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Cultura escolar, cultura política educacional e comemorações no Brasil / Revista do IHGSE / 2020
8 de julho de 1920. Há cem anos, o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe realizava a sua sessão solene em comemoração do centenário da Emancipação política de Sergipe, em um evento que reuniu número significativo de autoridades políticas, militares e religiosas, incluindo o presidente da República. Naquela ocasião, o sodalício reafirmava o seu lugar institucional, de defensor da memória, de celebração dos heróis, da história e das efemérides de Sergipe.
Mesmo vivenciando um contexto socioeconômico desfavorável, após uma guerra mundial e uma grande epidemia de gripe espanhola, a emancipação política foi amplamente festejada pelos sergipanos, tanto em instituições científicas, como o IHGSE, quanto nas instituições escolares, por meio dos pomposos desfiles cívicos. Muitos desses aspectos foram registrados no quinto volume da Revista do IHGSE, publicado em 1920. Infelizmente, a escrita sobre as efemérides, comemorações, festas cívicas e cotidiano escolar demoraram em se tornar objetos reconhecidos como legítimos para a história, sendo muitas vezes considerados objetos menores.
Felizmente, essa realidade historiográfica tem mudado consideravelmente. Desde a década de 80 do século XX a historiografia educacional brasileira vem passando por um importante processo de renovação, a partir das discussões pautadas na compreensão da cultura escolar, fato que possibilitou a inserção do cotidiano escolar como problema histórico, bem como a edificação do protagonismo de outros sujeitos da História da Educação. Assim, emergem as experiências de professores, alunos e inspetores como sujeitos da história. Do mesmo modo, as práticas educacionais passam a ser vislumbradas nas instituições escolares, com ênfase para o cotidiano escolar, mas também buscando outras narrativas possíveis, como os desfiles cívicos, as feiras e as exposições.
Com isso, foram amplificadas as possibilidades de leitura do cotidiano escolar, com a inserção das políticas educacionais e das culturas políticas educacionais pensadas e difundidas no espaço escolar. Pensando em tais dimensões da historiografia educacional contemporânea, no âmbito das celebrações do bicentenário da Emancipação Política de Sergipe, apresentamos a nova edição da prestigiada Revista do IHGSE. O dossiê reúne artigos que têm a cultura escolar, as culturas políticas educacionais e as comemorações como problema de investigação.
O dossiê é aberto com o empolgante artigo da Professora Beatriz Góis Dantas “Independência: celebrações, memórias e símbolos”. Trata-se de um texto que a partir das memórias de Serafim Santiago, descreve e analisa as celebrações de 24 de outubro em descompasso com 8 de julho, data do Decreto Real que declara a autonomia, e mostra a elaboração de símbolos no contexto de construção do imaginário social da identidade coletiva emergente. Além disso, a antropóloga sergipana discute como o hino sergipano e a representação do caboclo / índio formam uma unidade significativa com funções cívico-pedagógicas procurando atingir mentes e corações.
O segundo texto que compõe o dossiê é intitulado “Por trás daquele quadro tem vida!”, escrito pelas pesquisadoras Danielle Virginie e Josefa Eliana Souza. É um texto que busca atribuir sentido a parte da narrativa visual do painel Instrução, Cultura, Ciência e Arte, pintado por Jenner Augusto e entregue à Universidade Federal de Sergipe em 10 de junho de 1980. É uma interessante leitura que parte do cruzamento de olhares artísticos, e que tem como fonte principal a entrevista com a atriz Virginia Lucia da Fonseca.
O terceiro artigo, intitulado “A Pedagogia da Feira”, de Maria José Dantas, é um exercício de escrita da História da Educação que repensa o cotidiano escolar e enfatiza a feira cultural do Colégio Deputado Elísio Carmelo, evidenciando a existência de uma “Pedagogia da Feira” no processo de aprendizagem. A investigação se debruça sobre a escola, retratando o surgimento da atividade e apontando reflexões sobre a prática educativa.
Os três últimos artigos que compõem o dossiê apresentam as comemorações como problema de investigação. Com o texto “Dia de festa na Penitenciária Modelo de Aracaju”, Marcia Terezinha Oliveira Cruz investiga a participação dos estudantes da Faculdade de Direito de Sergipe (FDS) nas atividades comemorativas integrantes do “Dia do Encarcerado”, realizadas na Penitenciária de Aracaju entre os anos de 1950 e 1968. Era um evento organizado por meio da atuação da Sociedade Santo Ivo, entidade que congregava professores da FDS e os acadêmicos em Direito. Trata-se de um texto que busca desvendar o cotidiano de uma instituição de ensino superior em Sergipe.
Por meio do artigo “Memórias Escolares de uma Celebração Identitária”, Solyane Lima e Sérgio Guerra analisam a importância do Desfile de 25 de junho no cotidiano escolar na cidade de Cachoeira, no recôncavo da Bahia. Esta celebração é uma data importante não só para a localidade, mas para a Bahia, posto que, há alguns anos, a sede do governo é transferida para a cidade nesse dia. É um estudo que repensa o lugar das comemorações em uma das principais datas do calendário cívico baiano.
Por fim, no artigo “Uma das mais bellas páginas de vosso brilhante passado”, Magno Santos analisa as comemorações de inauguração do monumento a Inácio Joaquim Barbosa, fundador da cidade de Aracaju, nos idos de 1917. O foco da análise foi a mobilização de intelectuais que operacionalizaram diferentes atributos no intuito de forjar a biografia de Inácio Barbosa como herói da cidade e torná-lo apto para o culto cívico.
Por meio desta edição, o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, através de seu periódico, cumpre com a missão institucional de cultora da história sergipana e de ser o espaço privilegiado dos saberes históricos de homens e mulheres deste chão. Mesmo em um contexto permeado de incertezas acerca do porvir, em decorrência da lamentável proliferação da pandemia do coronavírus, devemos seguir o exemplo dos confrades de 1920 e celebrar a data magna dos sergipanos. Como bem expressa o hino estadual, “Alegrai-vos, sergipanos”. “Vamos festejar” e fazer boa leitura da nova edição da Revista do IHGSE.
Magno Francisco de Jesus Santos
Natal, maio de 2020
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Apresentação. Revista do IHGSE. Aracaju, n.50, v.2, 2020. Acessar publicação original [DR]
Historiografia dos Espaços / Revista Espacialidades / 2018
Frequentemente, para respondermos qual o cerne da História como disciplina, recorremos à relação da ação humana ao longo das diferentes temporalidades, portanto, centralizamos o Tempo como a dimensão fundamental do conhecimento histórico. Todavia, conforme a História foi avançando, a sua complexidade também o foi, deste modo, à dimensão temporal – que ainda permanece como dimensão central da ciência histórica – foi incorporada outras dimensões fundamentais de serem perscrutadas para a compreensão da disciplina. Escopo da Revista, o Espaço surge, destarte, como uma dessas novas dimensões a serem questionadas para o enriquecimento das produções historiográficas sob os mais diversos prismas e problemáticas.
Partindo do pressuposto teórico de que a produção histórica é circunstancial, logo, suscetível de mudanças, de acordo com as diferentes interpretações da mesma, a dimensão espacial traz consigo novas perspectivas capazes de questionar a história e a memória oficial; traz consigo a capacidade de descristalização do conhecimento histórico consagrado; traz, sobretudo, um novo campo de análises que ainda tem muito a dizer. Como afirmou, certa vez, à Revista Espacialidades, o Prof. Dr. Durval Muniz: “A história, para mim, é uma empresa crítica, no sentido de abrir possibilidades de vermos coisas diferentes. Não é crítica no sentido de oferecer uma alternativa, no sentido de dizer o que é correto, mas crítico no sentido de abrir possibilidades de pensarmos diferente, de sermos diferentes, de caminharmos diferente. A história não é para oferecer receitas, mas para abrir horizontes, abrir possibilidades, fazer a gente enxergar num dado lugar, numa dada estrada, muitas veredas, muitas possibilidades de divergir, sair para o diverso, perceber os devires”. Logo, os estudos que analisam, para além do tempo, a historicidade dos espaços, preenche uma lacuna, possibilitando novos insights e representando a essência da história como ciência questionadora.
Dito isso, o presente dossiê traz artigos que contemplam a dimensão espacial como posto basilar de suas discussões, contribuindo, assim, para a Historiografia dos Espaços. Agradecemos imensamente aos membros do Conselho Consultivo que com muita generosidade, celeridade e, acima de tudo, competência, contribuíram com pareceres sérios e consistentes que garantiram a qualidade do presente dossiê. Agradecemos também aos colaboradores que, através de suas contribuições, garantem a continuidade da discussão crítica sobre diversos conceitos que abordam as espacialidades enquanto objeto histórico.
Abrindo o dossiê temos o artigo “A geografia-histórica da região metropolitana de Belém”, de Luiz Augusto Soares Mendes. O doutor em Geografia pela Universidade Federal Fluminense busca fazer uma análise histórica da produção do espaço das cidades que compõem a região metropolitana de Belém. Desse modo, o objetivo é revelar os aspectos econômicos, populacionais, sociais e a incorporação das cidades no processo de metropolização, gerando marcos espaço-temporais comuns a história das cidades alvo desse processo.
Em seguida temos o artigo “Taperoá: a capital literária do sertão-reino de Ariano Suassuna”, da historiadora Jossefrania Vieira Martins, doutoranda em História pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. O artigo relaciona história, literatura e espaço, além de explorar alguns elementos da obra do escritor paraibano Ariano Suassuna. A autora faz um paralelo entre a dinâmica espacial presente na vida do autor e suas marcas na produção literária do mesmo. Um dos objetivos do artigo é o de entender como as interações entre esses espaços vividos pelo autor se relacionam com um conceito de sertão a partir da literatura.
O próximo artigo do dossiê intitula-se “A experiência da espacialidade colonial: São Luís, cercanias e sertões (final do século XVII e início do século XVIII)”, escrito por Mariana Ferreira Schilipake. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná, a autora busca discutir a espacialidade do território do Maranhão entre o final do século XVII e início do século XVIII. A perspectiva trabalhada pela historiadora, a qual busca compreender a relação de São Luís com as cidades circundantes, ajuda-nos a pensar a complexa dinâmica social da região nestes séculos, para além de contraposições entre espaços urbanos e rurais.
Compondo o volume 14 da revista espacialidades, trazemos a resenha do livro “The secret War: Spies, Ciphers and guerrilhas 1939 – 1945”, do historiador britânico Max Hastings e feita por Raquel Anne Lima de Assis. O livro busca apresentar como ocorreram as batalhas da guerra secreta entre o Eixo e os Aliados durante a segunda guerra mundial.
Na sessão “Entrevista”, temos a honra de apresentar a entrevista concedida pelo professor doutor Dilton Cândido Santos Maynard, professor colaborador no Programa de Pós-graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC / UFRJ), professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFS (PPGED / UFS) e do Mestrado Profissional em Ensino de História da UFS (Profhistória UFS).Na entrevista, Dilton Maynard falou sobre seu trabalho com representação, História do Tempo Presente e Ciberespaço.
Para fechar o volume 14 da Revista Espacialidades, trazemos a segunda parte do corpo documental referente à história da escravidão no Ceará. Essas fontes foram catalogadas pelo Programa de Educação Tutorial em História da Universidade Federal do Ceará, tendo como objetivo mapear documentos ligados à compra e venda de escravos no estado, ao longo do século XIX, entre os anos de 1843 a 1879. O Projeto, intitulado Fundo Documental e Guia de Fontes para a História da Escravidão no Ceará, foi realizado pelos bolsistas do Programa e teve início em 2007, com o mapeamento do corpo documental e catalogação destes, no qual resultou em fichas / resumo e sistematização desses documentos, concluída em 2012. O projeto catalogou cerca de 12 livros, que se encontram em sua versão original, no Arquivo Público do Estado do Ceará (APEC). Nesse sentido, é com imenso prazer que a Revista Espacialidades apresenta aos seus leitores, mais um trecho destas fichas / resumos. Agradecemos novamente ao Programa de Educação Tutorial pela confiança, em especial à Kênia Rios, Viviane Nunes e Tayná Moreira.
O editor-chefe e a Equipe editorial da Revista Espacialidades desejam a todos uma boa leitura!
Editor-chefe: Magno Francisco de Jesus Santos
Equipe editorial:
Arthur Fernandes da Costa Duarte – (mestrando do PPGH / UFRN)
Emanoel Jardel Alves Oliveira – (mestrando do PPGH / UFRN)
Maria Luiza Rocha Barbalho – (mestranda do PPGH / UFRN)
Matheus Breno Pinto da Câmara – (mestrando do PPGH / UFRN)
Ristephany Kelly da Silva Leite – (mestranda do PPGH / UFRN)
Rodrigo de Morais Guerra (mestrando do PPGH / UFRN)
Thaís da Silva Tenório – (mestranda do PPGH / UFRN)
Victor André Costa da Silva (mestrando do PPGH / UFRN)
SANTOS, Magno Francisco de Jesus et al; Apresentação. Revista Espacialidades. Natal, v.14, n. 01, 2018. Acessar publicação original [DR]
Gênero, Poder e Espaço / Revista Espacialidades / 2018
As reflexões sobre gênero possuem ligação histórica íntima com o movimento Feminista. De acordo com a historiadora Joana Maria Pedro, o processo de construção da categoria de gênero acompanha a luta por direitos civis e humanos, tendo assumido novas dimensões na conjuntura social da segunda onda do movimento feminista (1960-1980), quando tal conceito emergiu nos estudos na área das humanidades, a partir dos anos 1980.
A noção de gênero foi então sendo desnaturalizada, passando a ser compreendida como um conjunto de normas que orientam as ações dos sujeitos no tempo e nos espaços – processo para o qual contribuíram diversos autores, como Judith Butler, Linda Nicholson e Joan Scott. Os padrões que orientam os comportamentos, inclusive os relativos à noção de gênero, estão situados no tecido das relações sociais e de poder. O mesmo acontece na produção e apropriação dos espaços. Deste modo, nossa proposta com o dossiê Gênero, Poder e Espaço é debater como as categorias de gênero e poder se interseccionam na produção do espaço (quer o espaço material, onde se enquadram categorias como o urbano e rural, a fronteira, o território, o público e o privado, quer o espaço simbólico, onde se encontram o espaço imaginado ou sonhado, as representações artísticas, entre outros). Dentro dessa temática recebemos artigos com temporalidade diversa que articulam a categoria de gênero a outros conceitos, tecendo assim novas narrativas e lançando novos olhares para seus objetos dentro de suas respectivas pesquisas históricas.
Agradecemos imensamente aos membros do Conselho Consultivo que com muita generosidade, celeridade e, acima de tudo, competência, contribuíram com pareceres sérios e consistentes que garantiram a qualidade do presente dossiê “Gênero, poder e espaço”, o qual passamos agora a apresentar.
Abrimos o dossiê com o artigo Operárias da companhia fiação e tecidos pelotense e suas táticas de gênero (1944- 1954) de Eduarda Borges da Silva, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde através dos processos da Justiça do Trabalho de Pelotas, salvaguardados no Núcleo de Documentação Histórica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), observou-se pleitos de operárias da Companhia Fiação e Tecidos Pelotense, entre 1944-1954, utilizando dos conceitos de ideologia da domesticidade e táticas de gênero, a autora buscou descrever e compreender os dissídios em que o dilema da dupla jornada da trabalhadora (divisão entre a fábrica e o lar), ocorreu e porque estas mulheres operárias, mães, esposas, donas-de-casa apropriaram-se ou aceitaram a imagem de “mulheres sacrifícios”.
Em seguida, temos o artigo intitulado “Pensar pela pena que desliza, falar pela boca que se fecha”: Emília Dantas ribas como a primeira romancista dos campos gerais (paraná, 1949) de Caroline Aparecida Guebert, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Neste trabalho a autora propõe uma reflexão sobre a trajetória e parte da obra escrita de Emília Dantas Ribas (1907-1978), que atuou como professora, oradora de rádio e escritora entre as cidades de Ponta Grossa e de Curitiba, no Paraná articulando história, literatura e os estudos de gênero.
O terceiro artigo de nosso dossiê temático é de autoria de Giovanna Carrozzino Werneck, Mestra em Letras pelo IFES / Vitória, que com o trabalho Mulheres e charges políticas: a subversão pelo humor nos espaços públicos busca analisar e dar visibilidade a mulheres que produzem (ou produziram) charges políticas no Brasil, discutindo aspectos relativos aos papéis sociais atribuídos a homens e mulheres e aos estudos de gênero.
O próximo artigo intitulado Venha, venha o voto feminino: embates travados na imprensa periódica oitocentista no Rio de Janeiro de Cristiane Ribeiro Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora, é proposto uma análise da discussão sobre o voto feminino travado no Império do Brasil, circulando nos impressos diários da corte a partir da segunda metade do século XIX, atentando para uma perspectiva das relações de gênero e de poder imbricados nos jornais.
Em seguida com o artigo A cozinha das mulheres: de espaço de domesticação ao de empoderamento a partir de saberes e fazeres culinários as autoras Jamile Wayne Ferreira – graduada em Gastronomia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos e Lara Steigleder Wayne – graduanda em Psicologia pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre analisam a partir da relação com a cozinha de mulheres acolhidas em uma Ocupação em Porto Alegre / RS, o poder e o conhecimento cotidiano das guardiãs de uma cozinha minusculizada pela geração da gourmetização, já que o espaço de comando das cozinhas está normalmente relacionado à construção de gênero, onde as práticas relativas ao ato de cozinhar são ora invisíveis, no caso da cozinha doméstica, ora superestimada, no caso da “alta gastronomia”.
O próximo artigo intitulado Gênero e prisão: os impactos do sistema prisional sobre a desigualdade social e invisibilidade da mulher encarcerada no estado de Alagoas as autoras Bruna Araújo de Melo Ferreira e Ialy Virgínia de Melo Baia, graduandas em psicologia pelo Centro Universitário Tiradentes de Alagoas, analisam o sistema prisional de uma maneira histórica, compreendendo a mulher como vítima da violência e da desigualdade de gênero dentro desse espaço, visto que a prisão muitas vezes culminando no processo de invisibilidade do indivíduo, acaba potencializando essa invisibilidade na mulher, uma vez que esta já vivencia essa realidade socialmente, enfatizando os casos das mulheres que estão em regime fechado no Sistema Penitenciário Feminino Santa Luzia, localizado em Maceió.
Finalizando o dossiê temático, temos o artigo Vozes de mulheres: género e cidadania em Angola de autoria de Willi Cardoso Domingos, Licenciado em Sociologia pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, que analisa as implicações sociais da discriminação de género no exercício da cidadania e participação das mulheres em Angola, onde um diálogo entre a sociedade civil e as instituições do Estado, é fundamental, para dinamizar e ampliar a capacidade de exercício da cidadania e participação das mulheres, bem como para a desconstrução da discriminação das mulheres.
Abrindo a sessão livre do nosso dossiê temos o artigo “Ressonâncias no processo de demolição do palácio Monroe”, de autoria do doutorando em Ciências Jurídicas Políticas Daniel Levy Alvarenga (UAL). No artigo o autor discute questões acerca do patrimônio material e sua dimensão imaterial dentro de uma sociedade. Tomando como objeto de analise a demolição do palácio Monroe, busca-se apresentar como ocorreu a demolição e sua respectiva repercussão dentro do âmbito social.
Em seguida temos o artigo intitulado “Do ideal ao real: a construção de uma representação na obra literária a lenda do cavaleiro sem cabeça (1820)” escrito por Samuel Nogueiza Mazza, mestrando em história pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O autor discute no presente artigo a obra de Washington Irving, A lenda do cavaleiro sem cabeça, sob a perspectiva da teoria da representação de Roger Chartier, traçando assim um paralelo entre os personagens da obra e o contexto histórico vivido por Irvring.
Seguindo, temos o artigo de Rannyelle Rocha Teixeira, mestra em história pela Universidade do Porto. Seu artigo intitula-se “ O sentido da colonização portuguesa: a relação entre colonos nativos africanos no boletim geral das colônias (1933 – 1945)” e busca refletir acerca das aproximações e afastamentos nas relações entre colonizados e colonizadores nas colônias portuguesas na África.
As bandeiras no Estado Novo: o conceito de biodemocracia em A marcha para oeste de Cassiano Ricardo é o nome do próximo artigo da sessão livre. Escrito por Ana Paula Rodrigues, doutoranda em história pela universidade federal do Mato Grosso (UFMT), o texto tem por objetivo discutir o conceito de biodemocracia que é exposto por Cassiano Ricardo.
Fechando a sessão livre, trazemos o artigo de Thiago do Nascimento Torres de Paula, doutor pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), que tem como título “Do enjeitado a ouvidor: a trajetória do tenente Joaquim Lino Rangel na freguesia da cidade do Natal, 1760 – 1839”. O objetivo do autor é o de apresentar a trajetória do Tenente Joaquim Lino Rangel.
Ainda compõe neste volume a resenha da obra da obra de Graeme Wood ” A Guerra do fim dos tempos: o Estado Islâmico e o mundo que ele quer” (Cia das Letras, 2017) feita por Katty Cristina Lima Sá, Mestranda em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC / UFRJ).
No volume 13 da Revista Espacialidades, temos também a entrevista com a professora doutora Márcia Santana Tavares professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares Mulheres, Gênero e Feminismo – PPGNEIM / UFBA; pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher – NEIM; membro do Observatório pela Aplicação da Lei Maria da Penha – OBSERVE / NEIM / UFBA, que nos falou sobre violência de gênero, a da Lei Maria da Penha e sua relação com o número de denúncias dos casos de violência contra mulher, direitos da mulher e a relação as questões de gênero, relações de poder e espaço na nossa sociedade.
Para finalizar o primeiro dossiê de 2018 a Revista Espacialidades, conta com o corpo documental de fontes históricas em uma de suas sessões. Essas fontes foram catalogadas pelo Programa de Educação Tutorial em História da Universidade Federal do Ceará, tendo como objetivo mapear documentos ligados à compra e venda de escravos no Ceará ao longo do século XIX, entre os anos de 1843 a 1879. O Projeto, intitulado Fundo Documental e Guia de Fontes para a História da Escravidão no Ceará, foi realizado pelos bolsistas do Programa e teve início em 2007, com o mapeamento do corpo documental e catalogação dos mesmos, no qual resultou em fichas / resumo e sistematização desses documentos, concluída em 2012. O projeto catalogou cerca de 12 livros, que se encontram em sua versão original, no Arquivo Público do Estado do Ceará (APEC). É com imenso prazer, e desde já agradecemos ao Programa de Educação Tutorial pela confiança, em especial à Kênia Rios, atual tutora do PET História, à Viviane Nunes e Tayná Moreira, bolsista e egressa, respectivamente, que tiveram salutar importância para esta parceria, que a Revista Espacialidades apresenta aos seus leitores, parte destas fichas / resumos deste primoroso acervo, que possibilita o fomento da pesquisa histórica, dando saber à sociedade deste vil período que macula nossa história.
O editor-chefe e a Equipe editorial da Revista Espacialidades desejam a todos uma boa leitura!
Editor-chefe: Magno Francisco de Jesus Santos
Equipe editorial:
Arthur Fernandes da Costa Duarte – (mestrando do PPGH / UFRN)
Emanoel Jardel Alves Oliveira – (mestrando do PPGH / UFRN)
Jessica Martins Guedes de Souza – (mestranda do PPGH / UFRN)
Lucicleide da Silva Araújo – (mestranda do PPGH / UFRN)
Maria Luiza Rocha Barbalho – (mestranda do PPGH / UFRN)
Matheus Breno Pinto da Câmara – (mestrando do PPGH / UFRN)
Ristephany Kelly da Silva Leite – (mestranda do PPGH / UFRN)
Thaís da Silva Tenório – (mestranda do PPGH / UFRN)
SANTOS, Magno Francisco de Jesus et al. Apresentação. Revista Espacialidades. Natal, v.13, n. 01, 2018. Acessar publicação original [DR]
Gênero, Poder e Espaço / Revista Espacialidades / 2018
As reflexões sobre gênero possuem ligação histórica íntima com o movimento Feminista. De acordo com a historiadora Joana Maria Pedro, o processo de construção da categoria de gênero acompanha a luta por direitos civis e humanos, tendo assumido novas dimensões na conjuntura social da segunda onda do movimento feminista (1960-1980), quando tal conceito emergiu nos estudos na área das humanidades, a partir dos anos 1980.
A noção de gênero foi então sendo desnaturalizada, passando a ser compreendida como um conjunto de normas que orientam as ações dos sujeitos no tempo e nos espaços – processo para o qual contribuíram diversos autores, como Judith Butler, Linda Nicholson e Joan Scott. Os padrões que orientam os comportamentos, inclusive os relativos à noção de gênero, estão situados no tecido das relações sociais e de poder. O mesmo acontece na produção e apropriação dos espaços. Deste modo, nossa proposta com o dossiê Gênero, Poder e Espaço é debater como as categorias de gênero e poder se interseccionam na produção do espaço (quer o espaço material, onde se enquadram categorias como o urbano e rural, a fronteira, o território, o público e o privado, quer o espaço simbólico, onde se encontram o espaço imaginado ou sonhado, as representações artísticas, entre outros). Dentro dessa temática recebemos artigos com temporalidade diversa que articulam a categoria de gênero a outros conceitos, tecendo assim novas narrativas e lançando novos olhares para seus objetos dentro de suas respectivas pesquisas históricas.
Agradecemos imensamente aos membros do Conselho Consultivo que com muita generosidade, celeridade e, acima de tudo, competência, contribuíram com pareceres sérios e consistentes que garantiram a qualidade do presente dossiê “Gênero, poder e espaço”, o qual passamos agora a apresentar.
Abrimos o dossiê com o artigo Operárias da companhia fiação e tecidos pelotense e suas táticas de gênero (1944- 1954) de Eduarda Borges da Silva, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde através dos processos da Justiça do Trabalho de Pelotas, salvaguardados no Núcleo de Documentação Histórica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), observou-se pleitos de operárias da Companhia Fiação e Tecidos Pelotense, entre 1944-1954, utilizando dos conceitos de ideologia da domesticidade e táticas de gênero, a autora buscou descrever e compreender os dissídios em que o dilema da dupla jornada da trabalhadora (divisão entre a fábrica e o lar), ocorreu e porque estas mulheres operárias, mães, esposas, donas-de-casa apropriaram-se ou aceitaram a imagem de “mulheres sacrifícios”.
Em seguida, temos o artigo intitulado “Pensar pela pena que desliza, falar pela boca que se fecha”: Emília Dantas ribas como a primeira romancista dos campos gerais (paraná, 1949) de Caroline Aparecida Guebert, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Neste trabalho a autora propõe uma reflexão sobre a trajetória e parte da obra escrita de Emília Dantas Ribas (1907-1978), que atuou como professora, oradora de rádio e escritora entre as cidades de Ponta Grossa e de Curitiba, no Paraná articulando história, literatura e os estudos de gênero.
O terceiro artigo de nosso dossiê temático é de autoria de Giovanna Carrozzino Werneck, Mestra em Letras pelo IFES / Vitória, que com o trabalho Mulheres e charges políticas: a subversão pelo humor nos espaços públicos busca analisar e dar visibilidade a mulheres que produzem (ou produziram) charges políticas no Brasil, discutindo aspectos relativos aos papéis sociais atribuídos a homens e mulheres e aos estudos de gênero.
O próximo artigo intitulado Venha, venha o voto feminino: embates travados na imprensa periódica oitocentista no Rio de Janeiro de Cristiane Ribeiro Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora, é proposto uma análise da discussão sobre o voto feminino travado no Império do Brasil, circulando nos impressos diários da corte a partir da segunda metade do século XIX, atentando para uma perspectiva das relações de gênero e de poder imbricados nos jornais.
Em seguida com o artigo A cozinha das mulheres: de espaço de domesticação ao de empoderamento a partir de saberes e fazeres culinários as autoras Jamile Wayne Ferreira – graduada em Gastronomia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos e Lara Steigleder Wayne – graduanda em Psicologia pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre analisam a partir da relação com a cozinha de mulheres acolhidas em uma Ocupação em Porto Alegre / RS, o poder e o conhecimento cotidiano das guardiãs de uma cozinha minusculizada pela geração da gourmetização, já que o espaço de comando das cozinhas está normalmente relacionado à construção de gênero, onde as práticas relativas ao ato de cozinhar são ora invisíveis, no caso da cozinha doméstica, ora superestimada, no caso da “alta gastronomia”.
O próximo artigo intitulado Gênero e prisão: os impactos do sistema prisional sobre a desigualdade social e invisibilidade da mulher encarcerada no estado de Alagoas as autoras Bruna Araújo de Melo Ferreira e Ialy Virgínia de Melo Baia, graduandas em psicologia pelo Centro Universitário Tiradentes de Alagoas, analisam o sistema prisional de uma maneira histórica, compreendendo a mulher como vítima da violência e da desigualdade de gênero dentro desse espaço, visto que a prisão muitas vezes culminando no processo de invisibilidade do indivíduo, acaba potencializando essa invisibilidade na mulher, uma vez que esta já vivencia essa realidade socialmente, enfatizando os casos das mulheres que estão em regime fechado no Sistema Penitenciário Feminino Santa Luzia, localizado em Maceió.
Finalizando o dossiê temático, temos o artigo Vozes de mulheres: género e cidadania em Angola de autoria de Willi Cardoso Domingos, Licenciado em Sociologia pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, que analisa as implicações sociais da discriminação de género no exercício da cidadania e participação das mulheres em Angola, onde um diálogo entre a sociedade civil e as instituições do Estado, é fundamental, para dinamizar e ampliar a capacidade de exercício da cidadania e participação das mulheres, bem como para a desconstrução da discriminação das mulheres.
Abrindo a sessão livre do nosso dossiê temos o artigo “Ressonâncias no processo de demolição do palácio Monroe”, de autoria do doutorando em Ciências Jurídicas Políticas Daniel Levy Alvarenga (UAL). No artigo o autor discute questões acerca do patrimônio material e sua dimensão imaterial dentro de uma sociedade. Tomando como objeto de analise a demolição do palácio Monroe, busca-se apresentar como ocorreu a demolição e sua respectiva repercussão dentro do âmbito social.
Em seguida temos o artigo intitulado “Do ideal ao real: a construção de uma representação na obra literária a lenda do cavaleiro sem cabeça (1820)” escrito por Samuel Nogueiza Mazza, mestrando em história pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O autor discute no presente artigo a obra de Washington Irving, A lenda do cavaleiro sem cabeça, sob a perspectiva da teoria da representação de Roger Chartier, traçando assim um paralelo entre os personagens da obra e o contexto histórico vivido por Irvring.
Seguindo, temos o artigo de Rannyelle Rocha Teixeira, mestra em história pela Universidade do Porto. Seu artigo intitula-se “ O sentido da colonização portuguesa: a relação entre colonos nativos africanos no boletim geral das colônias (1933 – 1945)” e busca refletir acerca das aproximações e afastamentos nas relações entre colonizados e colonizadores nas colônias portuguesas na África.
As bandeiras no Estado Novo: o conceito de biodemocracia em A marcha para oeste de Cassiano Ricardo é o nome do próximo artigo da sessão livre. Escrito por Ana Paula Rodrigues, doutoranda em história pela universidade federal do Mato Grosso (UFMT), o texto tem por objetivo discutir o conceito de biodemocracia que é exposto por Cassiano Ricardo.
Fechando a sessão livre, trazemos o artigo de Thiago do Nascimento Torres de Paula, doutor pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), que tem como título “Do enjeitado a ouvidor: a trajetória do tenente Joaquim Lino Rangel na freguesia da cidade do Natal, 1760 – 1839”. O objetivo do autor é o de apresentar a trajetória do Tenente Joaquim Lino Rangel.
Ainda compõe neste volume a resenha da obra da obra de Graeme Wood ” A Guerra do fim dos tempos: o Estado Islâmico e o mundo que ele quer” (Cia das Letras, 2017) feita por Katty Cristina Lima Sá, Mestranda em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC / UFRJ).
No volume 13 da Revista Espacialidades, temos também a entrevista com a professora doutora Márcia Santana Tavares professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares Mulheres, Gênero e Feminismo – PPGNEIM / UFBA; pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher – NEIM; membro do Observatório pela Aplicação da Lei Maria da Penha – OBSERVE / NEIM / UFBA, que nos falou sobre violência de gênero, a da Lei Maria da Penha e sua relação com o número de denúncias dos casos de violência contra mulher, direitos da mulher e a relação as questões de gênero, relações de poder e espaço na nossa sociedade.
Para finalizar o primeiro dossiê de 2018 a Revista Espacialidades, conta com o corpo documental de fontes históricas em uma de suas sessões. Essas fontes foram catalogadas pelo Programa de Educação Tutorial em História da Universidade Federal do Ceará, tendo como objetivo mapear documentos ligados à compra e venda de escravos no Ceará ao longo do século XIX, entre os anos de 1843 a 1879. O Projeto, intitulado Fundo Documental e Guia de Fontes para a História da Escravidão no Ceará, foi realizado pelos bolsistas do Programa e teve início em 2007, com o mapeamento do corpo documental e catalogação dos mesmos, no qual resultou em fichas / resumo e sistematização desses documentos, concluída em 2012. O projeto catalogou cerca de 12 livros, que se encontram em sua versão original, no Arquivo Público do Estado do Ceará (APEC). É com imenso prazer, e desde já agradecemos ao Programa de Educação Tutorial pela confiança, em especial à Kênia Rios, atual tutora do PET História, à Viviane Nunes e Tayná Moreira, bolsista e egressa, respectivamente, que tiveram salutar importância para esta parceria, que a Revista Espacialidades apresenta aos seus leitores, parte destas fichas / resumos deste primoroso acervo, que possibilita o fomento da pesquisa histórica, dando saber à sociedade deste vil período que macula nossa história.
O editor-chefe e a Equipe editorial da Revista Espacialidades desejam a todos uma boa leitura!
Editor-chefe: Magno Francisco de Jesus Santos
Equipe editorial:
Arthur Fernandes da Costa Duarte – (mestrando do PPGH / UFRN)
Emanoel Jardel Alves Oliveira – (mestrando do PPGH / UFRN)
Jessica Martins Guedes de Souza – (mestranda do PPGH / UFRN)
Lucicleide da Silva Araújo – (mestranda do PPGH / UFRN)
Maria Luiza Rocha Barbalho – (mestranda do PPGH / UFRN)
Matheus Breno Pinto da Câmara – (mestrando do PPGH / UFRN)
Ristephany Kelly da Silva Leite – (mestranda do PPGH / UFRN)
Thaís da Silva Tenório – (mestranda do PPGH / UFRN)
SANTOS, Magno Francisco de Jesus et al. Apresentação. Revista Espacialidades. Natal, v.13, n. 01, 2018. Acessar publicação original [DR]
Historiografia dos Espaços / Revista Espacialidades / 2018
Frequentemente, para respondermos qual o cerne da História como disciplina, recorremos à relação da ação humana ao longo das diferentes temporalidades, portanto, centralizamos o Tempo como a dimensão fundamental do conhecimento histórico. Todavia, conforme a História foi avançando, a sua complexidade também o foi, deste modo, à dimensão temporal – que ainda permanece como dimensão central da ciência histórica – foi incorporada outras dimensões fundamentais de serem perscrutadas para a compreensão da disciplina. Escopo da Revista, o Espaço surge, destarte, como uma dessas novas dimensões a serem questionadas para o enriquecimento das produções historiográficas sob os mais diversos prismas e problemáticas.
Partindo do pressuposto teórico de que a produção histórica é circunstancial, logo, suscetível de mudanças, de acordo com as diferentes interpretações da mesma, a dimensão espacial traz consigo novas perspectivas capazes de questionar a história e a memória oficial; traz consigo a capacidade de descristalização do conhecimento histórico consagrado; traz, sobretudo, um novo campo de análises que ainda tem muito a dizer. Como afirmou, certa vez, à Revista Espacialidades, o Prof. Dr. Durval Muniz: “A história, para mim, é uma empresa crítica, no sentido de abrir possibilidades de vermos coisas diferentes. Não é crítica no sentido de oferecer uma alternativa, no sentido de dizer o que é correto, mas crítico no sentido de abrir possibilidades de pensarmos diferente, de sermos diferentes, de caminharmos diferente. A história não é para oferecer receitas, mas para abrir horizontes, abrir possibilidades, fazer a gente enxergar num dado lugar, numa dada estrada, muitas veredas, muitas possibilidades de divergir, sair para o diverso, perceber os devires”. Logo, os estudos que analisam, para além do tempo, a historicidade dos espaços, preenche uma lacuna, possibilitando novos insights e representando a essência da história como ciência questionadora.
Dito isso, o presente dossiê traz artigos que contemplam a dimensão espacial como posto basilar de suas discussões, contribuindo, assim, para a Historiografia dos Espaços. Agradecemos imensamente aos membros do Conselho Consultivo que com muita generosidade, celeridade e, acima de tudo, competência, contribuíram com pareceres sérios e consistentes que garantiram a qualidade do presente dossiê. Agradecemos também aos colaboradores que, através de suas contribuições, garantem a continuidade da discussão crítica sobre diversos conceitos que abordam as espacialidades enquanto objeto histórico.
Abrindo o dossiê temos o artigo “A geografia-histórica da região metropolitana de Belém”, de Luiz Augusto Soares Mendes. O doutor em Geografia pela Universidade Federal Fluminense busca fazer uma análise histórica da produção do espaço das cidades que compõem a região metropolitana de Belém. Desse modo, o objetivo é revelar os aspectos econômicos, populacionais, sociais e a incorporação das cidades no processo de metropolização, gerando marcos espaço-temporais comuns a história das cidades alvo desse processo.
Em seguida temos o artigo “Taperoá: a capital literária do sertão-reino de Ariano Suassuna”, da historiadora Jossefrania Vieira Martins, doutoranda em História pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. O artigo relaciona história, literatura e espaço, além de explorar alguns elementos da obra do escritor paraibano Ariano Suassuna. A autora faz um paralelo entre a dinâmica espacial presente na vida do autor e suas marcas na produção literária do mesmo. Um dos objetivos do artigo é o de entender como as interações entre esses espaços vividos pelo autor se relacionam com um conceito de sertão a partir da literatura.
O próximo artigo do dossiê intitula-se “A experiência da espacialidade colonial: São Luís, cercanias e sertões (final do século XVII e início do século XVIII)”, escrito por Mariana Ferreira Schilipake. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná, a autora busca discutir a espacialidade do território do Maranhão entre o final do século XVII e início do século XVIII. A perspectiva trabalhada pela historiadora, a qual busca compreender a relação de São Luís com as cidades circundantes, ajuda-nos a pensar a complexa dinâmica social da região nestes séculos, para além de contraposições entre espaços urbanos e rurais.
Compondo o volume 14 da revista espacialidades, trazemos a resenha do livro “The secret War: Spies, Ciphers and guerrilhas 1939 – 1945”, do historiador britânico Max Hastings e feita por Raquel Anne Lima de Assis. O livro busca apresentar como ocorreram as batalhas da guerra secreta entre o Eixo e os Aliados durante a segunda guerra mundial.
Na sessão “Entrevista”, temos a honra de apresentar a entrevista concedida pelo professor doutor Dilton Cândido Santos Maynard, professor colaborador no Programa de Pós-graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC / UFRJ), professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFS (PPGED / UFS) e do Mestrado Profissional em Ensino de História da UFS (Profhistória UFS).Na entrevista, Dilton Maynard falou sobre seu trabalho com representação, História do Tempo Presente e Ciberespaço.
Para fechar o volume 14 da Revista Espacialidades, trazemos a segunda parte do corpo documental referente à história da escravidão no Ceará. Essas fontes foram catalogadas pelo Programa de Educação Tutorial em História da Universidade Federal do Ceará, tendo como objetivo mapear documentos ligados à compra e venda de escravos no estado, ao longo do século XIX, entre os anos de 1843 a 1879. O Projeto, intitulado Fundo Documental e Guia de Fontes para a História da Escravidão no Ceará, foi realizado pelos bolsistas do Programa e teve início em 2007, com o mapeamento do corpo documental e catalogação destes, no qual resultou em fichas / resumo e sistematização desses documentos, concluída em 2012. O projeto catalogou cerca de 12 livros, que se encontram em sua versão original, no Arquivo Público do Estado do Ceará (APEC). Nesse sentido, é com imenso prazer que a Revista Espacialidades apresenta aos seus leitores, mais um trecho destas fichas / resumos. Agradecemos novamente ao Programa de Educação Tutorial pela confiança, em especial à Kênia Rios, Viviane Nunes e Tayná Moreira.
O editor-chefe e a Equipe editorial da Revista Espacialidades desejam a todos uma boa leitura!
Editor-chefe: Magno Francisco de Jesus Santos
Equipe editorial:
Arthur Fernandes da Costa Duarte – (mestrando do PPGH / UFRN)
Emanoel Jardel Alves Oliveira – (mestrando do PPGH / UFRN)
Maria Luiza Rocha Barbalho – (mestranda do PPGH / UFRN)
Matheus Breno Pinto da Câmara – (mestrando do PPGH / UFRN)
Ristephany Kelly da Silva Leite – (mestranda do PPGH / UFRN)
Rodrigo de Morais Guerra (mestrando do PPGH / UFRN)
Thaís da Silva Tenório – (mestranda do PPGH / UFRN)
Victor André Costa da Silva (mestrando do PPGH / UFRN)
SANTOS, Magno Francisco de Jesus et al; Apresentação. Revista Espacialidades. Natal, v.14, n. 01, 2018. Acessar publicação original [DR]
História e ética: múltiplas e complexas dimensões de um problema historiográfico / História e Cultura / 2017
Em 2008, o historiador Paulo Knauss publicou um breve e denso artigo intitulado “Uma história para o nosso tempo: historiografia como fato moral”.[3] Neste texto é possível vislumbrarmos, em perspectiva historiográfica, o longo percurso que a dimensão ética da escrita da história guarda desde os seus inícios. Como afirma Knauss, a partir dos estudos de François Hartog, o próprio surgimento desse saber, vinculado ao nome do grego Heródoto, já demarca uma discussão de caráter ético, considerando-se que diferentes culturas, em diferentes tempos e espaços, já possuíam formas e modos diferentes de relacionamento com as representações do passado.
Assim, mesmo a partir da experiência grega, percebe-se que em qualquer escrita da história estão implicadas dimensões de experiências pautadas pela diferença. Os gregos constroem suas histórias pela comparação aos não gregos. O historiador, ao afirmar que faz história, também pretende dizer que participa de uma produção que não é memoria, tradição ou qualquer outro mecanismo ritual de estruturação do tempo e de ações daí advindas. Tal perspectiva pretende enunciar que não há hierarquias entre diferentes histórias: há escolhas.
Nesse horizonte, o lugar comum, comumente repetido, de que a reflexão acerca do conhecimento histórico e sobre o papel social do historiador assume outra conotação, bem mais política e propriamente ética. Da polis grega ao século XXI, a história enfrentou os dilemas que envolvem as relações com o poder. A modernidade apenas exacerbou esse aspecto recorrente ao fazê-la disciplina com pretensões científicas. Do historiador elevado à voz da razão e da verdade, no século XIX ocidental, ingressamos no novo milênio com profissionais perseguidos e acusados de doutrinadores ideológicos, a despeito dos avanços e da reconhecida qualidade da historiografia produzida no Brasil, por exemplo. Como dissemos, antes, e Knauss recorda muito bem, a perseguição aos historiadores não se trata de algo recente. Heródoto e Tucídides, considerados por muitos como “pais da história” foram exilados. A participação no debate público através da escrita tem um preço que exacerba a proposta apresentada no presente dossiê.
Por outro lado, se o poder sempre operou ou contou com o suporte da história, a partir do momento em que o ofício do historiador passou a disputar seu prisma profissional, novos problemas e debates emergiram. Alguns são muito conhecidos (e, apesar disso, ainda muito repetidos): o historiador é capaz de fornecer uma verdade superior ou, no mínimo, diferenciada sobre do passado? Sua produção possui potencial pedagógico necessário e útil à formação do cidadão e da cidadã? A história, como arte ou ciência, permite uma intervenção direta no presente atual? Em maior ou menor medida, tais indagações situam a história e os historiadores em um espaço de ação social e política que merece reflexões mais detidas e particulares no que tange à epistemologia da história e à história da historiografia.
Propusemos, então, converter o tema das relações entre história e ética em um problema historiográfico a ser trabalhado neste dossiê. O próprio texto escrito por Knauss é sintomático. Há, desde aproximadamente a década de 1970, um crescente interesse por tal questão. De exaltados a perseguidos, de donos da verdade que favoreceu os Estados nacionais a críticos da sociedade, os historiadores passaram à autorreflexão. Revisar seus princípios teóricos e metodológicos tornou-se também um gesto ético. Os resultados das pesquisas históricas são obtidos a partir de intensa investigação, mesmo conceito que liga o mundo antigo ao ano de 2017. Entretanto, nem tudo se resume à epistemologia. Esta, em si, possui elementos que interferem em ações práticas, tomadas de decisão tanto no presente como para o futuro.
Os artigos reunidos neste número de Historia & Cultura, não temos dúvidas, fornecem uma espécie de “estado da arte” no que se refere à tentativa de sistematização dessa discussão que, como afirmamos, possui certa inflexão na década de 1970, mas, no começo dos anos 2000, ganha reforço significativo. Seja a partir das relações entre história e filosofia, da análise da autoridade e da responsabilidade dos historiadores em perspectiva historiográfica, de propostas relativas a uma ética própria da história ou de importantes discussões que deslocam a Europa (mais precisamente os homens cristãos europeus) do centro das atenções historiográficas, ficamos muito satisfeitos em oferecer um panorama que pretende, esperamos, colaborar com a construção de uma agenda mais encadeada e pertinente de um tema fundamental ao presente e ao futuro do conhecimento histórico tal como hoje o conhecemos.
Nota
3. KNAUSS, Paulo. Uma história para o nosso tempo: historiografía como fato moral. História Unisinos. Vol. 12, n. 2, maio / agosto, 2008, p. 140-147.
Evandro Santos – Professor Adjunto de Teoria da História no Departamento de História do Centro de Ensino Superior do Seridó da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CERES-UFRN). Doutor em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail: evansantos.hist@gmail.com
Magno Francisco de Jesus Santos – Professor Adjunto de Ensino de História no Departamento de História e no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
SANTOS, Evandro; SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Apresentação. História e Cultura. Franca, v. 6, n. 3, dez., 2017. Acessar publicação original [DR]
Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços / Revista Espacialidades / 2016
O homem vive, em grande parte de sua vida, uma busca por espaço. Seja de forma concreta, um lar para morar, ou abstrata, como um lugar no espaço postmortem. Por toda a História, homens, nações, povos, etnias e sociedades empreenderam uma procura semelhante ao definirem territórios e linhas divisórias do que é seu e do que pertence ao outro. Esta definição produziu conflitos por espaços que englobaram desde a necessidade de se alimentar, como o movimento descontínuo de conquistas das terras férteis da Mesopotâmia, a busca por riquezas a serem aproveitadas, dos impérios ultramarinos e o controle das diferentes colônias, resultado de expedições e guerras travadas entre nações e povos nativos ou, no século XX, na busca dos Estados Nacionais por um “espaço vital” necessário ao progresso, até determinadas formas de conceber o mundo por meio de disputas por “lugares sagrados”, sejam eles concretos ou abstratos.
A construção dos espaços pode estar intimamente ligada àquilo que se almeja ter, que se sonha para um propósito, com um novo lugar para viver, a extensão do poder de conquista, a expansão de mercados, o aumento do lucro ou até o imaginário de um lugar sagrado. Nesse sentido, o desejo pelo espaço que já era de outrem ou que estava entre interesses diferentes, levou à disputa de grandes guerras, conflitos, embates e transformações nos indivíduos e na sua forma de compreender os espaços. Tais relações de poder foram fundamentais à definição de pertenças, o estabelecimento ou não de fronteiras, a organização de movimentos de resistência e de negociação. Todas essas dinâmicas contribuíram à (des)construção dos espaços que eram almejados por indivíduos, povos, etnias ou quaisquer organizações estatais – que empreendiam esforços e estratégias para dominar àquilo que sonhavam ter sob suas posses. Percebendo-se a constância das disputas pelo espaço na História e a maleabilidade das fronteiras estabelecidas pelas diferentes formas de territórios e espacialidades e a importância desta temática para o enriquecimento do debate da relação História e Espaços, pauta central deste periódico, é com imenso prazer que a Revista Espacialidades apresenta o seu 9° volume com o dossiê “Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços”.
O projeto deste dossiê começou a ser pensado já meados de 2015 como resultado de conversas a respeito de qual seria a temática do dossiê do volume 9, referente ao semestre janeiro-junho de 2016. Após uma longa divulgação da chamada para o dossiê foram recebidas diferentes propostas para esta publicação. Criteriosamente avaliadas pelo Conselho consultivo da Revista Espacialidades, composto por professores e pesquisadores de universidades das mais diferentes regiões do país, os artigos recebidos e aprovados estão aqui apresentados neste volume. Além dos 8 artigos que compõe o dossiê temático “Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços”, este volume contém mais 5 artigos na sua seção livre. Após a seção livre, apresentamos também uma resenha e uma entrevista realizada pela Equipe editorial da Revista com a professora Dra. Sabrina Evangelista Medeiros, envolvida com pesquisas que se encaixam com o tema do dossiê “Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços”. Publicações estas que serão explicitadas logo em seguida, nesta breve Apresentação.
A Equipe editorial da Revista Espacialidades composta por membros do Programa de Pós-graduação em História da UFRN e sob a chefia editorial do professor Dr. Magno Francisco de Jesus Santos, professor do Departamento de História da UFRN, orgulha-se da sua mais nova publicação, resultado de muito trabalho e de contribuições feitas por pesquisadores de todo o país, que se interessaram em publicar na Revista Espacialidades enviaram as suas propostas. A todos, nosso agradecimento.
Não somente aos proponentes de publicações, agradecemos imensamente aos membros do Conselho consultivo deste volume. Professores e pesquisadores das mais diversas universidades que com muita dedicação e criticidade contribuíram, em grande medida, para a consolidação do projeto pensado ainda em 2015 para este volume. Por meio de suas avaliações e pareceres, foi possível selecionar as publicações deste dossiê e ainda proporcionar o diálogo e enriquecimento das pesquisas e trabalhos de todos os que enviaram propostas de publicação para este volume. A Equipe editorial agradece ainda ao mestre pelo PPGH-UFRN, Adriel Silva, que contribuiu com a elaboração da capa deste dossiê, que com seu talento nos presenteou com a expressiva montagem que abre o volume 9 do nosso periódico.
Seguimos com uma breve apresentação dos textos e seções que compões este volume, publicações que certamente contribuírão para o avanço do diálogo, da pesquisa e do debate dentro da relação História e Espaços.
Inaugurando o Dossiê desta edição a professora Dra. Katia Maria Paim Pozzer, do Departamento de Artes Visuais da UFRGS, apresenta o artigo “Para além das guerras: a representação do espaço na arte assíria”, tratando sobre à representação imagética do espaço geográfico no período da neoassíria, por meio do estudo de um relevo parietal em uma conjuntura de forte expansão territorial do Império.
Em seguida têm-se o artigo “O saque de Roma pelos visigodos: visões tardo-antigas” trabalho realizado pelo doutorando em História pela UFRJ Fabiano de Souza Coelho e pelo doutorando em História pela UFES, Luís Eduardo Formentini, no qual fizeram uma análise do saque de Roma realizado pelos visigodos em 410 a.c, debatendo a influência deste acontecimento no processo de desagregação do Império do Ocidente.
O terceiro artigo do dossiê intitula-se “Conjuntura e estruturação dos espaços de poder do marquesado da Toscana no século XI” e foi proposto pela mestranda em História da UFMT, Natalia Dias Madureira. O texto aborda os conflitos existentes no contexto do concílio realizado em Mântua, em 1064, no marquesado de toscana, discutindo as relações de poder entre Igreja e famílias da região que estiveram envolvidas no concílio.
Em seguida, saindo dos trabalhos que compreendem o recorte temporal da antiguidade e do medievo, apresentamos o artigo “Conflitos judiciais, espaços de jurisdição e estruturação administrativa da justiça na capitania do Rio Grande (Comarca da Paraíba / Rio Grande do Norte, 1789 – 1821)”, trabalho do prof. Dr. Antonio Filipe Pereira Caetano, do Departamento de História da UFAL. Neste artigo, o autor tem como foco discutir os conflitos de jurisdições e os problemas administrativos ocorridos na Capitania do Rio Grande (do Norte) entre 1789-1821.
Ainda tratando do contexto do Rio Grande do Norte, mas agora no período do Brasil Império o artigo “Os retirantes e a municipalidade no Rio Grande do Norte durante a seca de 1877”, elaborado Ana Carolina da Silva Santana, graduada em História pela UFRN e por João Fernando Barreto de Brito, doutorando em História pela UFRJ, tem como objetivo analisar os conflitos entre a massa de trabalhadores livres e as elites locais, na conjuntura das Comissões de Socorros, estabelecidas pelos presidentes de província durante a seca de 1877.
Nessa ordem, ainda tratando do Rio Grande do Norte, o quinto artigo deste dossiê, de autoria do doutorando em História da PUC – RS, Saul Estevam Fernandes, “Os engarrafadores dos espaços ou a disputa pela produção espacial norte rio-grandense e cearense durante na retomada da questão de limites entre os sócios do IHGA-CE e o IHG-RN”, objetiva discutir a retomada da Questão de Limites entre os estados do Rio Grande do Norte e Ceará (1894-1920). Além disso, o texto toma como problemática central as tentativas dos intelectuais cearenses e potiguares em dizerem os territórios dos dois estados por meios de cronistas, memórias, descrições, comemorações e mapas.
Mudando de uma temática mais concentrada no Rio Grande do Norte para a Paraíba, mas ainda tratando da relação entre conflitos e espaços, apresentamos o artigo intitulado “Banditismo e modernização: cangaceiros, malfeitores, ladrões de cavalos e suas redes de solidariedade avessas ao poder policial (Paraíba, 1930-1950) ”, trabalho realizado pelo mestrando em História da UFPB Luiz Mário Dantas Burity. Nessa proposta, o autor visa, em uma análise da decadência do banditismo, atentar para as mudanças e permanências que ocorreram nas regiões atingidas pelo banditismo, na Paraíba, entre 1930 e 1950.
Fechando o dossiê “Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços”, trazemos o artigo “O Brasil, a América Latina e a Europa: o acordo Mercosul / União Europeia, um retrospecto de umanegociação ainda não concluída”, do bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela UFRJ, Rodrigo Cássio Marinho da Silva. O trabalho aborda as implicações da política de subsídio europeia e as consequências para o Mercosul e seu processo de integração, encerrando o dossiê com um tema ligado a negociação, espaços e poder nas relações internacionais.
Abrindo a Seção livre deste volume, trazemos o artigo “Fronteiras da memória, identidades imaginadas: uma análise histórica e cultural das fronteiras da Carélia no contexto da emancipação finlandesa, XIV-XIX”, de autoria do graduado em História pela UFCG, Marcos Saulo de Assis Nóbrega. O artigo tem como objetivo analisar as questões pertinentes a cultura da região fronteiriça da Carélia, desde o século XIV, abordando ainda o processo de emancipação da Finlândia e seu processo de formação do ideário nacionalista no século XIX.
Já o trabalho do mestrando em História pela UFRN, Kleyson Bruno Chaves Barbosa, “A câmara faz a festa, “ainda que estranho se acordacem tão tarde”: celebrações possíveis na Natal setecentista”, trata sobre o papel do Senado da Câmara da cidade do Natal quanto a organização e a celebração de festividades na cidade, no século XVIII, analisando um dos aspectos do cotidiano do espaço urbano colonial neste período.
O artigo “Uma discussão de classe e uma história social do blues no sul dos Estados Unidos”, feito pelo graduado em História pela UFPB, André Felipe de Albuquerque Espínola nos traz uma análise da experiência cultural com a música, o blues, desenvolvida entre os trabalhadores dos Estados Unidos no início do século XX, ao redor do Delta do Mississippi. Assim, o autor tenta compreender como essa experiência contribuiu para o desenvolvimento de estilo musical entre as décadas de 1930 3 1940.
Como parte da seção livre deste volume, temos também o artigo ““Como essa nunca tinha visto!” – devoção a Nossa Senhora Medianeira – a Igreja, o poder municipal e os devotos”, da doutoranda em História pela UPF Francielle Moreira Cassol. O artigo traz uma análise sobre a romaria de Nossa Senhora Medianeira, no interior do Rio Grande do Sul, problematizando a sua patrimonialização e a transformação do evento religiosos em acontecimento de caráter também turístico.
Encerrando a seção livre do nosso volume 9, apresentamos o trabalho realizado pelo professor Dr. Alessandro Dozena, do departamento de História da UFRN e pelo doutorando em Ciências Sociais, pela mesma instituição, Valdemiro Severiano Filho. O artigo “O carnaval de Natal (RN): espaços de transformação no tempo da folia” traz um estudo sobre a institucionalização do carnaval em Natal a partir da década de 1930 até o tempo presente, considerando as dinâmicas sociais ligadas à festividade com foco nas relações de poder nela estabelecidas.
Na seção Resenhas, têm-se a análise da obra O Eldorado, de autoria de José Miguel Arias Neto, realizada pelo pós-graduando em História pela UEL Osvaldo Fiorato Junior. A resenha intitulada “As representações do progresso em Londrina, uma História regional do norte do Paraná”, considera a influência da obra na constituição da historiografia regional do Norte do Paraná, fazendo um paralelo da relação entre a produção historiográfica e a construção dos espaços.
Fechando o nosso dossiê, na última seção do nosso volume, apresentamos a entrevista concedida pela professora Dra. Sabrina Evangelista Medeiros, professora da UFRJ e da Escola Naval do Rio Janeiro. Especialista nos debates sobre relações internacionais, a professora Sabrina Evangelista traz em sua fala importantes debates sobre a conjuntura internacional contemporânea, tratando de forma muito enriquecedora sobre temas relevantes da atualidade, referentes a conflitos, negociações e política nas relações internacionais no tempo presente.
O editor-chefe e a Equipe editorial da Revista Espacialidades desejam a todos uma boa leitura!
Editor-chefe: Magno Francisco de Jesus Santos
Equipe editorial:
Aledson Manoel Silva Dantas
Cid Morais Silveira
Francisco Leandro Duarte Pinheiro
Giovanni Roberto Protásio Filho
Lívia Brenda da Silva Barbosa
Raphael Alves da Costa Torres
Tyego Franklim da Silva
SANTOS, Magno Francisco de Jesus et al; Apresentação. Revista Espacialidades. Natal, v.9, n. 01, Jan- Jun, 2016. Acessar publicação original [DR]
Dom Luciano Duarte / Revista do IHGSE / 2015
No segundo semestre de 2014 o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe firmou uma promissora parceria com uma das principais instituições culturais de Aracaju, o Instituto Dom Luciano Duarte. Como primeira ação fruto dessa parceria, foi promovido em janeiro de 2015 o “Seminário Dom Luciano: Perfis”, como forma de celebrar o natalício de 90 anos do arcebispo emérito da Arquidiocese de Aracaju.
O evento, realizado nas dependências das duas instituições, entre os dias 27 e 29 de janeiro, apresentou uma vasta programação, com o lançamento de livros, mesas redondas e conferências. Além disso, o seminário tornou-se um espaço profícuo de discussões acerca da trajetória de um dos principais intelectuais sergipanos da segunda metade do século XX, com destacada atuação no campo cultural do estado.
Luciano José Cabral Duarte nasceu em Aracaju, em 1925. Ainda jovem, despertou a vocação de ingressar no sacerdócio, levando-o a peregrinar por inúmeros seminários pelo país. Ordenado, teve uma destacada atuação como sacerdote, com suas afamadas homilias proferidas na Igreja São Salvador e na recém-criada Rádio Cultura de Sergipe. Na década de 50, ele tornou-se doutor em Filosofia pela Université de Paris I / Panthéon Sorbonne.
No campo religioso, o padre Luciano, como ainda é afetivamente chamado pelos familiares e amigos, destacou-se na reestruturação da JUC, na imprensa católica com o jornal “A Cruzada” e na “Rádio Cultura”, bem como na participação do Concílio do Vaticano II e na longa trajetória como arcebispo da Arquidiocese de Aracaju. também destacou-se por suas polêmicas acerca da Teologia da Libertação, com uma série de artigos publicados nos principais impressos do país. Entre as camadas populares, evocam as memórias da voz firme e pausada no “Sermão das Sete Palavras” proferido no Batistão na Sexta-feira Santa.
No campo cultural, Luciano Duarte tornou-se um dos principais defensores da institucionalização do ensino superior em Sergipe. Primeiramente com a fundação e direção da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe (FAFI). Posteriormente, com a campanha em defesa da criação da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Atuou também como membro do Conselho Federal de Educação e tornou-se um entusiasta na preservação do patrimônio religioso, por meio da criação do Museu de Arte Sacra de São Cristóvão.
Essas diferentes facetas do intelectual foram debatidas no “Seminário Dom Luciano: Perfis” e agora, os textos apresentados no evento são disponibilizados ao público por meio de um dossiê que compõe o primeiro volume da edição 45 da Revista do IHGSE. Trata-se de uma forma de preservar a memória das discussões promovidas ao longo da última semana de janeiro de 2015, como também na estratégia em divulgar as relevantes contribuições apresentadas no seminário, sobre os diferentes campos de atuação do Padre, como a Filosofia, a Educação e a Religião.
Certamente, essa publicação evoca a um ato de justiça, pois esse dossiê temático em homenagem ao arcebispo emérito de Aracaju preenche uma lacuna da revista que, ao longo do século XX, tornou-se notória na difusão dos principais nomes da inteligentzia sergipana. Nas páginas que seguem, o leitor poderá ler as reflexões sobre a trajetória de Luciano Duarte e, assim, entender a dimensão da relevância desse ator social na história intelectual de Sergipe. Boa leitura!
Aracaju, 02 de julho de 2015
Magno Francisco de Jesus Santos – Editor
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Apresentação. Revista do IHGSE. Aracaju, n.45, v.1, 2015. Acessar publicação original [DR]
História da educação em Sergipe / Revista do IHGSE / 2014
O IHGSE é uma das principais instituições culturais e científicas do estado de Sergipe. Possuidor de um acervo de valor inestimável, o sodalício consolidou-se como um espaço privilegiado na promoção da pesquisa acerca da sociedade sergipana. Prova disso é o elevado quantitativo de pesquisadores que diariamente visitam a Casa de Sergipe em busca de vestígios para a composição de suas investigações.
Instituição plural e complexa, o IHGSE atende a um público diverso. Entre seus principais pesquisadores estão leitores das camadas populares, estudantes da rede básica de ensino, graduandos e pós-graduandos. A riqueza do acervo possibilita a circulação de diferentes públicos e promove diariamente a redescoberta do passado sergipano.
Todavia, além de possuir um valioso acervo, a Casa de Sergipe também destaca-se pela notoriedade de possuir o mais antigo e importante periódico das ciências humanas em circulação no estado. A Revista do IHGSE tornou-se ao longo de sua primeira centúria um espaço privilegiado na difusão de novos olhares acerca da sociedade sergipana sob as lupas interpretativas da História, Geografia, Antropologia, Sociologia e Política.
Com isso, do mesmo modo que o IHGSE tornou-se “abrigo dos homens de letras” [1] da menor unidade da federação e promoveu o processo de emancipação cultural do povo sergipano,[2] como bem enfatizou o presidente do sodalício; a Revista do IHGSE ao longo dos últimos cem anos foi um veículo de grande relevância na difusão dos saberes acerca do passado local. A trajetória do periódico confunde-se com a própria historiografia local, pois revela a emergência de novas temáticas e enfoques de investigação.
Talvez essa seja uma das principais causas da vitalidade da Revista do IHGSE, que além de proporcionar a possibilidade de publicação de textos de novos pesquisadores, também possibilita a aglutinação de diferentes perspectivas teórico-metodológicas. Com isso, o periódico possibilita a difusão do conhecimento acerca do estado em vertentes plurais e polissêmicas, ao congregar intelectuais renomados, novos pesquisadores vinculados aos programas de pós-graduação e pesquisadores outsiders. Além disso, essa reunião de perspectivas analíticas diversas ocorre sem menosprezar o aspecto qualitativo das contribuições. Pelo contrário, dinamiza o campo investigativo com diferentes olhares acerca do passado local.
Uma temática que emergiu na historiografia sergipana através das páginas da Revista do IHGSE foi a história da educação.[3] Apesar da clássica “História da Educação em Sergipe” de Maria Thetis Nunes ser a obra de maior fôlego na historiografia educacional sergipana,[4] foi José Calasans o responsável pelas primeiras análises acerca do universo educacional em Sergipe.[5] Como asseverou Jorge Carvalho do Nascimento, os primeiros estudos acerca do universo educacional em Sergipe foram publicados na Revista do IHGSE, com o artigo inaugural de José Calasans, ainda em meados do século XX.[6]
Contudo, após um longo período de produção esparsa e fragmentada, na década de 90 do século XX a escrita da história da educação em Sergipe apresentou uma significativo avanço quantitativo e qualitativo. Se tomarmos como parâmetro a Revista do IHGSE, podemos perceber um processo gradativo de aumento das contribuições que versam sobre a esfera educacional, especialmente com estudos acerca das instituições escolares e das trajetórias biográficas.
Esse aumento sistemático do número de pesquisas no âmbito educacional pode ser entendido como reflexo da consolidação do ensino de pós-graduação stricto sensu em Sergipe, que atualmente possui dois programas com doutorados. Além disso, o aumento sistemático da porcentagem das contribuições expressam a consolidação da história da educação como um dos principais campos investigativos da historiografia sergipana, assim como a permanência da Revista do IHGSE como espaço privilegiado na difusão dos estudos de vanguarda em Sergipe.
Diante desse cenário, essa nova edição da Revista do IHGSE apresenta o dossiê com “História da Educação em Sergipe”. O título homônimo ao livro da consagrada historiadora Maria Thetis Nunes consiste em uma forma de reconhecer as suas contribuições para a historiografia local, pois muitas das pesquisas da renovada historiografia educacional sergipana tiveram início com as provocações interpretativas e vestígios documentais elencados pela mestra.
O primeiro artigo que compõe o dossiê discute um período pouco estudado da historiografia educacional sergipana. Leyla Santana, Solyane Lima e Simone Amorim analisam as continuidades e descontinuidades no âmbito da instrução primária na Província de Sergipe no período de 1827 a 1838. No segundo artigo, Suely Cristina Souza investiga as classificações e competências dos docentes do Atheneu Sergipense, a fim de confirmar a existência e pertinência dos ditames da Reforma Francisco Campos.
O terceiro texto, de autoria de Néviton Silva, busca traçar um paralelo da Associação Atlética de Sergipe como um clube voltado para a prática esportiva, por vezes confundida como um prolongamento da vida social dos seus frequentadores. No quarto texto, Maria de Lourdes dos Anjos investiga os embates no processo de implantação do Colégio Americano Batista em Aracaju, revelando frestas da educação batista em Sergipe desenvolvida por missionárias norte-americanas. Já Rita Barroso e José Adailton Silva buscam compreender o processo de construção de uma política de inserção e gestão das TIC a partir da formação continuada de professores dos Núcleos de Tecnologias Educacionais (NTE) de Aracaju e Lagarto.
Na seção de artigos livres, Vanessa Oliveira identifica as associações católicas de pretos na província de Sergipe e, de modo particular, evidencia a devoção a Nossa Senhora do Rosário como um aspecto relevante da experiência religiosa dos africanos e seus descendentes. Seguindo a mesma perspectiva do universo afrosergipano, Joceneide Cunha identifica as nações africanas nos registros de óbitos da Freguesia de Santo Amaro e aponta os locais que esses africanos foram sepultados, constituindo uma geografia da morte em Sergipe oitocentista.
Respaldada nos processos inquisitoriais de 1591, Andreza Mattos analisa as redes de sociabilidades entre os integrantes mamelucos das expedições no sertão. Claudefranklin Monteiro discute as divergências intelectuais entre os sergipanos Sílvio Romero e Manoel Bonfim.
Notas
1. RIBEIRO, J. Freire. Palavras do Acadêmico. Revista do IHGSE. Nº 26ª, Vol. 22. Aracaju, 1965, p. 30.
2. ALBUQUERQUE, Samuel Barros de Medeiros. Emancipação Cultural de Sergipe. Jornal da Cidade. Caderno B. Aracaju, 8 de julho de 2012, p. 7.
3. NASCIMENTO, Jorge. C. do; FREITAS, Itamar. A Revista em Sergipe. Revista de Aracaju, Aracaju, v. 9, 2002, p. 169-187.
4. NUNES, Maria Thetis. História da Educação em Sergipe. 2ª ed. São Cristóvão: EDUFS, 2008 [1984].
5. SILVA, José Calazans Brandão da. O ensino público em Aracaju (1830-1871). Revista do IHGSE, Aracaju, v. 15, n. 20, 1949-1951.
6. NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Historiografia Educacional Sergipana: uma crítica aos estudos de História da Educação. Aracaju: FAP; São Cristóvão: UFS, 2003.
Aracaju, julho de 2014
Magno Francisco de Jesus Santos – Editor da Revista do IHGSE.
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Apresentação. Revista do IHGSE. Aracaju, n.44, v.2, 2014. Acessar publicação original [DR]
História e Culturas Políticas / Revista do IHGSE / 2014
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Apresentação. Revista do IHGSE. Aracaju, n.44, v.1, 2014. Sem acesso ao original [DR]