Movimiento social y politización popular en Tarapacá 1900-1912 | Pablo Artaza Barrios

La historia del norte salitrero de comienzos del siglo xx ha sido un referente de identidad proletaria, una muestra del dolor y de heroísmo popular, un Eldorado perdido, una esperanza de rebeliones o un nido de serpientes, dependiendo de quién la haya leído, desde dónde y para qué. La historia social ha viajado también, una y otra vez, a esa pampa atroz en el límite del territorio nacional, a ese infierno seco donde primero se pierden las alas y luego se pierde la voz, como dice la famosa Cantata, pero donde también se escribieron las páginas quizás más combativas del movimiento obrero en Chile.

La masacre de la Escuela Santa María en diciembre de 1907 ha sido, como bien describe este texto, un hecho trágico, un hito, un latigazo en el corazón de las luchas populares, sujeto a múltiples interpretaciones y lugares en la historia de las luchas políticas a lo largo de todo el siglo xx. A noventa y nueve años de la masacre, al borde del centenario de la tragedia, se publica este texto que busca comprender la complejidad del movimiento de trabajadores tarapaqueño a partir de las fuentes disponibles y de ese largo camino de reflexión política, social e historiográfica, realizando un aporte en la profundización de esa tarea. Como bien dice el texto, “la historiografia marxista ‘clásica’ no ha proporcionado una respuesta satisfactoria a este proceso, básicamente al generar una estrecha identificación entre las distintas instancias institucionales de la organización obrera y el proletariado mismo, y, más aun, al considerar la conciencia de clase como un indicador más de la madurez de estas instituciones”. Igualmente, la investigación critica a una historiografía conservadora que ha visto en los conflictos sociales solo la lamentable pérdida de una supuesta ‘unidad nacional’. Leia Mais

El Argentino Despertar de las Faunas y de las Gentes Prehistóricas: Coleccionistas, estudiosos, museos y universidad en la creación del patrimonio paleontológico y arqueológico nacional (1875-1913) | Irina Podgorny

Recentemente, Martin Rudwick, historiador da Paleontologia, parafraseando Bruno Latour e Steve Woolgar, considerou que, comparadas à vida social dos laboratórios, as ciências de campo e os museus são terra semi-incógnita. A obra de Irina Podgorny, nos últimos anos, vem desbravando o terreno, pontuando os caminhos por que percorreram, na Argentina, a História Natural e a Arqueologia. Escritora prolífica, Podgorny dedica-se a uma variedade de temas: Arqueologia e Educação, recepção da New Archaeology na Argentina etc. Todos os temas relacionam-se, quase sempre, à compreensão da formação histórica de la argentinidad.

Sua obra comporta, pelo menos, duas vertentes teóricas. Primo, os estudos históricos, iniciados desde meados de 1970, sobre a função da Arqueologia e da cultura material em geral para a formulação de identidades sociais. De outro lado, ela partilha dos aportes da História social das ciências, definidos, nos anos 1980, na Europa, América do Norte e América Latina. Estuda como os enunciados científicos conformam habitus sociais e cognitivos, arranjos em permanente transformação, negociação e conflito. Examina as práticas científicas concretas abrigadas por instituições de pesquisa, os projetos políticos que as recobrem, a ação social, alianças e lutas entre cientistas. O ponto de partida, pois, é a interpretação de como as ciências, em articulação aos grupos sociais e contextos históricos, inventam uma ordem. Leia Mais

Dicionário Crítico Câmara Cascudo | Marcos Silva

Desde o primeiro momento em que me deparei com o Dicionário Crítico Câmara Cascudo e, depois, à medida que o lia – ou melhor, saboreava cada página – uma pergunta se impunha: que outro escritor brasileiro poderia ser comparado a Câmara Cascudo, seja pelo volume de livros publicados, seja pela impressionante contribuição que deu aos mais diferentes campos do conhecimento? Que outro mereceria a organização de um dicionário para reunir e explicar sua produção intelectual? E, apesar de alguns nomes me ocorrerem, nenhum parecia superar o norte-rio-grandense, tal o inegável impacto de seu trabalho para a cultura brasileira. Como poucos, Cascudo introduziu no cenário nacional o testemunho de uma experiência sertaneja e a cosmovisão de um mundo nordestino, até então muito pouco conhecido e geralmente ignorado pela elite intelectual do país.

A vasta bibliografia de Câmara Cascudo (1898-1986) contabiliza cerca de uma centena de obras e se encontra espalhada pelos campos da história, da etnografia, da antropologia, da literatura, da crítica literária, da cultura popular, da religião, da geografia e, principalmente, do folclore. Como se não bastasse, há ainda um importante detalhe: seja qual for o tema estudado, o texto cascudiano prima por ser também literário. O escritor norte-rio-grandense desenvolveu ao longo de sua produtiva vida intelectual um estilo muito próprio, cujo ponto alto é justamente uma especial habilidade no trato com a linguagem, que resulta sempre em um texto sedutor, leve e singular, pontuado de imagens e de expressões poéticas que encantam o leitor e aliviam com muita sensibilidade a aridez da informação documental. Leia Mais

Ideologia Autoritária | Guido Rodriguez Alcalá

Um problema sempre recorrente quando se fala da integração latino-americana no plano cultural é a dificuldade de comunicação entre as metades de origem espanhola e portuguesa do continente. Os livros, revistas e jornais argentinos, mexicanos ou espanhóis circulam pelo imenso espaço entre o México e a Terra do Fogo, formando um conjunto que não é nem de longe homogêneo, mas se comunica através de uma língua comum. A produção cultural brasileira, em língua portuguesa, contudo, não tem esta repercussão fora do país, e nem mesmo entre nossos vizinhos mais próximos há uma real demanda por ela. Como contrapartida lógica, o que se produz na América hispânica nem sempre chega às estantes do Brasil, o que dificulta o diálogo e as trocas numa região que se aproxima, economicamente, cada vez mais.

Numa iniciativa do Itamaraty, surgiu a Coleção América do Sul, cujo objetivo é colocar à disposição do público brasileiro obras fundamentais, publicadas por conhecidos escritores e pesquisadores dos países da América do Sul, para o conhecimento destes países. Tais obras, devidamente traduzidas para o português, buscam estimular no leitor brasileiro o interesse pela nossa própria região do mundo e aproximar as duas metades do continente latino-americano. Tal idéia é mais do que meritória, nem tanto pela tradução dos livros (já que é impensável que um leitor culto de português seja incapaz de ler espanhol), mas pelo fato de disponibilizar, no Brasil, obras de interesse que dificilmente circulariam no país sem o apoio oficial. Leia Mais

Escrita singular: Capistrano de Abreu e Madre Maria José | Virgínia A. Castro Buarque

Resenhista

Paula Virgínia Pinheiro Batista – Universidade Federal do Ceará.

Referências desta Resenha

BUARQUE, Virgínia, A. Castro. Escrita singular: Capistrano de Abreu e Madre Maria José. Fortaleza: Museu do Ceará; Secretaria da Cultura, 2003. Resenha de: BATISTA, Paula Virgínia Pinheiro. Trajetos. Fortaleza, v.4, n. 8, 2006.

Acesso apenas no link original [DR]

Visões do feminino: a medicina da mulher nos séculos XIX e XX | Ana Paula Vosne Martins

O livro de Ana Paula Vosne Martins despertou minha atenção em função do interesse que tenho mantido na pesquisa da metodologia, da epistemologia e da história da ciência de um modo geral. De forma específica, o livro trata desses temas voltados para o caso de duas especialidades da medicina, tais sejam, a ginecologia e a obstetrícia. Fortemente apoiada em uma metodologia foucaultiana, bem como em uma literatura contemporânea sobre a história cultural do corpo, a Autora discorre sobre o modo como a comunidade científica em geral e a medicina especializada, de modo particular, produziram um vasto arsenal de representações da mulher, que trataram de reduzir a mulher a um corpo problemático, em contrapartida à racionalidade atribuída ao homem.

A História e a Cultura universal têm muitos exemplos de valorização da figura feminina. De Helena, passando por Joana d’Arc, ou por Inês de Castro, até Maria Bonita, muitas foram as mulheres que povoaram o imaginário de histórias e lendas. Em Homero ou em Cervantes, em Luis de Camões ou Emile Zola a mulher aparece sempre com destaque. Lendas, deusas e mitos femininos estão por toda parte e em todos os tempos. Recentemente, na literatura, Dan Brow popularizou, novamente, o mito do sagrado feminino em seu best seller “O Código da Vinci”, que destaca o culto e a defesa de Madalena. Ainda mais forte é a impressão de Lewis Munford, em “A Cidade na História”, que confere à mulher o poder de uma revolução fundamental no processo civilizatório da humanidade. Segundo o Autor, na revolução agrícola, que marca a passagem do homem de nômade para sedentário, antes de todas as histórias escritas (há cerca de 12.000 anos), a mulher teria sido a grande responsável pela descoberta do ciclo de crescimento dos vegetais. A mulher, afeita às tarefas mais lentas, como o cuidado com os recém nascidos, mais do que o homem, veloz caçador e guerreiro, teve tempo para o cultivo de plantas, sendo essa revolução antes uma revolução sexual. É inegável a contribuição feminina em toda a história. Leia Mais

Cuidar, controlar, curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América Latina e Caribe | Gilberto Hochman e Diego Armus

O livro Cuidar, controlar, curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América Latina e Caribe, formado de 14 capítulos, é apresentado e introduzido por textos de seus organizadores. Segundo Gilberto Hochmann – pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz (Brasil) – e Diego Armus – professor do Swarthmore College (EUA), a idéia inicial que motivou a organização da coletânea ora apresentada era oferecer ao leitor brasileiro uma obra que instigasse à reflexão “sobre as relações entre saúde, doença e sociedade na América Latina em perspectiva histórica, espelhando o estado da arte neste campo emergente e constituindo uma referência, e mesmo um livro-texto para profissionais, professores e estudantes das áreas de história, saúde coletiva, medicina, ciências sociais e humanidades em geral” (p.09). Porém, a coletânea apresentada certamente extrapolará os objetivos territoriais de seus organizadores, na medida em que traz informações e reflexões importantes para todos aqueles que, de um modo ou de outro e independentemente da nacionalidade, estão envolvidos com o campo temático, especialmente se for levado em conta que o livro contém textos já publicados – alguns dos quais já consagrados como referências, tanto no Brasil quando no exterior –, adaptados ou atualizados, e textos inéditos, encomendados especialmente para esta publicação. Leia Mais

Ensino de História das Américas no Brasil e na América Hispânica | Revista Eletrônica da ANPHLAC | 2005

A Associação Nacional de Pesquisadores de História Latino-Americana e Caribenha (ANPHLAC), ao disponibilizar na mídia eletrônica o quarto número de sua revista, dá continuidade ao seu propósito de divulgar as pesquisas em História da América Latina e do Caribe que se realizam no Brasil e estimular o intercâmbio entre pesquisadores, professores e outros estudiosos da área.

Este número apresenta um dossiê sobre o Ensino de História das Américas no Brasil e na América Hispânica, no âmbito das escolas e universidades. A escolha do tema visa contribuir para a reflexão sobre as concepções que vêm norteando políticas educacionais, recortes curriculares, manuais didáticos e práticas docentes relativos a esse domínio da história. Espera, ao mesmo tempo, sugerir caminhos acadêmicos e educacionais que assegurem maior centralidade a um campo do conhecimento que, cultural e politicamente, repercute nas formas de inserção brasileira no continente. Leia Mais

O imaginário da cidade. Visões literárias do urbano | Sandra Jathay Pesavento

Gravuras, desenhos e fotografias mostrando os vários lugares e espaços originais das cidades de Paris, Rio de Janeiro e Porto Alegre, em meados do século XIX e inícios do XX, compõem o livro Imaginário da Cidade. Visões literárias do urbano, de Sandra Jatahy Pesavento2. Algumas dessas imagens nos remetem à Paris de 1739 a 1876, aos sobrados sombrios das ruas Marmousets, Pirouette e de la Colombe – hoje desaparecidas em função das reformas urbanas. Outras revelam paisagens de Porto Alegre (no início do século XX) e do Rio de Janeiro (na segunda metade do século XIX). O mercado público, as praças e as ruas da capital gaúcha são flagrados em sua modesta suntuosidade por fotógrafos desconhecidos. A modernidade da Avenida Central da cidade carioca, com seus suntuosos palacetes, se justapõe aos registros de moradias populares (como os cortiços) e da destruição de morros da cidade – cenas captadas pelas lentes das câmeras de Victor Frond, Marc Ferrez e Augusto Malta. Leia Mais

Correspondência cordial: Capistrano de Abreu e Guilherme Studart | Eduardo Lúcio Guilherme Amaral

“HÁ MUITO TEMPO DESEJO-LHE ESCREVER…”:

ITINERÁRIOS HISTORIOGRÁFICOS NA ESCRITA DE CARTAS

Poucas figuras proeminentes do cenário intelectual brasileiro no séc. XIX tiveram sua imagem pública tão dissecada quanto João Capistrano de Abreu. De fato, as peripécias e infortúnios que cercam a vida deste historiador cearense serviram de matéria a um número vultoso de estudos e publicações. Espírito reservado, temperamento forte, estilo irônico, inteligência aguda, compulsão pela leitura, aversão a homenagens e honrarias, desmazelo nos cuidados com a aparência pessoal são algumas das características que tornaram Capistrano uma fonte quase inexaurível de situações inusitadas, oscilando em movimento pendular, do cômico ao trágico. Durante muito tempo, suas correspondências com amigos, parentes e colegas forneceram uma cornucópia de curiosidades, ensejando a difusão de anedotário que hoje praticamente se funde à personalidade do escritor. Leia Mais

Roteiro bibliogáfico do pensamento político-social brasileiro (1870-1965) | Wanderley Guilherme dos Santos

Neste livro estão reunidos dois trabalhos de Wanderley Guilherme dos Santos. Um é o Roteiro bibliográfico do pensamento político-social brasileiro (1870-1965), levantamento das principais obras do pensamento brasileiro, realizado há 36 anos e nunca antes publicado; o outro é uma reflexão sobre nossa história das idéias e já se tornou um texto clássico: Paradigma e história: a ordem burguesa na imaginação social brasileira. O levantamento bibliográfico fala por si mesmo. No entanto, vale a pena ressaltar a originalidade dos critérios de seleção que o orientaram. Concebida originalmente em 1966 para orientar uma pesquisa sobre a Imaginação político-social brasileira, a seleção bibliográfica privilegiou fontes e temas em que se evidenciava a forte relação entre história política e história intelectual e concentrou-se nos estudos cuja ênfase recai sobre questões econômicas e sociais. Aliado a Paradigma e história, trabalho nele baseado, esse Roteiro bibliográfico é ferramenta indispensável para os que se dedicam ao estudo da história do pensamento social brasileiro. Leia Mais

Batallas contra la lepra: Estado, medicina y ciencia en Colombia | Diana Obregón Torres

Diana Obregón é professora e pesquisadora da Universidade Nacional da Colômbia e seu livro é uma versão mais abrangente de sua tese de doutoramento em história da cência, defendida na Universidade de Virgínia, em 1996. Partindo de um interesse geral sobre a constituição das associações científicas no final do século XIX e início do XX na Colômbia, a autora se surpreendeu com o grande número de artigos sobre lepra, fazendo-a supor que os médicos, na época, não tivessem outra preocupação como foco de atenção e análise. Essa descoberta causou-lhe a princípio verdadeiro horror, sobretudo “… por las figuras que por lo general acompañan las descripciones médicas …” (p. 11). Embora não constituíssem seu interesse central, a autora não poderia deixar de notar essa presença.

Algum tempo depois, ao se debruçar sobre o desenvolvimento da teoria microbiana e sobre como a bacteriologia influenciou e modificou as práticas médicas na sociedade colombiana, a autora voltou a deparar com a doença. Dessa vez, os grandes nomes da bacteriologia local, como Juan de Dios Carrasquilla e Federico Lleras Acosta, estavam profundamente envolvidos com a pesquisa sobre a lepra. Assim, Diana percebeu que era preciso entender um pouco mais a doença e descobrir que lugar ela ocupara naquela sociedade, qual sua importância no desenvolvimento da bacteriologia. Tudo isso sem perder de vista o potencial estigmatizante, uma vez que a lepra gera transformações nas percepções humanas e nas relações sociais e culturais, pelo aspecto físico que muitos dos pacientes podem apresentar ao longo do tempo, por causa das seqüelas da doença.1 Leia Mais

História e ensino de história | Thaís Nívia de Lima Fonseca

Resenhista

Karina Ribeiro Caldas – Mestranda em História na Universidade Federal de Goiás.

Referências desta Resenha

FONSECA, Thaís Nivía de Lima e. História e ensino de história. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. Resenha de: CALDAS, Karina Ribeiro. História Revista. Goiânia, v.9, n.1, p.145-149, jan./jun.2004. Acesso apenas pelo link original [DR]

Palácio para guardar doidos: uma história das lutas pela construção do hospital de alienados e da psiquiatria no Rio Grande do Sul | Yonissa Marmitt Wadi || Arquivos da loucura: Juliano Moreira e a descontinuidade histórica da psiquiatria | Vera Portocarrero

O tema da constituição da psiquiatria no Brasil, que há algumas décadas vem sendo estudado em diferentes áreas — da psiquiatria às ciências sociais —, ganha agora mais duas contribuições importantes: Palácio para guardar doidos, de Yonissa Marmitt Wadi, e Juliano Moreira e a descontinuidade histórica da psiquiatria, de Vera Portocarrero. Os dois trabalhos são, respectivamente, frutos de dissertações de mestrado na área da história e da filosofia, abordando os desenvolvimentos da psiquiatria em cidades e períodos históricos distintos. O livro de Wadi trata do processo de construção do primeiro hospício da província de São Pedro do Rio Grande do Sul — que culminou em 1884 com a criação do Hospício São Pedro. Analisa o lugar que a medicina ocupou nesse processo e em seus desenvolvimentos até os anos 1940. Já a dissertação de Portocarrero — defendida em 1980, e agora felizmente publicada através da iniciativa da Coleção Loucura & Civilização — toma como objeto a transformação da ciência e da assistência psiquiátrica no Brasil, no início do século XX, representada no pensamento do psiquiatra baiano Juliano Moreira. Leia Mais

Uma ciência da diferença: sexo e gênero na medicina da mulher | Fabíola Rohden

A construção social da sexualidade vem sendo inventariada pelos mais diversos campos de conhecimento, mas, sem dúvida, é no discurso médico que vai encontrar um dos seus filões mais ricos de análise. Na virada do século XIX para o XX, a onda transformadora advinda da aceleração do processo urbano industrial, entre as suas inúmeras conseqüências, propiciou o ingresso da mulher no mercado de trabalho e a elaboração do ideário feminista, descortinando-se, assim, novas possibilidades de relacionamento entre os gêneros.

Nesse cenário, tão profundamente marcado pelos ventos da mudança, impunha-se a necessidade de repensar e demarcar os papéis sociais. Leia Mais

Educação e Sociedade na Primeira República | Jorge Nagle

No ano de 2001, à guisa de comemoração do terceiro milênio, a DP&A Editora brindou estudiosos, professores de história da educação brasileira e aos demais interessados com a publicação da obra do Prof. Jorge Nagle, Educação e Sociedade na Primeira República. Sua primeira edição (1974), bem como, a reimpressão (1976), resultado de uma parceria entre a Fundação Nacional de Material Escolar/MEC (Rio de Janeiro) e a Editora Pedagógica Universitária (São Paulo), estavam esgotadas há muito tempo. Tal situação forçava as pessoas, por necessidade de ofício, a violar os direitos autorais, xerocopiando a obra no todo ou em partes.

Trata-se de uma obra ímpar na interpretação da educação brasileira, no período da Primeira República. O Autor cunhou as categorias “entusiasmo pela educação” e “otimismo pedagógico”, para explicar a efervescência dos debates e disputas teóricas sobre a trajetória da educação, num momento em que a sociedade brasileira passava pela transição de uma sociedade agrário-comercial por outra, urbano-industrial. Leia Mais

O Rio em movimento — quadros médicos e (m) história: 1890-1920 | Myriam Bahia Lopes

Para um leitor, como a autora desta resenha, que não é nenhum especialista em história, o livro de Myriam Bahia Lopes, O Rio em movimento — quadros médicos e(m) história: 1890-1920, reserva surpresas instigantes. Embora trate de um período relativamente curto, de um episódio singular, a Revolta da Vacina, e restrito ao Rio de Janeiro, a obra levanta questões que dizem respeito tanto à representação do passado quanto à representação da especificidade brasileira sobre esse passado. O questionamento historiográfico salutar leva o leitor, atento à voz crítica que ali se articula certamente com discrição, mas com firmeza, a se perguntar se alguns lugares-comuns sobre a interpretação do Brasil de hoje não poderiam igualmente ser chacoalhados com proveito.

Desde o início, Myriam Bahia define seu livro como um ensaio, isto é, uma tentativa ou, como ela também diz, uma luta. O livro apresenta um momento histórico preciso, um acontecimento singular, mas, ao mesmo tempo e de forma inseparável, também procede a uma constante auto-reflexão sobre as categorias empregadas nessa apresentação, categorias como “modernidade” (versus “atraso”), civilização, “regeneração” (versus “decadência”). Essa “luta implícita contra a rigidez das palavras”, segundo Myriam, faz desse texto um pequeno laboratório de indagações preciosas sobre algumas idéias prontas, mesmo que bem-intencionadas e progressistas, que circulam a respeito de nossa “triste realidade nacional”, como se diz, e que impedem que se tenha uma percepção mais atenta de sua complexidade, de seus paradoxos, talvez até de suas contradições e também de suas possibilidades insuspeitas. Leia Mais

Rio Branco, a América do Sul e a modernização do Brasil | Carlos Henrique Cardin e João Almino

Para comemorar o primeiro centenário da posse do barão do Rio Branco como Ministro das Relações Exteriores, a Funag, o Instituto Rio Branco e o Ipri organizaram um seminário no IRBr nos dias 28 e 29 de agosto de 2002. O encontro analisou a atuação de Rio Branco por meio de cinco enfoques: sua visão do Brasil e do mundo, seus contemporâneos, o trabalho pela modernização do Brasil, a política para as Américas e a política brasileira para o Prata. Os textos apresentados foram reunidos por Carlos Henrique Cardim e João Almino, dando origem ao livro lançado, em 2002, pela EMC Edições, prefaciado por Fernando Henrique Cardoso.

Na abertura dos trabalhos, Celso Lafer realçou a relação entre a tradição de uma diplomacia brasileira ancorada à história e à herança paradigmática do fazer diplomático do Barão como diretriz e orientação para as decisões do país. Leia Mais

A Social History of Anthropology in the United States | Thomas C. Patterson

Pode escrever-se uma história da ciência apenas a partir da discussão de questões metodológicas? Pode isolar-se a história de uma ciência social de sua inserção no tecido social? Podem entender-se as transformações de uma disciplina sem relacioná-las aos avatares da política? Questões como estas parecem teóricas no contexto internacional da história das ciências, na medida em que a academia faz parte da sociedade e, por isso, nunca poderia ser dela desvinculada. No Brasil, contudo, assim como em outros países periféricos, a ciência, imbricadíssima com as vicissitudes da política, tem sido considerada por alguns como atividade impérvia às relações de poder, importação tecnológica periférica que se ressentiria somente do atraso metodológico. Neste contexto, adquire particular importância o livro de Thomas C. Patterson sobre a trajetória da Antropologia nos Estados Unidos. Patterson considera as condições históricas que permitiram a existência da disciplina, assim como as circunstâncias nas quais o conhecimento antropológico foi produzido, ressaltando que as contradições nesse conhecimento produzido pelos antropólogos americanos refletem divisões nas sociedades. Leia Mais

Brasil, Argentina e Estados Unidos: conflito e integração na América do Sul (Da Tríplice Aliança ao Mercosul, 1870-2003) | Luiz Alberto Moniz Bandeira

Moniz Bandeira, mais uma vez, surpreende. Sua nova obra, fruto de trabalho intelectual iniciado há 27 anos, consolida e desdobra suas reflexões acerca da inserção internacional do Brasil, já presentes, em grande parte, em outros trabalhos de igual fôlego como O expansionismo brasileiro e a formação dos Estados na Bacia do Prata (1980); Estado nacional e política internacional na América Latina: o continente através das relações Argentina-Brasil, 1930-1992 (1995); e Relações Brasil-EUA no contexto da globalização: rivalidade emergente (1999).

A referência aos seus trabalhos anteriores não exclui a originalidade do novo texto, que consubstancia um conhecimento resultante de três décadas de pesquisa. Ademais, Moniz Bandeira analisa a inserção internacional do Brasil no período mais recente da história das relações internacionais da mudança da conjuntura mundial em 1989-1991 aos dias atuais e comenta, sucintamente, os marcos teóricos que orientam sua reflexão, elemento praticamente ausente nos trabalhos anteriores. Leia Mais

Educação e Sociedade na Primeira República | Jorge Nagle

No ano de 2001, à guisa de comemoração do terceiro milênio, a DP&A Editora brindou estudiosos, professores de história da educação brasileira e aos demais interessados com a publicação da obra do Prof. Jorge Nagle, Educação e Sociedade na Primeira República. Sua primeira edição (1974), bem como, a reimpressão (1976), resultado de uma parceria entre a Fundação Nacional de Material Escolar/MEC (Rio de Janeiro) e a Editora Pedagógica Universitária (São Paulo), estavam esgotadas há muito tempo. Tal situação forçava as pessoas, por necessidade de ofício, a violar os direitos autorais, xerocopiando a obra no todo ou em partes.

Trata-se de uma obra ímpar na interpretação da educação brasileira, no período da Primeira República. O Autor cunhou as categorias “entusiasmo pela educação” e “otimismo pedagógico”, para explicar a efervescência dos debates e disputas teóricas sobre a trajetória da educação, num momento em que a sociedade brasileira passava pela transição de uma sociedade agrário-comercial por outra, urbano-industrial. Leia Mais

Fronteira Rebelde: A Vida e a Época dos Últimos Caudilhos Gaúchos | John Charles Chasteen

O livro é resultado da tese de doutorado de John Charles Chasteen, publicada em 1995 pela University of New Mexico com o título “Heroes on Horseback: a Life and Times of the Last Gaucho Caudillos” 3. O texto é prefaciado pela professora Helga Iracema Landgraf Piccolo, que ressalta a importância da pesquisa realizada pelo historiador norte-americano relativa à fronteira do Rio Grande o Sul e do Uruguai enquanto um espaço privilegiado para a ação dos caudilhos, no caso os irmãos Gumercindo e Aparício Saraiva/Saravia.

Como ressalta o autor no capítulo introdutório “Caudilhos”, o livro está organizado em dois conjuntos de capítulos intercalados. Nos capítulos narrativos, intitulados por datas, são descritas as trajetórias pessoais dos irmãos Saraiva/Saravia, com os principais episódios políticos e militares em que estiveram envolvidos; de “Janeiro de 1893” até “Janeiro a Agosto de 1894” o teatro da narrativa é a Revolução Federalista de 1893, e o grande protagonista é chefe maragato Gumercindo, o mais velho, tendo Aparício um papel secundário; de “Outubro de 1895” até “Março de 1897 a Setembro de 1904” as atenções voltam-se para as últimas ações armadas promovidas pelos blancos uruguaios comandados por Aparício. Leia Mais

Espaços da ciência no Brasil: 1800-1930 | Maria Amélia M. Dantes

Organizado pela professora Maria Amélia M. Dantes, docente do programa de pós-graduação em história social da Universidade de São Paulo (USP), a presente publicação abrange sete estudos que integraram um amplo projeto, financiado parcialmente pelo CNPq, no qual foram analisadas a constituição de diferentes instituições científicas brasileiras, seus modelos organizacionais e práticas estabelecidas.

Como resultado deste projeto, além dos trabalhos de pós-graduação relacionados, surge esta publicação que deverá ocupar lugar importante na historiografia sobre as atividades científicas realizadas no país. Leia Mais

A vida cotidiana no Brasil moderno: a energia elétrica e a sociedade brasileira (1880-1930) | Centro de Memória da Eletricidade no Brasil

O Centro de Memória da Eletricidade no Brasil, criado em 1986 com o objetivo de promover a preservação do patrimônio histórico da energia elétrica no Brasil, dedica-se, entre outras atividades, à produção de uma historiografia voltada para a compreensão do processo de implantação da energia elétrica e de seu desenvolvimento no país. Essa produção tem chamado a atenção pela qualidade em termos de informações iconográficas e textuais sobre o tema; citando como exemplos mais recentes: Cidade em movimento: energia elétrica e meios de transporte na cidade do Rio de Janeiro (2001); Energia elétrica no Brasil ¾ 500 anos (2000); e Reflexos da cidade: a iluminação pública na cidade do Rio de Janeiro (1565-1930) (1999).

Em outubro de 2001, comemorando o seu 15º aniversário, a instituição lançou A vida cotidiana no Brasil moderno: a energia elétrica e a sociedade brasileira (1880-1930). Esse último lançamento realizado “no apagar das luzes”, num momento em que a ordem do dia era o racionamento de energia elétrica como conseqüência da crise no setor, explicita a atualidade do tema. Vale ressaltar a formação da equipe de autores da obra, constituída em grande parte por historiadores e museólogos. Leia Mais

Os delírios da razão: médicos/ loucos e hospícios — Rio de Janeiro/ 1830-1930 | Magali Gouveia Engel

As reflexões sobre o campo médico-psiquiátrico no Brasil servem de instrumento para trazer à baila questões que envolvem dispositivos de poder e disciplina, na constituição de um saber que acabou por monopolizar a ‘verdade’ sobre a doença mental; além disso, tais considerações podem incidir sobre outros discursos, de modo a permitir verificar e, mesmo, desconstruir estratégias desenvolvidas ao longo de diferentes processos históricos. Afinal, “O discurso não é simplesmente o que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas este porque, este por meio de que luta, o poder de que se busca apoderar-se” (Michel Foucault, A ordem do discurso, Paris, Gallimard, 1971, p. 12).

Desse modo, cada vez mais despontam historiadores e outros pensadores da cultura que se debruçam sobre a história das disciplinas que tratam do mental. O Império, por exemplo, passou a ser objeto de interesse para aqueles que indagam a respeito dos processos de consolidação do campo psi — campo que abarca as disciplinas que se debruçam sobre o psiquismo — e das abordagens sobre a loucura. Do mesmo modo, os períodos pós-colonial e as repúblicas são objeto de crescente atenção, como via de acesso às temáticas acerca do papel crítico que as novas metrópoles tiveram para a delimitação do campo psi, e o papel das políticas de saúde do Estado, das universidades etc. daí decorrentes. As atuais discussões antimanicomiais, as questões estabelecidas pela hipermedicalização do mal-estar psíquico, bem como as mais novas teorias genéticas, entre tantos outros objetos que confrontam o campo psi hoje, exigem uma realocação da arquitetura da saúde mental, assim como um novo tracejamento das disciplinas que tratam do irracional, da desrazão, do destempero, da vesânia, do delírio, das intensidades, do inconsciente e da pulsão em nossas bandas.   Dando um rumo singular a essas questões, Os delírios da razão: médicos, loucos e hospícios — Rio de Janeiro, 1830-1930, de Magali Gouveia Engel, é extremamente bem-vindo. Constitui material precioso para os que se interessam pela pesquisa genealógica e/ou os que intentam pensar o que se convencionou chamar de campo psi  as diversas disciplinas que trabalham com os fenômenos psíquicos hoje no Brasil. Leia Mais

Relações internacionais: dois séculos de história | Entre a preponderância européia e a emergência americano-soviética | Entre a ordem bipolar e o policentrismo (1947 a nossos dias)| José Flávio Sobra Saraiva || Relações internacionais e temas sociais: a década das conferências | José Augusto Lindgren Alves || Relações internacionais da América Latina: velhos e novos paradigmas | Amado Luiz Cervo || Relações internacionais: cultura e poder | Estevão Chaves de Rezende Martins || Cooperação/ integração e processo negociador: a construção do Mercosul | Alcides Costa Vaz

Foram lançados em 2002 mais dois títulos da coleção “Relações Internacionais”, que se juntam aos quatro levados a público no segundo semestre de 2001. A coleção é publicada pelo Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI) e organizada por José Flávio Sombra Saraiva, diretor-geral do Instituto, com o apoio da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e o patrocínio da Petrobras. O IBRI cumpre, assim, uma das importantes missões a que se propôs, que é a de difundir os estudos desenvolvidos no Brasil sobre as relações internacionais e sobre a inserção do país no cenário internacional. A coleção, distinta de outras que recentemente incorporaram-se ao mercado editorial do país, volta-se, com efeito, à exposição do atual pensamento brasileiro em relações internacionais.

Os dois volumes de “Relações internacionais: dois séculos de história”, organizados por José Flávio Sombra Saraiva, são, não por acaso, os dois primeiros títulos da coleção “Relações internacionais”. Trata-se de uma versão ampliada e revista de “Relações internacionais: da construção do mundo liberal à globalização (1815 a nossos dias)”, lançado em 1997, rapidamente esgotado. O primeiro volume intitula-se Entre a preponderância européia e a emergência americano-soviética (1815-1947) e o segundo Entre a ordem bipolar e o policentrismo (de 1947 a nossos dias). O leitor encontra nos dois caprichados volumes uma excelente síntese de quase dois séculos da história das relações internacionais, escrita de maneira acessível e instigante por quatro especialistas: além do organizador, José Flávio Sombra Saraiva, Amado Luiz Cervo, Wolfgang Döpcke e Paulo Roberto de Almeida. Os autores utilizaram bibliografia atualizada e da mais alta qualidade, trazida ao final de cada capítulo, o que permite ao leitor prosseguir facilmente no aprofundamento de temas que são de seu maior interesse. Leia Mais

Mulheres da floresta: uma história – Alto Juruá/ Acre (1890-1945) | Cristina Scheibe Wolff

A historiografia costuma descrever a história da Amazônia a partir do surgimento da exploração comercial do látex da seringueira e da grande quantidade de nordestinos que passaram a migrar para a região, principalmente após as secas da década de 1870. Para exemplificar este tipo de abordagem onde a economia da borracha e suas ligações com o mercado externo aparecem com destaque, podemos citar a numerosa obra de Arthur Cesar Ferreira Reis. Entretanto, o livro Mulheres da floresta: uma história – Alto Juruá, Acre (1890-1845) de Cristina Scheibe Wolff aponta em outra direção. A autora critica esta perspectiva, a qual denominou de “fetichização da mercadoria”, e ressalta as relações sociais e as experiências vividas por indivíduos, especialmente por mulheres, no cotidiano da floresta.

Para tanto, Cristina Wolff reuniu fontes variadas como, por exemplo, processos civis e criminais (encontrados no Fórum de Cruzeiro do Sul), jornais, relatórios, textos e diários de viajantes (como Constantin Tastevin, Craveiro Costa, Euclides da Cunha, Chandless, Belarmino Mendonça, entre outros). Ao cruzar dados diversos, obteve informações acerca das idades em que os matrimônios se realizavam, seus motivos, a profissão dos envolvidos, as causas de defloramento e assassinato de mulheres, que iluminaram suas conclusões acerca das relações familiares e do cotidiano. Todo este trabalho documental foi somado a um significativo acervo de fontes orais, composto por 26 depoimentos gravados e transcritos, na maioria de mulheres entre sessenta e noventa anos, produzidos em 1995, durante o ano em que a historiadora viveu entre os seringueiros. Leia Mais

As ilusões da liberdade: a Escola Nina Rodrigues e a antropologia no Brasil | Mariza Corrêa

Não causa espanto a quantidade de trabalhos acadêmicos que, poste- riormente à tese de Mariza Corrêa, tomou como problema central de pesquisa a trajetória ou as atividades do médico maranhense Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906). Nesses quase vinte anos posteriores ao trabalho da autora, algumas gerações de cientistas sociais e historiadores continuam a se defrontar com esse que é considerado há algum tempo um dos grandes ícones da história da medicina em nosso país. Pode-se considerar que Mariza chamou a atenção de todos nós, em sua obra — que é leitura obrigatória sobre o tema —, para a existência de um daqueles personagens sui generis que, ao serem observados sociológica ou historicamente, parecem dizer tanto mais de seu tempo como de si mesmos.

Na verdade, não considero tarefa simples enquadrar em seu tempo a personagem central da obra de Côrreao próprio Nina Rodrigues. Desde a partida de sua terra natal, por volta de1882, até seu estabelecimento na Bahia, passando ainda pela Corte do Rio de Janeiro, a trajetória do médico não só permanecia nebulosa como também não era ainda considerada, tal como é hoje, um símbolo privilegiado tanto para a compreensão da história da medicina como do pensamento social no nosso país. A autora, nesse sentido, pode ser vista como uma das grandes responsáveis pela emergência de Nina Rodrigues como objeto de análise para todos aqueles que tiveram a oportunidade de ter contato direto ou indireto com sua tese, consagrada e de ampla circulação no mundo acadêmico. Leia Mais

Medicina/ leis e moral: pensamento médico e comportamento no Brasil (1870-1930) | José Leopoldo Ferreira

Houve, de fato, um processo de medicalização da sociedade brasileira? Ou o que aconteceu foi uma socialização da medicina? Se houve, como tal processo se deu? Essas são as questões que José Leopoldo procura analisar em seu livro, levando-se em consideração a forma trabalhada por outros autores na investigação desse processo, tais como Jurandir Freire Costa, em Ordem médica e norma familiar, e Roberto Machado et alii de Danação da norma. Qual o papel da medicina legal nessa trajetória?

O livro é dividido em seis capítulos, nos quais se procurou analisar como o pensamento médico foi direcionado para objetos da vida social, tais como o crime, o sexo e a morte. O corte cronológico escolhido para análise e consideração pelo autor foi o período da Belle Époque, por possuir ampla e criteriosa reflexão científica sobre tais temas na literatura médica, tendo os médicos nesse momento feito da medicina uma ‘ciência da moral’. Leia Mais

As artes de curar: medicina/ religião/ magia e positivismo na República Rio-Grandense – 1889-1928 | Beatriz Teixeira Weber

Na paisagem sociocultural do século XX, as profissões apareceram como criaturas naturais, dotadas de legítima autoridade para influenciar ou mesmo dirigir os negócios humanos. Cada expertise reivindicava especial competência técnico-científica sobre a definição, avaliação e solução de nossos problemas cotidianos em áreas cada vez mais amplas. A medicina era geralmente apresentada como o arquétipo das profissões. Nela encontraríamos a forma mais bem-acabada de poder profissional. A demonstração da espetacular simbiose entre razão científica e ética de serviço tem sido a tônica de toda uma tradição historiográfica voltada a cultuar e justificar a autoridade que ela hoje goza, como sistema de conhecimentos e práticas dedicado a evitar, curar ou atenuar doenças.

Muita tinta tem sido gasta também na denúncia dessas formas de poder secular que se espalharam pelas sociedades modernas como contraponto do fenômeno que Weber cunhou como desencantamento do mundo. Da inspirada boutade de Oscar Wilde, para quem “toda profissão é uma conspiração contra os leigos” à “sociedade disciplinar” de Foucault, excelentes análises revelaram como as profissões lograram monopolizar o acesso e a aplicação do conhecimento que haviam adquirido, tendo em vista a preservação do status e de privilégios por elas reclamados. Dessa forma, toda uma vertente de estudos históricos e sociológicos dedicou-se à análise da influência política e cultural das profissões, buscando esclarecer a relação entre as profissões, as elites políticas e econômicas e o Estado; as relações entre elas, o mercado e o sistema de classes no mundo moderno. Leia Mais

O poder e a peste | Lira Neto

A produção editorial acerca da história da saúde pública no Brasil tem sido bastante expressiva nas duas últimas décadas. O tema vem sendo visitado freqüentemente por cientistas sociais e historiadores, psicólogos e médicos, preocupados tanto com questões mais localizadas, como também o surgimento de amplos debates sobre o papel do Estado nas políticas públicas de saúde. Vale ressaltar que há muitas publicações acerca de epidemias de febre amarela, cólera e varíola no século XIX, e as ações de médicos, farmacêuticos e autoridades governamentais, já no século XX, todos empenhados em combatê-las (Chaloub, 1996; Hochman, 1998; Beltrão, 1999; Fernandes, 1999).

O livro do jornalista Lira Neto é mais uma excelente iniciativa em ambas as direções. Conta a história do farmacêutico baiano Rodolfo Marcos Teófilo (1853-1932), e sua trajetória junto à população da cidade de Fortaleza, assolada por sucessivas epidemias de cólera e varíola, ao longo da segunda metade do século XIX. Leia Mais

As Relações entre o Brasil e o Paraguai (1889-1930): do afastamento pragmático à reaproximação cautelosa | Francisco M. Doratioto || José Martí e Domingo Sarmento: duas idéias de construção da hispano-América | Dinair A. Silva || Segurança Coletiva e Segurança Nacional: a Colômbia entre 1950-1982 | César Miguel Torres Del Rio || Entre Mitos/ Utopia e Razão: os olhares franceses sobre o Brasil (século XVI a XVIII) | Carmen L. P. Almeida || A Parceria Bloqueada: as relações entre França e Brasil/ 1945-2000 | Antônio C. M. Lessa || Políticas Semelhantes em Momentos Diferentes: exame e comparação entre a Política Externa Independente (1961-1964) e o Pragmatismo Responsável (1974-1979) | Luiz F. Ligiéro || Dimensões Culturais nas Relações Sindicais entre o Brasil e a Itália (1968-1995) | Adriano Sandri || Opinião Pública e Política Exterior nos governos Jânio Quadros e João Goulart (1961-1964) | Tânia M. P. G. Manzur || O Parlamento e a Política Externa Brasileira (1961- 1967) | Antônio J. Barbosa || Los Palestinos: historia de una guerra sin fin y de una paz ilusoria en el cercano oriente | Cristina R. Sivolella || Do Pragmatismo Consciente à Parceria Estratégica: as relações Brasil-África do Sul (1918-2000) | Pio Penna Filho || Entre América e Europa: a política externa brasileira na década de 1920 | Eugênio V. Garcia

As relações internacionais, enquanto objeto de estudo, vêm se desenvolvendo de maneira satisfatória nos últimos anos no Brasil. Parte desse avanço é devido ao surgimento de cursos de pós-graduação na área, que colocam o estudo das relações internacionais, de modo geral, e a inserção externa do Brasil, em particular, no centro das preocupações de pesquisa. O primeiro programa de pós-graduação em História das Relações Internacionais na América do Sul foi criado na Universidade de Brasília, em 1976. Em torno desse Programa formou-se uma tradição brasiliense de estudo de relações internacionais. Ao longo de mais de vinte anos de atuação, o Programa produziu cerca de sessenta dissertações de mestrado e, com a implantação do doutorado em 1994, doze teses.

Uma particularidade das teses de doutorado do Programa é a diversidade temática. A ampliação dessa linha de pesquisa permitiu a modernização da História das Relações Internacionais. Assim, junto com os estudos que privilegiam as relações bilaterais do Brasil, inseriram-se novos temas e objetos de investigação. Com efeito, há estudos que aprofundam a análise das parcerias estratégicas, a opinião pública, a imagem, a segurança internacional, o pensamento político, as relações internacionais do Brasil e as relações internacionais contemporâneas. Tais estudos evidenciam a diversificação de olhares sobre a inserção internacional do Brasil. Leia Mais

Negotiating national identity: immigrants/ minorities/ and the strugle for ethnicity in Brazil | Jeffrey Lesser

Negotiating national identity é o mais recente livro de Jeffrey Lesser, historiador norte-americano que construiu uma justificada reputação como especialista no tema da imigração, ocorrida entre finais do século XIX e primeira metade do XX, para o Brasil. Nesse livro, Lesser examina como imigrantes não-europeus e seus descendentes negociaram publicamente suas identidades como brasileiros. Examinando suas posições, expressas em língua portuguesa, Lesser mostra de que maneira e com que objetivos esses imigrantes e seus descendentes debateram com políticos e intelectuais brasileiros.

Assim, os agentes engajados neste debate são lideranças políticas e intelectuais, tanto brasileiras quanto imigrantes, que se debruçaram sobre uma variedade de temas e problemas. Os primeiros perguntavam-se sobre o quanto era desejável a imigração de determinadas populações para o Brasil, refletiam sobre a capacidade de assimilar determinadas populações, julgavam-nas do ponto de vista de raça e civilização etc. Para os últimos, esteve em jogo a defesa de um lugar positivo para si na economia e na sociedade brasileiras, as reformulações das noções de “brasilidade”, a valorização dos laços, reais ou imaginários, estabelecidos com o Brasil etc. Leia Mais

As profissões imperiais: medicina/ engenharia e advocacia no Rio de Janeiro (1822-1930) | Edmundo Campos Coelho

A primeira coisa a dizer sobre o livro é que ele encanta pela qualidade da escrita, que não submerge aos ditames do ‘sociologuês’ corrente e nos apresenta um texto claro, fácil e agradável. Mas ele também é louvável pela qualidade da pesquisa realizada, ampla e completa. O autor soube reunir extensa documentação e informação bibliográfica da melhor qualidade para produzir um quadro rico em nuanças das nossas profissões clássicas em início de carreira. Nesse estudo, Edmundo Campos Coelho propõe-se a expor a sua própria “versão do processo de constituição das profissões tradicionais (medicina, advocacia e engenharia) ao longo do século XIX e das primeiras décadas do seguinte” (p. 34). A ênfase do autor recai sobre a dimensão institucional do processo no sentido amplo, isto é, procurando esclarecer as teias de relações sociais que fornecem as bases institucionais para a definição da posição dos grupos profissionais. As histórias da Academia Imperial de Medicina, do Instituto dos Advogados Brasileiros e do Instituto Politécnico Brasileiro, dos consensos e conflitos em torno dessas instituições e de suas sucessoras, compõem uma trama complexa dentro da qual o Estado tem papel destacado – “é o fio que unifica a trama e lhe dá alguma unidade” – sem ser o responsável exclusivo pelo desenrolar da mesma. Leia Mais

Depois das Caravelas. As relações entre Portugal e Brasil/ 1808-2000 | Amado Luiz Cervo e José Calvet de Magalhães

Depois das Caravelas, obra publicada na Coleção Relações Internacionais da Editora Universidade de Brasília, representa um trabalho de grande importância para as relações bilaterais entre Portugal e sua ex-colônia, o Brasil. Com seu enfoque nos últimos duzentos anos, o livro preenche uma grande lacuna na literatura acadêmica sobre as relações entre os dois países, que tende a focalizar, sobretudo no ano do V Centenário do Descobrimento do Brasil, o próprio descobrimento e o período colonial. O livro soma os esforços de scholars dos dois países, como que simbolicamente representando a nova qualidade das relações bilaterais. A obra contém duas partes. Na primeira (151 páginas) o historiador brasileiro Amado Luiz Cervo analisa as relações entre Portugal e Brasil no século XIX. Segue um capítulo sobre as relações culturais no século XIX, escrito pelas duas historiadoras cariocas Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira e Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves, ambas especialistas em história cultural do Brasil (30 páginas). A segunda parte do livro trata das relações bilaterais do início do século XX até os tempos mais recentes (122 páginas). O autor, José Calvet de Magalhães, é diplomata português e especialista em história diplomática do seu país. O livro conta ainda com uma apresentação, escrita por Dário Moreira de Castro Alves, que oferece, em 50 páginas, um resumo de seu conteúdo. Finalmente, são reproduzidos em anexo os três mais importantes tratados entre Portugal e Brasil. Leia Mais

Crime e loucura: o aparecimento do manicômio judiciário na passagem do século | Sérgio Carrara

O trabalho de pesquisa desenvolvido por Sérgio Carrara, sob a orientação do prof. Peter Fry, é resultado de dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional/UFRJ. O livro vem suprir a falta de estudos e análises sobre questões bastante complexas e inerentes ao universo da loucura e do crime.

Por opção do autor, o livro segue não só a forma e divisão originais dados à dissertação como também seu texto é o mesmo, pois atualizá-lo seria o mesmo que reescrevê-lo, o que poderia alterar profundamente sua estrutura, além de a obra estar inserida num determinado contexto de meados da década de 1980. Assim, a edição vem enriquecida de um valioso posfácio, onde Carrara elabora um balanço bibliográfico bastante minucioso do que se produziu durante os últimos dez anos acerca das temáticas afins. Nele menciona-se a importância de estudos, alguns já familiares a nós hoje, como o trabalho de Maria Clementina Pereira Cunha (O espelho do mundo: Juquery — a história de um asilo), Ruth Harris (Assassinato e loucura: medicina, leis e sociedade no fin de siècle), Pierre Darmon (Médicos e assassinos na Belle Époque), além dos trabalhos de Roberto Nye (Crime, madness & politics in modern France: the medical concept of national decline) e Daniel Pick (Faces of degeneration: an European disorder), ambos inéditos no Brasil. Leia Mais

Os indesejáveis: desclassificados da modernidade.  Protesto, crime e expulsão na capital federal (1890-1930) | Lená Medeiros de Menezes

MENEZES, Lená Medeiros de. Os indesejáveis: desclassificados da modernidade.  Protesto, crime e expulsão na capital federal (1890-1930).  Rio de Janeiro: EDUERJ, 1996. Resenha de: NEVES, Lúcia Maria Bastos P. das. Revista Maracanan. Rio de Janeiro, v.1, n.1, p.134-136, 1999.

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Nem tudo era italiano. São Paulo e pobreza (1890-1915) | Carlos José Ferreira dos Santos

A primeira impressão que o livro de Carlos José suscita é de espanto. Será possível que ele pretenda refutar a imensa influência da imigração européia no crescimento e na transformação da cidade de São Paulo entre fins do século XIX e início do XX? Mais especificadamente, será que ele pretende negar a esmagadora presença física e cultural dos italianos na população paulistana e o seu papel decisivo na industrialização e nas lutas operárias daquele momento, conforme décadas de trabalho historiográfico tem demonstrado? [1]

Essa impressão se desvanece com facilidade na leitura do trabalho. Longe de negar o poder do dilúvio italiano que mudou profundamente a vida da cidade naquele período, ele procura anexar a este contexto um dado novo e relativamente pouco explorado: a presença de uma população de trabalhadores pobres nacionais, via de regra negros, que deram uma contribuição decisiva à vida da cidade daqueles anos, mas que permanecem escondidos nas brumas da História. Leia Mais

Negros e brancos em São Paulo (1888-1988) | George Reid Andrews

Resenhista

Heliane Prudente Nunes – Professora do departamento de História da UFG. Doutora em História Econômica pela USP em 1996.

Referências desta Resenha

ANDREWS, George Reid. Negros e brancos em São Paulo (1888-1988). Trad. Magda Lopes. Revisão técnica e apresentação de Maria Lígia Coelho Prado. Bauru, São Paulo: EDUSC, 1998. Resenha de: NUNES, Heliane Prudente. História Revista. Goiânia, v.4, n.1-2, p.133-136, jan./dez.1999. Acesso apenas pelo link original [DR]

As formas do mesmo: ensaios sobre o pensamento historiográfico de Varnhagen e Oliveira Viana | Nilo Odália

Resenhista

João Alberto Costa Pinto – Professor Assistente do Departamento de História da UFG.

Referências desta Resenha

ODÁLIA, Nilo. As formas do mesmo: ensaios sobre o pensamento historiográfico de Varnhagen e Oliveira Viana. São Paulo: Fundação Editora UNESP, 1997. Resenha de: PINTO, João Alberto Costa. História Revista. Goiânia, v.4, n.1-2, p. 137-143, jan./dez.1999. Acesso apenas pelo link original [DR]

Debaixo da imediata proteção de Sua Majestade Imperial: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889) | Lucia Maria Paschoal Guimarães

GUIMARÃES, Lucia Maria Paschoal.  Debaixo da imediata proteção de Sua Majestade Imperial: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889).  Rio de Janeiro: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1997. Resenha de: MOREL, Marco. Revista Maracanan. Rio de Janeiro, v.1, n.1, p.137-138, 1999.

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Médicos italianos em São Paulo (1890-1930): um projeto de ascensão social | Maria do Rosário Rolfsen

Alfonso Bovero, Antonio Carini, Alfonso Splendore, Alessandro Donati, Carlos Foá, Mário Artom, Archimede Busacca, Carlos Brunetti e tantos outros deixaram suas marcas na saúde pública de São Paulo e no curso de medicina da Faculdade de Medicina de São Paulo. Todos eram médicos italianos vindos para São Paulo no final do século XIX e começo do século XX.

O livro de Maria do Rosário Rolfsen Salles responde a nossa curiosidade em saber por que esses e outros médicos deslocaram-se para São Paulo e como se inseriram no mercado de trabalho, ou melhor, em que setores eles desenvolveram suas carreiras para cumprirem o objetivo da ascensão social. O livro soma-se ao de Carlos da Silva Lacaz, Médicos italianos em São Paulo: trajetória em busca de uma nova pátria , e traz novos elementos à história da saúde pública e da ciência médica em São Paulo. Leia Mais

Poder e saúde: as epidemias e a formação dos serviços de saúde em São Paulo | Rodolpho Telarolli Júnior

Nas duas últimas décadas no Brasil, foram produzidos vários estudos históricos e sociológicos sobre o tema da saúde pública na Primeira República. Esses trabalhos tiveram fundamental importância no desenvolvimento da história da saúde e da ciência no país. Algumas dessas obras constituem leituras obrigatórias para este período de nossa história: os modelos econômicos e políticos, os movimentos pela reforma da saúde e seus líderes, as ideologias da ordem ou de mudança, os diferentes níveis de centralização ou descentralização do poder político, o processo político decisório que produziu instituições de saúde pública no Brasil. Por abordar alguns desses tópicos, Poder e saúde constitui, sem dúvida, uma contribuição importante à literatura republicana.

Rodolpho Telarolli Junior apresenta um estudo sobre a história da saúde pública na Primeira República, em especial, sobre o processo de criação de políticas públicas na área de saúde e a formação das práticas sanitárias no estado de São Paulo, no contexto mais amplo da organização política, econômica e social. Leia Mais

As ciências geológicas no Brasil: uma história social e institucional, 1875-1934 | Silvia Figueirôa

Todo historiador tem um quê de detetive. A afirmação pode soar provocativa, mas basta acompanhar um historiador no seu cotidiano, dentro de bibliotecas ou arquivos, rodeado por livros e manuscritos, perseguindo rastros às vezes muito tênues, para observar este aspecto inseparável do ofício, e a atração que deve exercer sobre o profissional que a ele se dedica. De fato, melhor seria esclarecer desde já que esta faceta envolvida no ofício da história pode atrair, tanto quanto assustar — ainda mais no caso da história das ciências, onde quase tudo resta a ser feito.

O livro de Silvia Figueirôa, As ciências geológicas no Brasil: uma história social e institucional, 1875-1934, resultado de pesquisas realizadas durante os cursos de mestrado e doutorado em história da ciência na Universidade de São Paulo (USP), pode ser visto sob esta ótica, como um exaustivo e brilhante trabalho de uma historiadora-detetive, que conhece os desafios de seu ofício, e não recusou enfrentá-los. Afinal, como a própria autora lembra em nota especial no capítulo introdutório, as condições de preservação, organização e acesso aos documentos no Brasil estão longe do ideal, dificultando o trabalho. Por outro lado, no seu caso particular, devido ao fato de muitos cientistas investigados serem estrangeiros, a pesquisa acabou conduzindo a arquivos também no exterior, como nos Estados Unidos e na Alemanha. Leia Mais

O cultivo do ódio | Peter Gay

Elio Chaves Flores


Referências desta Resenha

GAY, Peter. O cultivo do ódio. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. Resenha de: FLORES, Elio Chaves. Nós, os bárbaros. SÆCULUM – Revista de História. João Pessoa, n. 3, p. 189-195, jan./dez. 1997.

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Relações internacionais contemporâneas. Da construção do mundo liberal à globalização (de 1815 a nossos dias) | José Flávio Sobra Saraiva

Essa coleção de nove ensaios, escritos por quatro especialistas qualificados da Universidade de Brasília, cobre quase dois séculos de história universal, desde o Congresso de Viena até os umbrais do século XXI. Redigidos de forma acessível e coerente – não mostram, como os de tantas obras coletivas, diferenças de qualidade ou de enfoque que alteram a coesão do conjunto –, apresentam um quadro sumamente completo e complexo da história da humanidade nestes 180 anos. Cabe destacar que os autores conseguem escapar de maneira notável ao duplo perigo de uma visão euro ou “ocidentalocêntrica” e de uma postura dogmaticamente “terceiro-mundista”, combinando a universalidade de diversos enfoques originários do mundo industrializado, europeu em particular, com uma reflexão original a partir de um posto de observação no Brasil. Cada época é analisada com ênfase lógica, e obviamente decrescente, na história européia, mas trata também, de maneira bastante equilibrada e competente, dos países e regiões periféricas, não apenas das potências ascendentes (Estados Unidos, União Soviética e Japão), como também das vastas regiões do que se costuma chamar, ou ainda se denomina, Terceiro Mundo em seus três componentes: América Latina, África e Ásia. Reflete, assim, uma visão universalista que nesta forma seria difícil encontrar fora do Brasil. Não apenas por esta razão, mas igualmente pela qualidade da análise, o estilo ao mesmo tempo científico e compreensível, e o acervo impressionante de dados históricos e estruturais que contém, este livro pode servir com grande utilidade a um público amplo interessado no tema, no Brasil e em qualquer outro país, sem cair por isso, salvo excepcionalmente, em simplificações suscetíveis de serem criticadas por leitores atentos mais especializados. Leia Mais

A formação das almas: o imaginário da República no Brasil | José Murilo de Carvalho

Ao ler A formação das almas: o imaginário da república no Brasil, de José Murilo de Carvalho – oportunamente relançado no final de 1995 -, tem-se a impressão de que a obra merece um subtítulo mais extenso, uma vez que não nos fala sobre um (ou “o”) imaginário da República, porém sobre o embate dinâmico para a construção de imaginários e seus respectivos símbolos. Esse sentido, aliás, é fundamental no desenrolar do texto, que procura mostrar sempre as mediações e os conflitos existentes na criação e consolidação dos principais símbolos republicanos.

O livro, mesmo sendo composto por alguns ensaios já publicados, ao lado de artigos inéditos, apresenta uma ótima coerência interna, explorando muito bem o objeto proposto. Inicia a análise pelos modelos políticos e filosóficos norteadores do positivismo, esmiuçando tanto a aplicação prática destes no Brasil, como a adaptação sofrida neste processo. Em seguida, o autor discute as diversas proclamações da República e o conseqüente impasse simbólico – proveniente das lutas pela criação de um imaginário social entre as diferentes vertentes político-filosóficas – externado nas figuras-símbolo de Deodoro, Floriano Peixoto e Benjamim Constant. Depois de abordar o imaginário do “fato” (a proclamação), José Murilo explora a construção de um mito de origem da República brasileira – Tiradentes – e suas diversas apropriações por diferentes (e até mesmo antagônicos) grupos sociais. A etapa seguinte, apresentada pelo livro, é a tentativa (frustrada) da criação de uma simbologia para a própria República, capaz de aproximar Estado e Nação, República e Brasil: a transposição do modelo francês “Marianne”, muitas vezes travestido da musa comtiana Clotilde de Vaux. O autor aborda, então, a criação (ou reciclagem) dos símbolos formais da bandeira do hino nacional, exigidos para qualquer Estado, os quais acabaram por tornar-se muito mais representativos da Nação (Brasil) do que do Estado (República). A obra se encerra com a retomada das questões anteriores, principalmente a aplicação dos modelos filosóficos comtianos no Brasil, visando promover uma reflexão sobre a construção de um imaginário da República capaz amalgamar o Brasil enquanto Nação, isto é: enquanto comunidade de sentido, segundo Bazco (1985), ou comunidade imaginada, segundo Anderson (1989). Leia Mais

Tributo a Vênus: a luta contra a sífilis no Brasil, da passagem do século aos anos 40 | Sérgio Carrara

O trabalho de Carrara aborda as estratégias de combate à sífilis no Brasil ao longo de um período de quase cinqüenta anos, do final do século XIX à década de 1940. Operando metodologicamente a partir da perspectiva da história social, o autor analisou uma série extensa de documentos, produzindo um retrato a um tempo abrangente e profundo do seu objeto de estudo.

Este objeto, aparentemente singelo, desdobrou-se numa série de inter-relações, configurando um campo amplo e complexo. Um primeiro ponto a ser observado diz respeito à própria sífilis; ainda que conhecida por centenas de anos já àquela época, a sífilis parece recrudescer, senão em termos epidemiológicos, pelo menos em termos de sua percepção por parte da coletividade. Vários fatores cooperam na retomada de importância deste mal venéreo; a configuração moderna da doença, atribuída a um agente transmissível na esteira dos triunfos alcançados pela bacteriologia em fins do século passado (ainda que o treponema só venha a ser identificado em 1905) e prontamente transformado em objeto de um teste laboratorial, a reação de Wassermann, constituiu uma ameaça capaz de alcançar vários órgãos e sistemas do corpo e mesmo a descendência dos indivíduos acometidos pelas suas formas “hereditárias” (hoje diríamos congênitas), espectro pairando por sobre toda a população. Leia Mais

Memória, cidade, cultura | Cléia Schiavo Weyrauch

WEYRAUCH, Cléia Schiavo; ZETTEL, Jaime. Organização e introdução. Memória, cidade, cultura. Resenha de: WEYRAUCH, Cléia Schiavo. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.16, n.1, p.159-165, jan./dez. 1996.

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O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930 | Lília Mouritz Schwarcz

Raça pertence àquela classe de conceitos que muitos gostariam que fosse definitivamente abandonado devido a sua generalidade, mas que, não com pouca freqüência, retoma ao centro das discussões. Sua longevidade impressiona: questões ligadas a raça eram centrais em debates acadêmicos do século XIX (e mesmo bem antes). Os debates persistem em uma época em que a ênfase volta-se para o seqüenciamento do genoma humano, um projeto que catalisa os interesses da biologia moderna.

Obviamente, o tópico ‘raça’ não se esgota no domínio das ciências biológicas, possivelmente daí derivando sua persistência e dos significados a ele associados através dos tempos. Não é nosso objetivo aqui aprofundar certas questões, mas é preciso mencionar que raça, em sua vertente biológica, social ou mais freqüentemente no intercruzamento de ambas, tem reiteradamente influenciado ideologias de perseguição e exclusão de segmentos sociais específicos em todo o mundo. Leia Mais

Historia de las fronteras de Chile | Santiago Benadava Cattan

Santiago Benadava, ex-Embajador de Chile en Misión Especial ante la Santa Sede para la Mediación Pontificia sobre el Diferendo Austral y Miembro consultivo de la Corte Permanente de Arbitraje de La Haya, ha publicado recientemente un libro de amena lectura intitulado Historia de las Fronteras de Chile. Si bien es cierto el autor no tiene – hasta donde conocemos- un entrenamiento formal en Historia, ello no ha sido obstáculo para que este destacado académico e internacionalista nos entregue una acabada, sucinta y actualizada historia de las fronteras territoriales chilenas. Sin duda cumplió el objetivo enunciado en el prólogo del libro, a saber «presentar un esquema coherente, objetivo y didáctico de la historia de las fronteras de Chile» (p. 9).

Las materias abordadas por el autor comprenden desde las nociones de frontera territorial, demarcación y controversia hasta los conceptos de aguas interiores, mar territorial y mar presencial, entre otros. Facilita la lectura del texto un glosario de términos por si surgiese la lector alguna duda sobre el significado o el alcance de algún tecnicismo geográfico o jurídico en el análisis de lá evolución de las fronteras. Con todo, Santiago Benadava ha evitado caer en un uso excesivo de tecnicismos para explicar con solidez y acabado dominio las cuestiones más complejas de nuestra historia fronteriza. Leia Mais

Españoles hacia América. La emigración en massa/ 1880-1930 | Nicol´s Sánchez-Albomoz

La cercanía al cumplimiento de los 500 años de la llegada de los españoles a América ha multiplicado el número de investigaciones y publicaciones en diferentes áreas de la historia común. No podía quedar ausente de estas preocupaciones lo referido a la emigración española de fines del siglo x1x y primeras décadas del xx. Proceso que involucró a tres millones y medio de personas que atravesaron el “charco” para instalarse temporal o definitivamente en tierras americanas.

Quién con mayor propiedad podía asumir la tarea de recoger parte de las investigaciones realizadas que el distinguido profesor Nicolás Sánchez-Albomoz. Figura en la que confluyen acabados conocimientos sobre la evolución demográfica de España y América, avalados por publicaciones ampliamente difundidas, a más de su experiencia personal de vivir en el exilio como hijo del presidente de la República Española en el exilio, Claudio Sánchez-Albomoz (1962-1971). Leia Mais

Los alemanes en Chile (1816-1945) | Jean-Pierre Blancpain

Los pocos trabajos que existen sobre inmigraciones en Chile, en su mayoría, cumplen finalidades apologéticas o son simples narraciones que describen las distintas actividades que las colonias han realizado con el tiempo. No hay en ellos propósitos de análisis, ni inquietudes por responder a problemas de interés científico determinado. Muchas veces estos trabajos aparecen corno fruto de requerimientos comerciales más que de intereses intelectuales.

Una de las razones que explica el desinterés por parte de los historiadores chilenos respecto al fenómeno inmigratorio está en relación con el escaso número de migrantes que llegaron a nuestro país, en comparación con lo sucedido en la costa atlántica. Leia Mais

Historia del pueblo mapuche: siglos XIX y XX | José Bengoa

 

Resenhista

Kristine L. Jones –  Ph.D. Bowdoin College Brunswick, Maine.


Referências desta Resenha

BENGOA, José. Historia del pueblo mapuche: siglos XIX y XX. Santiago: Ediciones Sur; Colección Estudios Históricos, 1985. Resenha de: JONES, Kristine L. Cuadernos de Historia. Santiago, n.6, p. 148-149, julio, 1986.

Acesso apenas pelo link original [DR]

Imagen ambiental de Santiago 1880-1930 | Patricio Goss, Armando de Ramón e Enrique Vial

Resenhista

Luz María Méndez Beltrán – Universidad de Chile


Referências desta Resenha

GROSS, Patricio; RAMÓN, Armando de; VIAL, Enrique. Imagen ambiental de Santiago 1880-1930. Santiago: Ediciones Universidad Católica de Chile, 1984. Resenha de: BELTRÁN, Luz María Méndez. Cuadernos de Historia. Santiago, n.5, p. 176-178, julio, 1985.

Acesso apenas pelo link original [DR]

Anuario de historia de la iglesia en Chile

El segundo volumen de esta publicación, realizada en colaboración entre el Seminario Pontificio Mayor de Santiago y la Sociedad de Historia de la Iglesia en Chile, ha mantenido la estructura y calidad del primer volumen, editado en 1983, siendo una expresión más de la creciente preocupación por los enfoques historiográficos centrados en dilucidar y estudiar la presencia de la Iglesia Católica en el pasado y presente de Chile.

En este número, en su sección Estudios, se publican nueve trabajos, de una extensión variable entre diez y treinta y cuatro páginas; la mayoría centrados en el Seminario de Santiago y en problemas históricos de los siglos XIX y XX, presentamos a continuación una breve reseña de cada uno: Leia Mais

Anuario de historia de la iglesia en Chile

El segundo volumen de esta publicación, realizada en colaboración entre el Seminario Pontificio Mayor de Santiago y la Sociedad de Historia de la Iglesia en Chile, ha mantenido la estructura y calidad del primer volumen, editado en 1983, siendo una expresión más de la creciente preocupación por los enfoques historiográficos centrados en dilucidar y estudiar la presencia de la Iglesia Católica en el pasado y presente de Chile.

En este número, en su sección Estudios, se publican nueve trabajos, de una extensión variable entre diez y treinta y cuatro páginas; la mayoría centrados en el Seminario de Santiago y en problemas históricos de los siglos XIX y XX, presentamos a continuación una breve reseña de cada uno:

RAIMUNDO ARANCIBIA S. El seminario de Santiago 1584-1984, 28 pp.: estudio póstumo de este historiador eclesiástico, es una relación esencialmente cronológica, apoyado en material documental, bibliográfico y anecdótico, especialmente interesante en el registro de los sucesivos programas de estudio, alumnos y rectores. Se destaca la temprana fundación y larga vida de este “semillero de sacerdotes”. Leia Mais

Catálogo das moedas brasileiras do Museu Histórico Nacional: moedas da República 1889-1946 | Anais do Museu Histórico Nacional | 1950

Referências desta apresentação

[Catálogo das moedas brasileiras do Museu Histórico Nacional: modas da República 1889-1946]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.11, 1950.

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