Para conhecer semântica – MENDES et. al. (A-RL)

MENDES Luciana Sanchez www gepex org e1594229169432 Semântica
Luciana Sanchez Mendes / www.gepex.org

Para conhecer Semântica GOMES e MENDES SemânticaGOMES, Angela.; MENDES, L.. Para conhecer semântica. São Paulo: Contexto, 2018. 208p. Resenha de: PESSOTO, Ana Lúcia. O incentivo à prática científica por meio da análise semântica do português brasileiro. Alfa – Revista de Linguística, São José Rio Preto, v.63 n.3 São Paulo, Sept./Dec. 2019. Angela Gomes, Luciana Sanges Mendes

Ainda que a inauguração da Semântica Formal no Brasil remonte à década de 1970 (BORGES NETO; MULLER; PIRES DE OLIVEIRA, 2012), foi a partir dos anos 2000 que a bibliografia de interesse, antes restrita à pós-graduação, passou a ganhar volumes de introdução voltados a estudantes de graduação em Letras, na intenção de preparar e conquistar futuros pesquisadores semanticistas (ILARI, 2001PIRES DE OLIVEIRA, 2001CANÇADO, 2012FERRAREZI JUNIOR; BASSO, 2013). Neste cenário, Para Conhecer Semântica (Editora Contexto, 2018), escrito pelas linguistas Ana Paula Quadros Gomes (UFRJ) e Luciana Sanchez Mendes (UFF), toma lugar na bibliografia introdutória sobre Semântica Formal produzida em Português. A partir de propostas internacionalmente reconhecidas que buscam formular explicações de aplicação universal, as autoras analisam fenômenos do Português Brasileiro (PB), com exemplos atuais e linguagem jovial. O livro não só traz conceitos teóricos fundamentais para a área, como também reflete em sua organização desenvolvimentos importantes na pesquisa em Semântica nos últimos anos, como o tratamento das estruturas nominais e das expressões modificadoras, para o que a pesquisa das próprias autoras vem contribuindo com destaque.

Assim como o pioneiro Semântica Formal: uma breve introdução, de Roberta Pires de Oliveira (2001), o atual Para conhecer Semântica é um manual introdutório de Semântica Formal. Não aborda outras perspectivas de Semântica, como é o caso do também referenciado Manual de Semântica: noções básicas e exercícios, de Márcia Cançado (2012), e de Semântica, Semânticas: uma introdução, de Ferrarezi Jr. e Basso (2013). O diferencial de Para conhecer Semântica está na sua organização e, principalmente, na atualidade dos dados discutidos e das abordagens escolhidas, o que aparece na seleção dos fenômenos enfocados e no modo como são tratados. Parte-se de análises clássicas, de conhecimento obrigatório para qualquer semanticista, e chega-se à apresentação dos desenvolvimentos recentes na área, em que o conhecimento é atualizado constantemente e reformulações se tornam necessárias para dar conta dos dados empíricos.

O objetivo das autoras com Para conhecer Semântica é apresentar a Semântica como uma ciência formal, que busca explicações gerais, econômicas e lógicas, a partir de hipóteses que podem ser confirmadas ou falseadas pelos dados. Desse modo, a Semântica visa a descrever uma parte fundamental do conhecimento linguístico humano, qual seja, “[…] como qualquer falante nativo produz sentenças com significado e compreende sentenças formadas na sua língua.” (p.9). As autoras, então, promovem o pensamento científico usando, como objeto de investigação, o significado linguístico.

O livro é organizado em 4 capítulos que contemplam, nas palavras das autoras, “as três maiores fatias de uma língua natural”, que são o sintagma nominal, o sintagma verbal e a modificação. Cada parte é introduzida com os objetivos do capítulo e encerrada com indicações de leituras complementares e exercícios, seguindo o formato da coleção Para conhecer, da Editora Contexto. O primeiro capítulo introduz o campo da Semântica, seu objeto, e delimita a discussão do livro ao significado no nível da sentença. O objetivo é determinar as condições de verdade da proposição expressa pela sentença a partir do significado de suas partes, definindo-se, assim, a perspectiva vericondicional e composicional da Semântica assumida no livro. São analisados, então, fenômenos clássicos na investigação do significado, de interesse para qualquer perspectiva Semântica, como a ambiguidade, a anomalia, a pressuposição e, sob o inteligente rótulo de nexos lógicos, as relações de acarretamentocontradiçãosinonímia e verdade contingente. Esses fenômenos evidenciam uma parte fundamental do nosso conhecimento semântico, que é a capacidade de relacionar significados e deduzir uma proposição a partir de outra. Por exemplo, como sabemos que, se a proposição ‘João viajou ontem’ é verdadeira, necessariamente ‘João viajou’ também será, mas o contrário não acontece? Dizemos, então, que ‘João viajou ontem’ acarreta que ‘João viajou’, mas ‘João viajou’ não acarreta que João tenha viajado ontem (pode ter sido em qualquer momento no passado). Ademais, como sabemos que, para que ‘Dom Casmurro parou de confiar na Capitu’ faça sentido, é preciso que ‘Dom Casmurro confiava na Capitu’ seja verdade? As autoras mostram como essas operações, que realizamos intuitivamente, relacionam-se e ampliam nosso conhecimento de mundo, e apresentam os mecanismos e estratégias sintático-semânticas que engatilham tais operações, introduzindo o ferramental matemático básico para formalizar a explicação.

As duas últimas seções da primeira parte tratam do Sentido e da Referência de uma expressão, da predicação e da composicionalidade, noções herdadas da Filosofia a partir dos trabalhos de Frege (1978) e que são pressupostos teóricos sobre os quais se assenta a Semântica Formal. Tais noções foram um salto na compreensão sobre como relacionamos termos da língua com as ‘coisas do mundo’, e como calculamos a verdade de uma proposição, em uma época em que o significado de um termo era entendido como o seu referente. Por exemplo, como falamos sobre o que não existe, como ‘Pégaso’ e ‘Papai Noel’? E qual seria o referente de abstratos, como ‘amor’, ‘cansaço’, ‘liberdade’? Frege propôs que a relação entre o termo e sua referência não era direta, mas mediada pelo sentido, o pensamento expresso pelo termo. Interpretamos termos que nomeiam objetos inexistentes ou abstratos pois conhecemos seu sentido, e saber mais de um sentido para a mesma referência é saber mais sobre o mundo.

Já o valor de verdade da proposição era ainda calculado de forma aristotélica, como composto de um particular e uma categoria. Assim, ‘Bob Dylan é mortal’ seria verdadeira se o particular ‘Bob Dylan’ pertencesse à categoria ‘mortal’. Para Frege, essa maneira de analisar o significado não contemplava sentenças transitivas como ‘Bob Dylan escreveu Blowing in the Wind’. O que seria o particular e o que seria a categoria nesta sentença mais complexa? A saída fregeana foi tratar verbos como predicados – expressões insaturadas, mas com sentido – e seus complementos como argumentos – expressões saturadas que geram a expressão saturada chamada sentença quando compostas com o predicado. Formalmente, os predicados passaram a ser vistos como relações entre conjuntos. O predicado ‘escrever’ é uma função que toma dois argumentos: ‘Bob Dylan’ do conjunto dos escritores, e ‘Blowing in the Wind’ do conjunto das coisas escritas, e retorna a sentença ‘Bob Dylan escreveu Blowing in the Wind’ a qual expressa uma proposição que podemos, então, avaliar como verdadeira ou falsa. A solução trazida com a predicação e a composicionalidade foi desafiada por sentenças como ‘Maria pensa que Bob Dylan vem ao Brasil’, em que saber a referência da proposição encaixada não contribui para calcular o valor de verdade da proposição toda. Se ‘Bob Dylan vem ao Brasil’ for falsa, não decorre que ‘Maria pensa que Bob Dylan vem ao Brasil’ seja também falsa, pois Maria pode pensar algo que não é verdade. Anos mais tarde, essa observação de Frege culminou no conceito de intensionalidade, em que o significado é ainda calculado composicionalmente, mas não conforme a sua extensão (ou referência), e sim conforme o seu sentido, sua intensão. Retoma-se essa questão no capítulo 3, dedicado à análise do sintagma verbal. Com essa introdução sobre conceitos-chave da Semântica Formal, Gomes e Mendes ilustram um fator fundamental do fazer científico, que é confrontar os dados empíricos com as previsões teóricas, para então reformular hipóteses e refinar a teoria de modo que explique cada vez melhor os dados.

O segundo capítulo trata do sintagma nominal (SN), tema de grande destaque nas pesquisas em Semântica nos últimos anos por contribuir, entre outras questões, para a compreensão das diferenças entre PB e Português Europeu (PE). O capítulo apresenta os tipos de SN, discutindo as diferenças entre nome nu e sintagma determinante, tanto na posição de sujeito como na posição de complemento; entre nomes massivos e nomes contáveis; e sintagma definido e indefinido. As autoras analisam tais fenômenos mostrando como dados de PB desafiam descrições tradicionais, e introduzem ferramentas formais de análise, como noções de atomicidade e cumulatividade, pluralidade e conjuntística. Nesse capítulo, as autoras analisam, por exemplo, dados como ‘Comprei revista domingo’ e ‘Comprei uma revista domingo’, e mostram que ambas são aceitas no PB, porém com intepretações diferentes, enquanto no PE apenas a segunda sentença é bem aceita, e a primeira é anômala. Analisam também diferença entre nominais que denotam objetos contáveis, como ‘maçã’, e objetos massivos, como ‘areia’, apontando a relevância de se descrever as características semânticas de cada tipo para então podermos explicar porquê podemos dizer com naturalidade ‘Duas maçãs caíram no chão’, mas não ‘Duas areias caíram no chão’. Relacionado a esses fenômenos são tratados, no mesmo capítulo, a semântica do plural, da definitude e dos quantificadores generalizados e sua interações de escopo entre si e outros operadores.

O sintagma verbal é tema do Capítulo 3, onde se discorre sobre seleção argumental e papéis temáticos; a expressão do tempo e do aspecto; e a expressão do modo e da modalidade. São tratadas a natureza impessoal de alguns verbos, a expressão da existencialidade, e a possibilidade de um dos argumentos selecionados pelo verbo ser uma expressão que denota, não um indivíduo ou um conjunto de indivíduos, mas um evento. Esses temas evidenciam a relação entre a natureza do verbo e como ele seleciona seus argumentos, o que é visto a partir da noção de papeis temáticos, hierarquia temática e alternância verbal. O ferramental teórico introduzido por Gomes e Mendes para o tratamento das questões de tempo e aspecto são as propostas de Reichenbach (2011) e Vendler (1957) e, para a modalidade, assume-se a proposta standard de Kratzer (2012), clássicos utilizados para a explicação de como somos capazes de falar sobre situações que não são o aqui e o agora. Entram nesse leque a expressão do passado, do futuro, de situações inferidas, possíveis, necessárias ou hipotéticas, que requerem considerar estados de coisas alternativos. Neste capítulo, entra em cena de modo mais proeminente uma noção cara à análise semântica no nível sentencial, e que figura como uma reformulação importante da teoria semântica para dar conta de dados empíricos que, a princípio, desafiaram a teoria. Esta noção é o contexto.

A visão relativa de tempo, de Reichenbach (2011), busca desfazer a trivialidade de sentenças como ‘João tomou banho’. Essa sentença só é adequada se estiver sendo avaliada em algum tempo relevante, que de alguma forma se relacione com o tempo atual, pois é trivialmente esperado que João tenha tomado banho alguma vez no passado. O fenômeno é conhecido também por ter sido tratado por Partee (2004) no seu famoso exemplo ‘I didn’t turn off the stove’ (‘Eu não desliguei o fogão’), onde a autora, sob a ótica de tempo dêitico e relativo, propõe analisar o tempo como análogo a um pronome, cujo valor é fornecido pelo contexto. Quanto ao aspecto, além do aspecto gramatical expresso pela morfologia, as autoras tratam do aspecto lexical mostrando como os verbos podem ser classificados semanticamente conforme as classes acionais, assim como são classificados sintaticamente conforme sua transitividade. Seguindo Vendler (1957) as autoras mostram como uma classificação semântica contribui não só para a categorização dos verbos, como também para explicar fenômenos como a distribuição de certos adjuntos e a validade de argumentos. Por exemplo, por que podemos dizer ‘João correu por duas horas’, mas não ‘*João correu em duas horas’? Ou então, por que ‘João estava correndo’ acarreta que ‘João correu’, mas ‘João estava atravessando a rua’ não acarreta ‘João atravessou a rua’?

Ao final do Capítulo 3 as autoras apresentam o modo como uma marca sentencial que indica a expressão da modalidade. Traça-se o limite entre modalidade como uma atitude do falante, e a acepção formal, em que a modalidade é estritamente a expressão da possibilidade e da necessidade. Em outras palavras, diferenciam a visão subjetiva da visão proposicional de modalidade. Seguindo a visão proposicional, as autoras analisam sentenças modais no PB conforme a perspectiva formal standard, de Kratzer (2012), em que modais são operadores sobre conjuntos de mundos possíveis, estes restritos por informações contextuais que determinam a interpretação do modal na sentença. Uma sentença como ‘João pode nadar’ expressa “vários tipos” de possibilidade: João pode nadar porque lhe foi permitido; João pode nadar porque tem habilidade; João pode nadar pois, baseado no que se sabe, ‘pode ser que ele nade’. Cada sentido é uma proposição diferente, pois expressa um pensamento diferente. O que define a interpretação adequada são proposições fornecidas pelo contexto, formalizadas como conjuntos de mundos possíveis. Nessas bases, na interpretação ‘João pode nadar porque lhe é permitido’, o auxiliar ‘pode’ é um quantificador existencial sobre o conjunto de mundos em que João atende as permissões que lhes são concedidas.

Na análise da modalidade, as autoras retomam a noção de intensionalidade e de nexos entre sentenças ao mostrarem que uma sentença como ‘João pode nadar’ especula sobre a possibilidade de o evento de João nadar ser confirmado, mas não o garante como fato, evidência de que uma análise composicional extencional não é suficiente. A proposição modal, sendo verdadeira, não garante a verdade da proposição encaixada, tanto que mesmo que João nunca nade, a proposição modal continua podendo ser verdadeira. Para que a análise composicional seja possível é preciso recorrer não à referência da proposição encaixada – sua extensão, seu valor de verdade – mas ao seu sentido – sua intensão, o pensamento que expressa –, formulada como um conjunto de mundos possíveis.

No quarto e último capítulo, o contexto também é ingrediente fundamental na análise da terceira grande fatia da língua natural, a modificação, onde são tratados adjetivos, advérbios e intensificadores. Destaca-se a abordagem dos adjetivos e os desafios que trazem a uma análise composicional unificadora, devido à variedade de leituras que recebem conforme a posição em que aparecem. Adjetivos que podem aparecer tanto em uma posição atributiva canônica como também antes do nome, variando sua leitura entre intersectiva e intensional, trazem esse desafio. Por exemplo, um adjetivo como ‘pobre’ tem uma leitura intersectiva em posição atributiva canônica– ‘O menino pobre fugiu’ – e em posição predicativa – ‘O menino é pobre’; mas uma leitura intensional em ‘O pobre menino fugiu’. Para este problema, as autoras mostram como a observação dos adjetivos de grau como ‘alto’ em ‘João é alto’, e da interação desse tipo de adjetivo com intensificadores, como ‘muito’, e com construção comparativas, traz à analise dos adjetivos a ferramenta da dependência contextual. Com o contexto, podemos explicar como podemos dizer que João, com 1,80m, é um homem alto para um jóquei, mas baixo para um jogador de basquete; ou, ainda, como podemos dizer que João é bom, profissionalmente falando, a partir da informação de que João é um bom médico. Mostra-se, assim, um tratamento unificado: essa classe de adjetivos é intersectiva quando levamos em conta a informação fornecida pelo contexto.

Gomes e Mendes encerram o último capítulo com os advérbios, tradicionalmente definidos como expressões que modificam um verbo, um adjetivo ou outro advérbio, mas que compõe uma categoria bastante diversificada. Há os que modificam eventos – como em ‘Maria cozinha bem’ –; que indicam modo, tempo e lugar – ‘João chegou em casa às 5h’ – ou modificam a proposição inteira – ‘Infelizmente, o produto se esgotou’. Alguns intensificam – ‘Maria cozinha muito bem’ – , outros quantificam – ‘Maria sempre/às vezes/nunca cozinha bem’ – e outros são modais – ‘Maria possivelmente cozinha’. Alguns operam nas condições de verdade, como em ‘Maria cozinha bem’ (ou seja, ela não cozinha mal). Já outros expressam atos de fala, como em ‘Sinceramente, pra mim é melhor estar sem Neymar no time’ (p.181), e não interferem nas condições de verdade. As autoras, portanto, tratam os advérbios e adjetivos conforme tipo de operação que realizam na sentença, mostrando que vão além de expressar qualidades. Admitem que é um fenômeno linguístico – se não o mais – difícil de formular teoricamente, devido à riqueza do léxico envolvido, à diversidade de operações que realizam e sua forte dependência do contexto.

A atualidade dos exemplos usados para análise é destaque de Para conhecer semântica, alguns deles extraídos de memes conhecidos nas redes sociais, o que revigora a análise até mesmo para quem já está familiarizado com os temas. Por exemplo, a famigerada sentença “O bêbado bateu na velha de bengala”, tradicionalmente usada como exemplo para a análise da ambiguidade estrutural, é substituída pela lúdica “Seu cachorro corre atrás das pessoas de bicicleta”, contextualizada em um diálogo ao que o dono do cachorro responde “Mentira, meu cachorro não tem bicicleta”. O arranjo traz o elemento cativante da surpresa ao evidenciar a interpretação inesperada, porém, possível, dada a estrutura da sentença. Toda a introdução às formalizações é apresentada com ilustrações, bem como conceitos chave aparecem em quadros de destaque.

Com uma escrita acessível e espirituosa, as autoras partem de análises tradicionais para as reformulações teóricas que se fizeram necessárias quando os estudiosos enfrentam dados que desafiaram a teoria. Um ingrediente importante dessas reformulações apontado pelas autoras, e que lança bases para a reinterpretação do campo, é a formalização da contribuição contextual na semântica. Superficialmente definida como a área que estuda o significado fora de contexto (a Pragmática se encarregaria de considerar o contexto na análise), a Semântica Formal apresenta sim ferramentas para formalizar a contribuição do contexto na interpretação, sem o qual, como bem mostrado ao longo do livro, sentenças corriqueiras como ‘João pode correr amanhã’ (tem permissão? Tem capacidade física? Ou pode ser que ele corra?), ou ‘João é alto’ (muito alto comparado a quem?), não poderiam ser plenamente interpretadas.

A intenção expressa pelas autoras nas considerações finais em conquistar o leitor iniciante para a análise semântica é cumprida ao longo do livro. Apresentam-se os fenômenos quase que informalmente e introduzem-se lentamente aspectos da formalização lógica, mas por meio de uma ferramenta poderosa, que é a análise de dados da língua acessível à intuição de qualquer falante. Sendo assim, o conteúdo do livro, na maneira como os fenômenos e análises dos dados são apresentados, tem a função de levar o leitor a perceber que ele tem em si um linguista em potencial, em princípio, por possuir a ferramenta essencial para qualquer análise linguística: a sua intuição de falante.

A contribuição das autoras se encerra com uma rica lista de referências bibliográficas, que reúne desde textos seminais sobre os fenômenos abordados, até as produções mais recentes em que se basearam as análises apresentadas no livro, tanto de pesquisadoras e pesquisadores nacionais quanto estrangeiros. Dessa forma, Para conhecer Semântica toma lugar entre a bibliografia essencial para todo iniciante interessado em Semântica, bem como um potencial guia para educadores na área.

Referências

BORGES NETO, J.; MULLER, A. L.; PIRES DE OLIVEIRA, R. A semântica formal das línguas naturais: histórias e desafios. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v.20, n.1, p.119-148, jan./jun. 2012. [ Links ]

CANÇADO, M. Manual de semântica: noções básicas e exercícios. São Paulo: Contexto, 2012. [ Links ]

FERRAREZI JUNIOR, C.; BASSO, R. Semântica, semânticas: uma introdução. São Paulo: Contexto, 2013. [ Links ]

FREGE, G. Lógica e filosofia da linguagem. São Paulo: Cultrix, 1978. [ Links ]

ILARI, R. Introdução à semântica: brincando com a gramática. São Paulo: Contexto, 2001. [ Links ]

KRATZER, A. Modals and conditionals. Oxford; New York: Oxford University Press, 2012. [ Links ]

PARTEE, B. H. Reflections of a formal semanticist. In: PARTEE, B. H. (sel.). Compositionality in formal semantics. Oxford: Blackwell Publishing, 2004. p.1-25. [ Links ]

PIRES DE OLIVEIRA, R. Semântica formal: uma breve introdução. Campinas: Mercado das Letras, 2001. [ Links ]

REICHENBACH, H. The tenses of verbs. In: MEINSTER, J.; SCHERNUS, W. Time from concept to narrative construct: a reader. Berlin; New York: De Gruyter, 2011. p.1-12. [ Links ]

VENDLER, Z. Verbs and times. The Philosophical Review, Ithaca, v.66, n.2, p.143-160, 1957. [ Links ]

Ana Lúcia Pessotto – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Faculdade de Letras. Rio de Janeiro – RJ – Brasil. anapessotto@gmail.com.

Referential Mechanics: Direct Reference and the Foundations of Semantics – ALMOG

ALMOG, Joseph. Referential Mechanics: Direct Reference and the Foundations of Semantics. [?]:Oxford University Press, 2014. Resenha de MARTONE, Filipe. Manuscrito, Campinas, v.39 n.2 Apr./June 2016.

The work of Ruth Barcan Marcus, Saul Kripke, Keith Donnellan, David Kaplan and others started a revolution in philosophy of language. The so-called direct reference theory, or simply referentialism, dealt a powerful blow to the then prevailing Fregean spirit of theories of meaning and reference, and it deeply affected the way we think about these topics. But saying what the core ideas of direct reference really are is not as easy as one might think. Direct reference theorists often disagree about what seems to be very basic issues: Are there singular propositions, and do we need them? If descriptivism is false, what are the mechanisms of reference determination? What are the consequences (if any) of holding a referentialist semantics to our views on cognition? Should referentialists be worried about Frege’s Puzzle? In a time in which debates in philosophy of language can get highly sophisticated, it is easy to get lost amidst technical arguments and overlook these fundamental questions. Joseph Almog‘s new book, Referential Mechanics: Direct Reference and the Foundations of Semantics, is an attempt to look past the technicalities of this “quantum mechanics of words” (p. xvii) and to engage with those questions directly.

Almog has three aims in this essay. First, he wants to understand what direct reference is really about. To do so, he dissects the versions of direct reference offered by three of its founding fathers – Kripke, Kaplan and Donnellan – and examines their foundations and their consequences for philosophy of mind and metaphysics. Second, he tries to show that two puzzles that supposedly threaten direct reference – the puzzle of empty names and Frege’s Puzzle – are not puzzles at all. Third, and finally, he introduces his project of unifying the semantics of all subject-phrases under the referentialist framework: instead of modelling paradigmatically referential terms such as proper names after denoting phrases (e.g. “every philosopher” or “most philosophers”), as Montague and his followers did, Almog wants to treat denoting phrases as genuinely referential terms. The challenge of integrating referential semantics into global semantics is what he called the Russell-Partee-Kaplan challenge. But Referential Mechanics only sets up the stage for a full answer to this challenge. A detailed account will be given in a companion piece, not yet published.

The book is divided into four chapters. The first three deal with direct reference as conceived by Kripke, Kaplan and Donnellan, and the fourth wrestles with the puzzles of empty names and cognitive significance (a.k.a. Frege’s Puzzle) and begins to work on an answer to the Russell-Partee-Kaplan challenge. In what follows I will offer a brief overview of the chapters, pointing out some of their virtues as well as their shortcomings.

In the first chapter, Almog offers an interesting reading of Kripke’s Naming and Necessity (henceforth NN) and introduces some of the key notions of his essay. He claims that there is a fundamental tension between two very different conceptions of semantics in NN. On the one hand, there is what he calls the designation model theory for natural language. This model is what we get from Lecture I. On this model, direct reference is cashed out in terms of rigid designation. On the other hand, there is the historical referential semantics, found mainly in Lecture III. The distinction between these two conceptions of semantics “touches the very fulcrum” of Almog’s essay (p. 15). According to him, the designation model suffers from a fundamental defect; it completely misconceives what semantics truly is (or should be): a descriptively correct account of the actual workings of a natural language, and not an adequate but mere representation of such workings (p. 16).

The main problem with the designation model, Almog argues, is the following. In this model, expressions such as names, definite descriptions, sentences and predicates are all unified under the fundamental semantic relation of designation. This model of semantics, therefore, sees no categorical difference between proper names and definite descriptions. In other terms, even though names are rigid designators whereas descriptions are not, both are connected to their designata via the same kind of semantic relation. However, designation is a “stipulated relation designed for a language with uninterpreted symbols: individual constants, variables, predicates (…)” (p. 15). Thus, designation is not, Almog claims, the real semantic relation that obtains in an actual existing language like English. Taking it to be so creates an insolvable puzzle, namely, the puzzle of reference determination: descriptions pick out their designata via satisfaction or fit; but how do names pick out their designata if they are not disguised descriptions, as Kripke so convincingly argued? How does the designation relation obtain for proper names? This model of semantics has no answer to give.

The historical referential semantics, on the other hand, gets it right. There is no puzzle of reference determination to be solved. The names we use are already loaded with their referents. We, consumers of language, do not have to “reach out” to them; they come to us through their names via causal/communication chains. The puzzle of reference determination arises only we if take designation to be the fundamental semantic relation obtaining in actual languages. Once we see that it is not, the puzzle disappears. Almog calls this shift from an “inside-out” (designation) to an “outside-in” (historical referential) mechanism of reference the “flow diagram reversal”: we refer with a name not because we designate an object, but because the object itself is already connected to the name we are using. This “flow diagram reversal”, he claims, is present in the works of Kripke, Kaplan and Donnellan, and it is the key idea of direct reference.

Almog’s notions of “outside-in” mechanisms of reference and of “flow diagram reversal” are quite interesting, and they neatly capture some of the main lessons of direct reference. However, he makes some rather cryptic remarks about perceiving an object through its name. More precisely, he claims that the reversal account of reference also extends “the classically qualitatively understood perception” (p. 29), meaning that “we perceive (remote) objects by means of loaded names” (p. 30). He offers some details of this view in footnote 19, but they are not really illuminating. What he seems to be suggesting is that public names put us in some sort of “acquaintance” relation with their bearers, allowing us to cognize them through language. This is a respectable idea which has many advocates nowadays. Yet, to say that this kind of relation extends perception per se seems to stretch the notion of perception beyond plausibility.

The second chapter is devoted to Kaplan’s account of direct reference in terms of singular propositions. For Kaplan, for a term to be directly referential is for it to make a special kind of contribution – its referent – to the proposition expressed by the sentence that contains it. This kind of proposition is called ‘singular proposition’. Almog stresses how distinct Kaplan’s approach to direct reference is when compared to Kripke’s designation model. That model makes no use of propositions; its key semantic unit is the pre-sentential subject (the designator). Kaplan’s direct reference semantics, on the other hand, takes propositions as its key semantic unit, and as the objects of assertion and thought. Almog argues that this leads to several problems, and these problems show that singular propositions fail to capture what direct reference is really about.

One interesting aspect of this chapter is that it tries to distinguish between what are legitimate criticisms of singular propositions and what are not. Almog vehemently dismisses the claims that the doctrine of singular propositions (and direct reference in general) is committed to a particular view about modal haecceitism and about the informativeness of identity statements (i.e. Frege’s Puzzle). Singular propositions and direct reference, he argues, are merely semantic notions. As he puts it: “There are no entailments from direct reference theory proper regarding either modal or attitudinal questions” (p. 48; italics in the original). What are legitimate criticisms of singular propositions, on the other hand, are the well-known objections of negative existentials with empty names and of reference to past objects.

What is a bit strange in this chapter is Almog’s claim that the failure of singular propositions to correctly classify apparently contradictory cognizers like Kripke’s Pierre and to capture phenomena of cognitive dynamics adequately “leads to the breakdown of the apparatus of proposition and content” (p. 56). If singular propositions are neutral regarding “attitudinal questions”, as he says, why are arguments from cognitive dynamics and propositional attitudes wielded against them? Why is Frege’s Puzzle not a problem to singular propositions while Kripke’s Pierre is? In fact, Kripke’s Pierre seems to be an instance of Frege’s Puzzle, so it is not at all clear why singular propositions are threatened by the first and not by the latter. Almog is also quite vague when it comes to his alternative to singular propositions. He talks of “object-loaded names” coming to us and of sentences with empty names being true precisely “because there is no proposition” corresponding to them. These remarks are somewhat obscure. He says, for instance, that “On this idea of the re-ferent coming to us late users, there is no mystery about why you and I can and do refer now to the long gone Aristotle by using now the (Aristotle-loaded) name ‘Aristotle’, just as we see a long dead star by being impacted now by light from it” (p. 52). There is plenty of mystery there to me, however. If the object no longer exists, how come it is loaded into the name? How do we “refer back” to Aristotle and cognize him, as Almog often says, if Aristotle does not exist anymore? Almog probably means that there is a causal connection between Aristotle, “Aristotle” and us, but that is not a complete explanation of what sort of thing we are in fact cognizing and referring to when using a name. Besides, it is also not obvious why his objections to singular propositions do not apply to his own view, since objects themselves play a crucial role in his semantics, as they do in Kaplan’s account.

The third chapter is by far the most compelling part of Almog’s book. It discusses Donnellan’s idea of referential uses of expressions and its connection to having an object in mind. Almog believes that these two ideas are the key ideas not only of direct reference, but of semantics in general. In discussing them he hopes to show that semantics should be conceived not as a branch of model theory (as Montague held), but as branch of cognitive psychology (p. 63).

Almog claims that Donnellan’s insight about having an object in mind in fact explains direct reference: direct reference is direct not because of conventional rules of language, but because it is linked to a certain cognitive mechanism of grasping worldly objects. This mechanism is captured by the “flow diagram reversal”: we do not have to reach out to those worldly objects; our minds, by natural processes, enter in relations with those objects, and they “make their way” into our cognition. It is not necessary to select which object we are thinking of and then look for it in the world. In fact, Almog argues that it is a mistake to understand Donnellan’s idea of having an object in mind as internally selecting some individual or other; the object we have in mind is determined by causal/historical processes. It is because we have objects in mind in this way that we can directly refer to it.

Almog argues that the process of referential use is divided into three different stages. First, there is the fixing. My mind enters in some relation with an object by an outside-in mechanism, which makes that precise object the object of my cognition. Second, there is the characterization. After the object is determined by this process, I can predicate things of it. Almog stresses that, because the object is already fixed, it does not matter if I apply false predicates; my thought is about it even in cases of gross mischaracterization. This is precisely what happens in Donnellan’s cases. Third, there is the communication. After (1) the object is fixed and (2) I form some beliefs about it, I can (3) go on to express these beliefs through language. To do that, I use whatever expression I think will help to direct the audience’s attention to the object I am already thinking of. As Almog puts it: “I am trying to co-focus you, make you have in mind what I already have in mind” (p. 69). This is why, for him, referential uses are not in any way restricted to definite descriptions. Any kind of singular terms, and even expressions like “someone”, can be used referentially: these terms do not determine the reference; they are used merely as aids to communication.

With this Almog hopes to show why Kripke’s claim that Donnellan’s cases are cases of speaker reference and not of semantic reference is mistaken. He believes that this distinction is preposterous; they are all as semantic as it gets. However, I do not see why this conclusion follows from his arguments. His proposal might in fact account for referential uses, but it is not clear why it also entails that there is no such thing as the semantic referent of an expression in a particular use. Even if our cognition is hooked to objects by non-conventional processes (which is a very plausible idea), it does not follow that this sort of having in mind completely overrides the conventional reference of the expressions used. In other words, I do not see why it is incompatible to hold this “flow diagram reversal” for thought and the speaker/semantic reference distinction at the same time. In short, more arguments are required to show why Donnellan’s “cognitive mechanics” entails the collapse of the speaker/semantic referent distinction.

In sum, Almog seems to be proposing some sort of externalist-subjectivist semantics in this chapter. It is externalist because external objects themselves make their way into our cognition, and the meanings of the expressions we use (if we are allowed to talk about meanings in Almog’s framework) are external objects and properties. Yet, it is subjectivist because what matters for giving the content (again, if such talk is plausible here) of the expressions we use are not community-wide conventions, but individual speakers in particular occasions. This is not, of course, to deny the role of conventions, but what ultimately determines the content/referents of our expressions is what the speakers have in mind when they use these expressions. This combination of two apparently opposed views about language is certainly interesting and it deserves further discussion.

The fourth and last chapter is concerned with Frege’s Puzzle and the puzzle of empty names, and it introduces the discussion of the Russell-Partee-Kaplan challenge. Almog argues that, if we take Donnellan’s approach seriously, both puzzles disappear. In fact, they turn out to be uninteresting consequences of this model of semantics (p. 91). The first observation he makes is that no speaker is omniscient regarding the semantic history of all names she uses. If this is right, informative identity statements are to be expected precisely because knowing that two names lead back to the same object can only be known a posteriori. Informativeness, Almog claims, is a relational feature, and it arises from the interaction between the information a speaker has in the head and the relevant sentence. If this in-the-head information is sufficient to settle the truth of the sentence, it will be trivial; if not, it will be informative. Second, the puzzle of empty names disappears because what makes sentences containing such names true are not object-involving propositions; what makes them true is the history of the name that leads back to failed baptisms.

Almog puts the Russell-Partee-Kaplan challenge as follows: “Can we or can’t we generalize the reference-only semantics to all nominals?” (p. 98). The problem arises from a dilemma about the visible grammatical form of subject-predicate sentences and their semantic forms. Subject-predicate sentences apparently work in the same way: they introduce objects for subsequent predication. Some terms, like proper names and indexicals, seem to fit well in this intuitive definition. Their visible grammar is a reliable guide to their semantic (or logical) forms. The problem is that some subject-predicate sentences, like “most philosophers are wise” or “some linguists sing”, do not seem to refer to any object. How should we deal with this? Russell, as Almog says, held that not all nominals function semantically in the same way: some refer, some denote. Montague, on the other hand, wanted to keep the link between visible grammar and semantics, but to do that he opted to treat referential terms as he treated other denoting nominals: visible grammar reflects semantic form insofar as all subject terms denote and not refer. Almog, however, wants to keep the semantics of all nominals referential and the visible grammar intact. So, he needs to explain what sort of reference expressions like “most philosophers” and “many linguists” have and how we should treat subject-predicate sentences containing them.

Almog claims that all nominals can be used either referentially or attributively. In the first case, they merely communicate an already made reference to an object, i.e., they externalize what I have in mind; in the second, they originate reference. This is a genuine semantic “ambiguity” of nominals, and not a mere pragmatic phenomenon. Both uses, however, necessarily involve reference to some worldly entity. As for their reference, Almog claims that nominals like “every musician” and “two philosophers” pick out kinds or “pluralities” in the world (p. 111). In this way, they do not denote, but genuinely refer to these entities. He closes the chapter by considering some challenges and further objectives (to be discussed in another essay): he wants to extend his account beyond subject-predicate sentences, apply it to the logical relation of consequence and to understand what is to cognize the world by using ordinary language – all of this following the general guidelines of keeping the semantics referential and the superficial grammar untouched.

Referential Mechanics is an engaging and provocative book, even though its difficult subject and the many topics it discusses would probably receive a better treatment in a longer and more detailed essay. Its occasional lack of clarity and insufficient argumentation can get frustrating sometimes. However, this does not diminish its many merits. The essay advances unorthodox theses and offers interesting takes on three of the most important versions of direct reference. Anyone interested in semantics, foundational semantics and in the history of analytic philosophy should definitely study it.

References

ALMOG, Joseph. Referential Mechanics: Direct Reference and the Foundations of Semantics. Oxford: Oxford University Press, 2014. [ Links ]

Erratum

In the article “Referential Mechanics: Direct Reference and the Foundations of Semantics” with DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0100-6045.2016.V39N2.FM, published in MANUSCRITO, 39.2, 133 a 140, on 133, where it says “Referential Mechanics: Direct Reference and the Foundations of Semantics” one should read “Book Review: ALMOG, J. Referential Mechanics: Direct Reference and the Foundations of Semantics (Oxford University Press, 2014)”

Although this article is included in the present volume, it appeared earlier in the modality Ahead of Print.

1CDD: 401

Filipe Martone – University of Campinas – Philosophy. Rua Cora Coralina, 100, Campinas São Paulo, Brazil. 13083-896. filipemartone@gmail.com.

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Semântica formal: uma breve introdução – PIRES OLIVEIRA (D)

PIRES DE OLIVEIRA, Roberta. Semântica formal: uma breve introdução. Campinas: Mercado de Letras, 2012. Resenha de: SANTOS, César Schirmer dos. Semantics for philosophers. Dissertatio, Pelotas, v.39, 2014.

Semântica para filósofos

Quem trabalha com filosofia analítica na graduação e na pósgraduação já deve ter se deparado diversas vezes com a dificuldade dos alunos de entenderem as noções de significado, sentido, referência, extensão, intensão, dêixis, anáfora, quantificação e modalidades, além de muitas outras relacionadas. Estas são noções técnicas que precisam ser dominadas pelos alunos que exploram os textos de ou sobre Frege, Davidson, Putnam e muitos outros. Esse problema requer uma solução que capacite os estudantes sem ocupar muito tempo dos cursos, e isto pode ser feito através da semântica formal.

Semântica formal, de Roberta Pires de Oliveira, é uma ótima introdução às ferramentas típicas da abordagem verifuncional do significado.O capítulo 1 faz uma cuidadosa distinção entre aquilo que é pesquisa do significado (a semântica) e aquilo que é pesquisa do ser (a metafísica), detalhando as principais diferenças da semântica verifuncional em relação a outras abordagens, como por exemplo a semântica cognitiva de Lakoff.

Como é típico dos principais manuais de semântica formal – como Knowledge of meaning, de Richard K. Larson e Gabriel Segal (Cambridge, USA: The MIT Press, 1995); Semantics in generative grammar, de Irene Heim e Angelika Kratzer (Oxford: Blackwell, 1998) e a Semântica de Gennaro Chierchia (Campinas: Unicamp, 2003) –, o capítulo estabelece os vínculos entre as ferramentas da linguística gerativa de Chomsky com o cálculo de predicados da lógica do século 20, estabelecendo uma ponte entre as pesquisas filosóficas e as abordagens empíricas da linguagem através da teoria da verdade de Tarski.

O capítulo 2 trata do clássico problema da criatividade dos falantes. Somos capazes de proferir e de reconhecer frases inéditas, o que só pode ser © Dissertatio [39] 283 – 285 inverno de 2014 César Schirmer dos Santos 284 explicado economicamente pela hipótese de que empregamos um conjunto finito de regras recursivas na fala e na escuta, o que nos leva à imagem da linguagem como um conjunto de regras acompanhada de um léxico. Quanto à significação, isto abre espaço para a distinção entre a referencialidade a objetos dos elementos subsentenciais, como os sintagmas nominais e verbais, e a referencialidade a valores de verdade das sentenças. O capítulo também discute as visões holista e atomista do significado.

O capítulo 3 trata da distinção fregueana entre sentido e referência, a qual é fundamental para a análise semântica dos contextos intensionais ou opacos, nos quais não se pode trocar sinônimos sem correr o risco de mudar o valor de verdade das sentenças. Nos contextos extensionais, o significado está ancorado no mundo atual, mas o mesmo não se dá nos contextos intensionais, nos quais a “referencialidade” está ancorada em outros mundos.

No caso específico do pensamento, a distinção fregueana permite que se dê conta daquilo que um outro compreende a partir da sua perspectiva, o que é fundamental para que se possa tratar do significado sem sofrer os embaraços típicos de uma teoria referencialista muito crua.

Os capítulos 4 e 5 mostram, de maneira direta e concisa, pra não dizer exemplar, como as ferramentas do cálculo de predicados são úteis para a investigação do significado. Através desses capítulos, estudantes de filosofia da linguagem e filosofia da mente podem se capacitar para ler textos já clássicos da filosofia analítica dos últimos cinquenta anos. No capítulo 4 se mostra como lidar com predicados e com nomes próprios. No capítulo 5 se mostra como este modelo é incapaz de lidar com pronomes dêiticos ou anafóricos, os quais são usados para explicar o papel dos quantificadores.

Através dessas ferramentas, a autora apresenta os fundamentos da teoria das descrições definidas de Russell e alguns elementos da polêmica entre este autor e P. F. Strawson.

Por fim, o capítulo 6 apresenta os fundamentos da semântica dos mundos possíveis, mostrando como as ferramentas da semântica extensional pode ser usadas em semântica intensional para dar conta das noções modais de necessidade/possibilidade, dever/poder e saber/crer.

Além do conteúdo, cada capítulo traz um conjunto de exercícios. O ponto baixo do livro são os exemplos datados. “A presidente do Brasil” quiçá soasse esquisito em 2001, mas hoje é uma descrição definida com referência. Há também uma série de erros tipográficos que, apesar dos méritos da publicação, é ponto contra a editora Mercado de Letras, que deveria ter feito um trabalho mais cuidadoso de editoração. Mesmo assim, trata-se de um livro de primeira importância para a pesquisa e o ensino acadêmicos em filosofia analítica no Brasil.

César Schirmer dos Santos – Universidade Federal de Santa Maria.

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