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História das Mulheres e Estudos de Gênero: novas questões e abordagens / Ars Historica / 2019
Obs.: Apresentação indisponível na publicação original.
[História das Mulheres e Estudos de Gênero: novas questões e abordagens]. Ars Historica, Rio de Janeiro, v.18, n.1, 2019. Acessar dossiê [DR]Patrimônio Intangível: debates e questões / Clio – Revista de Pesquisa Histórica / 2013
Este volume da revista Clio, que contêm o dossiê Patrimônio Intangível: debates e questões, apresenta artigos que giram em torno do tema patrimônio cultural (imaterial), e em especial do carnaval, no Brasil. O tema do patrimônio tem sido intensamente debatido na historiografia brasileira nas últimas décadas. Acompanhando as mudanças que podem ser percebidas nas políticas públicas voltadas para o patrimônio, em especial o patrimônio imaterial, que tantos debates têm suscitado, a historiografia tem revisitado a história do patrimônio cultural no Brasil, assim como tem contribuído para adensar as questões que o tema tem suscitado.
Assim, é com enorme satisfação que apresentamos ao leitor este volume que contêm um profícuo debate em torno do carnaval, entendido como patrimônio imaterial do Brasil, já tantas vezes referido como importante aspecto na definição de nossas identidades culturais, seja nacionalmente, seja em seus desdobramentos locais. Com certeza, ninguém poderá negar ser o carnaval uma festa que encetou grandes debates historiográficos em torno da identidade nacional, mas não foi ainda pensado como patrimônio cultural, apesar de ser reconhecido como tal.
Abre o volume o artigo A folia de Momo na cidade de São Paulo na percepção da imprensa e dos artistas do traço: 1960 / 1964, de Zélia Lopes da Silva, que discute o modo como a imprensa paulista apresenta o carnaval, como se em São Paulo não existisse um real interesse pelas atividades momescas, preferindo o paulistano fugir para o interior e as praias nesses dias. Representação esta que, em grande medida, não só marginaliza as manifestações populares existentes no período, tais como cordões e escolas de samba, mas que também parece contribuir para torná-las invisíveis, como se os paulistanos não “gostassem” de carnaval. Enquanto isso, esses mesmos cordões e escolas de samba buscavam incentivos municipais para criarem visibilidade às suas agremiações, ao mesmo tempo em que paulatinamente construíram espaços de sociabilidade e legitimidade para suas atividades carnavalescas.
O segundo artigo do dossiê, Carnavais cariocas sob a ótica da revista O Cruzeiro (1943-1945), de Danilo Alves Bezerra, não só recua no tempo, para buscar compreender como o carnaval carioca foi representado na referida revista durante os últimos anos do Estado Novo, momento em que o Brasil encontrava-se envolvido na Segunda Guerra Mundial e que supostamente não haveria “clima” para se voltar ao carnaval. Mesmo assim houve quem não resistisse aos apelos de Momo, e o artigo discute as estratégias encetadas para manter o espírito carnavalesco vivo e atuante nesses dias de guerra.
O tema do carnaval continua presente no artigo Paradoxos carnavalescos: A presença feminina em carnavais da Primeira República (1889-1910), de Eric Brasil Nepomuceno. Ao centrar foco nas primeiras décadas da República e no carnaval carioca, o autor busca entender as tensões que a presença feminina em diversos espaços durante o carnaval gerou, e as negociações que precisou entabular para não só garantir sua presença nos espaços públicos, mas também para convertê-la em ganhos ainda que a primeira vista simbólicos. O artigo de Guilherme José Motta Faria, História e Memória: a construção do mito Isabel Valença, a Chica da Silva do GRES Acadêmicos do Salgueiro pela imprensa carioca, permite estabelecer um profícuo cruzamento entre a história do carnaval carioca com as questões raciais, ao discutir o modo como se constrói paulatinamente o mito de Chica da Silva entre as agremiações carnavalescas, destacando o modo como a imprensa foi fundamental para transformar essa mulher de “origem humilde, negra e moradora da periferia numa das referências na luta pela igualdade de direitos e do respeito que as mulheres exigiam a partir das lutas feministas dos anos 1960”. Desse modo, os dois últimos artigos nos permitem também fazer uma importante reflexão de como as questões de gênero se cruzam como a história do carnaval, e nos permitem discutir os modos como as mulheres foram conquistando espaços públicos e lutando contra os preconceitos não apenas de gênero mas também os raciais.
O tema da festa religiosa, e suas imbricações como o tema do patrimônio imaterial foram esboçados no artigo O religioso e o profano na festa de São Bernardo em Alcobaça – BA (1990 – 2010), de Jonathan de Oliveira Molar e Ítala Serafim Almeida, que se dedica a pensar as transformações ocorridas numa festa centenária, interrogando-se se a mesma teria perdido seu caráter identitário ao se adaptar ao mercado cultural. Através de entrevistas o autor nos apresenta uma festa que comporta diferentes modos de compreendê-la bem como múltiplas identificações, aspecto que, segundo o autor, pode ser pensado para outras festas religiosas, para além de Alcobaça.
O dossiê se encerra com o artigo de Luiz Gonzaga Baião Filho, Parque Nacional Serra da Capivara e gestação interdisciplinar das narrativas do patrimônio cultural, em que toma como desafio discutir as imbricações interdisciplinares ao se pensar o tema do patrimônio cultural, notadamente na gestão de parques nacionais em que o patrimônio imaterial está interelacionado com o ambiental, histórico e arqueológico. O autor discute o tema a partir de um rico referencial teórico proposto por Reinhart Koselleck e François Hartog, deixando patente os entrecruzamentos temporais que o tema do patrimônio cultural promove.
O volume ainda contém, além dos artigos livres, resenha que analisa criticamente o livro de Maria Lúcia Bressan Pinheiro, Modernismo e Preservação do Patrimônio no debate cultural dos anos 1920 no Brasil, elaborada por Marília de Azambuja Ribeiro e Angélica Cristina de Paula Botelho. Inebriados com esses ares carnavalescos, desejamos que apreciem a leitura!
Isabel Guillen
Augusto Neves
GUILLEN, Isabel; NEVES, Augusto. Apresentação. CLIO – Revista de pesquisa histórica, Recife, v.31, n.1, jan / jun, 2013. Acessar publicação original [DR]
Patrimônio Intangível: debates e questões / Clio – Revista de Pesquisa Histórica / 2013
Este volume da revista Clio, que contêm o dossiê Patrimônio Intangível: debates e questões, apresenta artigos que giram em torno do tema patrimônio cultural (imaterial), e em especial do carnaval, no Brasil. O tema do patrimônio tem sido intensamente debatido na historiografia brasileira nas últimas décadas. Acompanhando as mudanças que podem ser percebidas nas políticas públicas voltadas para o patrimônio, em especial o patrimônio imaterial, que tantos debates têm suscitado, a historiografia tem revisitado a história do patrimônio cultural no Brasil, assim como tem contribuído para adensar as questões que o tema tem suscitado.
Assim, é com enorme satisfação que apresentamos ao leitor este volume que contêm um profícuo debate em torno do carnaval, entendido como patrimônio imaterial do Brasil, já tantas vezes referido como importante aspecto na definição de nossas identidades culturais, seja nacionalmente, seja em seus desdobramentos locais. Com certeza, ninguém poderá negar ser o carnaval uma festa que encetou grandes debates historiográficos em torno da identidade nacional, mas não foi ainda pensado como patrimônio cultural, apesar de ser reconhecido como tal.
Abre o volume o artigo A folia de Momo na cidade de São Paulo na percepção da imprensa e dos artistas do traço: 1960 / 1964, de Zélia Lopes da Silva, que discute o modo como a imprensa paulista apresenta o carnaval, como se em São Paulo não existisse um real interesse pelas atividades momescas, preferindo o paulistano fugir para o interior e as praias nesses dias. Representação esta que, em grande medida, não só marginaliza as manifestações populares existentes no período, tais como cordões e escolas de samba, mas que também parece contribuir para torná-las invisíveis, como se os paulistanos não “gostassem” de carnaval. Enquanto isso, esses mesmos cordões e escolas de samba buscavam incentivos municipais para criarem visibilidade às suas agremiações, ao mesmo tempo em que paulatinamente construíram espaços de sociabilidade e legitimidade para suas atividades carnavalescas.
O segundo artigo do dossiê, Carnavais cariocas sob a ótica da revista O Cruzeiro (1943-1945), de Danilo Alves Bezerra, não só recua no tempo, para buscar compreender como o carnaval carioca foi representado na referida revista durante os últimos anos do Estado Novo, momento em que o Brasil encontrava-se envolvido na Segunda Guerra Mundial e que supostamente não haveria “clima” para se voltar ao carnaval. Mesmo assim houve quem não resistisse aos apelos de Momo, e o artigo discute as estratégias encetadas para manter o espírito carnavalesco vivo e atuante nesses dias de guerra.
O tema do carnaval continua presente no artigo Paradoxos carnavalescos: A presença feminina em carnavais da Primeira República (1889-1910), de Eric Brasil Nepomuceno. Ao centrar foco nas primeiras décadas da República e no carnaval carioca, o autor busca entender as tensões que a presença feminina em diversos espaços durante o carnaval gerou, e as negociações que precisou entabular para não só garantir sua presença nos espaços públicos, mas também para convertê-la em ganhos ainda que a primeira vista simbólicos. O artigo de Guilherme José Motta Faria, História e Memória: a construção do mito Isabel Valença, a Chica da Silva do GRES Acadêmicos do Salgueiro pela imprensa carioca, permite estabelecer um profícuo cruzamento entre a história do carnaval carioca com as questões raciais, ao discutir o modo como se constrói paulatinamente o mito de Chica da Silva entre as agremiações carnavalescas, destacando o modo como a imprensa foi fundamental para transformar essa mulher de “origem humilde, negra e moradora da periferia numa das referências na luta pela igualdade de direitos e do respeito que as mulheres exigiam a partir das lutas feministas dos anos 1960”. Desse modo, os dois últimos artigos nos permitem também fazer uma importante reflexão de como as questões de gênero se cruzam como a história do carnaval, e nos permitem discutir os modos como as mulheres foram conquistando espaços públicos e lutando contra os preconceitos não apenas de gênero mas também os raciais.
O tema da festa religiosa, e suas imbricações como o tema do patrimônio imaterial foram esboçados no artigo O religioso e o profano na festa de São Bernardo em Alcobaça – BA (1990 – 2010), de Jonathan de Oliveira Molar e Ítala Serafim Almeida, que se dedica a pensar as transformações ocorridas numa festa centenária, interrogando-se se a mesma teria perdido seu caráter identitário ao se adaptar ao mercado cultural. Através de entrevistas o autor nos apresenta uma festa que comporta diferentes modos de compreendê-la bem como múltiplas identificações, aspecto que, segundo o autor, pode ser pensado para outras festas religiosas, para além de Alcobaça.
O dossiê se encerra com o artigo de Luiz Gonzaga Baião Filho, Parque Nacional Serra da Capivara e gestação interdisciplinar das narrativas do patrimônio cultural, em que toma como desafio discutir as imbricações interdisciplinares ao se pensar o tema do patrimônio cultural, notadamente na gestão de parques nacionais em que o patrimônio imaterial está interelacionado com o ambiental, histórico e arqueológico. O autor discute o tema a partir de um rico referencial teórico proposto por Reinhart Koselleck e François Hartog, deixando patente os entrecruzamentos temporais que o tema do patrimônio cultural promove.
O volume ainda contém, além dos artigos livres, resenha que analisa criticamente o livro de Maria Lúcia Bressan Pinheiro, Modernismo e Preservação do Patrimônio no debate cultural dos anos 1920 no Brasil, elaborada por Marília de Azambuja Ribeiro e Angélica Cristina de Paula Botelho. Inebriados com esses ares carnavalescos, desejamos que apreciem a leitura!
Isabel Guillen
Augusto Neves
GUILLEN, Isabel; NEVES, Augusto. Apresentação. CLIO – Revista de pesquisa histórica, Recife, v.31, n.1, jan / jun, 2013. Acessar publicação original [DR]