Salud global e historia. Estado de la cuestión y perspectivas críticas | Quinto Sol – Revista de Historia | 2020

En la segunda década del siglo XXI, una pandemia muy contagiosa atraviesa el escenario global llevando no solamente su carga de mortalidad y morbilidad, sino también una intensa campaña de regulación de las conductas sociales y la higienización de hábitos y conductas, con la imposición de un nuevo biopoder. En una sociedad posindustrial altamente comunicada (y a la vez, aislada), este virus permite una nueva reflexión sobre la ética y la moral individual, responsable del avance o la restricción de la epidemia. Nunca antes se había observado, en tiempo real, la “construcción” de una enfermedad de esta magnitud y velocidad, a pesar de no ser esta la aparición epidémica más letal que afectó a los seres humanos. Ni la Peste Negra en la Italia del siglo XIV, o la viruela en la América del “descubrimiento” (y la destrucción) tuvieron ese alto impacto mediático, dado que se instalaron sobre sociedades donde el analfabetismo y la escasa información era la norma. Tampoco la fiebre amarilla o el cólera en las malolientes ciudades a uno y otro lado del Atlántico y del Pacífico decimonónico, y aun los millones de muertos por la epidemia de gripe que superaron a los de la Primera Guerra mundial, tuvieron la atención de las mayorías ni de los gobiernos y las entidades internacionales, como hoy la tiene el nuevo coronavirus, o COVID-19. 1

Esta enfermedad viral desconocida hasta hace poco tiempo para 9.000 millones de seres humanos –y para la cual no se conoce al momento que escribimos, vacuna o terapia eficaz– produce efectos terribles en el imaginario social, y transforma así no solo los sistemas sanitarios de los países en desarrollo y de las naciones desarrolladas. Se cierran las fronteras, se interrumpe el comercio y determinadas conductas sociales altamente valorables (viajar, dar la mano, asistir a un evento) transforman a sus protagonistas en sospechosos y en potenciales vehículos transmisores de enfermedades, por lo cual, se reproducen como cuasi delictivas y, llamativamente “enfermas”. Para muchos, es difícil aceptar la prohibición a transitar de un país a otro o incluso dentro del mismo país. El requerimiento de “pasaportes sanitarios” −que por mucho tiempo fueron de uso exclusivo de ciertos inmigrantes no deseados−, el control militar en las calles y el cierre de comercios y espectáculos, junto con exhaustivas indicaciones higiénicas, ha llevado a muchas comunidades cuyas experiencias sanitarias no han afrontado un riesgo de características similares en las últimas décadas, a pasar de la indiferencia al pánico, como ha sucedido en el caso de Italia y España. Leia Mais

Saúde Internacional-Saúde Global / História Ciências Saúde — Manguinhos / 2015

Nos últimos anos a saúde global se tornou um conceito onipresente na saúde pública praticamente substituindo a cinquentenária ideia de saúde internacional. No entanto, não têm sido suficientemente analisadas suas origens, suas características, suas diferenças e seus impactos. Este dossiê tem como objetivo reunir historiadores e especialistas para buscar compreender a ideia de saúde global, destacando a história da saúde internacional, a mudança do papel dos serviços estatais de saúde pública e assistência médica, e a interação entre local / nacional e global tendo como foco a América Latina e o Caribe. A nossa região tem uma longa e dinâmica relação com a saúde internacional, suas organizações, personagens, iniciativas e programas. A produção no campo da história da saúde na América Latina e no Caribe tem crescido em quantidade, bem como amadurecido em qualidade. Esses estudos exigem dos historiadores e especialistas reflexão e discussão sobre a historicidade do caráter global / internacional da saúde e as possíveis especificidades do nosso contexto regional.

Essa tarefa exige um esforço coletivo de reflexão, pois não existe uma definição única de saúde global, nem um consenso sobre seu início. Para alguns especialistas, o processo de globalização começou no século XVI com a conquista e colonização espanhola e portuguesa das Américas, que gerou uma medicina colonial. Para outros, a saúde global remonta à estreita relação entre o imperialismo e a medicina tropical do final do século XIX e ao papel desempenhado por agências filantrópicas no início do século XX, como a Fundação Rockefeller, que procurou civilizar o resto do mundo por meio da medicina ocidental. Alguns acreditam que o antecedente imediato da saúde global é uma saúde internacional que emergiu com a Guerra Fria, período iniciado por volta de 1948, marcado por agências multilaterais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo confronto ideológico entre a União Soviética e os EUA para divulgar modelos de saúde (estatização versus prática privada; nacionalização dos serviços de saúde versus campanhas verticais). Outros acreditam que a saúde global está ligada à emergência do neoliberalismo que se seguiu ao fim da Guerra Fria (final da década de 1980) e está associada com o onipresente tema da “globalização”, na qual a economia e a tecnologia parecem comprimir e acelerar uma sociedade global. Na globalização surge um novo cenário epidemiológico em que infecções novas ou reemergentes incidem igualmente sobre países ricos e pobres. Cenário em que são frequentes as viagens internacionais e a migração maciça e em que emergem novos atores, como as organizações não-governamentais, a nova filantropia internacional, as parcerias público-privadas e instituições até então não tradicionais na saúde, como o Banco Mundial. É um período marcado por um conjunto de novos desafios aos serviços de saúde nacionais e internacionais, em que se questiona a premissa de que o Estado é a principal autoridade de saúde.

Os artigos deste dossiê são parte constitutiva desse esforço de reflexão histórica. Baseiam-se, em sua maioria, em palestras realizadas no Seminário Internacional Saúde Internacional / Saúde Global – Perspectivas históricas da América Latina e do Caribe, realizado nos dias 20, 21 e 22 de junho 2012 na Casa de Oswaldo Cruz (COC) / Fiocruz, no Rio de Janeiro, Brasil. O seminário contou com o decisivo apoio da Faperj e da direção da COC / Fiocruz na figura de Nara Azevedo. Nesse encontro participaram acadêmicos do (ou sediados no) Brasil, Argentina, Peru, México, EUA, Canadá, Alemanha e Espanha, e historiadores de várias instituições cariocas que foram convidados a comentar as apresentações. O objetivo do Seminário foi justamente examinar a noção de saúde global, destacando continuidades e mudanças na ideia de saúde internacional e resulta de uma grande rede de pesquisa sobre história da saúde na América Latina, formada por latino-americanistas e latino-americanos que, com publicações, seminários e cursos de pós-graduação, têm avançado o conhecimento sobre saúde e doença em perspectiva his-tórica na região das Américas.

Os artigos analisam diferentes dimensões e períodos da interface entre a saúde global / internacional e a saúde pública nacional / local, com ênfase na negociação, na resistência, na adaptação e também na circulação de conhecimentos. Adam Warren estuda as atividades das parteiras no Peru nos primórdios de seu período republicano, na primeira metade do século XIX, e a influência de uma parteira francesa em Lima. Karina Rammaciotti estuda os saberes legais e as instituições vinculadas aos acidentes de trabalho na Argentina; um tema de crescente importância para agências internacionais e para os Estados da região na metade do século XX. Luiz Antonio Teixeira nos apresenta um tema que cada vez é mais estudado: às campanhas de prevenção ao câncer no Brasil. Segundo ele o desenvolvimento dos conhecimentos sobre o câncer de colo do útero se relacionou simultaneamente com as transformações no conhecimento médico, a ampliação das preocupações com a saúde da mulher e as transformações do sistema de saúde brasileiro. O artigo de Mariola Espinosa estuda os vínculos entre o Sistema Nacional de Saúde nos EUA e as origens dos sistemas de saúde na região caribenha na virada do século XX. O artigo de Marcos Cueto analisa as campanhas promovidas por agências internacionais e organismos nacionais destinadas a eliminar doenças infecciosas no âmbito rural latino-americano de meados do século XX. O artigo sobre a repercussão da gripe A (H1N1) nos jornais paranaenses é resultado de pesquisa de Sandra Mara Maciel-Lima, José Miguel Rasia, Rodrigo Cechelero Bagatelli, Giseli Gontarski, Máximo José D. Colares. O texto analisa mais de 180 matérias sobre a gripe A (H1N1) em jornais do estado do Paraná no ano 2009 por meio das quais os autores discutem o impacto social que a pandemia H1N1 representou para a sociedade, cada vez mais globalizada, desafiando poder público, instituições e o cidadão comum. O dossiê se encerra com uma Nota de Pesquisa do historiador Diego Armus sobre a influência de Genebra e da OMS na medicalização do fumo na Argentina.

Marcos Cueto

Gilberto Hochman

 


CUETO, Marcos; HOCHMAN, Gilberto. Apresentação. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.22, n.1, jan. / mar., 2015. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê