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Religiosidade, formas de poder e usos do passado: perspectivas integradoras de abordagem do Mediterrâneo Antigo/Revista de História da UEG/2023
Apresentação
A escrita da História da Antiguidade tem buscado superar barreiras contíguas às do campo do conhecimento científico da História. Superar categorias eurocêntricas que buscavam justificar os nacionalismos e legitimar a empreitada racionalista da modernidade, no século XVIII à primeira metade do século XX. Desde a década de oitenta do século passado foi proposto um recorte que busca analisar as conexões e ressignificações a partir do Mediterrâneo. Entretanto, essa nova postura tem gerado amplo debate acadêmico e ainda não repercutiu no ambiente acadêmico e escolar. Nesse sentido esse dossiê tem o objetivo de analisar as diversas manifestações religiosas no mediterrâneo. Para isso é importante descontruir perspectivas atuais que turvaram a análise dessas sociedades, sobretudo dentro dos estudos históricos sobre religião e a começar pela substituição de “religião” por “religiosidades”. Deste modo, partimos de G.W Bowersock (Hellenism in Late Antiquity, 1990, p. 15) e sua afirmação de que nem cristãos ou judeus detiveram o monopólio da crença no sagrado durante a antiguidade: existiam devoções diferentes. Nesse sentido, compartilhamos com Daniel Boyarin (Border lines, 2007, p. 30-56), que à noção de religião atual, é uma categoria que surge com o cristianismo, o que não implica a inexistência de elementos religiosos nas culturas. Para se firmar como religião, os Cristianismos precisaram demarcar as diferenças religiosas, criando assim as falsas religiões. Mark Humphries para o Blackwell’s Companion to Ancient History (2012, p. 309-311), argumenta que: devemos evitar a racionalização pejorativa e preconceituosamente moderna que simplifica as performances e os rituais religiosos entre os antigos como supersticiosos, infantis ou manipulações das elites de uma época. Ela também ressalta a diversidade da experiência religiosa entre os antigos, sua pluralidade e seu sincretismo característicos. Nos interessa compreender como as memórias e as experiências diversamente documentadas desse passado histórico são vividas, significadas, de quais maneiras podem se vincular às formas como o poder é exercido, seja em cidades-estados, impérios, comunidades provinciais, regiões de fronteira ou em todos esses loci ao mesmo tempo. Esses múltiplos contatos, permitidos por uma rede de conectividade presente desde a Idade do Bronze, também designou novos sentidos a traços culturais já consagrados em determinadas culturas. Leia Mais