Os teóricos da História têm uma teoria da história? Reflexões sobre uma não-disciplina | Zoltán Boldizsár Simon

Zoltan Boldizsar Simon Imagem UCL
Zoltán Boldizsár Simon | Imagem: UCL

“Os teóricos da História têm uma Teoria da História?” Esse título é intrigante, paradoxal e, ao mesmo tempo, autoexplicável. Sua resposta é fornecida ensaisticamente por Zoltán Boldizsár Simon, historiador nascido na Hungria e atuante na Universidade de Bielefeld (Alemanha). O texto foi publicado, inicialmente, na revista História da Historiografia, no mesmo ano, tornado livro pela Editora Milfontes. Com as apresentações de Bruno César Nascimento, editor, e de Luisa Rauter Pereira, coordenadora da “Coleção Fronteiras da Teoria”, percebemos que as dimensões, o caráter sintético da escritura e o contexto de lançamento estão plenamente adequados. Nascimento e Pereira querem textos inéditos em língua portuguesa, manuseáveis em salas universitárias. Textos que mobilizem a reflexão acerca do valor de determinados domínios acadêmicos sobre si mesmos e como instrumentos de interpretação de desafios globais impostos ao tempo presente – a exemplo dos conflitos por identidade étnica e de gênero e as ameaças do aquecimento global.

Considerando a interrogação quase kamikaze, o ensaio foi excelente escolha para a abertura e lançamento da referida coleção. Entretanto, considerando a repercussão por escrito em mais de 200 revistas brasileiras de História e, até no Google Acadêmico, a resposta dos nacionais à provocação do professor húngaro praticamente inexiste, apesar dos 300 downloads do artigo na História da Historiografia. Ainda assim, o autor conseguiu a atenção de Arthur Ávila, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que mostrou desconforto com a definição simoniana de Teoria da história como aquilo “que hoje fazemos dela”: se Teoria da História é “o que dela fazemos’, continua Ávila, “qual seria o sentido em se chegar a uma definição universalmente válida dela? […] Finalmente, para nós, que estamos no Sul global, este gesto mesmo que importante e defensável, não repetiria aquela velha divisão do trabalho intelectual que coloca o Norte como produtor de teorias, seja sobre o que for, e o meridião do mundo como mero aplicador ou reprodutor de teorias […] ?” (p.9). Tradutor e apresentador do ensaio, Ávila, porém, faz uma ponderação. Afirma que a maior contribuição da obra estaria no próprio questionamento e não, necessariamente, nas respostas ao problema. Penso que o contrário pode também ser verdadeiro, se levarmos em conta o contexto de produção da obra e o que ela oferece, implicitamente, à formação dos graduandos em História no Brasil. Leia Mais

Em Busca da Liberdade: Memória do Movimento Feminino pela Anistia em Sergipe (1975-1979) | Maria Aline Matos de Oliveira

Maria Aline com os seus pais Foto Davi VillaSegrase

Maria Aline Matos de Oliveira com os seus pais | Foto: Davi Villa / Segrase

“… por cima do medo, a coragem”.

Zelita Correia (In: OLIVEIRA, 2021: p. 210).

A pesquisadora e professora Maria Aline Matos de Oliveira oferece, ao público leitor, com a transformação da dissertação de mestrado em História em livro, um dos capítulos mais importantes da resistência democrática contra o autoritarismo da ditadura empresarial-militar no Brasil (1964-1985), ao reconstruir o protagonismo das mulheres na organização a trajetória da luta pela anistia em Sergipe, que galvanizou amplos setores da sociedade civil.

Como produto do processo de consolidação do curso de pós-graduação em História, da Universidade Federal de Sergipe, sua pesquisa busca reconstruir, a partir da metodologia da história oral, histórias e versões de segmentos populacionais antes silenciados pela historiografia brasileira, como é caso da luta das mulheres na resistência às ditaduras no Cone Sul. Além das entrevistas realizadas, a pesquisadora utilizou fontes jornalísticas, relatos memorialistas e a documentação dos acervos do Memorial da Anistia, do Brasil Nunca Mais e da Comissão Estadual da Verdade “Paulo Barbosa de Araújo” (Sergipe). Leia Mais

Cartografia do pensamento Queer | Rafael Leopoldo

Por muito tempo o termo “cartografia” esteve restrito ao campo da geografia significando apenas a arte ou ciência de compor cartas geográficas e/ou mapas (FERREIRA, 1999). Atualmente, contudo, a partir de uma (re)apropriação conceitual feita pelos filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari (1995), o termo passou a ser visto, também, pelo prisma do que se convencionou chamar de filosofia da multiplicidade que busca em diferentes territórios as especificidades necessárias para compor uma área dinâmica. Leia Mais

Textos para a história do Riachão oitocentista | José Renilton Nascimento Santos

Um movimento ainda pouco destacado vai deslocando a exclusividade da produção intelectual da capital sergipana para algumas das nossas pequenas cidades do interior, com iniciativas surpreendentes. Não é fenômeno isolado, nem acontece por acaso, mas resulta do acesso à informação e, mais especificamente, do acesso à universidade por residentes nos diversos municípios, geralmente professores, que se dedicam à produção cultural e ao estudo da história, da geografia, dos falares, das tradições e a ações que reforçam o sentido de pertencimento. A enorme importância disso vai na contramão dos argumentos usados pelos que pretendem restringir o acesso à universidade, alardeando a pretensa racionalidade de uma universidade que seja para poucos, no Brasil. Leia Mais

História oral e historiografia: questões sensíveis | Angela de Castro Gomes

Angela de Castro Gomes
Angela de Castro Gomes | Foto: Bruno Leal, 2020

Há algum tempo sabemos como os discursos da memória marcaram um “giro subjetivo” (SARLO, 2012) que continua a pautar redefinições dos modos de pensar os sentidos de fazer história no mundo contemporâneo. Um de seus rastros mais evidentes é o sinal de como a lida com o passado não é objeto exclusivo da historiografia universitária. Diante de questões interligadas como o “‘boom da memória’, a emergência da ‘história pública’ e a crescente preocupação internacional com a ‘(in)justiça histórica’”, é válido destacar a observação de que para a teoria da história manter-se relevante para historiadores/as e para a sociedade em dimensões alargadas deve considerar a “diversidade de mecanismos para lidar com o passado e a forma como tais mecanismos são incorporados, interagem com, e até constituem parcialmente contextos culturais, sociais e políticos mais amplos” (BEVERNAGE, 2020, p. 11 e 15). Leia Mais

Bandidos | Eric Hobsbawm

Eric Hobsbawm
Eric Hobsbawm | Foto: La Vanguardia

HOBSBAWM Bandidos3A campanha soviética na Segunda Guerra Mundial e seu domínio político cultural sobre o leste europeu modificaram as relações entre os países desenvolvidos e polarizou a economia ocidental entre a URSS e os EUA. Além disto, as transformações provenientes da reconstrução da Europa nos anos 1950 levaram ao crescimento na renda da classe média local e à inserção de uma nova geração na sociedade de consumo. Nasce assim uma nova intelectualidade, atenta ao fortalecimento da URSS como potência mundial, ao aumento de sua influência sobre os países subdesenvolvidos e às consequências do capitalismo industrial sobre os corpos das sociedades periféricas.

É neste contexto político-cultural que Eric John Ernest Hobsbawm desenvolveu seus trabalhos. Nascido em 1917 em Alexandria, Egito, mudou-se para Berlim em 1931 e, com a ascensão de Hitler ao poder, imigrou para Londres em 1933 onde recebeu uma bolsa de estudos na Universidade de Cambridge. Durante a Segunda Guerra (1938-1945) lutou ao lado dos aliados como cavador de trincheiras, preparador de bunkers e em trabalhos de inteligência devido à sua proficiência em quatro línguas. Nos anos 1960, ingressou no grupo de marxistas britânicos que buscavam entender a história da organização das classes populares, suas lutas e ideologias, através da chamada História Social. Leia Mais

Uma introdução à história da Historiografia brasileira 1870-1970 / Thiago Nicodemo, Pedro Santos e Mateus de Faria

NICODEMO Thiago Lima
Thiago Lima Nicodemo / Foto: Jornal da Unicamp /

NICODEMO T et al Uma introducao a historia da historiografia brasileira 1O título é chamativo: Uma introdução à história da historiografia brasileira (1870-1970). O texto oscila entre o inventário das concepções de historiador ideal e a transmutação do objeto “historiografia” ou “história da historiografia”, na duração de um século: de reflexão dispersa em necrológios e artigos de jornal à disciplina curricular da formação universitária em História.

Thiago Lima Nicodemo (Unicamp), Pedro Afonso Cristovão dos Santos (UNILA) e Mateus Henrique de Faria Pereira (UFOP), os autores, são jovens pesquisadores da área de Teoria e História da Historiografia. Tentaram se livrar da história da historiografia brasileira como inventário de homens e livros em ordem cronológica, mas enfrentaram dificuldades comuns entre os que, em grupo, querem conciliar pensamentos e práticas historiográficas díspares na exposição de um discurso sobre a matéria. Leia Mais

Los rastros del imperio. El ideario del régimen en las películas de ficción del primer franquismo (1939-1951) – PÉREZ NÚÑEZ (PL)

Jesús Pérez Núñez. Foto: Noticias de Álava /

NUNNEZ J P Los restros del ImperioDe una manera bastante generalizada, las producciones cinematográficas y del ámbito de la cultura visual suelen ser calificadas de simples (en lo técnico) y estandarizadas (bajo el prisma de la innovación y la originalidad) en España durante los primeros años de la dictadura. En relación a las temáticas y los mensajes de dichas producciones, se suele hablar de instrumentalización política, manipulación de los hechos históricos e ideologización de los referentes culturales.Esa corriente de opinión suele contar con gran aceptación en la mayoría de los casos, pero no profundiza en la efectividad que tuvo el sistema de propaganda sobre las nuevas generaciones y los sectores conservadores adheridos a la causa del Movimiento Nacional. El impacto psicológico fue mayúsculo, en un contexto de euforia inicial (por la victoria en la Guerra Civil) y de desconcierto pesimista (por la situación de aislamiento tras la II Guerra Mundial). Leia Mais

Bispos guerreiros: violência e fé antes das cruzadas – RUST (PL)

Leandro Duarte Rust é um medievalista em ascensão no Brasil. Professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) é dono de uma crescente bibliografia, iniciada com a publicação de Colunas de São Pedro: a política papal na idade média central (Annablume, 2011), seguida por A reforma papal (1050-1150): trajetórias e críticas de uma história (EdUFMT, 2013) e Mitos papais: política e imaginação na história (Vozes, 2015). Basta olhar para os títulos de suas obras para compreender porque Rust vem se consagrando como um historiador do papado.

Entretanto, seu quarto livro, Bispos guerreiros: violência e fé antes das cruzadas, recém-publicado pela editora Vozes, vai além. Seguindo a história de Cádalo, entronizado como o “antipapa” Honório II, o autor realiza uma profunda análise sobre as relações entre a violência e o sagrado na Península Itálica nos séculos X e XI. Leia Mais

História e narrativa: a ciência e a arte da escrita histórica – MALERBA (PL)

Em História e narrativa: a ciência e a arte na escrita histórica, Jurandir Malerba, professor da UFRGS, reúne textos de importantes pesquisadores, filiados a diferentes áreas das Ciências Humanas, cuja temática nos convida a refletir em que medida a história se aproxima de um discurso científico e/ou artístico.

Resultado de uma disciplina ofertada no Programa de Pós-graduação em História da PUC-RS, o livro tem o mérito de trazer ao público que compartilha a língua portuguesa a tradução de estudos seminais para o campo da narrativa histórica, além de textos inéditos ou reeditados que evidenciam o reconhecimento e a competência de pesquisas produzidas por brasileiros no campo da teoria da história. Leia Mais

Vivir es muy peligroso: Mesiânicos y cangaceiros em los sertones brasileños – DOESWIJK (PL)

A historiografia das rebeldias no campo brasileiro nas primeiras décadas republicanas não tem repercutido como deveria no mundo de língua hispânica, especialmente por conta das proximidades históricas e sociais entre as experiências rurais na América Latina. De certa forma, o livro de Andreas Doeswijk, professor da cátedra de História Americana (séculos XIX e XX), na Universidade de Comahue, na província de Neuquén (Argentina), pode suprir essa insuficiência e contribuir para o avanço do intercâmbio entre as historiografias nacionais latino-americanas, como atestam as aproximações por ele sugeridas entre as obras de Euclides da Cunha e Domingo Faustino Sarmiento para se pensar as respectivas nações do Cone Sul. Leia Mais

Bandoleros Santificados: las devociones a Jesús Malverde y Pancho Villa – JÓNSDÓTTIR (PL)

La investigadora Kristín Guðrún Jónsdóttir de origen finlandés, con estudios de doctorado en Literatura Hispánica y Estudios Latinoamericanos por la Arizona State University, desde 2004, además, profesora invitada en reconocidos centros de investigación y universidades en México, Puerto Rico y España. Públicó en 2014 “Bandoleros Santificados: las devociones a Jesús Malverde y Pancho Villa”, título editado por el Colegio de Michoacán y el Colegio de la Frontera Norte en México.

Este libro que recogió algunos apartados de la tesis doctoral de la autora (2014, p. 231), es un valioso aporte para el estudio del bandolerismo y sus implicaciones en la cultura de los grupos marginados o “subalternos”. La investigadora aborda uno de los fenómenos característicos de la religiosidad popular en el siglo XX, la transformación de antiguos bandoleros en santos populares en el norte de México (JÓNSDÓTTIR, 2014, pp. 11 – 17). Leia Mais

Temas de História e Cultura Indígena em Sergipe – MONTEIRO; RODRIGUES (PL)

As linhas escritas aqui compõem uma breve resenha do livro Temas de História e Cultura indígena em Sergipe, organizado pelos professores Diogo Francisco Cruz Monteiro e Kléber Rodrigues e publicado em 2016, pela Infographics, Aracaju, Sergipe. A publicação está organizada em três partes, a primeira composta por dois textos, “Ser índio no Brasil contemporâneo: novos rumos para um velho dilema”, da autoria de Clarice Novaes Mota, e “História de grupos indígenas e fontes escritas: o caso de Sergipe”, da autoria de Beatriz Góis Dantas.

A segunda parte da obra também é composta por dois capítulos, “Relação nominal dos índios de Sergipe Del Rey, 1825”, escrito por Luiz Roberto Mott, e “Alienação das terras indígenas em Sergipe no século XIX”, da lavra de Pedro Abelardo de Santana. A terceira parte contém mais dois artigos, “Os desafios pós-demarcatórios da territorialidade Xokó na terra indígena Caiçara / Ilha de São Pedro”, de Avelar Santos Araújo e Guiomar Inez Germani; “As representações sobre os índios no Ensino de História contemporâneo: como a comunidade escolar sergipana observa os indígenas nos livros didáticos”, escrito pelos organizadores, Diogo Francisco Cruz Monteiro e Kléber Rodrigues. Leia Mais

A Cultura no Mundo Líquido Moderno – BAUMAN (PL)

O autor Zygmunt Bauman (1925-2017) foi um importante pensador das dinâmicas sociais contemporâneas a partir da sua formação em sociologia e filosofia. Considerando-se um sociólogo crítico, seus estudos acerca da modernidade estiveram pautados no conceito – por ele cunhado – de liquidez, compreendendo que todas as relações no mundo contemporâneo são marcadas pela fluidez em contraponto à solidez presente anteriormente ao período do capitalismo industrial. De origem polonesa, o autor foi professor das universidades de Leeds e Varsóvia, tendo diversos livros publicados que visam explicitar e criticar a era da (pós-) modernidade e da globalização, tempo sinalizado pelo individualismo, a cultura do consumo, as relações líquidas e fluídas, entre outros aspectos. Leia Mais

Assim na Terra como no Céu…: Paganismo, Cristianismo, Senhores e Camponeses na Alta Idade Média Ibérica (Séculos IV-VIII) – BASTOS (PL)

O livro aqui resenhado é na realidade uma revisitação de Mário Jorge à sua tese de doutorado, defendida em 2003. Mário Jorge é atualmente professor associado do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense, onde atua também no programa de Pós-Graduação, e também pesquisador do “’Translatio Studii’ – Núcleo Dimensões do Medievo”, e do “Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas sobre Marx e o Marxismo – Seção Pré-Capitalismo (NIEP-Marx-PréK)”, os dois grupos de pesquisa sendo registrados no CNPq. Formado bacharel em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, também é Mestre e Doutor em História Social, pela Universidade Federal Fluminense e Universidade de São Paulo, respectivamente. Leia Mais

Patrimônio Histórico e Cultural – CAMARGO (PL)

Haroldo Leitão Camargo possui Doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo e é pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos – NEE da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.

Atua como docente de Patrimônio e Turismo em cursos e programas de pós-graduação. Trabalhou como historiador do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo – CONDEPHAAT; além de atuar como pesquisador e apresentador na divisão de ensino da TV Cultura, Fundação Padre Anchieta. Leia Mais

Teoria da História (v.1) Princípios e conceitos | José D’Assunção Barros

Pode um historiador ser considerado culto e competente sem nenhuma preparação teórico-metodológica? Pode um professor, mesmo dos Ensinos Fundamental e Médio, ensinar sem nenhuma bagagem teórico-metodológico? A epistemologia deve ficar restrita à alguns pequenos círculos ou deve envolver todos os membros da comunidade de historiadores?1 São sobre tais questionamentos que o livro “Teoria da História: princípios e conceitos fundamentais”, de José D’Assunção Barros, se propõe a discutir. Na obra, o autor apresenta explicações fundamentais para a compreensão da História como campo de conhecimento, com suas próprias peculiaridades teóricas e metodológicas. Leia Mais

O culto moderno dos monumentos: a sua essência e a sua origem – RIEGL (PL)

A obra intitulada como O culto moderno dos monumentos: a sua essência e a sua origem foi redigida por Alois Riegl, historiador da arte vienense, designado como presidente da Comissão de Monumentos Históricos da Áustria em 1902. Esta produção trata da basicamente do valor da arte em diversas perspectivas. O livro possui 85 páginas e está dividido em capítulos da seguinte forma: 1) Os valores dos monumentos e sua evolução histórica; 2) A relação dos valores de memória com culto dos monumentos; e, 3) A relação dos valores de atualidade com o culto dos monumentos. Leia Mais

Macabéias da colônia: criptojudaísmo feminino na Bahia – ASSIS (PL)

Em 1497, os judeus portugueses foram convertidos à força e transformados em cristãos-novos. Apesar disto, uma considerável parcela destes, agora chamados, antigos judeus, continuou praticando e repassando os ensinamentos de seus antepassados às novas gerações, adotando comportamentos e práticas secretas. Porém, com a instauração do Tribunal do Santo Ofício, em Portugal, e a intensificação dos trabalhos inquisitoriais muitos deixaram o território português emigrando para as terras brasileiras. Assim sendo, durante a primeira visitação do Santo Ofício à América portuguesa entre 1591 e 1595 ganhou destaque o número de mulheres cristãs-novas acusadas de práticas judaicas. Isto sinaliza a intensa participação feminina na transmissão e propagação de um chamado judaísmo secreto. 2 Leia Mais

Culturas e Linguagens em folhetos religiosos do Nordeste: inter-relações escritura, oralidade, gestualidade, visualidade – BRITO (PL)

O livro Culturas e linguagens em folhetos religiosos do Nordeste, do professor baiano Gilmário Moreira Brito, publicado em 2009, mas apresentado primeiramente em 2001 como tese de Doutorado na PUC de São Paulo, é uma valiosa contribuição ao estudo da cultura popular do Nordeste. O autor, em sua longa e acurada pesquisa, rastreia a construção da religiosidade do povo nordestino como construção histórica, procurando identificar as tensões nas relações de encontro/confronto entre poder e cultura, que envolvem os diversos grupos sociais em disputas por princípios e valores religiosos que ganham significados sociopolíticos e culturais. Leia Mais

Sant’anna da Feira: Terra de Lucas – FRANCO; ROGÉRIO (PL)

A novíssima geração de HQ no Brasil tem articulado vitalidade criativa com resistência cultural, optando por desenvolver temas relativos à história social e cultural brasileira. Os polos de produção existentes em diferentes regiões do país, no mais das vezes, não conseguem atingir o grande público nas bancas de revistas. Nos anos 1990, visualizamos iniciativas promissoras de graphics novels brasileiras, que, infelizmente, tiveram vida efêmera por conta do monopólio da produção e distribuição dos quadrinhos norte-americanos no Brasil. Esse é um problema estrutural dos quadrinhos brasileiros e permanece como questão insolúvel. O público em geral não tem acesso à novíssima geração dos quadrinhos, causando certo descompasso entre autor e público, à exceção dos festivais e feiras realizados para aficionados e colecionadores. Paradoxalmente, a luta pela afirmação cultural dos quadrinhos brasileiros traz consigo uma liberdade editorial que proporciona uma pluralidade de estilos, para além do mercado. Leia Mais

O cangaço nas batalhas da memória – SÁ (PL)

“Quem pretende se aproximar do próprio passado soterrado deve agir como um homem que escava.” É precisamente esse movimento de escavação extraído da proposição benjaminiana que a escrita de Fernando Sá empreende, ao configurar o recorte de passado do nordeste brasileiro, conhecido metonimicamente pelo termo cangaço. (BENJAMIN, 1997, p. 239). A familiaridade, aludida por Benjamin, entre explorador do meio de memória e o passado que busca, pela palavra, configurar, se depreende já na leitura do prefácio da obra, quando sua genealogia entre adjuvantes do cangaço é exposta. É, pois, no terreno do próprio passado que esse herdeiro de memórias, por assim dizer, escava. Legado que confere ao texto de Sá certa licenciosidade na escolha dos objetos de pesquisa, bem como no tratamento dos dados coletados e na (des) crença em relação às fontes. Leia Mais

K. | Bernardo Kucinski

Uma ficção que preenche as lacunas que a História oficial recusa-se a contar e, ao mesmo tempo, rompe “a muralha de silêncio” (para usar as palavras do Bernardo Kucinski) que ainda está erguida ao redor deste trecho da História brasileira. O livro K. se esforça por re-contar a História da ditadura militar brasileira a partir da visão dos vencidos.

Na introdução, o escritor nos alerta: é um livro de ficção, embora quase tudo tenha realmente acontecido. Após 40 anos do desaparecimento de A. (é apenas a inicial que aparece no livro), a família conseguiu reconstruir um quebra-cabeça cheio de falhas sobre esta história ainda proibida. Sabe-se que ela foi presa pelo Estado, talvez torturada, morta e, seu corpo, foi desaparecido. O esforço de K. (o livro e o personagem) é recriar o “como”. A ficção que busca dar conta do que o real se nega a contar. Leia Mais

O crime do restaurante chinês: Carnaval, futebol e justiça na São Paulo dos anos 30 – FAUSTO (PL)

São Paulo, capital, 2 de março de 1938. Enquanto a cidade começava a se recuperar dos muitos dias de festas e bailes de carnaval e o país se preparava para torcer pela seleção brasileira na Copa do Mundo da França, um crime ocorrido na Rua Wencelsau Braz chamou a atenção da polícia, da opinião pública e da população. As vítimas foram dois imigrantes chineses, que possuíam um restaurante no mesmo local onde moravam – cenário que viria a ser o de suas mortes. Seus dois empregados, um brasileiro e um lituano, também foram mortos.

O crime chamou a atenção pelo número de mortos, mas também pela maneira fria com a qual as vítimas foram supostamente tratadas. Nos dias de hoje, com a banalização da violência gerada principalmente pelos meios de comunicação, este crime não se diferencia significativamente de outros que podem ocorrer no dia a dia, em especial numa cidade grande e repleta de diferenças sociais como São Paulo. Mas em 1938, ele ficou marcado como um dos maiores crimes da época, sendo comentados por jornais, programas de rádio e pelas pessoas nas ruas, que a todo tempo lembravam “O Crime do Restaurante Chinês”. Leia Mais

Trilogia do controle – LIMA (PL)

Em Trilogia do Controle, composta na década de 1980, pelos livros O controle do imaginário, Sociedade e discurso ficcional, e O fingidor e o censor, Luiz Costa Lima encalça as vias que o levaram a pesquisar sobre o veto à ficção, o controle do imaginário, inquirindo a “qual interesse a que o suposto veto responderia” e “por que seria ele consumado justamente por aqueles que se dedicavam ao poético”.

É um trabalho de fôlego, erudito, crucial não apenas para estudantes ou professores das Letras, mas para todos aqueles que se interessam pelas Ciências Humanas. Costa Lima desvenda como e por que o controle sobre o imaginário traz as relações de poder provenientes do Estado, da Igreja, desde a baixa idade média até a nossa contemporaneidade. O autor, ao estudar o veto ao ficcional, oferta rico estudo das relações entre História e Literatura, suas aproximações e seus distanciamentos, especialmente no que concerne à primeira ser ligada à verdade e à razão, e a segunda ao fingimento e à mentira. Leia Mais

O crime do restaurante chinês: Carnaval, futebol e justiça na São Paulo dos anos 30 – FAUSTO (PL)

FAUSTO, Boris. O crime do restaurante chinês: Carnaval, futebol e justiça na São Paulo dos anos 30. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. Resenha de: OLIVEIRA, Pedro Carvalho. Quarta-feira de cinzas e sangue: “O Crime do Restaurante Chinês” de Boris Fausto e o Brasil dos anos 1930. Ponta de Lança, São Cristóvão, v. 5, n.9, p. 71-73, out., 2011.

São Paulo, capital, 2 de março de 1938. Enquanto a cidade começava a se recuperar dos muitos dias de festas e bailes de carnaval e o país se preparava para torcer pela seleção brasileira na Copa do Mundo da França, um crime ocorrido na Rua Wencelsau Braz chamou a atenção da polícia, da opinião pública e da população. As vítimas foram dois imigrantes chineses, que possuíam um restaurante no mesmo local onde moravam – cenário que viria a ser o de suas mortes. Seus dois empregados, um brasileiro e um lituano, também foram mortos. Leia Mais

Destinatário: Felte Bezerra. Cartas a um antropólogo sergipano (1947-1959 e 1973-1985) – DANTAS; NUNES (PL)

Em 2009, o recém-criado Núcleo de Pós-Graduação e Pesquisa em Antropologia (NPPA) convidou a antropóloga e Professora Emérita da UFS Beatriz Góis Dantas para ministrar a aula inaugural para a primeira turma de pós-graduandos, que versou sobre a trajetória acadêmica de outro antropólogo sergipano: Felte Bezerra. Embora a velha e básica lição da Antropologia nos ensine que só podemos nos situar no mundo enquanto “eu” a partir de um “outro”, daí ser necessário conhecer esse “outro”, não devemos nos esquecer de quem somos. Sendo assim, nada como começar o primeiro ano letivo debatendo sobre os pioneiros da Antropologia em Sergipe.

Nesse ano, a mencionada professora, em parceria com a professora da UFS e diretora do Museu do Homem Sergipano, Verônica Maria Menezes Nunes, trazia à luz para a comunidade acadêmica a obra Destinatário: Felte Bezerra – cartas a um antropólogo sergipano (1947-1959 e 1973-1985). Leia Mais

Euclides da Cunha e a Bahia | Oleone Coelho Fontes

Depois do sucesso de Lampião na Bahia (1989), hoje na 7ª edição, e d’O treme-terra: Moreira Cesar, a República e Canudos (1996), dentre outros títulos, Oleone Coelho Fontes lançou Euclides da Cunha e a Bahia: ensaio biobibliográfico, no fim do ano passado. Romancista e pesquisador dos grandes temas nordestinos, o autor surpreende pelas idéias que enfeixam a nova obra, ora resenhada. Com prefácio assinado pelo médico Lamartine Lima, seu conteúdo é dividido em duas partes: uma que relaciona personalidades da (na) Bahia a Euclides da Cunha na sua estada na Bahia (agosto a setembro de 1897), como jornalista-correspondente do jornal O Estado de São Paulo. Outra parte rememora a presença do escritor em Canudos e esmiúça Os Sertões, sua obra-prima.

Seguindo o itinerário do escritor em Salvador, Oleone Coelho reconstitui seus passos e contatos nos 70 dias (7/8 a 16/10/1897) que esteve hospedado no chalé, situado à rua das mangueiras, propriedade do tio José Rodrigues Pimenta da Cunha. Alguns contemporâneos, como Luiz Viana, governador da Bahia; o médico Henrique Albertazzi, o poeta Pethion de Villar, general Solon Ribeiro, Francisco Mangabeira, o engenheiro Teodoro Sampaio, João Pondé, a feminista Francisca Praguer Fróes, o engenheiro Siqueira de Menezes, o médico Nina Rodrigues, Barão de Jeremoabo, Ludgero Prestes, o jurista Rui Barbosa; outros, extemporâneos como o poeta Castro Alves, o jornalista Odorico Tavares, o professor José Calasans e Ataliba Nogueira, figuram na primeira parte da obra. Leia Mais

Microcrédito: O Mistério Nordestino e o Grameen Brasileiro

O livro Microcrédito: O Mistério Nordestino e o Grameen Brasileiro fornece a melhor visão da indústria microcréditícia brasileira e de seu futuro do que a maioria do que foi escrito sobre o assunto. De forma interessante, a análise não discute o microcrédito brasileiro de uma perspectiva global, mas enfocando desde o ponto de vista quase exclusivamente institucional e sobre uma instituição em particular: o CrediAMIGO do Banco do Nordeste.

O livro demarca claramente os desafios enfrentados pelos praticantes de microcrédito no Brasil, dando ênfase particular à diversidade demográfica da maioria dos clientes potenciais e à informalidade dos seus negócios. Porém, também propõe soluções a esses problemas oferecendo uma visão duma indústria microcreditícia baseada numa forte presença estatal. E, no pano de fundo, é bem perceptível a mão de Marcelo Neri. Organizador e autor principal do livro, ele é seguramente um dos economistas mais importantes do Brasil. Formado em Economia e com mestrado pela PUC do Rio de Janeiro e doutorado pela Princeton University nos Estados Unidos, suas áreas de trabalho principais são o bem-estar social, o trabalho, e a micro-econometria. Leia Mais

Lampiões acesos: o cangaço na memória coletiva | Marcos Edilson de Araújo Clemente

Diferente das abordagens históricas que visam reconstituir a trajetória de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, bem como o movimento de resistência sertaneja das primeiras décadas do século XX conhecido como cangaço, o professor da Universidade Federal do Tocantins, Marcos Edilson de Araújo Clemente, propõe analisar a forma como a temática tem sido apropriada pela Associação Folclórica e Comunitária Cangaceiros de Paulo Afonso (Bahia). Lampiões acesos: o cangaço na memória coletiva é também “consequência direta” das lembranças do próprio autor que, em sua infância assistia às apresentações desta agremiação..

Antes, contudo, Clemente busca entender o modo como outras cidades nordestinas se apropriaram deste legado histórico-cultural. Os lugares escolhidos refletem os caminhos trilhados pelo “rei do cangaço”, a citar, Serra Talhada e Triunfo, PE; Mossoró, RN; Poço Redondo, SE e Piranhas, AL. Assim como foram diferentes as circunstâncias da passagem de Lampião em cada uma dessas regiões, também são os modos de apropriação das memórias que resistem, sobretudo nas últimas décadas, através de instituições conhecidas por “museus do cangaço”. Sendo Lampião exaltado ou mesmo condenado, a exemplo da memória construída em Mossoró, importa é que, de qualquer forma, sua representação e a do cangaço são recorrentes na promoção das identidades destes lugares de memória. Leia Mais

Identidades: teoria e prática – GOMES; ENNES (PL)

A discussão sobre a temática identidade, promovida pelo Fórum Identidades e Alteridades: diálogos (im) pertinentes em 2007, no Campus Universitário Prof. Alberto Carvalho da UFS, em Itabaiana, resultou na obra Identidades: teoria e prática, organizada por Carlos Magno Gomes e Marcelo Alario Ennes.

Produto dos debates entre pesquisadores de áreas distintas, como Letras, Sociologia, História, Antropologia e Educação, a obra pretende dialogar a referida temática a partir de diferentes metodologias. Para tanto, está dividida em quatro partes, onde se discutirão questões teóricas e suas relações com os espaços geográficos e as práticas docentes, além do gênero feminino. Leia Mais

Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel (1825/1909): o patriarca do Serra Negra e a política oitocentista em Sergipe | José Ibarê Costa Dantas

Ibare Dantas 2009 Imagem Infonet
Ibarê Dantas (2009) | Imagem: Infonet

Resenhista

Samuel Barros de Medeiros Albuquerque – Professor da Universidade Federal de Sergipe (NMU/UFS). Doutorando em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). E-mail: samuelalbuquerque@ufs.br .


Referências desta Resenha

DANTAS, José Ibarê Costa. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel (1825/1909): o patriarca do Serra Negra e a política oitocentista em Sergipe. Aracaju: Criação, 2009. Resenha de: ALBUQUERQUE, Samuel Barros de Medeiros. Sob a lupa de Ibarê. Ponta de Lança- Revista Eletrônica de História, Memória & Cultura. São Cristóvão, v.3, n. 5, p.117-121, out. 2009/abr. 2010. Acesso apenas pelo link original [DR].

A Nova Abolição | Petrônio Domingues

Resenhista

Jacqueline dos Santos – Graduanda em História e bolsista PIBIC-COPES/UFS. Integrante do Grupo de Pesquisa Culturas, Identidades e Religiosidades (GPCIR/UFS). E-mail: Jacqueline.ab@gmail.com .


Referências desta Resenha

DOMINGUES, Petrônio. A Nova Abolição. São Paulo: Selo Negro, 2008. Resenha de: SANTOS, Jacqueline dos. Ponta de Lança- Revista Eletrônica de História, Memória & Cultura. São Cristóvão, v.3, n. 5, p.122-125, out. 2009/abr. 2010. Acesso apenas pelo link original [DR].

Sociologia da Fotografia e da Imagem | José de Souza Martins

Neste novo livro, o eminente sociólogo José de Souza Martins se propõe a estudar o documento visual, como um dos instrumentos indispensáveis da leitura sociológica dos fatos e dos fenômenos sociais. Neste sentido, a inserção da imagem nas pesquisas das Ciências Sociais abriu um amplo terreno de indagações, dúvidas e experimentos. A fotografia, por ser flagrante, revelou as insuficiências da palavra como documento da consciência social e como matéria‐prima do conhecimento. “A composição fotográfica é também uma construção imaginária, expressão e momento do ato de conhecer a Sociedade com recursos e horizontes próprios e peculiares” (p.11). Não existem pesquisas no âmbito das Ciências Sociais sem a interação entre o pesquisador e o objeto que estuda. A Sociologia tem como material não a realidade em si, mas a interpretação dessa realidade que o homem simples faz dos processos interativos que vive em confronto com as referências estruturais. A fotografia tem as limitações da visão social do fotógrafo e da invisibilidade de várias dimensões da realidade social. Leia Mais

Ocidentalismo: o Ocidente aos olhos dos seus inimigos – BURUMA; MARGALIT (PL)

Nas últimas décadas, as obras que refletiram a herança colonial européia na América, África e Oriente, consolidaram uma área distinta no campo dos estudos culturais que se convencionou chamar estudos pós-coloniais. Essa resenha considera o exemplar Ocidentalismo, livro de Ian Buruma e Avishai Margalit, motivado pelo atentado de 11 de setembro de 2001, quando o Word Trade Center, de Nova York, ruiu com o choque de aviões seqüestrados por terroristas da Al Qaeda, de Osama Bin Laden. Mas é possível relacionar Ocidentalismo à principal obra de Edward Said, Orientalismo, publicado em 1978. Nesta o intelectual palestino desmistifica a construção discursiva e histórica dos ocidentais acerca do que viria a ser o oriente, acenando que a opção a alteridade européia/norte-americana não seria o ocidentalismo, seu oposto. Foi justamente para substantivar o léxico que Buruma e Margalit enriquecem os estudos pós-coloniais com sua obra. Leia Mais

Introdução aos Estudos Culturais – MATTELART; NEVEU (PL)

Os franceses Armand Mattelart (professor de ciências da informação e da comunicação da Universidade Paris VIII) e Érik Neveu (professor de ciência política) se propõem em sua obra, Introdução aos Estudos Culturais a trazer o leitor ao cenário de discussão sobre os “Estudos Culturais”, analisando o conceito de cultura e suas diferenciações e transformações ocorridas desde a segunda metade do século XX até a atualidade. Considerada pelos franceses como “disciplina marginal”, uma vez que dissocia-se da análise da cultura letrada, os “Estudos Culturais” trazem uma proposta de visão crítica da cultura, percebida como instrumento de reorganização da sociedade. Para os autores: “(…) a questão central é compreender em que a cultura de um povo, e inicialmente, a das classes populares, funciona como contestação da ordem social ou, contraditoriamente, como modo de adesão às relações de poder” (MATTELART, 2004, p. 14). Leia Mais

História oral: memória, tempo, identidades – DELGADO (PL)

Ao entender História Oral como uma metodologia de produção de fontes históricas (os depoimentos), imediatamente somos levados a pensar no lado prático deste método. A importância de se observar o lado teórico deste campo de conhecimento, e de se ter em vista algumas categorias da História no desenvolver dos trabalhos com História Oral, é exposta com propriedade pela mineira Lucilia de Almeida Neves Delgado, que foi presidente da Associação Brasileira de História Oral.

Em seu livro, Lucília relaciona História Oral à memória, ao tempo e à identidade, embora deixe a desejar quando trata das narrativas não expondo o modo como elas se arrumam (narrativas de vida pública, épicas, trágicas, cômicas e narrativas que misturam as várias soluções anteriores), o que o Manual de História Oral de José Carlos Sebe Bom Meihy faz, só para citar um dentre os vários manuais que se pode encontrar. A autora também não tem as preocupações arquivistas e não traz exemplos de roteiros a serem utilizados nas entrevistas. Duas questões importantes que podemos perceber em outro livro, História Oral: possibilidades e procedimentos de Sônia Maria de Freitas. Leia Mais

Mystery Train | Luiz Bernardo Pericás

Há quem imagine que Mystery Train, de Luiz Bernardo Pericás, é um roteiro de viagens ou aventuras, mas é muito mais que isso. O autor vai além e inova ao apresentar uma obra que mescla experiência pessoal e ficção com cultura e história dos Estados Unidos. O livro de Pericás é fortemente inspirado em três destacados autores: Jack London e seu The Road, livro memorialístico, autobiográfico, no qual narra suas aventuras e desventuras de trem pelos Estados Unidos; Woody Guthrie, autor de Bound for Glory, um dos nomes mais importantes da cultura popular norte-americana, da primeira metade do século XX e criador da música folk moderna, cujas letras dão voz aos marginalizados de sua época (como os negros, os red necks e os operários); e Jack Kerouac e seu On The Road, considerada a bíblia da “geração beat“, que mostra o lado sombrio do “sonho americano” a partir da viagem de dois jovens, que atravessaram a “América” de costa a costa.

A chamada “geração beat”, formada por Jack Kerouac, William Borroughs, Gregory Corso, Allan Ginsberg e Lawrence Ferlinghetti, entre outros, exerceu enorme influência nos movimentos contraculturais dos Estados Unidos. Os beatniks ouviam muito jazz, usavam drogas, praticavam o sexo livre e mantinham-se com o pé-na-estrada. Queriam fazer sua própria revolução cultural por meio da literatura. Leia Mais

Ponta de Lança | UFS | 2007

PONTA DE LANCA1

A Ponta de Lança – Revista Eletrônica de História, Memória & Cultura (São Cristóvão, 2007-) é um periódico científico interdisciplinar, que prioriza as áreas de História, Estudos Culturais, Geografia e Letras, vinculado ao Grupo de Pesquisa História Popular do Nordeste do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Sergipe.

A revista tem por objetivo divulgar as pesquisas desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisa, mas, principalmente, estabelecer o intercâmbio com pesquisadores de outras instituições.

Com periodicidade semestral, a revista aceita artigos, comunicações de pesquisas e resenhas inéditas. com reconhecido rigor teórico e metodológico e relevância intelectual na área de História, Letras e demais Ciências Humanas.

Todos os artigos apresentados à Revista Ponta de Lança serão submetidos à apreciação de dois pareceristas membros do Conselho Editorial ou, caso necessário, a parecerista ad hoc não integrante do Conselho Editorial, com titulação mínima de Doutor e pesquisa próxima à área do artigo em questão. Havendo algum parecer contrário, os artigos serão encaminhados a um terceiro parecerista. Em todo o processo de avaliação, está garantido o anonimato de autores e pareceristas.

Periodicidade semestral.

Acesso livre.

ISSN: 1982-193X.

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