Posts com a Tag ‘Relações de Poder (d)’
História da saúde e das doenças: instituições, discursos e relações de poder / História – Debates e Tendências / 2021
A saúde e as doenças não podem ser pensadas como conceitos estanques, a complexidade que envolve o estar são ou doente tem uma relação direta sobre como as sociedades interpretam e assimilam esses dois estados. Assim, a conceituação também está envolvida nas relações de poder, nas disputas discursivas que dizem respeito aos diversos comportamentos referentes à multiplicidade de doenças existentes.
O saber médico precisa ser problematizado nos diversos contextos, possibilitando ver como os discursos se articulam e garantem a sua condição de existência. Neste sentido, as representações sociais sobre as doenças estarão diretamente relacionadas com os mecanismos de controle, definição e exclusão dos indivíduos em diferentes conjunturas históricas. Leia Mais
De América portuguesa a Império do Brasil: rupturas, dinâmicas e relações de poder em contextos de transformação e crises políticas no longo século XIX / Ponta de Lança/2020
A organização do dossiê “De América portuguesa a Império do Brasil: rupturas, dinâmicas e relações de poder em contextos de transformação e crises políticas no longo século XIX”, que, com especial satisfação, chega ao leitor, teve missão bastante modesta, mas resultado animador. Mais que inspirado pelas oportunas exigências de comemoração de datas fundamentais para a compreensão dos processos históricos tão significativos em escala continental e local 1 num arco temporal intencionalmente amplo (1750-1930), não pautado pela mudança cronológica de séculos, mas definidor de questões de formação do mundo sociopolítico e de seus traços como conhecidos hoje, esse esforço quer, sobretudo, demarcar a importância da investigação do passado essencialmente por meio do singular, necessário e insubstituível manejo profissional dos historiadores. Leia Mais
Mundo Luso-brasileiro: relações de poder e religião / Revista Eletrônica História em Reflexão / 2019
Com o propósito de contribuir para uma maior discussão sobre temáticas atinentes às relações de poder e religião na construção do mundo luso americano, lançamos esse Dossiê trazendo quatro artigos reflexivos sobre a imposição dos padrões de comportamento e da mentalidade católica sobre povos conquistados, especificamente indígenas da América portuguesa e africanos escravizados em diáspora pelo mundo atlântico, seja mediante a desterritorialização ou a catequese geridas pelos jesuítas, ou por administradores dos interesses políticos da Coroa.
Os quatro artigos compositores deste Dossiê recobriram os séculos de colonização da América portuguesa, tratando especificamente de relações de dominação que tiveram lugar no Rio Grande do Norte e Ceará, bem como a rota diaspórica de africanos escravizados pelos portugueses.
Os dois primeiros artigos abordam a política de desterritorialização indígena no Nordeste, sendo que um deles tratando das chamadas guerras justas, no século XVI, mostra-nos o avanço e a dominação lusitana no sertão; o outro, situado temporalmente mais à frente, analisa a mesma estratégia da Coroa, ao transformar antigos aldeamentos missionários jesuítas em vilas, a partir da implantação do chamado Diretório pombalino.
No sentido também da submissão aos conquistadores, porém com um pano de fundo mais ideológico catolicizante, os outros dois artigos abordam o papel da Igreja, seja mediante a educação jesuítica com as Casas de Bê-á-bá ou a pedagogia do medo praticada pelo Santo Ofício na conversão de africanos escravizados submetidos ao poder de senhores seja em Portugal, seja na América portuguesa.
Com esses artigos inéditos, fruto do trabalho de pesquisa de historiadores de excelência, constatamos os mecanismos de destruição de povos, etnias em nome de uma supremacia religiosa e um poder político impositivo.
Esperamos que a leitura seja leve, fluida e, sobretudo, construtora de um conhecimento humanista indispensável na edificação de um mundo melhor.
Suzana Maria de Sousa Santos Severs – Professora Doutora
Marco Antônio Nunes da Silva – Professor Doutor
SEVERS, Suzana Maria de Sousa Santos; SILVA, Marco Antônio Nunes da. Apresentação. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 13, n. 25, jan. / jun., 2019. Acessar publicação original [DR]
Desigualdades – violência – relações de poder na história / Manduarisawa / 2019
A presente edição especial da Revista Manduarisawa reúne um conjunto de artigos apresentados durante o I Encontro Estadual de História da ANPUH Seção Roraima, realizado entre os dias 01 e 04 de outubro de 2018, na Universidade Federal de Roraima (UFRR).
O encontro promovido pela ANPUH / RR, que no mesmo ano iniciava suas atividades no estado de Roraima, objetivou promover, incentivar e fortalecer a disciplina História no estado, na região norte e em nível nacional. O encontro estadual contou quatro conferências, cinco mesas redondas, dezesseis simpósios temáticos e lançamentos de livros. Durante os quatro dias de evento, os mais de trezentos participantes puderam debater acerca de uma grande variedade de temas historiográficos e de questões políticas e sociais de interesse da comunidade de historiadores e historiadoras, como da sociedade em geral. Destes participantes, registrou-se a presença de pesquisadores das mais variadas localidades do país, como das cidades de Tefé, Manaus e Coari (AM), Rio de Janeiro (RJ), Niterói (RJ), Santarém (PA), Belém (PA), Salvador (BA), Ponta Grossa (PR), Florianópolis (SC) e cidades do estado de Roraima. Os historiadores tiveram uma rica oportunidade de dialogar com um grande número de pesquisadores oriundos de diversas áreas do saber que prestigiaram o evento, como: Antropologia, Sociologia, Agroecologia, Arquitetura e Urbanismo, Serviço Social, Artes Visuais, Comunicação, Direito, Educação do Campo, Filosofia, Economia, Letras, Odontologia, Psicologia, Pedagogia, Medicina, Música e Patrimônio.
Um dos resultados do evento consiste na publicação do livro “Desigualdade, violência e relações de poder na História”, publicado em 2019 pela editora da UFRR, disponível em acesso livre na página da editora1. O livro é fruto dos 110 trabalhos inscritos para apresentação nos simpósios temáticos.
Este dossiê especial é composto por oito artigos, todos eles apresentados nas cinco mesas redondas, que compuseram a programação do evento: 1) Relações Internacionais: história e fronteiras; 2) História do Tempo Presente: metodologia e possibilidades de pesquisa; 3) Recortes da América Portuguesa; 4) Educação e diversidade; 5) Diálogos entre o passado e o presente: escravidão, quilombola e indígena. As mesas redondas tiveram como preocupação principal debater questões teóricas e metodológicas dos mais diversos campos e abordagens da História.
A comissão organizadora do evento e do dossiê agradece a parceria firmada com a equipe da Revista Manduarisawa para publicação dos presentes trabalhos.
Boa leitura
Nota
1 Livro disponível para download gratuito em: http: / / ufrr.br / editora / index.php / editais?download=409
Tiago Siqueira Reis
Monalisa Pavonne Oliveira
Carla Monteiro de Souza
REIS, Tiago Siqueira; OLIVEIRA, Monalisa Pavonne; SOUZA, Carla Monteiro. Desigualdade, violência e relações de poder na História. Manduarisawa, Manaus, v.3, n.1, 2019. Acessar publicação original [DR].
Experiência social e escrita da história: relações de poder na contemporaneidade / Tempos históricos / 2017
A construção do dossiê traz, nesse momento de inquietude histórica, um repertório de reflexões em que ganhou espaço questões tangenciadas por uma trama de mudanças e permanências na confrontação de valores, expressas no campo de forças da dinâmica social. Os artigos que compõem esse número não só reafirmam como determinadas problemáticas (significadas na experiência social) são pautadas na historiografia, mas indicam como os trabalhadores se colocaram, foram vistos nas relações em que se envolveram e avaliados na cena historiográfica.
As disputas recentes pela manutenção da reflexão histórica como um espaço legítimo de discussão das relações de poder se fizeram (e ainda se fazem) práticas necessárias, pois é nesse terreno de debate que nossas investigações ganham publicidade e tematizam os usos da história. Nele, podemos tratar aspectos das tensões e da visibilidade que a pulsão de determinados embates dinamiza socialmente.
Por tudo isso, consideramos que esse dossiê não aponta apenas um conjunto de pesquisas acadêmicas que tiveram em comum um elo temático ou teórico. As produções apontaram peculiaridades, preocupações e visões do universo social, que deixaremos o(a) leitor(a) analisar, para perceber a intensidade e a direção que a singularidade de cada produção cingiu.
Maciel Silva retoma em sua investigação a presença de trabalhadores domésticos nas cidades de Salvador- BA e Recife-PE, observando as tensões vivenciadas na passagem do séc. XIX para o XX, particularmente ligadas a alterações de costumes e relações de trabalho. O autor, para tratar tais questões, evidencia a sociedade escravocrata brasileira, apontando regulamentos e práticas do trabalho doméstico dessa historicidade.
No artigo de Santos, ao analisar a movimentação social de trabalhadores, ele discute as intenções e ponderações manifestas nas alternativas e relações produzidas pelos sujeitos indicados na pesquisa. O autor retoma debates sobre a construção de procedimentos da pesquisa histórica, inclusive na produção e uso da fonte oral, ao destacar a presença de trabalhadores no Oeste do Paraná e os caminhos traçados por eles frente a pressões e limites de classe.
Por sua vez, Silva Junior traz a cidade como foco de análise, elegendo o debate sobre a habitação popular no país, destacando a questão da moradia a partir de Uberlândia-MG. Ele investiga entre 1960 e início da década de 1990 para compreender certas confrontações que perpassam a luta pelo onde e como morar nas cidades brasileiras nessa temporalidade. O autor retoma ações da Administração Municipal, a visibilidade dessas proposições na imprensa, bem como as práticas de um conjunto de trabalhadores para discutir como valoraram e disputaram a cidade ao colocarem em questão a sua condição de moradia e seu modo de viver.
Speranza traz em seu artigo um debate sobre a tentativa de classificação racial de trabalhadores no Rio Grande do Sul no período do Estado Novo. A autora analisa formulários de identificação profissional e, ao mesmo tempo, sugere leituras das relações de poder, estabelecidas a partir dos usos desse suposto de distinção social e a criação da carteira profissional no país. Seu diálogo com os formulários permitem ao(a) leitor(a) avaliar as intenções e registros que demarcavam as relações de trabalho naquela historicidade.
Na produção de Fiorotti, encontramos a discussão sobre relações de trabalho, envolvendo práticas de transporte de mercadoria não regulamentada entre Brasil e Paraguai nas décadas de 1960 e 1970. A autora utiliza narrativas orais, legislação e autos criminais do acervo referente à Comarca de Toledo-PR para analisar a ocorrência e a relação desses atos com os trabalhadores envolvidos.
Maurício Santos retoma Teresina de 1950 para destacar a visão que a imprensa piauiense produzia sobre a “movimentação dos flagelados”. O autor faz um intenso debate sobre a leitura da fome e da pobreza no Piauí e traz para o (a) leitor(a) os incômodos e as narrativas sobre a presença desses sujeitos na capital, permitindo que os interesses e tensões sociais sejam avaliadas e redimensionadas a partir da confrontação experimentada na cidade.
Peres encerra o conjunto de produções trazendo à tona uma discussão sobre as disputas que envolvem a escrita da história. Para tanto, usa como repertório os sentidos de história que pautam a cidade de Araguari-MG, onde indica enredos variados, formulados em memórias distintas, delineando possibilidades analíticas que se vinculam a um universo tenso de visões de mundo e projetos de cidade.
Essas produções não encerram os debates, ao contrário, convidam os (as) leitores(as) a provocar o encontro analítico entre experiência social e escrita da história.
Heloisa Helena Pacheco Cardoso – Professora Titular dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós- Doutora em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC / SP).
Sheille Soares de Freitas – Professora Adjunto C dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).
CARDOSO, Heloisa Helena Pacheco; FREITAS, Sheille Soares de. Introdução. Tempos Históricos, Paraná, v.21, n.1, 2017. Acessar publicação original [DR]
Gênero, feminismos e relações de poder / Territórios & Fronteiras / 2017
Organizado a partir dos eixos temáticos gênero, feminismos e relações de poder, o presente dossiê tem como orientação aglutinar e divulgar estudos sobre as questões de gênero articuladas à crítica feminista e aos jogos e relações de poder que informam sua construção e naturalização no cotidiano social. O propósito é integrar e ampliar o contemporâneo – e até mesmo acirrado – debate acerca de nossa localização no mundo como pessoas produzidas no / pelo gênero e, ao mesmo tempo, produtoras dele.
A interseccionalidade do gênero com outras dimensões da vida social como raça, etnia, classe, religião, escolaridade, sexualidade, ocupação, região e geração, foram perspectivas e possibilidades abertas às abordagens dos temas. Além disso, definiu-se intencional abertura para sua inscrição em diferentes recortes espaciais e temporais, no que tange ao Brasil e à América Latina. Acrescente-se, nessa ampliação do espectro temático, a inclusão dos feminismos, suas ações e seu aporte teórico como possíveis lentes e chaves de leitura para se apreender a historicidade da dimensão do gênero nas relações sociais. Afinal, foi justamente a crítica feminista que mostrou que os papéis sociais são construídos, que o próprio discurso da “natureza” dos sexos é um artifício e um exercício de poder. E exatamente por isso nos textos do dossiê é possível envontrar não apenas a interseccionalidade operante, mas também uma diversidade de questões e reflexões em torno dos conceitos de poder, violência, gênero, igualdade / diferença e cidadania.
Nessa direção, abre o dossiê Pós-cidadania feminina, artigo em que Ana Maria Colling exercita a crítica feminista ao fazer uma abordagem histórica do conceito ‘cidadania’. Nele, ela se detém na acepção moderna do conceito, a fim de problematizar os dispositivos universais do liberalismo e da República e também as lutas históricas das mulheres pela conquista de direitos civis, políticos e sociais. Ao interrogar as matrizes discursivas – políticas, jurídicas, morais – que fundamentam aquelas representações sociais, inclusive as do feminino, a autora discute as práticas de silenciamento, violência e exclusão produzidas nas teias de construtos e sentidos articulados na sociedade moderna.
A Ditadura Civil-Militar brasileira é o cenário histórico onde circulam sujeitos-objetos do artigo seguinte, Mulheres que foram à luta: relações de gênero e violência na Ditadura Civil Militar brasileira (1964-1985). Nele, Clerismar Aparecido Longo e Eloísa Pereira Barroso discutem as experiências de mulheres militantes de esquerda que lutaram contra a ditadura civil-militar brasileira de 1964. Baseado em relatos colhidos pela Comissão Nacional da verdade, a partir de memórias subtraídas dos depoimentos, o texto assinala como determinadas relações vivenciadas por essas mulheres com os agentes repressivos nos órgãos do Estado ditatorial estão vincadas pelas demarcações e pela violência de gênero. Trata-se de uma interessante análise de representações do feminino que possibilita conhecer imagens, papéis, valores, normas específicas e parte significativa do imaginário androcêntrico em um passado recente de nossa experiência histórica.
O mesmo espaço e temporalidade, agora tomados através da sintaxe do cinema, como fonte da história, são alvos do artigo de Alcilene Cavalcante Oliveira, A violência de gênero durante a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985) sob as lentes de Ozualdo Candeias. Inspirado na peça de teatro Milagre na Cela (1975), de Jorge Andrade, o longa-metragem de ficção, A Freira e a tortura (1983), mostra a prisão e a tortura de uma freira e a análise proposta no artigo dele se apropria para discutir um tema pouco trabalhado na historiografia brasileira: a violência política e de gênero contra religiosas durante o regime militar no Brasil.
Violência é também tema do artigo seguinte, de Vera Lúcia Puga e Michelle Silva Borges, Violência de Gênero, Justiça Criminal e ressignificações feministas. O ensaio fornece contribuições relevantes acerca dos avanços das práticas feministas, problematizando as incorporações mais ou menos críticas, as negociações e sobretudo as acomodações políticas evidenciadas nas leis, nos discursos da justiça criminal e nas práticas de punição. Em que pese a pressão constante dos movimentos feministas no enfrentamento da questão da violência social marcada pelo gênero, as autoras sugerem que muitas manobras na / da cultura androcêntrica, entre elas a institucionalização do patriarcado e das instâncias cotidianas de poder, exigem a renovação das lutas e a construção dialógica de novos processos de ação e subjetivação das mulheres.
Buscando uma alternativa ou estratégias para enfrentar e superar um cotidiano de violência e desigualdade social, para a autora, Cintia Lima Crescêncio, o humor e o riso produzido por cartunistas mulheres configuram uma maneira singular de ser e estar no mundo. Partindo desse debate, no artigo “Tá rindo de quê?” ou Os limites da teoria Humor Gráfico na Imprensa Feminista do Cone Sul, ela propõe uma reflexão sobre a importância dos discursos feministas e as dificuldades da teoria em explicar o humor gráfico contra-hegemônico produzido por mulheres e publicado em jornais feministas do Brasil, Argentina e Uruguai entre os anos 1970 e 1980.
No esforço de atravessar arenas históricas e historiográficas da violência, agora acerca do Brasil do século XIX, Fabiana Francisca Macena produz uma instigante reflexão a partir da análise de documentos sobre a escravidão no artigo Mulheres cativas nas Minas oitocentistas: experiências de liberdade. Ali, ela destaca crimes perpetrados por cativas da província de Minas Gerais, na segunda metade daquele século, bem como suas articulações e demandas junto à justiça na tentativa de alcançar a liberdade. As fontes, sob essa análise, revelam experiências que sublinham como aquelas cativas, mulheres pobres, negras e pardas, subverteram as imagens da passividade, de simples coadjuvantes ante a violência do cativeiro, e produziram, a partir de suas práticas políticas, efeitos abolicionistas, enfraquecendo a instituição da escravidão.
A questão da violência, da resistência e da exclusão, com base na interseccionalidade de categorias da identidade, reaparece em Bernardina Rich (1872- 1942): uma mulher negra no enfrentamento do racismo em Mato Grosso. O artigo de Ana Maria Marques e Nailza da Costa Barbosa Gomes, construído sobre fontes históricas pouco exploradas, ilumina e redescreve a trajetória de uma mulher negra, cuiabana, para problematizar os marcadores racistas, classistas, sexistas da sociedade mato-grossense do pós-abolição. Através de pesquisa criteriosa, as autoras refletem sobre a experiência da professora em meio às lutas pela emancipação feminina, pelo voto e escolarização das mulheres e às evidências do crescimento quantitativo das mulheres no mercado de trabalho remunerado. Assim, ao retomar criticamente aspectos dessa experiência significativa em relação àquele momento da educação brasileira, repleto de tensões, negociações e conflitos, o artigo desvela o processo da divisão sexual do trabalho docente e das lutas históricas de mulheres, negras e / ou brancas em busca de autonomia, reconhecimento e respeito na / da sociedade brasileira.
O artigo seguinte é um exemplar da crítica feminista sobre a literatura negrobrasileira. Gênero, Feminismo, Poder e Resistência na Contística, artigo de Rubenil da Silva Oliveira, Benedito Ubiratan de Sousa Pinheiro Júnior e Maria do Perpétuo Socorro Galvão Simões, examina a apropriação das categorias conceituais – gênero, feminismo, poder e resistência na contística de autoria negra feminina. Nessa aventura, eles se apropriam dos contos – O tapete voador e Nkala: um relato de bravura, da escritora Cristiane Sobral, que fazem parte do livro O tapete voador (2016), para analisá-los à luz de abordagens teóricas que discutem aquelas categorias, e refletem como tais textos literários abarcam o empoderamento feminino, já que as protagonistas resistem e não se deixam dominar, mesmo que isso lhes custe o emprego ou a vida.
O último artigo do dossiê é Os homens também choram: leituras de masculinidade na arte funerária a partir do caso do pranteador, de Maristela Carneiro. Nele, a autora explora o ato de prantear do homem por meio da abordagem de um exemplar escultórico proveniente da arte funerária paulistana: a obra Lenda Grega, parte do complexo tumular da Família Trevisioli, concebido em 1920 pelo escultor Nicola Rollo (1889-1970) e instalado no Cemitério da Consolação, em São Paulo. Segundo Carneiro, o sentido da morte é tão inescrutável para aqueles que ficam que a dor e o lamento, muitas vezes, são as únicas manifestações possíveis: o pranteador é escolhido como manifestação destes sentimentos. Também chamados pleurants, colocam-se em um lócus particular e transitório, entre a vida e morte. Diante dos túmulos, debruçados em pranteio, estas figuras sinalizam a morte, e tal sensibilidade modelada na arte embaralha e tensiona as representações de masculinidade habituais.
Reunidos no dossiê, embora em pequena amostragem, os artigos são reveladores do amplo espectro de objetos, problemas e abordagens possíveis, que se fazem necessárias, até mesmo urgentes em nossos dias, e exprimem o vigor e a fertilidade analítica da caixa de ferramentas das teorias feministas. Uma característica que deve ser destacada no dossiê é que vários textos aqui apresentados transitam nos caminhos da análise da cultura e da arte, isto é, no campo das representações modeladas na literatura, no cinema e na escultura.
Com efeito, o conjunto apresenta artigos elaborados sob diferentes perspectivas e enfoques, que exibem documentações e estratégias metodológicas próprias, contemplando diferentes temáticas, espacialidades e temporalidades, com um denominador comum: todos têm o gênero, os feminismos e o poder como parâmetros que articulam a narrativa e a (des)construção analítica. Nesta edição, portanto, será possível encontrar histórias de mulheres e de homens figuradas em diferentes escritas, mulheres que lutam, que escrevem, que vivenciam violências, e homens que choram. Também, encontrar questionamentos e críticas aos conceitos, os quais nos permitirão pensar na contribuição destes textos aos estudos de gênero, dos feminismos e das relações de poder.
Esperamos que as / os leitoras / es do dossiê possam desfrutar de tais contribuições e, sobretudo, a partir dessas elaborações, possam discutir, adensar e fomentar o debate que ainda se apresenta relevante e (cada dia mais evidentemente) incontornável para construir uma cultura de igualdade entre os sexos e de respeito às diferenças.
Boa leitura!
Blanca Susana Vega Martínez – Doutora em Humanidades pela Universidad Autónoma de Zacatecas. Professora e pesquisadora na Faculdade de Psicologia e no Instituto de Ciências Educativas da Universidad Autonóma de San Luís Potosí. E-mail: susanavega8@hotmail.com
Diva do Couto Gontijo Muniz – Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo. Professora do Departamento de História da Universidade de Brasília. E-mail: diva.gontijomuniz@gmail.com
Maria Elizabeth Ribeiro Carneiro – Doutora em História pela Universidade de Brasília. Professora do Departamento de História da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: mariaercarneiro@gmail.com
MARTÍNEZ, Blanca Susana Vega; MUNIZ, Diva do Couto Gontijo; CARNEIRO, Maria Elizabeth Ribeiro. Apresentação. Territórios & Fronteiras, Cuiabá, v.10, n.2, dez, 2017. Acessar publicação original [DR]
Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços / Revista Espacialidades / 2016
O homem vive, em grande parte de sua vida, uma busca por espaço. Seja de forma concreta, um lar para morar, ou abstrata, como um lugar no espaço postmortem. Por toda a História, homens, nações, povos, etnias e sociedades empreenderam uma procura semelhante ao definirem territórios e linhas divisórias do que é seu e do que pertence ao outro. Esta definição produziu conflitos por espaços que englobaram desde a necessidade de se alimentar, como o movimento descontínuo de conquistas das terras férteis da Mesopotâmia, a busca por riquezas a serem aproveitadas, dos impérios ultramarinos e o controle das diferentes colônias, resultado de expedições e guerras travadas entre nações e povos nativos ou, no século XX, na busca dos Estados Nacionais por um “espaço vital” necessário ao progresso, até determinadas formas de conceber o mundo por meio de disputas por “lugares sagrados”, sejam eles concretos ou abstratos.
A construção dos espaços pode estar intimamente ligada àquilo que se almeja ter, que se sonha para um propósito, com um novo lugar para viver, a extensão do poder de conquista, a expansão de mercados, o aumento do lucro ou até o imaginário de um lugar sagrado. Nesse sentido, o desejo pelo espaço que já era de outrem ou que estava entre interesses diferentes, levou à disputa de grandes guerras, conflitos, embates e transformações nos indivíduos e na sua forma de compreender os espaços. Tais relações de poder foram fundamentais à definição de pertenças, o estabelecimento ou não de fronteiras, a organização de movimentos de resistência e de negociação. Todas essas dinâmicas contribuíram à (des)construção dos espaços que eram almejados por indivíduos, povos, etnias ou quaisquer organizações estatais – que empreendiam esforços e estratégias para dominar àquilo que sonhavam ter sob suas posses. Percebendo-se a constância das disputas pelo espaço na História e a maleabilidade das fronteiras estabelecidas pelas diferentes formas de territórios e espacialidades e a importância desta temática para o enriquecimento do debate da relação História e Espaços, pauta central deste periódico, é com imenso prazer que a Revista Espacialidades apresenta o seu 9° volume com o dossiê “Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços”.
O projeto deste dossiê começou a ser pensado já meados de 2015 como resultado de conversas a respeito de qual seria a temática do dossiê do volume 9, referente ao semestre janeiro-junho de 2016. Após uma longa divulgação da chamada para o dossiê foram recebidas diferentes propostas para esta publicação. Criteriosamente avaliadas pelo Conselho consultivo da Revista Espacialidades, composto por professores e pesquisadores de universidades das mais diferentes regiões do país, os artigos recebidos e aprovados estão aqui apresentados neste volume. Além dos 8 artigos que compõe o dossiê temático “Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços”, este volume contém mais 5 artigos na sua seção livre. Após a seção livre, apresentamos também uma resenha e uma entrevista realizada pela Equipe editorial da Revista com a professora Dra. Sabrina Evangelista Medeiros, envolvida com pesquisas que se encaixam com o tema do dossiê “Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços”. Publicações estas que serão explicitadas logo em seguida, nesta breve Apresentação.
A Equipe editorial da Revista Espacialidades composta por membros do Programa de Pós-graduação em História da UFRN e sob a chefia editorial do professor Dr. Magno Francisco de Jesus Santos, professor do Departamento de História da UFRN, orgulha-se da sua mais nova publicação, resultado de muito trabalho e de contribuições feitas por pesquisadores de todo o país, que se interessaram em publicar na Revista Espacialidades enviaram as suas propostas. A todos, nosso agradecimento.
Não somente aos proponentes de publicações, agradecemos imensamente aos membros do Conselho consultivo deste volume. Professores e pesquisadores das mais diversas universidades que com muita dedicação e criticidade contribuíram, em grande medida, para a consolidação do projeto pensado ainda em 2015 para este volume. Por meio de suas avaliações e pareceres, foi possível selecionar as publicações deste dossiê e ainda proporcionar o diálogo e enriquecimento das pesquisas e trabalhos de todos os que enviaram propostas de publicação para este volume. A Equipe editorial agradece ainda ao mestre pelo PPGH-UFRN, Adriel Silva, que contribuiu com a elaboração da capa deste dossiê, que com seu talento nos presenteou com a expressiva montagem que abre o volume 9 do nosso periódico.
Seguimos com uma breve apresentação dos textos e seções que compões este volume, publicações que certamente contribuírão para o avanço do diálogo, da pesquisa e do debate dentro da relação História e Espaços.
Inaugurando o Dossiê desta edição a professora Dra. Katia Maria Paim Pozzer, do Departamento de Artes Visuais da UFRGS, apresenta o artigo “Para além das guerras: a representação do espaço na arte assíria”, tratando sobre à representação imagética do espaço geográfico no período da neoassíria, por meio do estudo de um relevo parietal em uma conjuntura de forte expansão territorial do Império.
Em seguida têm-se o artigo “O saque de Roma pelos visigodos: visões tardo-antigas” trabalho realizado pelo doutorando em História pela UFRJ Fabiano de Souza Coelho e pelo doutorando em História pela UFES, Luís Eduardo Formentini, no qual fizeram uma análise do saque de Roma realizado pelos visigodos em 410 a.c, debatendo a influência deste acontecimento no processo de desagregação do Império do Ocidente.
O terceiro artigo do dossiê intitula-se “Conjuntura e estruturação dos espaços de poder do marquesado da Toscana no século XI” e foi proposto pela mestranda em História da UFMT, Natalia Dias Madureira. O texto aborda os conflitos existentes no contexto do concílio realizado em Mântua, em 1064, no marquesado de toscana, discutindo as relações de poder entre Igreja e famílias da região que estiveram envolvidas no concílio.
Em seguida, saindo dos trabalhos que compreendem o recorte temporal da antiguidade e do medievo, apresentamos o artigo “Conflitos judiciais, espaços de jurisdição e estruturação administrativa da justiça na capitania do Rio Grande (Comarca da Paraíba / Rio Grande do Norte, 1789 – 1821)”, trabalho do prof. Dr. Antonio Filipe Pereira Caetano, do Departamento de História da UFAL. Neste artigo, o autor tem como foco discutir os conflitos de jurisdições e os problemas administrativos ocorridos na Capitania do Rio Grande (do Norte) entre 1789-1821.
Ainda tratando do contexto do Rio Grande do Norte, mas agora no período do Brasil Império o artigo “Os retirantes e a municipalidade no Rio Grande do Norte durante a seca de 1877”, elaborado Ana Carolina da Silva Santana, graduada em História pela UFRN e por João Fernando Barreto de Brito, doutorando em História pela UFRJ, tem como objetivo analisar os conflitos entre a massa de trabalhadores livres e as elites locais, na conjuntura das Comissões de Socorros, estabelecidas pelos presidentes de província durante a seca de 1877.
Nessa ordem, ainda tratando do Rio Grande do Norte, o quinto artigo deste dossiê, de autoria do doutorando em História da PUC – RS, Saul Estevam Fernandes, “Os engarrafadores dos espaços ou a disputa pela produção espacial norte rio-grandense e cearense durante na retomada da questão de limites entre os sócios do IHGA-CE e o IHG-RN”, objetiva discutir a retomada da Questão de Limites entre os estados do Rio Grande do Norte e Ceará (1894-1920). Além disso, o texto toma como problemática central as tentativas dos intelectuais cearenses e potiguares em dizerem os territórios dos dois estados por meios de cronistas, memórias, descrições, comemorações e mapas.
Mudando de uma temática mais concentrada no Rio Grande do Norte para a Paraíba, mas ainda tratando da relação entre conflitos e espaços, apresentamos o artigo intitulado “Banditismo e modernização: cangaceiros, malfeitores, ladrões de cavalos e suas redes de solidariedade avessas ao poder policial (Paraíba, 1930-1950) ”, trabalho realizado pelo mestrando em História da UFPB Luiz Mário Dantas Burity. Nessa proposta, o autor visa, em uma análise da decadência do banditismo, atentar para as mudanças e permanências que ocorreram nas regiões atingidas pelo banditismo, na Paraíba, entre 1930 e 1950.
Fechando o dossiê “Espaços de guerra, territórios do desejo: conflito, negociação e relações de poder na construção dos espaços”, trazemos o artigo “O Brasil, a América Latina e a Europa: o acordo Mercosul / União Europeia, um retrospecto de umanegociação ainda não concluída”, do bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela UFRJ, Rodrigo Cássio Marinho da Silva. O trabalho aborda as implicações da política de subsídio europeia e as consequências para o Mercosul e seu processo de integração, encerrando o dossiê com um tema ligado a negociação, espaços e poder nas relações internacionais.
Abrindo a Seção livre deste volume, trazemos o artigo “Fronteiras da memória, identidades imaginadas: uma análise histórica e cultural das fronteiras da Carélia no contexto da emancipação finlandesa, XIV-XIX”, de autoria do graduado em História pela UFCG, Marcos Saulo de Assis Nóbrega. O artigo tem como objetivo analisar as questões pertinentes a cultura da região fronteiriça da Carélia, desde o século XIV, abordando ainda o processo de emancipação da Finlândia e seu processo de formação do ideário nacionalista no século XIX.
Já o trabalho do mestrando em História pela UFRN, Kleyson Bruno Chaves Barbosa, “A câmara faz a festa, “ainda que estranho se acordacem tão tarde”: celebrações possíveis na Natal setecentista”, trata sobre o papel do Senado da Câmara da cidade do Natal quanto a organização e a celebração de festividades na cidade, no século XVIII, analisando um dos aspectos do cotidiano do espaço urbano colonial neste período.
O artigo “Uma discussão de classe e uma história social do blues no sul dos Estados Unidos”, feito pelo graduado em História pela UFPB, André Felipe de Albuquerque Espínola nos traz uma análise da experiência cultural com a música, o blues, desenvolvida entre os trabalhadores dos Estados Unidos no início do século XX, ao redor do Delta do Mississippi. Assim, o autor tenta compreender como essa experiência contribuiu para o desenvolvimento de estilo musical entre as décadas de 1930 3 1940.
Como parte da seção livre deste volume, temos também o artigo ““Como essa nunca tinha visto!” – devoção a Nossa Senhora Medianeira – a Igreja, o poder municipal e os devotos”, da doutoranda em História pela UPF Francielle Moreira Cassol. O artigo traz uma análise sobre a romaria de Nossa Senhora Medianeira, no interior do Rio Grande do Sul, problematizando a sua patrimonialização e a transformação do evento religiosos em acontecimento de caráter também turístico.
Encerrando a seção livre do nosso volume 9, apresentamos o trabalho realizado pelo professor Dr. Alessandro Dozena, do departamento de História da UFRN e pelo doutorando em Ciências Sociais, pela mesma instituição, Valdemiro Severiano Filho. O artigo “O carnaval de Natal (RN): espaços de transformação no tempo da folia” traz um estudo sobre a institucionalização do carnaval em Natal a partir da década de 1930 até o tempo presente, considerando as dinâmicas sociais ligadas à festividade com foco nas relações de poder nela estabelecidas.
Na seção Resenhas, têm-se a análise da obra O Eldorado, de autoria de José Miguel Arias Neto, realizada pelo pós-graduando em História pela UEL Osvaldo Fiorato Junior. A resenha intitulada “As representações do progresso em Londrina, uma História regional do norte do Paraná”, considera a influência da obra na constituição da historiografia regional do Norte do Paraná, fazendo um paralelo da relação entre a produção historiográfica e a construção dos espaços.
Fechando o nosso dossiê, na última seção do nosso volume, apresentamos a entrevista concedida pela professora Dra. Sabrina Evangelista Medeiros, professora da UFRJ e da Escola Naval do Rio Janeiro. Especialista nos debates sobre relações internacionais, a professora Sabrina Evangelista traz em sua fala importantes debates sobre a conjuntura internacional contemporânea, tratando de forma muito enriquecedora sobre temas relevantes da atualidade, referentes a conflitos, negociações e política nas relações internacionais no tempo presente.
O editor-chefe e a Equipe editorial da Revista Espacialidades desejam a todos uma boa leitura!
Editor-chefe: Magno Francisco de Jesus Santos
Equipe editorial:
Aledson Manoel Silva Dantas
Cid Morais Silveira
Francisco Leandro Duarte Pinheiro
Giovanni Roberto Protásio Filho
Lívia Brenda da Silva Barbosa
Raphael Alves da Costa Torres
Tyego Franklim da Silva
SANTOS, Magno Francisco de Jesus et al; Apresentação. Revista Espacialidades. Natal, v.9, n. 01, Jan- Jun, 2016. Acessar publicação original [DR]
Sociedades senhoriais no medievo: diversidades culturais e relações de poder / Ponta de Lança / 2016
Os estudos medievais no âmbito do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Sergipe são uma realidade indiscutível, assim como no restante do nosso país.
Não é mais possível relegar ao status de “exótico” e “alienado” a preocupação de historiadoras e historiadores por temas que versam a respeito de um período da história das relações de poder que, aparentemente, estaria tão distante de nós. Estudar e pesquisar, refletir e produzir historiografia sobre a Idade Média (ou das “Idades Médias”) não se restringe a fazer justificadas conexões culturais de herança de um passado que não deixa de ser também nosso. Mas de perceber que o processo constante entre dominantes e dominados, de saberes culturais e complexidades de relações políticas devem ser sempre olhadas ao crivo do método e da teoria da História e que nós historiadores não somos servos e adoradores de Clio, essa musa que é erigida diariamente como intocável às críticas, elas sim, tão necessárias ao fazer histórico. Nós somos e devemos ser aqueles que olham para o horizonte repensando caminhos e posições e que põem em cheque constantemente o risco de imobilidade na Educação. Leia Mais
Relações de Poder e Gênero na História / Dimensões / 2016
A revista Dimensões tem a satisfação de apresentar o dossiê Relações de Poder e Gênero na História. Por se tratar de um chamado aos estudos das relações de gênero e sua subjetividade com base nas relações históricas de poder, este dossiê parte da premissa de que os padrões de comportamento dinâmicos vigentes na história têm como base as estratégicas adotadas por homens e mulheres para conviverem e se posicionarem nos espaço das organizações consideradas como de fundamental importância para a sociedade.
Procurando estimular reflexões sobre as questões relacionadas às relações de poder e solidariedade entre homens e mulheres, os treze artigos que compõem o dossiê exploram aspectos significativos da temática em foco. Leia Mais
História, Estado, Relações de Poder e Movimentos Sociais / Crítica Histórica / 2013
A edição da Revista Crítica Histórica nº 8 – Dossiê História: Estado, Relações de Poder e Movimentos Sociais apresenta temáticas que se estendem da organização do um comércio legal na grande Senegâmbia, pós proibição do tráfico de escravos, atravessando o Atlântico e terminando no Brasil para entender a formação de relações de poder nos oitocentos, chegando ao debate racial dos anos trinta.
O artigo que abre o Dossiê, apresenta como na Senegâmbia Histórica, após a proibição do tráfico de escravos, outras atividades comerciais se desenvolveram. A extinção do tráfico negreiro alterou a visibilidade das relações de poder sobretudo, econômicas, políticas e sociais, no interior da Costa da Guiné e daí com os portugueses. Quais atividades comerciais se formam aí e como elas aconteciam são perguntas as quais o artigo de Diego Zonta e Cristina Portellla, pretendem responder.
Já o artigo de Martha Vieira, procura entender como o processo de Independência do Brasil, em especial, entre 1821 e 1822, alterou significativamente as relações políticas institucionais na Província de Goiás, gerando uma crise de autoridade local que acabou por reorganizar seus próprios fundamentos.
Pensando no cotidiano, Sebastião Pimentel Franco, apresenta-nos as características sociais da população da Comarca de Vitória (ES) em meados dos oitocentos. Ressalta-se, porém, no artigo, como, através dos autos criminais, é possível dar visibilidade aos aspectos do cotidiano daquela sociedade.
De forma geral, o artigo de Célia Nonato articula a ideia de que o messianismo oitocentista pode ser pensado como movimentos sociais diferenciados na medida em que se articularam no mundo rural, contra o reformismo e o barroco, tornando tais aspectos centrais na ação coletiva que empreenderam e projetaram.
Encerrando o Dossiê, o artigo sobre o médico alagoano, Arthur Ramos, parte de sua atuação profissional, em especial entre os anos trinta e quarenta, na qual atua em diferentes áreas cujo foco central era o “racismo”, sempre tratado pelo médico nas suas dimensões políticas, sociais e culturais.
Na Seção Artigos, há uma complexa e interessante abordagem sobre a historiografia do Congo, ao mesmo tempo em que a articula na abordagem epistemológica e nas estratégias metodológicas plurais que evidenciam as contribuições da historiografia africanista ao campo da História.
Ana Paula Palamartchuk – Professora Doutora. Editora Chefe / Coordenadora do Dossiê
PALAMARTCHUK, Ana Paula. Apresentação. Crítica Histórica, Maceió, v. 4, n. 8, dezembro, 2013. Acessar publicação original [DR]
O universo normativo e relações de poder na Idade Média: doutrinas, regras, leis e resoluções de conflitos entre os séculos V e XV / Anos 90 / 2013
O universo normativo e relações de poder na Idade Média: doutrinas, regras, leis e resoluções de conflitos entre os séculos V e XV. No final do ano de 2001, a revista Anos 90 publicou o número intitulado Estudos sobre Idade Média Peninsular. O trabalho de seleção dos textos ali reunidos foi organizado pelo Professor Dr. José Rivair Macedo. Esse número foi a coroação de uma série de ações realizadas na UFRGS sobre história medieval na década de 1990. Sendo assim, foram publicados textos de professores e, então, alunos de pós-graduação e graduação, além de professores de outras instituições. O tema daquele número também refletia a concentração de estudos, na historiografia brasileira sobre Idade Média, que privilegiavam a Península Ibérica nos séculos finais daquele período.
Doze anos depois, podemos afirmar que o presente dossiê sobre normas e relações de poder entre os séculos V e XV é reflexo de uma série de mudanças: desde as relacionadas à avaliação e classificação das revistas acadêmicas, que estimulam a inserção dos Programas de Pós-Graduação em nível nacional e internacional e evitam também a publicação de textos de autores da casa, às abordagens sobre tempos e espaços diversos. Sendo assim, os autores que publicam no presente dossiê, em geral, tem como característica geral, a presença mais constante e sistemática de períodos e projetos de colaboração internacional de pesquisa. Dessa forma, o presente número oferece ao público uma reunião de textos que tem origem em pesquisas realizadas (concluídas ou em andamento) em nove Universidades diferentes e que tratam de tempos e espaços heterogêneos.
Dividimos o dossiê O universo normativo e relações de poder na Idade Média: doutrinas, regras, leis e resoluções de conflitos entre os séculos V e XV em três blocos, não necessariamente fechados em si. O primeiro inclui textos sobre o período inicial da Idade Média que analisam aspectos das relações de poder na região da atual França; o segundo concentra textos sobre a chamada Idade Média Central, mas também abarca os textos sobre Península Ibérica entre os séculos XI e XV; o terceiro reúne textos sobre a Península Itálica, especificamente entre os séculos XIII e XV. O leitor pode perceber, então, que há uma orientação cronológica (da Alta à Baixa Idade Média) e geográfica (França, Portugal, Espanha e Itália), porém, o que fica evidente no conjunto dos textos é a pluralidade de possibilidades: textos que defendem a atuação de um possível Estado e ideias de governo, textos sobre a constituição de normas específicas, como regras de Ordens Religiosas ou processos jurídicos, textos sobre concílios e moralização clerical, além de textos sobre resolução de conflitos.
O primeiro artigo é de autoria de Rossana Pinheiro, da UNIFESP. A autora aborda algumas características do poder episcopal na Gália do século V, com especial destaque para a não separação entre monges e bispos ou, como defende a autora, para a atuação de “monges-bispos” na expansão do cristianismo naquela região. O texto seguinte, de autoria de Marcelo Cândido da Silva (USP), trata de crises de escassez de alimentos e fome entre os séculos VIII e IX, entre os carolíngios. O autor analisa, além de anais, crônicas e inventários, a atuação de combate à fome adotada por governantes, como: Pepino, o Breve († 768), Carlos Magno (†814), Luís, o Piedoso († 840), Carlos, o Calvo (†877) e Carlomano II (†884). Para Cândido da Silva, os indícios encontrados sobre a fome na documentação analisada não necessariamente permitem associar as crises às dificuldades técnicas. Sendo assim, o autor fornece um olhar mais voltado para a história política do que para a história econômica para discutir o assunto.
O segundo bloco de textos inicia-se com a reflexão proposta por Cláudia Regina Bovo, professora de história medieval na Universidade Federal do Triângulo Mineiro. A autora expõe seu problema de pesquisa no título do artigo: O combate à simonia na correspondência de Pedro Damiano: uma retórica reformadora do século XI?. O objetivo é discutir se se pode afirmar a existência de um “programa reformador” no século XI. Em outras palavras, a autora propõe uma revisão sobre a chamada “reforma gregoriana” a partir de uma análise de caso: a simonia. Ao final do texto, ela conclui que não é possível afirmar a existência de uma noção ampla de “reforma”. O texto de Andreia Cristina Lopes Frazão da Silva (UFRJ) sobre o concílio de Coyanza (século XI) apresenta as características que fazem dessa reunião uma das mais importantes ocorridas na Península Ibérica durante o medievo e, principalmente, como se deu a construção historiográfica sobre essa importância. De acordo com a autora, as duas redações diferentes das atas daquele concílio revelam os interesses políticos que estavam em cena nas disputas no reino de Castela-Leão. O terceiro texto que compõe esse eixo é de autoria de Maria Filomena Coelho (UNB). A autora analisa, a partir do tema da clausura feminina, o processo de instituição e consolidação do braço feminino da Ordem Cisterciense na Península Ibérica, bem como relaciona esse processo às tensões políticas em Castela-Leão no século XIII. Para Coelho, como a clausura era um elemento básico e importantíssimo para a legitimação da vida monacal das mulheres, o tema deve ser analisado a partir da cultura política, entendida como “valores em que se assentam e pelos quais se justifica o poder de exigir a observância da clausura, bem como o de permitir as exceções”. Sendo assim, ao final do texto, a autora defende a necessidade de entender a clausura feminina como um elemento de legitimação institucional de um modelo, no qual as disputas concernentes a essa questão devem ser entendidas no contexto social e político de cada região. Finalizando o segundo bloco, o texto de Beatris dos Santos Gonçalves (UCAM-RJ) aborda a importância da concessão do perdão régio no processo penal português para a afirmação de um reino centralizado e fortalecido no século XV. A autora privilegia a análise das Ordenações do Reino e conclui que o “acesso à benevolência da remissão régia” funcionou como elemento de propagação do argumento que “só o rei poderia garantir a justiça”.
O presente dossiê é finalizado por uma sequência de três textos que tratam de ideias de governo, normas, regras e conflitos na Península Itálica. André Luís Pereira Miatello (UFMG) aborda os usos e significados das ideias de bem comum e utilidade comum nas cidades comunais italianas, como Florença, Siena, Bolonha e Pádua. O autor analisa dois escritos retóricos de Brunetto Latini (1220- c.1294): Rettorica (ca. 1260), e Li Livres dou Tresor (ca.1260-1267). Miatello conclui que é possível afirmar a existência de uma “esfera pública” construída nas cidades italianas a partir da noção de bem comum. No texto de Carolina Coelho Fortes (UFF), sobre a formação da Ordem dos Irmãos Pregadores (dominicanos) no início do século XIII, o leitor encontra alguns aspectos da tese de doutorado da autora, defendida em 2011. Seu principal interesse está em discutir o papel dos estudos na constituição de uma identidade institucional dos frades pregadores. A autora analisa documentos como o Liber Consuetudinum e as atas dos capítulos gerais realizados pela Ordem entre 1220-1260. Fortes conclui que, ao identificar na documentação constantes referências à regulamentação sobre a saída dos frades para atuar como mestres, inclusive, em casas de outras ordens, é possível afirmar que os dominicanos, no século XIII, podem ser associados a uma societas studii, ou “sociedade de estudos”. O texto que encerra o dossiê é de autoria de Didier Lett (Paris VII). O autor apresenta uma microanálise sobre qual consciência homens e mulheres poderiam ter dos estatutos nas cidades italianas da região das Marcas de Ancona. Para isso, apresenta e analisa um processo movido pelo pai de uma criança, em 1458, após um jogo de batalha de pedras em São Severino. No processo, a acusação é de um tipo de traumatismo craniano provocado por Benincasa di Beneamato Corradi em Andrea di Nicola. O pai de Andrea recorre à justiça e o pai de Benincasa é convocado a defender o filho. O que estava em causa: a inimputabilidade penal de Benincasa. Em outras palavras, a defesa foi estruturada a partir do argumento de que o acusado teria menos de dez anos quando do ocorrido e, por isso, não deveria ser aplicada pena. Na movimentação dos dois pais a partir do acionamento e recurso à justiça para a resolução do conflito, Didier Lett desvenda um universo que compreende desde as práticas cotidianas de divertimento de crianças e jovens de uma determinada região, a consciência que os habitantes poderiam ter das leis (pois o pai da vítima reclamou na justiça o direito de indenização) e, também, a atuação de diferentes autoridades no processo de formação e a relação entre práticas e representações nas comunas italianas no final da Idade Média.
Os nove textos aqui reunidos, dessa forma, oferecem ao leitor um espectro diversificado sobre o universo político e social, em diferentes regiões, entre os séculos V e XV. Além desses artigos, apresentamos também uma resenha, de Néri de Almeida Sousa (UNICAMP), do recente livro Guerra Santa, de Jean Flori, publicado em português em outubro de 2013. Sendo assim, o leitor tem acesso a um bom número de reflexões recentemente concluídas e / ou de pesquisas em andamento que já produziram resultados consistentes. Resta aos organizadores o convite à leitura e o estímulo ao debate. Agradecemos aos colaboradores da Anos 90: a comissão editorial 2010-2012, que aceitou a proposta do dossiê, aos pareceristas que colaboraram com a qualidade dos textos aqui publicados e aos autores que privilegiaram a proposta ao enviar seus textos para avaliação.
Boa leitura!
Igor Salomão Teixeira
Cybele Crossetti de Almeida
(Organizadores)
TEIXEIRA, Igor Salomão; ALMEIDA, Cybele Crossetti de. Apresentação. Anos 90, Porto Alegre, v. 20, n. 38, dez., 2013. Acessar publicação original [DR]
Espaços: relações de poder / Revista Espacialidades / 2009
Em 2009 foi publicado o segundo volume da Espacialidades, com o dossiê “Espaços: relações de poder”. O volume contou com 7 artigos, abordando diversas temáticas envolvendo a produção dos espaços e o exercício de poder.
Urbano, regionalismo, modernidade, identidade, corpo… foram alguns dos temas discutidos no segundo volume.
Edianne dos Santos Nobre – Mestre em História – UFRN.
NOBRE, Edianne dos Santos. Apresentação. Revista Espacialidades. Natal, v.2, n. 01, 2009. Acessar publicação original [DR]
Estruturas agrárias e relações de poder / Revista Brasileira de História / 1991