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Digital Community Engagement: Partnering Communities with the Academy – WINGO et al (PHR)
WINGO, Rebecca S.; HEPPLER, Jason; SCHADEWALD, Paul (eds). Digital Community Engagement: Partnering Communities with the Academy. Cinncinati: Cinncinati University Press, 2020. 225p. Resenha de: FOSTER, Ann-Marie. Public History Review, v. 27, 2020.
This collection of essays, edited by Rebecca S. Wingo, Jason Heppler and Paul Schadewald, introduces readers to digital community engagement, or DiCE, as they call it. The acronym is not only a useful one, but one which situates the book among the intellectual forerunners of the field. As they explain in the introduction, they created this volume because when they needed it, it did not exist. The result is an open access collection of nine case studies, written by people involved in community/academy partnerships, most of which are co-authored, which offer an insight into the collaborative projects with a digital element.
This volume is designed to be read by both academics interested in creating a DiCE project and by partners who are thinking about working with the academy. At times, this seems a little more geared towards the academic side of this partnership. However, all of the chapters are written in an accessible manner and show the competing demands of collaborators. The pedagogy of doing digital community engagement projects with students is often touched upon, showing potential partners how their projects can be aided by those studying in formal educational settings. All case studies are from the US, and while it is recognised that this perhaps narrows the scope of the volume, there is more than enough within its (digital) pages to make up for this.
The overwhelming theme of the collection is how DiCE projects can help enact social change, and all projects have their roots in activism, disrupting the historical status quo. Hubbard’s chapter neatly shows how digital archives can establish resistance to structural racism. Anderson and Wingo’s chapter demonstrates how History Harvests can record the experiences of Black neighbourhoods destroyed by historically racist town planning policies. Beaujot’s chapter discusses how the Hear, Here project in La Crosse helped to pressure local authorities as part of a campaign by the Ho-Chunk Nation to remove an offensive statue from the downtown area. Sullivan’s chapter considers how students can be involved in projects which have their roots in trauma, building empathy with the communities worked with. It is a strength of this volume that all writers touch upon power dynamics and consider them as ongoing issues. It is stressed repeatedly that when formulating a digital engagement project an understanding of the position of various collaborators must be at its core, permeating through all layers of engagement, from project meetings to the licences applied to digitised material.
Contributors stress the community aspects of DiCE, in particular the amount of face-to-face work involved in setting up projects. As Brock, Hunter, Morris and Murrian’s chapter highlights, digital output is not necessarily the most important outcome from a community/academy partnership. This is accompanied by practical guides to setting up a project. And the chapter by Augusto, Bragg, Chafe, Cobb, Cox, Crosby, Deal, Forner, Gartell, Hogan, Jeffries, Lawson, Nelson, Richardson, Sexton and Tyson, aside from being impressively co-written, offers a set of advice for any potential collaborators to consider before entering into a working arrangement.
Chapters discuss the digital side of the projects in varying levels of detail. One of the most involved discussions about this was by Collier and Connolly. They discussed having to use two sites – one to add metadata to the digitised diaries at the core of their project; the other a simpler version which was more user-friendly. While many chapters touch on digital inequalities, Schuette, Telligman and Wuerffel are particularly keen to stress that when doing digital engagement projects thought must be given to those without internet access. Their project, which focused on homelessness, would have excluded those it sought to draw attention to if the digital project was not accompanied by a physical one. It is also in the digital where the open access version of the text shines, with embedded links to all of the projects mentioned. Thompson and Carlisle-Cummins use this to particularly good effect, enmeshing their text with the podcast that inspired the chapter.
Taken together, this collection is a welcome addition to the field of community engagement and one which is designed to stimulate discussion. The editors encourage readers to see the volume as a prompt for further conversations and readers are encouraged to highlight, annotate and connect through it. This volume opens up a conversation about DiCE which is long overdue, with the digital format of the text suggesting it is one that will continue for some time to come.
Notas
1. See <https://ucincinnatipress.manifoldapp.org/projects/digital-community-engagement>.
Ann-Marie Foster – Queen’s University Belfast.
[IF]El antropólogo inocente. Notas desde una choza de barro – BARLEY (CL)
BARLEY, Nigel. El antropólogo inocente. Notas desde una choza de barro. Barcelona: Anagrama, 1989. Resenha de: SILVA, Tiago Lemões. Cadernos do LEPAARQ – Textos de Antropologia, Arqueologia e Patrimônio, Pelotas, v. 3, n. 5/6, 2006.
“Es deformación interrogante, que sirve para desvelar realidades” (p. 10).
É assim que o filósofo espanhol Alberto Cardín refere-se à primeira etnografia realizada pelo antropólogo inglês, Nigel Barley, entre os dowayos do Camarões, na África, em 1978.
No prólogo que redigiu para a publicação da obra, Cardín assinala que Barley utiliza-se de uma concepção que o faz romper com a estrutura clássica da monografia etnológica, inserindo-se, ele próprio, na análise antropológica, trazendo para o texto dados ocultos na grande maioria dos trabalhos de investigação empírica, delineando um complexo e intrigante jogo de espelhos que se traduz em um exercício reflexivo e comparativo entre a cultura européia e a cultura africana. Neste empreendimento, expõe as razões que o levaram a fazer o trabalho de campo, refletindo acerca da vantagem evidente que possuem os antropólogos no tocante à sua imagem pública, afirmando que a incursão ao campo os legitima e por isso estão como que protegidos por um campo de santidade.
Em contrapartida, Barley afirma que sua vida profissional sempre esteve envolvida em níveis mais elevados de abstração e especulação teórica, pois, segundo ele, é avançando neste terreno que se chega à possibilidade de interpretação. Opondo-se à sacralização clássica do trabalho de campo, afirma: “no apartar los ojos del suelo es el modo más seguro de tener uma visión parcial y falta de interés.” (p.21)
Opondo-se ao culto deste Deus (o trabalho de campo) e aos seus mais exemplares e fiéis sacerdotes (os antropólogos), Barley insere-se no rol dos “nuevos antropólogos” (p.18), egressos de doutorados baseados em horas de biblioteca e que consideram o trabalho de campo como uma ação supervalorizada e sacralizada no meio acadêmico. Profere que o processo de coleta de dados resulta, em si mesmo, pouco atrativo: não são precisamente dados que faltam à Antropologia, mas algo inteligente a fazer com eles. Parece-lhe que a justificativa do estudo de campo, assim como de qualquer atividade acadêmica não reside na contribuição para a coletividade, mas sim em uma satisfação egoísta.
Toma como exemplo Os Argonautas do Pacífico Ocidental, de Bronislaw Malinowski (1922) para justificar a importância do rompimento com o estilo clássico da etnografia: em seus diários de campo – de publicação póstuma – o antropólogo polonês desvela um veículo pura e simplesmente humano, onde os obstáculos e as indignações evidenciam-se: Malinowski sentiu-se incomodado pelos nativos, pela “luxúria” e pelo “isolamento” que sentia imerso naquela cultura. A publicação destes diários causou repulsa no universo científico, tendo sido estigmatizados como “contraprudecentes para la ciência” (p.21).
Barley percebe esta repulsa aos diários como um sintoma da intolerável hipocrisia típica dos representantes da disciplina e que, segundo ele, deve ser combatida. Ao atuar de encontro a estas referidas limitações, trazendo para o texto etnográfico todos os conflitos e incompreensões na relação antropólogo/interlocutor, Barley justifica a publicação de sua obra considerando que a monografia finalizada guarda relação com os sangrentos pedaços da crua realidade em que se baseia, e que são, comumente, desvalorizados na maioria dos trabalhos etnográficos, fato que obscurece a riqueza dos dados empíricos.
Ao investir na pesquisa de campo, Barley surpreende-se: aos africanos era estranho que um homem branco estivesse interessado em uma tribo bastante depreciada e tida como selvagem na região. Ao final do terceiro capítulo, revela uma inquietação ao sentir-se, vez ou outra, como um “parasita cultural” entre os dowayos, por ser a observação seu principal objetivo junto aos interlocutores.
Sexualidade, morte e relações de gênero são pontos tratados nos capítulos etnográficos que compõem esta obra. Os dowayos são descritos como um povo sexualmente ativo desde cedo. A atividade sexual é aconselhada, mas a promiscuidade não é bem vista; a gravidez pré-matrimonial é sinônimo de fertilidade feminina e a circuncisão masculina delineou-se como elemento-chave na compreensão do sistema cultural dowayo. Homens não circuncidados são possuidores de uma alma feminina, estando proibidos de participar de ritos masculinos e sepultados junto às mulheres. Somente aos circuncidados é permitido conhecer a totalidade do sistema cultural.
As mulheres jamais são eleitas à categoria de esposa por critérios de beleza, mas sim por sua obediência e bondade. Na preparação funerária, crânios recebem tratamento distinto conforme diferenças de gênero: os masculinos são colocados em um descampado onde as caveiras encontram o descanso final; os femininos são escondidos atrás da cabana onde a mulher nasceu. Assim, a mulher, ao casar-se, vai para a casa de seu marido, ao morrer, retorna para a sua.
No tocante ao trato com as enfermidades, infecções e danos acidentais são tidos como produtos de bruxaria e tratados com plantas específicas. Esse tema é apresentado no oitavo e nono capítulos.
Esforçando-se na compreensão do emaranhado cultural pertencente aos dowayos, Barley conclui que colheita, circuncisão e estações de chuva e seca apresentam-se conectadas e pertencentes ao mesmo complexo. Mas sublinha as barreiras que transpôs ao mergulhar no campo simbólico, pois “el problema de trabajar en el terreno del simbolismo reside em la dificultad para definir qué datos son susceptibles de interpretación simbólica” (p. 159).
Este antropólogo também expressa os conflitos decorrentes da ótica ocidentalizada com a qual percebia a atuação dos bruxos propiciadores de chuva: ao presenciar um ritual deste gênero – com a “prova real” de sua eficácia manifesta na tempestade que o procedera – Barley alega que não poderia acreditar em algo imerso em tão clara contradição com sua própria cultura, sem entrar em contato com “provas suficientes”. Contudo, declara que a maioria dos antropólogos não se deixa impressionar por “falsas crenças”, mas limitam-se a encaixá-las em um sistema coerente.
Ao finalizar o trabalho de campo, voltando para a Inglaterra, diz sentir-se como um alienígena inglês título dado ao último capítulo expondo suas próprias transformações enquanto ser social: fazer compras e ter diálogos educados eram ações difíceis, água corrente e luz elétrica lhe eram imensamente incríveis.
Discorre, ademais, sobre as reviravoltas teóricas que o fizeram compreender, através de uma ótica diferenciada, as monografias que formam a base da Antropologia, distinguindo quais dados são evasivos, forçados ou insuficientes.
Confessa que, ao tentar compreender a visão de mundo dos dowayos, havia posto em prova certos modelos muito gerais de interpretação simbólica. Finalizando a etnografia, Barley afirma ter abandonado sua fé liberal na salvação cultural e econômica do Terceiro Mundo. No retorno para casa, estava agradecido por ser ocidental.
Tiago Lemões da Silva- Licenciado em História pela Universidade Federal de Pelotas, Brasil. Mestre em Ciências Sociais pela mesma universidade. Membro discente do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Produção em Antropologia da Imagem e do Som, Universidade Federal de Pelotas (LEPPAIS/ UFPel), Brasil.
[MLPDB]