Posts com a Tag ‘Séc. 20-21’
Quando ousamos existir: itinerários fotobiográficos do Movimento LGBTI brasileiro (1978-2018) | Marcio Caetano, Alexsandro Rodrigues, Cláudio Nascimento e Treyce Ellen Goulart
“Mas nós também estamos onde a mira não alcança, porque embora não haja exílio há fuga” (MOMBAÇA, 2021: 16)
Com o objetivo de “provocar a memória do ativismo LGBTI” (2018, p. 8) é que emerge a obra “Quando ousamos existir: itinerários fotobiográficos do Movimento LGBTI brasileiro (1978- 2018)”, organizado pelos/as pesquisadores/as Marcio Caetano, Alexsando Rodrigues e Treyce Ellen Goulart, e pelo ativista Cláudio Nascimento. A obra emerge em um momento visceral da sociedade brasileira, onde desde 2019, a partir da eleição do atual presidente Jair Messias Bolsonaro, de extrema-direita, vive-se um contínuo processo de ataque a algumas conquistas sociais e políticas destinadas à população LGBT, até então percebidos como direitos consolidados, bem como um recrudescimento de pautas antidemocráticas e anti-inclusivas que, agravado pelo complexo cenário político-pandêmico, atingem diretamente minorias sexuais, raciais e de gênero (OLIVEIRA et al., 2020). É diante de tal contexto que a obra revela mais do que nunca sua importância e atualidade. Em um país que faz questão de negar sua história, recordar é resistir!
Enquanto obra comemorativa que faz menção aos 40 anos de existência de movimentos sociais LGBT no Brasil – tomando como marco a criação do Grupo Somos em 1978 –, é uma ode à multiplicidade, aos diferentes modos de fazer ativismos, às dinâmicas e plurais estratégias de resistência. Nesse sentido, sem abrir mão de uma perspectiva histórica, que de modo algum resvala em um historicismo vazio, os/as organizadores/as resgatam alguns eventos que marcam a história do movimento social LGBT desde a década de 1970, sem perder de vista a pluralidade de experiências e de formas de existir e resistir que estão para além de marcações temporais. Afinal, em uma sociedade (como a brasileira) tão marcada por eventos e práticas que atestam seu caráter autoritário, racista, misógino, lgbtfóbico (SCHWARCZ, 2019) há que reconhecer
a existência resistente de inúmeras iniciativas, antes mesmo da emergência de qualquer sigla que hoje as nomeia, e dar corpo político ao movimento social. As corporalidades lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais, nem sempre se autonomeando com essas categorias recentes do ativismo, desafiaram e desafiam os padrões de normalidade de gênero e as expectativas de coerência heteronormativa entre sexo-gênero-orientação sexual. (2018: 10).
Em termos metodológicos, por meio de estilo criativo e experimental, utilizando-se do entrecruzamento entre imagens e narrativas, denominada pelos/as organizadores/as de fotobiografia, histórias, trajetórias, cenários e enredos são rizomaticamente tecidos e (re)significados. Em cena, uma metodologia polissêmica e polifônica que evoca a plasticidade e a incompletude, tanto de sujeitos e coletivos (e suas respectivas narrativas) quanto de seus ativismos sociais, apontando para sua contínua capacidade de refazimento. Tal perspectiva metodológica evidencia a sempre inacabada agência humana e a precariedade e parcialidade de nossos fazeres e saberes (HARAWAY, 1995), revelando, desta forma, a impossibilidade de singularizar aquilo que é da ordem do plural – não por acaso os/as organizadores/as e os/as autores/as falem em ativismos.
A partir de tais pressupostos é que somos apresentados às contribuições de mais de trinta pesquisadores/as e ativistas com grande representatividade geracional, dentre eles/as: James Green, Marisa Fernandes, Luiz Mott, Marcos Ribeiro de Melo, Patrícia Rosalba Salvador Moura Costa e Michele de Freitas Faria de Vasconcelos, Carolina Maia, Júlio Assis Simões, John McCarthy, Rita Rodrigues, Cristina Câmara, Vagner de Almeida, Jorge Caê Rodrigues, Megg Rayara Gomes de Oliveira, Anderson Ferrari, Toni Reis, Jovanna Cardoso da Silva, Augusto Andrade, Treyce Ellen Goulart, Carolina Maia, Edmeire Exaltação, Jussara Carneiro Costa, Beth Fernandes, Irina Karla Bacci, Luiz Carlos Barros de Freitas, Cláudio Nascimento Silva, Moacir Lopes de Camargos, Cláudio Nascimento Silva, Ana Cristina Conceição Santos (Negra Cris), Émerson Santos, Cleyton Feitosa, Claudia Penalvo, Diego Cotta, e Roger Raupp Rios.
As questões elencadas pelos/as autores/as são de grande relevância político-social e apontam para os diversos modos de fazer ativismo, e de fazer-se ativista. Não por acaso se tornem evidentes as distintas percepções sobre a própria história do movimento social LGBT, fazendo com que eventos comumente compartilhados sejam narrados a partir de diferentes perspectivas.
Em nosso exercício analítico, a partir da leitura da contribuição dos/as diferentes autores/as, é possível traçar alguns eixos centrais de articulação: Marcadores sociais de diferença, Direitos Humanos, Redes de Apoio e Solidariedade e Ações político- culturais.1 Vale pontuar que os temas e problemáticas inseridos em cada eixo não se esgotam em si mesmos, antes se transversalizam. Nesse sentido, as alocações por eixo temático que estabelecemos não se preocuparam em obedecer a ordem sequencial em que os capítulos estão dispostos no interior da obra.
Com relação ao primeiro eixo, Marcadores Sociais de Diferença, é possível destacar as contribuições de Green acerca da importância da política de solidariedade entre o movimento LGBTI e o movimento negro e operário em seus primórdios (2018: 12); de Fernandes, sobre as alianças entre o Movimento Negro, o de Homossexuais e o Feminista Lésbico (2018: 17); de Exaltação, sobre a importância do Coletivo de Lésbicas do Rio de Janeiro (COLERJ) para as mulheres lésbicas negras (2018: 116); e, por fim, de Santos (Negra Cris)sobre a importância da criação da Rede AfroLGBTpara a emergência de um ativismo interseccional (2018: 159).
Quanto ao segundo eixo, Direitos Humanos, chama(m) a atenção o(s) trabalho(s) de: Mott, que destaca a importância da criação e das ações do Grupo Gay da Bahia (GGB) (2018: 22); de Melo, Costa e Vasconcelos, que se referem à criação e ao trabalho do coletivo Dialogay em Sergipe (2018: 27);de Simões, que reflete sobre a importância das ações coletivas para o enfrentamento das violências policiais na cidade de São Paulo no período da ditadura (2018: 39);de Rodrigues, que discorre sobre as lutas em torno da despatologização da homossexualidade (2018: 48); de Câmara, destaca a importância da atuação da ONG Triângulo Rosa, e de João de Souza Mascarenhas na Constituinte e suas respectivas lutas pela despatologização, pelo enfrentamento da violência e pelo direito à saúde (2018: 54); de Silva, que apresenta a Conferência de Durban como um dos grandes marcos na luta contra a discriminação racial e orientação sexual (2018: 141); de Silva, que ressalta a importância do Plano Brasil sem Homofobia para uma política pública democrática e inclusiva (2018: 154); de Santos, que pondera a cerca dos desafios e da importância da aproximação entre o Movimento LGBTI do Poder Legislativo (2018:163); de Feitosa, que destaca o protagonismo das Conferências Nacionais para a consolidação de um ativismo cidadão LGBT (2018: 170); de Penalvo, que discorre sobre os avanços e os dilemas que atravessam a Diversidade Sexual na escola (2018: 174); de Cotta, que apresenta os entraves para a consolidação de um “Rio Sem Homofobia” (2018:180); e, por fim, de Raupp Rios, que por meio de um exercício fotobiográfico, traça uma genealogia da cidadania LGBTI no âmbito da justiça no Brasil (2018: 184).
No que se refere ao terceiro eixo, Redes de Apoio e Solidariedade, destaque para as reflexões de Maia em torno da importância da criação e circulação de boletins e revistas para o segmento lésbico (2018: 35); de McCarthy, sobre a constituição do Grupo Arco Íris (2018: 43); de Rodrigues, sobre a importância dos periódicos LGBT (2018:66); de Reis, acerca da história do movimento homossexual no Brasil (2018: 83); de Oliveira, sobre a emergência do movimento nacional de Travestis e Transexuais (2018:72); de Silva, acerca da importância da ONG Astral para o Movimento Trans (2018: 92); de Maia, sobre a importância do Seminário Nacional de Lésbicas e Mulheres Bissexuais (2018: 112); de Fernandes, sobre o trabalho desenvolvido pela ONG Astral em Goiânia em torno da luta pela cidadania trans (2018: 125); e, por fim, Bacci, que realiza o resgate de uma memória lésbica e seu protagonismo, segundo ela, invisível, no interior do Movimento LGBTI (2018: 130).
Como último eixo, destaque para as Ações político-culturais. Neste caso, chamam a atenção as reflexões de Almeida e sua defesa da importância do que chama de ativismo cultural (2018: 61); de Ferrari, em torno do pioneirismo de eventos como o Miss Brasil Gay e RainbowFest em Juiz de Fora e sua importância para a comunidade LGBTI da região (2018: 77); de Andrade, sobre a importância da parceria da ONG Arco-Íris com a ILGA como estratégia de visibilidade para o segmento LGBTI no Brasil (2018: 100); de Goulart, sobre o valor das telenovelas e seus efeitos como ação educativa quando o assunto é diversidade sexual (2018: 107); de Costa, sobre o pioneirismo da lésbica paraibana Maria de Kalúna criação de um espaço de sociabilidade lésbica em Campina Grande (2018: 121); de Freitas, sobre o Projeto Somos e seus impactos na política de interiorização do Movimento LGBTI (2018: 135); e, por fim, de Camargos, que chama a atenção para a importância da Parada Gay de São Paulo para a visibilidade política de LGBTs (2018: 148).
É importante ressaltar que a riqueza das questões abordadas pelos/as diferentes autores/as não se esgotam no pequeno panorama por nós apresentado. Antes, uma das riquezas da obra é justamente a possibilidade de que cada leitor/a trace seu próprio percurso e também tire suas próprias conclusões. Não por acaso, possamos afirmar que “Quando ousamos existir” constitui-se como “bússola” e não como “mapa”. Ao voltar-se para o passado, nos ajuda a compreender o presente sem pretensões de apontar caminhos pré-traçados. Afinal, “[…] não lutamos para que todos sejam masculinos ou todos sejam femininos. Nós queremos que os gêneros desapareçam para que os corpos possam emergir em liberdade. Para que você seja como quiser, vista-se como quiser, seja chamado como quiser” (PAREDES, 2020: s/p).
O passado, como o hoje, é luta, resistência, (re)existência. Ao voltarmos o olhar para as configurações dos ativismos do passado, seus múltiplos cenários, seus diversos enredos, as multiplicidades de seus agentes, desejos e afetos, é para o presente e seus novos (e antigos) desafios que somos interpelados. Mas não apenas isso. Trata-se de reconhecer a luta, o suor, as lágrimas, o sangue, daqueles e daquelas que nos precederam. Tal exercício nos permite uma leitura do presente não como benesse, mas como resultado de (muita) luta.
Olharmos para o passado a fim compreendermos o presente e construirmos o futuro, é um exercício de reconhecimento de que muito já foi feito, mas que ainda há muito mais a ser conquistado. Os ataques do presente nos fazem reconhecer que os direitos e conquistas são sempre precários e incertos, ao mesmo tempo que a luta pela sua consolidação é necessária. Portanto, “Trata-se deum convite para vislumbrar como essa trajetória, longe de ser consolidada, requer reafirmação e resistência constantes, diante de novas e antigas investidas carregadas de preconceito e de intolerância. Que as vitórias conquistadas sirvam de inspiração […]” (RAUPP RIOS, 2018: 189).
Por fim, que sejamos fortalecidos/as por aquelas e aqueles que nos precederam. Que elas e eles ecoem em nossos brados inconformados no presente. Que hoje, assim como “ontem”, a força pulsante que se constrói na luta, nas alianças, nas pistas, nas ruas, nos lutos, nas encruzilhadas, nas ruínas, seja o antídoto para superação de nossas amnésias e capturas sociais, institucionais, coletivas e individuais e para o fortalecimento de novas “barricadas” (MOMBAÇA, 2021). Afinal, situados/as em um dos países do mundo que mais mata mulheres e LGBTs, que mais encarcera e mata corpos negros e pardos, que apresenta cotidianamente índices alarmantes de violência policial, que naturaliza e subestima seu racismo estrutural, “nós entendemos o recado e sabemos que vamos testemunhar [como temos testemunhado] uma época brutal, mas quais épocas não foram brutais conosco?” (MOMBAÇA, 2021: 114 – acréscimo nosso).
Nota
1 É importante ressaltar que nosso exercício de traçar tais eixos cumpre uma função eminentemente didática. Não por acaso, o modo como as problemáticas e questões são exploradas ao longo da obra revela o compromisso dos/as autores/as com uma perspectiva analítica complexa e articulada, fazendo com que, em vários momentos, os temas abordados sejam interseccionados e transversalizados.
Referências
HARAWAY, Donna. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, Campinas, n. 5, p. 7-41, 1995.
MOMBAÇA, Jota. Não vão nos matar agora. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021.
OLIVEIRA, Esmael Alves de; GOMES, Aguinaldo Rodrigues; MUNIZ, Tatiane Pereira; SILVA, Jorge Augusto de Jesus. Inquietações sobre Educação e Democracia em tempos de pandemia. Revista Interinstitucional Artes de Educar, Rio de Janeiro, v. 6, p. 207-228, 2020.
PAREDES, Julieta. “Temos que construir a utopia no dia a dia”. Pública – Agência de Jornalismo Investigativo. 15 mai. 2020. Disponível em: https://apublica.org/2020/05/temos-que-construir-a-utopia-no-dia-a-dia-diz-aboliviana-julieta-paredes/Acesso em: 11 jun. 2021.
RAUPP RIOS, Roger. A Cidadania LGBTTI nos Tribunais: Artigo fotobiográfico. In: CAETANO, Marcio; RODRIGUES, Alexsandro; NASCIMENTO, Cláudio; GOULART, Treyce Ellen (org.). Quando ousamos existir: itinerários fotobiográficos do Movimento LGBTI brasileiro (1978- 2018). Tubarão: Copiart/Rio Grande: FURG, 2018. p. 184-189.
SCHWARCZ, Lilian Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
Resenhista
Esmael Alves de Oliveira – Professor Adjunto na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados (FCH/UFGD). Doutor em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Docente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGAnt) e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPsi) da UFGD. E-mail: esmael_oliveira@live.com
Referências desta Resenha
CAETANO, Marcio; RODRIGUES, Alexsandro; NASCIMENTO, Cláudio; GOULART, Treyce Ellen (Orgs.). Quando ousamos existir: itinerários fotobiográficos do Movimento LGBTI brasileiro (1978-2018). Tubarão: Copiart. Rio Grande: FURG, 2018. Resenha de: OLIVEIRA, Esmael Alves de. Entre “tiro, porrada e bomba” ou de quantas lutas se faz um movimento? Historiæ. Rio Grande, v. 13, n. 1, p. 224-230, 2022. Acessar publicação original [DR]
Jörn Rüsen: teoria/historiografia/didática | M. M. D. Oliveira, F. C. F. Santiago Júnior e C. R. C. Lima
O livro Jörn Rüsen: teoria, historiografia, didática, lançado em 2022, é uma coletânea que põe em diálogo diversos prismas da vasta obra do historiador alemão, especialista em Teoria e Didática da História1. A publicação resulta do evento I Seminário Jörn Rüsen, realizado entre os dias 21 e 25 de dezembro de 2015, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ao debater com a obra de Rüsen, os diversos autores evidenciam as relações entre Teoria da História, Didática da História e Ensino de História.
Para Arthur Alfaix Assis – autor do artigo História, teoria e liberdade: saudação a Jörn Rüsen2 – uma das principais linhas de pensamento de Rüsen refere-se à questão: “como, a partir de tradições e traumas herdados do passado, seria possível agir no presente, visando projetar um futuro no qual sejamos livres para criar algo novo?”. Leia Mais
Moverse para no extinguirse. Trayectoria productiva y movilización social de pequeños lecheros de Chihuahua/México/1950-2018 | Luis Aboites Aguilar
Nativo de Ciudad Delicias, Chihuahua, Luis Aboites Aguilar emprende la tarea de analizar la movilización de pequeños propietarios agrícolas y las adversidades que han debido sortear para no extinguirse como productores de leche en esa ciudad. Las causas, las demandas y trayectoria del movimiento lechero que se expresan principalmente a nivel local son múltiples pero también adquieren sentido cuando el autor las contextualiza, las inserta y vincula con la producción y la industrialización de la leche, en otras regiones, en el país y en el mercado internacional. La investigación es atractiva por la complejidad del escenario de una movilización que, siendo local, está marcada por las lógicas del mercado lechero, el cambio tecnológico, las iniciativas de los gobiernos e instituciones estales y federales en distintas coyunturas políticas desde los años 1950 hasta 2018, año en que terminó el manuscrito. Leia Mais
El hambre de los otros. Ciencia y políticas alimentarias en Latinoamérica/siglos XX y XXI | Stefan Pohl-Valero, Joel Varga Domínguez
Este libro recoge doce ponencias presentadas por un nutrido grupo interdisciplinar en el año 2019 para el encuentro académico internacional “Ensamblajes del problema alimentario en América Latina durante el siglo XX” (Bogotá). A su vez, se encuentra inscrito en el desarrollo de proyectos más amplios que sus editores, Stefan Pohl y Joel Vargas, vienen adelantando en Colombia y México, respectivamente. Quizás el que más merezca la pena destacar por tratarse de un punto de convergencia, es la consolidación de la Red de Estudios Históricos y Sociales de la Nutrición y Alimentación en América Latina (REDEHSNAL); un esfuerzo colaborativo creado para dar visibilidad a los avances de dicho campo a través de formatos variados que van desde coloquios y novedades bibliográficas en redes sociales, hasta espacios de corte más divulgativo como el podcast Alimentando la Historia.1 Ciertamente, estos antecedentes hablan muy bien del Hambre de los otros, toda vez que no se presenta al lector como la publicación espontánea de un colectivo aislado, sino como el producto de una activa comunidad que incluye jóvenes investigadores, y cuya disposición para transitar entre distintas formas comunicativas es síntoma de la buena salud de su agenda. Leia Mais
Un siglo de historia. Los libros de la Biblioteca Tulio Febres Cordero/ 1921-2021. Tomo II | María S. Nieto A.
Cuando abrimos un libro para leerlo nos damos la oportunidad de conocer una historia o quizás revivir un hecho relevante y trascendental del pasado, alcanzando descubrir a través de él ese universo de ideas y pensamientos que se hallan codificados en textos de gran valor para todas las culturas y sociedades del presente. En los libros y documentos encontramos un gran aliado para comprender y analizar la historia desde múltiples miradas, buscando así entender nuestro propio presente. Son estas hojas escritas con diferente tinta y papel, las huellas que vislumbran el paso de aquellos que ya no están, son la marca imborrable del pasado que se va agregando al presente; siempre buscando pintar con características propias el futuro. Sus autores y escritores del ayer nos han dejado un gran legado escritural con el cual vamos descifrando y construyendo la narrativa histórica y cultural del hoy. Otros, hacemos del presente un buen momento para plasmar en letras y palabras la vivencia humana y así dejar la misma huella para que las próximas generaciones hagan lo mismo. Leia Mais
Territorios, oralidad y memoria: huellas del pasado en el cine y audiovisual contemporáneo/Historia Regional/2023
El impulso del cine documental y testimonial de las últimas décadas trajo aparejado un incremento de la producción y difusión de testimonios orales. Este proceso no sólo colabora en la construcción de la memoria y de relatos sobre nuestra historia reciente, sino que también ha permitido pluralizar sus voces, funcionando como un propagador de ciertas experiencias históricas, a veces minoritarias, invisibilizadas, marginalizadas o no hegemónicas. Al mismo tiempo, el campo de la Historia Oral fue ganando en densidad, sofisticando sus metodologías y acumulando reflexiones críticas que lxs historiadorxs vienen realizando sobre su propio quehacer. Parte de esta reflexión implicó, entre otras cosas, tomar al cine como objeto de análisis, en tanto se constituye como síntoma y agente de la historia, pues narra de otra manera los procesos, resignificándolos desde una perspectiva subjetiva y estética (Acosta y Sasiain, 2007; Jameson, 1995). Además, si aceptamos que el cine constituye un elemento fundamental en la construcción y disputas por la(s) memoria(s), es necesario tener en cuenta las formas de producción y montaje de los testimonios, los soportes y las tecnologías que materializan su elaboración y difusión. Leia Mais
L’education physique de 1945 à nous jours: les étapes d’une démocratisation | Michaël Attali, Jean Saint-Martin
A obra em questão, publicada pelos professores Michaël Attali (Universidade de Rennes 2) e Jean Saint-Martin (Universidade de Strasbourg), foi primeiro publicada no ano de 2004, com reedições em 2009 e 2015. A edição ora analisada é de 2021, atualizada em relação às últimas alterações ocorridas no âmbito da escola francesa. O livro foi editado pela editora Armand Colin, como parte da coleção “Dynamique” organizada por Jean-Pierre Famose, André Rauch e Alfred Wahl. Leia Mais
Pater infamis. Genealogía del cura pederasta en España (1880-1912) | Francisco Vázquez García
En mayo de 1981, el profesor André Berten tuvo la oportunidad de entrevistar a Michel Foucault y aprovechó la ocasión para preguntarle sobre su forma de hacer historia, a lo cual el filósofo francés respondió: “Yo diría que hago la historia de las problematizaciones, la historia de la manera en que las cosas constituyen un problema. ¿Cómo y por qué y de qué modo específico la locura constituyó un problema en el mundo moderno?”.2 Francisco Vázquez hereda esta visión historiográfica y a través de su libro Pater infamis. Genealogía del cura pederasta en España (1880- 1912) explica cómo fue posible la construcción de este sujeto y por qué adquirió relevancia social en el ocaso del siglo XIX y los inicios del XX. Leia Mais
L’era degli scarti | Marco Armiero
In un’intervista rilasciata per la rivista «Geography Notebooks» nel 2020, Marco Armiero ha definito l’ecologia politica come «quel campo di ricerca indisciplinato dove si guarda alle relazioni socioecologiche senza nascondere il potere e le diseguaglianze»1. Il libro L’era degli scarti. Cronache dal Wasteocene, la discarica globale, pubblicato per Einaudi nel 2021, si colloca precisamente lungo questa direttiva: proporre una narrazione politica capace di inquadrare la crisi socio-ecologica in atto a partire dal rapporto tra «scarti, diseguaglianze e il mondo che stiamo creando»2. Leia Mais
Povo de Deus: Quem são os evangélicos e por que eles importam | Juliano Spyer
Juliano Spyer | Foto: Zanone Fraissat/Folhapress
“Nos anos 1970, evangélicos representavam apenas 5% dos brasileiros, hoje são um terço da população adulta do país, e na próxima década, segundo estatísticas, o número de protestantes superará o de católicos”.II Considerando o crescimento recente que os evangélicos têm tido na sociedade brasileira, Juliano Spyer julga que conhecer quem são esses sujeitos é importante para compreender o Brasil contemporâneo.
Spyer, formado em História pela Universidade de São Paulo e mestre e doutor em Antropologia pela University College London, foi autor do livro Mídias Sociais no Brasil Emergente, publicado em 2018 e que analisava o uso da internet nas camadas populares brasileiras. Estudar o fenômeno evangélico não era seu objetivo no início de sua trajetória, que passou pela morada na casa de uma família batista nos Estados Unidos em um intercâmbio estudantil e pelo trabalho na campanha presidencial da exministra evangélica do Meio Ambiente Marina Silva em 2010. No entanto, em uma pesquisa de campo em um bairro periférico de Salvador, na Bahia, o antropólogo conviveu com várias famílias evangélicas, algo que lhe permitiu ampliar seu conhecimento sobre o assunto. Leia Mais
Povo em lágrimas, povo em armas | Georges Didi-Huberman
Georges Didi-Huberman | Imagem: Consulta Cinema
Um gesto de lamento. Uma mão crispada em luto torna-se uma mão levantada em riste. A lamúria converte-se em ato de revolta. Essa dinâmica, presente em Bronenosets Potyonkim (O Encouraçado Potemkin, URSS, 1925), é o motor que aciona a análise nas páginas do mais recente livro publicado em língua portuguesa de Georges Didi-Huberman. Classificar o livro é árdua tarefa, assim como talvez seja classificar seu escritor.
O autor já foi chamado de historiador de arte, teórico da arte, simplesmente historiador e, mais recentemente, filósofo. A obra em questão consiste em uma coletânea de ensaios sobre cinema-história, além de um compêndio de teoria-metodologia de análise da imagem, cujo objeto é o cinema de Serguei Eisenstein. A força motriz dessa reflexão é a dialética contida na sequência descrita nas linhas iniciais, retomada várias vezes durante a obra – movimento contido no próprio título: Povo em lágrimas, povo em armas. 2 Leia Mais
De Norte a Sul, a sombra do autoritarismo e do fascismo no passado e no presente: perspectivas sobre experiências limítrofes nos séculos XX e XXI /Escritas do Tempo/2022
Se Marshall Berman (1987) dizia que a modernidade é demarcada por sua inerente contradição, Zygmunt Bauman complementou essa perspectiva compreendendo esse período como o constante derretimento de sólidos. Assim, a fluidez dos tempos modernos não demonstraria a ausência dos sólidos: pelo contrário, a nova ordem deveria ser verdadeiramente pautada em estruturas. Para Bauman, nenhum molde social foi destruído sem que outro fosse construído para substituí-lo. Dessa maneira, o processo de derreter os sólidos “antigos” era uma urgência vinda da necessidade de “inventar sólidos de solidez duradoura”, tornando esse novo mundo, portanto, previsível, organizado e administrável (BAUMAN, 2001, p. 10). Leia Mais
Transnational Homosexuals in Communist Poland: CrossBorder Flows in Gay and Lesbian Magazines | Lukasz Szulc
Lukasz Szulc | Imagem: Studies in Etnicity and Nationalism
O termo Guerra Queer é empreendido pelos teóricos queer a fim de compreender as disputas políticas transnacionais sobre questões LGBTI+ que acabam interseccionando entendimentos diversos sobre cultura, tradição e direitos humanos (ALTMAN; SYMONS, 2016, p. 17).1 O termo guerra ilustra nesses debates as polarizações travadas entre regiões supostamente pró-direitos LGBTI+ e aquelas a priori homofóbicas e opositoras aos discursos sobre direitos humanos que contemplariam questões de diversidade de gênero e sexualidade. O caso russo – particularmente com as recentes legislações LGBTfóbicas – é ilustrativo para a concepção de Guerras Queer.2 O país vem se subscrevendo a uma concepção de contraponto aos modelos europeus ocidentais. Dentro dessa lógica discursiva, a Europa Ocidental tem sido projetada como um tipo de civilização degenerada, tendo suas expressões de homossexualidade, os feminismos e a legalização do casamento civil homossexual interpretados como sinais de destruição da família e da masculinidade – os quais, de acordo com tais posicionamentos, seriam sinais evidentes de fraqueza (RIABOV; RIABOVA, 2014, p. 29). O caso polonês seria um representante recente desses conflitos, em particular a partir da proclamação de “zonas livres de LGBT” por governos regionais e municipais entre 2019 e 2020 (ŻUK; PLUCINSKI; ŻUK, 2021). Portanto, as questões LGBTI+ alcançam cada vez mais protagonismo no cenário global político em torno das discussões sobre direitos humanos.
Entretanto, para se analisar as Guerras Queer é necessário partir da constatação de que tais discursos estão “pobremente embasados em diferenças ‘essenciais’- ‘naturais’ ou ‘tradicionais’ – entre regiões particulares” (SZULC, 2018, p. 224, tradução nossa). Nos casos aqui mencionados, a diferenciação é largamente embasada em noções essencialistas que observam uma presumida imposição ocidental de modos particulares de cultura e direitos humanos. Nesse sentido, a obra “Transnational Homosexuals in Communist Poland: Cross-Border Flows in Gay and Lesbian Magazines”,3 de Lukasz Szulc (2018), é uma relevante contribuição a fim de problematizar os essencialismos que embarcam as Guerras Queer e de sublinhar a potencialidade de um empreendimento que entrecruze uma visão transnacional e/ou global com as historiografias LGBTI+. Leia Mais
A World after Liberalism – Philosophers of the Radical Right | Matthew Rose
Matthew Rose | Imagem: Tikvah Fund
Matthew Rose é especialista em História das ideias teológicas e políticas e doutor pela Universidade de Chicago. Seu novo trabalho – A World after Liberalism – Philosophers of the Radical Right (2021) – foi pensado no contexto da campanha de Donald Trump e da crise dos refugiados de 2016, quando ele notou que jornalistas dos EUA e da Europa começavam a citar autores da extrema direita cuja tradição era “mais profunda e filosófica sobre a vida contemporânea e mais cética sobre o lugar do cristianismo na cultura ocidental” (Mclemee, 2022). Do desconhecimento inicial, o autor avançou para uma análise das ideias radicais do pensador “nacionalista” e de direita Samuel Francis, publicado na revista First Things (2018). O artigo se estendeu e se transformou na obra atual, acrescida de notas (ou retratos) biobibliográficos de mais quatro intelectuais: “o profeta” alemão Oswald Spengler, “o fantasista” italiano Julus Evola, “o antissemita” estadunidense Francis Parker Yockey e “o pagão” francês Alain de Benoist.
Rose é católico, democrata e, academicamente, orientado pelo trabalho de Heinrich A. Rommen (1897-1967) que, na condição de ex-aluno de Carl Schmitt (1888-1985), examinou a obra do mestre sob o ponto de vista da crítica que a “direita radical” disparava contra as ideias de “igualdade e justiça”, compreendidas como corruptoras “das mais altas inspirações humanas” (Mclemee, 2022). A meta explícita e modesta de Rose é tornar inteligíveis as ideias de pensadores que orientam o “novo conservadorismo” em seus ataques aos princípios de “igualdade humana”, respeito às “minorias”, “tolerância religiosa” e “pluralismo cultural” (Rose, 2021, p.5). A meta implícita e engajada é fazer a defesa do cristianismo em termos teológicos e apresentar valores cristãos de longa duração como possíveis respostas ao vazio ideológico de muitos jovens do seu tempo e país. Leia Mais
Analizar el auge de la ultraderecha | Beatriz Ugarte Acha
Beatriz Ugarte Acha (2020) Imagem: Metapolitica
Analizar el auge de la ultradereha é o mais recente livro de Beatriz Ugarte Acha. Natural de Vizcaya (1970), Acha é professora de Sociologia e Trabalho Social na Universidad del País Vasco.[i] Doutorou-se em Ciência Política com a tese Éxito y fracaso de los nuevos partidos de extrema derecha en Europa Occidental: el caso de los Republikaner en el Land de Baden-Württemberg (2017), defendida junto ao Departamento de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidad Autónoma de Madrid. A experiência do doutorado lhe permitiu estender e, simultaneamente, encurtar os marcos temporais e espaciais, estudando a ascensão dos Partidos de Extrema Direita (PUDs) na Europa e, de modo especial, na Espanha. Grande parte do livro, portanto, corresponde aos três primeiros capítulos da tese. Com exceção do último, que trata do “assalto ao Capitólio” (onde faz considerações sobre o caráter pedagógico desse evento), o livro se estrutura no exame das trajetórias dos PUDs, ideologias, causas da sua ascensão, perfil dos seus votantes.
Na breve “Apresentação” da obra, Cristina Monge y Jorge Urdánoz disparam a ironia: “Ya somos europeus”. Com a frase, anunciam a chegada do multipartidarismo e da ultradireita à Espanha, entre 2015 e 2019, representados, respectivamente, pelos sucessos do 15 M, Podemos, Ciudadanos e, ainda, o Vox, a exemplo do que já havia acontecido com demais países da Europa. No primeiro capítulo – “Los partidos de ultraderecha y sus trayectorias” –, contudo, Beatriz Acha não dá sequência ao tom irônico e, de certa forma, amortece a proposição. Não é que o fenômeno dos PUDs na Espanha seja mais brando. O fato é que a ascensão dos partidos de ultradireita, em 14 países, entre 1996 e 2019, só aparentemente pode ser considerada exitosa. É certo que eles ampliaram o número de adeptos, organizações, líderes e votantes, que ganharam cadeiras nos parlamentos nacionais e até apoiam governos. Contudo, observados em suas trajetórias individuais, partidos, como a Frente Nacional, na França; o Partido do Progresso, da Noruega; e, o Partido da Liberdade, da Áustria, oscilam entre o sucesso, o fracasso e até a cisão, lutas intestinas ou motivadas pela perda de prestígio imediatamente após um atentado terrorista perpetrado por um membro partidário (o caso de Oslo). Leia Mais
De metalúrgico a presidente: o Brasil visto a partir da biografia de Lula | John D. French
John D. French | Imagem: Brasil Popular
Em um momento no qual a construção de perspectivas sobre a história e o destino do Brasil voltam-se novamente para Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido como Lula1, representações sobre a vida do ex-presidente trazem questionamentos acerca de sua incessante capacidade de mobilizar afetos e disputas interpretativas. Neste contexto, sua trajetória pública e privada remanesce atual e relevante para a compreensão dos impasses do presente e o que se pode esperar do futuro. Esse é o desafio assumido pelo último livro do brasilianista John D. French, que traz uma abordagem surpreendentemente dinâmica para a biografia: Lula and His Politics of Cunning, publicado em outubro de 2020.
O autor é professor de História na Duke University, com atuação também nas áreas de estudos internacionais comparados, africanos e afro-americanos. Com uma vasta e produtiva carreira, French coordena, nos últimos anos, o Duke Brazil Initiative, tendo sido diretor do Latin American Center, também em Duke, e coeditor da Hispanic American Historical Review por cinco anos. Leia Mais
O ódio como política: A reinvenção das direitas no Brasil | Esther Solano Gallego
Ester Solano | Imagem: Nocaute
No dia 8 de outubro de 2018, entre o primeiro e o segundo turnos da eleição presidencial brasileira, a editora Boitempo liberou gratuitamente o e-book O ódio como política: A reinvenção das direitas no Brasil, organizado pela socióloga Esther Solano Gallego, com o objetivo e “ajudar a compreender” como havíamos chegado à situação na qual o retrógrado Jair Bolsonaro estava à frente nas pesquisas e com grandes chances de vencer a eleição. Às vésperas de um novo certame, em junho de 2022, as preocupações com as ameaças (algumas delas já concretizadas) à democracia brasileira, as teses, as propostas de resistência ao “fascismo” comunicadas naquele livro permanecem na “ordem do dia”. Por essa razão, revisitaos a obra tantas vezes resenhada para reavivar as suas assertivas.
Os 22 autores que compõem o projeto são, em maioria, professores universitários brasileiros das áreas das ciências humanas e sociais, ativistas e cartunistas e um religioso identificados com o campo progressista. Todos contribuem para o cumprimento da meta do livro, descrita por Gallego: “aprofundar-se nas complexas dinâmicas das direitas desde diversos pontos de vista e análises”. Se quisermos de fato lutar contra as direitas, continua a organizadora, “com frequência antidemocráticas e retrógradas, devemos primeiro observar, escutar, enxergar a realidade e entendê-la para depois combatê-la. Não sabemos tudo. Aprendamos juntos.” (p.8). [i]
Para iniciar o aprendizado, compreendamos que as “direitas” às quais o título da obra se refere são plurais na terminologia. Os autores a tratam como “conservadorismo radical”, “direita”, “direita radical”, “extrema direita”, “grupos de direita”, “nova direita” e “novas direitas”. Abordadas, em sua maioria, como lideranças políticas, partidos políticos, movimentos e instituições da sociedade civil, as direitas nascem nos anos 80, a partir da reorganização “das classes dominantes”, representadas em várias instituições de pesquisa e financiamento (think thanks), como também das ameaças sofridas por essas classes médias em suas “oportunidades”, da conjunção de identidades e da conjuntura propiciada pelas redes sociais e internet, já nos anos 2000/2010.
Alguns autores destacam o caráter militante desses grupos (ao contrário do caráter financiado desses grupos), o transbordamento dessa militância para além dos partidos, alcançando editoras, movimentos e grande mídia, marcando a sensibilidades de jovens da periferia que passaram literalmente da esperança dos anos de crescimento econômico à indignação com a indiferença do Estado em termos de segurança e oportunidades, por exemplo. Outros ainda ressaltam as consequências que essas direitas de orientação militarizadas trouxeram à vida dos negros, dos pobres, das mulheres e das pessoas GLBTI. A “democracia, os direitos humanos, ao Estado laico e à diversidade humana”, segundo um desses autores, foram as principais vítimas dos fundamentalismos e extremismos advindos das novas direitas.
O diagnóstico está presente na maioria dos textos, enquanto as declarações propositivas são minoritárias. Como sair dessa situação? Em geral, estudar, denunciar, protestar são as medidas. Apenas um se engaja em solução radical: transformar “as condições socioeconômicas que lhe fornecem a base material” (p.35).
No que diz respeito ao espírito deste dossiê de Crítica Historiográfica, vale destacar as ideologias atribuídas às novas direitas brasileiras. Se hoje, autores divergem nos critérios de classificá-las e nos termos empregados para as designações, imaginem há quatro anos. Os autores agrupam os mesmos étimos de modo diferente, embora na maioria das combinações o libertarianismo esteja presente: “libertarianismo” (ultraliberalismo), “fundamentalismo religioso” (antiaborto, homofobia) e “anticomunismo”; “libertarianismo”, “monetarismo” (Chicago) e “neoliberalismo” (Áustria); “libertarianismo”, “conservadorismo” e “reacionarismo”; “libertarianismo”, “fundamentalismo religioso” e “anticomunismo”; “fundamentalismo religioso cristão” e “extremismo religioso cristão” (que ganham a forma de “protofascismo”).
Autores também significam as palavras de modo diferente e até divergente. Eles afirmam que os “conservadores” são os mais aguerridos combatentes da (falsa) “ideologia de gênero”; que o “conservadorismo radical” (mapeado nas redes sociais) divide brasileiros em “pessoas de bem” e “vagabundos”, ou seja, denunciam esse segundo tipo como humanos de comportamento desviante, resultantes de uma educação equivocada e do culto aos direitos humanos, que corrompem a inocência das crianças, cujo líder é Lula e os instrumentos são movimentos sociais, sindicatos e Supremo Tribunal Federal. Eles afirmam, por fim, que a ideologia das novas direitas pode ser sintetizada na ameaça do “inimigo interno”, sobrevivente do Discurso de Segurança Nacional dos tempos da ditadura, na reação ao estado de bem-estar social (neoconservadorismo) e na implantação de políticas de “austeridade” (neoliberalismo).
No que diz respeito especificamente ao lugar do direito, três textos se destacam. Dois deles tratam de direitos de grupos determinados e um da ação do poder judiciário. Em “Precisamos falar da ‘direita jurídica’”, Rubens Casara denuncia o “populismo jurídico” e o “ativismo jurídico” como ameaças à democracia, assim como os operadores do direito que interpretam as leis ao modo conservador e neoliberal, ou seja, que concebem o poder judiciário como “um mero homologador das expectativas do mercado” ou “instrumento de controle tanto dos pobres […] quanto das pessoas identificadas como inimigos políticos do projeto neoliberal” (p.92)
Dos dois que tratam de grupos, o primeiro descreve ações dos fundamentalistas aos “direitos LGBTI” na Constituinte de 1988 (orientação sexual) e no parlamento, de 2006 a 2015 (anti-homofobia, união estável de pessoas do mesmo sexo e identidade de gênero). “Moralidades e direitos LGBTI nos anos 2010”, de Lucas Bulgarelli, põe formalmente os direitos LGBTI e os direitos humanos em posições separadas, ambos combatidos pelos conservadores. O segundo texto – “Feminismo: um caminho longo à frente”, de Stephanie Ribeiro –, denuncia a negação do “direito ao aborto seguro e legal” (de modo direto pela direita e indireto pela esquerda) e a vertente feminista de orientação “liberal”. Segundo a autora, trata-se de “um feminismo sem comprometimento com outras mulheres […] ou que não precisa ter um posicionamento político […] pautado em ascensão individual e não em rompimento com estruturas opressoras” (p.133)
Apesar dos esclarecimentos, das denúncias e alertas, a coletânea não está isenta de afirmações controversas e/ou usos equivocados de conceitos. Duas delas chamam a atenção pelo primarismo: a inclusão do conservadorismo (uma macro ideologia) em pé de igualdade com o neoliberalismo, por exemplo, a afirmação de que a defesa do estado de direito é uma “reivindicação conservadora” que serve ao capital. Outras não menos inquietantes são: a admissão da existência de “neoliberais de esquerda”; a declaração de que o Ministério Público foi partícipe de todos os golpes de Estado; que o neoliberalismo” e a “nova direita” são ideais antagônicos; e que a esquerda liberal e neoliberalismo progressista são ideais sinônimos.
Usos equívocos que merecem a atenção do leitor são a tomada do fundamentalismo como fundamentalismo religioso, a definição de extremismo como uso de violência, sem a respectiva definição de violência; e o emprego de “feminismo liberal” com o sentido de feminismo neoliberal.
O grande termo ausente, porém, é o “ódio”, que está no título do livro e na apresentação da editora. Ele aparece (antifeminista e pró segurança pública) tangencialmente como o par oposto da esperança (orçamento participativo e bolsa família) entre os jovens pobres de Porto Alegre, o ódio às minorias, disparado pelas “classes dominantes” (FHCC), o discurso de ódio experimentado pelos pobres, diante da falta de “dignidade” resultante da crise econômica (F), o ódio ao pensamento livre disparado pelos reacionários contra os professores pelo ESP (FP), demonstrando que não é sentimento de esquerda ou de direita (contraditando, de certo modo, o que sugere a designação da obra).
As ausências e as situações controversas, ao contrário de borrarem a obra, somente reforçam a importância da sua leitura. Para profissionais do direito, principalmente, o livro pode auxiliar na mudança de sensibilidade dos apartidários e imparciais “operadores” para as causas das mulheres e da população LGBTQIA+. Para os professores de História, o livro serve duplamente: como testemunhos dos anos quentes do golpe e da campanha eleitoral de 2018 e como roteiro de para a ação, seja no planejamento da formação continuada, seja na orientação da ação no interior da escola. Aliás, os objetivos anunciados pela organizadora (e cumpridos com sobras) são em si mesmos pragmáticos e beneméritos: “observar, escutar, enxergar a realidade e entendê-la para depois combatê-la.” (p.9).
Sumário de O ódio como política: A reinvenção das direitas no Brasil
Prólogo | Gregório Duvivier
Apresentação | Esther Solano Gallego
- A reemergência da direita brasileira | Luis Felipe Miguel
- Neoconservadorismo e liberalismo | Silvio Luiz de Almeida
- A nova direita e a normalização do nazismo e do fascismo | Carapanã
- As classes dominantes e a nova direita no Brasil contemporâneo | Flávio Henrique Calheiros Casimiro
- O boom das novas direitas brasileiras: financiamento ou militância? | Camila Rocha
- Da esperança ao ódio: a juventude periférica bolsonarista | Rosana Pinheiro-Machado e Lucia Mury Scalco
- Periferia e conservadorismo | Ferréz
- A produção do inimigo e a insistência do Brasil violento e de exceção | Edson Teles
- Precisamos falar da “direita jurídica” | Rubens Casara
- O discurso econômico da austeridade e os interesses velados | Pedro Rossi e Esther Dweck
- Antipetismo e conservadorismo no Facebook | Márcio Moretto Ribeiro
- Fundamentalismo e extremismo não esgotam experiência do sagrado nas religiões, Henrique Vieira
- Moralidades, direitas e direitos LGBTI nos anos 2010 | Lucas Bulgarelli
- Feminismo: um caminho longo à frente | Stephanie Ribeiro
- O discurso reacionário de defesa de uma “escola sem partido” | Fernando Penna
- Sobre os autores
- Charges
Resenhista
Lucas Miranda Pinheiro é Doutor em História (UNESP/Franca), professor do Departamento de Relações Internacionais (DRI) e do Mestrado Profissional em Ensino de História (ProfHistória) da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Entre outros trabalhos, publicou (em coautoria) Perspectivas e Debates em Segurança, Defesa e Relações Internacionais e Relações Internacionais: Olhares Cruzados. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6576943412041943; Orcid: https://orcid.org/0000-0002-4821-0168; E-mail: cucapinheiro@yahoo.com.br.
Para citar esta resenha
GALLEGO, Esther Solano. O ódio como política: A reinvenção das direitas no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2018. 133p. Resenha de: PINHEIRO, Lucas Miranda. Bolsonarismo à direita? Crítica Historiográfica. Natal,.2, n. esp. (Novas Direitas em discussão), ago. 2022. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/um-elemento-ausente-resenha-de-o-odio-como-politica-a-reinvencao-das-direitas-no-brasil-organizado-por-esther-solano-gallego/>.
The Right and Radical Right in the Americas – Ideological Currents from Interwar Canada to Contemporary Chile | Tamir Bar-On e Bàrbara Molas
Casa Branca (Washington, DC/EUA). Ilustração de “The Gay Takeover of American Conservatism” | Cronicles (2022)
Em The right eand radical right in the Americas: currents from interwar Canada to contemporary Chile [A Direita e a Direita radical nas Américas: correntes ideológicas no entreguerras do Canadá ao Chile contemporâneo], Tamir Bar-On e Bàrbara Molas querem cobrir a lacuna deixada pelo recente The Oxford Handbook of the Radical Righ, editado por Jens Rydgren, que não inclui países da América Latina – diga-se de passagem, uma prática contumaz de imperialistas e ex-imperialistas, mesmo que o Handbook não tenha anunciado objetivos e perspectivas comparatistas. Entre as metas do livro, anunciado como, provavelmente, um pioneiro no tema (dentro dos marcos espaciais e temporais referidos), estão o exame das “tradições ideológicas de Direita”, a avaliação do impacto da “Direita” e da “Direita radical” na política latino-americana, o impacto das ideias nacionalistas e dos pensadores europeus e estadunidenses nessa tradição e a declaração de que a esquerda aprende muito quando estuda as distintas “tendências ideológicas” concorrentes.
Na introdução, o mexicano T. Bar-On e a canadense B. Molas, experimentados pesquisadores das direitas radicais, tentam atribuir unidade à coletânea que organizaram a partir do emprego da expressão “tradição ideológica” [right-wing ideological traditions] (são 13 tradições) e da significação minimalista de “direita” como todos os “teóricos, movimentos, partidos políticos e regimes que veem a desigualdade humana como ‘natural’ ou ‘normal’, seja no âmbito socioeconômico, seja baseado em diferenças raciais, culturais ou de gênero” (p.6). Em breve comentário sobre as tipificações de direita – incluindo Cas Mudde, Roger Eatwell, Pierre Ignazi Vedran Obucina e Jens Rydgren –, os organizadores concluem que as “forças políticas, movimentos e partidos” examinados podem ser designados, sem grandes problemas, por “direita”, “direita radical populista”, “direita nacionalista populista”, “direita radical”, “direita alternativa” ou “extrema direita” (p.6). Os pontos de interlocução entre os nove capítulos, contudo, são estabelecidos também pelos objetos que tangenciam ou encarnam tais tradições: catolicismo, corporativismo, multiculturalismo e etnonacionalismo. Leia Mais
Da direita Moderna à Direita Tradicional | Cesar Ranqueta Júnior
Cesar Ranqueta Júnior | Imagem: Unipampa
De autoria de Cesar Ranqueta Jr, o livro Da direita Moderna a Direita tradicional, publicado em 2019, tem duas ambições. A primeira delas é reconstituir historicamente o conceito de Direita, sistematizando argumentos e compilando autores que são ícones para sua fundamentação no mundo ocidental. A segunda é, a partir de uma análise dessa corrente de pensamento no Brasil, apresentar suas fragilidades, incongruências, antinomias e propor, a partir dessas análises, uma fundamentação teórica a ser seguida.
O interesse do autor por essa questão tem como base uma dupla crítica que é por demais razoável em uma sociedade cada vez mais polarizada e marcada por uma naturalização de conceitos do campo da política. A primeira é a recusa aos autores filiados ao pensamento de direita, assim como às suas ideias nos círculos especializados de debate, implicando em seu desmerecimento. A segunda está na forma pela qual esses pensadores tendem a ser adjetivados: “fascistas” e “anacrônicos”. Para Ranqueta, esta última é uma clássica estratégia da esquerda em desmerecer seu maior rival ideológico. Para nós, trata-se de um problema de metodológica científica. Leia Mais
O que há de novo na “nova direita”? identarismo europeu, trumpismo e bolsonarismo | Marcos Paulo dos Reis Quadros
Marcos Paulo dos Reis Quadros | Imagem: Radio Caxias
O que há de novo na nova direita, de Marcos Paulo dos Reis Quadros, resulta de uma investigação conduzida em seu estágio pós-doutoral, realizado na Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS), onde também cursou doutorado em Ciências sociais. O autor é professor e pró-reitor acadêmico do Centro Universitário Estácio Belo Horizonte (ESTÁCIO BH) e ministra cursos sobre “Direitas” e “Teoria Política” no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUCRS. Seus três livros discutem federalismo, e a relação “soft power” e violência em favelas no Brasil e trajetórias das direitas no Brasil e em Portugal. No seu mais novo trabalho, como explicitam título e subtítulo, sua meta é avaliar “caracteres distintivos dessa nova direita na Europa (os partidos identitários) e no Brasil (o bolsonarismo), fazendo, ainda, considerações sobre o “trumpismo nos Estados Unidos” (p.19). Suas questões são desafiadoras. Elas tocam nas causas da ascensão da direita e exploram a vivência das direitas em quatro planos: “pilares ideológicos”, “plataformas político-eleitorais”; comportamento nos parlamentos e comportamento nos governos. Dada a quantidade de planos, é uma tarefa desafiadora que ele se propõe a cumprir em três capítulos.
No primeiro – “Sobre os sentidos das direitas” –, o autor defende a validade da díade esquerda/direita como demarcador ideológico. Seu critério é o de N. Bobbio, ou seja, a relação que as pessoas mantem com o valor da igualdade. Assim, se para a esquerda (representada instrumentalmente por J.-j. Rousseau), o ser humano é bom e aperfeiçoável, sendo legítimos a rebeldia e a mudança. Para a direita (representada instrumentalmente por T. Hobbes), o ser humano é mal e imperfeito naturalmente, sendo legítimos a conservação da herança e a ordem (T. Hobbes). A direita, como se vê, é constituída por um núcleo – conservação da herança – e por conceitos outros como “ordem”, “ceticismo” e “idade do ouro”, acrescidos de outros tantos em determinados contextos. Aliás, fiel a R. Rémon, o autor toma a descrição de direita como um tipo ideal, mas há limites: “Pode existir um conservadorismo de inclinações autoritárias e um conservadorismo de pendor liberal; jamais, sublinhe-se, um conservadorismo progressista.” (p.43). Leia Mais
Como travar o fascismo. História, Ideologia, Resistência | Paul Mason
Paul Mason | Foto Antonio Zazueta Olmos
O músico e politólogo Paul Mason, além de professor convidado na Universidade de Sheffield, na Inglaterra, atuou como jornalista em diversos meios de comunicação, do The Guardian ao Channel 4. Com diversos livros publicados, quase todos best-sellers no mercado editorial europeu e estadunidense, ficou amplamente conhecido pelos livros Pós-Capitalismo: Guia para o Futuro (2016) e Um Futuro Livre e Radioso (2019). Sua vida pública está envolta em controvérsias, dentre elas a defesa à política do aborto, no Reino Unido, e a declaração de que as políticas reprodutivas não deveriam ser ditadas pelo Vaticano. Mason foi também acusado de antissemitismo por ser membro de um grupo numa rede social que compartilhava postagens contra a comunidade judaica. Em sua defesa, alegou que embora fosse membro do grupo nas redes não endossava suas publicações. Seu novo livro – Como travar o Fascismo: História, Ideologia, Resistência, escrito no período de restrições impostas pela pandemia da Covid-19, foi originalmente publicado no final de 2021 e teve sua versão para português de Portugal lançada em abril de 2022.
A obra foi clamada por pensar ações práticas para combater o avanço do fascismo, caso raro entre as publicações sobre a matéria. O livro de Mason acaba por ser um manifesto político, com forte posicionamento sobre questões transnacionais como a necessidade de união entre a esquerda e o centro político para frear o avanço da escalada autoritária e fascistizante em vários lugares do mundo. Ele retoma a discussão weberiana sobre o monopólio do uso da força e questiona o que faz a sociedade civil quando a extrema-direita quebra esse paradigma, corroendo um dos princípios legitimadores do Estado moderno. Apresenta uma preocupação efetiva sobre as formas e mecanismos de revigorarmos as democracias num momento em que a questão da corrupção e da desilusão da sociedade civil para com elas torna-se latente. Tudo isso escrito em linguagem simples, com usos massivos de adjetivos e forte apelo com frases em destaque, mas com grande embasamento de bibliografia clássica e alguma atualização historiográfica, por mais que nomes importantes na discussão sobre essa temática hoje não estejam presentes em suas referências. Leia Mais
Fighting the Last War: Confusion, Partisanship, and Alarmism in the Literature on the Radical Right | Jeffrey M. Bale e Tamir Bar-On
Estado Islâmico | Imagem: BBC News
Tudo parece tranquilo entre os investigadores das novas direitas do eixo Europa-América nos últimos cinco anos. Eles divergem conceitualmente (fascismo, neofascismo, posfascismo, ultradireita, nova direita etc.), ocupam-se de objetos distintos (ideologias, partidos, eleições, movimentos, redes, subculturas, líderes, programas, eleições e ações de governo), mas convergem na ideia de que a maior parte dos seus fenômenos-objeto representa ameaças à democracia liberal. Não sem razão, parte deles encerra os seus ensaios ou teses com a clássica alusão ao “que fazer?”, de Vladmir Lênin. Essa harmonia tem chance de ser abalada após a publicação de Fighting the Last War: Confusion, Partisanship, and Alarmism in the Literature on the Radical Right (2022). Nesse ensaio estendido, Jeffrey M. Bale e Tamir Bar-On denunciam a incompetência dos acadêmicos e jornalistas para interpretar fenômenos designados como “direita radical”, “extrema direita” ou “nova direita radical”, e a esperteza de políticos, empresários e oligarcas das Big Tech que tiram proveito dessa espécie de “histeria” intelectual para “deslegitimar e demonizar virtualmente todos os oponentes da atual ideologia ocidental reinante do globalismo progressista” (p.xvi).
Jeffrey Bale e Tamir Bar-On são dois experimentados professores universitários e investigadores de movimentos extremistas há décadas. Bale é historiador e especialista em movimentos religiosos e políticos “propensos à violência” e docente no Nonproliferation and Terrorism Studies (NPTS) e no Program at the Middlebury Institute of International Studies at Monterey (MIIS). O sociólogo Bar-On estuda ideologias políticas e novas direitas e é professor na School of Social Sciences and Government e do Monterrey Institute of Technology and Higher Education, no México. Para chamar os colegas às falas, eles apontam preconceitos acadêmicos, uso equivocado de conceitos, desinformação sobre o imperialismo islâmico, sobre seus traços teocrático, fundamentalista e (no caso dos jihadistas) violento.
The far right today | Cas Mudde
Cas Mudde (2018) | Imagem: Wikipédia
The far right today é o primeiro livro de Cas Mudde voltado para o público “não acadêmico” interessado no impulso das “novas direitas”, na América e na Europa, nomeada por ele como a “quarta onda”. O caráter de manual está na arquitetura da informação, na brevidade do texto, na ausência de digressões teóricas e de citações diretas, como também na clareza com que apresenta suas proposições e exemplos. Mudde quer apenas oferecer uma visão geral desse período marcada pela ação da direita (far right) “antissistema e hostil à democracia liberal”, que se configura em dois grupos: a extrema direita (extreme right), que rejeita a “soberania popular e a regra da maioria” (sendo, portanto, revolucionária), e a direita radical (radical right), que aceita a soberania popular e a regra da maioria, mas se opõe à “democracia liberal”, no que diz respeito, principalmente, aos “direitos das minorias”, à legitimidade das leis e à “separação de poderes” (p.19). Sua meta é instrumentalizar o leitor comum a avaliar “os desafios que a far right coloca para as democracias liberais no século XXI” e, consequentemente, defender essa democracia liberal das várias ameaças reais e potenciais listadas ao longo da obra. (p.17).
Cas Mudde é um cientista político que trabalhou em universidades da Hungria, Holanda, Escócia, Bélgica, Alemanha, Eslováquia, Suécia e Espanha. Nos últimos seis anos, e já radicado nos Estados Unidos da América (EUA), Mudde tem escrito sobre ideologias, movimentos e partidos europeus e estadunidenses de extrema direita e direita radical, além de refinar categorias como o populismo e explorar o fenômeno das ideias extremistas entre jovens (SPIA/UGEO). The far right today reúne grande parte desses estudos em capítulos que contam a história das novas direitas entre 1945 e 2019, suas ideologias, formas de organização, as lideranças, as atividades, os debates sobre as causas e consequências da quarta onda, as respostas dos Estados e, especificamente, as respostas relativas às questões de gênero. Este livro foi traduzido para mais de cinco idiomas apresentando diversas paratraduções em cada uma das suas edições. Leia Mais
Las nuevas caras de la derecha | Enzo Traverso
Enzo Traverso | Foto: ULF Andersen/Gamma-Rapho/Getty/O Globo
O que me levou a ler o livro de Enzo Traverso não foi apenas o título referente a esse dossiê de resenhas sobre “novas direitas”. O fato de ele ser um dos poucos historiadores de ofício a estudarem o fenômeno e de fazê-lo com ferramentas típicas de historiador – a categoria “regimes de historicidade” – foi o que pesou na escolha. Las nuevas caras de la derecha (2021) é a tradução argentina de Les nouveaux visages du fascisme (2017). O título em francês retrata com maior fidelidade o conteúdo desse livro do historiador italiano, atuante na Holanda, França e nos Estados Unidos da América (EUA): a narrativa do processo de transição do fascismo ao pós-fascismo, vivenciada por europeus e estadunidenses nos últimos vinte ou trinta anos, e comunicada imediatamente após atentados terroristas na França, como o massacre do Charlie Hebdo.
O livro é um agregado de entrevistas concedidas ao antropólogo Régis Meyran, em Paris (2016), sobre temas correlatos, atravessados pelo conceito de “pós-fascismo”. O prólogo à edição castelhana, contudo, é inteiramente dedicado a outro conceito: “populismo”. As constantes referências à expressão durante as entrevistas e forte apelo dos estudiosos de Filosofia e História Política ao conceito (em sua visão, já enfraquecido academicamente) levaram-no, provavelmente, a dispender duas páginas para diferenciar populismo e “tendências regressivas solidamente arraigadas” na Europa e nos EUA no século XXI.
Na tipologia, curiosamente, Traverso o reintegra como categoria, quando afirma que o populismo argentino e peronista (nacionalista, messiânico, carismático, autoritário e idealizador do povo) difere dos “populismos reacionários” estadunidense (D. Trump) e francês (M. Le Pen e E. Macron). O primeiro distribui riqueza entre os pobres e os insere no sistema democrático. Os segundos são orientados pela entrega da nação “las fuerzas impersonales del mercado”. (p.21). O primeiro, acrescentamos, foi gestado no imediato pós-guerra em mundo bipolar. O segundo, reitera o autor, foi gestado na “era da globalização neoliberal”. O primeiro, por fim (como vários movimentos políticos do século XIX), pode continuar a ser designado “populismo”. O segundo, entretanto, deve ser tipificado como “pós-fascismo”.
O primeiro capítulo do livro – “¿Del fascismo al posfascismo” – é dedicado à definição dessa nova categoria. O que vemos nas duas primeiras décadas do século XX, segundo Traverso, não é um resíduo nem um prolongamento do fascismo, ou seja, não é o caso de se falar em “neofascismo”. Os fascismos clássicos (italiano ou alemão) eram antidemocráticos e os pós-fascismos (ao menos o de Le Pen) querem “transformar el sistema desde dentro” (p.27). Os fascismos clássicos eram estatistas, imperialistas e queriam criar uma “terceira via entre liberalismo e comunismo” e os pós-fascismos (ao menos o de Trump) são neoliberais. Os fascismos clássicos possuíam uma visão de mundo e um “modelo alternativo de sociedade”, enquanto os pós-fascismos (o de Trump é, novamente o exemplo) não tem programa ou se reduz a um “Make America Great Again”. Os fascismos clássicos estavam fundamentados em uma “ideologia forte” e o pós-fascismo, exemplificado por Macron, significa o “grau zero de ideologia”.
Com as sucessivas comparações, somos levados a definir o pós-fascismo a partir de traços ideológicos na esfera política, econômica e social: combate à democracia, defesa do livre mercado, ausência de projeto societário e de ideologia forte. Traverso, contudo, acrescenta uma marca diacrítica fundamental: “Lo que caracteriza al posfascismo es un régimen de historicidade específico – el comiezo del siglo XXI – que explica su contenido ideológico fluctuante, inestable, a menudo contradictorio, en el cual se mezclan filosofias políticas antinómicas.” (p.26).
A oralidade que marca o texto e a interrupção do entrevistador, provavelmente, o impede de detalhar esse novo “regime de historicidade”. Tomando como base o seu livro anterior (citado pelo apresentador, Régis Meyran), somos induzidos a compreendê-lo como um tempo sem futuro (horizonte de expectativas), algo que explicaria, inclusive, o caráter instável e contraditório das ideologias e as recorrentes antinomias em termos de “filosofia política” no interior dos movimentos e partidos. Esse auxílio, contudo, é insuficiente para relevar as contradições do próprio Traverso nas definições de pós-fascismos por meio de exemplos.
Afinal, se as antinomias são o caráter dos movimentos pós-fascistas, poderíamos rotulá-los como antidemocráticos? Se os fascismos italiano e alemão reuniam “corrientes diferentes, desde las vanguardias futuristas hasta los neoconservadores, de los militaristas más belicosos a los pacifistas muniquenses etc.” as antinomias deveriam continuar traço diferenciador dos movimentos e partidos do século XXI? Se as categorias “horizonte de expectativa” e “espaço de experiência” estão fundadas na ideia de continuidade passado/presente/futuro, porque afirmar peremptoriamente que as novas direitas do século XXI, exemplificadas na figura de Trump, não representariam uma continuidade histórica e nem uma herança com o fascismo histórico (mesmo que o sujeito citado não as reivindicasse conscientemente)?
O segundo capítulo – “Políticas identitarias” – expressa concepções de Traverso sobre o emprego da categoria “identidade”, acompanhada de suas críticas aos discursos identitários difundidos, principalmente, pela Frente Nacional (FN) e o “Partido de Indígenas de la República” (PIR). Sua ideia de identidade é remetida (entre outros referenciais) a P. Ricoeur – que lhe inspira na caracterização das identidades veiculadas pelos partidos de esquerda (ipseidade – identidade histórica) e de direita (mesmidade – identidade essencial). Em termos abstratos, Traverso elogia as políticas identitárias de esquerda que reivindicam o “reconhecimento”, ao passo que as de direita reivindicam a “exclusão”.
A esquerda radical (Traverso lamenta) nunca soube conciliar diferentes pautas identitárias, pondo o fator econômico (a classe) acima das identidades de raça, gênero e religião. Nesse sentido (ainda que de modo irônico, para Traverso), a nova direita representada pela FN, por exemplo, é mais eficiente, pois associa a defesa dos “blancos humildes”, manifestando, assim, a sua simpatia pela categoria interseccionalidade. Quanto às críticas às políticas de direita, estas não são nada genéricas. O laicismo, as identidades nacionais e étnicas difundidos pela FN são reacionárias (defensivas), ilógicas, antieconômicas e antissociais.
A melhor parte da discussão entabulada por Traverso, nesse capítulo segundo, está nas razões que ele aponta para esse reacionarismo. As políticas identitárias das novas direitas (que geram a exclusão de migrantes), o laicismo autoritário de Estado (que negam a cidadania plena aos ex-colonizados e que prometem o retorno à Europa anterior ao Euro) são produtos da própria República e do Colonialismo. Assim, não se pode acusar a FN de antirrepublicana, posto que as exclusões do tipo fazem parte da história da República francesa recente. Nesse trecho, quase que ouvimos Traverso declarar que não há (não houve) um germe ultradireitista. Foi a própria serpente (a República francesa) que pariu os identitarismos excludentes dos novos reacionarismos.
Aqui, vemos como o autor põe grupos de esquerda e de direita sob o mesmo solo – que gera as mesmas distorções. Ele avança ainda mais na indicação de semelhanças quando afirma que as “direitas radicais”, os “expoentes liberais e conservadores” não mais buscam “legitimar uma política” por meio da “ideologia”, que “se improvisa a posteriori”. Chega a empregar a expressão “pós-moderna” para tipificar esse traço do nosso tempo. Mesmo que esteja entre aspas, essa expressão não cabe na passagem.
Se ele admite a legitimidade política não ideológica como consequência de uma relação pós-moderna dos humanos com o tempo, as continuidades de ideias e práticas das novas direitas com as ideias e práticas de direitas do século XIX e XX não mais se sustentam. Se, ao contrário, ele reitera a interpretação das novas direitas dentro dos quadros de um novo regime de historicidade, a condição “pós-moderna” não faz nenhum sentido no seu texto.
Além desse deslise teórico, Traverso revela um misto de idealismo em relação à ideia de partido político, em prejuízo, inclusive da sua abordagem historicista (realista) sobre as novas direitas. A vida partidária, mesmo em tempo anterior ao século XXI, é marcada por estratégias de sobrevivência que resultam em diferentes comportamentos, desde a manutenção de um programa, passando pela captura dos eleitores, até a manutenção do poder, quando à frente do Executivo.
No terceiro capítulo do livro – “Antissemitismo e islamofobia” –, as questões identitárias ganham ainda maior espaço. O entrevistador parece determinado a extrair de Traverso uma crítica às definições dos termos em pauta e uma comparação entre os dois fenômenos, tomando-os em seus elementos aparentemente similares: o antissemitismo na primeira metade do século XX e a islamofobia no início do século XXI. O autor resiste várias vezes a compreendê-los como fenômenos simétricos e, implicitamente, a considerá-los “ideologias”. É certo, julga ele , que as afinidades existem: para os antissemitas dos anos 30 do século passado, judeus e bolchevistas eram um “outro” ameaçador, enquanto para os islamofóbicos, os mulçumanos e os terroristas islâmicos são um novo outro inimigo; o antissemitismo estruturava os ideais nacionalistas do início do século XX, enquanto a islamofobia estrutura os nacionalismos europeus do início do século XXI.
Essas similitudes, contudo, são menos expressivas quando observadas caso a caso, com destaque para a experiência francesa. Para Traverso, a “judeofobia” é combatida pelo Estado francês que, por sua vez, legitima a islamofobia. Os judeus estão integrados econômica, social e culturalmente, enquanto africanos e asiáticos e seus descendentes, mesmo nascidos na França, experimentam uma cidadania de segunda categoria. Nos anos 60 do século passado, ao lado dos negros, judeus marcharam em luta contra o racismo e pelos direitos civis. Hoje, organizações civis que congregam judeus confundem o Estado de Israel e comunidade judaica, oprimindo palestinos em suas próprias terras: “La memoria del Holocausto se há convertido en una religión civil republicana, en tanto que la memoria de los crímenes coloniales sigue negada o acallada, como en el caso de las controvertidas leyes de 2005 sobre el ‘papel positivo’ de la colonización.” (p.88). A emergência da islamofobia contemporânea, conclui o autor, não pode ser reduzida ao racismo clássico dos séculos XIX e XX ou ao fator imigração. O colonialismo entranhado na República é o que explica (na certeira expressão de Meyran) o “racismo de pobre” em vigor na França.
Observem que não apresentei nenhum senão ao capítulo terceiro e o mesmo ocorre com o quarto capítulo – “¿Islamismo radical o islomofascismo? El Estado Islãmico a la luz de la historia del fascismo”. Nele, novamente, Meyran tenta extrair de Traverso uma posição sobre a potência heurística da categoria (“islamofascismo”) e, consequentemente, sobre a validade de tipificar o Estado Islâmico (EI) com expressão do fascismo. Ele rechaça a proposição, embora reconheça semelhanças entre os fascismos italiano, alemão e francês e as ações do EI.
Elas estariam principalmente, nos contextos de emergência do primeiro e do segundo fenômeno (desestabilização da Europa pós Primeira Guerra Mundial e desestabilização de países árabes pós invasões soviéticas, estadunidenses e europeias no Iraque e Afeganistão, por exemplo) e no caráter conservador das suas revoluções (o emprego da tecnologia para propagandear uma sociedade “obscurantista”, baseada em um “passado imaginário”. As diferenças, contudo, superam as similaridades mais gerais, quando, segundo Traverso, o analista aborda os fenômenos diacronicamente e em suas particularidades.
hemos visto surgir fascismos en América Latina, es decir, fuera de Europa: ahora bien, estos se instalaron en el poder gracias al apoyo de los imperialismos, las grandes potencias. En Chile, uno de los peores regímenes fascistas latinoamericanos se instaló mediante un golpe de Estado organizado por la CIA. […] La fuerza del EI, al contrario, radica en el hecho de mostrarse ante los ojos de muchos musulmanes como un movimiento de lucha contra el Occidente opresor. Eso vuelve problemático definir este movimiento como fascista.
Fascismo é conceito histórico, não devendo ser usado como categoria analítica. Totalitarismo (de H. Arendt) é categoria analítica adequada ao exame do EI, mas limitada à sua natureza abstrata (de categoria), a exemplo da categoria nacionalismo. O nacionalismo fascista é cimentado pelo “culto ao sangue” (Itália) e “culto ao solo” (Alemanha) e o nacionalismo do EI é “universalista”; o fascismo (categoria ou conceito histórico?) do Chile foi apoiado pelo imperialismo estadunidense que combate agora as ações do EI; o fascismo da Itália e da Alemanha emergem como alternativa à democracia liberal, enquanto o EI emerge em território que nunca praticou a democracia; o fascismo da Itália e da Alemanha eram anticomunistas enquanto o EI nunca encontrou a resistência de “uma esquerda radical”.
Ao listar meia dezena de razões para não tipificar o EI como fascista, Traverso demonstra os perigos das conclusões sobre causas e consequências de fenômenos históricos com base apenas no emprego de categorias (sobre todo os tipos ideais). Ideologias são apenas uma variável. Não é a religião que explica o EI: “hay que estudiar l la relacion que existe entre Marx, el marxismo, la Revolución Rusa y el estalinismo […] resulta evidente que el EI no es la revelación del islan ni la única expresión posible del islam, pero si uma de sus expresiones […] la Inquisición no es la única expresión posible del cristianismo, !también existe la teologia de la Liberación”. (p.92) Traverso, por fim, deixa implícito que quando cientistas sociais e historiadores tomam a ideologia como causa eles enviesam os resultados. Quando estrategistas e políticos agem dessa forma, o prejuízo é em escala. Eles criam “espantalhos”, omitem o assentimento popular ao EI, o financiamento ocidental ao EI, a contribuição ocidental midiática à banalização da violência (adotada pelo EI), a instrumentalização das ideias de direitos humanos, liberalismo e democracia para exterminar os movimentos emancipatórios de povos africanos e asiáticos.
Nas conclusões do livro – “Imaginario político y surgimento del posfascismo” –, mais uma vez, o leitor perceberá a tensão entre o reiterar de uma tese (a falência das utopias do século XX, a exemplo do comunismo e do fascismo, dá vasão às investidas pós-fascistas, encarnadas pelas novas direitas e o terrorismo islâmico), a instabilidade da aplicação dos conceitos (o “modelo antropológico do neoliberalismo”, também referido como “idolatria do mercado”, é ou não uma ideologia dos últimos 20 anos?) e a atribuição de valor na causação das novas direitas (a extinção das ideologias do século XX, a precariedade socioeconômica de grandes segmentos populacionais, na Europa, Ásia e África ou os dois condicionantes simultaneamente?).
Da mesma forma, ainda na conclusão, Traverso consolidará, sinteticamente, as principais ideias que se propôs a defender durante a entrevista: 1. Novas direitas (ou direitas radicais) e islamismos não são fascistas; 2. Novas direitas e islamismos são “sucedâneos” reacionários (passadistas e xenófobos) das utopias do século XX; 3. Movimentos sociais e partidos políticos de esquerda (com suas iniciativas, ironicamente, dispersas em um mundo globalizado) não são capazes, no curto prazo, de preencher esse vazio utópico; 4. “Religiões cívicas” como o republicanismo francês pós massacre Charlie Ebdo e memorialismo anti-holocausto, respectivamente, acrítico e vitimista, são incompetentes como freios às novas direitas. Sua percepção de futuro, contudo, é otimista: “no hay inexorabilidade alguna. Pueden myy biente aparecer en cualquer momento mentes creadoras, dotadas de una poderosa imaginación, y proponer una alternativa, outro modelo de sociedad.” (p.116).
No início desta resenha, anunciei a razão da minha escolha: queria observar o que caracterizaria o trabalho de um historiador de formação e ofício que estuda o fenômeno das “novas direitas”. A resposta serve como avaliação geral do livro. Em Las nuevas caras de la derecha o noviço de história é beneficiado, talvez, pelo gênero textual (marcado pelos diálogos entre Meyran e Traverso) que elimina a organização lógica de um texto e (se o noviço aceita participar como observador) em benefício da liberdade de suspender a leitura e refletir sobre o lido sem perder o fio da meada (já que as questões ou temas se encerram ao final de uma ou duas intervenções do entrevistador).
Esse expediente possibilita a percepção das várias tensões que atravessam o livro e que ensinam de modo mais realista como trabalha um historiador que se ocupa do referido tema, obviamente, aos que estão predispostos a aprender: a tensão sobre as escolhas de variáveis para a comparação (sobre o que serve e o que não serve para fazer analogias, se mais as semelhanças, se mais as diferenças) e as justificativas políticas empregadas para fazê-lo; a tensão sobre a adequabilidade e a eficácia do emprego do conceito histórico e da categoria analítica; a tensão da escolha entre se comportar como historiador tipicamente historicista (examinando múltiplas variáveis e construindo contextos prováveis a partir de múltiplos pontos de vista) e um cientista social (empregando modelos/tipos e fazendo generalizações sobre sujeitos concretos a partir de categorias/abstrações); a tensão de perceber a oportunidade para problematizar uma situação concreta, mediante antinomias ou explicações unilaterais, e de encontrar o melhor momento para reiterar a sua tese sobre os estados de coisas nos quais estamos envolvidos no início do século XXI (Estado Islâmico, Trump, Le Pen): fenômenos pós-fascistas resultam do fracasso das revoluções do século XX e da crise do capitalismo como fornecedores de horizontes de expectativas para populações alijadas da globalização e vitimadas pelo colonialismo.
Sumário de Las nuevas caras de la drecha
- Prefacio a la edición castellana
- 1. Prólogo
- 2. ¿Del fascismo al posfascismo
- 3. Políticas identitarias
- 4. Antisemitismo e islamofobia
- 5. ¿Islamismo radical o “islamofascismo”? El Estado Islámico a la luz
- de la historia del fascismo
- Conclusión. Imaginario político y surgimiento del posfascismo
- Sobre el autor
Para citar esta resenha
TRAVERSO, Enzo. Las nuevas caras de la drecha. Buenos Aires: Titivillus, 2021. 234p. Resenha de: FREITAS, Itamar. As recentes direitas de um historiador. Crítica Historiográfica. Natal, v.2, n. esp. (Novas Direitas em discussão), ago. 2022. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/3237/>.
Menos Marx, Mais Mises: o liberalismo e a nova direita no Brasil | Camila Rocha
Camila Rocha | Imagem: Diplomatic
Menos Marx, mais Mises: o liberalismo e a nova direita no Brasil, de Camila Rocha, resulta da pesquisa de doutorado em Ciência Política, desenvolvida na Universidade de São Paulo/USP e defendida em 2018. A pesquisa ganhou os prêmios de Tese Destaque USP no âmbito das Ciências Humanas e melhor tese pela Associação Brasileira de Ciência Política. Em 2021, após adaptações na estrutura e na linguagem, com vistas a atingir a comunidade leitora não especializada, o trabalho foi publicado pela editora Todavia.
A obra está organizada em introdução, três capítulos centrais, estes divididos em subcapítulos de número e extensão variável, e considerações finais. Nuclearmente no livro é o argumento de que a chamada “nova direita” brasileira constitui “contra-públicos” que se organizaram fora das estruturas tradicionais de poder; se afastariam da “velha direita” por serem críticos e não mostrarem-se tributários nem devedores da ditadura-civil militar; e resultarem de acomodações entre o ideário “ultraliberal”, no âmbito da economia, com perspectivas “conservadoras”, no campo das relações sociais, algo que o debate político corrente na mídia e imprensa tem tratado, por vezes, de maneira simplista e inadequada sob a expressão “pauta de costumes”. Leia Mais
Vozes negras na história da educação: racismo/educação e movimento negro no Espírito Santo (1978- 2002) | Gustavo Henrique Araújo Forde
O livro ora resenhado é resultado da pesquisa realizada pelo autor no doutorado em educação na Universidade Federal do Espírito Santo. Selecionada no Edital de projetos da Secretaria de Estado da Cultura do Estado do Espírito Santo. O texto revela uma face ainda muito silenciada da presença da população negra na história da educação brasileira.
As principais questões que movimentaram Forde ao longo da pesquisa foram: de que modo a educação foi constituída como pauta central do movimento negro do Espírito Santo? Quais usos e sentidos foram atribuídos à educação pelo conjunto desse movimento? De que maneira a militância negra movimenta e mobiliza seus espaços-tempos para o combate ao racismo na educação? De que modo a categoria “negro” é concebida na agenda política do movimento negro? Quais implicações o movimento negro tem produzido no contexto da educação escolar? São questões que o autor responde de forma crítica ao longo de cada capítulo do livro. Leia Mais
Os militares e a crise brasileira | João Roberto Martins Filho
João Roberto Martins Filho | Foto: Gabriela Di Bela/The Intercept
Os militares e a crise brasileira é uma obra escrita a muitas mãos como declara o seu apresentador e organizador, o cientista político, João Roberto Martins Filho. São pesquisadores das ciências sociais e humanas que destrincham, com análises e evidências consistentes, o emaranhado em que nos encontramos, desde a retomada, em alta intensidade, da ação política das Forças Armadas quando vislumbraram em Jair Bolsonaro, o capitão “dono de uma fé de ofício pobre, reprovável, brutal e curta”, o representante para liderar a agenda autoritária que estava em latência desde o fim da ditadura militar que oprimiu o Brasil, de 1964 até 1985.
Os responsáveis pelos quinze textos da coletânea são parte significativa do conjunto de estudiosos sobre as Forças Armadas. Muitos estão conectados à Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED) e a maioria têm larga produção acadêmica na área. O livro é composto por quinze capítulos e uma entrevista com Héctor Saint-Pierre, concedida à Ana Penido. Na fala, esse especialista discorre sobre papel desempenhado pelas Forças Armadas no contexto internacional a partir de três temas: a autonomia diante do Estado e sua relação com a democracia; as percepções de hegemonia regional; e os conceitos de inimigo na dinâmica de guerra e paz. Leia Mais
O Projeto Várzea: uma história relacional da ciência na Amazônia brasileira (1945-2019) | Décio de Alencar Guzmán
Contar uma história que pudesse, ao mesmo tempo, dar conta da complexa realidade biofísica das Amazônias brasileiras e da profusão de relações humanas no desenvolvimento da pesquisa científica na região. Essa foi a tarefa que Décio de Alencar Guzmán propôs e desenvolveu em O Projeto Várzea: uma história relacional da ciência na Amazônia brasileira (1945- 2019). Pesquisador de longa data das histórias amazônicas, Guzmán expõe com clareza seu foco de pesquisa e sob qual perspectiva pretende analisar suas fontes históricas: o livro é a “história relacional de um grupo de pesquisa: o Projeto Várzea (PV)[…] grupo científico voltado ao estudo das várzeas, áreas inundáveis no vale amazônico” (p. 15). Apontando para a relativa escassez de pesquisas científicas sobre esse biótopo específico das regiões amazônicas, o autor indica a relevância do trabalho de pesquisa desenvolvido pelo PV como um dos principais fatores que o conduziram à pesquisa. Leia Mais
Hombre/¡Aún vives! Un obrero chileno cuenta de los tiempos de Allende y de Pinochet | Orlando Mardones
Detalhe de capa de Hombre, ¡Aún vives! Un obrero chileno cuenta de los tiempos de Allende y de Pinochet
Este libro es una de las pocas autobiografías políticas de obreros latinoamericanos y, al mismo tiempo, un documento sobre la historia social de Chile de mediados del siglo XX. Mardones habla de la flagrante pobreza de la población rural, de la brutalidad en muchas familias, que también vivió él mismo de niño, de las condiciones de trabajo y del ambiente político en una gran empresa, la Empresa Nacional de Electricidad S.A., Endesa, de su compromiso con la Unidad Popular, de la tortura y del encarcelamiento.
Orlando Mardones Badilla, nacido en 1946, creció en pueblos y asentamientos sin nombre en la región de Valdivia. Los hombres trabajaban en los latifundios y en los aserraderos, casi sin derechos, y reinaba un humor arcaico de “lucha de todos contra todos”. La escuela le enseñó la obediencia y el “mito de la nación”. A los 14 años, Mardones encontró empleo en una pequeña tienda, como cargador. La falta de perspectivas lo llevó a hacer el servicio militar, donde estuvo un año voluntariamente. Luego, más bien por casualidad, logró un notable ascenso social: encontró en Talca un trabajo en Endesa. Fue durante la construcción de la presa del río Rapel cuando conoció un entorno obrero seguro de sí mismo y solidario. Leia Mais
América Latina actual. Del populismo al giro de izquierdas | Pedro Martínez Lillo e Pablo Rubio Apiolaza
Pedro Martínez Lillo | Imagem: Fundación Carolina
Decía Faulkner, en una de sus reflexiones más celebradas, que el pasado no pasa nunca, ni siquiera es pasado. Esta percepción del pasado como elemento dimensional del presente es una de las prerrogativas esenciales de cualquier historiador que desee explicar los pormenores de la actualidad a través del análisis histórico y, con ello, aún a riesgo de entrar en el delicado laberinto de las hipótesis, ofrecernos claves para imaginar el futuro.
Contar la historia política, social, internacional y económica de América Latina, desde el fin de la Segunda Guerra Mundial hasta el momento en el que se escriben los últimos párrafos, no es una tarea sencilla. A la variedad de países que componen su espectro geográfico se unen las características intrínsecas de cada país y de cada región del continente, todo ello dentro de un contexto internacional que va desde la Guerra Fría hasta la globalización actual y la entrada de nuevos protagonistas internacionales. Una labor compleja, sin duda, que Pedro A. Martínez Lillo y Pablo Rubio Apiolaza solventan con brillantez mediante el recurso de agrupar los avatares históricos de la región bajo el paraguas de la coyuntura internacional del momento, siempre dando importancia a la presencia sempiterna de los EE.UU. y su sombra, directa o indirecta, en Latinoamérica, al tiempo que se atienden las particularidades de cada región y de cada país. Leia Mais
Toward the Health of a Nation: The Institute of Health Policy, Management and Evaluation — The First Seventy Years | Leslie A. Boehm
Leslie A. Boehm | Imagem: University of Toronto
This book is a lengthy institutional history of the Institute of Health Policy, Management and Evaluation (IHPME) at the University of Toronto, published by the Institute itself. The Institute and its various precursors were the most important public health education programs in Canada for most of the twentieth century, providing essential training for individuals who would shape public health at the local, provincial, and federal levels. The genealogy of the IHPME goes back to the founding of the School of Hygiene at the University of Toronto in 1924, with Dr. J. G.
FitzGerald as its director. Funded by the Rockefeller Foundation, the School would establish an international reputation under FitzGerald’s leadership. The rapid expansion of hospitals after the Second World War drove demand for a new class of managers. The Department of Hospital Administration, nestled within the School of Hygiene, welcomed its first class in September 1947. Not surprisingly, graduates of the hospital administration program found employment in hospitals and in government. After 1967, the focus shifted from “hospital” to “health” administration as the school refined its programs, while concurrently solidifying its position as an important training centre for a cadre of administrators who would become influential throughout English-speaking Canada. Leia Mais
Genèse et legs des controverses liées aux programmes d’histoire du Québec (1961–2013) | Olivier Lemieux
Detalhe de capa de Genèse et legs des controverses liées aux programmes d’histoire du Québec (1961–2013)
S’engager à narrer le récit de l’enseignement de l’histoire au Québec est un défi de taille, considérant les conflits et les controverses que le sujet soulève. Lemieux s’y est intéressé dès son parcours doctoral et le présent livre en est un des résultats. La parenté entre ce livre et la thèse de Lemieux est frappante dans le meilleur des sens : la plume de l’auteur est assurée, le texte est limpide, les éléments sont bien sélectionnés, expliqués et résumés. Le texte est organisé autour d’une question clé : pourquoi l’enseignement de l’histoire nationale, tel qu’il est présenté dans les programmes officiels québécois, est-il au centre de controverses? Avec une telle question, on peut comprendre que Lemieux, dans son développement, doit s’attarder aux grands débats, aux enjeux de société et aux controverses ayant agité le Québec autour de ce sujet sensible.
Nous devons commencer par souligner la présence d’une préface élogieuse de Claude Corbo qui donne le ton au livre. Ce dernier est organisé autour de cinq chapitres, un premier expliquant la démarche menée par Lemieux pour retracer le fil conducteur permettant de répondre à sa question de recherche et les quatre suivants organisant les différents éléments constitutifs du récit qu’il brossera de l’enseignement de l’histoire. Leia Mais
A imprenta y tírese. 80 años de la editorial CSIC | José María López Sánchez e Aba Fernández Gallego
La Editorial CSIC celebra su 75º aniversario | Imagens: CSIC
El segundo número de la flamante colección “Historia del CSIC” de la editorial del Consejo es un voluminoso libro editado en tapa dura que aborda, en esta ocasión, no tanto la historia administrativa e institucional del Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC) (que también), sino, más concretamente, la historia de su Oficina o Departamento de Publicaciones. En otras palabras, el lector o lectora que se acerque a este libro encontrará en él una exhaustiva historia -fundamentada, principalmente, en un intenso y riguroso trabajo de investigación en fondos archivísticos- de los orígenes y el desarrollo de lo que hoy es la Editorial CSIC.
Una historia, por tanto, que hunde sus raíces necesariamente en los albores de la dictadura del general Francisco Franco (1892-1975) y en las entrañas del arbor scientiae del CSIC, la “joya de la corona” -dirán los autores- del ministro José Ibáñez Martín (1896-1969), su fundador y primer presidente. Así, navegando entre órdenes ministeriales, informes y demás documentos oficiales, los lectores conocerán cómo al tiempo que se articulaba normativamente al Consejo se creaba también, en abril de 1940, el cargo de Vicesecretario General del CSIC que ocuparía Alfredo Sánchez Bella (1916-1999). Él será el principal encargado de dar forma al embrión de la Oficina de Publicaciones del CSIC gestada entonces, paradójicamente, a partir del depósito de publicaciones de la extinta Junta para Ampliación de Estudios (JAE) y de los contratos de edición recibidos del Instituto de España. No obstante, pronto se pondría en funcionamiento un verdadero servicio editorial propio que encontró en la figura de Rafael de Balbín Lucas (1910-1978) al hombre que orientaría su política de publicaciones durante más de treinta años.
Transfeminismo | Letícia Carolina Pereira do Nascimento
Letícia Carolina Pereira do Nascimento | Foto: Raissa Morais
“Eu travesti, assumi que sou divina. E criei a mim mesma. Somos criadoras, crias de dores. A vida se faz frente à morte voraz” (Letícia NASCIMENTO, 2021). É por meio dessas articulações que Letícia Nascimento dá pistas, na epígrafe da obra, do que podemos esperar de Transfeminismo. O livro, publicado pela editora Jandaíra em 2021, compõe a coleção “Feminismos Plurais”, a qual é organizada pela feminista negra e filósofa Djamila Ribeiro. A autora, ademais, é a responsável pela apresentação da publicação, na qual destaca a importância da coletânea enquanto produção intelectual didática empreendida por mulheres negras, mulheres indígenas e homens negros, além de poderosa ferramenta para revelar outras narrativas. No caso de Transfeminismo, isso se dá mediante os escritos de uma mulher travesti, negra, gorda, pedagoga, doutoranda e que atua como professora na Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Com a pergunta “E não posso ser eu uma mulher?” (NASCIMENTO, 2021, p. 20), Letícia Nascimento abre seu caminho à empreitada de debater o transfeminismo a partir do seu olhar e do olhar de outras mulheres transexuais e travestis. A famosa frase de Sojourner Truth – “E eu não sou uma mulher?” (NASCIMENTO, 2021, p. 17) -, pronunciada durante uma conferência em Ohio, Estados Unidos, em 1851, é renovada pela perspectiva da autora por duas vias: a primeira alinhada ao pensamento de Truth, na qualidade de mulher negra, na desconstrução da visão de uma mulher universal, mas dando um passo além ao pensar nas travestis e transexuais e em suas vivências das feminilidades; e a segunda ao trazer o verbo poder como oposição às pessoas, e muitas vezes às feministas, que insistem em delimitar “quem pode e quem não pode ser uma mulher” (NASCIMENTO, 2021, p. 20). Leia Mais
A linguagem fascista | Carlos Piovezani e Emilio Gentile
Carlos Piovezani e Emilio Gentile | Imagens: UFSCAR e Igoriziano
A ascensão da extrema direita nos últimos anos aconteceu em sequência ao fim de governos que adotaram posturas progressistas no que condiz à concessão de direitos. Assim, após o governo de Barack Obama (2009-2017), o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, tivemos a eleição do republicano Donald Trump; no Brasil, por sua vez, os doze anos de governos petistas foram encerrados com o impedimento da presidente Dilma Rousseff, em 2016. Dois anos mais tarde, Jair Messias Bolsonaro, então filiado ao Partido Social Liberal (PSL), foi eleito presidente. Frente a esse quadro, interrogamo-nos: como lideranças extremistas, associadas a discursos fascistas, conseguiram conquistar legiões de seguidores? Essa questão foi o cerne do livro A linguagem fascista, escrita por Carlos Piovezani e Emilio Gentile, lançado pela editora Hedra, em 2020.
Os autores possuem amplo conhecimento nos estudos acerca de linguagem e dos fascismos; Piovezani é linguista e professor associado do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de São Carlos. Além disso, atuou como professor convidado na École de Hautes Études en Sciences Sociales e foi autor de obras como A voz do povo: uma longa história de discriminações (2020). Já Emilio Gentile é historiador e professor emérito da Università La Sapienza de Roma, sendo considerado um dos principais especialistas mundiais em fascismo. Entre os livros publicados por ele estão Le origini dell’ ideologia fascista (1975) e Quien és fascista (2019). Leia Mais
Entre la vida y la muerte. Salud y enfermedad en el Uruguay de entresiglos | Andrés Azpiroz, Ana Cuesta, Gabriel Fernández e Laura Irigoyen
Entre a vida e a morte. Exposição | Imagem: Museo Histórico Nacional de Uruguay
Entre la vida y la muerte. Salud y enfermedad en el Uruguay de entresiglos es el catálogo de una muestra del mismo nombre organizada por el Museo Histórico Nacional en el marco de la celebración del Día del Patrimonio, que en el año 2020 el Ministerio de Educación y Cultura a través de la Comisión del Patrimonio Cultural de la Nación, tuvo como lema «Medicina y salud: bienestar a preservar» y homenajeó a la figura del Dr. Manuel Quintela (1865- 1928), el prestigioso médico que hacia 1910 tomó la iniciativa de crear el Hospital de Clínicas en el ámbito de la Facultad de Medicina de la Universidad de la República. El contexto excepcional de pandemia de COVID/19 que vivía el mundo en ese momento, envistió al Día del Patrimonio y a la exposición del Museo de un carácter singular.
La exposición Entre la vida y la muerte. Salud y enfermedad en el Uruguay de entresiglos fue inaugurada al público en la Casa Rivera del Museo Histórico Nacional el 3 de octubre de 2020, cuando comenzaron a reabrir los espacios culturales luego de la pandemia. Aunque estuvo disponible al público hasta el 29 de abril de 2022, durante 2020 permaneció cerrada en algunas ocasiones en función de la situación de la pandemia en el país. La muestra fue el resultado de un trabajo colaborativo entre el Museo Histórico Nacional, el Departamento de Historia de la Medicina de la Facultad de Medicina de la Universidad de la República, el Laboratorio de Microbiología de la Intendencia de Montevideo y el Espacio de Recuperación Patrimonial del Hospital Vilardebó. Contó además con las gestiones del historiador de la medicina Juan Gil Pérez y el aporte de coleccionistas privados como Andrés Linardi, Carlos Hernández y Fernando Lorenzo. Leia Mais
História recente da política externa da América Latina uma questão de elites? | Locus: Revista de História | 2022
Carlos Enrique Paz Soldán | Imagem: Wikiwand
El estudio de la historia reciente de las relaciones internacionales latinoamericanas resulta fundamental para explicar una etapa histórica en la cual la convergencia y la integración globales se aceleraron en muchos aspectos, a pesar de los síntomas actuales de ruptura de la tendencia regionalista y desafección por el multilateralismo. La importancia de estos estudios reside, así, en el análisis de la multiplicidad de consecuencias que estos procesos suponen, tanto para los fenómenos domésticos, como para las transformaciones acaecidas en el escenario regional y global.
El título de este dossier proponía una aproximación a los estudios sobre la historia de la política exterior latinoamericana que cuestionara su carácter o naturaleza elitista. Nuestra impresión es que resulta perentorio detener la mirada en los procesos y dinámicas históricas que han cimentado en las décadas pasadas el substrato que configuró los principales rasgos de las relaciones exteriores latinoamericanas. Consideramos que uno de esos rasgos principales se trató de un sistema de gestión del poder político y económico controlado y dirigido por las élites nacionales, con un significativo hermetismo. Esta situación devino en una patrimonialización —por parte de estas élites— de los espacios de decisión exteriores a las realidades nacionales. Frente a esta situación, el papel del conjunto de la sociedad civil ha quedado marginado, invisibilizado u olvidado, tanto por el control efectivo del fenómeno por parte de los grupos tradicionales de poder, como por una narrativa excesivamente proclive a concebir y representar la construcción de la política exterior y de la integración regional como un proceso jerárquico y vertical de un único sentido: de arriba hacia abajo. Leia Mais
Dicionário de Ensino de História | Marieta de Moraes Ferreira e Margarida Maria Dias de Oliveira
Marieta de Moraes Ferreira e Margarida Maria Dias de Oliveira | Fotos: IH/UFRJ/SIGAA/UFRN
Os dicionários temáticos são publicações de referência com significativa utilidade, uma vez que apresentam a sistematização de um conjunto de informações dispersas em diversas outras obras. É dentro desta lógica que, nos últimos anos, os dicionários de áreas específicas têm se multiplicado como ferramentas de pesquisa (Ferreira e Oliveira, 2019).
Composto por 248 páginas, o Dicionário de Ensino de História apresenta 38 verbetes relacionados à produção do conhecimento histórico sobre o ensino de História, escritos por 39 professores e pesquisadores brasileiros que, de alguma forma, dialogam com o Ensino de História, seja em suas pesquisas ou em suas atuações em Programas de Pós-Graduação. Leia Mais
Povo de Deus: quem são os evangélicos e por que eles importam | Juliano Andrade Spyer
Juliano Andrade Spyer | Imagem: Catarse
Povo de Deus: quem são os evangélicos e por que eles importam, publicado em 2020 (Geração Editorial), é um livro de autoria do antropólogo Juliano Andrade Spyer. O autor é especialista em mídias sociais, desenvolveu pesquisa de doutorado a respeito das trajetórias de alguns evangélicos brasileiros que participaram do mundo do crime e, nos últimos meses, tem aparecido com alguma frequência na imprensa brasileira para falar sobre o conteúdo do livro.
O livro é dividido em nove partes com o total de 48 pequenos capítulos, e contém também uma seção com notas e comentários a respeito das referências citadas. O grande equívoco do autor é a sua insistência em mostrar somente o lado positivo dos evangélicos brasileiros para supostamente combater alguns estereótipos e preconceitos. Na parte introdutória ele afirmou: “reconheço ter um olhar simpático ao cristianismo evangélico”, isto é algo que compromete todo o conteúdo do livro. Leia Mais
Trabalhadores e Trabalhadoras no Passado e no Presente | História em Revista | 2022
Desde que o Núcleo de Documentação Histórica (NDH/UFPel) Beatriz Loner iniciou suas atividades tem como perspectiva estudar o mundo laboral, tanto é assim que serviu como espaço para a UNITRABALHO, nos anos de 1990, justamente quando iniciou seu funcionamento.
A partir dessa abordagem foram vários os estudos sobre trabalhadores e trabalhadoras feitos dentro do NDH, muitos deles vinculados às questões raciais, de classe e de gênero ou ainda tendo em vista pesquisas sobre profissões em específico, como motorneiros, estivadores, tecelãs, sapateiros, alfaiates, pescadores artesanais, resultando em publicações de artigos, capítulos e livros autorais, os quais são publicizados em nosso site. Leia Mais
A festa do Divino Espírito Santo: uma homenagem ao patrimônio cultural Marabaense | Ramon de Sousa Cabral
Festa do Divino em Marabá | Imagem: Correio de Carajás
O livro A festa do Divino Espírito Santo: uma homenagem ao patrimônio cultural Marabaense foi organizado por Ramon de Souza Cabral, que atua na Fundação Casa da Cultura de Marabá (PA), especificamente no NAEEP- Núcleo de Arqueologia, Etnologia e Educação Patrimonial. Um trabalho de pesquisa primoroso, constituindo contribuição importante para os festejos da cidade, desde a coleta das fontes documentais à escolha das imagens fotográficas que ilustram suas 200 páginas. O autor teve a preocupação de trazer histórias e trajetórias da festa do Divino Espírito Santo na cidade de Marabá. Um projeto que teve início com a preocupação da Casa da Cultura em registrar manifestações populares, memórias e práticas culturais marabaenses. A questão era não deixar no esquecimento, e sim escrever suas histórias, preservar, manter viva as diversas atividades culturais presente em Marabá. E a Festa do Divino foi o projeto que deu a largada.
A Festa do Divino faz-se presente nesse livro, não de forma homogênea, mas de forma múltipla, com representações e apropriações que o tempo deixou moldar. Em suas páginas encontramos relatos e memórias de homens e mulheres que compõem os 17 grupos do Divino da região. Ramon Cabral não apenas participou dessa escuta, mas vivenciou, acompanhou e fotografou momentos que permitiram transitar pelas especificidades da festa. Cores, fé, devoção, promessas, sentimentos e memórias cruzam-se no bailar do corpo, ao estender a bandeira, em vários movimentos. As fitas coloridas, dispostas ao vento, dão o sentido da festa. Louvar e agradecer ao Divino Espírito Santo, membro da Santíssima Trindade, é o ponto chave desse encontro ao som de cantos religiosos. Leia Mais
Lentes/ memórias e histórias: Os fotógrafos Lambe-Lambes em Aracaju (1950-1990) | Cândida Oliveira
Lentes, memórias e histórias: os fotógrafos Lambe-Lambes em Aracaju (1950-1990) é o livro de Cândida Oliveira, jornalista e mestre em História, lançado no final do ano passado. O livro é produto de dissertação defendida no Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade Federal de Sergipe, em 2020, sob a orientação do professor Claudefranklin Monteiro Santos, e sob o crivo da seleta banca: os também professores Antônio Lindvaldo Souza e Edna Maria Matos Antonio, da Universidade Federal de Sergipe, e Severino Vicente da Silva, da Universidade Federal de Pernambuco.
O subtítulo que enuncia o objeto do livro é curioso para muitos. A expressão “lambe-lambe” está dicionarizada como “fotógrafo ambulante” e designa, literalmente, um dos atos da sua produção: “testar [com a língua] qual era o lado do papel fotográfico que tinha a emulsão” para não correr o risco de perder o “foco” e a “nitidez” da fotografia (Moraes, 2013, p.166). Esse processo e a estratégia de capturar imagens e vendê-las imediatamente, nas ruas, praças ou em estabelecimentos provisórios, disseminou-se na passagem do século XIX para o XX – e não é improvável que sobreviva em muitos lugares do Brasil. Cândida Oliveira já pesquisava esse assunto desde 2005, revelando conhecimento do objeto de pesquisa e convívio com os fotógrafos entrevistados, o que lhe deu a empatia necessária para a utilização da metodologia da história oral. Leia Mais
Conceitos elementares da Guerra Fria nos livros didáticos | Leonardo Augusto de Carvalho
Intitulada Conceitos elementares da Guerra Fria nos livros didáticos, a obra é resultado de um curso de especialização em Saberes e Práticas na Educação Básica, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CESBEP/UFRJ), em 2018, na qual são condensados questionamentos que emergiram das experiências de Leonardo de Carvalho Augusto, a partir de seu trabalho na educação básica como professor de História e as reflexões alcançadas a partir da pós-graduação. Dessa forma, pode conciliar questões do mundo contemporâneo com indagações próprias ao ensino de História.
O livro tem como objeto a escrita didática em torno de um tema: a Guerra Fria. Influenciado pela teoria da história alemã atrelada à história dos conceitos de Reinhart Koselleck e da Didática da História de Jörn Rüsen, Carvalho Augusto investigou como os conceitos que dão realidade à Guerra Fria foram mobilizados e em que medida contribuíram para a constituição de um sentido a partir da narrativa dos livros didáticos. Leia Mais
Imagens Interditas: censura e criação artística no espaço ibérico contemporâneo | Diálogos | 2022
O presente dossiê resulta do primeiro Congresso Internacional Imagens Interditas. Cinema e literatura no espaço ibérico – séculos XX e XXI, que decorreu a 12, 13 e 14 de Abril de 2021, numa organização do CEComp – Centro de Estudos Comparatistas (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), em colaboração com o IHA – Instituto de História da Arte (Universidade NOVA de Lisboa) e o CHAM – Centro de Humanidades (Universidade NOVA de Lisboa, Universidade dos Açores).
O evento contou com 33 comunicações de 38 participantes de 15 universidades (Universidade de Lisboa, Universidade NOVA de Lisboa, Universidade de Coimbra, Universidade do Minho, Universidade Lusíada, UNED – Universidad Nacional de Educación a Distancia, Universidade de Brasília, University of the Western Cape, Université Sorbonne Nouvelle Paris 3, Université Paris Nanterre, Universidad de Alcalá, Universitat Pompeu Fabra, Universidade Federal de Santa Catarina, Universidad de Málaga e Universidade de Bergen) de seis países (Portugal, Espanha, Brasil, França, Noruega e África do Sul). Contámos ainda com comunicações de um editor e de um realizador de cinema. As duas conferências plenárias do evento foram proferidas por Ana Cabrera (Universidade NOVA de Lisboa) e Josefina Martinez Alvarez (UNED – Universidad Nacional de Educación a Distancia). Leia Mais
Manual de sobrevivência para divulgar ciência e saúde | Catarina Chagas e Luisa Massarani
Catarina Chagas e Luisa Massarani | Imagens: COVID19 DivulgAção Científica
A pandemia decorrente da covid-19, doença causada por vírus, impactou nossas rotinas, que precisaram ser redimensionadas para viver o momento complexo e desafiador. Tivemos que ficar em isolamento social, o que nos desafiou a trabalhar em home office e, além disso, adaptar-nos ou mesmo conhecer os artefatos tecnológicos propostos pela internet. A comunicação científica ganhou protagonismo em um momento em que foi preciso informar a todos como se mover dentro desse novo mundo.
Nesse quadro brevemente descrito, a divulgação científica feita por cientistas e divulgadores é a ação que maior realce oferece à comunicação de ciência. Ela passa a ocupar mais espaços nas plataformas digitais por meio das redes sociais, em especial Instagram, Facebook, YouTube e Twitter e, ainda, os podcasts , que ganharam mais produtores e ouvintes. De acordo com Lemos (2021) , um dos mais relevantes fenômenos atuais é a plataformização, que apresenta uma miríade de artefatos e age a partir de viabilidades. Além da internet, a divulgação de ciência esteve presente na mídia massiva, como é o caso de TV, rádio e jornais. Leia Mais
Capital científica: práticas da ciência em Lisboa e a história contemporânea de Portugal | Marta Macedo e Tiago Saraiva
Observatório Astronômico de Lisboa | Imagem: OAL/Wiki
Este volume colectivo explora a dimensão urbana das práticas científicas em Lisboa entre meados do século XIX e meados do século XX, assim como a sua relevância para a história de Portugal. O livro apresenta dez casos de estudo divididos em três partes com uma periodização política canónica (Regeneração, República e Estado Novo). O objetivo dessa organização é duplo: por um lado, os editores procuram estabelecer diálogo com a historiografia contemporânea de Portugal e, por outro, vêm problematizar as continuidades e discontinuidades da ação de cientistas e engenheiros entre esses diferentes regimes políticos.
Na primeira parte (“Ciência e Regeneração”), Marta Macedo estuda a forma como as práticas epistemologicamente renovadas do ensino “politécnico”, a par das operações de crédito que financiaram as infraestruturas projetadas pela elite de engenheiros regeneradores saint-simonianos, construíram a cidade em diferentes níveis, desde a arquitetura da Escola Politécnica e da Escola do Exército até a expansão urbana da avenida da Liberdade. Pedro Raposo trata do Observatório Astronómico de Lisboa na Tapada da Ajuda e de como a construção de um tempo estandarizado por meio da determinação astronómica da hora oficial e a sua transmissão telegráfica (porto, comboios, faróis) possibilitou uma gestão coordenada dos crescentes fluxos materiais do capitalismo. Teresa Salomé Mota, Ana Carneiro e Vanda Leitão olham para os espaços e as práticas científicas dos serviços geológicos, analisando o papel das cartas geológicas como instrumentos de construção do Estado liberal, por meio da sua capacidade de reestruturação territorial (caminhos de ferro, recursos minerais, florestação etc.). Finalmente, Tiago Saraiva e Ana Cardoso de Matos mobilizam elementos aparentemente heterogéneos, como os sistemas de iluminação a gás, a noite dos proletários (Jacques Rancière), as fábricas do bairro de Boavista, o ensino técnico no Instituto Industrial de Lisboa, os poetas flâneurs da modernidade lisboeta (Cesário Verde), os cafés e as óperas da sociabilidade burguesa, ou a estética do sublime tecnológico, para reescrever a história do romantismo português a partir da tecnologia, das ideologias liberais e da transformação urbana de Lisboa. Leia Mais
Maconha: os diversos aspectos, da história ao uso | Luciana Saddi e Maria de Lurdes de Souza Zemel
Maconha | Foto: Gustavo Carneiro/Grupo Folha
A obra “Maconha: os diversos aspectos, da história ao uso” (2021) é uma coletânea composta por 14 textos de divulgação científica, organizados por Luciana Saddi e Maria de Lourdes S. Zemel, ambas psicólogas com experiência no estudo da relação entre família e abuso de drogas, dentre elas, o alcoolismo. Diferente de seu predecessor (Fumo Negro: a criminalização da maconha no pós-abolição), “Maconha: os diversos aspectos, da história ao uso” chega em um momento social e histórico marcado por diversos processos de flexibilização dessa substância em todo continente americano, assim como pela adesão de parte da sociedade civil brasileira a esse debate. Essa mudança de conjuntura amplifica o seu potencial como objeto de informação a ser agregado a essas discussões.
Na condição de historiador, abordamos a obra a partir de dois aspectos que estão diretamente associados ao tema: a ousadia na escolha do tema, sua abrangência e direcionamento a um público não especializado, e a relação que o conjunto de textos constrói com a historicidade do tema. Também registramos o impacto das teses do livro. Embora não exista um momento de síntese, ponto negativo da obra, é possível concluir que o objeto não é a planta ou substância designada “maconha”, mas as formas com as quais nos relacionamos com ela (de ordem pessoal, familiar, comunitária ou institucional). Cabe apontar que determinados modos de lidar não são as melhores alternativas. Elas devem ser revisadas, principalmente as que retiram a autonomia dos indivíduos no tratar com essas substâncias, como é o caso da política de guerra às drogas, pouco eficiente e baseada em lógica coercitiva. Outra conclusão possível é a de que a comunicação e a informação se configuram como as melhores saídas para lidar com os problemas de abuso, implicando, inclusive, em questões-chave como a prevenção e a redução de danos.
A obra quer compartilhar informações científicas para além da bolha acadêmica. Nesse sentido, foi composto por textos objetivos com linguagem de fácil compreensão, educando por meio de conhecimento racionalmente constituído, orientando novas práticas sociais frente à maconha. Seus textos podem ser classificados em dois grupos. O primeiro toma como centralidade as relações que se desenvolvem entre os usuários e as suas comunidades de pertencimento, demonstrando os estigmas normalmente mobilizados e as suas consequências. Assim é escrito o texto “As famílias e o uso de maconha”, de Silva Brasiliano. A autora propõe uma série de novas formas de agir que colocam o indivíduo e a sua subjetividade como alvo das comunicações, a fim de amplificar o diálogo entre os pais e seus filhos, evitando a sua marginalização a partir do lar. Não se trata de achar culpados, mas de estabelecer uma lógica de cuidados a partir do núcleo familiar.
Em “O uso da maconha por adolescentes: entre prazeres e riscos, 1o barato que sai caro!'”, Maria Fátima Olivier Sudbrack observa as relações estabelecidas entre os adolescentes e os grupos integrados por eles como forma de compreender quadros de abuso de substâncias. A autora chama atenção para a necessidade voltar o olhar para os motivadores desse contato e de seus possíveis abusos, partindo de questões como a produção do desejo em torno da maconha, assim como necessidades de alívio rápido, característicos das estruturas do Capitalismo. A autora afirma que essas questões devem ser tratadas pelo viés da educação, a fim de constituir autonomia, levando aquele que faz uso a se posicionar frente aos seus comportamentos, e não pela via da criminalização. Leia Mais
Historia de la educación y organismos internacionales: nuevas líneas de trabajo en perspectiva transnacional | História da Educação | 2022
PRESENTACIÓN1
Hace varias décadas que el campo de la Historia de la Educación ha dedicado amplios esfuerzos a investigar la importancia que tuvieron diferentes procesos de carácter internacional en el nacimiento o reconfiguración de los sistemas nacionales de educación. El origen y despliegue de este tipo de estudio seguramente haya que situarlos en el ámbito anglosajón. Quizá, el que primero causó un importante impacto sobre la Historia de la Educación fue el trabajo del profesor James A. Mangan (1978). Dicha investigación, se centró en analizar la influencia que habían tenido los centros de educativos británicos para las élites (Public Schools) en el desarrollo del sistema educativo de la India. El propósito del este trabajo estaba en descifrar en qué medida los procesos de colonización del Imperio Británico habían influido también en el establecimiento de modelos educativos en diferentes colonias.
El objetivo último fue desentrañar cómo se habían producido los procesos de transferencia educativa desde el “centro” a la “periferia”. Es decir, captar cómo la educación también había servido como red institucional a la hora de establecer el dominio del imperio sobre sus colonias. Con el paso del tiempo, este tipo de trabajo se amplió. Ahora, no se trataba exclusivamente de captar las formas de dominio. Otras perspectivas de análisis comenzaron a ser importantes. Cabe destacar aquí, aquellas investigaciones que comenzaron a estudiar la construcción de redes de personas, el intercambio de ideas, los procesos de formación de especialistas educativos locales en el propio imperio o los procesos de hibridación educativa entre unos modelos y otros (MCCULLOCH y LOWE, 2003; BRUNO-JOFRÉ y SCHRIEWER, 2012). Leia Mais
América Latina – Moçambique / Moçambique – América Latina | Revista Eletrônica da ANPHLAC | 2022
Com o objetivo de caracterizar a produção acadêmica de História da América Latina e do Caribe no Brasil, entre 1981 e 2018, a pesquisa desenvolvida pelos historiadores Eric Brasil e Kaick da Silva, e o sociólogo Leonardo Nascimento identificou que na área das revistas especializadas em história das Américas, a Revista Eletrônica da ANPHLAC dedicou especial atenção à publicação de artigos relacionados às experiências e aos contextos históricos das populações de ascendência africana no continente.3 O dossiê História do Caribe (partes I e II, n. 20 e 21, 2016), com artigos dedicados às experiências afro-americanas em Cuba, Haiti e Trinidad e, mais recentemente, o dossiê Afro-Américas (n. 27, 2019), correspondem a importantes marcos na ampliação do campo da história das Américas e no aprofundamento das análises das conexões com os mundos que os africanos e africanas construíram a partir de suas diásporas no continente americano.
Como fica evidente, encontramos na Revista variadas colaborações dedicadas ao aprofundamento das análises sobre o mundo que os africanos, africanas e seus descendentes construíram nas Américas, incorporando nas interpretações sobre as dinâmicas caribenhas e latino-americanas uma série de práticas e realidades afro-americanas. No entanto, o campo historiográfico das diásporas africanas não corresponde, necessariamente, ao da história da África.4 Nesse sentido, ao restringirmos especificamente nossa busca na Revista ao campo da história da África, dos 31 números publicados pela revista, entre 2001 e 2021, contabilizando um total de cerca de 322 textos, conseguimos encontrar um artigo que analisou com atenção detalhada as experiências, aproximações e relações entre as Américas e a África, a partir das perspectivas historiográficas específicas do campo dos estudos do continente africano.5 Leia Mais
Direitos LGBT: a LGBTfobia estrutural e a diversidade sexual e de gênero no direito brasileiro | Caio Benevides Pedra
Caio Benevides Pedra | Imagem: DIVERSO/UFMG
O livro Direitos LGBT: a LGBTfobia estrutural e a diversidade sexual e de gênero no direito brasileiro (2019) é resultado da dissertação de mestrado em direito, realizado na Universidade Federal de Minas Gerais, por Caio Benevides Pedra, professor, advogado, ativista em direitos humanos e pesquisador de questões relacionadas à cidadania da população LGBT.
A partir da análise da atuação do Estado e do Direito na garantia de direitos a essa população, o volume objetiva facilitar a compreensão de quatro conceitos introdutórios e fundamentais para os debates atuais sobre gênero e diversidade: identidade de gênero, expressão de gênero, orientação sexual e sexo biológico, pois, diante das divergências que se apresentam na sociedade e no mundo jurídico, a compreensão desses conceitos possibilita uma atuação mais adequada dos operadores do Direito, no Brasil. Leia Mais
Escola nova em circuito internacional: cem anos da New Education Fellowship | Rafaela Silva Rabelo
Recompor o mosaico dessas narrativas, atando aquilo que se foi produzindo como separado, envolve uma virada epistemológica, a busca de outros referenciais de análise que, abdicando de colocar em primazia os contextos nacionais, se sensibilize por uma abordagem de cariz transnacional (VIDAL, 2021, p.11-12).
A New Education Fellowship (NEF), conhecida também como Ligue Internationale Pour L’Education Nouvelle, foi criada há 100 anos, em congresso realizado na cidade de Calais, na França. Baillie-Weaver foi nomeado como presidente, Beatrice Ensor assumiu como diretora organizadora, e Elizabeth Rotten e Adolphe Ferrière foram nomeados como diretores (VIDAL; RABELO, 2019). Com sede fixada em Londres, a NEF “emergiu como um movimento internacional desenhado para agregar pessoas de diferentes países em torno da renovação da educação e da escola”, reunindo “tanto educadores e profissionais ligados à educação quanto leigos” (RABELO; VIDAL, 2018, p. 03). Tendo por intuito difundir e promover discussões referentes aos diferentes aspectos da educação nova, a NEF organizou conferências bianuais, realizadas em diferentes países, assim como teve associada a publicação de três revistas: The New Era, editada por Beatrice Ensor, Pour L’Ere Nouvelle, por Adolphe Ferrière e Das Werdende Zeitatter, por Elizabeth Rotten1 (VIDAL; RABELO, 2019). Essa mobilização a favor da renovação da escola e da educação contribuiu, ou mesmo reafirmou, com o que é denominado na historiografia da educação como o Movimento da Escola Nova. Leia Mais
Construir soberanía. Una interpretación económica de y para América Latina | Theotonio dos Santos
La presente antología presenta un conjunto de textos sobre el científico social brasilero Theotonio Dos Santos (1963-2018), especialmente sus aportes sobre la formación económica y social de Brasil como latinoamericana a partir del marxismo nacionalizado que adoptó en sus análisis. Como destaca Mónica Bruckman en una introducción a la obra, los escritos del brasilero pueden datarse en cuatro momentos cronológicos: la apropiación del marxismo, la dinámica de la dependencia, el papel de la revolución científico-técnica y las preocupaciones sobre la economía mundial. Estos ejes que atraviesan la obra de Dos Santos, se tornan de especial importancia en nuestros días teniendo en cuenta los problemas de desarrollo, integración política y lucha contra la desigualdad que enfrentará la región luego de la pandemia por COVID-19.
A partir de los años 1960 Dos Santos comenzó a formarse en el marxismo y a vincularse con importantes intelectuales como Aníbal Quijano, Fernando Enrique Cardoso, Francisco Weffort, Pedro Paz, entre otros. Aquí se sitúan sus primeros análisis y publicaciones en torno a las clases sociales en Brasil y el desarrollo desde un punto de vista político. Luego vinieron los años en la Universidad de Brasilia donde Dos Santos se apropiará de la teoría marxista de la dependencia y su posterior exilio a Chile tras el golpe de 1964 donde seguiría trabajando con reconocidas figuras como Ruy Mauro Marini y André Gunder Frank. En una tercera etapa iniciada con el golpe de Estado en Chile en 1973 vino la desarticulación de los estudiosos de la dependencia y el exilio a México para desempeñar labores en la Universidad Nacional Autónoma de México donde se dedicó a estudiar la revolución científica tecnológica y su impacto en el desarrollo de las fuerzas productivas a nivel global. Fueron los años en que Dos Santos aportó al conocimiento del capitalismo global y al papel de la ciencia en el desarrollo de industrias y la intervención el Estado en ese proceso. Por último, viene el núcleo de estudios en torno al desarrollo y el proceso civilizatorio desde perspectivas históricas donde profundizó el enfoque de Kondrátiev y cuestionó a teóricos de renombre como a Immanuel Wallerstein y a Giovanni Arrighi en torno a la formación capitalista mundial. Leia Mais
100 anos do Partido Comunista Brasileiro (PCB) (1922-2022): Processos históricos, políticos, sociais, teóricos e culturais/ Revista Expedições- Teoria da História e Historiografia/2022
O dossiê “100 anos do Partido Comunista Brasileiro (PCB) (1922-2022): Processos históricos, políticos, sociais, teóricos e culturais” tem por objetivo a publicação de artigos originados em pesquisas referentes ao PCB, na efeméride dos seus cem anos de existência. Em 25 de março de 2022, o PCB completou um século de existência que se integra à classe trabalhadora brasileira e ao Brasil republicano. Como dizia Gildo Marçal Brandão, o PCB se tornou uma das instituições permanentes da sociedade brasileira. Leia Mais
The Caravan: Abdallah ‘Azzam and the rise of the global jihad | Thomas Hegghammer
O livro The Caravan: Abdallah ‘Azzam and the rise of the global jihad, publicado no início de 2020, une dois nomes que pesquisadoras e pesquisadores interessados pelo movimento jihadistas irão, em algum momento, se deparar: Thomas Hegghammer e Abdallah ‘Azzam (1941-1989). Hegghammer é doutor em Ciência Política e um dos principais autores sobre jihad; seus trabalhos versam sobre a jihad na Arábia Saudita (2007; 2010), o fenômeno dos combatentes estrangeiros no islã (2006; 2009; 2010; 2013; 2020) e, mais recentemente, a cultura jihadista (2017). ‘Azzam, doutor em princípios da jurisprudência islâmica, foi um dos mais importantes teóricos jihadistas do século XX e, por sua atuação na Guerra do Afeganistão (1979-1989), ficou conhecido como o “pai dos mujahidins” – combatentes da jihad. A obra explora uma miríade de eventos e processos, tendo como fio condutor a trajetória do clérigo. O objetivo de Hegghammer é examinar a relação entre ‘Azzam, o mundo em que esteve inserido e a globalização da jihad.
Por jihad global entende-se o fenômeno de mudança na percepção de inimigo em organizações jihadistas; dos regimes locais à declaração de guerra contra os EUA e o Ocidente. É importante ressaltar que o conceito religioso de jihad precede em séculos a ideia de nação e foi utilizado como parte da expansão religiosa desde o século VII. Contudo, a partir dos anos de 1960, a jihad foi proposta como forma de resistência aos regimes seculares no mundo muçulmano, especialmente, no Egito (COOK, 2005). Leia Mais
Representação dos árabes e muçulmanos na televisão brasileira | César Henrique de Queiroz Porto
César Henrique de Queiroz Porto | Imagem: Arquivo pessoal/UNIMONTES
A telenovela tem uma importância transcendental para a cultura brasileira. No ar há quase 70 anos2, o Brasil já se viu, por muitas vezes, representado nas inúmeras narrativas ficcionais produzidas e exibidas pelas emissoras brasileiras de televisão. Contudo, não foram apenas as telenovelas com enredos repletos de brasilidade que acompanhamos nesse longo período de teledramaturgia brasileira, haja vista que – dada a originalidade dos novelistas3 – também pudemos acompanhar tramas que trouxeram ao telespectador culturas e costumes de outros povos como, por exemplo, a telenovela O Clone, de autoria de Glória Perez, produzida e exibida entre 2001 e 2002, pela TV Globo.
O Clone foi exibida no emblemático ano de 2001, marcado não apenas pelo início do século XXI, mas também pelos ataques terroristas contra os Estados Unidos, promovidos pela organização fundamentalista islâmica Al-Qaeda, liderada pelo saudita Osama Bin Laden. No dia 11 de setembro de 2001, os terroristas lançaram ataques suicidas – através de aeronaves – contra os prédios do Pentágono, em Washington, e no World Trade Center (também conhecido como Torres Gêmeas), em Nova York, resultando na morte de mais de três mil pessoas. Foi nesse contexto histórico que vinte dias após o atentado terrorista, em 01 de outubro de 2001, estreou a telenovela O Clone, trazendo em sua espinha dorsal toda a cultura muçulmana, além de outros temas tabus como clonagem humana e dependência química. Leia Mais
Una mirada genealógica en las Prácticas Educativas Inclusivas al interior de la formación docente. Su efecto en el Instituto de Formación Docente Continua San Luis (1993- 2004) | M. M. Garro
La reseña que presentamos da cuenta de la tesis titulada Una mirada genealógica en las Prácticas Educativas Inclusivas al interior de la formación docente. Su efecto en el Instituto de Formación Docente Continua San Luis (1993-2004). En ella, la autora problematiza desde, la perspectiva histórico-filosófica de Michel Foucault, el dispositivo de Formación Docente no Universitario (FDNU) en la provincia de San Luis y analiza, a lo largo del trabajo, el juego de las relaciones de poder-saber que afectaron a los sujetos que participaron en la creación, expansión y cierre delos profesorados. Leia Mais
Intellèctus em seus 20 anos: os desafios das ideias e da intelectualidade no mundo contemporâneo | Intellèctus | 2022
Vinte anos se passaram desde a primeira edição! Aquela publicação inicial, ainda com cinco artigos, contou com a presença de professores queridos, integrantes dos Programas de Pós-Graduação em História e em Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; e de uma então pós-graduanda do PPGH/UERJ. Maria Emília Prado, o saudoso Antônio Carlos Peixoto, Antônio Edmilson Rodrigues, Fabiana Santos e Norma Côrtes foram autores que publicaram no número 1 de 2002, com os respectivos artigos: “A Unidade do Império ameaçada: Alberto Sales e a elaboração de um projeto em defesa do separatismo das províncias”; “O positivismo e os projetos de reestruturação da Hispanoamérica em direção à modernidade”; “Política e letras: a pátria e a nação em Atravez do Brasil”; “Oliveira Vianna e Monteiro Lobato – O Americanismo e Iberismo em diálogo”, e “Católicos e autoritários – Breves considerações sobre a sociologia de Alceu Amoroso Lima”. Hoje, depois de duas décadas, comemorarmos o aniversário da Revista com um número temático que conta com artigos livres, resenha e o dossiê: “Intellèctus em seus 20 anos: os desafios das ideias e da intelectualidade no mundo contemporâneo”. Antes de apresentarmos o número, faz-se importante um breve intróito, que procurará rememorar o seu percurso.
A revista eletrônica Intellèctus foi fundada pelo Grpesq/CNPq “Intelectuais e Poder no Mundo Ibero-Americano”, coordenado pela professora Dra. Maria Emília da Costa Prado, titular da área de História do Brasil do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UERJ. Em 2004, a revista passou a ser também um canal vinculado aos Colóquios Internacionais “Tradição e Modernidade no Mundo Ibero-Americano”, frutos do convênio entre a UERJ e a Universidade de Coimbra. Cadastrada como projeto de extensão no Departamento de Extensão (Depext), da Sub-Reitoria de Extensão e Cultura da UERJ, desde a sua fundação, configura-se como um periódico semestral, e que pode ser acessado pelo Portal de Publicações Eletrônicas da UERJ. Leia Mais
La formación de los profesores de Educación Física en Argentina: actores y sentidos en disputa 1990 -2015 | A. Levoratti
Este libro es el resultado de la tesis con la que el autor, Alejo Levoratti 3, obtiene su doctorado con mención en Ciencias Sociales y Humanas en la Universidad Nacional de Quilmes (UNQ). El mismo está estructurado en cuatro capítulos, los cuales desarrollan diversas etapas que nos permiten comprender la diversidad de actores, instituciones y proyectos que fueron conformando la formación docente en Educación Física en la Provincia de Buenos Aires y en el resto de la Argentina. Profundizando en el período comprendido entre los años 1990-2015 entre los capítulos dos y cuatro ―siendo el primer capítulo una contextualización de las diferentes configuraciones sobre la formación de los profesores de Educación Física en la Argentina que se fueron produciendo a lo largo del siglo XX―, este libro fue publicado y editado por el Departamento de Ciencias Sociales la Universidad Nacional de Quilmes, siendo los capítulos publicados sometidos a evaluadores internos y externos de acuerdo con las normas de uso en el ámbito académico internacional. Leia Mais
Historia de la violencia en Colombia 1946-2020: una mirada territorial | Jerónimo Ríos Sierra
Hablar y estudiar la historia contemporánea de Colombia es sinónimo de introducirse en la historia de la violencia política y el conflicto armado que ha sacudido al país desde la década de 1960 hasta los últimos años. A pesar de la firma de los Acuerdos de Paz entre el Gobierno colombiano y las Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia-Ejército del Pueblo (FARC-EP) en 2016, no son pocos los ejemplos que nos llevan a pensar que tanto la violencia como el conflicto en Colombia no han terminado. Por lo tanto, para conocer bien los motivos que hacen que esta situación se siga desarrollando con características similares y diferentes a las ya vividas, la aparición de obras como la que nos atañe en esta reseña resulta esencial. Leia Mais
Una questione di provincia. Criminalità e camorra tra età giolittiana e fascismo | Carolina Castellano
Gli studi sulla genesi sociale e storica delle camorre “di provincia” tra Ottocento e Novecento risultano comparativamente meno attenzionati dalla letteratura sul tema. Fatta eccezione per alcuni lavori più o meno recenti, talvolta riferibili a letteratura grigia e d’inchiesta giornalistica, il panorama delle ricerche storico-sociali metodologicamente solide sul fenomeno camorristico nella Campania Felix, nella bassa piana del Volturno e nella Terra di lavoro, non è ricchissimo. Eppure, una porzione significativa del dibattito sulle origini delle camorre nello Stato unitario si è dispiegato in questi luoghi, dove ha assunto tratti peculiari e simili alla mafia siciliana del latifondo, sulle cui forme la storia e le scienze sociali hanno certamente rivolto maggiore attenzione, producendo una bibliografia assai più ricca1.
Il volume di Carolina Castellano, storica contemporaneista presso l’Università di Napoli Federico II, aggiunge interessanti tasselli alla comprensione delle camorre dell’entroterra. Da tempo attenta alla storia della giustizia, del settarismo ottocentesco e della criminalità organizzata campana, su questi temi Castellano è già autrice di una articolata produzione, al cui interno troviamo – tra gli altri – il volume Affari di camorra2. Curato con Luciano Brancaccio, sociologo, quel volume raccoglie i risultati di una ricerca condotta da diverse prospettive disciplinari, che alla storia contemporanea e alla sociologia affiancano l’economia, la teoria dell’organizzazione e le scienze giuridiche. La collaborazione tra queste e altre discipline è propria del Laboratorio di Ricerca sulle Mafie e la Corruzione (Lirmac), attivato presso il Dipartimento di Scienze Sociali della Federico II, di cui Carolina Castellano è co-fondatrice. A parere di chi scrive, nell’ultimo lavoro di Castellano, Una questione di provincia. Criminalità e camorra tra età giolittiana e fascismo, si può apprezzare l’effetto positivo di questo percorso di cooperazione interdisciplinare. Cooperazione che non disconosce distinzioni e sensibilità, punti di vista e tradizioni di ricerca interne alle diverse prospettive: Una questione di provincia è un saggio di storia contemporanea. Eppure, prosegue e alimenta un confronto con strumenti metodologici e linguaggi differenti, rafforzando il tenore delle conoscenze acquisite e delle chiavi interpretative3 . Conoscenze e interpretazioni che in questo modo sono di maggiore interesse non solo per l’erudizione accademica, ma anche per il dibattito pubblico e per alimentare proposte politiche4 ; una angolatura che trova particolare riscontro nell’interesse che l’Autrice rivolge all’anticamorra storica, laddove le fonti giudiziarie e di polizia non sono unicamente contenitori di informazioni, ma punti di vista dai quali riflettere sulla costruzione pubblica e politica della “camorra rurale”, sulle politiche di sicurezza e di ordine pubblico, sull’uso partigiano della strumentazione giuridico-giudiziaria. Leia Mais
Teatro latino-americano contemporâneo: memória e testemunho/Literatura, História e Memória/2022
Querer ofrecer un panorama de las prácticas escénicas latinoamericanas contemporáneas o incluso, más concretamente, del teatro latinoamericano contemporáneo, es a todas luces una empresa abocada al fracaso. La amplitud y variedad de sus territorialidades culturales impide tal cometido o, en el mejor de los casos, nos llevaría al reduccionismo. Dicho esto, podemos señalar que una línea temática y escénica que el teatro latinoamericano contemporáneo frecuenta es la reflexión sobre la memoria y la historia, con inclusión en el teatro más reciente del testimonio y la consecuente liberación del concepto de representación, convirtiendo a este género artístico en un vehículo privilegiado de debate entre la cultura y la poítica y su representación. Por lo demás, la función política del teatro es reivindicada no sólo en su aspecto temático más explícito sino también en relación con el lugar que ocupa el individuo en la sociedad, el cuerpo en el espacio público, la mirada sobre el otro o la exposición a la mirada de los demás. Junto a ello, la metateatralidad, ya presente en los clásicos, cobra en la dramaturgia contemporánea una evidente preponderancia temática y escénica. Leia Mais
La redefinición de lo posible: Militancia política y movilización social en El Salvador (1970 a 2012) | Kristina Pirker
El libro de Kristina Pirker es recomendable para un amplio público. A aquellos que no conocen en profundidad la historia reciente de El Salvador, el texto les aportará una mirada que tiene la virtud de articular los estudios clásicos con investigaciones más recientes. Asimismo, el análisis de escala nacional y perspectiva de largo plazo se encuentra enriquecido por aquellos estudios que abordan procesos más acotados en tiempo y espacio. Finalmente, la claridad en la escritura permite recorrer -con profundidad analítica y, a la vez, fluidez- cuatro décadas claves y muy cambiantes de la historia reciente de El Salvador. Leia Mais
Lembrança do presente: ensaios sobre a condição histórica na era da internet | Mateus Henrique de Faria Pereira
Existe atualmente uma ampla literatura dedicada a refletir sobre as conexões entre história e internet. As revoluções que o universo online aporta nas práticas de pesquisa e ensino de história têm sido objeto de densas análises por especialistas em diversas áreas do campo historiográfico. O novo livro de Mateus Henrique de Faria Pereira adentra esse debate com uma contribuição original, que está situada nas fronteiras entre Teoria da História e História do Tempo Presente. Leia Mais
La configuración hidrosocial del espacio en los Altos de Jalisco/México/1935-2012. Un estudio desde la Geografía Crítica sobre la apropiación del agua/actores sociales y relaciones de poder | Antonio Rodríguez Sánchez
El libro que aquí reseño es resultado en parte de la tesis doctoral que Antonio Rodríguez defendió en de 2015 y, por la otra, del trabajo invertido para su transformación en libro, una de las tareas prioritarias contraídas por el autor durante su estancia posdoctoral que en el transcurso de dos años realizó en el Instituto Mora. En principio, para mi es significativo que dicha obra, autoría de un colega regionalista, egresado de la Maestría en Estudios Regionales se publique con el sello de Estudios Regionales en la colección Contemporánea del Instituto Mora. Leia Mais
Fútbol en Cuba. Entre el balón y “la pelota” en la comunidad global | Miguel Lisbona Guillén
En las dos últimas décadas, la afición por el fútbol ha tenido un auge exponencial, consolidándose como el deporte con mayor número de seguidores en el mundo: cerca de 650 millones de personas.1 Este fenómeno se debe –en buena medida– a la difusión instantánea y masiva de jugadores, equipos, torneos y mercadotecnia, a través del internet y las diferentes plataformas virtuales. De acuerdo con la Federación Internacional de Fútbol Asociación (FIFA), la tecnología digital omnipresente ha generado nuevas generaciones de seguidores que utilizan el internet de forma casi permanente. En los propios términos de la FIFA, “no solo se interesan por los 90 minutos del partido, sino también por lo que rodea el encuentro; no solo quieren ver los torneos más consolidados, sino también competiciones de eSports. Los hábitos de los hinchas evolucionan, como también lo hace la manera en que viven el fútbol”.2 Las cifras proporcionadas por FIFA son ejemplificativas: 83% de los aficionados a este deporte usan smartphone mientras ven televisión; el consumo de contenidos del Mundial Femenil de Francia 2019 aumentó 460% respecto a la edición anterior de 2015, y el 77% de los telespectadores del Mundial de Rusia 2018 utilizaron un teléfono móvil o una tableta mientras seguían los partidos por televisión. El fútbol es hoy un deporte que se consume vorazmente de forma digital desde cualquier rincón del mundo. Leia Mais
Historia mínima de las izquierdas en México | Ariel Rodríguez Kuri
El reto para una obra como Historia mínima de las izquierdas en México, de Ariel Rodríguez Kuri, no era menor: hay más de un siglo de eventos y luchas cuya diversidad reclama entender su especificidad histórica, mientras que coyunturas como la de 2018 revelan la necesidad de identificar sus elementos comunes. Me parece que el autor no sólo hace contribuciones importantes en ambos planos, sino que llega a ellas con originalidad. Son varias las perspectivas para el estudio de las izquierdas mexicanas que logra trascender: aquellas intelectuales elaboradas a partir de teorías, ideologías o personajes clave; las de carácter más organizacional, centradas en partidos y grandes siglas; o bien las tipológicas, basadas en familias o dicotomías conceptuales como reforma/revolución. Leia Mais
El Brexit. La relación del Reino Unido con la Unión Europea | Alicia Gutiérrez González
El Reino Unido de la Gran Bretaña e Irlanda del Norte fue miembro de la Unión Europea (en adelante UE) desde el 1 de enero de 1973 hasta el 31 de enero de 2020. Debido a su posición –aislamiento geográfico– dentro de la plataforma continental europea, los países del Reino Unido, también llamados “naciones constitutivas” (Gales, Inglaterra, Irlanda del Norte y Escocia) han tenido un desempeño un tanto distinto del resto de Europa. Debido a lo anterior, no resulta sorpresivo que, después de 47 años de ser parte de esta comunidad política, haya decidido abandonarla. Esto fue así debido a que, desde su incorporación, gozó de un estatus jurídico particular, para obtener una “Europa a la Carta”, lo que le permitió disfrutar del privilegio llamado “cheque británico”, con el que, pese a las aportaciones económicas que estaba obligada a dar a la Unión Europea, el Reino Unido podía obtener la devolución de dos terceras partes de la diferencia “entre lo que percibe del presupuesto y lo que aporta al mismo título de recursos de Impuesto al Valor Agregado (IVA) y Renta Nacional Bruta (RNV)” (p. 40). Un estatus jurídico particular que la hacia un caso único. Leia Mais
La minificción ya no es lo que era | Violeta Rojo
Todo lo que tiene que ver con la minificción resulta contradictorio
Violeta Rojo
La aparición del libro Breve manual para reconocer minicuentos, en el año 1997, publicado por la Universidad Autónoma Metropolitana de México, bajo la autoría de la docente e investigadora venezolana Violeta Rojo (1959) marcaría para aquel entonces un aporte desde la crítica, a los asuntos concernientes a la minificción, no solo en Venezuela, sino también en Latinoamérica, característica que hace del texto, un documento importante para las investigaciones en torno al tema. Dos años después de aquel suceso, ciertamente esplendente, en una breve, pero desafiante reseña publicada en la Revista Chilena de Literatura, el crítico Juan Armando Epple, refiriéndose a este libro, comenta lo siguiente: “Después de muchos años de ser el pariente pobre y díscolo, la oveja negra de la familia literaria, el minicuento no solo tiene quién lo describa, sino que contamos con un manual para reconocerlo” (Epple 169).
Aunque este comentario pudiera parecer un tanto equívoco, no parece estar muy distante de lo que sigue siendo hoy en día el minicuento, a pesar de los encuentros, festivales e incluso mesas de trabajo, sigue teniendo y hasta padeciendo las mismas consideraciones. Sin mencionar, acaso, sobre el poco entendimiento, así como el esmirriado abordaje teórico en torno a este subgénero, considerado por muchos como raro, incluso, extraño. No obstante, este raro y hasta extraño subgénero cumple con las características que un texto debe tener. Sin embargo, el microrrelato sigue estando en los márgenes, navegando en procelosos mares a veces ignotos, a veces turbio de la teorización. Leia Mais
Na contramão da liberdade: A guinada autoritária nas democracias contemporâneas | Timotht Snyder
O livro Na contramão da liberdade: a guinada autoritária nas democracias contemporâneas, do historiador norte-americano Timothy Snyder, chega em momento oportuno para ampla parcela do público brasileiro. Compreender a onda autoritária que se fortalece em âmbito global e que atualmente governa este país, tem chamado a atenção de muitos leitores. A obra, publicada originalmente em inglês em 2018, insere-se num filão editorial composto por obras como O povo contra a Democracia (Companhia das Letras, 2019), de Yascha Mounk, Como a Democracia chega ao fim (Todavia, 2018), de David Runciman, e Como as democracias morrem (Zahar, 2018), de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt; livros agrupados por alguns analistas em categorias como “biblioteca da ansiedade” ou “bibliografia do fim do mundo”.1 Tais nomes poderiam sugerir exagero ou alarme falso, o que desconsideraria a urgência das questões tratadas em tais livros. Afinal, o perigo é real, inadiável. Basta considerar a erosão de nossas instituições democráticas nos últimos tempos. Os leitores brasileiros da referida obra poderiam, desse modo, beneficiar-se muito das considerações de Snyder acerca de processos históricos que, se não nos governam por inteiro, certamente mantêm relações com nossas instituições e vida política. Seu livro fornece tanto elementos para uma melhor compreensão da difusão recente do autoritarismo em várias partes do mundo, quanto possíveis caminhos para se contrapor a ele. Neste último caso, talvez valha a pena discutir tal obra a partir de alguns aspectos do fortalecimento de um movimento autoritário no Brasil e de suas especificidades, de maneira a evitar sua diluição completa no fenômeno abordado pelo livro, bem como a tomada das mesmas vias propostas pelo autor para a manutenção ou o revigoramento da democracia. Leia Mais
5º Centenário da Primeira Volta ao Mundo: a estadia da frota no Rio de Janeiro | Paulo Roberto Pereira
Paulo Roberto Pereira | Imagem: Jornal da PUC, 2017
Em celebração aos 500 anos da viagem de Fernão de Magalhães e Juan Sebastián Elcano, foi realizado, nos dias 12 e 13 de dezembro de 2019, nas dependências do Museu Histórico Nacional, na cidade do Rio de Janeiro, o seminário internacional intitulado 5º Centenário da Primeira Volta ao Mundo: a estadia da frota no Rio de Janeiro. O evento resultou no desenvolvimento do livro homônimo, organizado por Paulo Roberto Pereira (doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor na Universidade Federal Fluminense) e publicado pela Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, em 2021.
A obra, uma coletânea de 14 artigos elaborados a partir das comunicações apresentadas durante o seminário, contou com a participação de pesquisadores brasileiros e de outros países envolvidos na primeira circum-navegação, como: Espanha, Portugal, Argentina, Chile, Peru e Uruguai. A presente resenha se debruça sobre os primeiros sete artigos que compõem a obra. Leia Mais
Também os brancos sabem dançar: um romance musical | Kalaf Epalanga
Kalaf Epalanga | Foto: J. Carlos/DW
O músico e escritor Kalaf Epalanga Alfredo Ângelo, recém-lançado no mundo da literatura, nasceu em 1987, na cidade de Benguela, em Angola. Ao fugir da Guerra Civil de seu país, mudou-se aos 17 anos para Lisboa, onde desde então vive em alternância com Berlim. Kalaf Epalanga é também autor da coletânea de crônicas (divididas em duas partes): Estórias de amor para meninos de cor (2011) e O angolano que comprou Lisboa (2014). Publica, em 2017, seu primeiro romance: Também os brancos sabem dançar: um romance musical.
Kalaf ganhou notoriedade no âmbito musical através do som frenético e envolvente produzido pelo grupo musical Buraka Som Sistema, do qual é membro. Em entrevista à revista Estante (2015), comenta que virar escritor não estava nos seus planos. Entretanto, o mundo das palavras sempre o seduziu e sua bibliografia, embora ainda pequena, possui enorme representatividade em função de suas obras dialogarem com temas relevantes que marcam a vida do autor, como identidade, migração e angolanidade. Leia Mais
Framing animals as epidemic villains: histories of non-human disease vectors | Christos Lynteris
Em 2020, o historiador e ambientalista Donald Worster publicou texto sobre a pandemia (covid-19) que irrompera no final do ano anterior e que continua devastando o mundo. Em seu texto, Worster (2020) chamava a atenção para o silêncio deixado nas cidades pelo afastamento da população dos possíveis caminhos capazes de cruzar com o tão temido coronavírus SARS-Cov-2, e que estava a se propagar de continente a continente, alcançando novas vítimas. Agora, a causa do silêncio não mais seria o pesticida DDT, como alertado por Rachel Carson em 1962 em seu livro Silent spring, mas um inimigo silencioso, não humano, que chegava desequilibrando a ordem social mundial. Como em outros surtos epidêmicos e pandêmicos, são os animais silvestres e seus patógenos apontados como os grandes vilões da história, e, assim como ocorreu com o Sars ou Ebola, a falta de certeza científica sobre o verdadeiro reservatório é compensada por representações sistemáticas e generalizadas de poucos animais selecionados; no caso, os morcegos, como “bandidos” epidemiológicos (Lynteris, 2019). Leia Mais
Bases Nacionais e o Ensino de História embates, desafios e possibilidades na/ entre a Educação Básica e a formação de professores | Educar em Revista | 2021
Detalhe do cartaz “Seminário do Curso Pró-Docência em Educação Infantil“, UFSC, 2015.
INTRODUÇÃO
Com o objetivo de atender a determinações da Lei de Diretrizes e Bases 9394/96 – LDB (BRASIL, 1996), debates foram realizados ao longo dos últimos anos em torno de definições para orientar a construção dos currículos da Educação Básica em escolas brasileiras. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) elaborada e recentemente aprovada (BRASIL, 2017) apresenta permanências e, também, algumas mudanças em relação ao que historicamente tem sido produzido em nosso país quanto a discussões curriculares. Sua elaboração e implementação envolvem questões epistemológicas de cada área de conhecimento, questões pedagógicas e questões políticas. Além disso, a Base foi aprovada em um contexto histórico e político conturbado, em que sua discussão e sua construção coletiva foram seriamente prejudicadas, quando não, ausentes.
A BNCC, apropriada nos Estados e Municípios, gerou e vêm gerando diretrizes curriculares para orientar a ação dos professores nas escolas, a elaboração de exames de avaliação institucional e de acesso às instituições de ensino superior, a produção de livros didáticos por meio dos editais do Programa Nacional do Livro Didático e, também, a formação de professores. Esta última, também recentemente (dezembro/2019), teve aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e uma Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica. Leia Mais
Slavery in the Age of Memory: Engaging the Past | Ana Lucia Araujo
Em fevereiro de 2020, perto da capital dos Estados Unidos da América, visitando a plantation Mount Vernon – que pertenceu a George Washington -, a historiadora Ana Lucia Araujo encontrou à venda um ímã de geladeira que reproduzia uma dentadura do ex-presidente feita com dentes de escravizados. Fez disso um elemento da análise sobre como a plantation apresenta seu passado escravista; contrapôs o prosaico objeto ao fato de a propriedade realçar a face de “senhor benevolente” de George Washington ao mostrar como ele deixou manifesta no testamento a vontade de libertar seus escravos. O esdrúxulo da dentadura num íma de geladeira – que consiste em grave ofensa aos cativos e seus descendentes – e a libertação dos escravos em testamento poderiam render muita reflexão sobre as práticas escravistas; aqui, no entanto, são amostra das minúcias da análise de Ana Lucia Araujo no livro Slavery in the Age of Memory: Engaging the Past, publicado meses depois de esta professora da Howard University ter se espantado com aquele artefato à venda.
É crescente a velocidade com que se sucedem episódios de conflito e de memorialização em torno da escravidão e do tráfico de africanos, mas Ana Lucia Araujo é ágil. A atualidade dos acontecimentos mobilizados no livro admira o leitor. A lojinha em Mount Vernon foi visitada em fevereiro de 2020, mas a autora examina muitos outros fatos recentes, como a discussão da troca de nome de um mercado construído no século XVIII em Boston (p.91-93) e as iniciativas oficiais de memorialização da escravidão na França (p.66). Leia Mais
Os venezuelanos entre a migração e o exílio. Tendências e estratégias | Revista Brasileira de História & Ciências Sociais | 2021
Venezuelanos, Rio de Janeiro, 2019 | Foto: Caritas
A maior e mais recente crise migratória global acontece, de forma quase inaudível, pese embora o barulho que gera, desde meados da década passada, na América do Sul (CERRUTTI; PARRADO, 2015). Esta migração em massa é um dos maiores deslocamentos forçados no hemisfério ocidental desde a segunda-guerra mundial (CORNELIUS, 2001; HAMMOUD GALLEGO, 2021). Maior que a “crise dos refugiados” na Europa após 2015 ou que a pressão migratória na fronteira sul dos EUA (HANSON; MCINTOSH, 2016). No entanto, trata-se de um fenômeno social sem a mesma visibilidade midiática ou social (ex. da crise de refugiados da Síria, da crise de retirada humanitária de afegãos ou da crise dos Rohingya no Sudoeste asiático) (GÓIS; FARAONE, 2019) mas com maiores implicações políticas, sociais e sociológicas (ATAIANTS ET AL., 2018; GORLICK, 2019; MAINWARING; WALTON-ROBERTS, 2018). A turbulência política, a instabilidade socioeconômica e a crise humanitária venezuelana desencadearam o maior deslocamento externo na história recente da América Latina (LEGLER et al., 2018). O volume estimado de migrantes e refugiados venezuelanos que abandonaram o seu país para se concentrarem, majoritariamente, nos países vizinhos não tem parado de crescer (embora pese a desaceleração deste fluxo migratório em tempos de pandemia) e atinge hoje um número próximo de 6 milhões de pessoas (ou cerca de 20% da população total da Venezuela)1. A demografia política dos países vizinhos está a alterar-se e as relações entre os Estados da região passam por modificações significativas sem que o eco desta mudança seja audível fora da região (COCA GAMITO; BALTOS, 2020). Leia Mais
Todos estos años de gente: Historia Social, protesta y política en América Latina | Andrea Andujar e Ernesto Bohoslavsky
Andrea Andujar e Ernesto Bohoslavsky |Fotos: Juan Pablo Sánchez Noli y Sabrina García/Industrias de Lamemoria e Ana D’angelo/Pagina12
A recente publicação em língua espanhola do livro Todos estos años de gente: historia social, protesta y política en América Latina (2020) nos convida a refletir sobre um campo historiográfico há muito referenciado em nossas academias, mas que segue em grande e profícuo movimento: a História Social e seus sujeitos. Organizado por Andrea Andujar e Ernesto Bohoslavsky, o livro reúne renomados historiadores com diferentes abordagens, temáticas e teóricas, provocados pelas indagações sugeridas na mesa redonda La historia y la protesta en América Latina, que integrou a segunda edição do Congreso Internacional de la Asociación Latinoamericana e Ibérica de Historia Social – ALIHS. O encontro ocorrido em 2017, na cidade de Buenos Aires, aparece agora sob uma proposta atenta aos debates historiográficos que, perfilados pela diversidade latino-americana, convoca-nos a pensar as intersecções entre os movimentos sociais e aqueles que os estudam, com especial ênfase na relação humana experienciada no tempo. Os historiadores Andujar e Bohoslavsky, que lançaram seu livro pela Editorial Universidad Nacional General Sarmiento, convocam para o palco principal do debate o fio invisível que conecta as escolhas individuais e as coletivas envolvidas na história dos protestos, resultando num belo exercício crítico sobre memória e ação política. Leia Mais
The Hundred Year´s War on Palestine: A History of Settler Colonial Conquest and Resistance | Rashid Khalidi
A potente introdução de Rashid Khalidi neste livro, intitulado The Hundred Year´s War on Palestine: A History of Settler Colonial Conquest and Resistance, em tradução livre, A Guerra de Cem Anos na Palestina: Uma História de Conquista Colonial e Resistência, demonstra elementos relevantes para a compreensão histórica da Palestina, ao mesmo tempo em que fundamenta questões historiográficas para o estudo da temática. Rashid Ismail Khalidi, palestino nascido em Nova Iorque em 1948, consolida-se como um dos maiores especialistas da área, atualmente ocupante da cadeira de Edward Said, professor da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, na área de Estudos Árabes. Autor de diversos livros e artigos que tratam da construção nacional palestina, Khalidi inova ao propor, como enfatiza, uma produção de pesquisa acadêmica junto às reflexões em primeira pessoa, ao incorporar lembranças de eventos que presenciou, bem como registros materiais, como fotografias e documentos, pertencentes a ele e a sua família. Ao abandonar a impessoalidade da escrita acadêmica, o historiador palestino aproxima o/a leitora/a à compreensão de momentos decisivos da história palestina contemporânea, traçando a importância testemunhal de sua família em diversas situações – como, por exemplo, a troca de correspondências entre seu tio Yusuf Diya al-Din Pasha alKhalidi e Theodore Herzl, fundador do Sionismo. Ao delinear essas relações, no entanto, o autor ressalta que a sua história não é única, mas compartilhada por milhares de palestinos/as. Leia Mais
Public History and School: International Perspectives | Marko Demantowsky
Marko Demantowsky – 2019 | Imagem: De Gruyter
Em Public History and Scholl Marko Demantowsky discute a relação entre o campo acadêmico (História Pública) e a instituição socializadora (Escola) a partir de uma premissa conhecida de todos nós: a escola pública foi criada no século XVIII para servir à construção da identidade nacional, e as disciplinas literatura, religião e história são os veículos desse ensinamento, ou seja, são responsáveis pelo cultivo de certa “autocompreensão nacional” (p.vi).
Demantowsky é editor da Revista-Blog Public History Weekly e professor de Didática em Ciências Sociais na Universidade de Basel (Basiléia-Suíça). Foi nesta condição e motivado pela dificuldade de ampliar as possibilidades de pesquisa em história pública em contexto multilíngue que reuniu especialistas para discutirem os quatro temas que constituem a coletânea, começando com a terminologia da área. O que significa “História Pública”? A resposta é mediada por duas outras questões: Os diferentes profissionais que atuam no cultivo da identidade nacional (museólogos, arquivistas, patrimonialistas, memorialistas) se conhecem uns aos outros o bastante e no contexto daquela função da escola? Esses profissionais estão conscientes do caráter duradouro e exemplar da “educação escolar” sobre as “histórias públicas”. (p.vi). Leia Mais
“Cuando sea grande”: algunas derivaciones de la obra de Martha Bechis | Memoria Americana | 2021
Martha A. Bechis (1929-2017) se graduó en Filosofía en 1955, en la Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad de Buenos Aires (UBA). Su vida académica la condujo por caminos diversos. En 1983, obtuvo su Doctorado en Antropología en la New School of Social Research de Nueva York. También fue profesora en la Universidad de Puerto Rico y desde 1988, cuando regresó al país, fue directora interina del Instituto de Sociología de la UBA y dio clases y conferencias en varios centros de estudio e investigación, como el Instituto Nacional de Antropología y Pensamiento Latinoamericano y la Universidad Nacional del Sur, entre otros. Por su parte, la Asociación Argentino-Chilena de Estudios Históricos e Integración Cultural la contó como vocal en su comisión directiva. Además, se desempeñó como coordinadora académica del Taller de Etnohistoria de la Frontera Sur (TEFROS) y del comité editorial de la misma Revista, publicada online por la Universidad Nacional de Río Cuarto. Fue investigadora titular del Instituto de Investigaciones “Gino Germani” -Facultad de Ciencias Sociales, UBA-, miembro de la Red de Estudios Rurales (RER) y consultora del Grupo de Estudios e Investigaciones de los Procesos Políticos (GEIPP), ambos radicados en el Instituto de Historia Argentina y Americana “Dr. Emilio Ravignani” (FFyL-UBA/ CONICET).1
Sus maestros, que procedían de la Sociología -Gino Germani-, la Antropología -Raymond Firth y Stanley Diamond- y la Psicología Social -Enrique Butelman-, alimentaron su mirada atenta y su formación interdisciplinaria. Así, con reflexiones siempre ricas y complejas, Martha Bechis llegó a ese espacio que denominó “Panaraucanía” y transformó para siempre la forma de abordarlo, entenderlo y explicarlo; a la vez que cambiaba, irremediablemente, la manera de pensar a los grupos indígenas que lo habitaron y su historia. Leia Mais
Media-storie. Lezioni indimenticate di Peppino Ortoleva | Luca Barra e Giuliana Galvagno
Poche figure sono state in grado di fare della storia dei media un’ideale piattaforma per far dialogare le discipline: tra queste Peppino Ortoleva è stato certamente un maestro indiscusso1. Alla base di quest’esigenza di comunicazione fra campi di studio differenti vi è certamente, prendendo a prestito le sue stesse parole, «[…] la capacità non solo di accumulare dati e informazioni ma di creare connessioni, e possibilmente creare connessioni impreviste»2.
Lo stesso Ortoleva approdò allo studio della storia – e della storia della comunicazione in particolare – dopo essersi laureato in giurisprudenza all’inizio degli anni Settanta. Ottenuto un incarico come professore a contratto in Comunicazione e teoria dei media nelle università di Torino e di Siena all’inizio degli anni Novanta, ottenne la cattedra a Torino (2001) in qualità di professore associato per divenire, quattro anni più tardi, ordinario nello stesso ateneo piemontese. Molti hanno così potuto ascoltarlo, interagire e lavorare con lui, apprezzandone le doti di studioso e di ricercatore. Leia Mais
História Pública e divulgação de história | Bruno Leal Pastor de Carvalho e Ana Paula Tavares Teixeira
Bruno Leal Pastor de Carvalho e Ana Paula Tavares Teixeira | Fotos: Comunicação Ages e Café História
O livro coordenado por Bruno Carvalho (UnB) e Ana Teixeira, diretores do Portal Café História propõe o desenvolvimento de uma competência para o historiador: “divulgar o resultado do seu próprio trabalho para o grande público”[II]. A insatisfação expressa pela dupla é motivada, principalmente, pela necessidade de ampliar o “alcance social” dos historiadores, a dimensão e a qualidade da “consciência histórica” da “sociedade”[III]. Por essa razão, reuniram seis relatos de experiência, um estudo e três entrevistas sobre “Divulgação Científica” e “História Pública” que abrangem a editoria de livros e revista, canal no YouTube, site e portal na internet, coluna de jornal, aula em espaços públicos abertos e exposição em museu.
No primeiro capítulo – “Editando a História” –, Luciana Pinsky intencionou descrever “como é feita a divulgação da História no formato livro”. A resposta foi insuficiente porque não conseguiu traduzir esse “como” em operações, habilidades e/ou princípios. Também não conseguiu livrar-se do jargão “público em geral”, às vezes definido pelo (óbvio) “não específico” ou exemplificado como “estudantes de graduação e de pós-graduação, acadêmicos e pesquisadores”.[IV] Comentou, ainda, a efêmera iniciativa do E-Guttenberg, que divulgava monografias universitárias de jovens historiadores por meios digitais. Esse sim, um concreto exemplo de “divulgação”. Leia Mais
Museums in a time of migration: rethinking museums’ roles/representations/collections/ and collaborations | Christina Johansson e Pieter Bevelander
Pieter Bevelander | Foto: Academia Europaea
Museums in a time of migration: repenser les rôles, les représentations, les collections et les collaborations du musée est le résultat d’une conférence qui cherchait à mettre en avant les bases pour le projet1 de création d’un musée consacré à la démocratie et à l’histoire de l’immigration (JOHANSSON & BEVELANDER 2017). Il s’agit donc d’un volume édité d’articles de cette conférence.
L’objectif de ce livre est de mettre en lumière la manière dont les musées traitent la thématique de l’immigration et quel est leur rôle et leur approche à cet égard. Le livre est divisé en quatre parties:
I – Le rôle des musées à une époque de migrations et de changement sociétal
II – Représentation de l’immigration et de l’ethnicité
III – Repenser les collections et la documentation muséale
IV – Collaboration et inclusion dans le secteur muséal Leia Mais
Deleuze e Guattari: uma filosofia para o século XXI | Antonio Negri
Antonio Negri | Foto: Christian Werner e Alexandra Weltz
Textos de Antonio Negri, marcados por intensos diálogos com o trabalho de Gilles Deleuze e Félix Guattari, bem como entrevista concedida pelo próprio Negri a Jeferson Viel, caracterizam este livro como uma notável radiografia histórica da incessante transformação do pensamento filosófico.
A partir do “Prefácio”, e mais especificamente, no decorrer da apreciação do Capítulo “Gilles-felix”, constata-se, com interessantes nuanças de sensibilidade, que, além de inspiração e parceria profissional, Negri encontrou em Deleuze e Guattari um fundamental suporte de natureza pessoal. A dinâmica da convivência dessa distinta tríade de filósofos, expõe laços de amizade fortalecidos essencialmente, a partir do apoio dispendido a Negri (de modo singular por Deleuze) durante seu exílio na França, em consequência de perseguições políticas sofridas em solo italiano. Certamente, louváveis peculiaridades da carreira de Negri, a exemplo de seu estilo de escrita, foram forjadas a partir da lealdade apreendida no que ele próprio retrata: “a arte de escrever a quatro mãos”. Tal habilidade foi por ele inauguralmente experimentada durante a concepção do livro As verdades nômades, em conjunto com Félix Guattari. Negri conta, com provável saudosismo, que a época compartilhada com seus companheiros guardava dias de infindáveis discussões sobre política, direito, modelos sociais disfuncionais e a latente necessidade de alterar ideais solidificados de há muito. O respeito mútuo existente entre amigos tão generosos uns com os outros, torna evidente que ambos não hesitariam em contribuir mutuamente, com suas épicas jornadas, nos rumos inquietantes daquela que lhes é uma obsessão: a filosofia. Leia Mais
Moralidades: norma e transgressão no Brasil contemporâneo | Aedos | 2021
Patrícia Rosa, prostituta e ativista feminista | Foto: Mariana Bernardes
A proposta deste dossiê surgiu do desejo de reunirmos reflexões em torno de práticas, discursos e políticas morais elaboradas no Brasil ao longo do período republicano. Nos últimos anos, o tema das moralidades tem pautado o debate público brasileiro e dividido opiniões. Por um lado, testemunhamos o recrudescimento de discursos que visam denunciar uma alegada ameaça ao que seriam os valores tradicionais brasileiros. Por outro, observamos um movimento de reação em amplos setores da sociedade, que veem em tais discursos um arremesso contra os direitos civis.4
Apesar das particularidades do momento atual, essa é uma questão que se faz latente em diversos períodos da nossa história, como testemunham inúmeros trabalhos já consagrados que, a partir de diferentes perspectivas, se debruçaram sobre o tema das normas e transgressões morais. Referências importantes são, por exemplo, o trabalho de Jurandir Freire Costa (2004) e o de José Leopoldo Ferreira Antunes (1999), que analisam a intervenção médico-higienista na instituição familiar e nos hábitos sociais brasileiros entre os séculos XIX e XX. No que diz respeito às normas e transgressões sexuais e de gênero, são imprescindíveis os trabalhos de Sueann Caulfield (2000) e Martha Abreu Esteves (1989) que, a partir de discursos médicos, jurídicos, políticos e eclesiásticos, discutem os usos e sentidos da honra sexual e suas intersecções com raça e classe no Brasil durante a primeira metade do século XX. Igualmente importantes nesse sentido são os trabalhos de Margareth Rago (1985; 1991) e Beatriz Kushnir (1996), que investigam códigos sexuais e de gênero em torno das práticas de prostituição feminina em capitais brasileiras entre os séculos XIX e XX, assim como a pesquisa pioneira de Durval Muniz de Albuquerque Júnior (2003), que analisa a construção social e histórica da virilidade nordestina.5 Leia Mais
O Novo Conservadorismo Brasileiro: de Reagan a Bolsonaro | Marina Basso Lacerda
Em outubro de 2018, um número considerável de jornalistas, cientistas políticos e historiadores ficou atônito diante do resultado das eleições no Brasil: o país havia elegido, pela primeira vez, um presidente da República de extrema-direita: Jair Messias Bolsonaro. Integrante do chamado “baixo clero” da Câmara dos Deputados – ala composta por políticos inexpressivos e com pequena capacidade de influenciar decisões importantes –, Bolsonaro notabilizara-se por pronunciamentos sobre temas, no mínimo, polêmicos, como os elogios à ditadura civil-militar e ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, a defesa de milícias e, mais recentemente, a popularização do que seria um “kit gay” a ser utilizado nas escolas de educação básica. Antes uma figura caricata, hoje ele foi alçado ao cargo mais importante do país.
Neste momento, portanto, o livro O novo conservadorismo brasileiro: de Reagan a Bolsonaro, de Marina Basso Lacerda, adquire uma relevância ainda maior. Mesmo que a obra tenha sido escrita durante uma parte considerável do período analisado, isso não parece ter sido um problema para a investigação com a qual a autora nos brinda. No livro – originalmente uma tese de doutorado em Ciência Política, desenvolvida na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) –, a advogada e analista legislativa da Câmara dos Deputados identifica o fenômeno com perspicácia e ilumina esse cenário ainda um tanto nebuloso. Em resumo, a autora nos ajuda a compreender as razões do recente crescimento neoconservador, que culminou com a eleição de Bolsonaro à Presidência. Leia Mais
Brasília, cidade construída na linha do horizonte | Sérgio Jatobá
A obra demonstra forte inspiração arquitetônica e urbanística e reúne artigos publicados esparsamente em jornais e revistas com o intuito de analisar basicamente o centro da cidade, que é o Plano Piloto de Brasília. O autor possui fina percepção de como os arquitetos/urbanistas Lucio Costa e Oscar Niemayer conceberam a capital federal, respectivamente, pelo urbanismo e pela arquitetura e que, mais tarde, veio a se espraiar em três dezenas de outros núcleos urbanos, as cidades-satélites de Brasília.
A obra é de fácil compreensão, inicialmente traduz sua ligação com o movimento modernista dos Congressos Internacionais da Arquitetura Moderna – CIAM e a posterior expansão para atender às demandas locais. O autor esclarece o desenvolvimento do Plano Piloto em suas quatro escalas e aproveita o ensejo para analisar o pensamento das visitas de Clarice Lispector à cidade. A visão do autor é analítica e crítica e é indicada aos que desejam ter uma ideia ampla da capital federal e de seu horizonte. Leia Mais
Revisitações à obra de Rosa Virgínia Mattos e Silva | LaborHistórico | 2021
O nome de Rosa Virgínia Mattos e Silva (1940-2012) e a área da Linguística Histórica confundem-se no Brasil, sendo praticamente impossível fazer remissão a uma desconsiderando a outra. Quando quase ninguém mais no país estudava de modo sistemático a história da língua portuguesa e o seu período arcaico (séculos XIII a XVI), impulsionada pelo seu grande mestre, o Prof. Nelson Rossi, despontava já nos anos 60 essa linguista baiana na tessitura de laços entre o labor filológico e a análise linguística historicocêntrica, colaborando na edição do Livro das Aves (séc. XIV)1.
Durante uma carreira de mais de 40 anos, lançou-se, sem pausa, a uma perscrutação da língua portuguesa em seus primórdios, projetando-se como a estudiosa, por antonomásia, das sincronias mediévicas do português. Primeira linguista a obter o título de Pioneira da Ciência no Brasil, pelo CNPq (em 2015)2 -autora de diversos livros, capítulos de livros e artigos; orientadora de dezenas de teses de doutorado, dissertações de mestrado e projetos de iniciação científica3 – foi e continua sendo uma referência obrigatória para os que se debruçam sobre a Linguística Histórica e sobre o fluxo temporal constitutivo do português, por ser ela, nas palavras de Carlos Faraco (2021)4 , uma figura especial, um verdadeiro “[…] elo entre a tradição filológica e as tendências correntes na linguística contemporânea.” (FARACO, 2021, p. 8) 5. Não é por acaso que a sobredita pesquisadora é considerada como um dos principais agentes envolvidos no processo de ressurgimento da fênix — a Linguística Histórica — no domínio da língua portuguesa (CASTILHO, 2012 6; FARACO, 2018 7, 20098 ). Daí a afirmação de Castilho (2012)9 de que celebrar tal linguista é, em outras palavras, celebrar a Linguística Histórica no Brasil. Leia Mais
Relações de gênero e história: emoções, corpos e sexualidades | Projeto História | 2021
A virada epistemológica da historiografia na segunda metade do século XX, marcada por diversos movimentos sociais e uma grande ebulição política, econômica e cultural, possibilitou a emergência de uma categoria polissêmica, multifacetada e diretamente ligada às questões que discutem as relações de poderes na sociedade: os chamados estudos de gênero, categoria analítica cunhada por Joan W. Scott em seu ensaio “Gênero: uma categoria útil de análise histórica (1995). Em meio a essa renovação analítica, os estudos culturais na historiografia avançaram e propuseram mudanças epistemológicas fundamentais para a escrita da História. Tendo como ponto de reflexão as discussões de pesquisadoras como Joan Scott, Judith Butler, Joana Maria Pedro, Maria Izilda Matos, Rachel Soihet e Margareth Rago, a História precisou caminhar para um novo escrever e narrar sobre os corpos, os desejos, as emoções e as sexualidades. Dentro da perspectiva de uma então recente História cultural emergiram análises e críticas fundamentais aos alicerces de poderes, saberes e narrativas sobre o passado, provida de um olhar que entendia que “o pessoal é político” e histórico e, portanto, do ofício das/dos historiadoras/es. Leia Mais
História da Imprensa em Imperatriz – MA: 1930-2010 | Thays Assunção
Thays Assunção | Foto: O Estado
Logo nas primeiras páginas, Thays Assunção faz o seguinte comentário: “Conhecer a história da imprensa é, assim, caminhar em direção ao nosso próprio passado” (REIS, 2018, p.11) A afirmação é o fio que guia a narrativa do livro, a autora constrói um caminho com o leitor até o mapeamento da história da imprensa na cidade de Imperatriz do Maranhão, atrelando os acontecimentos que marcaram as produções jornalísticas aos acontecimentos sociais da época. Parafraseando, entender a história da imprensa está submetido a conhecer a história da cidade, também, concordando com Marialva Carlos Barbosa (2016), os processos comunicacionais estão arraigados às questões de tempo e espaço, não é possível olhar para as páginas dos jornais sem antes verificar qual história eles têm a contar. Leia Mais
Before the Flood: The Itaipu Dam and the Visibility of Rural Brazil | Jacob Blanc
Jacob Blanc | Foto: Everipedia
O livro Before the Flood: The Itaipu Dam and the Visibility of Rural Brazil é sobre a visibilidade do Brasil rural a partir da experiência de grupos sociais que habitavam na região que seria inundada pelo lago de Itaipu (Oeste do Paraná). Nesta resenha, além de apresentar o livro, pretende-se apontar duas contribuições ao campo da História. Uma para a História do Paraná e outra para a área dos Latin American Studies, especialmente um possível novo campo de estudos históricos sobre a região da Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai).
Ao contrário do que a combinação do título (Before the Flood) e da imagem da capa (uma foto da usina de Itaipu) pode sugerir, o livro do historiador Jacob Blanc não é prioritariamente uma história do que há quase 50 anos era propagandeado como o “projeto do século” (Itaipu Binacional). Trata-se de uma história social centrada na narrativa de três grupos-chave (pequenos proprietários de terras, trabalhadores rurais sem a posse da terra e indígenas Avá-Guaranis) que lutaram contra o significado essencial da construção do reservatório de águas da usina: a perda do lugar onde habitavam. De acordo com o autor, cerca de 40 mil pessoas foram removidas para dar lugar ao maior lago artificial do mundo, com mais de 1300 quilômetros quadrados (p. 3; 122). Leia Mais
As marcas da pantera: percursos de uma historiadora | Margareth Rago
Margareth Rago | Imagem: Instituto CPFL
Aqueles e aquelas que se encontram no campo da história das mulheres e da filosofia da diferença, há muito esperavam por um livro que concentrasse a produção intelectual de Margareth Rago, uma das historiadoras feministas brasileiras mais expressivas na contemporaneidade. Finalmente sua imensa obra foi compilada no livro As Marcas da Pantera: percursos de uma historiadora (2021), uma coletânea de artigos publicados pela autora entre os anos de 1993 e 2020, que tratam sobre diferentes temáticas: teoria da história, gênero, feminismos, anarquismo, sexualidade, subjetividade, arte feminista, neoliberalismo, dentre outras.
Graduada em História pela Universidade de São Paulo, onde também cursou a graduação em Filosofia, Rago é professora titular colaboradora do Departamento de História do IFCH da Universidade Estadual de Campinas, tendo sido professora-visitante do Connecticut College e da Columbia University, nos Estados Unidos. Publicou livros que trouxeram uma importante contribuição para inúmeros campos de estudos, dentre os quais podemos citar Do Cabaré ao Lar. A utopia da sociedade disciplinar (1985, 2014); Os Prazeres da Noite. Prostituição e códigos da sexualidade feminina em São Paulo, 1890–1930 (1991, 2008); Entre a História e a Liberdade: Luce Fabbri e o anarquismo contemporâneo (2001); e A aventura de contarse: feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade (2013). Leia Mais
Donald Trump Barack Obama y George Bush. Ideología y estrategia política | María Luisa Soriano González
George Busch (acima) e María Luisa Soriano González (abaixo)| Fotos: Pernambuco Notícias e Editorial Tirant
Esta investigación de la profesora María Luisa Soriano González [1] está en consonancia con las metodologías comparativas dominantes de la actualidad. Toda la estructura está concebida para contraponer la estrategia política y la gestión final de las tres últimas administraciones estadounidenses. Podría decirse que uno de los objetivos fundamentales de la investigación, después de evaluar las prioridades temáticas y las hipótesis primarias, es establecer un marco sintético para enumerar las principales conclusiones multidisciplinares existentes sobre la gestión de George Bush (cuadragésimo tercer presidente), Barack Obama (cuadragésimo cuarto presidente) y Donald Trump (cuadragésimo quinto presidente). En unos apartados se trata de arrojar luz sobre las grandes diferencias generales, mientras que, por otra parte, en otros espacios se intenta analizar los vínculos de agenda y las continuidades en la praxis. Leia Mais
Neoliberalismo: Linajes cursos y discursos en América Latina | História Unisinos | 2021
Neoliberalismo | Fotomontagem: Juliana Pereira/Guia do Estudante/Reprodução
Leia mais em: https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/o-que-e-o-neoliberalismo-e-qual-sua-relacao-com-o-brasil-de-2020/
De tiempo en tiempo, cuando se abate una crisis, es recurrente que se desempolven viejos obituarios acerca del neoliberalismo. Los Estados rápidamente activan sus estructuras para socorrer al sistema capitalista en apuros adelantando políticas que antes se habrían visto renegadas, pero que vuelven al ruedo.
Hemos observamos entonces, desde otras experiencias similares, que, una vez pasado el cimbrón, ciertas ideas retornan a sus carriles habituales mostrando y demostrando en medio de la disfunción un enorme poder de resiliencia. Se trata de una palabra algo bastardeada, pero que -en este caso- se podría aplicar a pie juntillas. El neoliberalismo parecería tener tantas vidas como los gatos, tal y como juguetea -a través de esa metáfora- el título de una reciente compilación de Dieter Plehwe, Quinn Slobodian y Phillip Mirowski (2020). Por ello, puede ser prematuro decretar un réquiem para el neoliberalismo. Las hipótesis sobre su reformulación entonces no pueden ser desacartadas como apuntaron diversos trabajos formulados tiempo antes de la actual coyuntura. Leia Mais
“A Direita na América Latina Contemporânea”: universidades, intelectuais, disputas de espaços e sentidos | Revista de História da UEG | 2021
Apresentação
“Um fantasma recorre a América Latina”. Especialmente desde os anos de 1960, depois da Revolução Cubana e seu influxo na radicalização política de alguns setores da juventude militante daquele período, os debates entre universitários “bolcheviques”, ou seja, aqueles mais próximos da experiência soviética e chinesa, que, por sua vez, baseavam-se na prática maoísta, o surgimento das propostas de socialismo nacional nos partidos populares, bem como o boom dos escritores latino-americanos fez com que se afiançara a noção cultural da hegemonia das esquerdas nos campos intelectual e universitário. Paradoxalmente, esse argumento, qual seja, o do “esquerdismo” dos e das estudantes, docentes e intelectuais, é um velho tópico usado também pelas direitas para denunciar a decadência das universidades e da cultura em geral.
Por isso, esse dossiê analisa esse sentido comum por meio de diferentes artigos que mostram as experiências direitistas de intelectuais e universitários em diferentes países latino-americanos. Entendemos o conceito de intelectual em seu sentido amplo, isto é, incluindo jornalistas e empresas editoriais, bem como atores políticos que fazem uso de instrumentos intelectuais para indicar e defender suas ações e projetos. O campo de estudos sobre as direitas latino-americanas (e de outros recortes geográficos) cresceu significativamente nas últimas décadas, ganhando legitimidade como tema de investigação social, desmentindo a alguns detratores que lhe atribuíam um caráter meramente militante. Por outro lado, com a recente irrupção de partidos e governos de direita na região, se colocaram em evidência as premissas e corpus de ideais pensados por intelectuais de direita que também assumiram uma nova visibilidade. Leia Mais
Negacionismos e usos da história | Revista Brasileira de História | 2021
Negacionismos | Fotomontagem: Jornal da USP
Como certos passados, sistematicamente escrutinados pelos historiadores, amplamente debatidos e largamente documentados, podem ser simplesmente negados ou apresentados como invenções motivadas por interesses escusos? O que leva grupos e indivíduos a duvidarem da existência do Holocausto, da ditadura militar brasileira, dos incontáveis genocídios ao redor do mundo ou da escravidão que, ao longo de mais de três séculos, moldou as formas sociais do capitalismo moderno? Quais são as operações intelectuais, afetivas, políticas e ideológicas que envolvem e inscrevem os desafios e interrogações lançados pelos negacionismos à história, como conhecimento organizado do passado, aos seus usos políticos, apropriações e condições de produção da verdade?
Estas questões estiveram nas origens deste dossiê e agora são aprofundadas pelos artigos que o compõem. Eles apresentam um arco diversificado de reflexões acerca das variadas formas de visibilidade do negacionismo e do revisionismo ideológico no espaço público, bem como se propõem a pensar o papel da escrita da história e dos historiadores em seu enfrentamento. Evidentemente, explorar todas as respostas possíveis para as perguntas anteriores nos levaria a perscrutar um domínio inalcançável de análises produzidas por áreas que, ao longo das últimas décadas, procuraram decifrar a complexidade do fenômeno negacionista. Nossos objetivos são outros. Leia Mais
Visionary Women. How Rachel Carson, Jane Jacobs, Jane Goodall, and Alice Waters Changed Our World | Andrea Barnet
Visionary Women: How Rachel Carson, Jane Jacobs, Jane Goodall, and Alice Waters Changed Our World, de Andrea Barnet, reúne biografias de quatro mulheres que, quase simultaneamente, revolucionaram o mundo com as suas ideias. Em 1962, Rachel Carson (1907-1964) deu início ao movimento ambientalista ao alertar, no livro Silent Spring, para as graves consequências ambientais e sanitárias do uso indiscriminado de DDT. Em 1961, Jane Jacobs (1916-2006) inaugurou, com o seu livro The Death and Life of Great American Cities, a crítica ao urbanismo modernista ao apontar a deterioração da vida social nas cidades norte-americanas nas quais esse modelo de planejamento urbano fora implantado – especialmente em Nova Iorque. Em 1962, Jane Goodall (1934–) provocou uma redefinição científica de humanidade ao observar e registrar chimpanzés utilizando ferramentas, comportamento até então atribuído apenas aos seres humanos. Em 1965, Alice Waters (1944-) descobriu, na França, os prazeres das refeições feitas com ingredientes frescos, produzidos localmente. Isso inspirou o projeto do seu restaurante, Chez Panisse – marco na culinária sustentável –, inaugurado em 1971, Berkeley, Califórnia. Leia Mais
Miradas góticas. Del miedo al horror en la narrativa argentina actual | Adriana Goicochea
ACECHAR LO GÓTICO. UNA APROXIMACIÓN CORAL A LA NARRATIVA ARGENTINA ACTUAL
En Fantasy. Literatura y subversión, Jackson recurre al concepto óptico de paraxis (de par-axis: junto al eje) para presentar la tesis central de su libro: “es un área en la que los rayos de luz parecen unirse en un punto detrás de la refracción. En esta área el objeto y la imagen parecen chocar, pero en realidad ni el objeto ni la imagen reconstituida residen ahí verdaderamente: ahí no hay nada” (Jackson, p. 17). Lo fantástico constituye así una mirada a lo real que lo ensombrece y amenaza: “Toma lo real y lo quiebra” (Ib. p. 18). Esta característica subversiva y problematizadora de la percepción constituye una de las marcas centrales de las Miradas góticas que, compiladas por Adriana Goicochea, se disponen a acechar las modulaciones de “lo gótico” en la narrativa argentina reciente. Leia Mais
As narrativas dos mestres e uma história social da capoeira em Teresina/PI: do pé do berimbau aos espaços escolares | Robson Carlos da Silva
Se você é leigo nos estudos da capoeira e está buscando aprimorar seus estudos sobre esse esporte considerado “genuinamente nacional”, você deve antes de tudo entender que a capoeira não é simplesmente baiana em sua constituição. A capoeira institucionalizada com Mestre Bimba e Mestre Pastinha na Bahia nos anos de 1920, era só uma parcela da prática que já havia sido registrada em outros estados, principalmente no Rio de Janeiro, como as pesquisas de (SOARES, 1999; 2002) nos mostram.
Entretanto desde o início do século XXI, inúmeras pesquisas surgiram e ampliaram nossos encontros com a história da capoeira em outros estados. Foram ampliados os estudos de capoeira na Bahia com a dissertação de (OLIVEIRA, 2004) e a historiografia da capoeira passa a construir uma lógica de prática regional, consolidada sobretudo nos estudos do século XX, presente nos trabalhos de (LEAL,2002) com a história da capoeira no Pará republicano, recentemente com a história da capoeira no Maranhão por (PEREIRA, 2019) e com as dissertações de (CUNHA, 2012) e (AMADO, 2019) traçando a prática da capoeira no estado de São Paulo, desde a monarquia até a república. E ainda pouco divulgado temos a história da capoeira no Piauí, escrita pelo Mestre Bobby2 e objeto de reflexões dessa resenha. Leia Mais
Entre o impossível e o necessário: esperança e rebeldia nos trajetos de mulheres sem-terra no Ceará | Paula Godinho, Adeaide Gonçalves e Lourdes Vicente
Como mensurar o interesse e a utilidade de um livro? Não somente de um texto, de um relato ou de uma história, mas do todo que constitui o objeto? Um caminho certamente é pensar naquilo que tal encontro desperta nos sentidos e traz como potencial de transformação ou elaboração. No quanto está em sincronia com as questões do próprio tempo, mas vai além e, por vezes intuitivamente, destila o que permanece, oferece o que não se esvai. Ou mesmo se traz mais do que seria suposto, não apenas porque se renova a cada leitura, mas pelo intangível que não controla, nem prevê, mas no qual seu todo participa. Seja por que caminho for, essas são balizas que podem guiar a leitura de Entre o impossível e o necessário: esperança e rebeldia nos trajetos de mulheres sem-terra no Ceará, lançado pela editora Expressão Popular no denso e tenso ano de 2020.
Composto por estudos e relatos correlacionados, mas que mantém independência entre si, tem a qualidade de que cada parte é mais do que se propõe a ser. Isto é, não seria incorreto dizer que o livro se centra em 15 relatos vida de 16 mulheres sem terra do Estado do Ceará, Nordeste do Brasil, a partir de entrevistas realizadas pela antropóloga portuguesa Paula Godinho, autora da introdução e do epílogo. É também organizado pela historiadora brasileira Adelaide Gonçalves e a pedagoga Lourdes Vicente, ambas professoras e militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que também assinam o estudo “Essencial é a travessia”, como em Guimarães Rosa, à guisa de prefácio. Mas, depois de lido, dizer isso torna-se insuficiente ou inexato. Leia Mais
Ensino de História e Tempo Presente | Tempo e Argumento | 2021
História e Memória estão no centro de muitos debates atuais. O interesse pelo passado, expresso em mídias, na teledramaturgia, em temas e títulos de séries e filmes oferecidos pelas plataformas de streaming e em revistas especializadas no trato com o passado, alcança as discussões políticas. Os debates sobre o currículo de História, na Educação Básica e no Ensino Superior, convivem com as disputas por memória1 e com as demandas por outras perspectivas nas abordagens históricas. A rede mundial de computadores tem sido um espaço pródigo em formulações revisionistas que recusam os parâmetros e os procedimentos da pesquisa histórica2.
A História Ensinada ocupa o centro desse debate político, pois, é considerada um espaço poderoso na transmissão de uma compreensão da vida social e de uma narrativa sobre os fatos sociais. Não por acaso, este debate e aquelas disputas e sugestões revisionistas coexistem com os questionamentos sobre a liberdade de ensinar e a defesa de uma Escola livre de ideologias e com manifestações de estranhamento a abordagens relativas à cultura afro-brasileira, às questões de gênero, ao trato da Ditadura Civil-Militar e suas violências e, sobretudo, à crítica abalizada pela crítica histórica. Leia Mais