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Tempos sociais, tempos escolares / Revista Brasileira de História da Educação / 2004
Os textos aqui reunidos tratam de períodos históricos diferenciados (contemplando desde o século XVII ao século XX), contextos diversos (Brasil e México) e abordam temáticas diferentes (as excursões e ritos escolares, a organização curricular, a produção da idade escolar), trazendo em comum a centralidade da categoria tempo no estudo dos fenômenos educativos investigados. Busca-se, a partir de pesquisas empíricas diversas, demonstrar como a produção e ordenação de tempos escolares constituíram elemento central no processo de escolarização do social, articulado à modernidade.
A partir desse eixo, os autores analisam como a aquisição de uma determinada concepção do tempo, ordenada no interior da escola, foi fundamental para a introjeção de um conjunto de habitus, identificado com a modernidade. Modernidade essa que assumiu significados singulares, tendo em vista as especificidades de cada momento histórico, das instituições e atores sociais postos em cena.
Assim é que Lucía Moctezuma aborda, no diálogo com os estudos sobre as inovações pedagógicas introduzidas no cotidiano escolar do ensino elementar do final do século XIX e início do XX, um tema ainda pouco investigado: as excursões escolares. Essas buscam introduzir uma nova ordenação do tempo, na organização do cotidiano das salas de aula.
É a ordenação dos tempos escolares no interior dos espaços pedagógicos que constitui o tema desenvolvido por Anne Staples. Em seu artigo, a autora contempla os rituais institucionais, bem como a definição do calendário escolar no início do século XIX, no bojo da introdução do método simultâneo.
Já tendo como foco de estudo, não a escola elementar, mas a destinada à formação da juventude, ao final do século XVIII, Eduardo Flores Clai, em seu texto, contempla a análise da vida acadêmica, no interior do Real Seminário de Mineria. Tal instituição, voltada para difusão de conhecimentos científicos relacionados à exploração mineral, buscou irradiar uma representação coletiva do tempo, através da produção de um ritmo da vida escolar no cotidiano dos sujeitos ali inseridos.
Também centrando-se na formação da juventude, Antonio Padilla Arroyo aborda a relação entre tempos escolares e tempos sociais. Seu estudo contempla a análise dos processos disciplinares conformadores de regulações e controles, a serem introjetados pelo indivíduo, identificados com o projeto civilizador.
Por fim, o artigo de Maria Cristina Gouveia tem como foco, não o contexto mexicano, mas o estudo da produção histórica de uma idade escolar na província brasileira de Minas Gerais ao longo do século XIX. Idade compreendida como período de vida do indivíduo (a meninice), em que esse deveria obrigatoriamente estar inserido na escola elementar, para ali adquirir saberes para sua formação para a vida adulta.
Maria Cristina Gouveia
GOUVEIA, Maria Cristina. Apresentação. Revista Brasileira de História da Educação. Maringá, v.4, n. 2, jul. / dez., 2004. Acessar publicação original [DR]