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Histórias marginais, alteridades e críticas epistêmicas | Fronteiras – Revista de História I 2021
O olhar interdisciplinar e interseccional presente nesse dossiê é fundamental para refletir como a necropolítica e o neoliberalismo atuam sobre as “minorias” na história. Estas seguem tendo sua vida violentada simbólica e concretamente por regimes de dizibilidade – por um “tanatos-político”, ou seja, a produção da morte legitimada pela negligência do estado. Vivemos a perversidade da imbricação entre neoliberalismo, racismo e desigualdade operando sob nossas vidas.
Pensar e visibilizar historias marginalizadas pela episteme colonial é tornar visíveis as injustiças históricas que já vinham sendo vivenciadas nos corpos de mulheres e homens negros e indígenas – corpos racializados. O racismo foi e continua sendo o eixo principal do sistema patriarcal e dominante que administra o poder e mantém povos historicamente oprimidos em situações injustas. Os efeitos do racismo e do sexismo na atualidade são tão brutais que acabam por impulsionar reações capazes de recobrir todas as perdas já postas na relação de dominação. Leia Mais
A história das mulheres e suas fronteiras / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2018
As produções teóricas relativas à História das Mulheres e os estudos de gênero, encontra-se ligada ao movimento de renovação da própria história que, distanciando-se da história tradicional de cunho positivista que se impôs no século XIX, se voltava a preocupar por traçar um caminho interessado muito mais pelos coletivos que pelos individuais, pela evolução da sociedade que pelas instituições, pelos costumes que pelos acontecimentos, pelas coletividades excluídas do que pelos grandes personagens. As mulheres nunca estiveram ausentes da história, embora a historiografia oficial as tenha esquecido. No decorrer da história há uma relação entre gênero e poder que precisa ser estudada, revelada, reescrita, pois a história tradicional, moderna, colonial-patriarcal e universalizante criou o mito do sexo frágil, da impotência feminina e da sua dependência existencial do masculino.
A historiografia moderna, colonial e hetero-patriarcal transformou-se em relato que esqueceu as mulheres, como se, por serem destinadas à obscuridade da reprodução, inenarrável, elas estivessem fora do tempo, fora do acontecimento. Mas elas não estão sozinhas neste silêncio-profundo. Elas estão acompanhadas de todos aqueles que foram marginalizados pela história como os negros, os índios, os velhos, os homossexuais, as crianças, etc. Portanto, escrever a história das mulheres é libertar a história. Libertar a história das amarras das metanarrativas modernas, colonial e falocêntricas presentes não apenas nos livros didáticos, mas nas práticas docentes de que ministra o currículo de história em sala de aula.
Se historicamente o feminino é entendido como subalterno e analisado fora da história, porque sua presença não é registrada, libertar a história é falar de homens e mulheres numa relação igualitária. Falar de mulheres não é somente relatar os fatos em que esteve presente, mas reconhecer o processo histórico de exclusão de sujeitos. Desconstruir a história da história feminina para reconstruí-la em bases mais reais e igualitárias, é um dos desafios permanentes hoje da história.
Pensar e refletir sobre a História das Mulheres e os estudos de gênero nos leva a inventar-se, descobrir-se, tornar-se. Deslizar-se por entre as possibilidades que este devir-mulher na história pode proporcionar, através de linhas flexíveis, invisíveis e maleáveis, buscar a desterritorialização; como um cigano que não possui moradia fixa, sua ânsia é conhecer lugares, pessoas, possibilidades, um nômade em constante movimento, que se desdenha não mais nas estradas ou trilhas, mas busca para si os lugares não trilhados na invenção de novos caminhos, de novas existências.
Tal existência está ligada a um processo de pura luta com as palavras, com as fontes, com os discursos, com os corpos, com o poder. É nessa luta à luz do dia com a palavra e com o não dito que tentamos construir a / as história / as das mulheres. Essa luta é uma empreitada difícil e perigosa, principalmente no Brasil atual, onde falar sobre a as questões de gênero tornou-se uma prática marginal, mal-dita, mal-vista. Ao escrever sobre a vida de mulheres brasileiras, não se escreve com palavras e, sim, com fluxos, devires, intensidades, silêncios e re-existencias.
Pensar a História das mulheres nos instiga a uma atitude crítica, de suspeita em relação aos instrumentos linguísticos e conceituais que utilizamos em nosso trabalho como historiadores(as). A ideia é que, dessa forma, sejamos visitantes do passado com um olhar mais sereno, menos violento, porém, mais críticos e menos proclives a reproduzir os sistemas ideológicos que sustentaram – e ainda continuam sustentando – as desigualdades de gênero, que violentam e dizimam milhares de mulheres no Brasil afora.
Esse dossiê que temos em mãos revela que história colonial, hetero-patriarcal e universalista necessita urgentemente de um trabalho arqueológico / genealógico para podermos entender seu poder normativo e enunciativo, para assim desconstruí-lo. A história das mulheres através de seus fluxos, devires e intensidades é marcada pela potência do ser e do fazer. Pensar o impensado é o maior desafio de quem quer fazer a história das mulheres. Como nos diz Gilles Deleuze, (2005) “viajar para a ilha deserta e, com seus signos malditos da escrita, roubar a paz dos idiotas que vivem na terra”.
Abraçar a história das mulheres e os estudos de gênero é mostrar os ecos de uma história silenciosa e em particular as formas em que elas são objeto de discriminação por sua própria condição humana como mulher. Ao falarmos sobre a História das Mulheres levamos nosso pensamento para fora das margens costumeiras da linguagem historiográfica, fora do espaço epistêmico da história patriarcal colonial, produzindo assim uma escrita lateral, intersticial, ex-cêntrica, que provoca o surgimento de texto, con-texto e sujeitos novos.
É nesse pensar nômade — um pensar associado ao movimento fugidio, que escorrega, desvia e desliza – que esse número da revista História em Reflexão nos convida, à vulnerabilidade de largar o corpo e o pensamento, de deixar o pensamento alargar-se, transpondo inúmeras fronteiras, para que se possa pensar e criar de modo diferente em relação à forma como se pensa a história.
Boa leitura.
Losandro Antonio Tedeschi – Doutor UFGD – BRASIL
Angeles Castãno Madronal – Doutora U. Sevilla – Espanha ORG.
TEDESCHI, Losandro Antonio; MADROÑAL, Ángeles Castaño. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 12, n. 23, jan. / jun., 2018. Acessar publicação original [DR]
História das mulheres e relações de gênero / Fronteiras – Revista de História / 2011
As mulheres nunca estiveram ausentes da história, embora a historiografia oficial as tenha esquecido. Pesquisadoras(es) tem se debruçado sobre estudos da história das mulheres e suas lutas em todos os processos civilizatórios. Além disso, as mulheres têm garantido o seu lugar de cidadã na vida, no mundo e na própria história. No decorrer da história há uma relação entre gênero e poder que precisa ser estudada, revelada, reescrita, pois a história tradicional antropocêntrica e universalizante criou o mito do sexo frágil, da impotência feminina e da sua dependência existencial do masculino.
As produções teóricas relativas à História das Mulheres encontram-se ligada ao movimento de renovação da própria história que, distanciando-se da história tradicional de cunho positivista que se impôs no século XIX, se voltava a preocupar por traçar um caminho interessado muito mais pelos coletivos que pelos individuais, pela evolução da sociedade que pelas instituições, pelos costumes que pelos acontecimentos, pelas coletividades excluídas do que pelos grandes personagens1. Leia Mais