: política e ideologia no Brasil. Petrópolis, Vozes, 1987. PEREIRA, Maurício B. Estado Novo: a constituição das bases do partido militar e do projeto Brasil Potência. Premissas. Caderno do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp. v. 1997, pg. 15-16. STEPAN, Alfred. Ao militares na política. Rio de janeiro: Arte Nova, 1975. FICO, Carlos et ali. Ditadura e democracia na America Latina. Balanço Historiográfico e perspectivas. Rio de Janeiro: FGV, 2008.

11. PIERANTI, Octavio Penna, CARDOSO, Fabio dos Santos, SILVA, Luiz Henrique Rodrigues da. (2007). Reflexões acerca da política de segurança nacional: alternativas em face das mudanças no Estado. RAP Rio de Janeiro 41(1): 29-48, Jan. / Fev., pp. 30 a 48.

12. CHASIN, J. A sucessão na crise e a crise da esquerda. Revista Ensaio. São Paulo, Ensaio, nº. 17 / 18, 1989, p. 49.

Antonio Rago Filho

Vera Lucia Vieira

Editores Científicos


VIEIRA, Vera Lúcia; FILHO RAGO, Antonio. Apresentação. Projeto História, São Paulo, v. 38, 2009. Acessar publicação original [DR]

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Violência e Política / História Oral / 1999

É com prazer que a nova diretoria da Associação Brasileira de História Oral e os editores da revista História Oral trazem a público o número 2 desta publicação. Lançada em junho de 1998, História Oral tem como objetivo constituir-se num referencial permanente e atualizado para todos os professores e pesquisadores interessados nesta metodologia de trabalho, tanto no que diz respeito aos debates teóricos com ela relacionados, quanto no que envolve questões de prática de pesquisa, arquivamento de fontes, etc.

Este número organizou-se a partir da montagem de um dossiê, dedicado ao tema “Violência e Política”, de uma seção de artigos livres e da publicação de uma entrevista, estrutura que, em princípio, deverá ser mantida no futuro, acrescida apenas de resenhas de livros ou de publicações similares. No caso presente, e também para o número 3, por decisão conjunta de editores e diretores, realizou-se uma seleção de textos apresentados ao X Congresso Internacional de História Oral, ocorrido no Rio de Janeiro, em 1998. A importância e sucesso desse evento para a comunidade acadêmica nacional não precisa ser frisada. Justamente por essa razão, considerou-se pertinente que a revista da ABHO publicasse algumas das comunicações apresentadas no Congresso, a partir de um duplo critério. De um lado, seriam textos expressivos pelo tema substantivo que discutem e pelas questões teórico-metodológicas que pontuam. Por outro, seriam textos publicados nos Anais em língua estrangeira e, por isso, duplamente menos acessíveis a um amplo público de leitores.

Com base nesse princípio, foram escolhidos os quatro artigos ora divulgados, três deles integrantes do dossiê, que consideramos muito atual e polêmico. Os artigos de colaboradores nacionais nos foram enviados e examinados, conforme a praxe, tendo havido apenas a preocupação de privilegiar aqueles que pudessem se articular ao tema “Violência e Política”.

Assim, esperamos ter atendido às expectativas de nossos leitores, e reafirmamos nosso compromisso de estar abertos ao recebimento de colaborações de todo o país.

Os editores


Apresentação. História Oral, Rio de Janeiro, v.2, p.7, 1999. Acessar publicação  [DR]

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