Transgênicos / História, Ciências, Saúde – Manguinhos / 2000

OGMs à mesa: decifre-os antes de devorá-los!

Os organismos geneticamente modificados (OGMs) vêm suscitando caloroso debate em vários países, principalmente no que diz respeito aos alimentos. No Brasil, o tema saiu do âmbito de universidades e instituições de pesquisa e passou a ocupar espaços sistemáticos na imprensa, desde que grandes empresas do setor de alimentos quiseram introduzir no mercado produtos geneticamente modificados. “O assunto deixou de ser racional e passou a ser passional”, constata a bioquímica Glaci Zancan, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Zancan propõe uma moratória para a liberação comercial de alimentos transgênicos (ver Glossário), alegando que ainda há muitas dúvidas sobre impactos ambientais e danos à saúde de animais e de seres humanos. Além disso, segundo ela, é preciso realizar testes no país para verificar se as linhagens de plantas aqui introduzidas são comercialmente vantajosas, levando em conta as características particulares do ambiente brasileiro.

A Academia Brasileira de Ciência, por sua vez, juntamente com instituições similares dos Estados Unidos, da China, da Índia, do México e da Grã-Bretanha e de outros países do Terceiro Mundo, defende abertamente que os “alimentos produzidos por meio de tecnologia GM (geneticamente modificados) podem ser mais nutritivos, estáveis quando armazenados e, em princípio, podem promover a saúde, trazendo benefícios para consumidores, seja em nações industrializadas ou nações em desenvolvimento” (a íntegra do documento ‘Plantas transgênicas na agricultura’ pode ser lido na home-page da Academia Brasileira de Ciência [www.abc.org] e da Royal Society www.royalsoc.ac.uk/files/statfiles/keywords-116.txt).

De acordo com o texto das Academias, atualmente já são cultivados milhões de hectares de plantações comerciais transgênicas de soja, algodão, tabaco, batata e milho em vários países, entre eles os Estados Unidos (28,7 milhões de hectares em 1999), Canadá (4 milhões), China (trezentos mil) e Argentina (6,7 milhões). “Nesses países, cerca de quatrocentos milhões de pessoas estão comendo alimentos cuja origem foram plantas geneticamente melhoradas”, estima o geneticista Antônio Rodrigues Cordeiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nos Estados Unidos, a metade dos alimentos já é transgênica, na avaliação do geneticista Francisco Salzano, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).

O tema é polêmico. Neste dossiê — organizado pelo Centro de Estudos do Museu da Vida, Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, com a nossa coordenação e edição — encontram-se artigos e depoimentos de pesquisadores que vêm se dedicando a refletir sobre ele. Buscamos reunir diferentes pontos de vista, sem tomar partido. Nosso objetivo é, acima de tudo, colocar o tema dos organismos geneticamente modificados (incluindo-se aí os transgênicos) em sua mesa, para que você participe do debate, que chega ao Brasil com vinte anos de atraso, segundo a socióloga Maria Celeste Emerick, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Luisa Massarani – Jornalista Chesthunt road, Tottenham London N 17 7PU England jornalista. E-mail: massarani@ufrj.br.


MASSARANI, Luisa. OGMs à mesa: decifre-os antes de devorá-los! História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.7, n.2, jul./out., 2000. Acessar publicação original  [DR].

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