Raça, Ciência e Saúde no contexto da escravidão e do pós-Abolição | Revista Maracanan | 2021

Maconha contexto da escravidão e do pós-Abolição
Maconha | Foto: Notícias Chapecó

Durante as últimas duas décadas tem crescido o interesse historiográfico por temas como saúde, doença e ciência e, em especial, a saúde da população negra. A ampliação do debate sobre as múltiplas intersecções entre esses campos de análise e sociedade é de extrema relevância para reflexões acerca do Pensamento Social Brasileiro. Além disso, tem contribuído para a construção de novos campos de estudo, trazendo à tona pesquisas inovadoras tanto para o campo da História das Ciências e da Saúde como para a História do Negro no Brasil.

A Revista Maracanan publica o Dossiê Temático “Raça, Ciência e Saúde no contexto da escravidão e do pós-Abolição” em um momento crucial para os estudos em Saúde no Brasil e, também, para a História do Brasil. A relação entre saúde, doença e ciência tem sido posta em evidência, por exemplo, com pesquisas que apontam que a população negra tem sido a mais afetada pela pandemia da Covid-19 no Brasil, tanto em número de mortos como também em termos socioeconômicos.[1] Leia Mais

História da Mídia e Saúde | Revista Brasileira de História da Mídia | 2020

Em plena pandemia do coronavírus, que completou mais de um ano e já vitimou mais de 2 milhões pessoas no mundo todo, discutir as relações entre a saúde e os processos comunicacionais é fundamental. Com o objetivo de aprofundar o debate sobre o assunto, a Revista Brasileira de História da Mídia publica, nesta edição, a primeira parte do dossiê História da Mídia e Saúde, que tem como editores convidados os professores Igor Sacramento e Wilson Couto Borges. O conjunto de textos selecionados lança luz sobre a história do presente, problematizando e analisando a pandemia do novo coronavírus, assim como desvela as relações entre mídia e saúde em momentos importantes do nosso passado recente.

Para pensar a pandemia do coronavírus em contraste com epidemias do passado, como a gripe espanhola, o artigo de Paulo Vaz, Nicole Sanchotene e Amanda Santos, que estudam a articulação entre sofrimento e futuro, traz relevantes contribuições. Em uma discussão metodológica, Maria Lívia de Sá Roriz observa as aproximações e distanciamentos entre as histórias de vida na pesquisa em comunicação e a abordagem de escuta realizada na clínica analítica. Leia Mais

Saúde, Segurança e Direitos do Trabalhador / Projeto História / 2020

Iniciamos incitando o leitor a lançar um olhar mais demorado sobre a imagem da capa que já é, de per si, uma apresentação. Trabalhando com a fotografia de Caio Guatelli, fotógrafo da Folha de São Paulo, seu autor, o professor Claudinei Cássio de Rezende, explicita que a escolha se deu por ser representativa destes tempos, em que a saúde e a segurança do trabalhador foram postas de lado. Trata-se de um entregador de aplicativos, revoltado durante uma manifestação contra o rebaixamento de suas condições de sobrevivência, mesmo que, com isso, aumente os riscos à sua saúde. Nada mais sintomático em uma imagem sobre esses tempos, e sobre o conjunto de ameaças vivenciados por trabalhadores.

Isso porque, enquanto se preparava o fechamento desta edição da Revista Projeto História, cujo tema é Saúde, Segurança e Direitos do Trabalhador, o mundo assistia a uma das maiores epidemias de sua história, afetando diretamente a humanidade em todo o planeta. Ao lado da Grande Peste que marca o fim da Idade Média e da Gripe Espanhola no começo do século XX, o mundo se defrontou com uma grave pandemia, capaz de promover a mortandade de cerca de três a cinco por cento dos que dela forem acometidos.

As quarentenas obrigatórias e voluntárias se ampliaram no mundo, e mais uma crise do capital, anunciada desde fins 2018, 1 mostrou a faceta mais cruenta inerente a essa forma de caminhar da humanidade. Certamente, a crise econômica não fora derivada do Corona Vírus, 2 mas sua erupção foi sentida de forma bastante agudizada em vários países do mundo. Premidos ante o dilema: salvar as economias ou as vidas, governos oscilaram entre ciclos de quarentenas e aberturas, ou deixaram à deriva seus povos, populações inteiras viram-se à beira do abismo. Campanhas se disseminaram no mundo, solicitando que não houvesse paralisações dos setores produtivos e de comércio, enquanto trabalhadores reivindicavam, no mundo todo, medidas substanciais de manutenção de suas vidas. Se, para tanto, estivessem impossibilitados de realizar aglomerações, em muitos países, essas continuaram presentes no quotidiano de suas vidas, fosse nos trajetos para o trabalho, no interior de suas miseráveis vivendas ou nos espaços desordenados das urbanidades a que se vêm relegados.

Nesse pêndulo, foram consideradas essenciais atividades econômicas que mantivessem o consumo em alta, numa clara ilusão de que o capitalismo engendra a si mesmo, quando, “na realidade, o capitalismo não engendra a si mesmo, mas explora a mais-valia do trabalhador”, conforme recupera Žižek (2008, p. 88, apud FONTENELLE, 2014, p. 211), autor que repõe os resultados das “análises de Marx sobre a produção do excedente de capital e sua expansão infinita na esfera da circulação. 3

Em todo o mundo, a consciência de que o capital não fora capaz de preservar vidas e se deteve em salvar economias e lucros se evidenciou. Fábricas de automóveis na Itália4 mantiveram suas atividades em meio à pandemia até explodirem greves de trabalhadores, contrariando suas direções sindicais e determinações do Estado.

Alguns países até realizaram campanhas visando a manutenção das atividades econômicas em meio à pandemia. Exemplo disso, na própria Itália- que teve como epicentro da epidemia o norte do país, com maior atividade industrial, o prefeito realizou campanhas, difundidas inclusive em redes sociais, com o lema, “Milão não pode parar”. Reino Unido, através do Primeiro Ministro Boris Johnson, Estados Unidos, sob a presidência de Donald Trump, iniciaram medidas de contenção verticalizadas, até que estudos de especialistas demonstraram que a mortandade seria alta o suficiente para promover, além da paralisação da economia, um alto índice de rejeição e revolta. Rapidamente, de posse de tais estudos, congressistas aprovaram medidas sociais de isolamento social, promovendo ajuda assistencial. Mas as contenções não foram suficientes, e trabalhadores acabaram se mobilizando e se concentrando nas ruas contra as medidas violentas do Estado, capitaneadas especialmente pelas polícias, mas não só. Dados apontados mostram que negros e latinos estão entre os mais afetados pela pandemia nos Estados Unidos, demonstrando que, embora a doença não tenha endereço e cor de pele, a falta de acesso aos sistemas de saúde, torna mais vulneráveis os pobres e negros.

No Brasil, além da negação da pandemia, incentivos às aglomerações promovidas pela Presidência da República, altos índices de trabalho informal, trabalhadores se defrontaram com o agravamento da crise no Sistema Único de Saúde e o aumento da violência policial. Relatórios já de 2019, publicados pelo portal G15 demonstravam que a atuação policial no Brasil era mais violenta nas periferias e que crescia exponencialmente o número de jovens negros assassinados. Tal violência institucional amplia a vulnerabilidade socioeconômica e acentua a exclusão aos direitos de cidadania, a que se somam, por um lado, o aumento de desemprego e, de outro, a redução dos direitos trabalhistas.

Nunca foi tão importante discutir como o tema da saúde e segurança do trabalhador, assim como seus direitos, foi colocada em diferentes momentos da história, o que é o objeto desse dossiê. Ou seja, voltarmos nossos olhares para o tema da Saúde, Segurança e Direitos do Trabalhador

Nesse sentido, abrimos o dossiê com o artigo de Ricardo Normanha intitulado A centralidade do trabalho em debate: notas para um balanço histórico e apontamentos para o presente e futuro da luta de classes, no qual o autor analisa a reestruturação produtiva e suas consequências no mundo do trabalho, recuperando a análise ontológica da centralidade do trabalho para a compreensão das formas complexas e também precarizadas de exploração da mão de obra.

Em seguida, Wanderson Fabio de Melo discute em, A Revolução Russa e o direito à moradia: De 1917 a 1945, as questões habitacionais na Rússia no período imediatamente posterior à Revolução Socialista, os déficits habitacionais e as consequentes políticas engendradas para resolver a questão de moradia para os trabalhadores russos, percebendo que o isolamento russo diante do mundo conflagrou situações inamovíveis no que tange à moradia.

Em Aspectos da modernização da agricultura durante a Ditadura CivilMilitar Brasileira (1964-1985): vínculos, métodos e estratégias, os historiadores Cintia Wolfart, Marcio Antonio Both da Silva e Marcos Vinicius Ribeiro se debruçaram na compreensão dos impactos das políticas para o campo implantadas no Brasil. A partir daí demonstram como as estratégias utilizadas pelos governos, responderam às demandas das oligarquias rurais, provocando a expropriação de terras dos pequenos proprietários, a ampliação da monocultura em detrimento da agricultura de subsistência. Resulta daí a expansão do complexo agroindustrial, ao mesmo tempo em que se promoveu a cooptação de amplos setores para tal política, através dos grupos 4-S, com intenso trabalho pedagógico educativo, corroborado pelo Estado brasileiro.

No artigo de Danilo Ferreira da Fonseca, intitulado Autoritarismo, ajuste estrutural e neoliberalismo: Ruanda após o genocídio de 1994, temos um panorama sobre o processo de implementação do neoliberalismo no pósgenocídio, demonstrando como, combinado com o autoritarismo da Frente Patriótica Ruandesa, as condições de vida dos trabalhadores se desdobrou em desemprego, fome, e de expropriação de suas terras ancestrais, impelindo-os na busca por trabalho na mineração.

Em Entre Engels e os dias atuais: abordagem crítica sobre as condições de saúde da classe trabalhadora no Brasil, Luziane Dias Simão, Leonardo Carnut e Áquilas Mendes, abordam as condições de saúde dos trabalhadores no Brasil contemporâneo, resgatando a análise de Engels sobre trabalhadores no século XVIII. Centram sua reflexão na questão da saúde da classe trabalhadora através dos periódicos publicados no sistema SIBI-USP, demonstrando que as condições de vida, mesmo com as tecnologias do século XXI, ainda permanecem precárias, restando-lhes a alternativa revolucionária como condição para superação das dificuldades enfrentadas.

Damián Andrés Bil, Sebastián Norberto Cominiello e Viviana Hansi, analisam o caso de um laticínio na Argentina para compreender a situação de crise no setor. O artigo, denominado, La crisis de acumulación en la Argentina a partir del estudio de caso de una empresa del sector lácteo, debruça-se no entendimento dos percalços enfrentados pela empresa diante especialmente da competitividade internacional.

David Maciel, em artigo Mudanças políticas e institucionais na crise da Nova República: rumo a uma nova institucionalidade política, analisa o democrático, posterior ao fim da última ditadura militar no Brasil, compreendendo que a manutenção da autocracia burguesa se deu através de uma nova institucionalidade democrática que manteve características autoritárias e fascistas. Destacando as mudanças operadas a partir de 2011 com o início de uma escalada autoritária, que se desdobra no golpe de 2016, conclui sobre o surgimento de uma nova institucionalidade política, da qual decorre uma crise na Nova República.

Encerramos o dossiê com o artigo Relações Internacionais e Questão Agrária: mundialização do capital, agronegócio e as lutas pela terra em Porto Nacional – Tocantins, de Fabiana Scoleso, que analisa a mundialização do capital e o consequente impacto nas relações entre capital e trabalho, exacerbado especialmente a partir da agenda neoliberal adotada na América Latina. A partir da exposição das concretude representada pelo Porto Nacional, no Tocantins, expõe como a financeirização da terra e o poder do agronegócio, ensejaram as novas configuração do campo, vinculadas à particular forma de desenvolvimento do capitalismo no Brasil, assim como a expropriação compulsória da terra, ensejou novas formas de lutas de classes ainda hoje vigentes. Ainda é de se notar que a integração regional adotada, particularmente com as commodities, são aspectos relevantes para demonstrar a atuação do Estado. Atuação esta que se desvela com investimentos estatais que beneficiam o agronegócio, em detrimento, inclusive dos povos originários da região.

No espaço dedicado aos artigos livres, abrimos com o texto de Cristiane Medianeira Ávila Dias, intitulado A Ditadura Civil-Militar Brasileira e a repressão além fronteiras, abordando o monitoramento efetuado pelo Centro de Informações do Exterior (CIEX) e pela Divisão de Segurança e Informações do Ministério das Relações Exteriores (DSI / MRE), sobre brasileiros, a partir do Golpe de 11 de setembro de 1973 no Chile. Nesse sentido, o artigo destaca a atuação de tais órgãos fora das fronteiras nacionais, demonstrando anuência dos demais estados, bem como a integração desses países na rede Condor.

Em seguida, trazemos o artigo de Walbi Silva Pimentel, Marcos Vinicius Freitas Reis e Fábio Py, intitulado Aspectos Sócio Histórico da Igreja Católica na Amazônia, em que analisam a presença da Igreja Católica e as diversas ordens religiosas ali colocadas para a catequização dos povos originários, negros e colonos desde o século XVI. O artigo aborda as diversas formas de atuação da Igreja, desde o início da colonização da região até o século XX, as contradições encontradas e os novos desafios com a separação entre Igreja e Estado no limiar do século XIX para o XX.

Frederico de Oliveira Toscano trouxe-nos o artigo O Inimigo é a Fome: breve histórico da escassez alimentar no Nordeste e do papel do Estado em seu enfrentamento, recorrendo à análise historiográfica de construção da associação do Nordeste brasileiro à fome, enfatizando a obra do geógrafo Josué de Castro, percebendo o papel de intelectuais na discussão de que não se trata, para aquela região, de um problema climático, mas de uma questão que deve ser enfrentada socialmente pelo Estado e pela sociedade.

O artigo Stanislaw Szmajzner: o único sobrevivente do campo de extermínio de Sobibor no Brasil, de autoria de Felipe Cittolin Abal, aborda o caso de Szmajzner, que migrou para o Brasil ao fim da Segunda Guerra Mundial. Seu artigo parte da infância desse sobrevivente até ser encaminhado para Sobibor, sua participação na revolta ocorrida no campo, e a vida no Brasil. Shlomo, como ficou conhecido, foi um dos que reconheceram Gustav Wagner, um dos participantes do genocídio impetrado. O trabalho teve como preocupação o resgate da memória, a seleção do que o autor considerou pertinente para a constituição do texto, e traz como desafio recontar a história de um sobrevivente individualmente, como expressão de um genocídio de grandes proporções.

Ainda com a preocupação de auxiliar na produção acadêmica dos pós-graduandos, a Revista Projeto História traz a seção Notícias de Pesquisa. Nesse número, Breno Ampáro Alvares Freire, em: Dissonâncias Perfeitas: o protagonismo dos músicos de orquestra rumo à institucionalização da categoria em São Paulo (1913-1949), analisou a atuação dos músicos de orquestra em São Paulo, em busca de tornarem-se uma categoria profissional, demonstrando as contradições existentes entre a atividade artística e a associação profissional desses músicos.

Por fim, trazemos a resenha do livro de Leandro Pereira Gonçalves, intitulado O passado e a atualidade do pensamento político fascista: análises sobre o catolicismo conservador de Plínio Salgado entre Brasil e Portugal, realizada por Pedro Ivo Dias Tanagino, como importante contribuição para a compreensão da atuação de Plinio Salgado.

Boa leitura,

Notas

1Os alertas começaram a circular em fins de 2018. No encontro de Davos em fevereiro de 2019, a “ diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, alertou(…), após dois anos de sólida expansão, a economia mundial está crescendo mais lentamente do que o esperado e os riscos estão aumentando. ‘Isso significa que há uma recessão global dobrando a esquina? Não. Mas o risco de um declínio mais acentuado no crescimento global certamente aumentou’, ressaltou”. Cf. CORRÊA, Alessandra. O mundo está à beira de uma nova grande crise econômica? BBC News Brasil, 2 / 02 / 2019. Disponível em: https: / / www.bbc.com / portuguese / internacional-46967791. Acesso em 04 / 08 / 2020.

2 “A COVID-19 é uma doença causada pelo coronavírus, denominado SARS-CoV-2, que apresenta um espectro clínico variando de infecções assintomáticas a quadros graves. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a maioria (cerca de 80%) dos pacientes com COVID-19 podem ser assintomáticos ou oligossintomáticos (poucos sintomas), e aproximadamente 20% dos casos detectados requer atendimento hospitalar por apresentarem dificuldade respiratória, dos quais aproximadamente 5% podem necessitar de suporte ventilatório”. Cf. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Sobre a doença: o que é a Covid-19. Disponível em: https: / / coronavirus.saude.gov.br / sobre-adoenca. Acesso em 04 / 08 / 2020.

3 FONTENELLE, I. A. O estatuto do consumo na compreensão da lógica e das mutações do capitalismo. Lua Nova, São Paulo, 92: 207-240, 2014, p. 211.

4 Em março de 2020, quando a Itália se tornou o epicentro da pandemia mundial, algumas organizações de esquerda, especialmente, noticiaram a eclosão de greves na indústria automobilística na Itália, especialmente ao norte do país, região mais industrializada, e, portanto, mais afetada pela Covid-19. Conferir em: https: / / www.wsws.org / pt / articles / 2020 / 03 / 17 / ital-m17.html. Acesso em 04 / 08 / 2020.

5 Nos dias 22 e 23 de junho de 2020, o portal G1 trouxe as manchetes de aumento de letalidade provocada por policiais nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente, demonstrando, inclusive, a queda das taxas de homicídios na série histórica analisada. Conferir as reportagens em: https: / / g1.globo.com / rj / rio-dejaneiro / noticia / 2020 / 06 / 22 / rj-tem-maior-numero-de-mortes-por-policiais-em-22-anose-o-2o-menor-indice-de-homicidios-ja-registrado-pelo-isp.ghtml e https: / / g1.globo.com / sp / sao-paulo / noticia / 2020 / 06 / 23 / batalhoes-da-grande-sp-matam60percent-mais-em-2020-na-capital-aumento-de-mortes-por-policiais-militareschega-a-44percent.ghtml. Acessos em 04 / 08 / 2020

Jussaramar da Silva – Doutora e Professora da Rede Municipal de Ensino de Juiz de Fora / MG Pesquisadora do Centro de Estudos de História da América Latina e Caribe (CEHAL) da PUC-SP

Vera Lucia Vieira – Doutora e Professora da PUC-SP


SILVA, Jussaramar da; VIEIRA, Vera Lucia. Apresentação. Projeto História, São Paulo, v.68, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Os mundos do trabalho e suas interfaces com a ciência, a saúde e a doença | Mundos do Trabalho | 2020

Vivemos um presente distópico, de pandemia e mudança repentina de hábitos, paradigmas, maneiras de compreender a realidade e lidar com suas consequências em nossa vida cotidiana. Uma realidade que foi pincelada, de maneira mais ou menos próxima ao que vivenciamos, por autores de ficção do século passado. O historiador Sidney Chalhoub se referiu ao momento que enfrentamos neste ano de 2020, com a pandemia da covid-19, como uma distopia neoliberal. Uma doença desconhecida, um vírus novo, e em poucos meses o mundo inteiro parou – e se trancou em casa. Ao menos quem pode. A pandemia obrigou os mercados a reduzir sua atividade, forçou o isolamento, encerrando viagens locais e internacionais, fechando fronteiras, na contramão da defesa exagerada do consumo e das propostas de um neoliberalismo privatista de extrema direita que se instalou em grande parte do mundo neste começo de século. A tão ovacionada globalização que, como descreveu Frederick Cooper, é sempre invocada para incentivar os países ricos a diminuir o Estado social e os países pobres a reduzir as despesas sociais, sofreu um forte abalo com a covid-19.1 Mais do que nunca, ficou explícita a importância de um sistema de saúde público e eficiente, de um Estado consistente que centralize a organização de todas as forças possíveis para salvar vidas. Leia Mais

A EaD e os processos de formação na área da saúde | EmRede – Revista de Educação a Distância | 2017

O contexto educacional da Saúde no Brasil, apoiado numa reflexão sobre a filosofia, a estrutura, o conteúdo e a metodologia do processo educativo, deve buscar explorar a introdução de novas alternativas, incorporando avanços tecnológicos e fundamentos científicos de diferentes campos do saber, de forma a promover uma apropriação crítica da tecnologia aos seus processos pedagógicos, assim como buscar a reflexão crítica sobre as influências da denominada cultura digital sobre as concepções epistemológicas e práticas pedagógicas dos docentes desse campo.

O tema central deste número da Revista – A EaD e os processos de formação na área da saúde visa lançar luz nesse debate, considerando ainda a importância de se planejar processos formativos com base nas necessidades de saúde das pessoas e das populações. Vale destacar o contexto de ampliação de demandas na modalidade a distância, de formação e qualificação profissional na área da saúde, observadas nos últimos anos no Brasil, como decorrentes da prioridade que assumem, na política pública na área da Saúde, conforme define a Constituição Brasileira. Porém, é importante avançar na discussão sobre a qualidade dessas formações e a avaliação das mesmas como um processo crítico e reconstrutivo das práticas em saúde. Evidencia-se, portanto a necessidade de espaços para o compartilhamento de reflexões e experiências que ampliem a compreensão e superem a visão instrumental ainda vigente, centrada apenas no uso de recursos tecnológicos desprovidos de consistência pedagógica. Leia Mais

Política de Saúde Pública na América Latina e no Caribe / História Ciências Saúde — Manguinhos / 2017

Neste último número de 2017 temos a satisfação de entregar-lhes um cardápio variado de artigos de diferentes áreas do conhecimento, campos temáticos, abordagens, temporalidades e geografias, sempre procurando privilegiar a perspectiva histórica, que confere identidade a este veículo transdisciplinar que é História, Ciências, Saúde – Manguinhos. A diversidade, que não é exclusividade desta edição, teve reconhecimento na recente avaliação quadrienal de periódicos pela Capes. A revista manteve-se como A1 nas áreas de História; Interdisciplinar; Sociologia; e Educação. Foi classificada como A2 em Arquitetura; Urbanismo e Design; Ciência Política e Relações Internacionais; Ensino; Planejamento Urbano e Regional / Demografia; e Serviço Social. Nosso periódico passou a ser classificado também em novas áreas: Artes (A2); Comunicação e Informação (A2); e Direito (B2).

Certamente isso é motivo de particular satisfação, pois a capacidade de dialogar com campos disciplinares tão variados representa uma virtude, mas também impõe desafios em termos de política editorial, os quais implicam lidar com o paradoxo de manter essa interface com diversas áreas do conhecimento sem comprometer a identidade do periódico, que, em certa medida, obedece a parâmetros disciplinares. As escolhas nesse sentido são estratégicas, pois apontam para a revista que queremos ter no complexo cenário de início de século e para o potencial de manter-se longeva. Por ora, parece-nos que o enfrentamento da complexidade envolvida nos diversos dilemas contemporâneos requer exatamente a articulação de conhecimentos para superar barreiras disciplinares. Sem respostas ainda claras, temos agido pragmaticamente no intuito de favorecer a qualidade, que não é um parâmetro claramente delimitado, porque envolve subjetividades, mas é a bússola que nos orienta, assim como o amparo de nosso conselho de editores, e, acima de tudo, dos avaliadores. Não podemos deixar de prestar a estes últimos, no derradeiro número de 2017, um profundo e sincero agradecimento, por encontrarem tempo, em meio a rotinas acadêmicas cada vez mais atribuladas e burocratizadas, para examinar com cuidado os manuscritos que nos chegam em números crescentes e com variedade temática cada vez mais ampla.

O julgamento final deste complexo critério chamado “qualidade” é sempre conferido por vocês, leitores, a quem também expressamos gratidão por terem se mantido fiéis este ano, seja pela leitura de nossas edições impressas e digitais, seja pelo acompanhamento de nossos blogs e mídias sociais. Tal agradecimento é extensível aos autores, publicados ou não, que vislumbraram em nossas páginas um veículo atraente para divulgação de pesquisas, comentários e pontos de vista.

A perspectiva latino-americana, bastante presente nos artigos desta edição, é reforçada e ganha nuances caribenhas com o dossiê “Política de Saúde Pública na América Latina e no Caribe”, coordenado pela historiadora Henrice Altink, da Universidade de York (Inglaterra), pela pesquisadora Magali Romero Sá, da Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz (Brasil), e pela professora Debbie McCollin, da University of the West Indies (Trinidad e Tobago). Os artigos resultam das apresentações de três encontros promovidos por cooperação entre a Casa de Oswaldo Cruz e a Universidade de York financiada pela British Academy. Os encontros ocorreram em 2014, 2015 e 2016 em York, Rio de Janeiro e Port of Spain, respectivamente. Os cinco trabalhos que compõem o dossiê trazem um rico panorama das dinâmicas envolvendo saúde pública, política e cultura em países como Haiti, Cuba, Jamaica, Brasil, Peru e Bolívia, e as redes de circulação de saberes com Europa e EUA.

Este número traz também debate sobre a epidemia de zika, travado quando a doença suscitou uma série de anseios, em virtude dos enigmas que ainda pairavam em torno de sua transmissão, patofisiologia e correlação com a microcefalia que acometia bebês de mulheres infectadas pelo vírus na gravidez. Apesar da virose de certa forma ter retrocedido do debate público, permanece uma ameaça concreta, ainda mais às vésperas do verão, quando seu vetor, o Aedes aegypti, alastra-se pelos centros urbanos, instaurando verdadeiro caos sanitário. O debate representa excelente registro das percepções de especialistas dedicados a pensar a doença em seus condicionantes sociais, econômicos e culturais.

Não podemos deixar de registrar nestas linhas que já se estendem nossa inquietude com os recentes ataques à liberdade e à autonomia do pensamento acadêmico no Brasil. Ataques revestidos de nebuloso autoritarismo querem censurar aquilo que destoa da agenda proposta para o país por segmentos fundamentalistas. Já assistimos ao cerceamento da expressão na arte, com argumentos de ordem pseudomoralista, mobilizados para defender a família – sempre este ente abstrato e flexível, que junto com Deus e a liberdade pôs nas ruas milhares de pessoas clamando por intervenção autoritária na véspera do golpe de 1964. No campo da educação, há algum tempo ganha vulto o movimento “Escola sem Partido”. Não tem faltado ataques a professores e alunos atinados com o debate contemporâneo de gênero e sexualidade e outras temáticas de cariz progressista. Na Universidade Federal da Bahia, professores e estudantes que pesquisam questões relacionadas a gênero foram ameaçados de morte. Notícia bastante recente (22 de novembro de 2017) veiculada na Folha de S.Paulo dá conta que artigo da área de educação, avaliado por pares, foi retirado da página do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, a contragosto da editora responsável, abrindo uma crise entre pesquisadores do campo. Aos colegas e instituições, nossa solidariedade.

O fascismo, de definição ampla e heterogênea, mas de percepção bastante clara quando diante de nossas faces, avança a passos largos. Mantenhamo-nos atentos, na esperança de que, no próximo ano, a sociedade brasileira possa manifestar nas urnas suas aspirações em eleições plenamente democráticas.

A todos uma boa leitura e um 2018 mais auspicioso!

André Felipe Cândido da Silva – Editor científico

Marcos Cueto – Editor científico


CUETO, Marcos; SILVA, André Felipe Cândido da. Carta dos editores. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.24, n.4, out. / Dez., 2017. Acessar publicação original [DR]

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África e Brasil: Saúde, sociedade e meio ambiente (séculos XV- XXI) / Mnemosine Revista / 2016

O dossiê temático África e Brasil: saúde, sociedade e meio ambiente (séculos XVIII-XXI) reuniu artigos e resenhas contendo informações, descrições e análises resultantes de pesquisas e estudos relacionados com Brasil e África, particularmente, os países africanos de língua oficial portuguesa: Angola, Cabo Verde e Moçambique. O presente dossiê contempla análise e interpretação das realidades sanitárias, sociais e ambientais na África e no Brasil.

Acervos bibliográficos, bases de dados e de documentação disponíveis na atualidade, possibilitaram variadas abordagens, tendo por base uma diversidade de objetivos de investigação e com características tipológicas de fontes documentais similares, como relatos de viajantes, militares, religiosos e administradores coloniais, obras literárias, iconografia, noticiário e reportagens da imprensa, relatórios médicos dos serviços de saúde, dados técnicos, diários, memórias e autobiografias.

As novas e futuras abordagens multidisciplinares, como a história ambiental, história mundial, a história das ciências, da saúde e das doenças, a antropologia médica e a etnobotânica, entre outros campos disciplinares, encontram espaços de atuação que possibilitam a obtenção e a ampliação do conhecimento de conjunto e comparado, monográfico e temático, empírico e teórico, nacional, regional e global de grande elenco de fenômenos e processos sociais relacionados à saúde humana e às doenças, sobretudo aquelas de incidência em áreas tropicais, à vida social e material e do meio ambiente na África e no Brasil.

Os dez artigos que integram o dossiê África e Brasil: saúde, sociedade e meio ambiente (séculos XVIII-XXI) oferecem assim uma diversa amostra da amplidão deste panorama acessível aos leitores interessados e aos pesquisadores em variados campos das artes, das ciências e humanidades.

A autoria dos trabalhos também espelha essa grandeza, diversificada procedência institucional, disciplinar, investigativa e geracional. Ela traduz a complexidade e o potencial que as abordagens integradoras e multidisciplinares comportam no âmbito do estudo da história, da saúde e das doenças, do meio ambiente em escala nacional e continental. Procurou-se alcançar e houve êxito no equilíbrio numérico e espacial dos textos.

Em cinco deles os objetos de estudos estão referidos ao continente africano. Em todos eles há o esforço em compreender os desafios que se abrem neste século e o quanto estes são devedores de imagens, interpretações, informações e representações do passado. Os momentos anteriores ao colonialismo europeu, à sua presença e legados no continente africano, as disputas sob a Guerra Fria e, logo, as novas angústias e esperanças sob a globalização dos mercados e da cultura no século XXI. Tomados em suas respectivas escalas nacionais, territórios étnicos e mesmo continental, os artigos trazem à tona aspectos relevantes, dados e informações inéditos e originais, empenho interpretativo, fecundas perspectivas analíticas e metodológicas e a proposição de questões para o debate intelectual, científico, cultural e político no tocante às trajetórias e os destinos coletivos na África e no Brasil.

História e evolução da epidemia da infecção por VIH em Angola, de Maria Helena Agostinho (Angola), Aspectos da história da malária em Moçambique no período colonial, de Emília Virginia Noormahomed (Universidade Eduardo Mondlane / Moçambique) e Virgílio Estolio do Rosário (Universidade Nova de Lisboa / Portugal), Imperialismo, colonialismo, guerra civil e crise identitária: violência contra crianças acusadas de feitiçaria em Angola, de Andréa Pires Rocha (Universidade Estadual de Londrina) e José Francisco dos Santos (Universidade Federal do Oeste da Bahia) e Literatura e ideologia colonialista: Júlio Verne e a conquista científica da África, de Carlos Eduardo Rodrigues e José Henrique Rollo (Universidade Estadual de Maringá), Cabo Verde e a luta pela água. Uma discussão sobre meio ambiente e estrutura agrária, de Dora Shellard Corrêa (Centro Universitário Fundação Instituto de Ensino para Osasco), oferecerem apetitoso caleidoscópio das imbricações entre condição individual e social, de um lado, e, de outro, as perspectivas da razão, de seus instrumentos e de suas instituições na ânsia de controle e de mudança social em espaços e territórios secularmente submetidos à ação dos grupos e das sociedades humanas na África. Este conjunto de análises recobre um tempo longo na história social africana.

O segundo conjunto, igualmente formado por cinco artigos, concentra atenção em situações regionais e nacionais do Brasil. Acoplado a ele, o artigo de Jean Luiz Neves Abreu (Universidade Federal de Uberlândia), Doenças e climas dos trópicos do Império Português: Brasil e África (séculos XVIII-XIX), cumpre estimulante papel de preâmbulo, articulação e transição de espaço e tempo, África e Brasil, alargando o horizonte analítico para o futuro que virá: a construção dos estados e das sociedades nacionais. São os estudos sobre A dengue no Brasil: políticas públicas, neoliberalismo e aquecimento global – uma confrontação inevitável (1990- 2010), de Roger Domenech Colacios (Universidade Estadual Paulista), “A fisionomia do Rio Grande do Sul” nos anos de 1930: a natureza pelo olhar do padre Balduíno Rambo, de Daniel Porciúncula Prado e Zuleica Soares Werhli (Universidade Federal do Rio Grande), Haikais fotográficos: representações de natureza nas imagens de Haruo Ohara (Londrina, 1930-1950), de Richard Gonçalves André (Universidade Estadual de Londrina), O fenômeno da mortandade de peixes na imprensa brasileira (1870-1930), de Ramiro Alberto Flores Guzmán (Universidade Estadual Paulista). Uma vez mais, agora na costa ocidental do Atlântico, indivíduo e sociedade, cultura e poder, ser humano e natureza, estão fortemente ligados em contraditórias e singulares articulações fenomênicas e conferem relevância, distinção e originalidade ao conhecimento histórico das realidades observadas, esmiuçadas e explicadas nestes artigos.

A sua disposição em sequência espacial alternada não impossibilita a apreensão deste fio condutor e de identidade do dossiê. Ele surgiu espontaneamente e pode ser identificado com nitidez na leitura dos artigos, tornando -se indisfarçável ainda que sob a manta de temas, objetos, períodos, documentação e localização histórica. Há duas resenhas que completam este dossiê África e Brasil: saúde, sociedade e meio ambiente (séculos XVIIIXXI) e apontam outros elementos diretamente referidos à identidade e unidade temática daquelas pesquisas.

A Rede Internacional de Pesquisa História e Saúde, organizada em Goiás, em outubro de 2013, responsável pela compilação destes artigos agradece a generosa colaboração das autoras e dos autores, bem como aos editores de Mnemosine, pela oportunidade de leitura, difusão e promoção dos estudos reunidos pelo dossiê.

Paulo Henrique Martinez (Faculdade de Ciências e Letras de Assis / Universidade Estadual Paulista / Brasil)

Virgílio Estolio do Rosário (Instituto de Higiene e Medicina Tropical / Universidade Nova de Lisboa / Portugal)

Philip J. Havik (Instituto de Higiene e Medicina Tropical / Universidade Nova de Lisboa / Portugal)


MARTINEZ, Paulo Henrique; HAVIK, Philip J.; ROSÁRIO, Virgílio Estolio do. Apresentação. Mnemosine Revista. Campina Grande, v.7, n.2, abr. / jun., 2016. Acessar publicação original [DR]

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Medicina, Saúde e Doenças na História (II) / História Revista / 2015

Ao propormos um dossiê com a temática Medicina, Saúde e Doenças na História para publicar na História Revista, para nossa satisfação, fomos surpreendidas com inúmeros artigos de excelente qualidade que ultrapassavam o limite de um dossiê. O editor da revista decidiu organizar os artigos em dois dossiês e publicar em dois números seguidos da revista.

O fato de recebermos tantos artigos vem reafirmar o crescimento do campo historiográfico da saúde e das doenças no Brasil. Desde mais de uma década, criou-se um núcleo de pesquisadores de algumas universidades brasileiras interessados nesse campo de estudos. Esse núcleo, aos poucos se ampliou com a inserção de mais pesquisadores de outras universidades, formando verdadeira rede de conhecimento.

Organização de simpósios em congressos da área, em especial da ANPUH (Associação Nacional de Professores Universitários de História) e da SBHC (Sociedade Brasileira de História da Ciência), publicação de artigos e de livros que tematizam a história da saúde e das doenças em suas várias vertentes consubstanciaram na construção e consolidação desse campo de conhecimento no Brasil, somado à existência crescente de linhas de pesquisa nos programas de pós-graduação, onde se formam novos pesquisadores, potencialmente novos membros dessa rede.

Esse segundo dossiê atesta a diversidade de abordagens e fontes para se estudar a história da saúde e das doenças. Primeiramente, apresentamos o artigo de Viviane Machado Caminha São Bento e Nadja Paraense Santos intitulado “Botica jesuíta: apontamentos sobre a produção de medicamentos e a utilização de recursos naturais no Brasil colonial” que analisa a atuação dos jesuítas no desenvolvimento de medicamentos e práticas de cura, no período colonial.

O segundo artigo trabalha basicamente com o “Banco de Theses de Médicos Mineiros”, disponível no Arquivo Público Mineiro (APM). Trata-se de um corpus documental já inventariado que permite abordar aspectos que dizem respeito à formação, relações sociais e atuação dos médicos mineiros.

O terceiro artigo analisa as doenças no território baiano, a partir do curandeiro Faustino Ribeiro Junior, pelo viés da alimentação. A seguir Rômulo de Paula Andrade apresenta uma fecunda discussão política a partir de uma ação da saúde pública, qual seja a da campanha de erradicação da malária na Amazônia. O artigo “Bons ares, maus colonos: ambivalência entre raça e ambiente em Doenças Africanas no Brasil de Octavio de Freitas” investiga um personagem, a partir de sua obra, contextualizando suas ações. O artigo de Marinice Sant’Ana de Oliveira e Liane Maria Bertucci tem como objeto a Semana da Tuberculose, realizada em novembro de 1937, em Curitiba, no Paraná. As autoras analisam as ações de educação em saúde pública durante o evento e afirmam que os bons ares não são suficientes para evitar a tuberculose. No sétimo e último artigo, Charles Klajman trata de duas pandemias de gripe, a Espanhola de 1918 e a Influenza A de 2009. Examina as duas gripes de forma comparada, utilizando o referencial teórico da História Ecológica.

Esperamos que, como o dossiê anterior, este também se desdobre em profícuas discussões sobre a temática proposta.

Dilene Raimundo Nascimento – Doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense. Docente do programa de Pós‐Graduação em História das Ciências e da Saúde, da Casa de Oswaldo Cruz

Sônia Maria de Magalhães – Doutorado (2004) em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. É docente no Departamento de História da Universidade Federal de Goiás


NASCIMENTO, Dilene Raimundo; MAGALHÃES, Sônia Maria de. Apresentação. História Revista. Goiânia, v. 20, n. 3, set. / dez., 2015. Acessar publicação original [DR]

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Medicina, Saúde e Doenças na História / História Revista / 2015

Os intelectuais dos Annales foram pioneiros em estimular os estudos relacionados à doença. Precursores também ao valorizar os aspectos comuns da vida material, como os comportamentos biológicos, a história da alimentação, a história das enfermidades, contribuindo para uma releitura da história econômica e social. Os estudos de Emannuel Le Roy Ladurie e Fernand Braudel sobre a medicina e as doenças merecem destaque. O primeiro iniciou uma série de pesquisas sobre a história do clima e, posteriormente, da saúde e das doenças.[1] Ao segundo, coube a tarefa de promover pesquisas interdisciplinares, estimulando representantes de diferentes especialidades a discutir questões sobre história social da medicina e da doença alvitradas na revista Annales. O convite de Braudel foi bem recebido não só pelos historiadores, mas também por médicos e outros especialistas interessados em compreender historicamente o seu ofício. Desse exitoso encontro entre a História e as outras áreas do conhecimento resultaram vários artigos, procedendo em números especiais dedicados exclusivamente ao tema.[2]

Mas o texto basilar O corpo: o homem doente e sua história de Jean‐Pierre Peter e Jacques Revel, herdeiros de Fernand Braudel, promoveu um novo olhar sobre a temática para além do seu aspecto biológico. Eles vislumbraram a doença como elemento social, um acontecimento de reelaboração das conexões estabelecidas pelo homem, possibilitando evidências reveladoras sobre as mudanças sociais, uma esclarecedora leitura do mundo. O homem enfermo, outrora excluído da sua subjetividade, também ganha voz e visibilidade nesse processo. Desde então, esses objetos de pesquisa tem granjeado novo sentido na análise do historiador, que os examinam não apenas como um fenômeno mórbido, mas associados, sobretudo, aos aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais. Nesse complexo cabeamento analítico, as temáticas abrangem saberes práticas, instituições, representações sociais e culturais, relações de poder, ciência, sociedade, cultura, religião, espaço ambiental[3].

No Brasil, o impacto desse campo historiográfico pode ser auferido na crescente produção de dissertações e teses, livros, periódicos, grupos de trabalhos e programas de pós‐graduação e eventos indicando profícuas perspectivas teórico‐ metodológicas, que não só enriquecem a historiografia brasileira, mas sugerem novos temas de pesquisa.

Deste modo, os artigos reunidos no dossiê Medicina, Saúde e Doenças na História contemplam uma parcela abrangente da literatura produzida no Brasil, as tendências de investigação e metodologias aplicadas pelos historiadores. Os autores dos artigos que compõem o dossiê discutem os significados históricos da medicina, saúde e doenças seja no século XIX seja no XX, abarcando os diversos estilos, objetos e narrativas que propõem compreender as tensões entre os impactos sociais das doenças e as ações de saúde pública (avanços, retrocessos e desafios inerentes à constituição do saber médico e às ações públicas).

Notas

1. LADURIE, E. Histoire du climat depuis de An Mil. Paris: Flamarion, 1967.

2. J. R. (Org.). Médicins, médecine et societé en France aux XVIII et XIX siécles. Annales. Economies, sociétés, civilizations, n. 5, septembre-octobre, p. 849-1055, 1977.

3. REVEL, J.; PETER, J-P. O corpo: o homem doente e sua história. In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. História: novos objetos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976.

Dilene Raimundo Nascimento – Professora Doutora (COC / Fiocruz)

Sônia Maria de Magalhães – Professora Doutora (FH / UFG)


NASCIMENTO, Dilene Raimundo; MAGALHÃES, Sônia Maria de. Apresentação. História Revista. Goiânia, v. 20, n. 2, mai. / ago., 2015. Acessar publicação original [DR]

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Saúde-doença dos trabalhadores / Tempos históricos / 2015

As últimas décadas poderiam ser entendidas como de uma verdadeira obsessão por parte do empresariado nacional em busca da obtenção de indicadores de qualidade, traduzidos, por exemplo, na multiplicação de ISOs (International Organization for Standardization) 9000. A argumentação para tal firma-se na necessidade de um mercado globalizado, referenciado em padrões compatíveis com os parâmetros internacionais, visando a satisfação do consumidor mais remoto, via procedimentos massivos adotados na produção e na distribuição.

Desdobramento dessa busca pode ser notado nas constantes liberações (permissões) de produtos e serviços para exportações a países e regiões, conjuntamente a obtenção de certificados de qualidade específicos para este ou aquele produto, que não só os da ISO, como, por exemplo, o British Retail Consortium (BRC) obtido pelo setor frigorífico para exportação na Europa.

Esta obsessão, como tudo na sociedade capitalista, parece extremamente seletiva, pois foca no produto, mas não necessariamente no produtor, aquele que efetivamente faz a transformação das matérias primas no objeto desejado – de diversas ordens -, sujeito a péssimas condições de trabalho e via de regra exposto a riscos, agravos, acidentes etc. Vejamos alguns indicadores disponibilizados pela OIT (2014):

– 2,02 milhões de pessoas morrem a cada ano devido a enfermidades relacionadas com o trabalho;

– 321 mil pessoas morrem a cada ano como consequência de acidentes no trabalho;

– 160 milhões de pessoas sofrem de doenças não letais ligadas ao trabalho;

– 317 milhões de acidentes laborais não mortais ocorrem a cada ano;

– a cada 15 segundos, um trabalhador morre de acidentes ou doenças relacionadas com o trabalho;

– a cada 15 segundos, 115 trabalhadores sofrem um acidente laboral.

As comparações estatísticas seriam diversas. Fiquemos apenas numa: o trabalho matou quase seis vezes mais do que a dengue no Brasil, em números absolutos. Ou seja, em sete anos, de 2007 a 2013,

o país teve 5,3 milhões de casos de dengue, número equivalente aos acidentes de trabalho. Menos letal, a doença matou 3.331 pessoas, média de 475 por ano, contra 19.478 óbitos no trabalho, ou 2.780 por ano – os 720 mil acidentes anuais ainda deixam 14,5 mil inválidos permanentes. Cabe lembrar que, ano após ano, o combate à dengue mobiliza todo o país, um esforço que não se vê no combate aos perigos no trabalho [3].

Além disso, o trabalho era mais letal do que a dengue: o risco de morte é quase 12 vezes maior, tomando-se a população trabalhadora e a população geral sob o risco do vírus. Só no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), esta situação comprometeu, entre 2003 e 2014, R$ 16 bilhões, sendo que estas despesas consomem 90% dos recursos daquele órgão [4]. Isso ilustra o fato de que os recursos públicos são investidos de forma trágica, pois os problemas são estruturais e não se consideram as causas, mas tão somente os aspectos secundários. Ou então, o que dizer sobre a insegurança e a desatenção do capital e do Estado para com a saúde do trabalhador serem tratados nos tribunais!

Com base nos exemplos, que se perdem à exaustão, é imprescindível a associação entre processo de trabalho e saúde do trabalhador. Isso requer nossas atenções para a qualidade de vida do trabalhador dentro e fora do trabalho, já que esta está cada vez mais ameaçada, coerentemente sustentada na irracionalidade sistêmica do capital, ou seja, na extração de trabalho não pago, base estrutural de todo o edifício sociometabólico da sociedade capitalista.

Este dossiê “Saúde / Doença do Trabalhador” busca contribuir não só com esta discussão, mas também com a visibilidade do problema, colocando-a em perspectiva histórica, evidenciando a longevidade e as fissuras da relação saúde / doença. Neste sentido, se a insalubridade e fatalidade do trabalho para o trabalhador é uma aspecto da produção capitalista que perdura conjuntamente a esse sistema, suas circunstâncias e formas têm a mesma diversidade, o que fica caracterizado, longe do suficiente, nos quatro artigos que compõem o dossiê.

Assim, em “Saúde e trabalho no Brasil e os desafios da participação”, Carlos José Naujorks, pontua a historicidade da conceituação da questão, partindo de médicos e sanitaristas europeus no século XIX, deslocando-se à participação e mobilização dos trabalhadores no Brasil na defesa da salubridade laboral no século XX. Comparativamente aos outros artigos que compõem este dossiê, Naujorks contribui com uma visão sintética e geral da questão, ao passo que os demais artigos focam categorias específicas de trabalhadores.

O artigo de Anderson Vieira Moura, “Operários têxteis e o acesso à saúde”, parte de processo judicial, investiga as articulações entre diferentes grupos – patrões, sindicalistas e profissionais da saúde, além dos próprios trabalhadores – no que se refere ao acesso aos serviços médicos vinculados ao trabalho, em Maceió, na década de 1950.

No artigo de César Augusto Martins de Souza, a construção da rodovia Transamazônica, na década de 1970, é o “palco” dos embates vividos pelos trabalhadores em relação às enfermidades e mortes, não só dos que executavam a obra, como também da população lindeira, também atingida pelo “empreendimento”. De posse de farto material empírico, o autor contrapõe elementos críticos com base na euforia dos asseclas da ditadura pós-1964 com a possível “ocupação” daquela região que viabilizaria a exploração de madeiras, fauna, minérios etc. suas muitas riquezas e as preocupações com os riscos que tal obra poderia propiciar à saúde pública.

No quarto artigo desta coletânea, Fernando Mendonça Heck investiga e interpreta uma das categorias profissionais que expressam, desafortunadamente, na contemporaneidade mais estreitamente aquela contradição que apontamos no inicio desta introdução: os trabalhadores em frigoríficos. Este setor que propagandeia o sucesso da produção com qualidade no Brasil, detentora de índices de exportação e rentabilidades, mesmo em períodos de suposta crise, expressivos, laureado com diversos certificados internacionais que atestam a grandeza do agronegócio nacional, é, articuladamente e não tão divulgado, um dos setores que mais danos causam aos trabalhadores. Esses elementos são abordados por Heck, com as atenções também para o processo crescente de terceirização implementado pelo capital para fragilizar a luta político-organizativa dos trabalhadores.

Tendo em conta a natureza do tema, ficaria difícil desejar aos leitores uma agradável leitura. Desejamos assim que ao menos ela seja proveitosa, não só no aprofundamento de discussões, mas também como oportunidade de denunciar a situação.

Notas

3. Gazeta do Paraná, O Trabalho mata mais do que epidemia no Brasil, 5 de julho de 2015. Disponível em www.gazetadopovo.com.br / vida-e-cidadania / especiais / acidentes-de-trabalho-no-brasil / index.jpp.

4. In INSS, 1º. Boletim Quadrimestral sobre Benefícios por Incapacidade, 25 de abril de 2014. Disponível em http: / / www.previdencia.gov.br / wp-content / uploads / 2014 / 04 / I-Boletim-Quadrimestral-deBenef%C3%ADcios-por-Incapacidade1.pdf

Antonio Thomaz Junior – Doutor em Geografia (USP), professor do Programa de Pós-Graduação e da Graduação em Geografia da UNESP (Campus de Presidente Prudente).

Rinaldo José Varussa – Doutor em História Social (PUC-SP), professor associado do Programa de Pós-Graduação e da Graduação em História da UNIOESTE (Campus de Marechal Cândido Rondon).


THOMAZ JUNIOR, Antonio; VARUSSA, Rinaldo José. Introdução. Tempos Históricos, Paraná, v.19, n.2, 2015. Acessar publicação original [DR]

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Internet e Saúde / Cadernos do Tempo Presente / 2015

A revista Cadernos do Tempo Presente continua em movimento. Prosseguimos com a nossa 19ª edição acompanhando e buscando analisar variadas experiências. Seguimos refletindo sobre a temporalidade e a complexa relação entre passado e presente com uma gama de temas e problematizações. Continuamos assim, sendo movidos por aquilo que cerca o “tempo presente”: os discursos heterogêneos.

Giuseppe Frederico Benedini abre a seção de artigos com seu trabalho, “A Rússia Czarista e as origens da Revolução: um ensaio”. Em sua apresentação sobre a política vigente nos reinados sucessivos da dinastia Romanov, de Alexandre I a Nicolau II, veremos as mais importantes transformações sociais ocorridas na Rússia daquela época, incluindo os movimentos políticos e culturais de oposição ao regime.

Em “Os movimentos sociais das “Gentes do Mar” no Brasil”, Arilson dos Santos Gomes faz uma pertinente discussão sobre a importância dos movimentos sociais no final do século XIX e início do século XX ligados ao ‘povo brasileiro do mar’, os pescadores. Suas atividades no mar e na terra e o constante diálogo entre estes dois mundos.

Nesta Edição, nos preocupamos em presentear nossos leitores com um dossiê sobre saúde e internet, ao observarmos o aumento e a frequência com que os internautas tem visitado a web em busca de informações sobre tratamento médico e os usos das redes sociais cibernéticas enquanto espaços de promoção para variados fins. André Pereira Neto e Mônica Dantas trazem no primeiro artigo desse Dossiê uma análise sobre a violência simbólica sofrida pelo grupo denominado GLBT nos discursos homofóbicos, e suas reações no Facebook “Rio sem Homofobia – Grupo Público”.

Os usos de uma Fan Page do Facebook como estratégia de comunicação para divulgação das ações do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict / Fiocruz) pode ser apreciado no segundo artigo do Dossiê. Intitulado “O uso de Fan Page como estratégia de comunicação institucional” o trabalho tem como autoras Renata Rezende e Cristiane Almeida.

Na linha sobre saúde, Rita Machado e Maria da Costa discutem a internet como um fenômeno contemporâneo que revolucionou a sociedade e mudou o modo como as pessoas lidam com a saúde em “Disponibilidade da informação para pacientes de câncer: a internet como ferramenta de visibilidade e construção de empoderamento”,

Finalizando o Dossiê, temos o artigo de Tatiana Clébicar e Kátia Lerner. “Interatividade nas fanpages do Facebook de jornais cariocas: o caso das notícias de saúde” faz uma significativa comparação dos indicadores de interatividade nas publicações sobre saúde nas fanpages do Facebook dos jornais cariocas O Globo e O Dia.

Nossos variados discursos não param por aí. A resenha de Clotildes de Sousa discorre sobre a obra Didática para Licenciaturas, de Itamar Freitas, em que o autor discute os limites entre aprendizagem e ensino. Noutro viés, Diogo Perin reflete sobre a narrativa de Paulo Knauss no texto A cidade como sentimento: história e memória de um acontecimento na sociedade contemporânea — o incêndio do Gran Circus Norte-Americano em Niterói, 1961.

Tenham todos uma ótima leitura!

Os Editores


Editores. [ Internet e Saúde]. Cadernos do Tempo Presente, São Cristóvão, n.19, 2015. Acessar publicação original [DR]

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Trabalho, saúde e medicina na América Latina | Mundos do Trabalho | 2015

Na primeira metade do século XX, consolidou-se na medicina um campo de conhecimento diretamente preocupado com a saúde dos trabalhadores. Em contraste com a higiene social e os esforços característicos da saúde pública, a medicina do trabalho visava prevenir os acidentes de trabalho e diagnosticar doenças que afetavam especiicamente os trabalhadores. Embora as razões para o surgimento da medicina do trabalho variem de um país para outro, as pesquisas recentes sugerem que houve avanços deinitivos nesse campo a partir da década de 1930.

A medicina do trabalho contrasta com outras áreas da medicina, principalmente porque seu objeto de estudo são cidadãos-trabalhadores, amparados por certos direitos sociais. Pode-se contestar essa ideia dizendo que a igura do operário doente se espalha pela literatura médica desde o século XIX, ou que crianças, mulheres e operários estiveram no âmago das discussões médico-sociais de todo o período. Ou ainda, que no quadro das polêmicas sobre a degeneração da raça, não havia muita diferença na abordagem de todos esses setores sociais, de modo que as fronteiras entre a deinição de trabalhadores e de pobres não estava muito clara. Leia Mais

História e Saúde | Fênix – Revista de História e Estudos Culturais | 2012

 

Organizador

Iranilson Buriti de Oliveira – Professor Doutor da Unidade Acadêmica de História da UFCG. E-mail: iburiti@yahoo.com.br


Referências

[História e Saúde}. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. Uberlândia, v.9, n.3, set/dez. 2012.

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Ciências, Saúde e Historiografia | Temporalidades | 2011

Dando prosseguimento à ideia de dossiê temático, apresentada na edição passada, a Temporalidades traz, nesse número, um dossiê com foco na História da Ciência. Com efeito, é importante destacar que se apresentam aqui trabalhos de qualidade não apenas de jovens historiadores, mas de jovens historiadores da ciência, isto é, de uma área relativamente recente entre nós. Este fato é de especial importância porque serão jovens historiadores os responsáveis pela pavimentação definitiva, no Brasil, dessa importante área de pesquisa.

Completando os artigos com o enfoque na História da Ciência, o periódico traz ainda uma entrevista com o veterano Historiador da Ciência, professor Carlos Alvarez Maia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

A cada número, a Temporalidades consolida mais e mais o seu caminho mostrando a que veio jovens historiadores ávidos de realizarem suas pesquisas, bem como mostrar o resultado alcançados por elas. A grande qualidade desses textos mostra a importância de veículos para a apresentação de trabalhos discentes.

Na qualidade de editor, reconheço aqui que esse número não seria possível sem todo o trabalho e esforço, em sua montagem, dos membros editoriais da Temporalidades.

Por fim, possa o leitor ter, mais que as informações e reflexões trazidas por esses textos, o prazer da leitura.

Mauro Lúcio Leitão Condé


CONDÉ, Mauro Lúcio Leitão. Apresentação. Temporalidades. Belo Horizonte, v.3, n.2, ago./dez. 2011. Acessar publicação original [DR]

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História, Corpo e Saúde / Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade / 2011

Cordis é uma palavra de origem latina que significa coração. Muitas palavras em nossa língua derivam de cordis, como: concordar, discordar, recordar, decorar, etc. A palavra cordial também deriva de cordis. Foi com a intenção de homenagear o “Homem Cordial”, descrito pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda, que, em 2008, o Núcleo de Estudos de História Social da Cidade (NEHSC) batizou, de Cordis, a Revista Eletrônica de História Social da Cidade. Feliz escolha! Em sua sétima edição, a referida revista traz a temática História, Corpo e Saúde. Este título está ligado à palavra cordis em muitos sentidos: História, recordar, cordis; Corpo, saúde, coração, cordis.

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), “saúde não é apenas a ausência de doença, mas um estado de completo bem-estar físico, mental e social.” Esta definição possui, portanto, implicações legais, sociais e econômicas. A percepção de saúde muda com o tempo e varia entre as diferentes culturas, assim como as crenças sobre o que traz ou retira a saúde.

A presente edição da Revista Cordis aborda, em onze artigos, uma nota de pesquisa e uma resenha, aspectos históricos ligados ao corpo e à saúde física e mental, da pré-história aos dias atuais.

Duas pestes, a bubônica, medieval, e a AIDS, atual, são tratadas em diferentes ângulos. A peste bubônica, mais conhecida como a Peste Negra, que assolou a Europa na Baixa Idade Média, dizimando mais de 50 milhões de pessoas, é analisada na cidade de Campina Grande, em 1912. A AIDS, peste moderna, que já afetou 37,8 milhões de pessoas em todo o mundo e ceifou 20 milhões delas, é abordada através de uma polêmica que ocorreu, entre 1986 e 1998, nos meios médicos e científicos, sobre um dos aspectos de sua transmissão.

Corpos evidenciados em cenas rupestres em São Raimundo Nonato, no Piauí, dialogam com os corpos do mundo de ontem e de hoje. O corpo feminino e suas representações sociais na contemporaneidade, com novas linguagens, e as influências da mídia também é contemplado.

A criança é vista de várias maneiras: em uma perspectiva histórica, a educação e o cuidado com crianças pequenas são estudadas nas políticas públicas, mostrando que quase sempre são confundidas.

A eugenia, movimento científico e social que surgiu no final do século XIX na busca de uma “raça pura”, não foi um movimento homogêneo no mundo, mas apresentou várias facetas, como nos mostra um dos artigos. No Brasil, a eugenia esteve presente nos discursos médicos, no Paraná. Na capital alencarina, a eugenia influenciou o modo de vida e de diversão das pessoas.

A violência contra crianças e suas consequências psicológicas, gerando o medo, com mudanças na atuação das instituições sociais para combatê-la, foi fruto de estudos e pesquisas.

Segundo a psicologia, a loucura é uma condição patológica da mente humana, que apresenta pensamentos considerados “anormais” pela sociedade. O problema da loucura na historiografia do século XX, com a visão de segregação das pessoas consideradas insanas, pelas autoridades administrativas, médicas e policiais, também é abordado.

O uso político, por meio da imprensa paraense, entre 1897 e 1909, de questões ligadas a falta de alimentos de primeira necessidade, e problemas ligados a falta de saúde na cidade de Campinas, entre os anos de 1929 e 1945, são aqui retratados.

Tudo isso, e muito mais, o leitor encontrará neste número da Revista Cordis.

Boa leitura!

Fortaleza- CE, dezembro de 2011

Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg

Conselho Editorial


ROSEMBERG, Ana Margarida Furtado Arruda. Apresentação. Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade, São Paulo, n. 7, jul. / dez., 2011. Acessar publicação original [DR]

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História, Assistência e Saúde / Varia História / 2010

Os artigos reunidos no Dossiê História, Assistência e Saúde foram originalmente expostos no Seminário Internacional Estado, Assistência e Filantropia, ocorrido no Rio de Janeiro, em novembro de 2009[1]. O objetivo central desse evento foi promover o debate sobre as tendências atuais da historiografia consagrada à questão da assistência, contemplando a diversidade de perspectivas e abordagens relacionadas ao tema.

É frequente que os debates acerca do socorro, da assistência e da proteção à saúde estejam referidos na historiografia por – particularmente naquela que trata da emergência da saúde pública por – como uma dimensão do Estado de bem-estar social e sua relação com os modelos tradicionais de assistência pública e privada. Nessa perspectiva, também se alinham os estudos relacionados à profissionalização da assistência e do cuidado, uma vez que a nova configuração da assistência à saúde foi propícia à emergência de novas profissões (médicos sanitaristas, enfermeiras de saúde pública, educadoras sanitárias, assistentes sociais) e à redefinição da atuação das tradicionais profissões de saúde. Mais recentemente o gênero, a etnia e as chamadas idades de vida (infância, juventude e velhice) também se tornaram variáveis fundamentais para o entendimento das formas modernas de assistência e bem-estar social.

Para os estudos acerca dos valores religiosos, científicos, profissionais ou filosóficos que orientam as ações que visam promover formas, compromissos e pactos de solidariedade e de ajuda mútua entre diferentes grupos e classes sociais, os temas da assistência e proteção dos corpos (e das almas) também são tópicos obrigatórios. Enquanto prática cultural historicamente situada, a assistência é responsável pela criação de recursos materiais e simbólicos próprios que se tornam bastante evidentes em ocasiões extraordinárias, como em tempos de epidemia, catástrofes naturais e guerras. Nesses momentos de desorganização e anomia social as práticas de assistências tornam-se essenciais para a preservação da vida.

Finalmente a história da assistência à saúde também sugere a reflexão sobre um tipo especial de cultura material traduzida em instalações e edificações (hospitais, asilos, clínicas, habitações) especialmente concebidas para tais fins, estabelecendo um vínculo entre a arquitetura e o urbanismo e valores religiosos, conhecimentos científicos ou ideologias políticas que orientam as práticas de assistência envolvidas.

Os artigos selecionados para compor o Dossiê História, Assistência e Saúde são representativos das tendências aqui sintetizadas ao examinar esses temas sob abordagens inventivas e saudavelmente heterodoxas.

Laurinda Abreu propõe uma nova abordagem do processo de construção do sistema assistencial português entre os séculos XVI e XVIII, orquestrado pela Coroa portuguesa, com o apoio da elites locais, mas, ao demonstrar como a Coroa portuguesa pôs em funcionamento uma rede formal de instituições e de serviços assistenciais, a autora amplia a discussão sobre a responsabilidade do Estado moderno português na promoção e na profissionalização da assistência à saúde, extrapolando sua ação tradicionalmente considerada restrita ao controle das epidemias. Considerando-se a repercussão local do paradigma assistencial português, a discussão proposta serve de ponto de referência para a leitura dos artigos deste dossiê, que tratam basicamente da construção da rede assistencial e da profissionalização da saúde.

A questão da ausência / presença do Estado no processo de institucionalização da assistência médica no Estado do Rio Grande do Sul, abordado com originalidade no artigo de Beatriz Weber, leva a uma perspectiva diferente da organização da assistência médica no início do século XX, vista pelo prisma da competição entre diferentes tipos de “artes de curar”. Inspirada nos preceitos políticos do positivismo, a constituição republicana gaúcha de 1892 previa a liberdade de atuação no âmbito das “artes de curar”. A chave de leitura proposta pela autora permite pensar que, no contexto específico do Rio Grande do Sul, a organização da assistência médica passava pela conquista por parte dos médicos gaúchos do monopólio das “artes de curar” em oposição à liberdade de atuação de curandeiros, benzedeiras e parteiras. Nesse caso, caberia ao Estado garantir a liberdade profissional no âmbito da prestação de serviços de assistência à saúde.

Para relativizar o papel hegemônico dos médicos na prestação da assistência, Verônica Pimenta Velloso explora o associativismo profissional dos farmacêuticos do Rio de Janeiro imperial. O artigo chama atenção para o papel desempenhado pelos farmacêuticos na prestação de assistência à saúde da população, não resumida tão somente à arte de formulação dos remédios, mas também abrangendo a prestação de outros serviços, como prescrição de medicamentos por – atribuição tecnicamente restrita aos médicos por – e aplicação de determinados tipos de terapêuticas. A sobreposição de práticas profissionais entre farmacêuticos, médicos e outros praticantes das “artes de curar” na prestação de serviços de assistência gerava alianças e conflitos que exigiam a intervenção do Estado no sentido do estabelecimento de legislação profissional e sanitária que garantisse aos farmacêuticos autonomia frente aos médicos e predomínio frente aos leigos.

Tomando como eixo condutor a análise das trajetórias profissional e acadêmica de Antonio Fernandes Figueira e Luiz Barbosa, Gisele Sanglard e Luiz Otávio Ferreira desvendam em seu artigo o processo de institucionalização da pediatria e da assistência à infância no Rio de Janeiro da Primeira República. A análise explora a associação entre os médicos e a elite carioca, revelando a rede de relações pessoais, políticas e institucionais que envolvia a questão do ensino da pediatria na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e a criação de uma rede de assistência à infância. Para os autores, ao mesmo tempo em que esses médicos se legitimavam como especialistas em doenças de crianças, promovia-se uma ressignificação do papel da filantropia laica na assistência, com a construção de novos espaços de atendimento à saúde. A abordagem singular de Sanglard e Ferreira permite, portanto, desvendar a associação visceral entre a institucionalização da pediatria e da assistência à infância, sem ignorar disputas e conflitos que marcaram esse processo.

O artigo de Márcia Barros da Silva retoma a discussão da repercussão local do modelo assistencial português ao tratar da assistência médica oferecida no hospital da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, nas últimas décadas do século XIX e começo do XX. Mediante consistente análise de dados sobre origem, gênero e faixa etária dos doentes e acerca das instituições que os encaminham, bem como sobre a origem da receita do hospital, a autora identifica a inauguração do novo hospital, em 1885, como marco na condução da atenção médica à população do Estado de São Paulo. Ao longo de seu texto, pode-se perceber claramente o entrelaçamento entre o público e o privado, no que tange ao direcionamento e organização do atendimento médico clínico, relacionando-o às transformações urbanas da cidade e à reconfiguração da prática médica.

A organização deste Dossiê, ao abranger contextos culturais diversos e larga periodização, pretende suscitar questionamentos ao leitor acerca das formas modernas de assistência e bem-estar social, bem como divulgar os trabalhos do grupo de pesquisa História da assistência à saúde e ampliar os debates sobre o tema. É esse convite que fazemos a vocês neste momento. Boa leitura!

Belo Horizonte, Junho de 2010.

Nota

1 O Seminário Internacional Estado, Assistência e Filantropia foi realizado no Rio de Janeiro entre os dias 16 e 19 de novembro de 2009 e contou com o apoio da Capes e da Faperj.

Gisele Sanglard
Luiz Otávio Ferreira
Maria Martha de Luna Freire
Maria Renilda Nery Barreto
Tânia Salgado Pimenta

(Organizadores)


SANGLARD, Gisele et al. Apresentação. Varia História, Belo Horizonte, v.26, n.44, jul. / dez., 2010. Acessar publicação original [DR]

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História: Saúde e Poder / História Unisinos / 2006

História: Saúde e Poder constitui o dossiê deste número da revista História Unisinos.

Instigante e bastante atual entre os historiadores, a temática possibilitou que fossem reunidas, nessa publicação, importantes contribuições de especialistas que se dedicam ao seu estudo, seja sob a ótica das doenças, das terapêuticas ou das políticas e práticas sociais a ela relacionadas.

O artigo Misericórdias da Santa Casa: um estudo de caso das práticas médicas nas Minas Gerais oitocentistas, de Maria Leônia Chaves de Resende, analisa o papel exercido pela Santa Casa da Misericórdia de São João Del-Rei na prática da medicina, durante a primeira metade do século XIX, tendo, como base, a terapêutica aplicada no tratamento dos pacientes na região da Comarca do Rio das Mortes (MG). Em Dos cuidados e das curas: a negociação das liberdades e as práticas de saúde entre libertos, senhores e escravos, Nikelen Acosta Witter expõe sua percepção de que as experiências da enfermidade e da cura constituem espaço de relevante valor histórico para a observação das tensões, conflitos e negociações entre senhores e libertos no Rio Grande do Sul do século XIX. O artigo Algumas considerações sobre história, saúde e homeopatia, de Beatriz Weber, aponta para os efeitos da organização médica implantada nas décadas de 1930 e 1940 no Brasil, a qual definiu como inexistentes ou pouco expressivas as práticas médicas concorrentes, como por exemplo, a homeopatia. Dilma Cabral, em Lepra, morféia ou elefantíase-dos-gregos: a singularização de uma doença na primeira metade do século XIX desvenda o movimento de incorporação da lepra no quadro nosológico e na literatura médico-científica nacional, identificando na sua endemicidade nas áreas coloniais, a razão para a inquietação e para o debate que provocou entre autoridades e médicos nas décadas finais do século XIX. Em Labirintos ao redor da cidade: as vilas operárias em Pelotas (RS) 1890-1930, Lorena Almeida Gil propõe uma análise do projeto de implantação de vilas operárias em Pelotas, valendo-se de jornais da época e de documentos oficiais da Intendência, com destaque para as opiniões emitidas pelo escrevente municipal Alberto Coelho da Cunha. O artigo de Adrián Celentano, Psiquiatria, psicologia y política de izquierdas em Argentina del siglo XX: la historia intelectual de Gregorio Bermann, aborda o desenvolvimento da produção científica no campo da psicologia e da psiquiatria argentinas, a partir das intervenções de um intelectual da esquerda socialista, Gregório Bermann. O artigo Experiências de vida, experiências de loucura: algumas histórias sobre mulheres internas no Hospício São Pedro, Porto Alegre, 1884-1923, de Yonissa Marmitt Wadi, analisa dados sobre a população de internos do Hospício São Pedro de Porto Alegre, com ênfase na presença das mulheres e suas trajetórias no manicômio, visando compreender como os atributos físicos e culturais e as experiências de vida dessas mulheres internadas foram conjugadas na construção de sua experiência de loucura. Em Nas entrelinhas da história: sensibilidade e exclusão em narrativas da loucura, Nádia Maria Weber Santos explora e discute, a partir de três obras literárias que versam sobre loucura e internação em hospício, as narrativas que expressam as sensibilidades dos internados sobre a doença, sobre o meio que os abriga e sobre o mundo em que vivem.

Compõe este número da revista História Unisinos, também, a tradução de uma versão escrita do diálogo travado entre Pierre Bourdieu e Roger Chartier, ocorrido nos dias 3 e 4 de fevereiro de 1988. O referido debate foi difundido pela rádio France Culture no programa A voix nue, consagrado a Pierre Bourdieu.

Na seção Notas de Pesquisa, Viviane Borges Trindade apresenta resultados parciais de sua pesquisa através do artigo A loucura herda um espaço deixado pela lepra: fragmentos de história oral com os pacientes-moradores do Hospital Colônia Itapuã. Nele, a pesquisadora, valendo-se de relatos orais como fonte principal, relata os conflitos havidos entre os moradores do Hospital Colônia Itapuã, portadores do Mal de Hansen, e os pacientes provenientes do Hospital Psiquiátrico São Pedro, após a transferência desses para aquela instituição, em 1972.

A seção Resenhas conta com as colaborações de Sílvia Maria Fávero Arend, de Dora Isabel Paiva da Costa e Maria Cristina Bohn Martins.

Comissão editorial


Comissão Editorial. Apresentação. História Unisinos, São Leopoldo, v.10, n.1., janeiro / abril, 2006. Acessar publicação original [DR]

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História e Saúde / Tempo / 2005

Quando convidado a organizar este dossiê, o primeiro desafio foi o de escolher seu título. História e Saúde me pareceu o mais adequado, posto que amplo e, portanto, plasticamente capaz de dar conta de toda a diversidade de temas, enfoques, abordagens, orientações teóricas e historiográficas que, atualmente, orientam este emergente campo de estudos. No Brasil, o final da década de 1990 foi particularmente profícuo no sentido de abrir os horizontes e as perspectivas de análise no campo das relações entre história e saúde, mostrando a diversidade de enfoques abertos pelo esgotamento da até então hegemônica perspectiva foucaultiana. Os trabalhos aqui apresentados refletem uma pequena dimensão desta diversidade.

O artigo de Nikelen Acosta Witter, doutoranda no curso de pós-gradução em Historia da UFF e professora licenciada do Centro Universitário Franciscano, Santa Maria, RS, abre o dossiê, ao fazer um inventário crítico de alguns dos trabalhos historiográficos mais recentes produzidos no Brasil, centrados no estudo das diversas práticas de cura populares, apontanto suas indicações, no sentido de formular uma possível agenda da pesquisa para o tema. O artigo seguinte, de Lígia Bellini, doutora em História e professora do Departamento de História da Universidade Federal da Bahia, discute um conjunto de imagens e procedimentos analíticos pelos quais o corpo humano era classificado e descrito em textos médicos portugueses do século XVI, buscando as relações entre estas representações e alguns pensadores e correntes intelectuais do período. O trabalho de Georgina Silva dos Santos, doutora em História e professora do Departamento de História da UFF, estuda o papel da sangria, enquanto importante prática terapêutica em Portugal, na Época Moderna, as matrizes do pensamento médico que a legitimavam e a técnica e o perfil dos barbeiros, profissionais responsáveis por sua aplicação. O texto de Daniela Buono Calainho, doutora em História e professora da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, analisa o papel de “médicos”, que os jesuítas exerceram no Brasil colonial, numa sociedade onde não era possível simplesmente importar / praticar o saber acadêmico europeu. Neste sentido, Daniela mostra como os padres aprenderam com os indígenas e utilizaram os recursos vegetais e minerais da terra, incorporando os conhecimentos “populares” à medicina européia, numa verdadeira mestiçagem cultural. O trabalho seguinte, de autoria de Marta de Almeida, doutora em História e pesquisadora do Museu de Astronomia e Ciências Afins / MAST, analisa o quadro de institucionalização da microbiologia no Serviço Sanitário de São Paulo, na virada do século XIX para o XX, e seu papel na história da saúde pública no Brasil, apontando, neste processo, as estratégias dos médicos paulistas em busca de legitimação profissional e social. Ainda nesta conjuntura de institucionalização da bacteriologia, Anny Jackeline Torres Silveira, doutora em História e Professora de História do Coltec, da Universidade Federal de Minas Gerais, utiliza-se do impacto provocado pela gripe espanhola de 1918, para analisar a discussão que a pandemia provocou entre a comunidade médica internacional e nacional, os limites e as contribuições da então nascente bacteriologia para explicar a doença, mostrando também o papel de médicos brasileiros no debate. O dossiê encerra-se com o artigo de Simone Petraglia Kropf, doutoranda em História na UFF e pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz, que analisa o processo histórico de construção da doença de Chagas como entidade médica específica e enquanto problema de saúde pública no Brasil, num contexto internacional marcado pela Segunda Guerra Mundial e seus desdobramentos, onde se redefinem as relações entre ciência, saúde e desenvolvimento.

São todos trabalhos de qualidade, bem diversos em suas abordagens, orientações e perspectivas, e cumprem o papel de dar uma idéia da amplitude que este campo de estudos, que aqui convencionamos denominar História e Saúde, vem tomando nos últimos anos no Brasil.

André Luiz Vieira de Campos – Professor Adjunto do Departamento de História da UFF. E-mail: camdrepo@terra.com.br


CAMPOS, André Luiz Vieira de. Apresentação. Tempo. Niterói, v.10, n.19, jul. / dez., 2005. Acessar publicação original [DR]

Raça, genética, identidades e saúde / História, Ciências, Saúde – Manguinhos / 2005

Este número de História, Ciências, Saúde — Manguinhos é um dos mais densos que já produzimos. Além dos artigos submetidos à publicação, contém um interessante dossiê, na verdade dois: um sobre raça e genômica, organizado pelo sociólogo Marcos Chor Maio e pelo antropólogo Ricardo Ventura Santos, e outro, que alojamos na seção Debate, orquestrado por Luisa Massarani, tendo por tema a ciência, a tecnologia e os diálogos com os cidadãos.

Relembro um fato recente, dos mais controvertidos, que não deve ter passado desapercebido aos leitores: em junho, a imprensa noticiou a liberação, pela Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, de um medicamento contra a insuficiência cardíaca (BiDil) para ser usado por negros, ou ‘afro-descendentes’. Na história da medicina e farmácia, é o primeiro destinado especificamente a uma raça, com base no pressuposto de que seus indivíduos têm quantidades menores de óxido nítrico no organismo (“EUA estudam liberar droga só para negros”, Jornal da Ciência, 14.6.2005; “EUA aprovam droga específica para negros”, O Globo, 25.6.2005).

No cerne do dossiê apresentado neste número de História, Ciências, Saúde – Manguinhos estão as supostas relações entre raça e saúde, cada vez mais debatidas mundo afora e Brasil adentro – veja-se, por exemplo, o programa do Seminário Internacional sobre Raça, Sexualidade e Saúde realizado no Rio de Janeiro, em novembro de 2004 (disponível em www.clam.org.br).

Em “Razões para banir o conceito de raça da medicina brasileira”, Sergio D. J. Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais, demonstra que a reduzida variabilidade genética da espécie humana é incompatível com a existência de raças como entidades biológicas e, portanto, cor ou ancestralidade geográfica pouco ou nada contribuem para a prática médica. A anemia falciforme, doença hereditária com maior prevalência na população negra, é analisada tanto por Pena como por Peter H. Fry, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, autor de “O significado da anemia falciforme no contexto da ‘política racial’ do governo brasileiro (1995-2004)”. Para o primeiro autor, esta e outras doenças supostamente ‘raciais’ são, na verdade, produtos de estratégias evolucionárias de populações expostas a agentes infecciosos específicos. Fry mostra que a anemia falciforme é objeto, no Brasil, de um discurso que conta com destacada participação de ativistas negros, e que constitui poderoso catalisador da naturalização da ‘raça negra’, em oposição à ‘raça branca’, num país que até recentemente se via como mestiço, biológica e culturalmente.

Josué Laguardia, médico epidemiologista, estuda a hipertensão arterial, outro caso em que se atribui papel causal tanto a fatores genéticos como à raça. O autor analisa os pressupostos que embasam os argumentos racializadores desta patologia, as hipóteses alternativas presentes na literatura científica e os aspectos éticos nela implicados.

A partir de pesquisa etnográfica com usuárias e profissionais envolvidos com as novas tecnologias reprodutivas, que permitem a procriação sem relação sexual, Naara Luna, antropóloga da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, discute as concepções de natureza humana implicadas na biologização e genetização do parentesco.

Dois estudos abrangentes e complementares de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz encerram o dossiê deste número de Manguinhos. No primeiro, Marcos Chor Maio e Ricardo Ventura Santos analisam os debates motivados por estudos sobre o perfil genético da população brasileira, cuja interpretação mobiliza biólogos, sociólogos, movimentos sociais e outros atores. Além de mostrar as confluências entre antropologia, genética e sociedade no mundo atual, os autores examinam como o híbrido de novas tecnologias biológicas com velhas configurações ideológicas influencia as interpretações da realidade brasileira contemporânea. Em “Tempos de racialização”, Maio e Simone Monteiro detêm-se na ‘saúde da população negra’, campo de reflexão e intervenção política que se firmou entre 1996 e 2004: a postura ambivalente do governo Fernando Henrique Cardoso deu lugar, na presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, à expansão das políticas compensatórias, inclusive no âmbito da saúde pública, inflexão que os autores relacionam à Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, promovida pela ONU em Durban, África do Sul, em setembro de 2001.

Na seção Debate, a jornalista Luisa Massarani, do Centro de Estudos do Museu da Vida (Fiocruz), pôs, lado a lado, profissionais de grande competência a discutir a importância de se ampliar a participação do público não-especializado nas decisões concernentes a temas de ciência e tecnologia com impacto na sociedade. As experiências do Canadá, Chile, Reino Unido, – Argentina e Dinamarca – modelo internacional no tocante a mecanismos participativos nessa área – são dissecadas na entrevista com Lars Klüver, diretor do Conselho de Tecnologia da Dinamarca, e Edna F. Einsiedel, da University of Calgary, no Canadá, assim como nos textos de Tom Shakespeare, do Policy, Ethics and Life Sciences Research Institute; Alberto Pellegrini Filho, da Organização Pan-americana da Saúde (OPAS); Ricardo Ferraro, da Universidad de Buenos Aires, Adriana J. Bacciadonne, do International Doorway to Education & Athletics e, ainda, Alberto Díaz, da Universidad Nacional de Quilmes (Argentina).

Outros materiais enfeixados neste número de História, Ciências, Saúde — Manguinhos chegaram a nós de forma espontânea, formando, naturalmente, um leque mais díspar de temas. Sergio Alarcon, da Secretaria Estadual de Ação Social do Rio de Janeiro, identifica distintas linhagens teóricas e práticas no âmbito da reforma psiquiátrica, e propõe um debate sobre as mudanças de estratégia para evitar que sofra retrocessos. Ricardo Waizbort, pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz, analisa dois novos campos de conhecimento que integram ciências biológicas e sociais: a psicologia evolutiva procura compreender a mente humana como produto de processos biológicos e evolutivos, e a ainda incipiente memética trata as informações culturais e as tradições como complexos de idéias que usam os cérebros humanos para se reproduzir. Rita de Cássia Ramos Louzada, da Universidade Federal do Espírito Santo, e João Ferreira da Silva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, investigam a relação entre pós-graduação e trabalho através de observação participante e relatos de doutorandos de um curso de excelência na área de ciências da saúde. Por fim, Marcos Henrique Fernandes, Vera Maria da Rocha e Djanira Brasilino de Souza, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, investigam a concepção dos docentes do ensino fundamental sobre a saúde do escolar, bem como a formação desses profissionais no que se refere a esta temática.

As seções Fontes e Imagens reúnem materiais que se complementam: de um lado, o renomado “Chernoviz” e outros manuais de medicina popular no Império, trabalho de Maria Regina Cotrim Guimarães, da Universidade Federal Fluminense; de outro, Theodoro Peckolt, naturalista e farmacêutico alemão que deu contribuições decisivas para o desenvolvimento da fitoquímica no Brasil, como mostra o cuidadoso levantamento elaborado por Nadja Paraense dos Santos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Além de diversas resenhas de livros que certamente despertam o seu interesse, este número da revista traz ainda duas Notas de Pesquisa, o que nos alegra muito, porque essa é uma seção subutilizada, não obstante seu potencial como indutora ou valorizadora de projetos de pesquisa em andamento. Amílcar Davyt, Bernardo Borkenztain, Fernando Ferreira e Patrick Moyna, da Universidad de la República de Uruguay, nos falam sobre o desenvolvimento da química naquele país, a partir de um quadro de grande projeção neste campo do conhecimento, Giovanni Battista Marini Bettolo. Daniela Barros mostra como surgiram os estudos sobre imagem corporal e analisa as implicações fisiológicas e sociais desse conceito.

— “Raios me partam! Dentro em pouco vão me faltar forças para erguer tão polpudos volumes” — diz o leitor, de si para si. Eu próprio reconheço que me vejo em apuros para fazer caber tanta matéria na carta de editor, que já está longa demais.

Tranqüilize-se, leitor amigo. A partir de 2006, História, Ciências, Saúde — Manguinhos será trimestral e, assim, recuperará a elegância de formas que tinha à época em que as colaborações eram mais escassas.

Jaime L. Benchimol – Editor.


BENCHIMOL, Jaime Larry. Carta do Editor. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.12, n.1, jan./abr, 2005. Acessar publicação original [DR].

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História e saúde / História em Revista / 2005

Durante o VII Encontro Estadual de História da ANPUH, em Pelotas, em 2004, foi realizada uma reunião de pesquisadores, cujas preocupações giravam em torno da saúde e da doença, na qual se decidiu pela formação de um Grupo de Trabalho Nacional denominado “História e Saúde” e pela organização de um número da “História em Revista”, com este tema, em um dossiê especial.

A organização desse dossiê foi muito fácil, pois recebemos uma significativa quantidade de artigos, os quais foram responsáveis pela revista ter ultrapassado seu número normal de páginas. Desses, selecionamos aqueles mais adequados ao nosso propósito, que aqui entregamos com alegria aos leitores.

Assim, nas páginas seguintes os leitores poderão apreciar a contribuição de pesquisadores como Nikelen Acosta Witter (Coordenadora do GT Nacional) que escreveu sobre a história da doença no RS entre os séculos XVIII e XIX, apontando para o fato de que havia uma espécie de idealização do ambiente do Estado, embora a presença de inúmeras e mais diferentes doenças.

Já André Luiz Vieira de Campos, estudou o Serviço Especial de Saúde Pública, uma agência brasileiro-americana, criada em 1942, com o objetivo de propor novas políticas sanitárias para determinadas regiões brasileiras e que atuou fortemente como instrumento de expansão da autoridade pública, especialmente nos sertões.

Com relação à lepra, Juliane Conceição Primon Serres centrou sua abordagem nos discursos e nas práticas sobre a doença, enfatizando a campanha contra a moléstia no Rio Grande do Sul, a partir do trabalho desenvolvido no Hospital Colônia Itapuã.

Outros artigos trataram principalmente da relação da doença com o conjunto da população atingida, como o de Viviane Trindade Borges, cuja temática baseia-se em experiências de história oral com pacientes portadores de sofrimento psíquico internados em Viamão / RS e o de Lorena Almeida Gill, uma discussão sobre a existência de várias epidemias na cidade de Pelotas (RS) e de uma em especial, a tuberculose, causadora de um contingente impressionante de mortes.

Também houve análises buscando a relação das práticas de medicina com a tolerância social, como a de Sandra da Silva Carelli, que tratou da construção da idéia de maternidade e aborto provocado, utilizando-se da imprensa rio-grandense entre 1850 e 1919; outro artigo versou sobre enfermidade e cura nas reduções jesuítico-guaranis, no século XVII – na pesquisa de Eliane Cristina Deckmann Fleck, com a análise das mudanças nas práticas mágico-terapêuticas dos guaranis, tendo em vista a convivência com missionários jesuítas.

Na seção “Instrumentos de Trabalho” publica-se uma coleção de três artigos denominados “Em favor dos operários – casas baratas”, publicado no jornal diário pelotense vinculado à maçonaria, A Tribuna, de 1911. Tal material possibilita discutir sobre a habitação dos mais pobres a partir da freqüente dicotomia cortiços X vilas operárias.

Na seção resenhas, se continuou a discussão do mesmo tema, pois Sidney Gonçalves Vieira apresentou “Visões do Feminino: a medicina da mulher nos séculos XIX e XX”, de Ana Paula Vosne Martins, que apoiada em uma metodologia foucaultiana, discorre sobre as várias representações sobre o corpo feminino no transcorrer do tempo.

Esperando ter cumprido com a tarefa de traçar um breve panorama das pesquisas atualmente em curso nesta área, resta desejar a todos, uma ótima leitura.


[História e saúde]. História em Revista. Pelotas, v.11, 2005. Acessar publicação original [DR]

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História, Ciência e Saúde: práticas e saberes / Varia História / 2004

Estamos diante de um campo de pesquisa em expansão. A partir do cenário da História Cultural podemos identificar uma série de temas que se mesclam com as especificidades da História da Ciência. Desta fusão encontramos a história da ciência e suas interfaces culturais. Neste número da revista Varia História, no dossiê intitulado História, Ciência e Saúde: práticas e saberes apresentamos algumas das pesquisa que indicam as possibilidades analíticas na área.

A linha Ciência e Cultura na História, do Programa de Pós Graduação em História / UFMG, possui duas ênfases: a História Social da Ciência e a História das Idéias Científicas. Ao estabelecer essas duas ênfases de estruturação das pesquisas, não se busca conformá-las à tradicional dicotomia entre uma história interna da ciência e uma história externa da ciência. Pretende-se, através da mediação cultural, dissolver essa dicotomia, mudando o eixo do debate. Assim, a divisão dos trabalhos entre as duas ênfases complementares reflete muito mais uma dimensão metodológica do que propriamente uma perspectiva epistemológica.

As pesquisas em História Social da Ciência procuram analisar as diversas relações existentes entre a ciência e a sociedade. Os impasses entre a produção do conhecimento científico e a sociedade no seu contexto histórico é o objeto da análise. As investigações procuram refletir a construção social da ciência através de biografias, instituições, práticas, procedimentos, descobertas, rupturas.

As pesquisas em História das idéias Científicas procuram compreender, a partir das relações culturais, a formação dos conceitos e das idéias que caracterizam as teorias científicas em seus diversos contextos. Nesse sentido, não se trata de tomar idéias e conceitos científicos por eles mesmos, mas de compreender como os determinantes culturais desempenham um importante papel na formação dessas idéias e conceitos e na elaboração das teorias científicas.

Na linha de pesquisa Ciência e Cultura na História são realizados estudos que contemplam a formação e o desenvolvimento da ciência moderna, bem com, em particular, o surgimento e o desenvolvimento das ciências no Brasil.

O presente dossiê recortou como objeto a história da saúde e apresenta em seus 5 artigos um espectro bastante diversificado da produção na área.

O artigo de María Silvia Di Liscia aborda a intercessão entre a prática médica e a escola, a partir da discussão em torno da regeneração racial, no final do século XIX e primeiras décadas do século XX na Argentina. Além de apresentar a interface com a história da educação o artigo pode instigar análises comparativas entre Brasil e Argentina.

O artigo de Vera Marques Beltrão investiga um campo de análise inusitado: os manuais de divulgação de ciência, especificamente na área da saúde, no século XVIII. Está em discussão novamente a interface com a história da educação e a circulação de saberes na medida em que há uma apropriação do conhecimento acadêmico pela parcela da população distante dos espaços privilegiados de formação do saber.

A seguir o texto de Flávio Coelho Edler investiga a formação de conceitos na história da saúde, especialmente a sociologia de uma descoberta, em questão a ancilostomíase. O material de análise do autor são as publicações e os debates na área médica expressos entre os membros da Academia Imperial de Medicina e no periódico Gazeta Médica da Bahia. A investigação proposta por Edler permite vislumbrar um campo de análise promissor, mas ainda pouco explorado no Brasil.

Já o artigo de Yonissa Marmitt Wadi, de forma especial, discute o campo da psiquiatria fugindo da tradição das histórias institucionais ao privilegiar os paradoxos da vivência em uma instituição psiquiátrica. Os discursos e práticas médicas são abordados na medida que surgem não pela escrita médica (tratados, relatórios, compêndios, receituários), mas a partir da escrita da paciente que utiliza o pseudônimo de Pierina Cechini. O percurso que Yonissa Wadi nos apresenta é ao mesmo tempo fascinante e impressionante ao mesclar um relato pessoal que toca na temática das instituições asilares e suas repercussões sociais.

Encerra o dossiê o artigo de Henrique Carneiro “As plantas sagradas na história da América”. Nele o autor investiga as plantas sagradas das tradições indígenas de diferentes regiões das Américas.

História institucional, construção de conceitos na área da saúde, práticas médicas são alguns dos temas que apresentamos nesse dossiê. Como um campo em construção, novos dossiês deverão ser apresentados em breve com temáticas envolvendo a circulação do saber, a história das doenças e as concepções de corpo e saúde. Aguardamos sua colaboração.

Belo Horizonte, Julho / 2004

Betânia Gonçalves Figueiredo – Organizadora.


FIGUEIREDO, Betânia Gonçalves. Apresentação. Varia História, Belo Horizonte, v.20, n.32, jul., 2004. Acessar publicação original [DR]

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