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Religiosidade, formas de poder e usos do passado: perspectivas integradoras de abordagem do Mediterrâneo Antigo/Revista de História da UEG/2023
Apresentação
A escrita da História da Antiguidade tem buscado superar barreiras contíguas às do campo do conhecimento científico da História. Superar categorias eurocêntricas que buscavam justificar os nacionalismos e legitimar a empreitada racionalista da modernidade, no século XVIII à primeira metade do século XX. Desde a década de oitenta do século passado foi proposto um recorte que busca analisar as conexões e ressignificações a partir do Mediterrâneo. Entretanto, essa nova postura tem gerado amplo debate acadêmico e ainda não repercutiu no ambiente acadêmico e escolar. Nesse sentido esse dossiê tem o objetivo de analisar as diversas manifestações religiosas no mediterrâneo. Para isso é importante descontruir perspectivas atuais que turvaram a análise dessas sociedades, sobretudo dentro dos estudos históricos sobre religião e a começar pela substituição de “religião” por “religiosidades”. Deste modo, partimos de G.W Bowersock (Hellenism in Late Antiquity, 1990, p. 15) e sua afirmação de que nem cristãos ou judeus detiveram o monopólio da crença no sagrado durante a antiguidade: existiam devoções diferentes. Nesse sentido, compartilhamos com Daniel Boyarin (Border lines, 2007, p. 30-56), que à noção de religião atual, é uma categoria que surge com o cristianismo, o que não implica a inexistência de elementos religiosos nas culturas. Para se firmar como religião, os Cristianismos precisaram demarcar as diferenças religiosas, criando assim as falsas religiões. Mark Humphries para o Blackwell’s Companion to Ancient History (2012, p. 309-311), argumenta que: devemos evitar a racionalização pejorativa e preconceituosamente moderna que simplifica as performances e os rituais religiosos entre os antigos como supersticiosos, infantis ou manipulações das elites de uma época. Ela também ressalta a diversidade da experiência religiosa entre os antigos, sua pluralidade e seu sincretismo característicos. Nos interessa compreender como as memórias e as experiências diversamente documentadas desse passado histórico são vividas, significadas, de quais maneiras podem se vincular às formas como o poder é exercido, seja em cidades-estados, impérios, comunidades provinciais, regiões de fronteira ou em todos esses loci ao mesmo tempo. Esses múltiplos contatos, permitidos por uma rede de conectividade presente desde a Idade do Bronze, também designou novos sentidos a traços culturais já consagrados em determinadas culturas. Leia Mais
Religiões e religiosidades na Amazônia: dinamismo e resistências | Canoa do Tempo | 2022
O estudo das religiões e religiosidades têm ganhado novo fôlego no Brasil. Frustradas asteses da secularização, cresceu sobremaneira em todo o país o interesse pelo religioso e nos ambientes universitários, progressivamente, se organizam novos grupos, laboratórios e linhas de pesquisa. De modo geral, os muitos “reavivamentos” serviram também para gestar novas gerações de estudiosos da religião e com elas novos problemas teórico-metodológicos e novos objetos têm emergido.
Esse movimento, ainda tímido na Amazônia, parece estar ganhando forma e apenas isso já justificaria este dossiê.3 Mas vale lembrar também que aqui, como em outros lugares da América Latina, o panorama religioso tem mudado (e num ritmo cada vez mais acelerado),4 não raro encenando tensões entre os interiores do país e as grandes cidades e capitais, entre tradições e modernidades5 : com a força ainda muito atuante do catolicismo (em suas formas populares e no apelo renovado a uma teologia crítica), além da afirmação (muito recente, mas nada insignificante) das religiões afroindígenas, das tradições ayahuasqueiras e até mesmo dos kardecistas. E mesmo diante do crescimento dos evangélicos (sobretudo pentecostais), outras epistemologias têm entrado em cena, adensando, em meio aos “sopros do espírito” e “rumores de anjos”, algumas leituras problematizadoras da força das religiões e religiosidades na esfera pública e na vida privada das pessoas.6 Leia Mais
Os saberes dos povos e a desconstrução: Religiosidade, Natureza e Cultura | Abatirá | 2021
Jacques Derrida foi um filósofo nascido na encruza, uma encruzilhada chamada Magrebe, entre norte e sul, entre ocidente e oriente. Derrida, um pied noir, como chamavam os franceses aos africanos do norte, um pé-preto, judeu-árabe, mas nem judeu nem árabe completamente, muito branco pra ser Africano, mas muito preto pra ser Europeu, ele vem desse lugar, se assenta nesse lugar e sustenta que só nesse lugar de cruzos se pode pensar. Desse estranho lugar nasce “essa estranha instituição chamada filosofia”: seja na encruzilhada que foi a Grécia Antiga, antes de ser pretensamente purificada pelos alemães do século XIX, seja na encruzilhada que foi o Egito, seja aqui nas nossas esquinas das Américas.
Quando esteve no Brasil para a última conferência que daria em vida, em agosto de 2004 4, Derrida nos pede que deixemos de lado certas picuinhas filosóficas, herdadas da Europa como “os grandes problemas da filosofia”, para pensarmos nossas questões. Acreditava ele que alguns de seus textos poderiam nos ajudar, não como “método” para ser aplicado, nem como modelo, mas, talvez, como inspiração para que cada um possa pensar suas questões desde e a partir de seu chão, que não é nenhuma espécie de fundamento, nem lugar determinado. Leia Mais
História e Multidisciplinariedade nos estudos da religião e religiosidades / Tempo Amazônico / 2019
O campo dos estudos da religião no Brasil tem crescido e se organizado nas últimas décadas, como demonstram a autonomização da área de Teologia e Estudos da Religião e o fortalecimento de programas de pós-graduação, de associações e de revistas diretamente ligadas às pesquisas sobre religiões e religiosidades. Os mais importantes autores, que subsidiam as discussões em nível internacional, já foram ou estão sendo traduzidos e o acumulado de reflexão já nos permite incluir autores brasileiros como referências em vários debates atuais.
Durante um bom tempo, a História (como disciplina) esteve a reboque desses avanços, com abordagens, métodos e fontes ainda muito tradicionais. Hoje, mais francamente abertos às construções interdisciplinares, os historiadores têm se integrado nesse debate e, com eles, muitas Revistas de História (das mais diferentes instituições e colorações) têm dado suas contribuições, especialmente através de dossiês. Interessante, porque nesses casos, mais do que atrair leitores e autores de outras áreas, temos, nós mesmos, nos aproximado das epistemologias e metodologias das humanidades, das artes, da comunicação. Daí termos optado aqui pelo termo multidisciplinaridade, já que ele sugere que cada qual, do seu ponto de vista disciplinar, pode colaborar para a construção de olhares sempre mais perspicazes sobre um determinado objeto – nesse caso, as religiões e religiosidades.
Uma prática ecumênica, que parte tanto da crítica da compartimentação do saber científico quanto das possíveis recomposições em curso, no sentido de produzir inclusive pesquisas com maior relevância acadêmica e social. Um convite à reflexão e ao diálogo, que agrega mais sabor e inventividade à produção do conhecimento histórico.
Foi nessa perspectiva que propusemos esse dossiê e que acolhemos, com alegria, os textos que o compõem. Eles foram organizados de modo que, no todo, o leitor caminhe de discussões mais teóricas para os trabalhos mais empíricos. E entre esses últimos há uma ordem cronológica. Isso não impede, é claro, que se leia apenas um artigo ou que eles sejam lidos aleatoriamente.
O primeiro artigo, de autoria de Alexsandro Melo Medeiros, trata de como Henri Bergson elabora, em sua obra, “o misticismo como uma forma de abordar, experimentalmente, o problema da existência de Deus”. É uma contribuição do campo da filosofia, mas que tem tudo a ver com os debates atuais sobre história da espiritualidade. Como aponta o autor “a teoria evolucionista bergsoniana, que encontramos amplamente esboçada em sua obra A Evolução Criadora é retomada em sua obra As Duas Fontes da Moral e da Religião que amplia a aprofunda a concepção do filósofo a respeito de como o homem pode se colocar em contato com a energia criadora da vida através da experiência religiosa testemunhada pelos místicos das mais diferentes religiões”.
Em seguida, Paulo Vitor Giraldi Pires nos traz um olhar sobre “a religião como interdisciplinaridade da comunicação”, apresentando algumas “aproximações teóricas” possíveis, sobretudo a partir da análise do caso da Igreja Católica nos anos pós-conciliares. O artigo discute um momento no qual a religião entrou em diálogo cada vez mais estreito com o mundo moderno, o que no campo da comunicação implicou em uma aproximação (interdisciplinar) dos estudos científicos sobre os temas comunicacionais, seja com finalidades pastorais ou mesmo acadêmicas.
Um debate entre dois autores bastante atuais – Pierre Bourdieu e Boaventura de Sousa Santos – emerge no artigo de Vitor Hugo Rinaldini Guidotti, intitulado “Teologia hegemônica e contra-hegemônica no campo religioso: breve reflexão sobre as (im)possibilidades em Direitos Humanos”. Ao explorar tanto o conceito de campo religioso do primeiro quanto a leitura crítica da universalidade dos Direitos Humanos do segundo, o autor nos apresenta as possibilidades de que “teologias progressistas, mesmo que colocadas num campo religioso fortemente hostil, podem contribuir para a elaboração de uma nova concepção de direitos humanos, excluindo da base epistemológica desse conceito os interesses econômicos neoliberais, a arrogância científica e a influência das religiões dominantes e reelaborando a partir de uma composição múltipla de saberes, sejam eles seculares ou religiosos”.
Na mesma perspectiva, Diego Omar da Silveira aponta as interconexões possíveis entre “História, Antropologia e Sociologia na compreensão das dinâmicas sociorreligiosas contemporâneas no médio-baixo Amazonas”. Partindo dos estudos culturais, e debruçando-se sobre a contribuição de três autores que são presenças constantes em cursos de teoria antropológica (Erving Goffman, Pierre Bourdieu e Arjun Appadurai), o texto discute a validades dos conceitos operados por esses clássicos (alguns bastante recentes) para analisar as relações entre a religião, a sociedade e a cultura. Longe de uma aplicação automática, o que se propõe é que os conceitos sejam tomados como chaves que permitem problematizar as relações e transformações atuais, ativando assim diferentes fontes e modalidade de olhar para um campo que não cessa de se modificar.
O artigo de Karla D. Martins – “O Apóstolo da Amazônia: D. Macedo Costa e uma versão do ultramontanismo na Província do Pará entre 1861 e 1890” – está mais estritamente no campo da História e disseca, na medida do possível, o quanto esse eclesiástico, que se tornou marcante em seu tempo, foi um homem que “amou, sofreu, irritou-se e se entregou ao trabalho missionário na vasta região amazônica onde viveu a maior parte de sua vida”. As várias dimensões do bispo (“devoto, erudito e leitor de clássicos”) servem assim para elucidar seus “projetos sociais e religiosos”.
João Everton da Cruz, por sua vez, propõe uma leitura transversal do Conselheiro, numa linhagem inaugurada pelo padre Ibiapina e que se estende até o monge Marcelo Barros – “Um Conselheiro do nosso tempo”. Os traços em comum emergiriam da fé popular em um “orientador, mestre e guia, (…) pessoa aonde residiria muita sabedoria. Não somente a sabedoria familiar, transmitida de geração em geração, mas também a sabedoria dos ancestrais, à qual poucas pessoas têm acesso”.
Por fim, Eduardo Gusmão de Quadros e Leksel Nazareno Resende nos trazem uma muito sugestiva análise das imbricações entre “Juventude protestante e musicalidade” por meio de “um estudo sobre os modos de apropriação da MPB durante o final da década de setenta”. O grupo a que se referem é o “Vencedores por Cristo, criado pelo missionário norte-americano Jaime Kemp, em 1968” e que, para além dos hinários tradicionais, encabeçaram uma “proposta radical de musicalidade cristã: usar ritmos e temas brasileiros para dialogar mais profundamente com a cultura brasileira”. Segundo os autores, “a ousadia teve forte oposição dos mais conservadores dentro das instituições, contrabalanceada pela boa aceitação entre a juventude evangélica que passou a produzir e a consumir tal repertório. Muitos que dedicaram a vida a tal proposta acabaram por alterar o jeito de ser evangélico no Brasil”.
Para além do dossiê, a revista traz, ainda, as contribuições de temática livre, fruto de diferentes pesquisas de pós-graduação e que muito têm colaborado para o tipo de trabalho que temos realizado na Tempo Amazônico, qual seja o de estimular o debate acadêmico e historiográfico de forma mais ampla possível, possibilitando a divulgação de pesquisas originais sobre diferentes temas e assuntos, sobretudo os amazônicos.
Desejamos a todos uma boa leitura.
Diego Omar da Silveira (Universidade do Estado do Amazonas)
SILVEIRA, Diego Omar da. Apresentação. Tempo Amazônico, Macapá, v.6, n.2, 2019. Acessar publicação original [DR]
Expressões das Religiões e Religiosidades no Mundo / Tempo Amazônico / 2019
Mesmo que a afirmação possa parecer, por um lado, um tanto presumida, e, por outro, um tanto limitada, cremos que o fenômeno religioso, ao longo da vida social, em momentos distintos e sob o domínio de paradigmas diversos, afirmou-se sempre como uma questão presente na história da humanidade. Como aprendemos, desde os primeiros contatos com a pesquisa, a sistemática incursão no universo mitológico durkleimiano na busca das formas elementares da vida religiosa, pelo qual emerge uma proposta de pensamento mágico, religioso e cientifico, já sinalizando para uma longa discussão sociológica a respeito das representações religiosas. De fato, a intensificação do fenômeno religioso tem influenciado os rumos dos países, organismos internacionais e na subjetividade humana. Intelectuais diziam que com o avanço da ciência e da racionalidade humana substituiriam o papel das religiões e religiosos tenderiam na humanidade. Notamos que não foi bem assim. As religiões e religiosidades possuem a capacidade de mutação e estão mais vivas do que nunca entre as pessoas.
O presente dossiê rotulado “Expressões das Religiões e Religiosidades no Mundo” reúne textos importantíssimo que refletem sobre a presença das manifestações religiosas na atualidade. A organização deste número coube aos docentes Dra. Maria da Conceição Cordeiro da Silva e Dr. Marcos Vinicius de Freitas Reis. Ambos membros do Centro de Estudos de Religião, Religiosidades e Políticas Públicas da Universidade Federal do Amapá.
O primeiro texto de autoria do docente da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul André Dioney Fonseca contribui com o texto “Lectio Divina: Práticas de Leitura e Catequese na Paróquia Cristo Libertador, da Cidade de Santarém – Pará (2011-2015)”. O autor debate as práticas religiosas oracionais da Igreja Católica em Santarém e suas estratégias de catequização.
O segundo texto escrito por José Augusto Oliveira Dias chamado “Pentecostalismo e Pessoas em Situação de Rua: Uma Narrativa Analítica Critica Desta Relação no Bairro do Jurunas – Belém do Pará”. Sabemos que os evangélicos é o grupo religioso que mais cresce no Brasil. Uma das estratégias para sua expansão são os trabalhos assistencialistas com as pessoas carentes. O autor discute as estratégias proselitistas por meio do trabalho social com moradores de rua desenvolvida por segmentos do universo evangélico em Belém – Paraá
A doutoranda Érika Vital Pedreira contribui neste número com resultados parciais da sua tese de doutoramento. O título do artigo é “O Triplismo nas Inscrições Epigráficas das Martres da Hispania Romana”. A referida autor tem por objetivo pensar a partir das inscrições epigráficas de devoção às divindades conhecidas como Deae Matres ali produzidas, o sentido religioso e social para esta sociedade.
O Professor do Curso de Administração da Universidade Federal do Amapá, o Dr. Alexandre Gomes Galindo contribui com o trabalho “Reflexões Sobre a Maçonaria Contemporânea e Alguns de seus Desafios: Mulher, o Uso das Redes Sociais, Laicidade e Ladmarks”. O trabalho tem o desafio de pensar o uso das redes sociais pela Maçonaria questões sobre as mulheres e a laicidade no tempo atual. O trabalho intitulado “Fronteiras Fluidas, Religiosidades e os Desafios Contemporâneos” de autoria da pesquisadora Geórgia Pereira Lima. A ideia é pensar as fronteiras simbólicas e culturais da religiosidade popular na Fronteira do Brasil – Peru e Bolívia.
Os historiadores Milena Maria de Sousa Silva e Ipojucan Dias Campos discutem a questão das curas e milagres ocorridos no catolicismo popular. Sabemos que muitos conhecimentos são mantidos a geração entre famílias e comunidades populares no interior do Brasil. Muitas pessoas recorrem a pessoas que detém estes conhecimentos com o objetivo de cuidar de suas saúde. O texto é denominado “Percepção Oriental e Medicina Popular: Paradigma na Promoção da Saúde em Práticas Católicas”
O estudioso João Everton da Cruz com o trabalho “Um Conselheiro de Nosso Tempo” discute os conselheiros que existem no catolicismo popular nordestino. Muitas pessoas procuram líderes comunitários em busca de respostas para seus problemas cotidianos.
A questão do ensino religioso está presente neste dossiê. Sabemos da importância do estudo das questões religiosas e das religiosidades no contexto escolar. O artigo defende a ideia de um ensino laico, plural e não confessional a partir dos referencias da Ciência da Religião. Os autores são: Maria José Torres Holmes, Harry Carvalho da Silveira Neto e Lusival Antônio Barcellos e o trabalho chamado “A Identidade Pedagógica do Ensino Religioso: No Currículo do Ensino Fundamental”.
Os pesquisadores Ruidnilson Pereira Cardoso e Rafael Parente Ferreira Dias contribuem com o texto “O Caminho Para a Felicidade Segundo Siddharta Gautama”. Texto de cunho filosófico que debate os ensinamentos do líder religioso citado no título do texto.
O estudioso Raylinn Barros da Silva com o texto “Escola, Catequese e Formação de Professores: Os Missionários Orionitas e a Catolicização do Antigo Extremo Norte de Goiás por Intermédio da Educação (1950-1960)”, debate como a formação dos professores em Goiás é influenciado pelas questões católicas locais.
As questões africanas estão representadas neste número pela discussão de como a dança africana deve e como pode ser ensinada nas escolas públicas e privadas a partir das diretrizes da LEI Nº 10.639 / 2003. Os autores deste trabalho são: Bianca Cristina Alencar de Azevedo e Rosangela Siqueira da Silva chamado “A Dança Afro e a Implementação da Lei Nº 10.639 / 2003.
Os pesquisadores Rodrigo Reis Lastra Cid, Afrânio Patrocínio e Marlon Viana de Almeida Junior contribuem com o texto “As Garrafadas Amazônicas de Santana – AP”. O trabalho realizou entrevistas com alguns curandeiros do município de Santana e catalogou as suas práticas de receitas de garrafadas.
Na sessão de artigos livres o trabalho dos intelectuais Isis Tatiane da Silva dos Santos e David Junior de Souza Silva intitulados “Políticas Públicas de Reconhecimento de Saberes Tradicionais no Amapá: o PDSA”. A ideia do artigo é pensar a formulação e a implementação das políticas públicas no Estado do Amapá dos Saberes Tradicionais das pessoas localmente.
A professora da Universidade Federal do Amapá Inajara Amanda Fonseca Viana com o texto denominado “Caminhos para o Desenvolvimento do Estado do Amapá, a partir da Percepção Cientifica: mapeamento das dissertações do Mestrado em Desenvolvimento Regional da UNIFAP, no período de 2010 a 2014”. A autora fez o levantamento das dissertações do referido programa para saber quais os temas estão sendo discutidos e qual perspectivas, e seus impactos na sociedade amapaense.
Os pesquisadores Maria Veramoni de Araújo Coutinho e Antônio Rafael Amaro com o texto “O Mau-Estar da Civilização: A Crise Social e Ambiental”, debatem de forma profunda as questões de crise social e ambiental no Brasil e no mundo.
E para finalizar este número a aluna do Curso de Mestrado Profissional em Ensino de História Wanda Maria de Sousa Borges Filha com o trabalho “Reflexões sobre as Teorias PósColoniais, Decoloniais e Epistemologias do Sul e suas Contribuições no Combate ao Pensamento Hegemônico Eurocentrista”, discute de forma teórica como o pensamento decolonial faz criticas ao projeto colonizador europeu.
Maria da Conceição Cordeiro da Silva (UNIFAP)
Marcos Vinicius de Freitas Reis (UNIFAP)
SILVA, Maria da Conceição Cordeiro da; REIS, Marcos Vinicius de Freitas. Apresentação. Tempo Amazônico, Macapá, v.7, n.1, 2019. Acessar publicação original [DR]
Religiões, Religiosidades e Patrimônio Cultural / Revista Brasileira de História das Religiões / 2016
Caro leitor,
É com imensa satisfação que apresentamos essa nova edição da Revista Brasileira de História das Religiões, com a Chamada Temática Religiões, Religiosidades e Patrimônio Cultural.
Investigações que relacionam tais temas têm ocupado, cada vez mais, as preocupações dos pesquisadores, de gestores públicos e técnicos da área da cultura. Há uma evidente relação entre o fenômeno religioso e os processos de patrimonialização. Prova disso são os importantes acervos de bens protegidos pelos diversos órgãos gestores do patrimônio no Brasil e no mundo, os quais obtiveram tal status em virtude da teia de significados religiosos na qual se constituem templos sagrados, lugares, formas de expressão, celebrações, entre outros aspectos, compondo uma plêiade de referências que atuam na organização narrativa de subjetividades e identidades. Ressalta-se que numa perspectiva mais ampla do que pode ser entendido como patrimônio cultural, os dispositivos discursivos remetem às imbricações de elementos materiais e imateriais tanto para a atribuição de valores a bens culturais quanto para a definição de políticas de proteção.
Em consonância com essas questões, o campo de investigação histórica das religiões e religiosidade tem, cada vez mais, diversificado seus problemas e suas fontes de pesquisa. Portanto, a aproximação dessas duas áreas exige olhares cada vez mais atentos e críticos. Dizemos isto, pois entendemos que ainda somos partícipes de uma lógica racional analítica, a qual privilegia, grosso-modo, a decomposição da realidade em partes, a fim de, supostamente, melhor “controlar” o objeto investigado e as informações provenientes do mesmo, perdendo com isso aspectos importantes das relacionalidades existentes nos interstícios dos blocos analíticos.
Isto ganha sentido quando consideramos que vivemos num tempo em que as relações entre fé e razão, materialidade e imaterialidade, ciência e religião e práticas religiosas e políticas não podem mais ser concebidas em termos dicotômicos e excludentes. As intolerâncias e os preconceitos, base de fundamentalismos e exclusão social, desafiam, em várias escalas, os direitos humanos na contemporaneidade.
Nessa mesma vertente, a edição conta ainda com sete artigos que versam sobre temáticas gerais nos estudos das religiões e religiodades e uma resenha.
Desejamos a todos uma boa leitura!
Gerson Machado
Organizador da Chamada Temática
MACHADO, Gerson. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.8, n.24, jan. / abril, 2016. Acessar publicação original [DR]
Entre o Sagrado e o Profano: Imaginário e Religiosidade no Mundo Celta e Germânico / Brathair / 2014
É comum, entre os pensadores contemporâneos, atribuir à Pós-Modernidade um predicado concebido pelo sociólogo Zygmunt Bauman: trata-se, na verdade, de uma “modernidade líquida”. Não é difícil, com efeito, perceber um movimento tenso, intermitente, mas contumaz, de desconstrução de convenções simbólicas, crenças, ideologias e utopias, que Bauman bem caracteriza como liquefação de sentidos. Neste quadro hodierno, não se pode ignorar que as religiões – não apenas as doutrinas corporificadas em sistemas teológicos e igrejas – religiosidades e formas de espiritualidade despontam como lugar da possibilidade do reencontro, mais ainda, da tessitura, de sentidos e pertenças novos.
Um nome de vulto nas Ciências Humanas, Max Weber (Economia e Sociedade, 1920), concebia justamente o advento desta configuração, aparentemente tão antimoderna, no Ocidente, após a crise da razão técnica que aprisionou o espírito e engendrou a Modernidade clássica. As religiões, as fés e a busca por amparo no Absoluto, por certo alvo de demandas vulgares e subsumidas pela lógica do Capital, reaparecem com força inaudita, desafiando nossa capacidade de compreensão e interpretação histórica.
Revisitar a Idade Média pelo viés das narrativas mitológicas cristãs, proposta do presente dossiê, pode representar um esforço na tentativa de responder à indagação fundamental sobre o papel da religião na construção do próprio Ocidente enquanto paradigma civilizatório. Para tanto, um primeiro e recorrente equívoco deve ser elidido. Não há, propriamente, uma “religião medieval”. Existe, sim, um complexo sistema simbólico-prático que se desenha como um imaginário cristológico, responsável, ao nível mitopoético, por muito daquilo que assinala o Cristianismo ocidental como traço de mentalidade.
Como ensina um dos autores que contribuíram para esta coletânea, sem dúvida o maior nome da quarta geração do movimento dos Annales, Jean-Claude Schmitt (Ensaios de Antropologia Medieval, edição francesa de 1994), o vocábulo latino medieval religio era bastante restritivo em seu sentido. Designava os votos de ordenação de um oblato ao adentrar uma ordem monástica. Herdamos da primeira Apologética latina, na pessoa de Lactâncio (c. 240-320), conselheiro palaciano do primeiro imperador romano cristão, Constantino (312-337), a concepção de que religio advinha do verbo latino re-ligo (infinitivo religare), “voltar a ligar”, “atar novamente” (a Deus, ao sagrado). Todavia, como problematiza o medievalista Hilário Franco Júnior em Os três dedos de Adão – Ensaios de Mitologia Medieval (2010), é mais provável que religio corresponda ao substantivo decorrente de re-lego (infinitivo re-legere), atribuindo-se sua origem, por derivação imprópria, ao rhetor estoico tardio romano Cícero (106-43 a.C.).
Mais que uma simples apropriação ou ressignificação enviesada por parte de Lactâncio, nas obras De officio Dei (c. 303) e Diuinae Institutiones (c. 311), o que se processou foi uma verdadeira disputa de verdades, uma controvérsia político-ideológica entre dois sentidos que pretendiam fazer-se hegemônicos no campo da Arte Retórica. A concepção de Cícero, expressa em De natura deorum (45 a.C.), foi condenada, pelo novo cânone retórico cristão, ao esquecimento quase total.
Consoante Cícero, há um conteúdo político implicado no verbo re-lego, que se reporta ao ato de “colher” novamente, recuperar, revivescer os ensinamentos da tradição, da “entrega” (traditio) dos mores (usos e costumes) – nas Ciências Humanas de hoje se diria ethos – por parte dos patresfamilias, os fundadores do Populus Romanus.
No entanto, inexistir um sistema religioso não significa negar, em hipótese alguma, que os medievais se remetiam, desde as especulações teológico-filosóficas da cultura erudita cristã de expressão latina aos gestos mais concretos e práticas culturais da cultura popular, ao tempo do mito, ao momento cosmogônico fundador da História da Salvação Cristã. Como será possível perceber nos artigos que se dedicam ao tema desta edição de Brathair, o Cristianismo medieval não se resume a algo como um “campo religioso”. Estamos diante do próprio elemento de articulação fundamental do imaginário medieval na longa duração, uma vez que, não obstantes as mutações, tensões, inconsistências e contradições que certamente marcaram sua história, tal imaginário se caracterizou, durante toda a Idade Média, por uma epifania transdescendente e pela sacramentalidade do sagrado cristão.
Os historiadores, antropólogos, sociólogos e teólogos tem-se sensibilizado para a questão do imaginário das formações sociais, sejam pretéritas ou atuais, a que consagram seus estudos. Basta recordar como Cornelius Castoriadis redefine o ser humano como animal simbólico, sendo por excelência, capaz da imaginação, da efabulação, da concepção e tessitura de realidades imaginadas, que atribuem sentido ao mundo que o circunda (A instituição imaginária da sociedade, 1975). Aqui também as reflexões sobre a Idade Média transmitem uma importante lição, já que “imaginar” (imaginare) é a forma, o “método”, por excelência, pelo qual os homens e mulheres do período medieval observam, interpretam e compreendem um mundo material permeado pelo sagrado do sacramento em cada detalhe, em cada instância da existência.
Convém observar os comentários de São Tomás de Aquino acerca da imago como vetor do logos humano, de sua leitura do mundo. Na Questão 35 da Parte I da Suma de Teologia, retomando as reflexões de Santo Agostinho sobre a memória como um imenso palácio habitado por imagens (Livro X de Confissões), o célebre teólogo dominicano afirma que o intelecto humano traduz o mundo por meio de imagens. Mais que apenas representar – no sentido de re-presentar, tornar novamente presente algo agora ausente – os entes do mundo (res sensibiles) a partir de imagens, os seres humanos concebem, entendem, atingem a intelecção verdadeira e rigorosa das coisas por intermédio das imagines. Por conseguinte, imago é o construto mental e sígnico pelo qual o próprio logos do mundo (reflexo do logos de Deus) pode ser apreendido pelo logos do homem (intellectus).
Para tanto, o imaginário precisa ser entendido como sistema coerente de mensagens veiculadas pelas imagens, que são significados sociais suscitados pelas coisas. Hilário Franco Júnior nos adverte, em O fogo de Prometeu e o escudo de Perseu: reflexões sobre imaginário e mentalidade (artigo que compõe o livro Os três dedos de Adão: Ensaios de Mitologia Medieval, 2010), de que, isoladas, as imagens tendem a enfatizar mais o significante que o significado. Apenas adquirem sentido e passam a comunicar, de modo consciente ou não, determinada cosmovisão, quando conexas em um sistema semiológico instituidor de um discurso, exprimindo-se sob forma plástica, sonora ou verbal.
O imaginário medieval é essencialmente analógico. A analogia consiste em uma instância simultaneamente racional e emocional, que estabelece entre dois ou mais elementos, eventos ou ações, correspondências fundadas em denominadores comuns. Assim, a mesma exibe uma espontaneidade de pensamento, que percebe similitudes e contempla o universo como uma imensa rede de conexões. Para Hilário Franco Júnior, o efeito etnológico fundamental do pensar analógico seria uma descontinuidade entre natureza e cultura, vez que se projetam características humanas sobre os seres irracionais ou o sentimento de que objetos não são seres inanimados.
Ademais, como assinala a historiadora francesa Evelyne Patlagean, em capítulo da obra coletiva A Nova História (1978), coordenada por Jacques Le Goff e Jacques Revel, o imaginário pode ser definido, heuristicamente, como conjunto das representações que ultrapassam os limites das constatações empíricas e dos encadeamentos dedutivos e indutivos autorizados pela experiência. Cada cultura, cada formação social, ou mesmo cada segmento interno a uma sociedade complexa, acalenta um imaginário próprio. Nesta perspectiva, o limite entre o real e o imaginário revela-se volátil, enquanto o território percorrido por tal fronteira permanece idêntico, já que abrange todas as esferas da experiência humana.
Neste lastro, nossa edição atual de Brathair traz um belo e inédito trabalho de Jean-Claude Schmitt (EHESS-Paris), Quando a lua alimentava o tempo com leite: O tempo do cosmos e das imagens em Hildegarde de Bingen (1098-1179). Em versão traduzida, o texto discute justamente a “temporalidade das imagens”, que só pode ser referida no plural, dos tempos sociais e das representações do tempo, que variam de acordo com as épocas, com os interesses, com os níveis de cultura e com as ocasiões de falar e de “viver” o tempo. Sem sua pluralização ao nível analítico, as imagens não saberiam exprimir o tempo e nem operá-lo em suas próprias séries. É este problema que discute o grande historiador alsaciano, a partir de quatro miniaturas de página inteira, assunto de dois tratados diferentes, mas complementares, da abadessa beneditina renana Hildegarde de Bingen (1098-1179).
Prosseguindo na tendência de discutir questões teóricas mais amplas, bem como alinhavar hipóteses de compreensão sistêmica do período medieval, apresentamos outro texto de um autor estrangeiro. Trata-se de Religion, Álfar and Dvergar, de Santiago Barreiro (IMHICIHU-CONICET – Argentina), que problematiza a função mitológica destas duas entidades coletivas do imaginário escandinavo anterior à cristianização desta fronteira setentrional da Europa medieval (séculos X-XIII). Com tal abordagem, Barreiro também reflete, metodologicamente, sobre a confiabilidade de distintos gêneros documentais para a artesania intelectual do medievalista.
Ainda nesta seara, Pagan and Christian Dichotomy in Early Irish Literature, do colega português Carlos Carneiro (Centre for English, Translation and AngloPortuguese Studies, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa) apresenta uma instigante reflexão acerca da trajetória e dos descaminhos da tradição oral celta na Hibérnia durante o intenso processo de cristianização da Ilha. O autor discorre sobre a sobrevivência de uma “literatura oral” originária e o grau de controle e conversão de seu repertório à nova mitologia, trazida principalmente por missionários beneditinos do Continente.
Nosso dossiê se completa com duas primorosas resenhas. A primeira, ofertada por Dominique Santos (FURB-Blumenau), integrante de nosso esforço de dialogar com a historiografia internacional. O original irlandês, Ireland in the Medieval World Ad 400- 1000 Landscape, kingship and religion, de Edel Bhraethnach, coroa, com êxito, a parte temática desta edição de Brathair, juntamente com a resenha apresentada pelo consagrado Professor João Lupi (UFSC-Florianópolis), que comenta o instigante livro de Aline Dias da Silveira, intitulado O Pacto das Fadas na Idade Média Ibérica. Além dos autores que responderam, de maneira tão qualificada como os leitores perceberão observar, a nossa proposta temática, apresentamos aqui a contribuição de três historiadores que versam acerca de campos temáticos que, de alguma forma, dialogam com a temática da espiritualidade medieval.
Para estreitar mais ainda nossos vínculos com colegas ibéricos, com os quais partilhamos nosso passado e nossas heranças medievais, temos o prazer de propor aos leitores o artigo Rehenes y cautivos como garantía de adhesión de los poderes locales hispanos a la autoridad sueva en la Crónica de Hidacio, de Benito Márquez Castro (Universidade de Vigo). O belo trabalho enfoca as tensões da formação da Hispânia visigótica no século V, a partir da análise das estratégias militares praticadas pela realeza germânica para negociar a adesão dos poderes locais subsistentes do período romano, com destaque para o sequestro de personalidades hispano-romanas como o patrício Cântabro, do município de Conimbriga (atual Coimbra). A fonte estudada, o Chronicon do aristocrata hispano-romano Hidácio, é de suma relevância para o período em termos de uma História Política da região.
Já o docente do Amazonas, especialista na Matéria da Bretanha, Sínval Carlos Mello Gonçalves (UFAM), em incursão no universo das narrativas romanescas centromedievais, resgata o processo multissecular de clericalização dos enredos cavalheirescos. Em Das armas ao amor: aventura e transformação pessoal no Erec e Enide de Chrétien de Troyes, Sínval Gonçalves problematiza o percurso de seu protagonista como um processo de transformação e aperfeiçoamento pessoal. A narrativa precisa também ser vista como uma expressão do ideal cortês de união das virtudes da cavalaria e do sentimento amoroso, sendo este necessariamente conduzido para a realização conjugal.
Por fim, quem nos brinda com uma refinada análise dos escritos cavalheiresco no contexto de formação dos idiomas vernáculos europeus ao longo da Idade Média Central (séculos XI-XIII), é o latinista e erudito em Retórica Medieval Benoît Grévin (LAMOP – Université de Paris 1, Panthéon Sorbonne). O historiador francês também enfoca, com maior ênfase, o Roman de Troie, de meados do século XII, para exemplificar a significância do intercâmbio entre a França e a Península Itálica no auge de constituição do Feudalismo. Com efeito, o desenvolvimento de uma ampla literatura dita “francoitaliana”, que adaptava os grandes ciclos épicos e romanescos da lingua d’oïl no norte da Península, prova que, ao lado de um consumo não negligenciável de obras deste gênero, existiu um fenômeno inverso no sul do território itálico, na mesma época. Também se verificou, como atesta a ‘latinização’ do Roman de Troie por Guido delle Colonne, um movimento precoce de transposição e de integração de temas romanescos à cultura latina. Como salienta o próprio Grévin, “para compreender seus mecanismos, é importante recolocar esta tendência no contexto da ideologia literária então dominante nestes lugares: a da retórica médio-latina da ars dictaminis”.
Desejamos ao leitor uma proveitosa aventura intelectual e um excelente ano de 2015!
Adriana Zierer – UEMA. École des Hautes Études en Sciences Sociales, 2013-2014. Editora-Chefe da Revista Brathair. E-mail: medievalzierer@terra.com.br
Marcus Baccega – UFMA. Pós-Doutorado Université Paris I, 2013. Editor Assistente da Revista Brathair. E-mail: marcusbaccega@uol.com.br
ZIERER, Adriana; BACCEGA, Marcus. Editorial. Brathair, São Luís, v.14, n.1, 2014. Acessar publicação original [DR]
Religião, política e religiosidade na Idade Média / História Revista / 2012
A História Revista traz ao público o seu mais recente número, composto por três seções: Dossiê, Artigos e Resenhas. O dossiê Religião, política e religiosidade na Idade Média reúne quatro artigos escritos por pesquisadores vinculados a diferentes Centros de Pesquisas e Universidades brasileiras e argentinas. O artigo de Ruy de Oliveira Andrade Filho, professor e pesquisador na Unesp-Assis, abre o dossiê. Como informa o próprio autor, o artigo intitulado O reino visigodo: catolicismo e permanências pagãs, resgata e amplia algumas reflexões apresentadas no primeiro capítulo de seu recentíssimo livro: Imagem e Reflexo. Religiosidade e Monarquia no Reino Visigodo de Toledo (séculos VI-VIII), publicado pela Edusp, em 2012. Andrade Filho apresenta uma atenta leitura das fontes e destaca a distinção entre “religião” e “religiosidade” ao discutir a convivência do cristianismo com as manifestações do chamado “paganismo” no reino visigodo. O segundo artigo do dossiê, Trabajando para el pueblo de Dios: palabra, ley y clero en el pensamiento de Isidoro de Sevilha (600- 636) é de autoria de Eleonora Dell’ Elicine, doutora em História, docente e pesquisadora na Universidad de Buenos Aires e na Universidad Nacional de General Sarmiento. A partir de uma rigorosa análise das fontes, a medievalista argentina busca, em seu texto, discutir como um programa linguístico se relaciona com uma eclesiología e um plano de governo cristão no pensamento de Isidoro de Sevilha. O terceiro artigo, Épica, memoria e historia. Como los carolingios escriben el mundo, é de autoria do professor da Universidad Nacional de Mar del Plata e da Universidad Nacional del Sur, Gerardo Rodríguez. Em seu artigo, Gerardo Rodríguez apresenta reflexões sobre a construção de uma tradição franco-carolíngia, a partir da análise das relações entre literatura e história, sustentadas em uma profunda discussão teórica e historiográfica. Fechando o dossiê, o artigo O culto a São Tiago e a legitimação da Reconquista espanhola, de Adaílson José Rui, analisa a construção do mito de São Tiago como protetor dos cristãos contra os muçulmanos. O professor da Universidade Federal de Alfenas utiliza ampla documentação e bibliografia para enfatizar as transformações do Apóstolo em guerreiro – em matamoros – e do seu culto, vindo a servir aos propósitos da monarquia castelhana que tinha a Reconquista como uma missão régia.
A seção Artigos, como espaço plural, apresenta uma interessante diversidade de temas e abordagens. Abre a seção, o artigo de Alex Degan, A polêmica entre Yosef ben Mattitiahou ha-Cohen e Titus Flavius Josephus. O professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro e membro do Laboratório de Estudos Sobre o Império Romano (LEIR), revela, na construção do seu texto, uma cuidadosa interpretação das fontes. Em seu artigo, Degan oferece uma leitura da sociedade judaica da Palestina do século I por meio de uma análise da vida e das obras do historiador judeu Flávio Josefo. Em seguida, a seção traz uma contribuição vinda do sul do país: A formação social e cultural no sul do Brasil: a “mancha loira” como um contraponto ao Brasil “mestiço e mulato”, de Maria Julieta Weber Cordova, professora Adjunta do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa. A autora destaca o discurso sobre a “mancha loira” presente na obra de Bento Munhoz da Rocha Netto, Presença do Brasil, como contraponto ao discurso do Brasil “mestiço e mulato”, caracterizado em Casa Grande & Senzala por Gilberto Freyre. Na sequência, Daniela Pereira Versieux, Mestre em Educação Tecnológica pelo CEFET / MG e professora da Fundação de Ensino de Contagem / MG, oferece uma contribuição aos estudos sobre Minas Gerais. Em A fazenda Escola de Florestal: apontamentos sobre a inserção de Minas Gerais na modernidade capitalista, Versieux enfoca a relação da Fazenda Escola de Florestal, fundada no então distrito de Florestal, município de Pará de Minas, em 1939, com o processo de modernização de Minas Gerais. O artigo de Fernando Lobo Lemes, Espera, morte e incerteza: a instalação dos Julgados nas minas de Goiás, explica que a instalação dos Julgados, passo inicial em direção a um ordenamento institucional mais sólido, aparece como estratégia provisória de organização das ações coordenadas por Lisboa nas minas de Goiás. Doutor em História, Lobo Lemes aprofunda os estudos das fontes para propor “uma leitura possível sobre a criação de Vila Boa”.
A seção Resenhas, por fim, traz uma novidade. Pela primeira vez, a História Revista publica uma resenha de Dissertação de Mestrado. Eduardo Sugizaki apresenta a dissertação de Paulo Henrique Costa Mattos, O trabalho escravo contemporâneo: a degradação do humano e o avanço do agronegócio na região Araguaia-Tocantins, defendida no Programa de Pós-Graduação em História da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Eduardo Sugizaki, doutor em História pela UFG e em Filosofia pela Universidade da Picardia Júlio Verne, analisa a dissertação, enfatizando a sua relação com a literatura existente sobre o tema e os métodos empregados por seu autor. Em outra resenha, Rafael Sancho Carvalho da Silva, Mestre em História pela Universidade Federal da Bahia, discute a obra de Luiz Bernardo Pericás, Os cangaceiros: ensaio de interpretação histórica. Rafael Sancho Carvalho da Silva avalia a produção sobre o cangaço para destacar que na obra resenhada o tema foi descrito “sem o peso romântico de outras descrições”.
A História Revista espera estar contribuindo para o debate de ideias, para a circulação do conhecimento e para a congregação de pesquisadores. Que a leitura seja profícua e prazerosa para todos!
Adriana Vidotte – Editora
VIDOTTE, Adriana. Apresentação. História Revista. Goiânia, v. 17, n. 2, jul. / dez., 2012. Acessar publicação original [DR]
Modernização e Religiosidade / Revista Mosaico / 2012
Os intercâmbios entre a religiosidade e a modernização são intermitentes. Entretanto, inspirados pela produção teórica europeia, os dois campos foram colocados muitas vezes em oposição. A religião, nesta perspectiva, precisaria decrescer para que a modernidade emergisse. A “lei” da secularização, ou do desencantamento do mundo, foi considerada inexorável em diversas áreas, como se fosse sinônimo de progresso. Em certo sentido, tal concepção tornou-se a filosofia da historia de muitos pesquisadores do campo religioso.
A observação dos movimentos religiosos na virada do século levou muitos a repensarem tal vertente interpretativa. Da oposição chegou-se à confluência e, até, à ideia de que, sim, a modernidade produz religiosidade. Claro, que os sujeitos que projetam culturalmente os sentidos sociais, classificados como religiosos ou não, modernos ou tradicionais, são integralmente os mesmos, inseridos em redes cada vez mais indeterminadas de trocas. O dossiê temático apresentado por este numero da Revista Mosaico reflete esta problemática de pesquisa.
O tema da secularização e da laicidade, tão central, é colocado como foco de discussão pelos dois artigos iniciais. O primeiro, escrito por João Miguel Teixeira de Godoy, aborda o tema a partir da historiografia eclesiástica e da concepção providencialista da história. Conclui que a sacralidade e o mítico estão presentes em diversos lugares considerados insuspeitos pelos teóricos da modernidade. Adentra, ainda, na análise da memória social, analisando algumas versões acerca da fundação da cidade de Campinas, em São Paulo.
Já o segundo artigo, se aproxima do tempo contemporâneo e se afasta em termos geográficos. Nele, Tarcísio Amorim Carvalho investiga o papel das confissões religiosas no espaço público europeu, comparando as decisões recentes dos governos francês e inglês acerca da laicidade política, bem como do pluralismo étnico-religioso. O tema da imigração, a noção de pertença, as identidade nacionais e, por conseguinte, os direitos humanos são analisados com erudição pelo autor, apontando como cada tradição político-filosófica embasa uma postura distinta quanto a convivência pacifica entre os grupos.
No terceiro artigo deste dossiê, a relação entre ciência e religião é abordada por Alfredo Bronzato da Costa Cruz a partir da relação pessoal entre dois pesquisadores: o jesuíta João Alfredo Rohr e o antropólogo Luiz de Castro Faria. A historia da arqueologia brasileira é ali tratada, bem como as politicas de preservação histórica, demostrando-se como ambas foram envolvidas por questões religiosas. O foco na atuação do Conselho Estadual de Cultura de Santa Catarina e na luta pela valorização patrimonial dos sambaquis em nada desmerece o escopo maior dos tópicos abordados pelo autor.
Os dois trabalhos seguintes nos levam a adentrar no mundo protestante. O primeiro deles, escrito por Ismael Fuckner analisa como a Igreja Adventista do Sétimo Dia no Brasil tem enfrentado as mudanças rápidas do mundo moderno. Esse grupo religioso é caracterizado socialmente por certos costumes tradicionais, como o cuidado com a alimentação e a guarda rigorosa do sábado enquanto dia santificado. Realizando o estudo de caso com uma comunidade em Belém do Pará, ele demonstra as adaptações que têm sido possíveis nas operações de manutenção identitária feitas pelo grupo.
O outro artigo, escrito por Bertone de Oliveira Souza, apresenta uma avaliação metodológica das principais tendências da historiografia protestante, exemplos do pluralismo religioso e científico em vigor na sociedade brasileira. A constituição de um campo de pesquisa, circundado por tantos debates e pré-conceitos, não é inocente. Neste artigo, a modernidade é um pressuposto do que os cientistas tem visto e escrito em suas produções.
Encerra o dossiê temático o trabalho de Eduardo Gusmão de Quadros acerca do tempo messiânico e do tempo secularizado que fora estabelecido pela historiografia. O autor analisa a noção de futuro em autores bem diferentes em termos de estilo e de época como Antonio Veira, Walter Benjamin e Enrique Dussel. Defende, por fim, que a noção de tempo aberto deve permanecer importante, tanto na hermenêutica do conhecimento histórico quanto na construção de uma teoria crítica.
O número inclui dois artigos livres, não relacionados com a temática central do dossiê. O primeiro, escrito por Deusa Maria Rodrigues Boaventura, trata da história de Goiás e demonstra como a politica indigenista foi central no processo de organização administrativa do território. A autora percorre o século XVIII desvelando a lógica dos aldeamentos indígenas e seus objetivos que estão muito além dos catequéticos e civilizatórios.
O segundo texto discute a questão da Linguagem e do Sentido, explorando as ideias deste pensador original que foi Henri Bergson. Rodrigo Tavares Godoi discute a teoria bergsoniana do conhecimento enquanto visão crítica da ciência, como era pensada nos finais do século XIX. Ele demonstra, inclusive, suas semelhanças e diferenças com o grande crítico da civilização científica que foi Nietzsche.
Por fim, apresentamos uma resenha do trabalho de doutoramento do professor Eduardo Sugizaki, da PUC Goiás, feita pelo professor Jean-Claude Dupont, da Universidade Julio Verne, na França, A temática da história de uma doença tropical é exigente quanto a formação transdisciplinar e a abordagem do autor merece o destaque pela inovação proposta nas páginas de seu trabalho.
O número encerra, como de praxe, divulgando as dissertações defendidas no Programa de Mestrado em História da PUC Goiás no segundo semestre de 2012.
Uma leitura proveitosa a todos!
A Comissão Editorial
Comissão Editorial. Editorial. Revista Mosaico. Goiânia, v.5, n.2, jul. / dez., 2012. Acessar publicação original [DR]
Fé, religiosidade e cultura religiosa / Revista Brasileira de História & Ciências Sociais / 2012
A Revista Brasileira de História & Ciências Sociais – RBHCS – finaliza seu quarto ano de existência com sua oitava edição, encerrando assim, um ano de 2012 de muito trabalho e conquistas para a RBHCS. Sempre com a meta do diálogo interdisciplinar entre a História e as Ciências Sociais a RBHCS vêm se empenhando para a divulgação da produção acadêmica nessas colossais áreas do conhecimento. Neste último ano, sentimos o peso da responsabilidade em manter um periódico em alto nível. Foram mais de cento e cinquenta trabalhos, entre artigos, resenhas e transcrições enviados de todos os cantos do Brasil e do exterior.
Um trabalho árduo para seus editores que de forma autônoma tem mantido um padrão de qualidade classificado como Qualis Capes B1 — A nacional — pela Capes / MEC. O que faz com que a RBHCS seja um motivo de orgulho e respeito a todos que fazem parte dessa realidade. Entretanto temos de salientar que para continuar mantendo esse nível e melhor atender as demandas de trabalhos ao longo do ano, para os próximos números, aceitaremos apenas artigos cuja temática esteja em afinidade com os dossiês temáticos propostos. É uma maneira de potencializarmos o processo avaliativo e a editoração afim de melhor atender aos autores que confiam seus trabalhos a RBHCS.
Nesta 8ª edição fruto dessa massiva demanda, presenteamos nossos leitores com uma edição ampliada, contando com dez artigos no dossiê temático, 16 artigos cuja temática é livre, uma resenha, uma pesquisa de iniciação científica e duas transcrições de documentos. É uma forma de retorno e agradecimento a confiança depositada na RBHCS. Então, podemos apenas agradecer infinitamente aos membros do Conselho Editorial, pelo zelo e direcionamento da RBHCS, aos membros do Conselho Consultivo pela avaliação criteriosa dos trabalhos, bem como aos pareceristas ad hoc que generosamente prestam essa gentileza com rigorosidade e elevada qualidade. E, especialmente, a você, nosso leitor a quem temos a honra de lhe entregar agora o produto final de nosso trabalho.
Que esta edição contribua para promover o conhecimento e sirva de inspiração para a produção científica.
Ótima leitura!
Ana Silvia Volpi Scott
Denize Terezinha Leal Freitas
Jonathan Fachini da Silva
José Carlos da Silva Cardozo
Editores
SCOTT, Ana Silvia Volpi; FREITAS, Denize Terezinha Leal; SILVA, Jonathan Fachini da; CARDOZO, José Carlos da Silva. Apresentação. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais. Rio Grande, v.4, n. 8, jul. / dez., 2012. Acessar publicação original [DR]
Cultura e Religiosidade / Revista Trilhas da História / 2012
A Revista Trilhas da História, do curso de História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Câmpus de Três Lagoas, chega a seu segundo número com a felicidade de contar com colaboradores que endossam e contribuem sobremaneira com a maior vocação desse periódico, a saber, constituir-se cada vez mais em veículo do saber acadêmico sério, democrático e representante de um conhecimento histórico na sua melhor relação com outras disciplinas humanas.
O presente dossiê “Cultura e Religiosidade” foi pensado a partir do “II Simpósio Internacional de História e XIV Semana de História da UFMS / CPTL, Cultura e Religiosidade: abordagens e métodos”, em 2011, e dá continuidade aquela temática e seus escopos, ou seja, cuidar de dois conceitos tão ricos à historiografia como às ciências humanas que a auxiliam e a enriquecem. Por isso, como o leitor poderá averiguar aqui, assistimos a feliz contribuição de abordagens sociológicas, antropológicas e históricas nas suas mais diversas abordagens, assim como de seus respectivos especialistas. Igualmente pudemos contemplar temporalidades múltiplas, espacialidades específicas, fontes e objetos singulares, sem perder de vista a dupla temática que une a todos, “Cultura e Religiosidade”, as quais, por sua vez, estão em estreita consonância, se tivermos por parâmetro as abordagens multidisciplinares a respeito da cultura, entendida agora, mais por sua universalidade do que, por exemplo, por sua tradicional e estanque dualidade “erudita”, “popular”.
Como já se disse, a cultura popular é aquela que contempla e oferece às mais diversas camadas sociais, um denominador comum cultural; por fim, que populariza algumas expressões, visões de mundo, formuladas tanto por uma camada mais erudita como aquela proveniente das tradições ditas folclóricas, orais, mais ligadas à memória, as suas modificações e retificações mais dinâmicas, caracterizada ainda por uma licença criadora e sensível as instabilidades do vivido e do experimentado, da policromada visão de mundo apresentada pelas práticas e pelos conceberes cotidianos. Daí que a religiosidade, no âmbito da relação homem / sagrado, é uma das mais ricas expressões dessa cultura popular.
A religião, ou sua melhor expressão no âmbito dessa cultura, a religiosidade, liberta os conceberes e os sentimentos humanos das amarras do canônico, erigi-se em um fenômeno humano privilegiado que liga o homem ao simbólico, as sensibilidades, aos ideários e sentimentos mais profundos daquela universal visão de mundo humana que são os arquétipos, o denominador comum que nos liga, ainda que modificado espaço-temporalmente por tradições socioculturais específicas sobre o qual recai a essência do existir e da experiência humana.
Por isso, a religiosidade só pode falar do sagrado enquanto cuide do humano e o entenda inserido em uma cultura específica, embora extrapole seus próprios limites em razão desse duplo denominador comum: aquele que abole ou relativiza a dualidade erudito / popular e aquele que une as diversas tradições socioculturais, quando se busca a universalidade e a essencialidade do ser e existir humano, presente sobretudo nas abordagens de longa duração, das emoções que, não obstante, inferindo mesmo na razão, prezam mais pelas permanências que pelas transformações.
Portanto, apresentamos aqui artigos que endossam e testemunham a importância e a amplitude do que vimos expondo. Textos que cuidam das vicissitudes do cristianismo antigo em sua confrontação ou conformação com espaços e tradições culturais a princípio a ele não tão consoantes, como as cidades e territórios povoados por outras tradições socioculturais e religiosas (Gilvan Ventura da Silva); que cuidam do cristianismo medieval, sobretudo a partir da visão da religiosidade por escritos oriundos da tradição erudita (Everton Grein). Trabalhos mais estreitamente ligados a uma abordagem antropológica da religião, como a construção do estereótipo da feiticeira a partir de uma visão tanto da Igreja, quanto da cultura popular, de onde se destaca, ademais, o papel da mulher na História (Helen Ulhoa Pimentel); ou das práticas religiosas afro-brasileiras no seu embate com a cultura cristã, fundamentada numa visão católica, a qual sempre procedeu em um sentido de “demonização” das religiosidades fundadas numa visão animista e politeísta do sagrado, estigmatizando essas práticas não só no campo do espiritual, mas na e pela sociedade tradicional, a exemplo da macumba, pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (Roberta Soares Machado; Mario Teixeira de Sá Junior); ou aquele que trata de uma abordagem mais sociológica, das influências na visa social a partir do aparecimento de novas denominações religiosas, as igrejas neopentencostais, e seu influxo na vida social e psicológica dos novos adeptos (Claudia Neves; Denice Barboza de Souza; Patricia Vicente Dutra).
A contribuição a esse número fica ainda por conta dos ensaios de graduação apresentando temas como: a cultura camponesa, com ênfase para o modo de vida do camponês em confronto com o do latifundiário (Wagner José da Rosa), a religiosidade popular colonial e as dimensões do sagrado e o profano (Marcos Sanches da Costa) e a história da 2ª. estação ferroviária de Londrina – PR, vista como portal de ferro, expressão de um estilo urbanístico e ao mesmo tempo lugar de cultura (Priscilla Perrud Silva). Tem-se ainda a resenha de um livro que contempla a temática da história, gênero e sexualidade (Tânia Regina Zimmermann).
Encerrando os trabalhos tem-se como fonte a Entrevista realizada por Lourival dos Santos com Vicente Paula da Silva, devoto de Nossa Senhora Aparecida. A partir da transcriação, o autor nos apresenta um exercício de análise e tratamento da fonte oral, interpretada como testemunho das visões e práticas da religião católica popular brasileira.
De modo especial desejo lembrar da professora Maria Celma Borges (UFMS / CPTL) que, embora não tendo seu nome constando diretamente nesse número, foi a sua mais calorosa e laboriosa promotora, como o foi para o número anterior, e já tem sido para os próximos.
Queremos assim, expressar nossos agradecimentos a todos os colaboradores desse Dossiê, professores, pós-graduando, alunos de graduação; àqueles que doaram um pouco de si, que nos presentearam com aquilo que deve lhes ser mais rico e laborioso, ou seja, o trabalho escrito, fruto moroso e amadurecido de leituras, reflexões, discussões e que expõe aquilo que vivemos nas relações mais particulares conosco mesmo em nossos gabinetes para colaborar com a vida acadêmica e com a sociedade humana de uma forma mais geral.
Ronaldo Amaral
Inverno de 2012
AMARAL, Ronaldo. Apresentação. Revista Trilhas da História. Três Lagoas, v.1, n.2, jan. / jun., 2012. Acessar publicação original [DR]
Religiosidade e cultura / História – Debates e Tendências / 2009
As pesquisas sobre religiões e religiosidades nos âmbitos das ciências sociais e das ciências humanas têm sido consideravelmente ampliadas qualitativa e quantitativamente nas últimas décadas. Avaliando o significado que as crenças incutem em atos (abordagem fenomenológica), a historiografia sobre as religiões e religiosidades tem demonstrado que as propaladas benesses progressistas da secularização e laicização não foram consolidadas como se previra e que os investimentos institucionais e subjetivos em objetos ditos “sacros” (ou mesmo sacralizados), além de se intensificarem, estão cada vez mais evidentes em nosso cotidiano. Nesse sentido, o presente dossiê temático da revista História: Debates & Tendências também se integra a esse esforço pela divulgação das profícuas pesquisas já realizadas ou em andamento que versem sobre religiosidade e cultura. Leia Mais
Religião e Religiosidade / Outros Tempos / 2008
A Revista Outros Tempos inaugura nesta edição sua nova periodicidade: a semestral. Seguimos publicando artigos referentes a pesquisas desenvolvidas na conclusão de cursos de graduação, ao longo de pós-graduações e na prática cotidiana de professores de IES.
Dando continuidade aos Dossiês Temáticos, apresentamos ao público leitor o Dossiê Religião e Religiosidade que engloba desde artigos que discutem teoricamente o conceito de campo religioso em Bourdieu ; passando por pesquisas de cunho comparativo acerca das concepções de morte no medievo e na atualidade; abordagem do Regulamento das Aldeias; linguagem carnavalesca ou burlesca nos sermões do Padre Antônio Vieira, na América Portuguesa; religião e religiosidades indígenas; até a análise dos usos e funções das imagens na perspectiva da Igreja Católica.
Artigos versando sobre temáticas variadas também compõem este volume: relação entre Irmandades Religiosas e práticas higienistas no Oitocentos; trabalho de rua no Maranhão da virada do século XIX para o XX; condição feminina e prisão na cidade de Fortaleza (1850-1889); diálogos entre História e Literatura na obra da escritora baiana Anna Ribeiro de Araújo Góes Bittencourt; estudo de crises do petróleo no final do século XX; e relação entre Hip Hop e resistência da juventude de periferia na São Luís contemporânea.
Na seção de Documentos publicamos um catálogo de referências acerca da História do Brasil Colonial e História do Maranhão Colonial disponível nos acervos da Universidade Estadual do Maranhão e da Universidade Federal do Maranhão, elaborado a partir de proposta de trabalho desenvolvida em Monitoria de Disciplinas do Curso de Graduação em História da Universidade Estadual do Maranhão. Inauguramos também a Seção de Entrevistas e, aproveitando o clima de discussão advindo dos 170 anos de deflagração da Balaiada, registramos o diálogo com o renomado historiador Mathias Röhrig Assunção, conhecedor profundo da temática em questão.
Boa leitura!
José Henrique de Paula Borralho
Márcia Milena Galdez Ferreira
BORRALHO, José Henrique de Paula; FERREIRA, Márcia Milena Galdez. Editorial. Outros Tempos, Maranhão, v. 5, n. 6, 2008. Acessar publicação original [DR]
Anais do I Colóquio de Estudos Celtas e Germânicos: Religiosidade e Interpretatio / Brathair / 2007
O evento promovido pelo grupo BRATHAIR e pelo Centro de Estudos Interdisciplinares da Antigüidade (CEIA) da Universidade Federal Fluminense (UFF), demonstra o crescimento e a recente maturidade dos estudos celto-germânicos. Áreas de pesquisas que eram marginais e / ou periféricas nas investigações sobre o passado europeu, assumiram nos últimos dez anos um grande implemento em nosso país. Se por um lado, os pesquisadores titulados que se dedicam aos temas destes povos no período antigo e medieval já possuem uma razoável quantidade de pesquisas em diversas instituições de ensino superior, também os estudantes de graduação estão apresentando um maior interesse nesta área.
Dentro deste panorama, certamente o grupo BRATHAIR possui um destaque especial. Criada em 1999, a entidade vem cumprindo seus objetivos básicos, o de colaborar com o estímulo e a colaboração entre os estudiosos, permitindo o intercâmbio dos resultados de pesquisas efetivas ou em andamento, além de levar este conhecimento a um público mais amplo, acadêmico e não-acadêmico.
Como resultado de uma postura interdisciplinar e interinstitucional, o grupo BRATHAIR contou com a organização e infraestrutura do CEIA / UFF para realizar o evento de 2007. Sendo um núcleo de estudos das áreas de História e Letras, o CEIA se destaca como uma das referências nacionais no estudo da Antigüidade. Além da participação dos membros do Grupo de Estudos Celtas – subordinado ao CEIA –, o evento, também, contou com a participação de diversos medievalistas da UFF.
Os temas propostos para o evento, Religiosidade e Interpretatio, revelam algumas das tendências mais promissoras nos estudos celto-germânicos. Se por um lado a maioria das fontes documentais antigas e medievais estão recebendo novas formas de leitura, análise e conexões (através do estudo das interpretationes), as pesquisas sobre religiosidade são fundamentais para se entender a contribuição cultural, social e política dos povos de origem indo-européia no Ocidente. Com isso, a maior parte dos trabalhos apresentados foram inseridos dentro de uma destas temáticas, que em alguns casos acabaram por assumir formas híbridas.
Esperamos que a parceria do grupo BRATHAIR e do CEIA estimule as novas gerações de pesquisadores, especialmente no estado do Rio de Janeiro, promovendo o debate e a reflexão sobre o passado. E aguardemos o II Colóquio, previsto para 2009.
Johnni Langer – Professor Doutor. Pós-Doutor em História Medieval pela USP. E-mail: johnnilanger@yahoo.com.br
LANGER, Johnni. Apresentação. Brathair, São Luís, Edição Especial 1, 2007. Acessar publicação original [DR]
Religiosidade / Revista Trajetos / 2006
Religiosidade | Trajetos | 2006
Tempos do Sagrado / Revista Brasileira de História / 2002
O dossiê Tempos do Sagrado que a Revista Brasileira de História ora publica responde ao crescente interesse demonstrado pelos historiadores por temas relacionados à religião e religiosidade. Prova disto é o fato de duas importantes revistas da área — Tempo e Estudos de História — terem organizado recentemente edições em torno dessas questões. A contribuição de nossa revista se apresenta marcada por uma particularidade: as temáticas abordadas, sempre baseadas em pesquisas originais se estendem por diversos tempos históricos, entre os séculos XIII e XX.
Os três primeiros artigos formam um grupo dedicado a pensar os conflituosos encontros entre, de um lado, europeus católicos e, de outro, indígenas, negros e judeus. Fernando Torres Londoño analisando as cartas escritas pelos missionários a seus superiores, no eixo formado por Portugal, Itália, Índia e Brasil, mostra como foi construído e definido o projeto jesuítico missionário para a evangelização dos indígenas, com base nos escritos de Santo Inácio de Loyola. O texto de Alisson Eugênio discute as vivências culturais de negros que se associavam em irmandades religiosas em Minas Gerais do século XVIII, desvendando as tensas relações entre a Igreja e as irmandades negras, atravessadas por uma complexa gama de práticas, que iam das negociações às ameaças, especialmente no referente aos recursos financeiros para as festas. O artigo de Ângelo Adriano Faria de Assis, tomando a Visitação do Santo Ofício, entre 1591 e 1595, pesquisa as resistências judaicas no Brasil colonial do século XVI. Demonstra como, entre os neoconversos, as mulheres — tornadas guardiãs das tradições religiosas após a proibição do exercício público do culto judaico — foram as principais acusadas pela Inquisição.
Segue-se o estudo de Néri de Almeida Souza que analisa a Legenda aurea (coletânea de 182 legendas baseadas em vidas de santos e em mistérios do ano litúrgico cristão), organizada a partir de diversas fontes pelo dominicano Jacopo de Varazze, no século XIII. A autora enfatiza as diferenças entre a cultura religiosa erudita escrita pelos grandes teólogos e seus leitores muito menos instruídos, situando Jacopo de Varazze no quadro dessas disputas. Fechando o dossiê, Etiane C. B. de Souza e Marion B. de Magalhães apresentam os movimentos pentecostais latino-americanos na atualidade. Indicam como tais movimentos exerceram forte atração sobre as camadas mais pobres da população, de forma a inaugurar uma prática religiosa singular. Também discutem as relações particulares entre os pentecostais e o mundo da política institucionalizada.
Cinco outros artigos sobre temáticas diversas e originais completam esta edição. O estudo de Hendrik Kraay analisa o recrutamento de escravos e de homens de cor livres ou libertos para fazer parte das forças que lutaram contra os portugueses na Bahia, em 1822 e 1823. O artigo também apresenta a participação desses soldados negros no Levante dos Periquitos, em 1824, e a repressão por parte do governo imperial. O texto de Johnni Langer refere-se à construção do mito da cidade perdida da Bahia, a mais conhecida fábula arqueológica do Brasil. Esta se inicia com a entrega ao IHGB de um manuscrito encontrado por Manuel Ferreira Lagos, na Livraria Pública da Corte, em 1839, que discorria sobre a descoberta de minas de prata no interior da Bahia, no século XVI. O artigo de Vânia Maria Losada Moreira estuda o impacto da Lei de Terras de 1850 sobre os direitos territoriais indígenas. Trabalhando com o Espírito Santo, mostra como a Lei propicia a expulsão das populações de índios de suas terras, fechando-lhes praticamente todas as alternativas de acesso à propriedade. O artigo de Micol Seigel e Tiago de Melo Gomes trata do desalojamento, em 1889, de uma quitandeira, a Sabina das Laranjas, da porta da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, lugar em que costumava trabalhar. Apresentando a reação em favor da mulher por parte dos estudantes, os autores discutem as práticas cotidianas raciais e de gênero. O artigo de Luis Fernando Cerri está centrado nas relações entre propaganda, política e ensino de História. Escolhendo peças publicitárias de instituições públicas e privadas durante a ditadura militar brasileira, particularmente durante o chamado “milagre econômico”, o autor analisa esses anúncios e os toma como ponto de partida para ouvir pessoas comuns em torno da questão da identidade nacional. Este número traz, ainda, um conjunto de resenhas que, sem dúvida, serão do interesse do leitor.
Um mea culpa se faz necessário. No último número da RBH, por razões técnicas, foram omitidos, na relação dos nomes que compõem nosso Conselho Consultivo, os dos professores Luís Reis Torgal e Serge Gruzinski que, no entanto, continuam a nos honrar com seu apoio. Erro corrigido nesta edição.
Finalmente agradecemos, mais uma vez, ao CNPq pelo auxílio recebido, sem o qual esta publicação não seria possível.
Conselho Editorial
Conselho editorial. Apresentação. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.22, n.43, 2002. Acessar publicação original [DR]