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O livro didático de história: políticas educacionais, pesquisas e ensino / Margarida Maria D. Oliveira e Maria Inês S. Stamatto
“cada livro é escolha e recortes, produções possíveis, inventários que ganham visibilidade”.
Em 1998, um grupo de pesquisadores brasileiros e estrangeiros se reuniu na Universidade de São Paulo para a realização do primeiro Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de História – ENPEH. Dando continuidade à iniciativa, a ANPUH/RN, junto ao Grupo de Trabalho Nacional de História e Educação, promoveu em 2007 a sexta edição do evento o qual deu origem à obra: “O livro didático de história: políticas educacionais, pesquisa e ensino”.2 Resultado da Conferência de Abertura e dos trabalhos produzidos para as Mesas Redondas do evento, o livro é iniciado pelo artigo da professora Margarida Maria Dias de Oliveira, uma de suas organizadoras. Oliveira aborda a atuação das políticas educacionais no ensino de história ao analisar as diretrizes ideológicas que norteiam a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Estas são intimamente ligadas aos princípios dos Annales e da História Cultural trazendo, muitas vezes, um ideário de mudança como sinônimo de melhora. Entretanto, a autora ressalta os possíveis perigos das “mudanças”, de modo que os Parâmetros Curriculares Nacionais por si só não garantem uma melhora no ensino e na elaboração dos livros didáticos, ocorrendo por vezes apenas a camuflagem destes para atingir a exigências de conteúdo e forma advindas, como nos mostra Dércio Gatti Júnior, de um processo avaliativo empreendido pelo PNLD – Programa Nacional do Livro Didático.
Outra organizadora do livro é Maria Inês Sucupira Stamatto, que busca demonstrar em seu trabalho quais efeitos o PNLD acarretou sobre o livro didático, especialmente na área de história. As novas teorias pedagógicas e curriculares do final do século XX optam por abordagens direcionadas para uma sociedade multicultural, que possibilitem o pensamento reflexivo e participativo do aluno. Entretanto, para que este modelo educacional tenha sucesso, é necessária a atuação consciente dos profissionais da educação. É nesse sentido que as reflexões levantadas por Itamar de Oliveira, Aldeni Santos, André Menezes e Elisângela Santos buscam investiga em Sergipe a concepção que os professores tem a respeito do Guia de Livros Didáticos. As críticas agudas ao material revelaram falta de conhecimento e de uso, chegando a confundi-lo, por vezes, com o catálogo de publicação das editoras. A denúncia a este despreparo também é ressaltada no trabalho de Isaíde Timbó, que considera este fato como uma conseqüência da formação curricular inadequada, de modo que para a autora o currículo é uma construção social e cultural que necessita ser questionado, interpretado e atualizado.
Outra coisa a ser questionada é o processo seletivo do PNLD, que assim como a escolha dos professores, não está isento de receber influências do marketing das editoras. Isso é significativo no sentido de se atentar para o jogo de interesses e negociações que está por trás da escolha de uma coleção didática em detrimento de outra. Pensando nisso, Luís Cerri e Ângela Ferreira demonstram que muitas vezes bastam alguns ajustes de forma, a utilização de novos termos e a inclusão de determinados elementos dito inovadores para que coleções tradicionais permaneçam na concorrência sob o mesmo patamar de outras que realmente trazem inovações em suas propostas.
Também avaliados nesse processo, mas não inclusos nas coleções, estão os livros regionais de história. Estas obras vêm sendo objeto de pesquisa dos interessados em compreender sua relação com a identidade local. É o caso da professora Marta Margarida Lima ao observar que apesar dos trabalhos acadêmicos estarem cada vez mais voltados às novas vertentes teóricas, ainda é notório o predomínio do caráter tradicionalista, pouco dado a trabalhar a multiplicidade dos sujeitos. Além disso, no que concerne à distribuição destas obras, Flávia Caimi nota a precariedade com que elas chegam às escolas e que, apesar de um crescimento, ainda é insuficiente a produção e os investimentos em história local. Mesmo com essas dificuldades, professores como Sônia Nikitiuk defendem o uso da história regional como eixo curricular, formador de consciência histórica e ponto de partida para estudos mais remotos no tempo e no espaço.
O livro didático configura-se, portanto, como resultado de recortes, disputas de interesses e de políticas educacionais elaboradas pelo Governo conforme o projeto de educação pensado para o país, e é ainda a principal ferramenta usada pelo professor em sala de aula. Apesar da frequência de obras com abordagens tradicionalistas, tem-se notado um grande interesse para que ocorra a atualização não só das coleções didáticas, como também das estratégias de ensino-aprendizagem, do currículo e consequentemente da própria formação dos professores.
Nesse sentido, o trabalho destes pesquisadores ao desenvolver esta obra torna-se significativo tanto para professores, na medida em que trás questionamento acerca da própria vivência em sala de aula, estimulando-os a repensar suas práticas educacionais; como também para estudos introdutórios de pesquisadores interessados na área da Educação e do Ensino de História no Brasil, por trazer reflexões acerca das diversas articulações e negociações que estão por trás da avaliação e do consumo de coleções didáticas em nosso país.
Referências
CAINELLI, Marlene Rosa; OLIVEIRA, Almir Félix Batista de; OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. (Org.). Ensino de História: múltiplos ensinos em múltiplos espaços. Natal, RN: EDFURN, 2008.
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de; STMATTO, Maria Inês Sucupira (Org.). O livro didático de história: políticas educacionais, pesquisas e ensino. Natal, RN: EDFURN, 2007.
Sitografia <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12391&Itemid= 668>. Acesso em 14 de junho de 2010 às 11h13min.
Ivanilson B. Oliveira – Graduanda em História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET). E-mail: mislene_srn@hotmail.com Orientador: Prof. Dr. Dilton Cândido Santos Maynard 2 OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de; STMATTO, Maria Inês Sucupira (Org.). O livro didático de história: políticas educacionais, pesquisas e ensino. Natal, RN: EDFURN, 2007. 208p.
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de; STAMATTO, Maria Inês Sucupira (Org.). O livro didático de história: políticas educacionais, pesquisas e ensino. Natal, RN: EDFURN, 2007. Resenha de: OLIVEIRA, Ivanilson. Entre Inovações e Continuidades: O Livro Didático e o PNLD. Cadernos do Tempo Presente, São Cristóvão, n. 4, jul. 2011. Consultar publicação original