Grupos vulneráveis e políticas públicas | História Debates e Tendências | 2022

Grupos vulneraveis. Imagem PT Grupos vulneráveis e políticas públicas | História Debates e Tendências | 2022
Grupos vulneráveis. Imagem | PT

O dossiê temático Grupos Vulneráveis e Políticas Públicas objetiva dar visibilidade para os debates que envolvem a complexidade das experiências dos grupos e pessoas submetidos a regimes de opressão e de invisibilidade histórica, decorrentes de distintos e entrelaçados marcadores sociais, tais como: raça, gênero, orientação sexual, religião, etnia, incapacidades físicas, psicológicas e etárias. Destaca-se, neste contexto, a formulação, execução, acompanhamento e avaliação de políticas públicas internacionais, nacionais, regionais ou locais, capazes de proteger e atenuar os impactos dos grupos em situação de vulnerabilidade.

Assim, a proposta deste dossiê é realizar interfaces entre políticas públicas e grupos vulneráveis, aqueles que “são os mais necessitados entre os necessitados”, numa perspectiva aberta, interdisciplinar, complexa e polissêmica, capaz de reconhecer tais problemáticas como lutas coletivas e históricas Leia Mais

Políticas públicas y procesos de enseñanza desde una mirada federal/Revista Pilquen. Sección Ciencias Sociales/2020

Este número especial de la Revista Pilquen Sección Ciencias Sociales de la UNCo, que presenta un dossier sobre Administración Pública, responde a la convocatoria realizada oportunamente por la Red Universitaria de Carreras de Administración y Política Pública (RUCAPP) Leia Mais

Políticas públicas para a formação de professores no Brasil: história e projetos em disputa / Revista Trilhas da História / 2019

O presente dossiê, articulado às atuais demandas para as políticas públicas, objetiva promover o debate sobre as políticas de formação de professores em curso no sistema educacional brasileiro conferindo destaque para a contextualização histórica dos processos e projetos formativos.

As políticas educacionais oficializadas pela Lei nº 13.005, de julho de 2014, que aprova do Plano Nacional de Educação de 2014 a 2024, a Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, que altera a LDB de 1996, promovendo a denominada reforma do Ensino Médio e a definição da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), precipitam um amplo debate no sistema educacional brasileiro, sobre as políticas de formação de professores. Debates que se materializam na incidência direta por profundas mudanças na formação de professores, que precisam ser analisadas à luz da história enquanto projetos em disputa.

O artigo que abre o dossiê, “Impactos da BNCC na formação de professores de História para os Anos Iniciais” de autoria de Carollina Lima, discute a elaboração da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o que se estabeleceu na versão final para a área de História, especialmente para os anos iniciais, bem como os possíveis impactos do documento na formação de professores nos cursos de Pedagogia.

Outro texto que aborda a BNCC é de autoria de Marcelo Pires, sob título “Apontamentos para o professor de história que atua no ensino religioso, partindo da BNCC e do RCG”. O autor analisa o Referencial Curricular do Estado do Rio Grande do Sul, de 2018, norteado pela BNCC de 2017, para tanto faz uma abordagem histórica da legislação e no segundo momento discute as possibilidades teórico-metodológicas para o professor de História que ministre Ensino Religioso.

Ainda quanto ao Ensino de História e as políticas públicas, Eduardo Knack e Lidiane Friderichs, em “Considerações sobre as novas tecnologias, o ensino de história e as eleições de 2018”, abordam as novas tecnologias a partir de conceitos como tempo, espaço, supermodernidade e regimes de historicidade. A utilização das redes sociais nas eleições brasileiras, em 2018, é observada como momento que impõe a necessidade de se pensar a disseminação e uso da informação nas novas tecnologias.

Na sequência temos o texto de Tiago Benfica e Eliamar Folle, “Fincando tábua no chão: a viabilização da escola para Peixoto de Azevedo (1979-1985)”. Os autores apresentam a história da construção de uma escola em forma de mutirão, no interior do Mato Grosso, bem como o processo de institucionalização da mesma e de formação do quadro docente, e a importância desse movimento dos moradores para prover a cidade de uma unidade escolar.

O último texto desta seção, “A formação profissional no SENAI de Três Lagoas-MS à luz da teoria do capital humano: histórias de sujeição as demandas do capital”, assinado por Tarcísio Pereira e Maysa de Sá, analisa o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial-SENAI com vistas a compreender a educação profissionalizante desenvolvida por este sistema. Com foco no SENAI de Três Lagoas, os autores analisam a relação da Educação Profissional com a teoria do capital humano na formação para o mercado de trabalho.

Michelle Fernandes Lima – Professora Doutora (UNICENTRO, Campus de Irati)

Paulo Fioravante Giareta – Professor Doutor (UFMS, Campus de Três Lagoas)

Irati-PR e Três Lagoas-MS, dezembro de 2019


LIMA, Michelle Fernandes; GIARETA, Paulo Fioravante. Apresentação. Revista Trilhas da História. Três Lagoas, v.9, n.17, jul. / dez., 2019. Acessar publicação original [DR]

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Terra e território no Brasil e América Latina: Sujeitos sociais, memória histórica e políticas públicas no tempo presente / Tempo e Argumento / 2019

Nas últimas décadas os estudos relativos à temática da história rural no Brasil e na América Latina demonstram uma trama de relações diversificadas, complexas e conflitivas acerca das experiências de ocupação de terra; das disputas pelo acesso, uso e posse da terra; das práticas e direitos de propriedade; do conjunto de resistências individuais – cotidianas e silenciadas – e coletivas; das diferentes formas de se relacionar com a terra, o território e o meio ambiente e das distintas concepções de direito1 . Neste universo conflitivo, multifacetado e desigual, nosso objetivo era receber artigos para compor este dossiê com pesquisas que abordassem a vitalidade do mundo rural no tempo presente e suas raízes históricas.

Buscamos, originalmente, privilegiar as narrativas dos próprios sujeitos, problematizando suas práticas a partir de novas fontes e metodologias, sobretudo as entrevistas orais. Além de estudos que contemplassem revisões acerca de historiografias tradicionalmente construídas sobre os sujeitos do campo, na tentativa de romper com a suposta homogeneização do campo e suas relações com o âmbito urbano. Neste ínterim, diferentes sujeitos sociais, a saber: indígenas, quilombolas, sem-terra, extrativistas, pequenos agricultores e grandes proprietários rurais disputam pela posse da terra e, no caso dos primeiros, por um local de trabalho, vida e moradia. Assim, o questionamento ao Direito, e, ainda, a compreensão dele como um meio para se alcançar a justiça e o exercício da cidadania, aliado à organização em movimentos sociais, apontam a reconfiguração desses sujeitos. Sinaliza, igualmente, a busca de novas representações sociais, a elaboração de políticas públicas e de leis específicas e os rearranjos e conflitos em torno delas.

A partir deste escopo, este dossiê busca contribuir com o debate no âmbito da história rural, em diálogo com a Antropologia, Geografia, Sociologia e o Direito a partir de uma perspectiva histórica, acerca das disputas pelo uso e posse da terra, da manutenção dos modos de vida, dos processos de resistência e pelo direito à(s) memória(s) dos diferentes grupos sociais do Brasil e da América Latina. Nesse sentido, as contribuições que recebemos e selecionamos superaram as nossas expectativas originais, somando sete artigos de autores provenientes de instituições da Argentina, Brasil, Chile e Polônia. São abordadas temáticas heterogêneas, trazendo problemáticas e aspectos transversais, que contemplam a diversidade dos sujeitos do campo na contemporaneidade – como camponeses ou produtores rurais, indígenas, famílias e imigrantes –; a questão da terra e dos territórios materiais e imateriais; o papel de setores e de poderes intermediários; a importância da memória na construção da história ambiental regional, da educação, do direito e da cultura e, ainda, o papel do Estado na elaboração e / ou na ausência de políticas públicas.

Em Echar raíces en tierra fértil. Producciones, domesticidad y memorias de familias rurales en la colonización tardía argentina (medianos de siglo XX), de Celeste De Marco (CONICET, Argentina), aborda-se o tema da colonização rural durante o governo peronista na Argentina (1946-1955) a partir da análise de casos presentes na região metropolitana sul de Buenos Aires: colônia “17 de octubre / La Capilla”, no município de Florencio Varela e na colônia “Justo José de Urquiza”, no município de La Plata (esta, capital da província de Buenos Aires). O objetivo central da pesquisa é reconstruir o papel dos sujetos sociais durante o processo de colonização agrícola, das famílias colonas principalmente italianas e japonesas, por meio da discussão das práticas produtivas e da vida doméstica familiar, com a adoção de uma perspectiva analítica centrada nas experiências de gênero. Para isso, utilizam-se fontes oficiais, jornal e principalmente entrevistas semi-estruturadas que congregam informações sobre as memórias familiares que, nas palavras de De Marco, “contribuyen a rescatar la importancia socio-productiva de figuras soterradas en el orden de las representaciones”, durante os períodos de fundação e de consolidação das colônias periurbanas desde os princípios da década de 1980.

No artigo Doblemente desaparecidos: servicio militar, pobreza y represión en la frontera patagónica durante la última dictadura argentina, baseado na pesquisa doutoral de Ayelen Mereb (UBA, Argentina), se revisita o caso de Héctor Inalef, primogênito e suporte econômico de uma família mapuche dedicada às atividades rurais na comunidade de El Bolsón, localizada na Patagônia argentina, desde a sua prisão durante o governo ditatorial no ano de 1976, até sua “aparición con vida” na cidade de Viedma, capital de Río Negro, trinta e oito anos depois, em 2014. A partir de uma perspectiva centrada na micro-história e na historia oral, se utilizam documentos, entrevistas e testemunhos particulares e familiares enquadrados nos estudos de memórias sobre passados traumáticos na Argentina e América Latina, manifestados na violência estatal de natureza política e de classe em “clave local, rural y mapuche”, diante das reivindicações familiares, étnicas e das tentativas de reparação oficial até os dias atuais.

O artigo de Alcione Nawroski (Universidade de Varsóvia), A educação na sociedade rural e o curso agrícola para rapazes brasileiros na Polônia (1918-1938), aborda a experiência de intercâmbio de três jovens na Polônia, considerando o número expressivo de agricultores entre a população polonesa no Brasil no início do século XX. O pano de fundo dessa discussão é a existência de um relativo atraso no campo, estendendo-se para o campo educacional, o qual impedia que esse grupo social alcançasse novas e melhores condições de vida e trabalho em território brasileiro. A análise de Nawroski ocupa-se basicamente de jornais poloneses, destacando que o governo brasileiro não possuía o mesmo compromisso com a educação, se comparado ao polonês.

Atual, necessário e quase em tom de denúncia, o trabalho Trajetórias diásporicas indígenas no Tempo Presente: terras e territórios Atikum, Kamba e Kinikinau em Mato Grosso (do Sul), de Giovani José da Silva (Unifap), discute o processo de invisibilização das referidas etnias. Trabalho de natureza interdisciplinar, sobretudo pelas lentes da Antropologia e do Direito, articula as trajetórias diaspóricas e os processos de territorialização ocorridos na história dos Atikum, Kamba e Kinikinau que, em pleno século XXI, ainda lutam por uma visibilidade que garanta respeito aos direitos que lhes têm sido negados sistematicamente. O artigo destaca, ainda, as diferentes percepções e concepções acerca da terra e do território.

O artigo Gamonalismo y redes de poder local en el Nordeste Antioqueño (Colombia) 1930-1953, de Diana Henao Holguin (Universidad do Chile), por sua vez, apresenta parte da pesquisa doutoral da autora, centrada no processo de denúncia e apropriação de terras baldias e nos conflitos derivados dessas ações na região de Antioquía, Colômbia, durante o período de 1930-1953. O recorte temporal coincide com a modernização liberal do Estado, a qual culminou com a centralização e o fortalecimento do Estado colombiano. Neste marco, H. Holguin estuda o caciquismo antioquiano e suas particularidades nos distritos de Cisneros e Yolombó, contrastando-0s, assim, com outros no âmbito andino, como Equador e Peru, munida de diversos documentos de natureza local-regional. A hipótese da autora – em uma zona de fronteira como a que estuda, de colonização tardia, se comparada com as áreas centrais colombianas – é que o referido sistema político “va a encarnar distintas facetas”, incluindo tanto a coação e exploração camponesa, possibilitando o avanço dos proprietários, como estratégias de intermediação com autoridades e distintas esferas de poder territorial, uso de meios legais em seu próprio benefício, construindo, assim, redes pessoais e clientelistas para canalizar votos para os partidos tradicionais.

Já o trabalho de Temis Gomes Parente (UFT) e Cícero Pereira da Silva Júnior (UFPA), intitulado De estrada líquida à jazida energética: os sentidos do rio Tocantins na memória oral dos ribeirinhos, por meio da metodologia em História Oral, reflete sobre as relações estabelecidas e experienciadas entre os ribeirinhos e o rio Tocantins, nas duas dimensões, materiais e imateriais. O elemento inovador do artigo é o estreito diálogo com a Antropologia, apropriando-se da noção de dádiva de Marcel Mauss, com o intuito de ressignificar a(s) narrativa(s) dos ribeirinhos acerca do rio e do seu entorno.

No auge das experiências participativas sobre conflitos socioambientais nos últimos anos na América Latina, Consultas comunitarias en Argentina: respuestas participativas frente a mega-proyectos, de Lucrecia Soledad Wagner (Universidad Nacional de Cuyo, Argentina), estuda as consultas comunitárias sobre projetos de mineração a céu aberto nas comunidades de Esquel e Loncopué, nas províncias patagônicas argentinas de Chubut e Neuquén respectivamente, “considerando que el término comunidad resulta el más pertinente para definir los procesos sociales que se generaron en torno a la conflictividad ambiental, en especial en Argentina”, com reconhecida horizontalidade. Mediante a análise de documentos escritos, imagens e realização de trabalho de campo, a autora examina as motivações que impulsionaram o desenvolvimento dessas consultas, o seu impacto social e a criação de uma institucionalidade ambiental, sustentando, conforme suas palavras, que foram “las comunidades locales las que recurrieron a la normativa existente para respaldar su derecho a ser parte del proceso de toma de decisiones que afectarían su lugar de vida” em substituição ao cumprimento da legislação vigente sobre conflitos ambientais por parte das autoridades executivas e legislativas do Estado, oportunizando a gestão de um espaço de participação direta.

Para finalizar, gostaríamos de agradecer as / aos autoras / es – únicos e últimos responsáveis pelas opiniões, posicionamentos ideológicos e / ou conclusões de seus artigos – por suas valiosas contribuições para o dossiê e, ao comitê editorial da revista, por sua eficiência e acompanhamento durante todo o processo de construção. Desejamos que este dossiê possa contribuir para o aprofundamento dos temas e problemas aqui tratados, assim como para o avanço do trabalho conjunto e a aproximação entre as historiografias e as disciplinas humanas e sociais de nossos países.

Boa leitura!

Notas

1. Para América Latina e outras latitudes pode ser consultado, entre outros, Serrão, J. V., Direito, B., Rodrigues, E. & Münch Miranda, S. (eds) (2014) Property Rights, Land and Territory in the European Overseas Empires. Lisboa: CEHC-IUL. Congost, R., Gelman, J. & Santos, R. (eds.) (2017) Property Rights in Land. Issues in social, economic and global history. London & New York: Routledge. Motta, M. & Piccolo, M. (Org., 2017), O Domínio de outrem. Posse e propriedade na Era Moderna (Portugal e Brasil), Vol. 1, São Luís: EDUEMA, Guimarães: Nósporcatudobem. Motta, M. & Piccolo M. (Org., 2017), O Domínio de outrem. Propriedades e direitos no Brasil (Séculos XIX e XX), Vol. 2, São Luís: EDUEMA, Guimarães: Nósporcatudobem. Barcos, MF., Lanteri, S. & Marino, D. (2017) Tierra, agua y monte. Estudios sobre derechos de propiedad en América, Europa y África (siglos XIX y XX). Buenos Aires: Teseo

Rose Elke Debiasi – Universidade Federal de Sergipe (UFS). E-mail: elkedebiazi@gmail.com

Sol Lanteri – CONICET-UBA, Instituto Ravignani, Buenos Aires, Argentina. E-mail: sol_lanteri@conicet.gov.ar

DEBIASI, Rose Elke; LANTERI, Sol. Apresentação. Tempo e Argumento, Florianópolis, v.11, n.28, 2019. Acessar publicação original [DR]

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Público e Privado: políticas públicas no Brasil / Faces de Clio / 2016

A Revista Faces de Clio é uma publicação discente, criada pelos alunos de Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora, destinada a divulgar pesquisas desenvolvidas no âmbito da pós-graduação, em universidades do Brasil e do exterior. Nessa terceira edição optamos por reunir todos os artigos sob o prisma do dossiê Público e Privado: políticas públicas no Brasil. Nossa intenção é lançar nosso olhar a um contexto vigente nos últimos anos e refletir sobre os prejuízos e as vantagens da interferência do mercado nos serviços públicos brasileiros. Para tanto, contamos com a colaboração de dez artigos escritos por 11 pesquisadores, divididos da seguinte forma: três textos de mestrandos, dois de doutorandos, e cinco de professores de universidades federais e estaduais, referências em suas temáticas.

Para a análise sobre a saúde pública, contamos com a participação especial de três pesquisadores que se destacam internacionalmente no meio acadêmico como referências na produção de conhecimento da área. Ligia Bahia (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Mario Scheffer (Universidade de São Paulo) nos privilegiam com uma reflexão sobre as propostas feitas pelos presidenciáveis no ano de 2014. O texto é atual, uma vez que os dois autores não se limitam às questões que antecederam as eleições, expandem suas observações à legitimidade de cada proposta e projetam os desafios a serem adotados. Tão importante como esses dois autores para o prisma da saúde pública, o pesquisador Ignacio Delgado (Universidade Federal de Juiz de Fora) nos oferece uma análise sobre a articulação entre a indústria farmacêutica e a arquitetura dos sistemas de saúde, salientando as implicações que os formatos institucionais dos primeiros acarretam para as modalidades de apoio à pesquisa e à inovação na indústria.

O discente de mestrado Adebiano Rodriguez (Universidade Federal de Juiz de Fora), remete para a centralidade do debate a política de saúde no âmbito das políticas sociais. Completando o cenário da saúde pública, Tiago Siqueira Reis (Universidade Nova Lisboa) apresenta a trajetória da Fundação Oswaldo Cruz, ressaltando dois períodos da instituição: de 1970 a 1988, em que responde pelo direito privado; e de 1988, ano da promulgação da Constituição Brasileira, até 2003, período em que se enquadra no regime de direito público.

Ainda nos temas que versam sobre políticas públicas, mas ultrapassando a análise da saúde, a pesquisadora Katiuscia Vargas (Universidade Federal de Juiz de Fora) nos traz uma reflexão sobre o processo de inclusão escolar das pessoas com deficiência de forma a revelar as contradições e marcas presentes neste processo. A estudiosa pretende refletir sobre a (re)significação do que estamos entendendo por inclusão escolar e, principalmente, para repensarmos a maneira como historicamente a escola vem lidando com as pessoas com deficiências e outras necessidades especiais.

O mestrando em direito, Pedro Ribeiro Viscardi (Universidade Federal do Rio de Janeiro), contribui para a revista com uma reflexão sobre as mudanças institucionais das contrapartidas exigidas no Programa Bolsa Família. Argumenta-se que as condicionalidades da política surgiram por meio de alterações incrementais. Para comprovar essa hipótese, recorre a fontes do Legislativo brasileiro, notícias, artigos e livros.

O dossiê continua com o texto do professor João Assis Dulci (Universidade Estadual de Minas Gerais), no qual o pesquisador tem por objetivo demonstrar como as estratégias de desenvolvimento nacional (década de 1980) sofreram modificações, em consonância com as transformações no regime de acumulação do modo de produção capitalista.

Há três análises em escala mais reduzida, feitas por Lívia Freitas Pinto Silva Soares (Universidade do Rio de Janeiro), Cátia Franciele Sanfelice de Paula (Universidade Federal de Uberlândia) e Yuri Amaral Barbosa (Universidade Federal de Juiz de Fora). A doutoranda Lívia Soares avalia as ações de assistência aos pobres, aclamadas pelos poderes públicos e pela filantropia, no Distrito Federal, entre os anos de 1891 a 1910. Cátia de Paula, doutoranda em História, discute como o Estado vem intervindo no setor pesqueiro por meio de políticas púbicas, evidenciando um processo de mudanças causado por danos ambientais que provocaram novas relações de produção vividas por pescadores na cidade de Guaíra / PR. Por fim, o mestrando em geografia Yuri Barbosa, visa discutir o papel da esfera municipal como gestora ativa no planejamento e na constituição do espaço urbano no final do século XIX. Tendo a cidade de Juiz de Fora como pano de fundo, pretende analisar como se sucedeu a formulação e a execução do primeiro “plano diretor” da cidade, o Plano Howyan, em 1892.

Nosso esforço maior nessa edição foi reunir textos que se preocupassem com a interação entre o setor público e privado, motivando a escrever sobre essa problematização que vem se tornando emergente em vários setores e precisa de um olhar mais atento do campo acadêmico sobre seu desenvolvimento. Embora tenhamos em mãos uma revista nova, na sua terceira edição, cumprimos com nosso objetivo de reunir pesquisadores de diferentes universidades, com produtividade e credibilidade asseguradas pelas agências de pesquisas. O que nos torna ainda mais satisfeitos com nosso trabalho.

Por fim, agradecemos a todos os discentes do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora pelas suas valiosas contribuições na construção desta edição. Aos professores do Programa, nosso muito obrigado pela confiança e pela atenção nas sugestões e críticas, que sempre serão importantes para o crescimento da Revista Faces de Clio. Aos pesquisadores que se dispuseram a escrever, nosso intenso agradecimento.

Janeiro de 2016

Nittina Anna Araújo Bianchi Botaro

Antonio Gasparetto Júnior


BOTARO, Nittina Anna Araújo Bianchi; GASPARETTO JÚNIOR, Antonio. Editorial. Faces de Clio, Juiz de Fora, v.2, n.3, jan. / jun., 2016. Acessar publicação original [DR]

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Educação, políticas públicas e mudanças sociais  / Especiaria / 2010

As mudanças sociais são elementos que afetam decisivamente a configuração política e econômica da contemporaneidade, em razão da frenética e conturbada transformação que a modernidade tem legado às relações sociais. Vários autores de diversificadas teorias sociológicas têm se debruçado sobre essa temática e recorrem a interpretações das mais variadas para entender “as consequências da modernidade”. Giddens, por exemplo, nos apresenta uma preocupação latente com a percepção dos indivíduos frente às mudanças que a modernidade incita, elencando categorias analíticas significativas, como estrutura da subjetividade e da objetividade. Esses elementos são importantes para pensar a conformidade dos agentes nos meios sociais, a centralidade do indivíduo em outros centros de atenção, como o mercado, o poder e o trabalho. Esse cenário nos parece convidativo para pensar as dinâmicas sociais e políticas dessas relações entre Estado e sociedade, focando a questão educacional no processo de mudanças sociais.

A Educação como elemento chave na estruturação dessas dinâmicas rebate o efeito das grandes mudanças e também alimenta necessidades prementes de transformações políticas nas suas configurações decisórias de construção de metas e políticas. Os artigos que compõem o dossiê se propõem a discutir tais questões nas suas mais diferentes dinâmicas pedagógicas: seja na prática, nos mecanismos de formação de professores ou nas implicações sociais que essas mudanças têm no quadro de conflitos, como a questão da violência.

Reconhece-se que a tônica que esse dossiê apresenta assume uma extensão de problemáticas, por si só estanques nas suas expressões, mas convergentes nas suas acepções comuns de reflexos de um quadro de configurações das mudanças sociais. Privilegiaram-se problemáticas que vêm assumindo reformulações desafiadoras dos profissionais da educação, intelectuais da área com relação aos temas da violência nas escolas, violência sexual, educação infantil, educação a distância, nesse caldeirão social da contemporaneidade educacional. Sabe-se que ficaram de fora outros tantos temas importantes e tão desafiadores quanto esses, mas que também têm ganhado outros espaços que garantem a cobertura do debate.

Oferecemos ao leitor uma mostra dessas discussões em três regiões do País: Nordeste, Sudeste e Centro Oeste, e na cidade de Rosário, na Argentina, com pesquisas e estudos que foram realizados em cidades dos grandes centros, e também retratam o contexto de cidades de médio porte nas suas regiões. São olhares e fazeres diferenciados a mostrar que a lógica da linearidade não dá conta de explicar e analisar o nosso cotidiano.

Com este número, procurou-se discutir o reflexo do processo de mudança social na educação, que imprime reformulações nas políticas públicas educacionais. Violência enquanto categoria que vem atravessando as categorias analíticas do estudo da arte da educação nas dimensões: planejamento e gestão; avaliação, formação de professores; financiamento; currículo. Esse quadro de violência experimentada nas escolas tem fomentando reformulações teóricas sobre essas dimensões que desafiam nossas formulações mais cristalizadas sobre o processo educativo. A questão do inquietante enfrentamento da violência nas escolas, em variadas regiões do País e na América Latina, como mostram alguns artigos aqui sistematizados, revelam que esse problema não é prerrogativa do Brasil. Adverte-nos para as novas configurações institucionais em jogo, apresentando um quadro complexo das responsabilidades na protagonização educativa.

O trabalho de Fernanda Campos Junqueira discute a violência na escola, bem como o processo de rotulação e estigmatização do corpo discente, tendo como base as percepções e proposições dos diversos atores da comunidade educacional, como professores, corpo técnico-pedagógico e funcionários. Sua análise utiliza as premissas do Interacionismo Simbólico, que evidencia a maneira pela qual os variados grupos significam e ressignificam os contextos, os indivíduos e as interações sociais.

O texto de Keila Canabrava Aleixo apresenta reflexões sobre a justiça restaurativa nas escolas que, partindo da perspectiva histórica, pretendem mostrar como o controle da infância foi estabelecido a partir da aliança entre a justiça e a assistência, e que, atualmente, “novas” alianças são estabelecidas, como a aliança entre a justiça e a educação com vistas a combater a violência escolar.

O artigo de Naylane Mendonça Pinto analisa a introdução da teoria do inimigo no direito penal, nas políticas penais brasileiras, destacando a substituição do direito penal que criminaliza a conduta ou o ato praticado, para um direito penal que criminaliza o autor. Traz para discussão algumas leis que foram promulgadas, nas últimas décadas, com a finalidade de aumentar a repressão penal sob o argumento do aumento da criminalidade violenta. O artigo atende a uma demanda crítica no campo educacional que, muitas vezes, em seus projetos de redução da violência, dirige-se a modelos classificatórios e estigmatizantes de seus alunos. Muitas vezes o tratamento se caracteriza, basicamente, por estruturas punitivas, corretivas, que enclausuram e são incriminatórias, como nos revela a discussão sobre a questão penal no Brasil.

A especificidade do quadro da violência sexual e as proporções alarmantes que vêm sendo registradas no cenário contemporâneo refletem também a necessidade de um debate mais profícuo em torno da sexualidade e da questão educacional, desmitificando a hipocrisia das discussões em torno desse tema. Os educadores mostram-se fragilizados, numa relação de atenção à violência no universo escolar, ainda mais quando esse quadro de violência é apenas o reflexo de uma vitimização de violência sexual sofrida por alunos. Seria um investimento, sobretudo, a exigir um tratamento emergencial.

O artigo de Rogéria da Silva Martins, Maria Elizabete Souza Couto e Paulo Cesar Pontes Fraga discute como o trabalho é realizado nos serviços de atendimento às crianças e adolescentes vítimas da violência sexual e à escola, na região Sul da Bahia, enfatizando que a proteção e a garantia dos direitos humanos foi uma conquista da sociedade e, no que se refere às crianças e adolescentes, o ECA / 90 visa ampliar e fortalecer a rede de proteção. Entretanto, parece que a estrutura não tem favorecido a denúncia e a mobilização, em razão dos limites colocados pelas políticas públicas frente ao atendimento e à rede de proteção.

O trabalho apresentado por Ceci Vilar Noronha e Andrija Almeida traz para discussão os aspectos psicossociais da pedofilia e da pornografia infantil como fenômenos interrelacionados que vitimizam um segmento social vulnerável, reiterando que os pedófilos aproximam-se das vítimas via novas tecnologias da informação, uma característica da sociedade pós-moderna. Observa, ainda, que o público-alvo da pedofilia sente-se particularmente atraído pelas ferramentas do mundo virtual que concorrem para fomentar narrativas da vida cotidiana e facilitar novos círculos de amizades.

A infância, parece, está sendo condenada a experiências reveladoras de um quadro nada animador das projeções educativas. As concepções pedagógicas para a educação infantil estão caracterizadas por um estágio ainda de recente conformação teórica, no que se refere às políticas públicas para a educação infantil. O debate aqui revela os limites dessas reflexões e a latente mudança social com a qual os educadores têm se deparado no processo de aprendizagem dessas crianças. Nesse caminho, pesquisadores têm contribuído com o debate, apresentando vivências dessas práticas em diferentes contextos educativos.

O artigo de Adilson De Angelo identifica e discute o processo de consolidação de propostas para a educação infantil no contexto dos movimentos sociais, partindo de uma incursão pela história, na tentativa de perceber como se consolidaram os programas educativos destinados às crianças pobres brasileiras e sua dimensão ideológica. Apresenta a participação dos movimentos sociais nas lutas pelo acesso à creche, e as propostas que foram sendo construídas como contribuição para que a educação infantil continuasse a ser pensada e concretizada como espaço que reconhece a dimensão de sujeito do direito, do desejo e do conhecimento, própria da criança.

O trabalho das autoras Giana Amaral Yamin, Débora de Barros Silveira e Almerinda Maria dos Reis Vieira Rodrigues problematiza aspectos da educação infantil oferecida às crianças menores de seis anos de idade, tendo como base a realidade de escolas localizadas em assentamentos rurais do Estado de Mato Grosso do Sul, revelando o cotidiano, as condições das instituições e ações pedagógicas que são oferecidas à criança pequena nas escolas do campo.

O texto de Eronilda Maria Góis de Carvalho apresenta um estudo realizado em classes de educação infantil, em escola pública, focalizando a organização do trabalho docente e analisando as questões ligadas ao cuidar / educar e às relações de gênero na educação infantil.

No caminho das mudanças sociais na educação, na caracterização do dossiê, não poderíamos deixar de resgatar o debate sobre a questão da educação à distância. Esse novo modelo educativo traz um desafio grande, e a relação entre professores e alunos virtuais define uma diferente configuração de novos atores envolvidos no processo educativo: o professor coletivo e o estudante autônomo (Belloni, 1999). A abertura no novo campo de possibilidades tem suscitado discussões interessantes, abrindo um universo de caminhos para o cotidiano do trabalho docente, tentando compreendê-las no curso da história, como sugere Lévy (1999), mas sem abrir mão da perspectiva humanista dentro do conteúdo técnico de um novo fazer pedagógico.

A educação e seus processos políticos e sociais permeiam os trabalhos já apresentados, mas vale lembrar que estão no auge das discussões as políticas públicas de formação de professores, tendo como pano de fundo as mudanças na sociedade no seu sentido macro. Por isso, apresentaremos o trabalho de Esther Hermes Lück que inicialmente recorre à produção teórica para sustentar questionamentos acerca das críticas atualmente formuladas à Educação a Distância, que vão do otimismo exacerbado ao questionamento radical e, nesse sentido, indicam os aspectos político-ideológicos que subjazem aos posicionamentos críticos, tais como a formação docente e o uso reflexivo e pedagógico das tecnologias como fatores prioritários para a criação de processos capazes de responder às necessidades e aos desafios que se impõem à sociedade do conhecimento.

Em seguida, Beatriz Basto Teixeira analisa a experiência do Curso de Pedagogia da Universidade Aberta do Brasil, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UABUFJF), apresentando o perfil dos alunos do curso com o objetivo de justificar a sua caracterização como política e social, em função da oportunidade de acesso ao ensino superior. Enfatiza a formação de professores por meio da Educação a Distância como uma política social de relevância, tendo fator de impacto sobre a qualidade da educação, e oportunidade de realização de direitos para quem só por meio da educação a distância pode ampliar sua escolarização e formação.

Na seção artigos, Especiaria – Cadernos de Ciências Humanas são destacados dois artigos de pesquisadores no campo da cultura: Gilberto Salgado, apresentando um erudito artigo sobre a discussão no campo da Sociologia da Cultura, em que convida o leitor a pensar em uma nova conceitualização de desigualdade e cultura. O autor realiza uma análise social da articulação entre indústria cultural e o novo conceito de desigualdade cultural, no Brasil, e inclui uma reflexão sobre questões teóricas e metodológicas da Sociologia da Cultura. Mônica Dias que apresenta um rico trabalho antropológico sobre a condição de status do acarajé da Bahia, a partir do tombamento do mesmo pelo patrimônio histórico. Esse artigo apresenta considerações a respeito das representações que produziram o acarajé como ‘comida típica’ de um grupo religioso (o candomblé) e de uma localidade (a Bahia). Tais representações são foco de disputa religiosa – evangélica e afro-brasileira -, aquecendo o mercado e buscando a legitimidade a partir da tradição, trazendo para a cena vários atores que defendem o processo do tombamento do quitute como ‘patrimônio cultural’, incrementando as vendas e o turismo cultural, com a ‘grife’ made in África ou made in Bahia.

Especiaria – Cadernos de Ciências Humanas nesse número apresenta, ainda, na seção tradução, o texto “Polifonia e metamorfoses da noção de identidade”, de Claude Dubar, importante intelectual francês da contemporaneidade, defendendo seus estudos sobre a socialização da construção da identidade, numa latente contribuição de parte de sua obra ofertada ao público acadêmico brasileiro. A tradução é precedida da apresentação da professora Vanilda Paiva, que revela a importância da oportunidade de Especiaria trazer um trabalho de Dubar, uma vez que a tradução de seus trabalhos ainda é limitada no campo editorial brasileiro. Observa que esse intelectual tem contribuído muito, com suas análises teóricas, com a Sociologia e a Educação, trazendo uma nova versão do conceito de socialização, revelando trajetórias teóricas significativas para a explicação da construção da identidade. Em seu artigo, busca distinguir e definir quatro usos do conceito de identidade, noção eminentemente polissêmica e que mobiliza a noção de formas identitárias, plurais e contingentes, em lugar de apenas uma noção de identidade, marcada pela confusão dos usos essencialistas e empiristas precedentes. As formas de designação da mobilidade e do pertencimento são ditas identitárias porque estão fortemente ancoradas nas subjetividades e nas características do advento da segunda modernidade. E, em decorrência da morte de Lévi-Strauss, Dubar ainda nos oferece a oportunidade da publicação de uma homenagem a esse autor, por sua notória contribuição intelectual às ciências sociais.

Ainda nessa divisão, está a tradução do artigo de Marité Colovini e Jorge Kohen, que sustenta a ideia de que o fenômeno da violência social deixou de ser um elemento que constituía o contexto no qual se desenvolviam os processos educativos e de trabalho docente, para penetrar as paredes da escola e instalar-se, na atualidade, na própria trama do trabalho docente e da ação educativa. Traz para discussão questionamentos como: O que é a escola hoje? O que é um docente hoje? Como podemos cumprir a tarefa de ensinar nas condições atuais da sociabilidade? Além disso, a violência afeta o processo de ensino-aprendizagem e também o modo de viver das crianças, jovens e adultos (professores)?

Por fim, a apresentação da resenha de Leylane Cabral sobre o livro Juventude em conflito com a Lei, organizado por Vanilda Paiva e João Trajano de Lima Sento-Sé, mais uma vez traz para a pauta de discussões a concepção de julgar, o conceito de desvios de conduta, liberdade e as medidas socioeducativas que não estão contribuindo para (re)significar ou socializar os sujeitos considerados “fora” da lei .

Paulo Cesar Pontes Fraga – Editor.

Maria Elizabete Souza Couto

Rogéria Martins.

(Organizadoras)

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