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Trabalho, Cultura e Poder / Tempos históricos / 2007
Viver Tempos Históricos tem nos sido apresentado, insistentemente, como viver tempos instáveis.
Esta propalada instabilidade, invariavelmente, traduz-se nas bolsas de ações – diriam muitos que de apostas do presente – em índices como o Dow Jones, o Nasdaq, o “risco país” – ou como outros denominam, “índice de medo dos especuladores” -, com seu correlato nativo, o Ibovespa. Índices estes que, para um conjunto da população, o máximo de visibilidade que assumem tem a forma daquele desfile interminável de letras e números que percorrem o rodapé das telas de TVs, nos noticiários de todas as línguas, embora a matriz pareça ser uma só. Para um conjunto muito maior de pessoas, nem esta visibilidade eles têm.
Ou a instabilidade assume a forma de dossiês, cuja discussão sobre a sua autoria é muito mais bombástica aos que fazem deles sua arma, do que o conteúdo que eles possam ter.
Ou a instabilidade vem do clima na Terra, aparentemente mais em elevação do que as desigualdades, que independem, na experiência de bilhões, “faça chuva ou faça sol”.
Aliás, para alguns a instabilidade atinge ainda a forma como concebemos as diferenças nas sociedades: são apenas diferenças mesmo – um espetáculo delas! – e não mais desigualdades. “Múltiplos olhares, múltiplas formas de viver! A diferença é uma festa!” Para quem consegue, do seu lugar, vê-la exclusivamente assim.
Nesta sociedade apresentada, construída e até festejada como instável, o que carece de estabilidade, parece-nos, é o olhar firmado, por exemplo, entre os historiadores na busca da velha “ambigüidade dialética”.
Um olhar que problematiza, que vê, por exemplo – para ficar nas conjunções atuais – que a mesma cana que garante recordes de produção de um propalado – e suposto – biocombustível (56% de aumento nas vendas no ano de 2007), e, por certo, de lucros, é a que proporciona um resultado nefasto, sob qualquer olhar e índice, no que se refere ao trabalho escravo, no Brasil: dos 5.974 trabalhadores libertados em 2007, 52% saíram das usinas do setor sucroalcooleiro, contribuindo para que o setor alcançasse o primeiro lugar nos casos de desrespeito à legislação trabalhista, conforme denunciou a Comissão Pastoral da Terra, em seu documento “Conflitos no campo 2007”.
À escravidão, soma-se, em triste rima, a morte por exaustão: 19 pessoas, desde 2004, noticiaram os jornais, no final de 2007.
Ao que parece, sob este olhar, o prefixo “bio” que se anexou ao combustível, tem também sua instabilidade ou, mais propriamente, sua seletividade: parece mais vital à atmosfera do que para trabalhadores.
As instabilidades, como aprenderam os historiadores há muito, também são diversas na sua identificação e desiguais nos seus resultados e experiências, conforme o lugar a partir de onde se interpreta e se vive.
Ao apresentarmos a edição número 11 da Tempos Históricos, a expectativa é de contribuirmos com a construção de instabilidades derivadas da crítica pautada na interpretação histórica de, também, outras conjunturas e realidades, crítica esta que possa participar no forjamento de uma sociedade sem desigualdades.
Assim, neste número a revista publica uma tradução, Do conceito de trabalho ao conceito ampliado de sujeito trabalhador de Enrique De La Garza Toledo, que com outros cinco artigos integram o dossiê Trabalho, Cultura e Poder. São eles: A Questão política no Império Brasileiro, de Giselle Rodrigues, O valor autêntico de Plínio Salgado, de Leandro Pereira Gonçalves, O fazer-se de trabalhadores como sem terra na luta pela terra em Sumaré, de Vagner José Moreira, Construído e reconstruído pobrezas na cidade, de Sérgio Paulo Morais, “Que proveja isto com temor, pois nós outros não podemos por amor”, de Ana Lucia Sales de Lima e Sezinando Luiz Menezes.
Completam esta edição, a seção Relato de Pesquisa do Programa de Mestrado em História, trazendo os artigos Razão e sensibilidade, de Sarah Iurkiv Gomes Ribeiro e Davi Félix Schreiner, e Revistas semanais brasileiras e algumas questões de investigação, de Carla Luciana Souza da Silva, bem como a resenha produzida por Alexandro Neudorf do livro Depois da teoria de Terry Eagleton.
Conselho Editorial da Revista Tempos Históricos
Conselho editorial. Apresentação. Tempos Históricos, Paraná, v.11, 2º semestre de 2007. Acessar publicação original [DR]