Povos originários: histórias, culturas e resistências/Faces de Clio/2022

Ao olhar para a realidade latino-americana do tempo presente, pode-se perceber algumas urgências que emanam de processos de violência que se edificaram através da relação entre poder e colonialidade, que ecoaram durante as últimas décadas e se intensificaram na atualidade. Analisar questões que tocam diretamente ou indiretamente em assuntos relacionados aos povos originários nos espaços da academia requer uma série de considerações, principalmente porque a escrita como conhecemos através da cultura ocidental foi utilizada para construção de um imaginário que contribuiu significativamente para a desumanização, marginalização e violência contra esses povos durante a construção do Estado nação no Brasil. A historiografia a partir da década de 1970, especificamente através da Nova História Indígena, contribui significativamente para que outro olhar na produção da história em relação aos povos originários fosse possível. Leia Mais

Movimientos sociales, activismos y resistencias desde la escuela/Revista Izquierdas/2022

Introducción

La presentación del siguiente monográfico está organizada en tres apartados, que buscan proporcionar un marco de entendimiento común sobre el potencial que tiene la educación para generar espacios y dinámicas para la transformación social. Para ello, en la primera parte se presenta el contexto educativo histórico y presente en el cual se inscriben los trabajos, poniendo el énfasis en la pugna actual por hacer de la educación un espacio de reproducción o de resistencia al orden social dominante. En la segunda parte, se describen los ejes temáticos que ordenan el monográfico y se presentan brevemente cada uno de los 18 artículos que lo componen. Finalmente, se señalan algunas consideraciones que hemos podido extraer a partir de la lectura del material teórico y empírico presentado al monográfico, compuesto por voces relevantes de distintas geografías y tradiciones. Leia Mais

Corporeidades em Luta: Feminismos e Corpos de Resistências ao Sul Global | Ofícios de Clio | 2021

A proposta deste dossiê nasceu pela recente conquista ao outro lado da fronteira, a da legalização do aborto na Argentina, em dezembro de 2020. Uma luta histórica que marca, não somente o acesso aos direitos sexuais e reprodutivos, mas o reconhecimento do direito à vida das mulheres, dos homens transgêneros e de outros corpos que engravidaram (ou foram engravidados) sem interesse ou condições para gestar. Tendo o corpo como foco, as pesquisas analisadas partem das corporeidades enquanto processo histórico de resistência, de disputa e de opressão, para os diferentes períodos, seja no Brasil ou no restante do sul global – região dos países em desenvolvimento. Para além das ações feministas coletivas e individuais, o dossiê trata de pesquisas atentas aos usos políticos dos corpos; à interferência do Estado, da Medicina, do Judiciário e da Igreja no dizer-fazer-saber dessas corporeidades; à precariedade diferenciada entre as vidas, à performatividade, às generificações e às resistências a essas generificações, às formas repressivas e produtivas de enunciar os corpos. Além disso, os textos protagonizam corpos marcados pela raça, gênero, classe, território, sexualidade e geração, ou seja, que consideram a interseccionalidade. Leia Mais

#vidas negras importam: racismos, violências e resistências nas dinâmicas do tempo | Revista Brasileira de História da Mídia | 2021

O ano de 2021 foi marcado pela crise sanitária provocada pela Covid-19. Mesmo assim, destacamos a centralidade do conhecimento científico em momento tão crucial para a história da Humanidade. Apesar das dificuldades, tivemos a oportunidade de conviver e aprender com as atividades remotas, inclusive aulas, assegurando o acesso à educação no ensino superior e na pós-graduação. Houve uma atenção à cultura científica em termos de produção acadêmica, com a continuidade das pesquisas, e quanto a sua divulgação, por meio de congressos e eventos ocorridos on-line.

Foi nesse contexto que a Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia (Alcar) realizou, de forma remota, o XIII Encontro Nacional de História da Mídia, com a temática #vidas negras importam: racismos, violências e resistências nas dinâmicas do tempo. A ideia para a temática era possibilitar que os participantes do evento refletissem sobre o racismo estrutural e as suas interfaces com a mídia. Leia Mais

Intelectuais e resistências ao autoritarismo na América Latina  | Revista Eletrônica da ANPHLAC | 2021

Em junho de 2009, a América Latina foi palco da deposição do presidente de Honduras Manuel Zelaya, fruto de uma decisão do Parlamento apoiada pelo Judiciário de seu país. O episódio foi considerado por muitos como um golpe de Estado pelo fato de Zelaya ter sido retirado sem direito à defesa, numa decisão sumária. Três anos depois, foi a vez do presidente paraguaio, Fernando Lugo, passar por um rápido processo de impeachment, levado a cabo pelo Senado, em um julgamento no qual não pôde se defender. Em 2016, um novo impeachment abalou a democracia no continente: Dilma Rousseff foi destituída do cargo de presidente pelo Parlamento após ser acusada de cometer as chamadas “pedaladas fiscais”. Durante a simbólica votação ocorrida em 17 de abril na Câmara dos Deputados, que abriu o caminho para o impeachment, o então deputado Jair Bolsonaro evocou o torturador Carlos Brilhante Ustra em seu voto pela deposição, com a intenção de exaltar a ditadura da qual Russeff havia sido vítima. Em 2018, o mesmo Bolsonaro foi eleito presidente do Brasil, alcançando um resultado considerado improvável há poucos anos. Um ano depois, na Bolívia, Evo Morales renunciou ao cargo de presidente, que ocupava há treze anos, diante da violência e convulsão social derivadas da denúncia de fraude eleitoral. Sua sucessora, Jeanini Áñez, assumiu numa sessão legislativa sem quórum e, recentemente, foi presa acusada de tramar um golpe de Estado. Todos esses eventos, ao que pesem suas particularidades, podem ser  apontados como exemplos de tensões nas democracias latino-americanas, mostrando que certas conquistas consideradas consolidadas após as transições democráticas das últimas décadas do século XX seguiam frágeis. Leia Mais

Direitos humanos, sensibilidades e resistências / Fronteiras – Revista Catarinense de História / 2020

A história como ciência, desde há muito tempo, é alvo de disputas políticas e intelectuais que colocam em xeque um discurso amplamente difundido, que sustentava a existência de uma suposta imparcialidade no ofício do historiador e da historiadora. No entanto, ao se aproximar de diversas áreas que compõem as Ciências Humanas e Sociais, com intuito de pluralizar seus sujeitos e objetos, a história, e, portanto, a própria historiografia, viram-se envoltas em problemáticas que as questionavam como campo discursivo neutro, impelindo-as à produção de um tipo de conhecimento marcado pelas posições políticas e ideológicas, que por sua vez, possuem uma forte ancoragem em processos socioculturais do presente que transbordam em subjetividades.

Desta intersecção entre história, novos sujeitos, objetos multifacetados e pluralização dos discursos sobre o passado, a temática dos direitos humanos, surge como um campo que convoca historiadores e historiadoras a pensar a produção de sujeitos, os processos de violação e as diversas formas de existência, em seu atravessamento por questões da interculturalidade, identidades, igualdade, equidade, justiça social e representatividade, entre outras, que constroem as concepções atuais de dignidade humana e respeito a diversidade.

Este Dossiê, n. 36, intitulado Direitos humanos, sensibilidades e resistências, que se apresenta com caráter multi, trans e interdisciplinar, é constituído por dez artigos, uma entrevista, um texto composto por relatos e duas resenhas. Os trabalhos aqui apresentados, versaram sobre as relações da história com os direitos humanos, as sensibilidades e os processos de resistência.

O historiador Reinaldo Lindolfo Lohn no artigo intitulado A utopia dos direitos humanos na cidade: o direito à cidade, reformas urbanas e projeções sociais em Florianópolis (SC) – entre a ditadura e a democracia (1964-2004) discutiu os conflitos gerados pela imposição de reformas urbanas em Florianópolis (SC), ao longo da ditadura militar, com desdobramentos no período democrático. Tomando o acesso à cidade como uma das dimensões dos direitos humanos, o autor discute a constituição do espaço urbano como um elemento de disputa entre as camadas médias e os grupos populares urbanos.

Ernani Soares Rocha e Sueli Siqueira no artigo, Percepção dos jovens sobre o novo território 10 anos depois da desterritorialização: o caso de Itueta, abordaram, por meio de entrevistas, a percepção dos jovens do município Itueta que vivenciaram, entre os anos de 2000 e 2006, o processo de realocação de sua sede em função da instalação da Usina Hidrelétrica Eliezer Batista. Ao centrar suas análises em entrevistas, as autoras buscaram compreender os efeitos dessa Territorialização, Desterritorialização e Reterritorialização, nas trajetórias de vida de jovens e adolescentes que habitavam até então a sede do referido munícipio

O artigo A educação no município de Xaxim: dimensões históricas e políticas da universalização da educação básica (1910-2020), de Paulo Roberto Da Silva e Joviles Vitório Trevisol, analisou a trajetória da educação no município de Xaxim (SC) no período entre 1920 e 2020. Enfatiza que o direito à educação para todas as crianças em idade escolar do Ensino Fundamental tornou-se realidade apenas no final do século XX, demonstrando a existência das desigualdades regionais que estruturam o Brasil no campo das políticas públicas.

Natalia Ferreira, com o artigo Os desafios do tempo presente e a colonialidade da natureza: intersecções para pensar novas sociabilidades, intenciona discutir sobre a colonialidade a partir de seus aspectos, demonstrando as sobreposições das opressões da Matriz Colonial do Poder a partir da análise de linguagens e hábitos recorrentes que são naturalizados por nossa sociedade.

No artigo Ilha da Magia seletiva: religiões de matrizes africanas e a intolerância religiosa em Florianópolis, Hilton Fernando da Silva Pinheiro evidencia os desafios que as comunidades religiosas de matrizes africanas enfrentam, no que se refere aos direitos de fruição ao espaço público. As reflexões partiram da análise de um ato de intolerância religiosa ocorrido em setembro de 2019, na cidade de Florianópolis – SC, que visibilizou os conflitos existentes em torno de símbolos, monumentos, sujeitos e manifestações religiosas de matriz africana.

Com o artigo intitulado Dignidade humana: o desaparecimento do preto velho Jeronymo – Palmas / PR, meados do século XX, os historiadores Renilda Vicenzi e Carlos Eduardo Cardoso, por meio de um inquérito e de um processo crime, do início do século XX, na Comarca de Palmas / PR, buscam compreender as estruturas de racialização e exclusão social, conferidos a população negra, que marcaram de forma profunda a organização sociojurídica do Estado brasileiro.

Susana Cesco, no artigo O que, como e por que censurar: o trabalho de censura da Polícia Federal na década de 1970, analisou o trabalho de censores, autoridades policiais e a própria reestruturação e atuação da Polícia Federal nas décadas de 1960 e 1970 que passou a atuar como órgão responsável pela censura no país. A autora descreve os caminhos percorridos pela política de controle estatal, especialmente no que diz respeito às normas e critérios adotados para proibir e cercear a livre circulação de ideias.

A historiadora Marlene de Fáveri no artigo Violência política em tempo de guerra: a Exposição de Material Nazista: a Exposição de Material Nazista tratou da Exposição de Material Nazista organizada pelo Departamento de Ordem Política e Social de Santa Catarina nos anos de 1942 e 1943, quando o Brasil declarava guerra aos países do Eixo, durante a Segunda Guerra Mundial. Ao se debruçar sobre tal processo histórico, a autora visa analisar o papel da Polícia Política na repressão e perseguição de populações originárias da Itália e Alemanha, destacando a atuação de tal instituição na construção de discursos políticos que fomentavam o medo e a repulsa pelo outro entre a população catarinense.

O artigo Marcelino Chiarello: um defensor dos direitos humanos, de Cesar Capitanio e de José Carlos Radin, evidenciou a formação e a militância do vereador Marcelino Chiarello, de Chapecó-SC, sobretudo, o seu envolvimento na defesa dos direitos humanos, relacionandoa com uma formação sociopolítica alicerçada na vertente religiosa da Teologia da Libertação e da influência do Bispo Dom José Gomes. Os autores destacam sua atuação junto aos movimentos sociais e sindicatos, em um projeto que visava radicalizar o campo da política formal.

Com o artigo Rezar, lutar, lavrar: missionários, militares e indígenas na composição das fronteiras da Província do Amazonas (1851 – 1852), Paulo de Oliveira Nascimento abordou o projeto de construção das fronteiras da / na Província do Amazonas, num momento em que as autoridades imperiais (1851 – 1852) buscavam nortear a ação política e administrativa para modernizar a região. Através da expansão da fronteira, pretendiam implementar o projeto geopolítico de “civilização” dos indígenas e modernização da economia naqueles rincões do Império do Brasil, na tentativa de integrá-los a um projeto modernizador da sociedade brasileira

A atual edição de Fronteiras conta ainda com uma entrevista realizada por Kelly Caroline Noll da Silva que dialogou com a professora Solange Ramos Andrade sobre a temática da religião e da religiosidade católica no Brasil Contemporâneo.

Este número da revista traz uma proposta inovadora, com publicação de um texto composto a partir dos relatos das professoras Andréa Vicente, Adriana Fraga Vieira, Adriana Signori, Elandia S. Thiago e Karla Andrezza Vieira. Os textos foram agrupados e denominado Vozes docentes: lugar de escuta em tempos de pandemia. As professoras participaram da mesa redonda “Lugares de escuta: ensinar História em tempos de pandemia” que compunha a programação do XVIII Encontro de História da ANPUH / SC. Além dos tocantes relatos, o texto é introduzido pelo historiador Rogério Rosa Rodrigues, idealizador da mesa e diretor da ANPUH-SC (2018-2020). Os relatos voltam as luzes às professoras da rede básica de ensino e são traduzidos por Rogério Rosa como narrativas contundentes, sensíveis e engajadas.

Finalizando o número, duas obras compõem a seção resenha. A primeira, realizada por José Antônio Fernandes, analisa as discussões presentes no livro Peronismo: como explicar lo inexplicable, obra organizada por Santiago Farrell, que apresenta uma pluralidade de interpretações sobre o Peronismo, observando que tal temática é ainda bastante controversa e pouco homogênea. A segunda, de Kauê Pisetta Garcia, trata-se do livro intitulado Como será o passado? História, historiadores e a Comissão Nacional da Verdade, de Caroline Silveira Bauer. A obra se constitui a partir do resultado de uma pesquisa realizada pela autora sobre os usos políticos do passado através dos debates em torno da Comissão Nacional da Verdade.

Neste ano conturbado, em meio a uma pandemia – que nos marcou por muitas perdas, a Fronteiras: Revista Catarinense de História reúne textos sensíveis a diversas causas. São artigos, entrevista e relatos envoltos de sensibilidades e que narraram processos de resistências.

Desejamos uma boa leitura!

Ismael Gonçalves Alves (UNESC)

João Henrique Zanelatto (UNESC)

Michele Gonçalves Cardoso (UNESC)

Organizadores do Dossiê Direitos Humanos, Sensibilidades e Resistências

Samira Peruchi Moretto (UFFS)

Editora da Fronteiras: Revista Catarinense de História


ALVES, Ismael Gonçalves; Cardoso, Michele Gonçalves; MORETTO, Samira Peruchi; ZANELATTO, João Henrique. Apresentação. Fronteiras: Revista catarinense de História. Florianópolis, n.36, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Gênero e Religiosidades: resistências e modos de vida / Revista Brasileira de História das Religiões / 2020

A chamada temática “Gênero e Religiosidades: resistências e modos de vida” foi proposta com a intenção de congregar trabalhos atentos a práticas e experiências diversas de vida religiosa a partir das categorias gênero e resistência. Consideramos que a pertinência da proposição se fundamenta no exercício de pensar as múltiplas dimensões que conformam nosso Tempo Presente, particularmente no que diz respeito às tensões, imposições e reinvenções quanto às questões de gênero, categoria central para analisar práticas e experiências religiosas.

Articuladas as noções de classe e etnia, as questões de gênero, segundo sugere Ana Maria Bidegain (1996), são úteis não apenas para a escrita da história das religiões, mas igualmente, para possibilitar a compreensão de uma omissão a respeito das mulheres (e, acrescentamos, de outras identificações de gênero) nas religiões em todas as suas formas de estruturação e / ou institucionalização de relações de poder. Conformadoras das maneiras através das quais nos reconhecemos e identificamos, as questões de gênero são abordadas aqui tanto como categoria de análise, quanto como campo multidisciplinar. É interessante notar, neste sentido, uma certa ambivalência do campo religioso que, se muitas vezes se constitui como espaço conservador e, por vezes, repressor, em outros momentos abre linhas de fuga e emerge como espaço de possibilidades para práticas subversivas, apropriações criativas e interpretações insurgentes.

Pensando nisso, esse volume reúne artigos consagrados a refletir sobre religiosidades como lugar / discurso / prática de vida e resistência no que se refere à igualdade de gênero no Brasil e no mundo. Gênero, como categoria histórica e viva, segue em elaboração e afirma-se, hoje, como conjunto de perguntas conforme sugere Joan Scott (2013), o que fica evidente nos textos que integram essa coletânea. Tal multiplicidade encontra-se representada nos textos que compõe a chamada temática no que diz respeito às vinculações religiosas, sujeitos e espaços dos quais tratam e, igualmente, aos métodos e campos nos quais se amparam.

A outra categoria articuladora destes textos, ainda que tenha lugar e forma menos evidentes, é resistência. Pensá-la como categoria significa percebê-la enquanto prática de vida, ainda que não seja textualizada enquanto tal nas fontes de pesquisa. A resistência, esta categoria fluida e fugidia, emerge – conforme observaremos a seguir – nos espaços de ação menos prováveis, de textos a terreiros, como forma de transformar realidades, como sugere bell hooks (2013).

Patricia Folgeman, inicia a chamada temática com discussões em que amplia as relações entre gênero e religiosidades no artigo intitulado “Travestis migrantes, arte y religiosidad en la cultura queer de Buenos Aires” e possibilita pensar formas de vida que reivindicam espaços e visibilidades através de manifestações artísticas das mais variadas. A autora trata de representações religiosas, tradições culturais e refrações ocasionadas por práticas migratórias de cunho geográfico e social. Tais movimentos do mundo “trava” portenho são observados através da arte contemporânea e, assim, os textos, músicas, imagens e performances permitem-nos acessar pervivências, mudanças e rupturas.

Na sequência, “Prostituição e religiões afro-brasileiras em Portugal: gênero e discursos pós-coloniais”, de Joana Bahia, trata das possíveis relações entre o exercício da prostituição e as religiões afro-brasileiras em Portugal. A autora analisa, a partir de diálogos veementes entre história e antropologia, o modo como a imagem da pomba-gira emerge, em relatos, como metáfora sexual e, simultaneamente, religiosa. No artigo a perspectiva decolonial afirma-se em suas nuances históricas generificadas.

“Duelo de Absoluto e Relativos: Os evangélicos, a heteronormatividade e o pós-tradicional”, de José Sena Silveira, encerra este dossiê discutindo a relação entre grupos evangélicos, a heterossexualidade e o pós-tradicional, a partir de um debate teórico e de uma revisão de literatura. O artigo debruça-se, entre outras coisas, sobre uma discussão em torno do papel do binarismo masculino e feminino na construção da heterossexualidade normativa, elemento central para a manutenção do modelo tradicional de família e insinua o medo que questões de gênero / sexualidade sejam tratados fora da moral religiosa.

O volume apresenta-se marcado por uma pluralidade de abordagens, as quais denotam a amplitude dos campos em questão. As relações entre religiosidade, gênero e resistências expressam-se, assim, das mais diversas maneiras em distintas artes de ler, fazer e, fundamentalmente, ser. Além dos textos presentes no dossiê, a revista apresenta ainda artigos livres os quais atestam a amplitude do campo de estudos da História das Religiões e Religiosidades. A edição contém ainda artigos livres e resenha.

Referências

BIDEGAIN, Ana Maria. Mulheres: autonomia e controle religioso na América Latina. Petrópolis: Vozes, 1996.

HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática de liberdade. São Paulo: Editora WMF Mantis Fontes, 2013.

SCOTT, Joan. Entrevista com Joan Scott realizada por Fernanda Lemos. Revista Mandrágora, São Paulo, v. 19, n. 19, p. 161-164, jan. / dez. 2013.

Caroline Jaques Cubas1 – Professora Adjunta do Departamento de História da Universidade do Estado de Santa Catarina. Atua no Programa de Pós-Graduação em História e Mestrado Profissional em Ensino de História na mesma Universidade. Graduada em História pela Univali, possui doutorado em História pela Universidade Federal de Santa Catarina, com um estágio realizado na Université de Rennes 2. Foi uma das vencedoras do Prêmio Memórias Reveladas de 2015, promovido pelo Arquivo Nacional. Pesquisadora dos grupos de pesquisa “Ensino de História, memória e culturas” (CNPQ / UDESC) e Memória e Identidade (CNPQ / UDESC). E-mail caroljcubas@gmail.com Orcid: https: / / orcid.org / 0000-0001-5411-6824

Cintia Lima Crescêncio2 – Professora do curso de História da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campus de Três Lagoas. Graduada em História na Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Mestre e Doutora em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Realizou pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura, na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). É coordenadora do grupo de pesquisa História, Mulheres e Feminismos – HIMUFE. E-mail: climahist@gmail.com Orcid: https: / / orcid.org / 0000-0002-2992-9417


CUBAS, Caroline Jaques; CRESCÊNCIO, Cintia Lima. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.12, n.36, jan. / abr. 2020. Acessar publicação original [DR]

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LGBTTQI. Histórias, Memórias e Resistências / Revista Transversos / 2018

Ao nos defrontarmos com a imagem da capa desta edição (ELIAS1, Coraticum, 2018), nosso olhar se impacta com um coração que vibra num agenciamento de multiplicação de cores. Tonalidades que se chocam e se interseccionam em suas artérias, oxigenando uma vida não monocromática e sim uma “vida artista” como proposta ético-política (Foucault, 2004), potencializada por uma constituição de si que tem na diversidade sua beleza criadora. É com a força libertadora do Coraticum, da existência como obra de arte, que a 14ª edição da Transversos apresenta seu dossiê LGBTTQI: histórias, memórias e resistências, da linha de pesquisa Vulnerabilidades: pluralidade e cidadania do Laboratório de Estudos das Diferenças e Desigualdades Sociais (LEDDES / UERJ).

Este dossiê é efeito de encontros e de esforços coletivos de pesquisadorxs que focalizam, estudam e exploram temas, experiências, histórias de vida, memórias, resistências e contracondutas do universo de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transgêneros, Queer e Intersexuais (LGBTTQI).

Diversas correntes teóricas e perspectivas metodológicas, balizas temporais e geográficas e áreas do saber possibilitam debate sobre as diferenças sexuais e as de gênero, interseccionando, muitas vezes, gênero, raça, sexualidade, geração, classe, nacionalidade e estilo corporal, complexificando, assim, históricos programas culturais e matrizes de gênero.

Para além da visibilidade aqui oferecida às pesquisas e às reflexões de uma rede internacional de pesquisadorxs e instituições, sobretudo entre o LabQueer (Laboratório de estudos das relações de gênero, masculinidades e transgêneros, da UFRuralRJ) e o INTIMATE (projeto de pesquisa desenvolvido no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES- UC), o objetivo foi o de ampliar e verticalizar o debate sobre históricas formas de nomear os sujeitos, seus desejos e afetos, de atribuir sentido a si e aos outros, de produzir conhecimento sobre os gêneros e as sexualidades, sobre as diversidades corporais, as agendas teóricas e políticas da construção da subjetividade, os processos e códigos de significação, os esquemas binários de vigilância / controle e a “produção transversal das diferenças” (PRECIADO, 2004, p. 48). Ao mesmo tempo, os artigos oferecem análises sobre os processos por meio dos quais identidades são afirmadas e cristalizadas, realidades são social e culturalmente forjadas, as exclusões, marginalizações e apagamentos são produzidos, bem como destacam as inúmeras contestações das normas cisheterocentradas, as resistências e as fraturas do universal e assimilacionista, muitas vezes conjugado no masculino cisheteronormatizado.

O desafio proposto por Michel Foucault (1984, p. 13), o de tentar saber de que maneira e até onde seria possível pensar diferentemente em vez de legitimar o que já se sabe, foi potencializado por debates que desnaturalizam e fraturam os pertencimentos, identidades, papéis e expressões de gênero, os privilégios de visibilidade e de hierarquias, as estruturas definidoras de opressão, os saberes e discursos que legitimam a(s) sexualidade(s). Ao mesmo tempo, a provocação do filósofo francês foi matizada por conexões políticas e teóricas, como os feminismos, a teoria queer, o movimento transgênero e as diferentes demandas relacionadas à orientação sexual.

A genealogia, como pensada por Foucault e Nietzsche, da teoria queer nos é apresentada por Pablo Pérez Navarro por meio de suas aproximações com as políticas e teorias feministas. No artigo que abre o dossiê, Pérez Navarro problematiza como a proliferação e fragmentação do sujeito do discurso feminista promove um ataque ao sujeito universal do iluminismo ao questionar interna e fronteiriçamente a naturalização a-histórica de categorias como a “diferença sexual”, a unidade do sujeito “mulher”, os gêneros binários e a heterossexualidade. Os feminismos lésbicos, chicanos, latinos, asiáticos e afro-americanos (em suas análises da interseccionalidade das opressões de gênero, raça, classe, etnia) são destacados no artigo como caminhos que potencializaram a teoria queer no final do século XX.

Ana Cristina Santos focaliza a memória coletiva do movimento social LGBTQ em Portugal. A autora analisa as transformações associadas aos campos da lei e da política partidária, o progresso verificado na cobertura noticiosa dada a temas LGBTQ e sugere o conceito de ativismo sincrético, demonstrando o seu potencial analítico no que se reporta a compreender duas décadas de histórias, memórias e resistências do movimento LGBTQ.

Fábio Henrique Lopes traz à cena narrativas autobiográficas e escritas de si de Aloma Divina, travesti que viveu na cidade do Rio de Janeiro ao longo da década de 1960, considerada da “primeira geração”. Sua proposta foi a de identificar e explorar a emergência histórica de novas subjetividades, como a de travesti, marcadas por múltiplos e históricos eixos de diferenciação, como o gênero, a sexualidade, a diversidade corporal e a raça.

A construção de redes de amizade como táticas de (re)existência de pessoas trans na ordem cisgênera e heteronormativa são problematizadas por Rafael França Gonçalves dos Santos e Marcio Nicolau. A partir dos estudos queer, dos feminismos transgênero e negro, Gonçalves e Nicolau destacam como tais redes de afeto foram acionadas por sujeitos trans que partiram de Campos dos Goytacazes / RJ para o sul da Europa para a criação de subjetividades que borram as fronteiras binárias do existir, perturbam o controle biopolítico dos corpos e possibilitam vidas menos “normalizadas” e mais criativamente diversas.

As relações de amizade também se destacam no artigo de Beatrice Gusmano. Através de um olhar sociológico, mostra como pessoas LGB estabelecem relações de amizade e de cuidado, compartilhando o cotidiano. Um dos principais resultados apresentados é como as redes de amizade se tornam um meio não apenas necessário, mas escolhido, para construir relacionamentos íntimos resilientes, sublinhando, dessa maneira, o potencial transformador e subversivo da amizade entre pessoas LGB.

Desnaturalizar os dispositivos de poder que levam à desumanização de pessoas trans e intersexuais é o que Renata Santos Maia propõe em seu artigo Corpos dissidentes: as identidades que “intertransitam” no cinema argentino contemporâneo. Com esse fim, três produções cinematográficas (XXY [2007], El último verano de la Boyita [2009] e Mía [2011]) são as fontes escolhidas para focalizar os dilemas, dores e violências que vidas não binárias carregam em sociedades heterocentradas e masculinistas, com destaque para as latino-americanas, especialmente, a Argentina. Maia destaca como as vidas trans e intersexuais apresentadas nos filmes são atravessadas pelo determinismo dicotômico de ter que escolher um verdadeiro sexo / corpo / gênero / desejo.

Erica de Aquino Paes e Luciane da Costa Moas oferecem importantes chaves para o exame dos conflitos entre a normatividade cisgênera e a atuação transgressora da transgeneridade. A abjeção de pessoas trans produzidas pelas relações de saber-poder do discurso médico e jurídico é problematizada por meio de um estudo de caso: o da jogadora de vôlei Tiffany Abreu, mulher trans cuja atuação profissional é atravessada por tensões e negações em torno do exercício de seus direitos civis. Jogo que se desdobra na luta pela equidade de gênero em um domínio esportivo normatizado pela cis-heteronormatividade.

Ana Lúcia Santos analisa o potencial crítico e transformador de corpos protésicos e intersexo no regime capacitista e cisgénero. A partir do conceito de glitch, do feminismo digital, e das teorias crip e arte do fracasso, Santos apresenta essas vidas transviados e falhadas no desporto como resistências às classificações binárias do existir e como possibilidade de criação de identificações híbridas que transgridem positivamente a normalidade hegemônica.

A construção de certa identidade homossexual produzida pelo jornal Lampião da Esquina, durante os anos 1978-1981, é problematizada no artigo de Natanael de Freitas Silva & Natam Felipe de Assis Rubio. A partir da noção de contra-conduta, Silva e Rubio destacam os jogos de poder em torno dos diferentes significados sobre a homossexualidade presentes na sociedade brasileira de então. Aqui, mais uma vez, as existências silenciadas pela heteronorma ganham destaque nessa reescrita da história que tem nas demandas da atualidade seu ponto de partida.

Na seção de artigos livres, Santiago Arboleda Quiñonez examina a étnico-educação como meio de crítica e de transformação da colonialidade do poder (Quijano, 2002) presente nas sociedades latino-americanas. O ensino das relações étnico-raciais se destaca como forma de desnaturalizar o paradigma monocultural (masculino, branco, cristão, colonizador) e promover ações propositalmente decoloniais por meio do destaque e valorização das culturas, histórias e pensamentos das populações indígenas e afrocolombianas. A étnico-educação como ação decolonial, proposta no artigo de Quiñonez, é mais uma possibilidade de crítica e (re)existência ao “sistema-mundo patriarcal / capitalista / colonial / moderno europeu” (Grosfoguel, 2009) apresentada pela 14ª edição da Transversos

Para concluir, histórias e memórias, instituições, saberes e discursos, micro e macropolíticas, normas sexuais, programas culturais de gênero, autodeterminação e autoexpressão, demandas e direitos, opressões e hierarquias, vetores de normatização, dotações e cristalizações de sentido, possibilidades epistêmicas, intervenções corporais, potencialidades, afetos e encontros, negociações, jogos, subversões, fraturas, desestabilizações e contracondutas compõem o quadro de desafios e de objetivos desse dossiê sobre o colorido, plural e potente universo LGBTTQI, que ousa expandir e intensificar a vida.

Nota

  1. Páginas @raphaelelias @arterio.arteiro

Referências

FOUCAULT, Michel. “A ética do cuidado de si como prática de liberdade.” In: MOTTA, Manoel Barros da (Org.) Ditos e escritos: ética, sexualidade, política. Tradução de Elisa Monteiro e Inês Autran Dourado Barbosa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.

______________. História da Sexualidade 2; o uso dos prazeres. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1984.

GROSFOGUEL, Ramón. “Para descolonizar os estudos de economia política e os estudos pós-coloniais: transmodernidade, pensamento de fronteira e colonialidade global.” In: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENEZES, Maria Paula (Orgs.). Epistemologias do Sul. Coimbra: Edições Almedina, 2009.

PRECIADO, Beatriz. Entrevista com Beatriz Preciado, por Jesús Carrillo. 2004. Disponível em: http: / / www.poiesis.uff.br / PDF / poiesis15 / Poiesis_15_EntrevistaBeatriz.pdf. Acesso em 05 de setembro de 2017.

QUIJANO, Aníbal. “Colonialidade, poder, globalização e democracia.” Novos Rumos, 37, 2002, p. 4-28.

Fábio Henrique Lopes

Marina Vieira de Carvalho

Ana Cristina Santos

Rio de Janeiro, 02 de dezembro de 2018.


LOPES, Fábio Henrique; CARVALHO, Marina Vieira de; SANTOS, Ana Cristina. Revista Transversos, Rio de Janeiro, n.14, set. / dez., 2018. Acessar publicação original [DR]

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Revoluções, Revoltas, Resistências / Projeto História / 2017

Cem anos após o acontecimento mais marcante na história social do trabalho, a Revolução Russa, a Projeto História assume o compromisso de levar ao leitor um volume inteiramente dedicado à temática Revoluções, revoltas e resistências. Este é, acima de tudo, um compromisso com a totalidade objetiva da história neste momento decisivo das lutas sociais diante da mais aviltante ofensiva do capital contra o trabalho. Revoluções, revoltas e resistências alude à temática do trabalho e ao seu filósofo mais substantivo, Marx, nas vésperas de se completar duzentos anos de seu nascimento. Vale notar todas as séries de adulterações do pensamento marxiano que desde a época contemporânea ao próprio filósofo já ocorriam. Marx era e continua a ser objeto de um conjunto de interpretações e leituras sumariamente equivocadas, cujo âmbito de gradações tem a envergadura do mais baixo reducionismo stalinista ao mais complexo debate gnosiológico, sem deixar de passar pela detração consciente originada na apologética do capital. Desfigurações desta monta são notadas especialmente nos momentos de crise estrutural do capital, transformando o filósofo do trabalho num monstro quasimodesco, uma foz delta na qual todos os ódios deságuam.

István Mészáros, o mais importante filósofo marxista desde György Lukács, teve protagonismo na análise da ordem sociometabólica do capital, nas questões da ideologia e, especialmente, na definição da particularidade do mundo pós-capitalista que se ergueu na União Soviética e que, agora, urge à problemática da emancipação a remoção deste pesado entulho. Mészáros morreu no outubro em que se completou o centenário da Revolução Russa e deixou uma obra inacabada, o que desnuda o seu vigor: aos 86 anos, Mészáros escrevia Para além do Leviatã, que, segundo ele próprio, tratava-se do seu mais ambicioso projeto intelectual, uma monumental crítica do estado que seria composta em três partes: o desafio histórico; a dura realidade; e a alternativa necessária. Por seus materiais preparatórios, sabemos que o desafio histórico de superar o capital é uma montanha do tamanho do Everest, que a dura realidade é tentativa de elaborar uma alternativa sociometabólica viável cuja tônica é a criação de um modo de produção inteiramente novo, com instrumental produtivo igualmente inédito e superior ao do capital, evitando, deste modo, sua recalcitrância e transcendendo radicalmente em sua essência a hierárquica divisão social do trabalho1.

Um dos méritos de Mészáros é apresentar a alternativa sociometabólica viável não como um postulado ético abstrato ou uma utopia revolucionária idílica, mas como uma possibilidade concreta. Muita vez reduzido a sonho bucólico ou comunismo primitivo, o desenvolvimento técnico-produtivo potencializa o próximo salto da humanidade em seus complexos organizativos. Esta é a verve que anima o artigo inicial do dossiê deste volume da Projeto História, composto pelo pesquisador Claudinei Cássio de Rezende. Neste artigo, intitulado A regência do capital sem capitalismo nas sociedades pós-capitalistas, o debate é em torno de István Mészáros e sobre o ineditismo da experiência socialista, verificado na análise do conjunto das sociedades pós-capitalistas, e apresentando a teorização de José Chasin sobre a barbárie do socialismo de acumulação. Luiz Antonio Dias, por sua vez, traz Notícias do outubro vermelho, de co-autoria de Rafael Lopes de Sousa, apresentando-nos os limites da imprensa brasileira – ainda muito dependente de agências internacionais – a partir da cobertura do Jornal Estado de S. Paulo logo após a sucessão revolucionária de 1917. Nesta ponte entre a revolução internacional e a questão nacional temos a análise de Yuri Martins Fontes sobre A Revolução Russa e a revolução latino-americana, tratando com especial atenção da recepção teórica no nosso continente da ideia de revolução a partir dos anos 1920. Recomposição importante que acentua a necessidade de se entender as estratégias revolucionárias dos processos de 1905 e de 1917, matéria tratada por Alessandro de Moura em O movimento operário russo e suas revoluções: as estratégias de 1905 e 1917. Marly Vianna, autora que é referência nacional sobre a Insurreição de 19352, trata da Importância da revolução socialista de outubro para o PCB. José Arbex Jr., autor premiado com um Jabuti3, junto a Danilo Nakamura escrevem sobre Os camponeses russos sob o olhar da intelligentsia revolucionária dos séculos XIX e XX. Neste artigo, os autores traçam o itinerário da organização populista (narodniki). O último artigo do dossiê trata das Cidades e tensões: movimentos sociais urbanos em São Paulo e a retomada dos territórios de luta em tempos de mundialização do capital, de Fabiana Scoleso.

Na seção de artigos livres, temos Denise Simões Rodrigues abordando Política, memória e educação na Amazônia paraense nos períodos colonial e imperial à luz da teoria de Cornelius Castoriadis, que é seguido por Damián Andrés Bil que aborda, em espanhol, A crise mundial do setor automotivo (1978-1982) e os efeitos sobre o complexo na Argentina. Elizangela Barbosa Cardoso escreve sobre Infância, Médicos e Mulheres em Teresina nas Décadas de 1930 e 1940, encerrando esta parte. As resenhas de Iago Augusto Martinez de Toledo e de Paulo Fernando Souza Campos apresentam novidades editoriais sobre o revisionismo histórico e a liquidação do pensamento revolucionário – perspicaz análise deste jovem pesquisador em tom de ensaio –, no primeiro, e sobre feminismo, etnia e classe, no segundo.

Em outubro realizamos na PUC-SP, coordenado por Antonio Rago Filho e seu núcleo, um grandioso seminário internacional sobre os 100 anos da Revolução Russa, contando com a presença de Michael Löwy, Tariq Ali, Tamás Krausz4, Miguel Vedda, Alan Woods, Sean Purdy, Osvaldo Coggiola e dezenas de outros estudiosos mundialmente reconhecidos por esta área de atuação intelectual.

Notas

1 Cf. o prefácio de Claudinei Cássio de Rezende na obra SANTOS, Antonio Carlos dos. Eric Hobsbawm e a Revolução Russa. Curitiba: Editora Prismas, 2017

2 VIANNA, Marly. Revolucionários de 1935. São Paulo: Expressão Popular, 2007.

3 Prêmio Jabuti de melhor livro de reportagem por ARBEX, José. O século do Crime. São Paulo: Boitempo, 1998.

4 Destacamos a publicação da biografia de Lenin por Tamás Krausz pela Boitempo Editorial, intitulada Reconstruindo Lenin, fruto de mais de quatro décadas de trabalho deste historiador húngaro.

Antonio Rago Filho

Carlos Gustavo Nobrega de Jesus


RAGO FILHO, Antonio; JESUS, Carlos Gustavo Nobrega de. Apresentação. Projeto História, São Paulo, v.60, 2017. Acessar publicação original [DR]

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Revoluções, Insurreições e Resistências / Tempos históricos / 2017

O ano de 2017 foi um importante marco comemorativo da história mundial: a Revolução Soviética de 1917. Este fato foi relembrado mundo afora, acompanhado de lembranças sobre outros momentos importantes do movimento internacional dos trabalhadores. No caso brasileiro, a Greve de 1917, e vários outros momentos da luta da classe que se inspiraram de alguma forma na Revolução. Tivemos nesse ano uma profusão de publicações sobre aspectos distintos da Revolução: a experiência soviética; o papel das mulheres; a questão sexual; a produção revisionista, são apenas alguns deles. Noutros pontos do mundo, e especialmente na Europa, o discurso revisionista, que desde há décadas tem procurado, como se fizera já no período de entre guerras mundiais, demonizar a Revolução de Outubro e, por consequência, apresentar os processos revolucionários como “excrescências” da história, teve que se enfrentar com a renovação do interesse na investigação sobre os processos de participação política de massas e os novos movimentos sociais à luz das releituras empenhadas da revolução de 1917.

Embora durante muito tempo a revolução tenha sido tratada apenas pelo viés do Partido Bolchevique, as questões que foram mobilizadas por ela vão além do partido, e remetem a distintas questões da classe trabalhadora organizada. Se a revolução terá sido, como sublinhou Eric Hobsbawm no seu A era dos extremos, “o acontecimento central da história do séc. XX, da mesma forma como a Revolução francesa o foi do séc. XIX”, o conjunto do século foi marcado sem qualquer sombra de dúvidas pela experiência soviética, seja do ponto de vista da classe, como da burguesia que se organiza contra ela. “A Revolução de Outubro suscitou o maior, de longe, movimento revolucionário organizado da história moderna”, fazendo com que “ao fim de apenas 30 ou 40 anos da chegada de Lénine à Estação da Finlândia em Petrogrado”, em abril de 1917, um terço da humanidade vivesse sob regimes que decorriam diretamente dos ‘Dez das que abalaram o mundo'”, como lhes chamou John Reed. De uma forma ou doutra, todos os movimentos emancipatórios do séc. XX se inspiraram nos bolcheviques na sua luta contra o imperialismo como modelo de dominação no mundo industrial e pós-industrial. Em consequência, a partir de então, as estratégias de resistência e de recuperação do imperialismo ao longo do século XX estiveram diretamente vinculadas aos avanços concretos do anticomunismo, e após a II Guerra Mundial, pela Guerra Fria.

O final do século XX trouxe as ideologias do “fim do comunismo” e dos fins “da ideologia”, com a implantação da doutrina do “pensamento único”. Tudo isso nos fez imaginar que esse centenário passaria em branco e que o máximo que nos proporcionaria seriam discursos saudosistas ou textos revisionistas fragmentários. Felizmente, não foi isso que vimos. A Revolução foi retomada como problema histórico, novos personagens vieram à luz da pesquisa histórica, novos problemas foram colocados. Somente no Brasil foram dezenas de eventos alusivos à Revolução Russa. Os mesmos geraram e ainda vão gerar discussões, artigos e livros sobre distintos aspectos da revolução.

Ao mesmo tempo, experiências como nosso dossiê também se inserem nas distintas propostas que buscaram pautar os movimentos revolucionários do século XX, seus sujeitos, seus problemas, seus limites e possibilidades. O dossiê reúne um conjunto de oito artigos que tratam de distintos momentos de processos revolucionários, ou de discussões que se inseriam em posições, sejam anarquistas, socialistas ou comunistas sobre formas de combater o capitalismo ao longo do século XX. Essa história inconclusa chega ao século XXI, com as novas esquerdas e direitas e com os movimentos sendo retomados, e são esses os temas abordados no dossiê.

O movimento operário carioca em perspectiva nas páginas da Revista Gil Blas (1919-1920), de Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus é o primeiro artigo do dossiê. Revistas podiam ser porta-vozes de projetos, como neste caso, portadora de um projeto liberal, mas não podendo abrir mão de pautar as questões concernentes à classe operária, efervescente no período analisado. Mesmo com posição liberal, a revista não abriu mão completamente de dar voz aos próprios operários, conforme apresenta o autor, que busca contextualizar as posições do anarquista José Oititica na revista Gil Blas. Entretanto, outras posições operárias também eram trazidas, apontando para uma diversidade de posições apresentadas, pela revista no período analisado, endossando a tese da falta de clareza ideológica daquele período por parte da classe trabalhadora.

Socialismo e Revolução nas páginas do Clarté, de Michel Goulart da Silva também trata de um grupo que se organiza, a partir de uma perspectiva inspirada na Revolução Russa, por um viés socialista reformista. Um grupo sediado em Paris, passa a constituir no Brasil um grupo com o mesmo nome, publicando igualmente uma revista no Brasil, com contatos com outros grupos na Argentina. Divulgadores da Revolução Soviética, não eram totalmente identificados com o comunismo, não havendo identificação significativa com o PCB. Este é um dos temas explorados com detalhes pelo autor do artigo.

O artigo Bandeiras negras contra camisas verdes: anarquismo e antifascismo nos jornais A Plebe e A Lanterna (1932-1935), de André Rodrigues enfatiza a posição dos jornais anarquistas para um problema social concreto, a emergência do fascismo e as disputas acirradas entre as divergentes posições ideológicas. Os jornais fizeram parte da ampla militância antifascista de seus diretores, em um momento em que o movimento integralista tinha grande força mobilizadora junto a parcelas das camadas baixas da sociedade. Da mesma forma, destaca-se que o estudo busca o movimento anarquista não nos reconhecidos anos 1910 ou 20, mas mostra que nos anos 1930 o movimento também existiu, não tendo acabado quando a classe teria descoberto o comunismo como única alternativa. Ademais, a sua atuação pode ser vista no sentido amplo de uma imprensa que era parte organizativa de grupos que também faziam a luta de rua, lutando abertamente contra o fascismo daquela época.

Os movimentos feminista e comunista no Brasil: história, memória e política, de Iracélli da Cruz Alves contribui para desmistificar um tema recorrente, o tratamento dado ao feminismo pelos comunistas no Brasil. Mas essa posição era divergente no próprio âmbito comunista, em que parte das militantes preferiam ser chamadas de “militantes femininas” a “militantes feministas”. Há ainda uma discussão histórica acerca do problema, que tem desdobramentos na historiografia. Já que o tema passa a comparecer na historiografia a partir do período de redemocratização, há uma forte tendência a situar o feminismo apenas a partir da experiência das militantes exiladas durante a ditadura e que teriam vivenciado as experiências do maio francês. A autora mostra, a partir da pesquisa, os erros dessa posição.

Perspectivas teóricas, trajetória e o projeto político dos comunistas cubanos durante a década de 1940, de Ana Paula Cecon Calegari traz a questão do comunismo antes da Revolução Cubana, através do projeto político do Partido Socialista Popular (PSP). A Revolução não foi um “raio em céu azul”, embora não estivesse escrita nos anos 1940, foi a existência de movimentos políticos comunistas anteriores que ajuda a compreender o seu sucesso. Utilizando elementos de análise de discurso, a autora busca perceber elementos políticos os discursos presentes na imprensa dos comunistas.

“Rompendo com a natureza artesanal de nosso funcionamento”: ações armadas do PCBR na Bahia e seu pragmatismo revolucionário durante a década de 1980, de Lucas Porto Marchesini Torres traz uma experiência pouco conhecida do público leitor. Trata-se de um estudo sobre um grupo que realizava ações armadas de expropriação de bancos, já na década de 1980, e ligados ao Partido dos Trabalhadores. De forma problematizadora, o autor indaga a versões correntes sobre o fato e apresenta a complexidade dos elementos envolvidos, sobretudo no assalto malogrado na Bahia, em 1986. Mostra que a democratização do final dos anos 1980 foi muito mais conflituosa e complexa para a classe trabalhadora do que a história oficial até hoje busca demarcar sobre aquele período de “odes à democracia”.

Nuevas izquierdas y nuevas derechas: debates em torno a la conceptualización de los processos políticos latino-americanos recientes, de Hugo Daniel Ramos, traz o tema para o tempo presente e para as “novas esquerdas”, relacionadas com as “novas direitas” na América Latina. Faz um apanhado as características principais do material proposto para análise, um conjunto de textos do que chama de “nova esquerda” e uma pequena amostra de textos de direita. Em segundo momento, busca sintetizar a bibliografia sobre os governos considerados de “nova esquerda” na América Latina. Por fim estabelece conclusões provisórias, entre as quais, a ineficácia do par antitético esquerda x direita” para qualificar os grupos sociais da atualidade.

A esfinge da esquerda brasileira: decifrando junho a partir de Porto Alegre e de um novo ciclo de greves e lutas sociais, de Carlos Fernando de Quadros; Frederico Duarte Bartz; Guilherme Machado Nunes discute as Jornadas de Junho de 2013 no Brasil, estudando o caso de Porto Alegre. Mostra o efetivo aumento de manifestações de rua de caráter rebelde e não centralizado. Discute as leituras feitas pela esquerda hegemônica no Partido dos Trabalhadores que busca vincular o Golpe de 2016 à emergência dessas manifestações de 2013.

Manuel Loff – Professor Associado no Departamento de História e de Estudos Políticos e Internacionais (área de História Contemporânea) da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Portugal.

Carla Luciana Silva – Professora Associada da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Marechal Candido Rondon.


LOFF, Manuel; SILVA, Carla Luciana. Introdução. Tempos Históricos, Paraná, v.21, n.2, 2017. Acessar publicação original [DR]

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Revoluções, insurreições e resistências/Tempos Históricos/2017

O ano de 2017 foi um importante marco comemorativo da história mundial: a Revolução Soviética de 1917. Este fato foi relembrado mundo afora, acompanhado de lembranças sobre outros momentos importantes do movimento internacional dos trabalhadores. No caso brasileiro, a Greve de 1917, e vários outros momentos da luta da classe que se inspiraram de alguma forma na Revolução. Tivemos nesse ano uma profusão de publicações sobre aspectos distintos da Revolução: a experiência soviética; o papel das mulheres; a questão sexual; a produção revisionista, são apenas alguns deles. Noutros pontos do mundo, e especialmente na Europa, o discurso revisionista, que desde há décadas tem procurado, como se fizera já no período de entre guerras mundiais, demonizar a Revolução de Outubro e, por consequência, apresentar os processos revolucionários como “excrescências” da história, teve que se enfrentar com a renovação do interesse na investigação sobre os processos de participação política de massas e os novos movimentos sociais à luz das releituras empenhadas da revolução de 1917. Leia Mais

Resistências: LEDDES 15 anos / Revista Transversos / 2016

LEDDES 15 anos. Atravessando Experiências: diversificando possibilidades [1]

Comemorar é resistir

Comemorar é combater e, nesse sentido,

comemorar é lutar.

Lutar é verbo que destaca ação

verbo que propõe flexão,

inflexão, reflexão…

Verbos que me lembram LEDDES.

Laboratório de Estudos das Diferenças e Desigualdades Sociais.

Espargindo…

Transversal,

Transcultural,

de saber / sabor de saber / fazer

de saber / poder.

Eu posso, tu podes, ele pode… nós LEDDES [2]

As resistências funcionam como pontos e nós irregulares que se distribuem com maior ou menor densidade no tempo e no espaço. Podemos falar numa cotidiana resistência ou como afirmava De Certeau (1994) na microfísica da resistência em resposta a provocação de outro Michel, desta feita Foucault (1979) para quem as táticas e suas clivagens são resistências fragmentadas que fazem emergir as relações de poder em suas múltiplas tramas. O trabalho intelectual como método de invenção, investigação e intervenção que resiste desde seu próprio procedimento ativa um saber que nasce resistindo, saber que informa a trajetória do nosso LEDDES como um dente de leão em sua reprodução rizomática.[3]

Propomos inquirir o pensamento como forma de resistência de análise das diferenças e, em especial, das matrizes que as inventam, justificam e transformam em desigualdades sociais. Desconfiar das evidências e universalidades que indicam as inércias e coações do presente, as brechas, as linhas de força da violência dos próprios regimes de verdade são questões problematizadas em nossas linhas de pesquisas. Afinal vivemos sob o signo das diferenças agudizadas e ao mesmo tempo saturadas, logo naturalizadas e invisibilizadas. O que confere cada vez mais relevância social ao LEDDES como locus provocador do debate.

O dossiê, portanto, não se restringe à produção de uma ilusão biográfica do nascimento e institucionalização de mais um laboratório no cenário acadêmico. O que se pretende é iluminar de forma biografemática, um heteretópico espaço de escrituras de vidas abertas às formas diferentes de criação de condição de possibilidades do dizer e, principalmente, da experimentação ética de uma amigável vida acadêmica. Uma jornada que se inicia em 2001 na cumplicidade intelectual e afetiva de Ana Moura, Marilene Rosa e Silvio Carvalho, colegas do Curso de História do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro nos tempos sombrios da ditadura. O reencontro como experientes profissionais de História que acontece na Universidade do Estado do Rio de Janeiro é enunciado a partir do inventor de neologismos, Roland Barthes no seu biografema (…)

Se fosse escritor, e morto, como gostaria que a minha vida se reduzisse, pelos cuidados de um amigável e desenvolto biógrafo, a alguns pormenores, a alguns gostos, a algumas inflexões, digamos: ‘biografemas’, em que a distinção e a mobilidade poderiam deambular fora de qualquer destino e virem contagiar, como átomos voluptuosos, algum corpo futuro, destinado à mesma dispersão!; em suma, uma vida com espaços vazios, como Proust soube escrever a sua, ou então um filme, à moda antiga, onde não há palavras e em que o fluxo da imagens (esse flumen orationis, em que talvez consista a ‘porcaria’ da escrita) é entrecortado, como salutares soluços, pelo rápido escrito negro do intertítulo, a irrupção desenvolta de um outro significante …(BARTHES, 1971, p.14)

O método aponta o fazer de um laboratório onde se cria e se recria uma complexa gestão coletiva. Saber / sabor compartilhado nas permutas constantes entre orientadores / as e orientandos / as, professores / as e alunos / as, quer seja da graduação ou da pós, numa peculiar intertextualidade com diferentes construtores de discursividades. A materialidade do dossiê e os lugares sociais que marcam e demarcam a tessitura de cada narrativa contam um pouco dessa história. Num diálogo transdisciplinar que espelha a plataforma ética sobre a qual nossas pesquisas e intervenção social se assenta- a luta pelos direitos humanos, por uma educação inclusiva, logo, democrática.

Essa viagem começa com a provocação de Laura Nery em Grotesco, caricatural, pornográfico: notas sobre a insubmissão da forma. O ensaio, experiência modificadora de si e não um mero jogo simplificador da comunicação, exercício de pensamento que assume os riscos do engajamento pessoal ancora a reflexão. O texto estabelece algumas relações entre Grotesco, caricatural e pornográfico em seu sentido mais extremo, ou “satânico”, como definiu Charles Baudelaire ainda no século XIX, segundo a autora, destacando semelhanças de estratégias expressivas entre eles. No âmbito da linguagem, a presença desses modos permite entrever um jogo entre experimentação formal, liberdade e interdição.

Seguindo a insubmissão como tática de resistência A Dama e o Amor: Cortesia e heresia na poética medieval de Benjamin Rodrigues Ferreira Filho (UFMT); Shirlene Rohr de Souza (UNEMAT), propõe a leitura do poema “Aquele que não viu o Amor”, do poeta galego-português Nuno Fernandes Torneol. Escrito provavelmente no século XIII, o poema é tomado pelos autores como pulsão para identificar os indícios de subversão da linguagem, ou quem sabe da transvaloração de palavras que guardavam segredos perseguidos por uma igreja inquisidora que ao implantar um ideal dogmático de amor, perseguia “hereges” e condenava ao paganismo das comunidades cátaras e sua crença na “Igreja do Amor”. Através da leitura do poema de Torneol, e de alguns outros poetas, revelam-se os interesses e as disputas de poder travadas pela igreja de Roma.

Com Selma Pantoja o destaque à Historiografia Africana e os Ventos Sul: desenvolvimento e História uma escrita da história, no âmbito dos estudos pós-coloniais, da colonialidade e da experiência Sul. O que faz emergir as narrativas sobre o Estado-Nação africano e o Homem Novo tomando como mote a questão do desenvolvimento e os elementos simbólicos de recuperação. Instigante o relato de sua experiência como professora de história por três anos na cidade de Maputo e os impedimentos no acesso ao acervo da Biblioteca Colonial como representativo dos desafios na descolonização do saber. Ainda nesse viés, chama a atenção para a ressignificação de heróis e heroínas, de fundo nem colonial nem nacionalista ensejando outras perspectivas de produção de conhecimento histórico. Transversos: Revista de História Transversos: Revista de História.

No artigo Terra, Trabalho e Conflitos Escravos no Vale do paraíba Fluminense na Segunda Metade do Século XIX, Keith Barbosa analisa a partir de inventários, correspondência entre autoridades policiais e notícias da imprensa, o modo como os conflitos travados entre os herdeiros pela herança de família e prováveis novos proprietários das fazendas teriam motivado o aumento das tensões entre escravos destacando as estratégias múltiplas para se lidar com a exploração cada vez mais intensa nas plantations de café.

No ensaio A educação como condição e prática da democracia, Aimberê Guilherme Quintiliano da Universidade Federal de Juiz de Fora articula a efeméride de uma publicação- Democracy and Education, de John Dewey, em 1916 às questões contemporâneas da educação, em que o modelo empresarial estaria tomando lugar do modelo educacional nas instituições de ensino e formação profissional, principalmente nas redes públicas. O temas essenciais da filosofia da educação são retomados para traçar um retrato da relação entre o professor e o aluno, mostrando que para uma educação que faça progredir a sociedade e que permita uma melhora das relações entre os seres humanos exige a ampla liberdade de pensar.

Ainda sobre os desafíos de uma Educação de viés igualitário e transformador, Davi Avelino Leal e Juliana Ventura Brasil em A política de ação afirmativa e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas desenvolve breve, mas pertinente, reflexão sobre a compreensão dos alunos cotistas do Ensino Médio Técnico acerca das políticas de ação afirmativa implementadas no IFAM. Através de entrevistas semi-estruturadas e análise da legislação e atas dos conselhos de classe buscou identificar os efeitos da implementação da Lei de Cotas, em destaque o risco de estigmatizaçãos dos sujeitos por ela alcançados.

O dia que durou 21 anos: A simbiose entre passado e o presente pelas lentes do cinema Joana D Arc Ferraz problematiza o uso que fazemos da História a partir do filme documentário. Os efeitos de poder deste presente intolerável provocam a engajada cientista social, professora da Universidade Federal Fluminense e membro atuante do Grupo Tortura Nunca mais. Ancorada em Nietzsche e Foucault o texto procura identificar nas análises de autores que, ainda na ditadura, nas décadas de 1970 e de 1980 do século passado pensaram o golpe o contexto político e econômico de dependência ao capital internacional. Nesta démarche denunciaram algumas questões que, pelas mais variadas percepções, acabaram se empoeirando e se distanciando de nossos olhares.

Na trilha de texto denuncia Mujeres del Cauca: Colonialidade y patriarcado na guerrila de las FARC-EP, Amanda Ledezma Meneses (Universidade Surcolombiana) e Gerson Galo Ledezma Meneses (UNILA), apresentam o conflito armado e a violência vivida na Colômbia como herança colonial. O especismo, que segundo os autores, possibilitou a constituição do racismo e de um complexo sistema de inferiorização de homens e mulheres ressoa na atualidade legitimando o sistemático extermínio de camponeses, indígenas e comunidades afrocolombianas, pelas ações violentas do exército, da guerrilha e dos grupos paramilitares, que agem sob os auspícios do Estado-nação. Neste contexto, emerge o cotidiano de quatro mulheres do Departamento de Cauca na Colombia violentadas sexualmente por guerrilheiros. Seus testemunhos permitem a interrogação sobre o silêncio que cobre o flagelo a que estão submetidas e ainda a confirmação de que o “Estado colombiano mata mulheres, indígenas, pobres e negros, por meio de sus instituições e da mesma sociedade formada em suas filas.”

A seção Entrevista destaca a participação da professora Ana Maria da Silva Moura na idealização e construção do LEDDES. O comprometimento entre entrevistadores e entrevistado transforma o encontro numa saborosa conversa. A rememoração dos múltiplos e complexos tempos afetados pela experiência discursiva do fazer lembrar são iluminados pelas possibilidades do biografema. A seguir é possível acompanhar os efeitos das atividades do laboratório no ofício da História de dois jovens pesquisadores: Gustavo Pinto de Sousa, professor da Universidade Federal do Pará expõe as Experimentações históricas: da casa de correção ao direito das gentes e, na fala de Daniel Thomaz Mandur, hoje professor em OXFORD, a Trajetória de um pesquisador em seu espargir por outros espaços acadêmicos.

Nas Notas de Pesquisas o foco estaria na construção do trabalho acadêmico em seu movimento de elaboração marcado pelo provisório. Em vez do produto acabado, os caminhos e descaminhos complexos da busca de uma Clio negra para uma nação multicor: a escrita da história na imprensa negra-1926-1937 do doutorando João Paulo Lopes -PPGH / UERJ; da Descolonização e justiça: fundamentos para a educação e políticas da interculturalidade de Aline Cristina Oliveira do Carmo do Curso de Filosofia da UERJ; ou ainda dos Territórios dos afetos: O cuidado nas práticas femininas quilombolas contemporâneas do Rio de Janeiro de Mariléa de Almeida da UNICAMP; concluindo com a problematização dos “Grandiosos batuques”: notas de uma pesquisa em História sobre as experiências dos classificados como “indígenas” em Lourenço Marques(1890-1930) de Matheus Serva Pereira também da UNICAMP.

Em Experimentadores, diferentemente, das exigências de uma História profissional, o que se propõe é publicizar as narrativas produtoras de sentidos que auxiliem a reflexão de questões históricas do passado e contemporâneas. Deste modo se inscreve as reflexões sobre a Comunidade da Ilha do Bananal: auto organização da população em situação de Rua na cidade de Cuiabá-MT, de Eliete Borges Lopes (SEDUC / MT). A partir de um longo percurso pelas ruas desta quente capital do Centro-Oeste, fotografando moradores em situação de rua; criando táticas de aproximação e de estabelecimento de algum contato e conexão; tomando como tarefa a composição de um minucioso arquivo visual dos grafites que cobrem esta capital de arte, denúncias e vida; presenciando mortes, percebendo desaparecimentos e testemunhando ações violentas da polícia para com esta população, identifica comunidades de rua nascentes e em extinção e compõe uma cartografia dos arte-fatos e afetos que as constituem, entre elas a Ilha do Bananal. Em prédios antigos, tombados pelo Instituto do patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), debaixo da ponte que liga (ou separa), as duas maiores e mais violentas cidades de Mato Grosso, Cuiabá e Várzea Grande, nas proximidades do Morro da Luz, ou mesmo sob e atrás de out-doors as comunidades vão erguendo outros lugares. O modo como se movimentam pela cidade, a lentidão que caracteriza seu aprendizado sobre o território da rua, os espaços que ocupam, revelam a vida que toma posição e combate no front.

A seção Resenha, que encerra a edição, apresenta o diálogo entre autores / as, no exercício do habitar e comentar a textualidade de uma obra. Os trabalhos em questão identificam os dilemas do fazer História, suas fontes ou materialidades e, em especial, os diferentes lugares socio-institucionais da produção historiográfica. Assim, ser autor e objeto, ser afetado mas procurar controlar a subjetividade agarrando-se aos procedimentos teórico- metodológicos do ofício. O primeiro desafio foi aceito pelo experiente pesquisador do tempo presente Francisco Carlos Teixeira – No olho do furacão: 2016 historiadores pela democracia – expõe o impacto do acelerado processo de impedimento da presidente Dilma Rousset. A obra organizada por Beatriz Mamigoniam (UFCS), Hebe Mattos (UFF) e Tania Bessone (UERJ) reúne historiadores / as de diferentes gerações e textos, originalmente publicados, no calor do momento e nas mais diversas mídias, propondo-se a elaborar a cronologia do golpe.

Saímos da História em cena para a representação cinematográfica dos dilemas da democracia contemporânea, na resenha de José Ramon Narvaes Hernandes do livro 12 Hombres en pugna: Ni castigo, ni perdón. El derecho a dudar, do Director Eddy Chávez Huanca. Segundo livro da Coleção Cinema e Direito. Trata de uma experiência que vem se consolidando como área de pesquisa que é trabalhar questões relativas e bastantes caras ao Direito, a partir das provocações que o cinema nos convida. Porém, mais que isso, há histórias ocultas e periféricas, bem como as outras linguagens cinematográficas que orquestram a narrativa e revelam vozes e possibilidades de interpretação. A atualidade desta discussão está em exatamente avaliar o comportamento dos jurados na democracia.

Conclui a seção a tese transformada em livro do professor Silvio Carvalho nomeada Utopia de uma nação: construção do imaginário social angolano a partir da produção literária no pós-independência (1975-1985) por Fabia Barbosa Ribeiro. A professora e pesquisadora do Campo dos Malês na Bahia da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) destaca como objetivo central do estudo a questão do imaginário social sobre a nação angolana, construído a partir de uma nascente literatura nativa, assentada sobretudo nas relações políticas constituídas durante e imediatamente após a guerra de libertação colonial. Enfatiza a importância de uma obra que se inscreve e contribui sobremaneira aos Estudos Africanos no Brasil.

Encerramos a apresentação propondo um convite ao bom debate instigado pelas reflexões dos diferentes articulistas. Enfim, a coragem de ser um eterno aprendiz que ecoa da Aula de Barthes.

Há uma idade em que se ensina o que se sabe: mas vem em seguida outra, em que se ensina o que não se sabe: isso se chama pesquisar. Vem talvez agora a idade de uma outra experiência, a de desaprender, de deixar de trabalhar o remanejamento imprevisível que o esquecimento impõe à sedimentação dos saberes, das culturas, das crenças que atravessamos. Essa experiência tem, creio eu, um nome ilustre e fora de moda que ousarei tomar aqui sem complexo, na sua própria encruzilhada de sua etimologia: sapientia: nenhum poder, um pouco de saber, um pouco de sabedoria e o máximo de sabor possível (BARTHES: 1977. p47)

Por mais atenta que esteja no passado a História ainda se escreve no presente. Experimentar, diversificar e, é claro, saborear o pensamento como ação que emerge deste dossiê- convite à resistência em suas múltiplas condições de possibilidades que se afirmam no “eu posso, Tu podes, Ele pode…e Nós LEDDES”.

Notas

1 Título do Seminário que aconteceu na UERJ nos dias 6, 7 e 8 de dezembro de 2016. Para além da comemoração o evento permitiu um encontro de pesquisadores / as, estudantes, professores e demais interessados / as nas questões leddeanas, assim nas Margens da História: artes, corpos e invenções como táticas da cidade da linha -Vulnerabilidades e Controle Social; Ordem e progresso: como fazer História no Brasil pós-impeachment da Escritas da História e por fim Áfricas: trajetórias e pesquisas. Entre outras provocações destacamos a exibição e debate do filme Menino 23.

2 Pedro Henrique Torres, mestrando do PPGH / UERJ, pesquisador do LEDDES, bolsista da FAPERJ.

3 O rizoma para Deleuze e Guattari (1995) seria um modelo de resistência ético-estético-político, trata-se de linhas e não de formas. Pesadelo do pensamento linear, não se fecha sobre si, é aberto para experimentações, é sempre ultrapassado por outras linhas de intensidade que o atravessam.

Referências

BARTHES, Roland. Aula. São Paulo: Cultrix Editora, 1998.

______. Sade, Fourier, Loiola. São Paulo: Brasiliense, 1998.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia. Vol. 1, São Paulo: Editora 34, 1995.

Ana Lúcia Vieira de Carvalho – UFAM Marilene

Rosa Nogueira da Silva – UERJ

Priscila Xavier Scudder – UFMT

Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 2016.


CARVALHO, Ana Lúcia Vieira de; SILVA, Rosa Nogueira da; SCUDDER, Priscila Xavier. Apresentação. Revista Transversos, Rio de Janeiro, n.8, dez., 2016. Acessar publicação original [DR]

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História Oral e resistências na América Latina / Tempo e Argumento / 2015

História Oral – Resistências: América Latina / Tempo e Argumento / 2015

Se a história é mais que um baú de curiosidades sobre o passado, pois tem como tarefa articulá‐lo em função dos problemas e das demandas colocados pelos sujeitos na atualidade, a revista Tempo e Argumento busca cumprir essa função em suas edições.

Em 2015, trouxe a público os dossiês “Infância en la historia del tiempo presente”, “Narrativas e escritas de si”, e apresenta, nesta edição, o tema “História oral e resistências na América Latina”.

Dando continuidade ao competente trabalho realizado pela Equipe Editorial da FAED / UDESC e destacando o esforço concentrado do Colegiado do PPGH / UDESC na ação de integrar o crescente processo de internacionalização da divulgação acadêmica na área de História do Tempo Presente, esta edição vem inteiramente em formato bilíngue. Em específico, esta publicação reúne trabalhos de conceituados pesquisadores da América Latina, sinalizando para a emergência de pensarmos as lutas, as experiências e as resistências ao longo da história.

Os 8 artigos reunidos neste dossiê relacionam‐se ainda com comunicações apresentadas no II Seminário Internacional de História do Tempo Presente, atividade promovida pelo PPGH / UDESC e desenvolvida nos dias 13 a 15 de outubro de 2014, a partir da mediação do Prof. Dr. Luiz Felipe Falcão, como organizador do dossiê, junto a membros da CLACSO (Conselho Latino‐Americano de Ciências Sociais).

Como resultado desta articulação, o leitor terá condições de conhecer a atuação dos sindicatos dos trabalhadores em usinas nucleares, nas mineradoras e na indústria metalúrgica no México, no texto em coautoria de Gerardo Necoechea Gracia (Escuela Nacional de Antropología e Historia, México) e Patricia Pensado Leglise (Instituto de Investigaciones Dr. José María Luis Mora, México); o nascimento e desenvolvimento da esquerda revolucionária chilena, no trabalho de Igor Goicovic Donoso (Universidad de Santiago de Chile); os rumos e novas formas de atuação dos movimentos de esquerda no Brasil e as respectivas memórias relacionadas às militâncias e às organizações no passado, na reflexão de Luiz Felipe Falcão (Universidade do Estado de Santa Catarina, Brasil); a trajetória histórica do surgimento e dos novos contornos da esquerda colombiana entre 1958 e 2010, na coautoria de Mauricio Archila (Universidad Nacional de Colombia) e Jorge Cote (Universidad Nacional de Colombia); a relação dos movimentos guerrilheiros argentinos e a mobilização popular correspondente, no trabalho de Pablo Alejandro Pozzi (Universidad de Buenos Aires, Argentina); o papel da imprensa na fabricação de rumores como estratégia de desarticulação de organizações insurgentes durante os anos de 1970, por Alicia de los Ríos Merino (Escuela Nacional de Antropología e Historia); a trajetória do Partido Comunista chileno na luta contra o fascismo, no contexto da década de 1970, na autoria de Claudio Pérez Silva (Universidad de Santiago de Chile); e, finalizando o dossiê, o debate travado por volta de 1970 entre duas organizações armadas existentes na Argentina, com destaque para suas respectivas concepções sobre classes sociais, ideologia e a questão nacional, na contribuição de Esteban Campos (Universidad de Buenos Aires, Argentina).

No que diz respeito aos 2 artigos de demanda contínua, destacamos a importância das reflexões acerca de novas experiências no ensino de história no programa de história oral “Barakaldo ayer”: no primeiro texto, de autoria conjunta de Alex Ibañez‐Etxeberria, Iratxe Gillate e José María Madariaga (Universidad del Pais Vasco, Espanha), que se refere especialmente ao uso da metodologia da história oral como recurso de ensino e aprendizagem da história mineiro‐industrial na Espanha no Tempo Presente. Na sequência, apresentamos o artigo de Juliana Sayuri Ogassawara (Universidade de São Paulo), como proposta de reflexão sobre as relações estabelecidas entre os intelectuais franceses e argentinos na fundação do periódico Le Monde Diplomatique, na Argentina.

A resenha intitulada Da Organização das Nações apresenta o livro L’incendie planétaire. Que fait l’ONU?, na análise realizada por Daniel Afonso da Silva (Universidade de São Paulo) quanto ao posicionamento assumido pelo autor e diplomata francês Alain Dejammet quando avalia a atuação da ONU no que diz respeito a situações de conflito no cenário internacional, em meio às comemorações dos 70 anos da instituição.

Na sessão Entrevistas, trazemos a público 2 depoimentos, que consistem em relato de experiência profissional e atuação pública. O primeiro, mediante entrevista feita pelo Prof. Robson Laverdi (Universidade Estadual de Ponta Grossa), revela a atividade do Professor Diego Sempol, identificando sua percepção acerca da ditadura, do matrimônio igualitário, da teoria e demais lutas LGBT no Uruguai. Segue‐se a fala do Prof. Dilton Cândido Santos Maynard (Universidade Federal de Sergipe), com destaque para as práticas e perspectivas de abordagem sobre a História do Tempo Presente, em entrevista dada aos doutorandos Daniel Alves Boeira e Felipe Salvador Weissheimer (Universidade do Estado de Santa Catarina).

Vale ressaltar que nesta edição se altera a direção editorial da revista Tempo e Argumento. Apresentamos nosso agradecimento pelo voto de confiança do Colegiado do Programa de Pós‐Graduação em História da UDESC, bem como às colegas que nos antecederam na revista: Prof.as Luciana Rossato e Maria Teresa Santos Cunha. Encontramos a revista em excelentes condições, já consolidada e fortalecida no meio acadêmico, reconhecida nacional e internacionalmente. Grande responsabilidade para nós, mas também um desafio hercúleo em razão das novas políticas instituídas pelas agências de fomento no processo de avaliação e de financiamento de periódicos científicos no Brasil.

Finalizando, estendemos o agradecimento aos autores que contribuíram com a revista, em especial nesta edição. Esperamos que a participação de colegas pesquisadores / as de diferentes nacionalidades possam se somar a esta experiência na divulgação científica e no seu compartilhamento. Afinal, é aos leitores que a revista se dirige. Boa leitura a todos e a todas!

Márcia Ramos de Oliveira

Rogério Rosa Rodrigues

Editores‐Chefes


OLIVEIRA, Márcia Ramos de; RODRIGUES, Rogério Rosa. Editorial. Tempo e Argumento, Florianópolis, v.7, n.16, 2015. Acessar publicação original [DR]

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