Una guerra di nervi. Soldati e medici nel manicomio di Racconigi (1909-1919) | Fabio Milazzo

Il lavoro di Fabio Milazzo – docente e ricercatore per l’Istituto storico della Resistenza di Cuneo, oltre che collaboratore di diverse riviste storiche e autore di svariate pubblicazioni sul tema della devianza ma non solo1 –, si inserisce come un ulteriore e prezioso tassello nel mosaico delle storie che stanno emergendo dagli archivi degli ospedali psichiatrici, e che via via contribuiscono a illuminare di una luce sempre più vivida le diverse vicende della Grande guerra, un momento cruciale per la storia italiana, ma anche per quella, più specifica, della psichiatria. Leia Mais

Soldiers, Saints, and Shamans: Indigenous Communities and the Revolutionary State in Mexico’s Gran Nayar, 1910–1940 | Nathaniel Morris

Nathaniel Morris Imagem The University of Arizona Press
Nathaniel Morris | Imagem: The University of Arizona Press

The period 1910-40 was tumultuous in Mexican history. The armed phase of the Mexican Revolution (1910-20) was followed by fragmented attempts by Revolutionary politicians to assert Federal control and modernisation in the face of military rebellion, resistance to social reform, two major religious revolts known as the Cristiada, and ongoing, albeit often unremarked, agency from Mexico’s indigenous populations. This latter aspect is the focus of research in Nathaniel Morris’s excellent new history.  The author’s specific attention is on the Wixárika, Naayari, O’dam, and Mexicanero communities of the Gran Nayar region along with adjoining locations along the Sierra Madre Occidental highlands.

Nathaniel Morris’s work is a landmark study of ethnohistory and a highly original addition to our knowledge of Mexico’s revolutionary and counter-revolutionary era of 1910-1940. His focus is the Gran Nayar, a region centred on Nayarit, but also including parts of the states of Sinaloa, Jalisco, Zacatecas, and Durango, during the armed phase of the Mexican revolution and the Cristero wars. Soldiers, Saints and Shamans fills a void in the historiography. As Morris correctly points out, there has been very little historical analysis of indigenous agency in the Mexican Revolutionary period, and ‘the Gran Nayar remains entirely absent from most Mexicans’ mental map of the period’ (p. 11). Throughout the 19th century, any Indian initiative was written off as a ‘caste war’, and irreconcilable with White and mestizo nation-building.(1) 20th-century historians and anthropologists mostly assumed that Mexico’s indigenous populations were either passive recipients of Revolutionary nation-building schemes or defiant outsiders from the mestizo state. A landmark study of caudillos (political/military ‘strongmen’) in the Independence Wars represented Indians as ‘apolitical’.(2)) Indigenous agency was usually explained as a defence of ‘old ways’, and the amorphous collection of rituals, everyday representations, and beliefs lumped together as a static rather than dynamic ‘costumbre’ (customs). Condescending, and even racist, interpretations died hard, as Nathaniel Morris’s separate study of the 19th-century Manuel Lozada revolt in a similar region has shown.(3) The outsized role played by indigenous communities in religious revolts, including the Cristiada, was explained as being motivated by religious devotion and an ingrained scepticism towards the Mexican state.(4) More recent scholarship has shifted the dial somewhat, demonstrating the considerable degree to which indigenous peoples collaborated with White/mestizo state-building all the same, often by turning against their defiant (‘bronco’) kin.(5) But Soldiers, Saints and Shamans should be considered a breakthrough. Leia Mais

Os militares e a crise brasileira | João Roberto Martins

Joao Roberto Martins Filho Foto Gabriela Di BellaThe Intercept
João Roberto Martins Filho Foto: Gabriela Di Bella/The Intercept

Em 2020, João Roberto Martins Filho publicou a segunda edição de O palácio e a caserna: a dinâmica militar das crises políticas na Ditadura (1964-1969), adaptação da sua tese de Doutorado em Ciência Política, orientada por Décio Saes e defendida em 1989. Nesse livro, manteve a proposição de que as forças armadas brasileiras configuram um partido político fortalecido na emergência uma “ideologia militar fortemente calcada na repulsa à política civil”, cujas pautas correlatas e consequentes seriam a estabilidade social e a garantia da ordem. (p.55). A tese contrapunha-se à interpretação da experiência militar como um conflito entre dois ideais capitalistas: o internacionalismo da Escola Superior de Guerra (ESG) e o nacionalismo de grupos minoritários. Um ano depois da republicação, Martins Filho nos brinda com outro estudos sobre “militares” e “crise” dos anos recentes, reunindo dezessete autores vinculados a instituições de ensino e pesquisa nas áreas de Estudos de Defesa, Segurança Internacional, Relações Internacionais, Estudos Estratégicos, Ciência Política e História Contemporânea, Antropologia e, ainda, profissionais do jornalismo e da área militar.

Os militares e a crise brasileiraSe o organizador registra que a proposição de 1989 ficou no limbo até 2005, agora restam poucas dúvidas de que os militares representam funções e estratégias de um partido político para si mesmos e que são corresponsáveis pelos ataques à democracia liberal brasileira, perpetrados, por exemplo, desde 2013. O leitor, contudo, encontrará alguma dificuldade para chegar às provas dessa responsabilização. A coletânea é qualitativamente desequilibrada e variada em termos de gênero textual. Verá divergências compreensíveis e saudáveis, em termos de fontes e interpretações. A credibilidade das Forças Armadas (FA), na última década, por exemplo, é tida como em declínio e em ascensão; as políticas dos governos progressistas em termos de defesa são vistas positivamente e negativamente; e a profissionalização dos militares é fundamental e nula para a sua submissão ao controle político civil. Leia Mais

Barbudos, sujos e fatigados: soldados brasileiros na Segunda Guerra Mundial – MAXIMIANO (CTP)

MAXIMIANO, César Campiani. Barbudos, sujos e fatigados: soldados brasileiros na Segunda Guerra Mundial. São Paulo: Grua, 2010. Resenha de: OLIVEIRA, Marlíbia Raquel de. A saga da FEB em Barbudos, sujos e fatigados. Cadernos do Tempo Presente, São Cristóvão, n. 08 – 08 de julho 2012.

Desde a década de 1980 o historiador paulista César Campiani Maximiano vem realizando pesquisas sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Um interesse surgido da dificuldade em encontrar leituras sobre o tema naquela época, somado ao subjetivismo de ter em sua família um veterano dessa guerra. Maximiano tornou-se professor pela PUC/SP e é doutor em História pela USP. Atualmente leciona História Contemporânea e História das Relações Internacionais em universidades públicas e privadas. É também membro do Núcleo de Estudos de Política, História e Cultura (POLITHICULT) da PUC/SP. Entre as obras do autor podemos citar Onde Estão nossos Heróis?, de 1995, Irmãos de Armas, de 2005,The Brazilian Expeditionary Force, de 2011. Além dessas obras, escreveu vários artigos sobre história militar para periódicos brasileiros, americanos, britânicos e italianos. Nesta resenha, analisaremos a penúltima obra de Maximiano, Barbudos, sujos e fatigados: soldados brasileiros na Segunda Guerra Mundial, de 2010.

Barbudos, sujos e fatigados, obra cujo título explicita características físicas comuns em soldados atuantes no front de uma guerra, traz em suas páginas um vasto acervo de fontes históricas,adquiridas durante mais de uma década de estudo. São fotos, entrevistas, trechos de jornais, correspondências, documentos oficiais, livro de memórias, diários, entre outros. Esse material foi consultado em arquivos nacionais e internacionais, em instituições de memória da Segunda Guerra e/ou cedidos cordialmente por ex combatentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB), importantes colaboradores, hoje quase todos já mortos.

Dividido em sete capítulos, o livro possui ainda epílogo, apêndice, sendo demarcado por vários subtítulos e notas, mas com uma linguagem acessível. A obra retrata com detalhes a atuação dos expedicionários brasileiros enviados a Europa para lutar ao lado dos aliados durante a Segunda Guerra Mundial, de modo especial, a rotina experienciada pelos combatentes dos Regimentos de Infantaria, seguidos por unidades de reconhecimento e observadores avançados de artilharia. A escolha de soldados de linha de frente é justificada a partir do pressuposto que: “Os homens alocados nessas funções são os que geralmente vivenciaram as situações de maior risco e que foram mais profundamente marcados pelas percepções registradas na guerra.” (p.24).

No decorrer da narrativa são discutidas problemáticas pertinentes a respeito de relações estabelecidas pelos combatentes brasileiros, e situações comuns vividas no dia a dia do conflito, no pré e no pós-guerra. Inicialmente é descrita a formação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) em 1943, após a entrada do Brasil no conflito mundial, as dificuldades impostas ao então Ministro da Guerra Eurico Gaspar Dutra e o chefe do Estado-maior do Exército Pedro Aurélio de Góis Monteiro para organizar a tropa, assim como a precariedade do treinamento oferecido aqueles jovens, que quase unanimemente não possuíam qualquer experiência militar.

Em solo italiano os recrutas ficaram admirados frente ao poderio do equipamento militar americano e alemão. Receberam dos nossos “irmãos do norte” instruções sobre armadilhas, o combate e o manejo de armas. De todo modo, a inexperiência logo seria substituída pela forma prática de aprendizagem, o campo de batalha. Nele os febianos foram batizados com sangue. Precisaram criar antipatia, enfrentar o inimigo “tedesco”, como ficou conhecido entre brasileiros e italianos os alemães, o frio europeu, o perigo e a lama das trincheiras, buracos, os Foxholes, onde ficavam vigiando o terreno, as precárias condições de higiene, ferimentos, o cansaço de meses sem dormir direito, a monotonia da solidão e do barulho ininterrupto. Como se não bastasse, tiveram ainda que vencer o próprio inimigo psicológico, o sentimento de culpa, impotência, e o terrível medo da morte. Infelizmente, os expedicionários se viram obrigados a conviver com essa dura realidade e suas vítimas, muitas vezes desamparadas nos campos de cada nova e constante batalha.

Adiante, Maximiano descreve a relação de camaradagem entre militares brasileiros e americanos, traduzida principalmente em vestuário, cigarros e alimentação. Aponta paradoxos do governo Vargas, e defende a ideia que houve uma ajuda mútua entre as duas nações não só no campo político-econômico, mas principalmente no social. Ousa quando afirma a hipótese de que o movimento dos direitos civis dos negros americanos tomou como referência para sua luta o Exército brasileiro e sua não segregação racial, diferente daquela extremamente arraigada no Exército norte-americano. No caso do Brasil, segundo o autor, a participação do país no conflito mundial e o reconhecimento da sociedade dos motivos pelos quais se lutava representaram o fim do Estado Novo.

A obra oferece contribuições ao estudo de uma temática que por longos anos ficou restrita ao interesse de um pequeno grupo de pesquisadores, colecionadores, veteranos e seus familiares.

A participação dos brasileiros na Segunda Guerra Mundial parece não estar na memória coletiva do país, quando do contrário, muitas vezes é abordada de modo pejorativo, irônico. Com o objetivo de amenizar esta realidade, César Campiani se empenhou na desmistificação de estereótipos sobre a FEB amplamente difundidos no Brasil, tais como a falsa idéia de que seus membros “viajaram para a Europa a passeio”, eram todos “analfabetos, raquíticos e desdentados”, protagonizavam “lindos romances” com as italianas, e o “jeitinho brasileiro” foi o responsável pelo bom desempenho da tropa durante os combates. Através de documentação e relatos de expedicionários comprovou-se que tais afirmações não possuem fundamento, tabelas e relatórios descrevem o bom estado de saúde dos nossos rapazes, maioria provenientes das cidades do sul e sudeste do país. O expressivo número de correspondências e jornais confeccionados pelos regimentos, a título de ilustração,“…E a Cobra Fumou!”e o“Cruzeiro do Sul”, são provas de que sabiam ler. Quanto aos momentos de lazer, estes eram raríssimos, assim como o contato com o sexo oposto, além disso, as particularidades culturais brasileiros tão enaltecidas pelos ufanistas patriotas, por vezes prejudicaram o combatente que insistia em aplicar métodos de crença popular ao invés de seguir as recomendações da medicina, já bastante avançada no período. Um exemplo claro para tal conjuntura seria o caso do “pé de trincheira”, moléstia comum aos combatentes durante o inverno, e que atingiu severamente a tropa brasileira em comparação a outras (p.176-177).

Outros fatores apresentam-se como positivos, como o excelente trabalho realizado com as variadas fontes, convidando o leitor a todo instante a entender a história por meio de diferentes narradores. O cuidado com a utilização da História oral. As entrevistas apresentadas em fragmentos nos permitindo compreender como era para o soldado o universo da guerra, sem dúvida muito mais cruel e violento do que aquele criado pelo cinema holywoodiano.

Terminado o conflito, veio a difícil readaptação a sociedade civil, e a tentativa de superação dos traumas, os planos assistencialistas nem sempre concedidos pelo governo, a revolta, o silenciar do assunto. Uma situação constrangedora, injusta com milhares de brasileiros que deixaram seus lares em nome da pátria e após cumprir seu papel foram colocados de lado e não tiveram seus sacrifícios minimamente reconhecidos. Assim, reunindo registros diversos, oferecendo uma abordagem que procura atualizar o debate e estabelece uma proposta de linguagem visando um leitor não-especialista, a obra Barbudos, sujos e fatigados torna-se essencial e prazerosa para os estudiosos desse marcante conflito ocorrido o século XX.

Notas

* Esta resenha integra atividades desenvolvidas com o apoio Edital CNPq/CAPES Nº 07/2011.

Referência

MAXIMIANO, César Campiani. Barbudos, sujos e fatigados: soldados brasileiros na Segunda Guerra Mundial. São Paulo: Grua, 2010.

Marlíbia Raquel de Oliveira – Graduanda em História pela Universidade Federal de Sergipe Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET/História/UFS Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente – GET/CNPq/UFS E-mail: marlibia@getempo.org Orientador: Prof. Drº. Dilton C. Santos Maynard (DHI-UFS).

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