O Poder Naval e as disputas pelo território no Brasil Colonial (1500-1808) | Navigator | 2021

O volume 17, número 33, 2021, da Revista Navigator traz para os leitores textos sobre eventos históricos dos séculos XVI e XVII que, em conjunto, integram o dossiê “O Poder Naval e as disputas pelo território no Brasil Colonial (1500-1808)”. O dossiê teve por objetivo trazer contribuições que cobrissem conflitos entre portugueses, espanhóis, franceses e neerlandeses pelo território do Brasil, com foco nos aspectos navais, econômicos e políticos.

A proposta do dossiê surgiu a partir de uma reflexão feita após a leitura de um dos capítulos de “Os holandeses no Brasil”, escrito pelo historiador inglês Charles R. Boxer em 1957. No texto, intitulado “O mar domina o Brasil”, Boxer, assim como em outros escritos de sua autoria, mostrou a centralidade da guerra naval para o desfecho de conflitos entre portugueses, espanhóis e neerlandeses nas Capitanias do Norte do Estado do Brasil e na sede do governo colonial, Salvador. Parte das lutas entre europeus no Brasil teve origem em fins do século XVI, na sequência da guerra de independência das Províncias Unidas contra o Império Habsburgo e expandiu-se para o ultramar, com grande intensidade, ao longo do século XVII, tendo amplitudes e repercussões locais, regionais, atlânticas e globais. Leia Mais

Cinema e território na história audiovisual da América Latina, África e diásporas / Revista Transversos / 2020

O cinema mantém relação com o território desde o berço, se for considerada apenas a dimensão mais basal de territorialidade – o espaço. A fotografia, que lhe antecedeu, já era capaz de fixar as distâncias em imagens, mas o cinema inaugurou a possibilidade de representar sua ocupação. Entre as primeiras fitas produzidas no século XIX, são comuns as cenas apresentando pessoas e objetos deslocando-se entre as margens estáticas da câmera e da tela, apossando-se do vazio. Em uma espécie de arqueologia do cinema, Vanessa R. Schwartz explora o gosto do público pela realidade em Paris, no fim-de-século. Entre as práticas analisadas pela autora, estava o apreço de espectadoras e espectadores pelos panoramas, que consistiam em montagens fotográficas conectadas de modo a gerar a impressão de uma vista “real” de uma paisagem, efeito propiciado por uma série de elementos técnicos, tais como iluminação, ruídos e movimento. Embora o primeiro cinema não tenha correspondido logo a esse desejo, seus desdobramentos iriam se ocupar em dar a ver e interpretar paisagens, por meio de uma flânerie (perambulação despreocupada) virtual:

Não é mera coincidência que, além do interesse das pessoas pela realidade, as atividades descritas [neste texto] se deram com os grandes grupos de pessoas em cuja mobilidade residiam alguns dos efeitos realistas dos espetáculos. Essas práticas revelam que a flânerie não foi simplesmente privilégio do homem burguês, mas uma atividade cultural para todos os que participavam da vida parisiense. (SCHWARTZ, 2001: p. 436)

Esse traço incipiente seria aprimorado ao longo do século XX, conforme aumentavam os recursos narrativos à disposição dessa novidade tecnológica, que se consolidava como indústria e arte. Iniciaram-se as representações qualitativas do espaço – as cidades e, mais tarde, as áreas rurais, passaram a protagonizar películas e a propiciar um debate sobre o direito de ocupá-las; alguns países começaram a incorporar o cinema como parte de seus patrimônios culturais, formando-se a ideia de cinemas nacionais; povos sem território usaram o cinema na luta pela ocupação de um e a guerra de fronteiras se tornou tema de filmes; no século XXI, a busca por representações diferenciadas de um mesmo território, de ângulos inexplorados ou interditos, ganhou impulso com a democratização dos meios de produção de imagens.

Seguindo as observações de Dolores Hayden (2014), a palavra “lugar” é carregada de sentidos e, entre eles, está a referenciação do pertencimento ao mundo social, o que pode ser notado em expressões corriqueiras, como “mostrar a alguém o seu lugar” ou “o lugar da mulher”. Esse uso social do termo lhe dá uma história política, que pode sem esforço ser associada aos territórios – pertencer ou não a um lugar é matéria de formação identitária. Nesse percurso, o cinema habitou territórios contínuos ou multisituados, como no cinema de diáspora e de exílio. Territórios fractais, nos quais noções como cidadão e estrangeiro não se sustentam mais. E não apenas de espaços geográficos fala a longa relação entre cinema e território. Como no filme de Isaac Julien (Territories, 1984), territórios também dizem respeito a raça, classe e sexualidade, traçando uma geografia de terras e de corpos.

Ao longo da história, cinema e território seguem refazendo seus mapas, das imagens coloniais usadas como instrumentos de dominação às novas cenas realizadas por cineastas indígenas e africanos. Em terras latino-americanas, a relação com o território inaugurada pelo Cinema Novo / Nuevo Cine se desdobra em cinematografias diversas, especialmente as que são feitas nas margens – Cinema Negro, Indígena, Periférico. Talvez seja possível traçar rotas que levem do Pátio (1959) baiano de Glauber ao Quintal (2015) de periferia mineira de André Novais de Oliveira. De Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, a Bacurau (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. De memória do subdesenvolvimento (1968), de Tomás Gutiérrez Alea, a Nostalgia da luz (2010), de Patricio Guzmán, passando por sertões, desertos, becos, vielas, quebradas e favelas.

No cinema português, Pedro Costa destaca as vivências periféricas de Vitalina Varela e Ventura, cabo-verdianos que deambulam por Lisboa, outrora capital de um império colonial, enquanto Filipa César trabalha o arquivo fílmico da Guiné-Bissau como território identitário de um dos mais singulares processos de descolonização em África. Cineastas afrodescendentes, como o santomense Silas Tiny ou os guineenses Vanessa Fernandes e Welket Bungué, enfatizam a auto- representação na revisão da história e memória do colonialismo. Noutro sentido, Salomé Lamas trabalha de forma concêntrica a ideia de fronteira como mutação humana imposta aos territórios, nomeadamente o complexo mapa geo-político do Leste europeu após o colapso soviético (Extinction, 2018), as explorações mineiras nas cordilheiras andinas de La Rinconada e Cerro Lunar (El Dorado XXI, 2016), ou a floresta de concreto paulistana (Horizon Noziroh, 2017).

Em um momento em que vivemos as consequências de incapacidade histórica (branca ocidental) de compreender e de reverter o estrago que fizemos e seguimos fazendo na natureza, em nós mesmos e no outro, nessa barbárie operada desde a Modernidade e que é chamada de civilização, progresso e desenvolvimento, talvez seja o cinema a arte que possui mais recursos para realizar a quebra que Denise Ferreira da Silva vem experimentando a partir da idéia de “po-ética”: aquilo que vai contra o tempo linear que separa, classifica e ordena. A po-ética opera por composição e decomposição, juntando e compondo uma imagem. O cinema como o que nos retira do tempo linear ao colocar passado, presente e futuro simultaneamente. Histórias feitas são refeitas, denunciadas. Experiências de trauma, violência, amor, cuidado e cura podem ser compartilhadas e trabalhadas nos complexos processos de construção e afirmação de identidade, que passam tanto pela memória, quanto pela criação.

A po-ética do cinema é poética, é ética, é política. No jogo co(i)mplicado entre imagens, narrativas e sons, o cinema pode escolher fazer da tela um território para tudo o que a história deixou sem arquivos e sem vestígios, pois um filme é capaz de mobilizar sensações e experiências e de ir além, contribuindo para que novos sentidos históricos com relação a corpos e lugares sejam instituídos.

Para que novos sentidos históricos sejam instituídos é preciso multiplicar e garantir a presença de muitos e variados territórios, compondo o que a maioria dos espectadores entendem por “cinema”, para além das produções euro-americanas. Isso implica não apenas em um cinema que traga diferentes territórios e seus povos, modos de vida e perspectivas como tema, mas também a territorialização de recursos financeiros para fomentar produções de grupos situados à margem dos circuitos mainstream (que existem não apenas fora, mas também dentro mesmo do sul global) e sua distribuição, para que possam deixar cada vez mais de ser apenas um encarte, um suplemento, uma edição especial ou uma breve menção em festivais, cursos de cinema e na mídia.

Não poderíamos deixar de mencionar que este dossiê foi organizado ao longo da pandemia de Covid-19, na qual a relação entre desigualdade e territórios se tornou ainda mais evidente. A vulnerabilidade extrema de territórios quilombolas, indígenas, campesinos, de favelas e bairros proletários, constatada mesmo em um cenário de subnotificação de casos de pessoas infectadas e de mortes, expõe mais do que nunca as consequências das políticas de segregação, abandono, expropriação, exploração e extermínio da população afro-pindorâmica.

A pandemia tornou ainda mais explícito um cenário no qual uma parte hiper privilegiada da população pode manter seu estilo de vida, sua segurança “em casa” ou mesmo seus deslocamentos, valendo-se de e colocando em risco os mesmos corpos que sempre foram usados para garantir sua sobrevivência e conforto, enquanto esses últimos lidam com essa nova ameaça sem que as antigas cessem ou mesmo diminuam. Os territórios das favelas e periferias seguem perdendo o sono, a saúde e a vida (majoritariamente as vidas negras) em operações policiais, terras indígenas e quilombolas seguem sofrendo desapropriação ou sendo ameaçadas, assentamentos rurais são removidos. Reverter esse quadro envolve que a voz e a câmera estejam nas mãos desses povos e daqueles que a eles se juntam na luta por um mundo igual e justo. Segue a longa história entre cinema e território – passados, presentes e futuros; utópicos e distópicos; simbólicos e reais – fazendo-se presente mais uma vez.

Nosso dossiê explora o tema “Cinema e Território” em perspectiva transversal, entendendo, inclusive, que a própria ideia de território possa ser desfeita e refeita a partir de outras cosmovisões.

No seu texto, Tatiana Hora Alves de Lima investiga o imaginário utópico da construção de Brasília nos cinejornais financiados pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), empresa pública responsável pela construção e controle da cidade, abordando os encadeamentos entre tempo histórico e tempo narrativo nas mitologias do bandeirantismo e do “descobrimento” atualizadas nesses filmes, vinculadas aos ideais da refundação e do desbravamento do país e sob a égide do progresso. Nesses cinejornais, as menções a acontecimentos históricos situados no passado (a exemplo do “descobrimento” e do bandeirantismo) são sempre articuladas a referências ao futuro, num movimento constante entre historicizar e desistoricizar, havendo uma clara distinção entre sujeito e objeto. Há uma associação entre o olhar e o pensamento, em que os personagens capazes de pensar e criar são aqueles que podem assumir o ponto de vista da câmera, a exemplo do presidente Juscelino Kubitschek, o arquiteto Oscar Niemeyer, ou o urbanista Lúcio Costa, enquanto os operários são corpos unicamente engajados na ação física e numa relação de simbiose com as máquinas, como se a mão de obra compusesse o maquinário da construção da nova capital.

Wallace Andrioli Guedes, em A vida provisória: um conto de três cidades no pós-golpe de 1964, aborda o filme A vida provisória (Maurício Gomes Leite, 1968), realizado no imediato pós-golpe de 1964. O foco do artigo está no modo como o filme utiliza os espaços de três grandes cidades brasileiras – Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília – na narrativa, construindo um olhar melancólico para o contexto em que foi realizado. Além disso, explora os recursos narrativos mobilizados pelo filme para caracterizar cada um desses territórios, representativos de qualidades políticas (entendidas numa acepção ampla, que abarca a micropolítica) definidora do momento histórico enfrentado pelo país no contexto da criação da obra.

Amanda Danelli Costa, em A “Bahia de Todos os Santos” de Jorge Amado e Maurice Capovilla: na encruzilhada entre guia e documentário, realiza análise comparada de Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e mistérios de Salvador, publicado em 1945 por Jorge Amado, e o documentário Bahia de Todos os Santos realizado por Maurice Capovilla à luz do guia, e exibido no programa Globo Repórter, da Rede Globo, em 1974. A abordagem demonstra como a crueza das condições de vida do povo baiano, e o encantamento de sua múltipla cultura urbana, são observadas de forma engajada pelo romancista e pelo diretor. Ainda, explora o modo como essa “baianidade” é entendida por ambos como sinônimo de brasilidade, tomando o território urbano e suas especificidades como um dos loci definidores da nacionalidade.

Pode a corporalidade expressar territorialidades e reterritorializações? O artigo Construção de Territorialidades Ancestrais por Meio do Samba em Aniceto do Império: em dia de alforria? de Fábio José Paz Rosa, transita por essa pergunta, regido pelo olhar de Zózimo Bulbul em seu filme Aniceto do Império (1981). O texto nos lembra como o cineasta, já em Alma no olho, seu primeiro curtametragem, realizado em 1973, “demonstra uma nova e potente estética ao apresentar os sujeitos negros livres em territórios africanos e sem os subjugamentos corpóreos, históricos e sociais nos processos pós-abolicionistas, por meio da mise en scène”. Busca então processos parecidos que evidenciaram também em Aniceto do Império a corporeidade como estética que referencial o passado para refazer o presente a partir de ancestralidades africanas e afro-brasileiras. Através da corporeidade e musicalidade de Aniceto, testemunhamos a favelização do Rio de Janeiro, mas também os afetos, o trabalho e a religião como espaços da luta entre liberdade e opressão. Pelo olhar e genialidade de Bulbul, a vida e obra de Aniceto do Império nos convida a revisitar Madureira, região do Porto e Morro da Serrinha, dando a eles novos sentidos e materialidade a partir da presença e herança negra.

Utilizando o método comparativo para traçar relações entre os modos de representação do trabalhador mexicano, o artigo Mãos à Obra: a Representação do Trabalhador Mexicano nos Estados Unidos em Salt of the Earth e Espaldas Mojadas, de Maurício de Bragança, nos guia pelo universo de dois filmes cronologicamente próximos e ideológica e simbolicamente separados por uma linha fronteiriça, que separa mais do que territórios geográficos (uma produção é mexicana e a outra, estadunidense). O contexto histórico-social do trabalhador mexicano nos Estados Unidos vai sendo delineado em uma retrospectiva inversa, dos tempos atuais até os anos de 1950, época de produção dos filmes. No trajeto por narrativas, imagens e canções dos filme Salt of the Earth, dirigido por Herbert J. Biberman em 1954, e de Espaldas Mojadas, dirigido por Alejandro Galindo em 1955, enriquecidos por dados oficiais e pela escolha de uma bibliografia latino-americana, emergem as distinções éticas que regem e sustentam cada olhar.

Em Corpos pós-coloniais e desterritorialização: gestos e movimentos afetivos em Bom trabalho (Claire Denis, 1999), Mariana Cunha e Catarina Andrade propõem uma análise do filme de Claire Denis, cuja narrativa se concentra nas memórias do sargento Galoup, expulso da Legião Francesa em Djibouti, e que retrata a ocupação colonial enquanto alerta para a sensorialidade dos corpos dos soldados da Legião através de imagens ritualísticas desses corpos nos espaços e na paisagem desértica de Djibouti. Mariana e Catarina refletem sobre a forma como o filme compõe os espaços e os corpos a partir da noção de desterritorialização em uma ampla acepção – ou seja, no sentido de deslocamento físico, mas também no sentido trazido por Gilles Deleuze (1983) em relação à imagem-percepção e à imagem-afecção. As autoras concluem ainda que as escolhas estéticas e narrativas evidenciam a tendência de Denis a priorizar os gestos e as performances dos corpos, assim como a inscrição desses corpos no espaço pós-colonial, em detrimento de uma narrativa pautada na causalidade histórica que pudesse estabelecer uma relação simbólica direta entre a violência e o trauma das identidades pós-coloniais.

Michelle Sales e Ana Cristina Pereira oferecem, em Contracinema: Mulher e Território nos filmes Yvonne Kane (2015), de Margarida Cardoso, e Praça, Paris (2017), de Lucia Murat, uma reflexão sobre o “cinema de mulheres” como “contracinema”, numa proposta de analisar o olhar da mulher branca sobre a “outra”, no caso, a mulher negra. Nos dois filmes, produzidos nos dois lados do Atlântico, as autoras analisam a relação construída entre a subjetividade feminina das personagens em relação com a paisagem / território (seja em África ou no Brasil), que parece sublinhar uma tensão racial entre a mulher branca e a mulher negra, partindo de um olhar analítico construído a partir da teoria e crítica feminista de cinema e do feminismo interseccional.

Alexsandro de Sousa e Silva, em Cinema e transterritorialidade: uma entrevista com Suleimane Biai (Guiné-Bissau), conversa com o cineasta, formado em direção de cinema na Escola Internacional de Cinema e Televisão (EICTV), de San Antonio de los Baños (Cuba) e que trabalha no Instituto Nacional de Cinema e Audiovisual (INCA), na Guiné-Bissau. A entrevista explora a multiterritorialidade desse trabalhador do cinema em terras africanas, em relação com os legados sociais herdados do período de colonização europeia sobre a África. A pluralidade dos territórios que atravessam e são (foram) atravessados por Suleimane podem ser notados nas viagem físicas possibilitadas por sua formação e atuação profissional, e nas suas parcerias, como aquela empreendida com a artista visual portuguesa Filipa César, responsável pelo processo de digitalização do patrimônio fílmico do país, no projeto Luta ca caba inda (“A luta ainda não acabou”, em crioulo).

Na seção Experimentação, Clementino Luiz de Jesus Junior, Celso Sánchez e Dulce Maria Pereira narram o processo de realização do filme A Padroeira – Por um direito ao olhar, de Clementino Junior. Contam como o cineasta, que viaja para Mariana – MG com duas missões audiovisuais iniciais, acaba sendo surpreendido por um pedido local que se desdobra na obra que dá título ao artigo. O primeiro objetivo seria filmar depoimentos de atingidos pelo desastre criminoso da Barragem de Fundão e imagens do derramamento “de cerca de 55 milhões de metros cúbicos de lama com rejeitos de mineração ainda presentes mesmo três anos depois, do derramamento de cerca de 55 milhões de metros cúbicos de lama com rejeitos de mineração”. O segundo seria promover uma formação audiovisual para os atingidos da Barragem de Fundão, na intenção de buscar formas possíveis para uma educação ambiental emancipatória a partir de uma pedagogia que não se separasse do território. Ao chegar no município, Clementino recebe o pedido de Luzia, uma ativista local, o para que filme a festa da padroeira na igreja de Santo Antônio, única edificação que resistiu à “enchente de lama que praticamente extinguiu a localidade do mapa”. O resultado é o filme A Padroeira, que, em uma paisagem coberta pela lama e pela impunidade, retrata a resistência e a fé de um povo compulsoriamente deslocado de seu território.

Na seção de artigos livres, Mariana Queen Ifeyinweze Nwabasili, em Carnaval, carnavalização e discursos de representação negra no Brasil na construção estética e narrativa do filme Xica da Silva analisa a película de Cacá Diegues (1976) e seu contexto de criação, considerando a influência da literatura ficcional e científica sobre relações raciais e de gênero. O conceito de carnavalização, conforme trabalhado por Mikhail Bakhtin, tem papel central em sua abordagem. A autora mapeia os modos como Chica / Xica da Silva foi reelaborada pela literatura, desfiles de escolas de samba e pelo cinema, demonstrando o quanto a representação das pessoas negras (em especial, as mulheres) é devedora dessa trajetória seguida pela personagem.

Por fim, agradecemos às autoras e autores pela confiança e a todos e todas pareceristas pela valiosa colaboração, que muito contribuíram para garantir a qualidade das publicações. Esperamos que a leitura dos artigos deste número da Revista TransVersos contribua para a ampliação de debates e pesquisas sobre a exploração audiovisual de múltiplos territórios. Que o contato com esses textos possa incentivar leitores e leitoras a se lançar à busca de si, por meio de filmes e territórios.

Referências

HAYDEN, Dolores. “Urban Landscape History”. In: Jack Gieseking et al (eds.). The people, place and space reader. New York: Routledge, 2014.

FERREIRA DA SILVA, Denise. Toward a Black Feminist Poethics: The Quest(ion) of Blackness Toward the End of the World. The Black Scholar, Vol. 44, No. 2, States of Black Studies (Summer 2014), pp. 81-97.

MERCER, Kobena. Travel and See. Black Diaspora Art Practices Since the 1980s. London: Duke University Press. 2016.

NAFICY, Hamid. An Accented Cinema. Exilic and Diasporic Filmmaking. New Jersey: Princeton University Press, 2001.

ROSÁRIO, Filipa; VILLARMEA ÁLVAREZ, Iván (eds.). New Approaches to Cinematic Space. London: Routledge, 2018.

SCHWARTZ, Vanessa R. “O espectador cinematográfico antes do aparato do cinema: o gosto do público pela realidade na Paris fim-de-século”. In: Leo Charney; Vanessa R. Schwartz (orgs.). O cinema e a invenção da vida moderna. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2011.

Paulo Cunha – Professor Auxiliar no Departamento de Artes da Universidade de Beira Interior, na qual é diretor do Mestrado em Cinema. Membro do LabCom – Comunicação e Artes e colaborador do CEIS20 – Centro de Estudos Interdisciplinares do Séc. XX da Universidade de Coimbra. É Doutor em Estudos Contemporâneos pela Universidade de Coimbra, com uma Bolsa de Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Actualmente, desenvolve pesquisa de pós-doutoramento no Programa de Pós-Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes da Universidade Federal Fluminense. Investigador do projeto “O Império colonial português e a cultura popular urbana: visões comparativas da metrópole e das colónias (1945-1974)”, desenvolvido no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, com financiamento da FCT (PTDC / CPC-CMP / 2661 / 2014). Coordenador Editorial da Aniki: Portuguese Journal of the Moving Image (2018-2020), do Seminário Temático Cinemas Pós-Coloniais e Periféricos SOCINE (2016- 2019), do Grupo de Trabalho Cinemas Pós-Coloniais e Periféricos da AIM (2015-). Vice-Presidente da Federação Portuguesa de Cineclubes (2018-2020) e programador do Cineclube de Guimarães e do festival internacional de cinema Curtas Vila do Conde. Conferencista convidado em diversas conferências e palestras, nomeadamente: Universidade de São Paulo (USP, Brasil), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ, Brasil), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, Brasil), Universidade Federal do Paraná (UFPR, Brasil), Universidade do Estado do Amazonas (UEA, Brasil), Universidade Estadual do Maranhão (UEMA, Brasil), Universidade Federal do Tocantins (UFT, Brasil), Universidad de Salamanca (USal, Espanha), Università degli Studi di Firenze (Itália), entre outras.

Liliane Leroux – Procientista na área de Artes (Faperj / UERJ). Pós- doutorado em Cultura em Periferias Urbanas – UERJ (bolsa Capes). Graduada em Ciências Sociais (Sociologia) pelo IFCS / Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutora em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ (bolsa Capes). Professora associada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Tema de Pesquisa: Cinema em periferias urbanas, Criadora e co-coordenadora do Núcleo de Estudos Visuais em Periferias Urbanas – NuVISU (CNPq / UERJ) e do projeto Caxias du Cinéma (FEBF / UERJ). Co-coordenadora do GT Cinemas Pós-Coloniais e Periféricos da AIM – Associação de Investigadores em Imagem em Movimento. Foi co-coordenadora do ST Cinemas Pós-Coloniais e Periféricos da Socine (2017-2019). Ampla atuação profissional em avaliação e pesquisa de projetos culturais (foco em cultura, audiovisual e novas tecnologias). Atuação como avaliadora do Programa Cultura Viva (MinC), parecerista da Secretaria Estadual de Cultura (Cultura digital e audiovisual). Consultora em projetos do INEP e SEEDUC (RJ) e pesquisadora da UNESCO. Atuou em projetos de telecentros comunitários em periferias do Brasil, África e países da América-latina. Membro da AIM – Associação de Investigadores da Imagem em Movimento de da International Sociological Association – ISA (WG – Visual Sociology e TG Senses and Society). Membro da SOCINE – Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual. Co-diretora (com Rodrigo Dutra) do filme Armanda (2017).

Carlos Eduardo Pinto de Pinto – Professor adjunto do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciência Humanas (IFCH) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em que atuou como Subchefe entre 2018 e 2019, sendo professor permanente do Programa de Pós- Graduação em História (PPGH-UERJ). Possui bacharelado e licenciatura em História pela UERJ (2001), mestrado em História Social da Cultura pela PUC-Rio (2005) e Doutorado em História pela UFF (2013). Usufruiu, no primeiro semestre de 2012, de Bolsa CAPES de Doutorado Sanduíche no Exterior, com atividades na Université Paris VIII e no Laboratoire d’Histoire Visuelle Contemporaine (Lhivc), vinculado à École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS). Pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Biografia, História, Ensino e Subjetividades / UERJ (NUBHES), do Laboratório de História Oral e Imagem / UFF (LABHOI) e do Núcleo de Estudos Visuais em Periferias Urbanas / FEBF-UERJ (NuVisu). É membro do GT Imagem, Cultura Visual e História da Anpuh-Rio e do GT Audiovisual, Ensino de História e Humanidades. Tem experiência na área de História do Brasil República, atuando principalmente nos seguintes temas: história do Rio de Janeiro, cidades, arquitetura, representações, imagens, cinema, Cinema Novo, Chanchadas, subjetividades. É autor de romances, contos e poemas, utilizando o nome literário EDUARDO CHACON. Em 2019, publicou o romance A perna de Sarah Bernhardt, pelo Kindle / Amazon (e-book).


CUNHA, Paulo; LEROUX, Liliane; PINTO, Carlos Eduardo de. Apresentação. Revista Transversos, Rio de Janeiro, n.19, mai. / ago., 2020. Acessar publicação original [DR]

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Fronteiras, sertões e território / Projeto História / 2020

O número 69 da Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História, da PUC / SP, traz a público o dossiê “Fronteiras, sertões e território”. Em linha com nosso projeto editorial, interessa-nos abrir espaço para multiplicidade teórica, temática e regional.

Esse número buscou jogar luz para a produção historiográfica acerca do Brasil de dentro, mas também de regiões afastadas dos centros de poder de outros países da América do Sul. Esse número pretende abrir espaço para os estudiosos das zonas interioranas, dos sertões profundos, das fronteiras em seus vários sentidos. Sertão, aqui, não significa apenas o semiárido nordestino, mas sobretudo o interior, variado e múltiplo, áreas culturais, históricas e geográficas cuja historicidade nem sempre tem o devido espaço na historiografia brasileira.

A ampliação dos programas de pós-graduação durante os governos Lula (2002-2010) e Dilma (2010-2016) foi notável, ampliando a produção historiográfica, inclusive em universidades localizadas no interior do país. Apesar da interrupção da expansão e, pior dos ataques a universidade, é preciso reconhecer que uma considerável produção intelectual. Mas é preciso difundir esse conhecimento, nascido, quase sempre o financiamento público.

Pensar as fronteiras, os sertões, os interiores, os territórios sempre em disputas a partir da história reconhece a inevitável interdisciplinaridade, aberto às conexões geográficas, artísticas (da pintura à literatura), geopolíticas (e cartográficas), sociológicas e simbólicas que a temática impõe, temática de nenhum modo presa a recortes temporais fechados.

Não é por outra razão, portanto, que abrimos o dossiê com o artigo Leituras da apropriação territorial europeia na sedimentação de identidades no Brasil, de Jorge Luiz Barcellos da Silva. Nele, o autor buscou identificar de que maneira as diferentes leituras das territorialidades se constituíram em ferramentas auxiliares na sedimentação de identidades no Brasil. Partindo da análise de pinturas de Ekhout e mapas com distintas representações da América portuguesa, Barcellos da Silva demonstra como essas representações do território e de seus habitantes instrumentalizaram a sistematização do processo da posse europeia em diferentes partes do mundo. No caso específico do Brasil, o autor argumenta que foram os fundamentos topológicos que enquadraram os discursos e práticas dando sentido às apropriações territoriais e ao estabelecimento de fronteiras, conferindo novos contornos ao entendimento do que seria o Brasil.

Logo em seguida apresentamos o texto de Gabriel Passetti, intitulado “La cuestión de limites”: intelectuais, diplomatas e a disputa pelas fronteiras entre Argentina e Chile (séculos XIX a XXI). A sensibilidade para temas latino-americanos é um firme compromisso da Projeto História, que não hesitou em nunhum momento em aceitar a proposta. No artigo, o autor coloca em foco as discussões acerca da linha internacional de fronteiras a partir de uma perspectiva comparada e conectada, dando protagonismo às conexões entre intelectuais, diplomatas, políticos e militares. O artigo apresenta o modo como a produção dos intelectuais sobre a questão dos limites entre Argentina e Chile foi levado à esfera pública, culminando na mobilização e construção de rivalidades e tensões internacionais que quase acabou levando os países à guerra em três ocasiões.

O terceiro artigo do dossiê, intitulado Visões sobre o humano: a fronteira-sertão do Brasil meridional (1889-1905), é assinado por Bruno Pereira de Lima Aranha. Neste trabalho, de notável qualidade, o autor se propõe a analisar os relatos das expedições brasileiras destinadas à fronteira com a Argentina entre 1889 e 1905, na atual província de Misiones (Argentina) e regiões sudoeste do Paraná e oeste de Santa Catarina, bem como o Rio Grande do Sul (Brasil). O objetivo é alargar a ideia de fronteira, tradicionalmente pensada a partir de um marco delimitador, inserindo-a em uma concepção baseada na experiência de fronteira móvel, caracterizada por uma borderland, idealizada por viajantes como um sertão a ser ocupado formalmente pelo Estado. O autor destaca as percepções acerca dss populações sertanejas desses espaços, caracterizada por diversas nuances, especialmente pela transnacionalidade do espaço, cuja demarcação, de fato, sequer havia ocorrido.

Na sequência apresentamos o artigo Reflexões sobre uma zona de fronteira no século XVII: a província do Guairá e Sertão dos Carijós, de Dora Shellard Corrêa. Neste trabalho a autora discute as relações de poder e o conhecimento que os europeus detinham sobre fronteiras dos impérios ibéricos localizadas na porção Sul do continente americano. Trata-se de um espaço indígena, localizado no atual estado do Paraná, mas que, na segunda metade do século XVI e primeiras décadas do XVII, configurava parte da província espanhola do Guairá, também conhecida como Sertão dos Carijós pelos portugueses. Seu objetivo é discutir esse movimento das fronteiras europeias na América durante o mercantilismo, destacando que a realidade do conceito de fronteira é muito mais complexa do que a que vem sendo descrita, sobretudo se levarmos em conta uma dinâmica espacial indígena à qual os portugueses e demais europeus que ocuparam a região tiveram que se adaptar.

O quinto artigo deste dossiê intitula-se A ferrovia e a ocupação do sertão paulista: a Companhia Paulista e sua linha tronco oeste, pesquisa de Cristina de Campos e Luciana Massami Inoue. As autoras analisam o papel das ferrovias na estruturação do território paulista durante o século XIX, destacando dois momentos: o primeiro, que seguia o ritmo do avanço do café pelo interior; e o segundo, quando as companhias ferroviárias passaram a antecipar as plantações. É neste segundo momento que o foco das autoras irá se concentrar, em especial no que diz respeito à linha tronco oeste da Companhia Paulista, que teriam constituído uma espécie de modelo de ocupação de sertão, de acordo com o que foi observado nas áreas por onde se constituíram as principais companhias ferroviárias paulistas.

O artigo intitulado A escola “Pluvífera” e as secas no Nordeste do Brasil: o caso do “Gargalheiras” (1877-1959), assinado por Yuri Simonini, Ângela Lúcia Ferreira e Adriano Wagner da Silva, trata da duradoura ressonância que as discussões e críticas feitas pelo Instituto Politécnico sobre as secas de 1877 no Nordeste tiveram no debate sobre a influência climática a partir da construção de grandes reservatórios. Recorrendo aos métodos e a contribuição historiográfica da História Ambiental, os autores utilizaram os relatórios governamentais a fim de detalhar as teorias surgidas no Oitocentos que acabaram por legitimar propostas e edificações de barragens levantadas no século seguinte como foi o caso de Gargalheiras, em Acari, no Rio Grande do Norte.

Em seguida publicamos O Nordeste brasileiro e o Noroeste argentino: o sertão cearense e o chaco seco santiagueño em meio às secas da década de 1930, assinado por Leda Agnes Simões de Melo. Nele a autora se dedica a uma análise comparada das coberturas jornalísticas da forte seca que atingiu o estado do Ceará, no Nordeste brasileiro, e a província de Santiago del Estero, no Noroeste argentino, durante a década de 1930. Os periódicos analisados pela autora foram o Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, e El Mundo, de Buenos Aires. Seu principal objetivo é investigar como as construções discursivas da cobertura jornalística de ambos periódicos estavam ligadas ao padrão de sociedade moderna desses territórios no decorrer dos séculos.

O oitavo artigo deste dossiê, escrito por de Juciene Batista Felix Andrade, intitula-se Os sertões em debate: fronteiras, secas e instituições. Nele a autora problematiza o tema das “secas” no Nordeste a partir de uma perspectiva historiográfica, propondo uma breve incursão nos reportórios de memória estabelecidos nos mais distintos suportes documentais. O destaque conferido pela autora à essa diversidade documental e narrativa acerca das “secas” serve para deslocar o olhar dos historiadores dos sertões de um repertório já muito empregado e consagrado, mais ligados à literatura e ao folclore, para outras temáticas, o trabalho, a economia, as técnicas, os corpos, etc. A pesquisa se vale de importante documentação, como os relatórios técnicos, plantas baixas, ofícios, telegramas, jornais, etc. A diversificação da problemática e das fontes contribuem para alargamentos e enriquecimento do que poderíamos chamar de história social dos sertões.

Em seguida apresentamos o artigo “Doutores” do Sertão: Discursos do III Congresso Médico do Brasil Central (1951), de Éder Mendes de Paula. Neste trabalho, o autor analisa os discursos proferidos durante o III Congresso do Brasil Central e V do Triângulo Mineiro, a fim de compreender as relações entre região e nação. Ao perceber a oposição de sentidos que os médicos atribuíam aos conceitos de saúde e doença nos estados do Brasil central em relação aos do litoral, o autor propõe uma reflexão acerca da construção das concepções de saúde e doença. A pesquisa também trata da própria identidade dos médicos, a partir de uma perspectiva sertaneja segundo as abordagens dos próprios participantes do evento em Goiânia no ano de 1951.

O artigo seguinte, escrito em formato ensaístico, intitula-se Memória, escrita de si e identidade nos sertões: ensaio sobre a busca por novas alteridades nas fronteiras, por Evandro Santos. Neste trabalho o autor parte da problematização acerca da dimensão social da produção do conhecimento científico para refletir acerca das possibilidades e limites da escrita da história desde os sertões. No que diz respeito à temática mais específica deste dossiê, o artigo investiga o impacto exclusivamente exterior sobre regiões fronteiriças, como os sertões, apresentando um estudo de caso do sertão do Rio Grande do Norte como resultado de uma pesquisa mais ampla sobre os sertões nordestinos.

O fechamento deste dossiê se dá com o artigo O Brasil sertanejo: a construção do espaço nacional em O sertanejo (1875) de José de Alencar, escrito por Artur Vitor de Araújo Santana e Natanael Duarte de Azevedo. Neste trabalho os autores partem da literatura de José de Alencar, em particular o romance O sertanejo. O objetivo é analisar a construção de um espaço nacional no qual o interior do Brasil é visto como uma paisagem autêntica e o vaqueiro é o principal personagem na formação social do país. Para tanto, Santana e Azevedo recorrem a uma análise mais internalista do romance, buscando caracterizar a geografia física sertaneja e relacioná-la aos debates e concepções da época sobre a nação. O estudo não deixa de abordar a recepção da obra de Alencar nos periódicos do Rio de Janeiro.

Na seção dedicada aos artigos livres, a Projeto História publica O Menino do Gouveia: a história real que inspirou o primeiro conto homoerótico brasileiro de 1914, de Valmir Costa. No artigo, o autor reconstitui o lançamento do primeiro conto homoerótico do Brasil, “O Menino do Gouveia”, lançado em 1914, pela revista erótica O Rio Nu (1898-1916). Pautada em distintos periódicos cariocas da época, a pesquisa revela que o conto é inspirado em fatos reais e que o nome Gouveia acabou por se transformar em gíria e mesmo lenda urbana no Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XX. O trabalho de reconstituição das condições de publicação e circulação do conto revela, dentre outros aspectos, os espaços e as opções sócios sexuais para a experiência da homossexualidade masculina na virada do século XIX para o XX.

Já o segundo artigo livre, chamado a A guinada pragmática da linguagem e “a invenção do cotidiano”, de Gerson Luís Trombetta e Fabrício Antônio Antunes Soares, nos apresenta as características gerais da “guinada pragmática da linguagem”, especialmente na filosofia de Ludwig Wittgenstein. Mais que isso, os autores também apontam como as teses centrais dessa “guinada da linguagem” influenciaram a obra de Michel de Certeau, acerca da narrativa historiográfica, postulando que a maneira como se dá o diálogo teórico entre Certeau e Wittgenstein abre perspectivas para a narrativa historiográfica que extrapolam as limitações empiristas.

A Projeto História, interessada em valorizar a produção de jovens pesquisadores, mantém há muitos anos a seção Notícias de Pesquisas, espaço que tem o objetivo de valorizar a produção de pesquisas em andamento. Este volume traz a pesquisa de mestrado de Bruna Carolina de Oliveira Rodrigues, intitulada O embaixador de Hollywood e o cinema brasileiro (1953 – 2000). Nela a autora reconstitui a trajetória de Harry Stone, um lobista dos interesses do cinema estadunidense no Brasil, durante o período em que este viveu no país.

Por fim, o volume 69 da revista se encerra com duas resenhas. A primeira, da pesquisadora Thays Fregolent de Almeida, mais ligada ao dossiê, Fronteiras, sertões e território, trata da obra coletiva Rondon: inventários do Brasil (1900-1930), organizada pelas professoras Lorelai Kury e Magali Romero Sá, em 2017. Já a segunda resenha, em linha com o projeto editorial da revista, comprometido com a pluralidade, abre espaço para a história da escravidão durante o período imperial no Brasil. Em Estado imperial, ordens religiosas, senhores e escravos em um contexto de crise, William de Souza Martins debate a tese de doutorado de Sandra Rita Molina, publicada em livro pela Paco Editorial em 2016.

É parte do esforço editorial da Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-graduados em História da PUC / SP criar espaços para que pesquisadores de outras universidades, de diferentes regiões do Brasil, e mesmo outros países, possam contribuir com suas pesquisas.

Esperamos que os leitores apreciem criticamente os trabalhos selecionados, e que eles possam ter recepção fértil, gerar novas pesquisas e outras inquietações.

Alberto Luiz Schneider

José Rogério Beier


SCHNEIDER, Alberto Luiz; BEIER, José Rogério. Apresentação. Projeto História, São Paulo, v.69, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Como as ciências sociais e humanidades veem, sentem e leem o território? / Ponta de Lança/2020

A pergunta que dá título ao dossiê representa anseios convergentes de diversas matizes que buscam não apenas sintetizar, mas todo o contrário, possibilita oferecer um exercício de análise que seja verdadeiramente abrangente.

O objetivo central deste questionamento é apresentar os diversos vieses científicos sobre os quais o território é encarado e discutido, desde sua tradição ontológica que traz o sentido de dimensão espacial que se revela através dos processos tanto de dominação concretos, quanto em termos imateriais na produção de identidades, subjetividades e simbolismos criados e recriados pelos atores / agentes responsáveis pela sua (re)produção. Leia Mais

Terra e território no Brasil e América Latina: Sujeitos sociais, memória histórica e políticas públicas no tempo presente / Tempo e Argumento / 2019

Nas últimas décadas os estudos relativos à temática da história rural no Brasil e na América Latina demonstram uma trama de relações diversificadas, complexas e conflitivas acerca das experiências de ocupação de terra; das disputas pelo acesso, uso e posse da terra; das práticas e direitos de propriedade; do conjunto de resistências individuais – cotidianas e silenciadas – e coletivas; das diferentes formas de se relacionar com a terra, o território e o meio ambiente e das distintas concepções de direito1 . Neste universo conflitivo, multifacetado e desigual, nosso objetivo era receber artigos para compor este dossiê com pesquisas que abordassem a vitalidade do mundo rural no tempo presente e suas raízes históricas.

Buscamos, originalmente, privilegiar as narrativas dos próprios sujeitos, problematizando suas práticas a partir de novas fontes e metodologias, sobretudo as entrevistas orais. Além de estudos que contemplassem revisões acerca de historiografias tradicionalmente construídas sobre os sujeitos do campo, na tentativa de romper com a suposta homogeneização do campo e suas relações com o âmbito urbano. Neste ínterim, diferentes sujeitos sociais, a saber: indígenas, quilombolas, sem-terra, extrativistas, pequenos agricultores e grandes proprietários rurais disputam pela posse da terra e, no caso dos primeiros, por um local de trabalho, vida e moradia. Assim, o questionamento ao Direito, e, ainda, a compreensão dele como um meio para se alcançar a justiça e o exercício da cidadania, aliado à organização em movimentos sociais, apontam a reconfiguração desses sujeitos. Sinaliza, igualmente, a busca de novas representações sociais, a elaboração de políticas públicas e de leis específicas e os rearranjos e conflitos em torno delas.

A partir deste escopo, este dossiê busca contribuir com o debate no âmbito da história rural, em diálogo com a Antropologia, Geografia, Sociologia e o Direito a partir de uma perspectiva histórica, acerca das disputas pelo uso e posse da terra, da manutenção dos modos de vida, dos processos de resistência e pelo direito à(s) memória(s) dos diferentes grupos sociais do Brasil e da América Latina. Nesse sentido, as contribuições que recebemos e selecionamos superaram as nossas expectativas originais, somando sete artigos de autores provenientes de instituições da Argentina, Brasil, Chile e Polônia. São abordadas temáticas heterogêneas, trazendo problemáticas e aspectos transversais, que contemplam a diversidade dos sujeitos do campo na contemporaneidade – como camponeses ou produtores rurais, indígenas, famílias e imigrantes –; a questão da terra e dos territórios materiais e imateriais; o papel de setores e de poderes intermediários; a importância da memória na construção da história ambiental regional, da educação, do direito e da cultura e, ainda, o papel do Estado na elaboração e / ou na ausência de políticas públicas.

Em Echar raíces en tierra fértil. Producciones, domesticidad y memorias de familias rurales en la colonización tardía argentina (medianos de siglo XX), de Celeste De Marco (CONICET, Argentina), aborda-se o tema da colonização rural durante o governo peronista na Argentina (1946-1955) a partir da análise de casos presentes na região metropolitana sul de Buenos Aires: colônia “17 de octubre / La Capilla”, no município de Florencio Varela e na colônia “Justo José de Urquiza”, no município de La Plata (esta, capital da província de Buenos Aires). O objetivo central da pesquisa é reconstruir o papel dos sujetos sociais durante o processo de colonização agrícola, das famílias colonas principalmente italianas e japonesas, por meio da discussão das práticas produtivas e da vida doméstica familiar, com a adoção de uma perspectiva analítica centrada nas experiências de gênero. Para isso, utilizam-se fontes oficiais, jornal e principalmente entrevistas semi-estruturadas que congregam informações sobre as memórias familiares que, nas palavras de De Marco, “contribuyen a rescatar la importancia socio-productiva de figuras soterradas en el orden de las representaciones”, durante os períodos de fundação e de consolidação das colônias periurbanas desde os princípios da década de 1980.

No artigo Doblemente desaparecidos: servicio militar, pobreza y represión en la frontera patagónica durante la última dictadura argentina, baseado na pesquisa doutoral de Ayelen Mereb (UBA, Argentina), se revisita o caso de Héctor Inalef, primogênito e suporte econômico de uma família mapuche dedicada às atividades rurais na comunidade de El Bolsón, localizada na Patagônia argentina, desde a sua prisão durante o governo ditatorial no ano de 1976, até sua “aparición con vida” na cidade de Viedma, capital de Río Negro, trinta e oito anos depois, em 2014. A partir de uma perspectiva centrada na micro-história e na historia oral, se utilizam documentos, entrevistas e testemunhos particulares e familiares enquadrados nos estudos de memórias sobre passados traumáticos na Argentina e América Latina, manifestados na violência estatal de natureza política e de classe em “clave local, rural y mapuche”, diante das reivindicações familiares, étnicas e das tentativas de reparação oficial até os dias atuais.

O artigo de Alcione Nawroski (Universidade de Varsóvia), A educação na sociedade rural e o curso agrícola para rapazes brasileiros na Polônia (1918-1938), aborda a experiência de intercâmbio de três jovens na Polônia, considerando o número expressivo de agricultores entre a população polonesa no Brasil no início do século XX. O pano de fundo dessa discussão é a existência de um relativo atraso no campo, estendendo-se para o campo educacional, o qual impedia que esse grupo social alcançasse novas e melhores condições de vida e trabalho em território brasileiro. A análise de Nawroski ocupa-se basicamente de jornais poloneses, destacando que o governo brasileiro não possuía o mesmo compromisso com a educação, se comparado ao polonês.

Atual, necessário e quase em tom de denúncia, o trabalho Trajetórias diásporicas indígenas no Tempo Presente: terras e territórios Atikum, Kamba e Kinikinau em Mato Grosso (do Sul), de Giovani José da Silva (Unifap), discute o processo de invisibilização das referidas etnias. Trabalho de natureza interdisciplinar, sobretudo pelas lentes da Antropologia e do Direito, articula as trajetórias diaspóricas e os processos de territorialização ocorridos na história dos Atikum, Kamba e Kinikinau que, em pleno século XXI, ainda lutam por uma visibilidade que garanta respeito aos direitos que lhes têm sido negados sistematicamente. O artigo destaca, ainda, as diferentes percepções e concepções acerca da terra e do território.

O artigo Gamonalismo y redes de poder local en el Nordeste Antioqueño (Colombia) 1930-1953, de Diana Henao Holguin (Universidad do Chile), por sua vez, apresenta parte da pesquisa doutoral da autora, centrada no processo de denúncia e apropriação de terras baldias e nos conflitos derivados dessas ações na região de Antioquía, Colômbia, durante o período de 1930-1953. O recorte temporal coincide com a modernização liberal do Estado, a qual culminou com a centralização e o fortalecimento do Estado colombiano. Neste marco, H. Holguin estuda o caciquismo antioquiano e suas particularidades nos distritos de Cisneros e Yolombó, contrastando-0s, assim, com outros no âmbito andino, como Equador e Peru, munida de diversos documentos de natureza local-regional. A hipótese da autora – em uma zona de fronteira como a que estuda, de colonização tardia, se comparada com as áreas centrais colombianas – é que o referido sistema político “va a encarnar distintas facetas”, incluindo tanto a coação e exploração camponesa, possibilitando o avanço dos proprietários, como estratégias de intermediação com autoridades e distintas esferas de poder territorial, uso de meios legais em seu próprio benefício, construindo, assim, redes pessoais e clientelistas para canalizar votos para os partidos tradicionais.

Já o trabalho de Temis Gomes Parente (UFT) e Cícero Pereira da Silva Júnior (UFPA), intitulado De estrada líquida à jazida energética: os sentidos do rio Tocantins na memória oral dos ribeirinhos, por meio da metodologia em História Oral, reflete sobre as relações estabelecidas e experienciadas entre os ribeirinhos e o rio Tocantins, nas duas dimensões, materiais e imateriais. O elemento inovador do artigo é o estreito diálogo com a Antropologia, apropriando-se da noção de dádiva de Marcel Mauss, com o intuito de ressignificar a(s) narrativa(s) dos ribeirinhos acerca do rio e do seu entorno.

No auge das experiências participativas sobre conflitos socioambientais nos últimos anos na América Latina, Consultas comunitarias en Argentina: respuestas participativas frente a mega-proyectos, de Lucrecia Soledad Wagner (Universidad Nacional de Cuyo, Argentina), estuda as consultas comunitárias sobre projetos de mineração a céu aberto nas comunidades de Esquel e Loncopué, nas províncias patagônicas argentinas de Chubut e Neuquén respectivamente, “considerando que el término comunidad resulta el más pertinente para definir los procesos sociales que se generaron en torno a la conflictividad ambiental, en especial en Argentina”, com reconhecida horizontalidade. Mediante a análise de documentos escritos, imagens e realização de trabalho de campo, a autora examina as motivações que impulsionaram o desenvolvimento dessas consultas, o seu impacto social e a criação de uma institucionalidade ambiental, sustentando, conforme suas palavras, que foram “las comunidades locales las que recurrieron a la normativa existente para respaldar su derecho a ser parte del proceso de toma de decisiones que afectarían su lugar de vida” em substituição ao cumprimento da legislação vigente sobre conflitos ambientais por parte das autoridades executivas e legislativas do Estado, oportunizando a gestão de um espaço de participação direta.

Para finalizar, gostaríamos de agradecer as / aos autoras / es – únicos e últimos responsáveis pelas opiniões, posicionamentos ideológicos e / ou conclusões de seus artigos – por suas valiosas contribuições para o dossiê e, ao comitê editorial da revista, por sua eficiência e acompanhamento durante todo o processo de construção. Desejamos que este dossiê possa contribuir para o aprofundamento dos temas e problemas aqui tratados, assim como para o avanço do trabalho conjunto e a aproximação entre as historiografias e as disciplinas humanas e sociais de nossos países.

Boa leitura!

Notas

1. Para América Latina e outras latitudes pode ser consultado, entre outros, Serrão, J. V., Direito, B., Rodrigues, E. & Münch Miranda, S. (eds) (2014) Property Rights, Land and Territory in the European Overseas Empires. Lisboa: CEHC-IUL. Congost, R., Gelman, J. & Santos, R. (eds.) (2017) Property Rights in Land. Issues in social, economic and global history. London & New York: Routledge. Motta, M. & Piccolo, M. (Org., 2017), O Domínio de outrem. Posse e propriedade na Era Moderna (Portugal e Brasil), Vol. 1, São Luís: EDUEMA, Guimarães: Nósporcatudobem. Motta, M. & Piccolo M. (Org., 2017), O Domínio de outrem. Propriedades e direitos no Brasil (Séculos XIX e XX), Vol. 2, São Luís: EDUEMA, Guimarães: Nósporcatudobem. Barcos, MF., Lanteri, S. & Marino, D. (2017) Tierra, agua y monte. Estudios sobre derechos de propiedad en América, Europa y África (siglos XIX y XX). Buenos Aires: Teseo

Rose Elke Debiasi – Universidade Federal de Sergipe (UFS). E-mail: elkedebiazi@gmail.com

Sol Lanteri – CONICET-UBA, Instituto Ravignani, Buenos Aires, Argentina. E-mail: sol_lanteri@conicet.gov.ar

DEBIASI, Rose Elke; LANTERI, Sol. Apresentação. Tempo e Argumento, Florianópolis, v.11, n.28, 2019. Acessar publicação original [DR]

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Protagonismo indígena e ensino de História: identidades, ação política e território | Revista Historiar | 2017

O presente dossiê da Historiar tem como tema o protagonismo indígena e o ensino de História, trazendo ao público trabalhos inovadores e relevantes realizados por pesquisadoras e pesquisadores em diferentes locais institucionais e momentos de sua formação. O conjunto de artigos que agora publicamos representa a vitalidade e a complexidade da temática indígena no campo da História, que vem se renovando desde o início dos anos 2000 com o aumento de pesquisas de excelência desenvolvidas em diversas universidades do país. Esses trabalhos mais recentes têm apresentado o foco em debates interdisciplinares, prezando pelo diálogo com a Antropologia histórica e construindo análises sobre identidades coletivas, ações políticas dos indígenas motivados por necessidades e interesses próprios e reelaboração de territórios das antigas aldeias coloniais. Os artigos deste dossiê apontam para períodos e objetos que vêm ganhando visibilidade na área, tais como o ensino de História voltado para a temática indígena, a prática de governos provinciais a partir da legislação indigenista do início do século XIX e a participação política dos índios nos debates políticos do Oitocentos e na defesa de suas terras. Leia Mais

América Latina independente: história, política, cultura e território / Dimensões / 2015

Em setembro de 2014, a Universidade Federal do Espírito Santo e a Universidade Nacional Autônoma do México estabeleceram um convênio de colaboração. O primeiro fruto desse convênio é o Dossiê “América Latina independente: história, política, cultura e territórios” do número 35, referente ao segundo semestre de 2015, da Revista Dimensões que, com muita satisfação, apresentamos aos leitores.

A resposta obtida à convocatória para este dossiê foi muito além de nossas expectativas. Recebemos mais de trinta artigos, enviados por colegas de universidades de todo Brasil, além de latino-americanas e europeias. Esta ampla resposta denota também a internacionalização da Revista Dimensões, publicação do Programa de Pós-graduação em História da UFES, que se consolida como um espaço de prestígio entre as publicações acadêmicas latino-americanas. Para produzir o dossiê contamos com a colaboração de aproximadamente setenta e cinco pareceristas, brasileiros e hispano-americanos, que generosamente nos apoiaram na avaliação e seleção final do material para publicação. Leia Mais

Ciências, natureza e território / Revista Brasileira de História da Ciência / 2012

O marco zero deste dossiê foi o 12° Seminário Nacional de História da Ciência, organizado pela Sociedade Brasileira de História da Ciência (SBHC) em novembro de 2010. O evento, que ocorreu paralelamente ao 7º Congresso Latino-Americano de História da Ciência e da Tecnologia, foi realizado em Salvador, na Universidade Federal da Bahia. Nessa ocasião, nós, responsáveis por este dossiê, organizamos o simpósio Ciências, Natureza e Território. O encontro possibilitou amplo debate acadêmico entre pesquisadores de diferentes instituições do Brasil. Seus resultados nos pareceram tão satisfatórios, sobretudo em relação à diversificação regional da sua composição e à qualidade dos trabalhos apresentados, que, então, surgiu a ideia da organização de um número de periódico científico dedicado à temática.

A Revista Brasileira de História da Ciência pareceu-nos, desde sempre, o espaço mais adequado para abrigar tal iniciativa, uma vez que foi na SBHC que esse grupo nasceu. Consideramos também que a Revista, por ser um importante espaço de intercâmbio profissional na área, contribuirá decerto para o fortalecimento desse campo de atuação e pesquisa no Brasil. Nós já nos reunimos novamente, em julho de 2011, no âmbito do XXVI Simpósio Nacional de História, organizado pela ANPUH, e voltaremos a nos encontrar em setembro de 2012, na USP, para o 13º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia. Este número expressa, assim, a constituição e a consolidação de rede de pesquisadores dedicados a temas afins, alguns ainda em formação nas suas pós-graduações e cuja produção esperamos divulgar ao público brasileiro agora.

A edição resulta de pesquisas originais dedicadas a compreender a importância das atividades e saberes científicos para as políticas públicas de inventário da natureza e ocupação de territórios nacionais nos séculos XIX e XX. Trata-se, pois, da análise de conteúdos relevantes da própria história da constituição de alguns Estados Nacionais da América Latina, como Argentina e Colômbia, mas, sobretudo, do Brasil. O leitor verá, por meio de diferentes enfoques e variados conjuntos documentais, que esses objetos de estudo têm sido contemplados na Geografia, na Literatura, História das Ciências e História Ambiental. Esses campos possuem poucas oportunidades de diálogo, e este volume, ao reunir trabalhos dessas diferentes áreas, pretende estimular o debate interdisciplinar sobre tais temas, em suas diferentes inter-relações e abordagens.

O dossiê está composto de doze artigos orientados por três eixos temáticos: 1) viagens e expedições científicas em articulação com a atuação profissional e a produção intelectual de agentes do conhecimento da natureza e da ocupação do território, como militares, engenheiros, literatos e cientistas; 2) as relações entre Ciência e projetos estatais de civilização, modernização e construção de infraestrutura de transportes e comunicações e 3) a história da constituição de saberes e problemáticas científicas referentes ao estudo dos recursos naturais e humanos de territórios nacionais, como Cartografia e Geografia; Medicina, doenças e populações; Botânica, Agronomia e História Natural; ambiente, meio físico e práticas de exploração e conservação da natureza.

María Silvia Di Liscia e Federico Martocci, em De la abundancia a la desesperación: viajes y representaciones sobre los recursos naturales en el interior argentino (La Pampa, ca. 1880-1940), examinam, na produção de naturalistas, viajantes e cientistas, a história da constituição do imaginário relativo à preservação da natureza do Pampa argentino, sobretudo no que se refere à problematização dos seus usos para a produção agrícola.

Lucía Duque Muñoz, em Vasos comunicantes entre cartografía e historia en el Mapa de la república de la Nueva Granada (1847) de Joaquín Acosta, explora as relações entre Geografia Física, História e Cartografia na construção de um dos primeiros mapas do período nacional colombiano. A história da elaboração da carta nacional também é analisada no artigo Circunstâncias da Cartografia no Brasil oitocentista e a necessidade de uma Carta Geral do Império, de Bruno Capilé e Moema de Rezende Vergara.

Atividades de conhecimento do mundo natural para o povoamento do território brasileiro no século XIX é o tema do artigo de Fabíula Sevilha de Souza, intitulado Natureza, ocupação territorial e vias de comunicação de Goiás nos relatos de viagens do século XIX. Fabíula elegeu relatos de viajantes estrangeiros de passagem pelo Planalto Central brasileiro no oitocentos para a análise da sua visão de natureza como recurso a ser explorado em proveito da felicidade dos homens e sua civilização.

A articulação entre projetos civilizatórios e a história da ideia de natureza também é acessada em O Doutor Benignus: A origem do homem na concepção de natureza de Emílio Zaluar de Ricardo Waizbort. O autor, ao enfatizar as relações entre Ciência e Literatura no século XIX brasileiro, demonstra que, na obra literária de Zaluar, o darwinismo, como repertório intelectual, ocupou papel central no desenvolvimento do tema central do livro: a origem do homem no Brasil e a transformação da espécie humana na Terra.

Os processos de institucionalização da Ciência e o conhecimento do território foram fatores concomitantes e complementares na história recente do Brasil, e essa, exatamente, é uma das premissas a guiar os artigos de André Vasques Vital, Visões do Alto Madeira: Comissão Rondon, malária e política em Santo Antônio do Madeira (1910-1915), e de Patrícia Marinho Aranha, Levantamentos territoriais e construção de saberes geográficos na Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas (1907-1915). Os autores abordam as contribuições da Medicina e da Geografia para iniciativas estatais de exploração territorial e obras de construção de infraestrutura de comunicações no país, no caso vertente para a Comissão Rondon. Nas interpretações de André e Patrícia também podemos verificar a riqueza dos usos de relatórios de comissões exploradoras, cadernetas de campo, imprensa e diários de viajantes como fontes para historiadores da ciência.

O artigo Um jardim para a ciência: o Jardim Botânico do Rio de Janeiro (1915-1931), de Ingrid Fonseca Casazza, examina a produção científica de botânicos nas primeiras décadas da República brasileira. Vanessa Pereira da Silva e Mello, em A Sociedade Nacional de Agricultura em revista: divulgação científica e uso racional da natureza em A lavoura (1897-1926), discute a propaganda da conservação dos recursos naturais brasileiros junto a pequenos, médios e grandes lavradores do país. Ambas as autoras enfatizam o protagonismo do Estado brasileiro na promoção e difusão de atividades científicas, com destaque para a atuação do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio (MAIC), e refletem sobre o conhecimento da natureza nacional e o utilitarismo dos saberes científicos na sua associação com os projetos modernizantes da República para o país.

A história da modernização brasileira na sua relação com a pauta dos usos da natureza como recurso econômico também é o tema dos artigos de Jó Klanovicz, Corrigir os erros da natureza: húbris, conhecimento agronômico e produção de maçãs no sul do Brasil, e de Claiton Marcio da Silva, De um Dust Bowl paulista à busca de fertilidade no Cerrado: a trajetória do IRI Research Institute (IRI) e as pesquisas em ciências do solo no Brasil (1951-1963). Transformações de paisagens agrícolas e mudanças ambientais em grandes áreas de diferentes regiões brasileiras, a partir de meados do século XX e em função dos usos da ciência para a remodelação de processos tidos como “naturais”, são igualmente abordadas nesses artigos.

Em Os norte-americanos na missão à Amazônia, em 1923, de Luciene Pereira Carris Cardoso e Alda Heizer, as relações entre Ciência, política e ambiente são examinadas para a compreensão de importante capítulo da história da economia da borracha na região amazônica. Articulada a temas candentes da atualidade, como o da preservação ambiental, a análise de Cardoso e Heizer contribui para a reflexão da importância de comissões de exploração e expedições de naturalistas para a realização de estudos de Ecologia das regiões percorridas.

O número traz ainda notícia sobre Razón Cartográfica, site para trocas profissionais e intercâmbio acadêmico entre interessados e especialistas na História da Cartografia e da Geografia na América Latina. A rede é apresentada no dossiê por Sebastián Díaz Ángel e David Ramírez Palácios.

Gostaríamos, por fim, de agradecer às editoras da RBHC, Heloisa Gesteira e Silvia Figueirôa, por terem acolhido a nossa iniciativa, e também aos autores, pela seriedade com que contribuíram para a elaboração deste volume. Esperamos que este número, ao contemplar diferentes períodos e regiões, personagens e saberes científicos, conjuntos documentais e abordagens, estimule a interpretação interdisciplinar sobre – região –, ‘natureza’, – paisagem – espaço – e – território –. Que ele seja também apenas a primeira expressão do nosso entusiasmo com a troca intelectual, e motivo para novas parcerias acadêmicas, na forma de estudos comparativos, muitos outros artigos e eventos em comum.

Dominichi Miranda de Sá – Casa de Oswaldo Cruz. Fiocruz

Moema de Rezende Vergara – Museu de Astronomia e Ciências Afins. MAST

Organizadoras


SÁ, Dominichi Miranda de; VERGARA, Moema de Rezende. Apresentação. Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, jan. / jun., 2012. Acessar publicação original [DR]

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Representaciones en torno al territorio y las relaciones sociales en las fronteras iberoamericanas, siglos XVIII y XIX / Antíteses / 2011

Nadie ignora que el Sur empieza del otro lado de

Rivadavia. Dahlmann solía repetir que ello no es

una convención y que quien atraviesa esa calle

entra en un mundo más antiguo y más firme

(BORGES, 1999, p. 209).

[…] desde la perspectiva de los indígenas no

sometidos, los españoles ocupaban las fronteras

de las tierras que ellos controlaban, y el territorio

circundante (WEBER, 1998, p. 147).

Aunque la vida social está inscripta en el espacio y en el tiempo, son pocos aún los historiadores que ponen el énfasis de sus análisis en la dimensión espacial de los fenómenos sociales. Es más común y generalizado presentar al territorio como una de las dimensiones en la que ocurren los acontecimientos y, como corolario, la representación gráfica en mapas y cartografías cumple, en la mayor parte de los casos, la función de señalar o ubicar. Sin embargo, el territorio es percibido y valorado de manera diversa por quienes lo ocupan, lo habitan y le confieren sentido. Así, los recortes espaciales se establecen a partir de construcciones sociales y culturales, y de percepciones simbólicas, en estrecha relación con los mecanismos de poder que operan en una sociedad.

Los espacios definidos como fronteras en el contexto iberoamericano colonial y decimonónico, fueron objeto de percepciones y construcciones conceptuales que intentaban dar cuenta de realidades territoriales y sociales diferentes -y en gran medida contrapuestas- a las conocidas hasta ese momento, tanto por sus características físicas y geográficas, como por el modo de vida de las sociedades que las habitaban. Las fronteras, que se fueron conformando al calor de los procesos de conquista y colonización del continente, eran para los hombres que vinieron del otro lado de mar, zonas poco conocidas, escasamente dominadas y, en muchos casos inhabitables, que estuvieron estrechamente relacionadas con la idea de desierto, entendido en la época como un espacio vacío de población y ausente de civilización occidental, habitado por el “otro” social y cultural. Así, el avance sobre esos desiertos permitió ampliar los límites del dominio colonial, y continuó durante el proceso de construcción de los estados nacionales a través del corrimiento de las denominadas fronteras interiores sobre los territorios ocupados por las sociedades indígenas que aún resistían los embates civilizatorios y defendían sus recursos (BANDIERI; ORTELLI, 2007, p. 277-281).

Estos procesos, representados en mapas y cartografías oficiales -en su carácter de elementos en los que se manifiestan el conocimiento y la representación que una sociedad se hace del espacio (BERNABÉU ALBERT; GARCÍA REDONDO, 2011, p. 142)- fueron dando cuenta de las diversas lecturas del paisaje, de la organización del espacio y de las territorialidades, entendidas como construcciones históricas y culturales. Así, en gran parte de la cartografía de los territorios iberoamericanos en la época colonial y el siglo XIX, aparecen extensas zonas en blanco, como si estuvieran vacías, y en las cuales el proceso de poblamiento emanado desde los centros de poder se detiene y los circuitos de comercio e intercambio se interrumpen. En la América austral existen varios ejemplos paradigmáticos.

El Chaco, caracterizado en algunas crónicas coloniales como un “desierto verde”, aparece representado con frecuencia como una gran mancha, ubicada en el corazón del territorio sudamericano, rodeado de misiones, haciendas y presidios, que parecen no adentrarse más allá de unos pocos kilómetros, en una zona plagada de peligrosos indios errantes. Sin embargo, lejos de ser un espacio vacío de población y yermo de actividades económicas, residían en él varios grupos nativos que mantenían intensas y estrechas relaciones con los hispanocriollos, tanto por tierra como a través de los ríos que lo surcaban. Al mismo tiempo, albergaba a pobladores que huían del mundo colonial escapando de la justicia y de las condiciones de vida de las haciendas y los presidios o, más tarde, a quienes desertaron durante las guerras de independencia y el periodo de conformación del estado-nación (SANTAMARÍA, 1998).

En el caso de la frontera rioplatense, más allá del límite que señalaba el río Salado, al sur de la línea dibujada por las guardias de frontera que se extendían a lo largo de las pampas, todo parece definirse por el vacío: en la denominada tierra adentro las líneas que representan los circuitos de comercio e intercambio se interrumpen de manera abrupta en la cartografía y los asentamientos humanos desaparecen. Por su parte, los sertões en la América portuguesa también constituyeron espacios que fueron considerados vacíos de civilización, ajenos al resto y fuera del control de las autoridades imperiales y, más tarde, nacionales (CAPELARI NAXARA, 2011, p. 227-244). Sin embargo, cuando invertimos los términos de la ecuación, surge como nos recuerda David Weber que “Desde la perspectiva hispánica, los grupos indígenas ocupaban las fronteras del Imperio español en el Nuevo mundo y sus tierras adyacentes; desde la perspectiva de los indígenas no sometidos, los españoles ocupaban las fronteras de las tierras que ellos controlaban, y el territorio circundante” (WEBER, 1998, p. 147).

Las fronteras fueron entendidas durante mucho tiempo como límites o líneas de separación que marcaban la transición entre mundos con diferencias irreconciliables, y definidas como “fronteras de guerra” que limitaban con el territorio ocupado por “indios de guerra”. A partir de estas concepciones, en la historiografía de la frontera latinoamericana predominó por muchos años una perspectiva que enfatizó el conflicto, y dejó de lado el análisis de otras manifestaciones sociales, o las subordinó a la dinámica de las guerras por territorios. En efecto, la historiografía iberoamericana ubicó en tales espacios a las sociedades indígenas no reducidas y las entendió como separadas del mundo colonial e independiente. Sin embargo, cuando se profundiza el estudio de procesos y casos concretos, en diferentes regiones y temporalidades de las Américas hispana y portuguesa, surge una dinámica diferente, en la que los sectores socioétnicos lejos de estar aislados y separados, establecían profusas relaciones de índole diversa.

En ese marco, la frontera se desdibuja como límite, raya o término, y adquiere las características de espacio permeable y dinámico, atravesado por relaciones sociales que deben ser analizadas en términos cada vez más complejos y tratar de superar los enfoques anclados en las perspectivas étnicas, y aludir a relaciones sociales y políticas, entendiendo que lo étnico aparece como una variable sin duda relevante, pero no determinante. Al mismo tiempo, las identidades étnicas deben entenderse como construcciones históricas que se van definiendo a través de complejos procesos de apropiaciones y resignificaciones culturales, sociales y políticas, signadas por las experiencias de grupos e individuos en el tiempo. Así, las categorías y clasificaciones étnicas vienen siendo problematizadas por muchos estudios de caso que, enfocando situaciones específicas, revelan la fluidez y la complejidad de las interacciones entre diferentes grupos (RADDING, 2008; BOCCARA, 1998; GIUDICELLI, 2009, p. 27-66; FRÜHAUF GARCÍA, 2009, WILDE, 2009; KOK, 2004; ver los artículos reunidos en BOCCARA; ORTELLI, 2006).

Al mismo tiempo, la redefinición de la escala de análisis de los estudios ha permitido enfocar y visualizar realidades más concretas y específicas, sin perder de vista, por supuesto, los contextos y los procesos generales. Esto se relaciona tanto con el despliegue de nuevos enfoques y herramientas teórico-metodológicas, como con el análisis de diversas fuentes documentales, y ambas cuestiones aparecen con claridad en el caso de los espacios fronterizos iberoamericanos. Por mucho tiempo los historiadores reconstruyeron la historia de las fronteras desde la mirada metropolitana, con documentos emanados de archivos que reflejaban el punto de vista de los centros de poder. Esta reconstrucción se ha venido enriqueciendo a partir de trabajos que plantean una aproximación regional y local, que integran otro tipo de documentación y que está transformando, en varios aspectos, nuestra comprensión de los procesos del pasado y del papel que las sociedades de frontera jugaron en ellos.

La profundización de las investigaciones sobre estas áreas plantea la necesidad de revisar el lugar subordinado y periférico que se ha otorgado, en general, a las fronteras en los procesos del pasado (CRAMAUSSEL, 2006; JONES, 1998). En tal sentido, es necesario repensar los recortes espaciales, no en función del paradigma central -y teleológico- que impone la idea del proceso de establecimiento de los límites del estado nacional, sino a partir de la reconstrucción de las dinámicas espaciales coloniales y decimonónicas. De hecho, el establecimiento de los límites jurisdiccionales de los actuales estados escindió espacios que durante el periodo colonial estuvieron articulados, pero que en la época independiente pasaron a formar parte de entidades diferentes. A la vez, los transformó y reorientó, en función de las necesidades de los nuevos tiempos, que desembocaron más tarde en el proceso de construcción del estado nacional, como así también del mercado interno y de la nueva constelación de relaciones en el ámbito internacional.

A partir de estas premisas, el dossier propone incentivar el diálogo entre estudiosos de las diversas fronteras iberoamericanas para indagar acerca de las imágenes y representaciones que se han construido en torno a estos territorios y a las relaciones sociales que se desarrollaron en ellos durante los siglos XVIII y XIX. Sólo resta, entonces, agradecer a las y los colegas que se han hecho eco de esta convocatoria, y la han enriquecido a partir de los análisis, reflexiones y discusiones de sus estudios de caso.

Por último, este dossier está dedicado a la memoria del estimado colega, Dr. Pedro Navarro Floria, quien falleció el día 5 de diciembre de 2010, poco tiempo después de haber enviado su colaboración.

Referencias

BANDIERI, Susana y Sara ORTELLI. Fronteras y sociedades indígenas en el siglo XIX. En MANDRINI, Raúl, ESCOBAR OHMSTEDE, Antonio; ORTELLI, Sara (Ed.). Sociedades en movimiento: los pueblos indígenas de América Latina en el siglo XIX (Anuario del IEHS, Suplemento 1). Tandil: IEHS-UNCPBA, 2007. p. 277-281.

BERNABÉU ALBERT, Salvador; GARCÍA REDONDO, José María. Dorsal de espejismos: el inestable desierto californiano en el imaginario jesuita. En: TREJO BARAJAS, Dení (Coord.). Los desiertos en la historia de América: una mirada multidisciplinaria. México: Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo, Universidad de Coahuila, 2011. p. 137-168.

BOCCARA, Guillaume. Guerre et Ethogenèse Mapuche dans le Chili Colonial. L’invention de Soi. Paris: L’Harmattan, 1998.

BORGES, Jorge Luis. El Sur. En: ______. Ficciones. Madrid: Alianza Editorial, 1999.

CAPELARI NAXARA, Márcia Regina. Desiertos de civilización: resignificando el Brasil. En: TREJO BARAJAS, Dení (Coord.). Los desiertos en la historia de América: una mirada multidisciplinaria. México: Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo, Universidad de Coahuila, 2011. p. 227-244.

CRAMAUSSEL, Chantal. Poblar la frontera: la provincia de Santa Bárbara en Nueva Vizcaya durante los siglos XVI y XVII. Zamora: El Colegio de Michoacán, 2006.

FRÜHAUF GARCÍA, Elisa. As diversas formas de ser índio: políticas indígenas e políticas indigenistas no extremo sul da América portuguesa. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2009.

GIUDICELLI, Christophe. ¿’Naciones’ de enemigos?. la identificación de los indios rebeldes en la Nueva Vizcaya (siglo XVII). En: BERNABÉU ALBERT, Salvador (Coord.). El Gran Norte Mexicano: indios, misioneros y pobladores entre el mito y la Historia. Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 2009. p. 27-66. Colección Universos Americanos, v. 3.

JONES, Kristine. Comparative raiding economies. En: GUY, Donna; SHERIDAN, Thomas E. (Ed.). Contested Ground: comparative frontiers on the northern and southern edges of the Spanish empire. Tucson: The University of Arizona Press, 1998. p. 97-114.

KOK, Glória. O Sertão Itinerante Expedições da Capitania de São Paulo no Século XVIII, São Paulo, Hucitec / FAPESP, 2004.

ORTELLI, Sara. ¿Apaches hostiles, apostatas rebeldes o súbditos infidentes? estado Borbónico y clasificaciones etnopolíticas en la Nueva Vizcaya de la segunda mitad del siglo XVIII. Anuario del IEHS, Tandil, v. 21, p. 79-94, 2007.

RADDING, Cynthia. Paisajes de poder e identidad: fronteras imperiales en el Desierto de Sonora y Bosques de La Amazonia. México: CIESAS, El Colegio de Sonora, Universidad Autónoma Metropolitana, 2008.

SANTAMARÍA, Daniel. Apóstatas y forajidos. Los sectores sociales no controlados en el Chaco. Siglo XVIII. En: TERUEL, Ana; JEREZ, Omar (Comp.). Pasado y presente de un mundo postergado: estudios de antropología, historia y arqueología del Chaco y Pedemonte Surandino. San Salvador: Universidad Nacional de Jujuy, 1998. p. 15-34.

WEBER, David. Borbones y Bárbaros. Centro y periferia en la reformulación de la política de España hacia los indígenas no sometidos. Anuario del IEHS, número 13, Tandil, 1998.

WILDE, Guillermo. Religión y poder en las misiones de Guaraníes. Buenos Aires: 2009.

Sara Ortelli – Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas / Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires.

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Terra, Território e Identidades | Fronteiras – Revista de História I 2009

Anunciado no número anterior de “Fronteiras: Revista de História” como Dossiê sobre História Indígena, apresentamos aqui o Dossiê “Terra, Território e Identidades”, fazendo com isso jus às contribuições recebidas de pesquisadores e pesquisadoras do âmbito da História e da Antropologia do Brasil e do exterior. Como organizadoras desta publicação, sentimo-nos honradas em poder publicar trabalhos de qualidade que concretizam a trajetória de profissionais nas áreas da História Indígena, Comunidades Quilombolas, Movimento Sociais e Campesinato.

Da excelente Dissertação de Mestrado do historiador e indigenista Ivori Garlet, falecido precocemente em fevereiro de 2004, recebemos através da antropóloga e historiadora Valéria S. de Assis, o artigo “Desterritorialização e reterritorialização: a compreensão do território e da mobilidade Mbyá-Guarani através das fontes históricas”. A mobilidade “guarani”, sem especificação étnica, já foi estudada e avaliada por outros autores, como Bartomeu Melià (1988) e, para etnias específicas, como a apapokuva, por Kurt Unkel Nimuandaju ([1914] 1987). Ivori e Valéria o fazem para a etnia mbyá, trabalhando a partir de fontes primárias para a história mbyá, sem, no entanto, desconsiderar a historiografia disponível para situações análogas vividas por outros grupos tupi e guarani, assim como da etnografia dos grupos mbyá na década de noventa. Suas seguras indicações à situação dessas comunidades o atestam. Leia Mais