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Teoria da história e historiografia / Varia História / 2002
Este número da Varia Historia foi organizado pela linha de pesquisa da pós-graduação em história da UFMG, “Ciência e Cultura na História”. A proposta desta linha de pesquisa é fazer teoria e história da ciência, e, para fazê-lo de forma própria e densa, ela procura estar atenta às questões e discussões de teoria da história, metodologia da história e historiografia. A “história da história”, que reúne estes três aspectos, o teórico, o metodológico e o historiográfico, é o instrumento primordial de todo historiador. É a “história da história” que reconstrói e problematiza a experiência já consolidada e perscruta o horizonte das possíveis investigações. De seus estudos dependem a profundidade e a força inovadora das pesquisas históricas do presente. Este número apresenta um dossiê nesta área da “história da história”, nos campos da teoria da história e da historiografia, que oferece três interessantes artigos sobre as possibilidades atuais e os limites da ciência histórica.
O artigo “Historiografia Contemporânea – Um Ensaio de Tipologia Comparativa”, de Estevão de Rezende Martins (UNB), sustenta que a historiografia constitui fator decisivo para a cultura histórica. Seu sentido é o de oferecer o “meio ambiente” no qual o agente racional humano elabora identidade temporal própria, no contexto social em que opera sua práxis autodeterminante. Combinando o sentido do tempo e do passado nas formas tradicional, exemplar, crítica e genética da historiografia, de acordo com o pensamento de Jorn Rüsen, o autor esboça um ensaio de tipologia da historiografia.
O artigo “Em Busca de um Conceito de Historiografia – Elementos para uma Discussão”, de Jurandir Malerba, atualmente, professor visitante no Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford, parte de algumas definições verificáveis na recente crítica brasileira, buscando contribuir para a construção de um conceito operacional de historiografia; com base na antiga caracterização da história-realidade-passada e história-conhecimento-presente, procura sugerir as potencialidades da historiografia como objeto do conhecimento das sociedades humanas.
O artigo “A Especificidade Lógica da História “, de José Carlos Reis (UFMG), discute os impasses e aporias do conhecimento histórico e considera os caminhos do “modelo nomológico” e do “modelo compreensivo” para a possível superação daqueles dilemas epistemológicos.
Fazem parte ainda do presente volume quatro artigos. Em “A construção do Brasil: projetos de integração da América portuguesa”, Cláudia Maria das Graças Chaves analisa o melhoramento dos caminhos e estradas e a abertura de canais navegáveis em Minas Gerais, no contexto das reformas ilustradas empreendidas após a vinda da família real para o Brasil. A partir do estudo do processo judicial em que a ex-senhora do escravo mina, Francisco, buscava revogar judicialmente a alforria por ela concedida anteriormente, Marcus J. de Carvalho, em “De cativo a famosos artilheiro da Confederação do Equador: o caso do africano Francisco, 1824- 1828″, analisa as vicissitudes da escravidão doméstica e as estratégias empregadas pelos escravos no Recife para construírem suas próprias noções sobre a liberdade. Por fim, no artigo ” Identidade e Arquitetura na América Latina: o transnacional e o transcultural como estratégias do Barroco e do século XXI”, Carlos Antônio Leite Brandão estuda a conquista do território brasileiro pelos portugueses e de que maneira a arquitetura barroca foi elemento constituinte para a construção da sociedade latino-americana, evidenciando o caráter artificial desta mesma identidade. Em contraponto discute o caráter da arquitetura barroca moderna e pós-moderna – o transnacional e o transcultural- que a capacita a enfrentar os desafios da globalização no século XXI.
O artigo que encerra este número da Varia Historia é “Complementaridade e Reconciliação”, de Yoav Ben-Dov, membro do Instituto Cohn de História e Filosofia da Ciência e das Idéias, da Universidade de Tei-Aviv / Israel, autor do livro Convite à Física, publicado no Brasil pela Jorge Zahar Editor. O autor esboça, em linhas gerais, a idéia de complementaridade que foi proposta por Niels Bohr, primeiramente, como uma resposta para os problemas conceituais da mecânica quântica, mas depois estendido por ele a outros domínios, tanto dentro como fora da ciência. Nessas aplicações, a idéia de complementaridade permite a aceitação de diferentes conjuntos de crenças e princípios que contradizem um ao outro, mas que possui valor intrinsecamente em seu conjunto. Em particular, essa abordagem pode ajudar a solucionar o conflito entre a perspectiva científica e as aspirações humanas.
O presente número contou com o apoio financeiro da Fundep e da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, a quem agradecemos.
José Carlos Reis – Organizador
REIS, José Carlos. Apresentação. Varia História, Belo Horizonte, v.18, n.27, jul., 2002. Acessar publicação original [DR]