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Représentations des Noir(e)s dans les pratiques discursives et culturelles em Caraïbes | Victorien Lavou Zoungbo
A obra Représentations des Noir(e)s dans les pratiques discursives et culturelles en Caraïbes editado por Victorien Lavou Zoungbo, Coordenador do Grupo de Etudes sur lês Noirs d´Amérique Latine (GRENAL), editada no ano de 2006 em Perpignan, France, reúne vários autores com artigos sobre os negros como sujeitos históricos em Cuba, Costa Rica, Colômbia, México, Argentina e Brasil. No prólogo o editor destaca as dificuldades para escrever sobre representações negras quando existem estereótipos, ideologias que dominam esses discursos. A análise dos autores que trabalham com a temática passa pela desconstrução dos discursos, transformando-se em um complicador para o especialista.
Nos primeiros quatro artigos da coletânea, três desenvolvem suas idéias em torno ao conceito transculturação de Fernando Ortiz.
A cubana Nancy Morejón defende a atualidade do conceito em “Para una poética de los altares”, no entanto, este é criticado pelas autoras Danielle Ada Ondo em “De la transculturation dans Paradiso de José Lezama Lima et dans Lês três tristes tigres de Guillermo Cabrera Infante” e Amandine Semat em: ”Identities dans la Caraïbe, transculturation et creolisation: Points de repére”. Apoiados nos ensaios e conceitos de Edouard Glissant, as autoras assinalam o caráter fixo do conceito transculturação e sua familiaridade com um outro conceito muito criticado na obra, mestiçagem.
Este último tem servido para ocultar a historicidade do negro e também para mascarar as teorias do branqueamento, O artigo de Victorien Lavou Zoungbo, ”Représentations identitaires e creolisation en Caraïbe” questiona as construções do Caribe pelos latinoamericanistas brancos que procuram ocultar a presença histórica do negro. Destaca o conceito crioulização face a mestiçagem e crioulidade. Para o autor este conceito permite estudar a relação afastando-se dos enfoques generalizantes e extremos, tanto o da latinidade quanto o da negritude. Faltou, porém, explicitar melhor esta questão tão debatida e que resulta de grande interesse para o Brasil, cuja identidade caribenha é reconhecida por todos os autores do volume. A neo América, sustantivo utilizado por Glissant, é a Afro América ou o Caribe, que abrange Brasil, as Guianas, Colômbia, Venezuela, uma grande parte de América Central e de México, sul de Estados Unidos, além das ilhas.
Cinco artigos estudam o espaço do negro em Costa Rica: “Sur le ritme d´ un calypso, analyse du roman Calypso de la costariciense Tatiana Lobo (1996)” de Brigitte Robert; “Manuels scolaires de lecture au Costa Rica: pratiques et enjeux de la représentation dês Noir(e)s”, de Marlene Marty; “Los cuatro espejos de Quince Duncan et Limon blues d´Ana Cristina Rossi ou une double recherche identitaire dês noirs constariciens” de Mariannick Guennec; “Medición com referencia a normas: declaracion pública de un naufrágio educativo” de Lady Meléndez Rodríguez e “Limon blues: Uma novela de Ana Cristina Rossi” de Iván Molina Jiménez. Todos estes artigos recriam a ausência dos negros de Limón, Costa Rica, na literatura e ne historiografia. Alguns estudam o papel da educação formal no processo de estigmatização, na marginalização e na reprodução da pobreza nestas comunidades caribenhas. Mais grave ainda, é a submissão destas populações à violência simbólica imposta pelo estado através da educação formal. Não é aceita pela escola pública a língua creole materna e que é a única usada para a comunicação nas comunidades negras de Limón. Outros autores estudam através de alguns romances históricos, a situação de exclusão dos negros, carentes de direitos cidadãos. Outro aspecto contido nos estudos citados é a invisibilidade a que ficam submetidos os povos que morão na região quando apenas se estuda a geografia da costa Atlântica de Costa Rica nos textos escolares.
Outros dois artigos estudam o Haiti desde visões diferentes.
O primeiro de Sabine Manigat “Se nommer, se qualificar-affirmation et alienation dans parler em Haiti une lecture historique” e ‘Le noir haitien dans la societé dominicain: l´exemplo da “Corte” de Milka Valentin-Humbert. Os conceitos negro e haitiano, segundo as autoras, têm servido de mola unificadora e de agente de ocultação da diferenciação no Haití. As definições em base a cor da pele, no Haiti, são eminentemente políticas porque marcaram as representações sociais. As imagens e a linguagem traduzem também a imagem auto-degradante que os discursos nascidos no Haiti, durante a luta pela independência, tentaram destruir. Essas permanências estão relacionadas às representações degradantes do negro, criadas no vizinho país, vinculando raça e nação. Os dominicanos negam qualquer herança africana na sua formação. Por sua parte, o trabalhador haitiano internalizou que o fenótipo predispõe a exploração, sem atender à presença de profundas diferenças sociais entre os haitianos, sejam de uma ou outra cor.
Juliette Smeralda em “L´interculturalidade comme strategia d´ascension sócio racial: l´exemplo du choix de partenaire féminin de l´homme noir” relaciona a criação das construções da inferioridade do negro ao colonialismo A presença das culturas afros em dois carnavais o de Barranquilla (Colômbia) e o de Salvador (Brasil) evocam os quilombos e a religiosidade, segundo as autoras Martha Lizcano e Joseania de Freitas no artigo “Afro carnaval no Caribe: Barranquilla (Colombia) e Salvador (Brasil)”; Rafael Perechalá Alumá no artigo “La salsa: síntesis de la música afroamericana” resgata a afroamericanidade do ritmo e atribui sua decadência aos controles exercidos por alguns grupos no exílio cubano. Em “Afromexicanité: quelques pieste pour une nouvelle lecture dês identités au Méxique” Sébastien Lefevre se utiliza do conceito traços-memória de Glissant para abordar a presença afro nas comunidades de Costa Chica no México. Entretando, o autor rejeita a idéia de um novo resultado, uma outra cultura, a mestiça responsável da invisibilidade das culturas afros. A leitura do romance “El interprete: sous lê signe du blanc et du noir” permite a Maryse Renaud-Mai penetrar no estudo das relações raciais na Argentina do século XIX e da herança negra que vislumbra-se não apenas no tango. A peculiaridade da discriminação racial no Brasil é estudada no artigo “Violência racial a subjetividade em discussão” de Nara Corte Andrade e Marcus Vinicius de Oliveira Silva.
E por último a maneira de épilogo, uma argumentada crítica ao antropólogo cubano Fernando Ortiz e ao seu conceito culinário ajiaco é desenvolvida por Victorien Lavou Zoungbo no artigo “Metaphore culinaire et discours sur l’ìdentité em Caraibe, um ethnocentrisme naturalisé. Lê cãs de F Ortiz à Cuba. Um état de la reflexion du GRENAL (instituição que agrupa a estudiosos sobre a temática afro americana.).
A obra no seu conjunto é de indispensável consulta para os estudiosos das temáticas afroamericanas.
Olga Cabrera
LAVOU ZOUNGBO, Victorien. (Ed.) Représentations des Noir(e)s dans les pratiques discursives et culturelles em Caraïbes. Perpignan: GRILAUP – Presses Universitaires de Perpingan, 2006. Resenha de: CABRERA, Olga. Revista Brasileira do Caribe, São Luís, v.7, n.13, jul./dez., p.289-292, 2006. Acessar publicação original. [IF]