Posts com a Tag ‘Política externa’
A Opção Sul-Americana: Reflexões sobre Política Externa (2003-2016) | Bruno Gaspar
Marco Aurélio Garcia | Foto: Roberto Stuckert Filho / Agência O Globo / 2004
Entre um Brasil para a América do Sul e uma América do Sul para o Brasil
Na História da Política Externa Brasileira (HPEB), o relacionamento entre nosso país e os vizinhos sul-americanos se constituiu num dos capítulos mais complexos nos últimos dois séculos. Ao longo dessa trajetória de país independente, diversos episódios marcaram as fases de aproximações e distanciamentos entre Brasil e América do Sul. Entre construções de identidades políticas e culturais, debate sobre fronteiras, guerras e disputas de hegemonia, tal temática é uma vertente complementar para a compreensão da formação de nosso Estado e da nossa sociedade, sendo, portanto, estratégica na construção da inserção internacional brasileira.2
Durante os primeiros anos do século XXI, sem necessariamente romper com todas as linhas de atuação anteriores, os governos Lula e Dilma ficaram marcados por uma nova fase na constituição de laços entre os brasileiros e seus vizinhos, seja da perspectiva das relações bilaterais, seja nos esforços multilaterais. A América do Sul se reafirma como um dos eixos prioritários da Política Externa durante os primeiros governos petistas (RICUPERO, 2017), num esforço de intensificação de relações e construção consciente desse espaço regional. Leia Mais
Foreign Policy Analysis: A toolbox | Jean-Frédéric Morin e Jonathan Paquin
En 1962 durante la Guerra Fría, la Unión Soviética instaló misiles nucleares en Cuba. Los Estados Unidos dirigido, por John Kennedy, respondió con un bloqueo a la isla cubana. Unos dirán que el bloqueo dependió del carácter de Kennedy. Otros afirmarán que la reacción dependió de la interpretación del presidente de los Estados Unidos ante la instalación de los misiles en Cuba. Posiblemente, otras explicaciones mostrarán que la Unión Soviética intentaba defenderse en un sistema anárquico. Como Jean-Frédéric Morin y Jonathan Paquin lo señalan en su libro, este acontecimiento puede desenterrar múltiples formas de interpretar o explicar este hecho histórico desde el Análisis de Política Exterior.
El Análisis de Política Exterior es un subcampo de estudio de las Relaciones Internacionales. Los actores estudiados son los Estados, gobiernos, ciudades, federaciones, regiones y demás actores que desarrollan su propia política exterior. Se preocupa en explicar o entender la transición de los factores internos a los externos. Observa aspectos que influyen en las decisiones o motivos que llevan a que actores actúen (o no), reaccionen (o no) o se comporten de determinada forma en la arena internacional. Por eso, los estudiosos/as de la política exterior han desarrollado varias herramientas multidisciplinares para explicar o entender estos procesos. Es justamente lo que Jean-Frédéric Morin y Jonathan Paquin ofrecen con su libro “Foreign Policy Analysis: A toolbox”. Leia Mais
The European Union in Africa: Incoherent policies/ asymmetrical partnership/declining relevance? | Murizio Carbone
African and European affairs are intimately and historically entwined. The twentieth first century, however, has been characterized by the ascension of a relatively new player: the European Union (EU). It was not until the 1990s, with the advent of a Common Foreign and Security Policy (CFSP) and the Common Security and Defence Policy (CSDP), which were added together with more traditional external policies, such as trade and development, that the EU acquired a “proper” foreign policy dimension.
With these characteristics in mind, “The European Union in Africa”, originally released in 2013 and re-released in paperback in 2016, is a collection of papers written by different experts on the field of European studies. It is edited by Maurizio Carbone1 and endeavours to evaluate the EU’s foreign policy in Africa in the twenty-first century. The volume aims to challenge traditional views enclosed in the subtitle: “incoherent policies, asymmetrical partnership, declining relevance?”. Leia Mais
Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a questão cubana (1959-1964) | Leonardo R. Botega
O que tem em comum Arturo Frondizi, Jânio Quadros e João Goulart, além de terem sido presidentes de seus países? A resposta mais evidente é que nenhum deles concluiu o seu mandato. Frondizi foi deposto pelos militares argentinos em 28 de março de 1962, Quadros renunciou à presidência do Brasil em 25 de agosto de 1961 e Goulart foi alijado do poder por um golpe civil-militar em 1 de abril de 1964.
Além disso, há, ainda, outro ponto de contato entre esses três personagens: todos eles patrocinaram, em um período muito próximo, mudanças nas relações exteriores de seus países que ficaram conhecidas por políticas externas independentes. E mais ainda: procuraram aproximar o Brasil e a Argentina na defesa da autonomia da América Latina num momento de extrema tensão ocasionado pela emergência da Revolução Cubana que modificou o estatuto da Guerra Fria no continente americano.
É disto que trata o livro Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a questão cubana (1959-1964), de autoria de Leonardo da Rocha Botega.1 Adaptado de sua dissertação de Mestrado defendida na Universidade Federal de Santa Maria, o livro, agora, aumentará a circulação da consistente pesquisa elaborada pelo seu autor em um grande número de fontes primárias, com destaque para os anos iniciais da Revista Brasileira de Relações Internacionais com seus números que foram editados entre 1958 e 1964. Some-se a isso o expressivo número de 140 referências bibliográficas que colaboraram para que o livro tenha uma rica densidade teórica bem como uma ampla perspectiva da História do fim dos anos 50 e inícios dos 60 do Século XX.
Afinal, foi a Revolução Cubana de 1959 que trouxe a latino-americanização da Guerra Fria. Até então, pouca importância davam os Estados Unidos da América (EUA) para o subcontinente latino-americano.[2] É assim que Botega abre o primeiro capítulo de sua obra:
Quando Fidel Castro, Ernesto Che Guevara, Raul Castro, Camilo Cienfuegos e outros tomaram a capital Havana, em janeiro de 1959, sem sombra de dúvidas a América Latina passava a viver um momento diferente em seu cenário político. O forte poder de atração que esta exerceu sobre a esquerda trouxe para a América Latina a “sombra” do conflito leste-oeste, atingindo em cheio a esfera de influência dos Estados Unidos, principalmente ao definir no período 1960-1961 o seu caráter socialista.[3]
Nesse capítulo inicial, o autor produz uma visão panorâmica sobre a Argentina, o Brasil e Cuba, tendo como elemento comparativo das realidades históricas de cada um desses países o nacionalismo. Aqui é importante frisar, como o fez Eric Hobsbawm,[4] que o nacionalismo é um conceito histórico e que, portanto, ele se modifica ao longo do tempo, podendo se localizar nos mais extremos espectros políticos. Porém, no tempo e no espaço da Argentina, Brasil e Cuba dos anos 1950, houve a coincidência de o nacionalismo assumir “um caráter cada vez mais à esquerda no contexto da Guerra Fria”,[5] constituindo assim uma preocupação para os Estados Unidos que procuraram –durante a VII Reunião de Consulta dos Ministros de Relações Exteriores das Repúblicas Americanas, realizada entre 22 e 29 de agosto de 1960 na Costa Rica – impor “a adoção de sanções econômicas e de medidas coercitivas ao governo de Cuba”.[6] Não obtiveram sucesso em razão da forte oposição da Argentina, do Brasil e do México,[7] que incluíram na Declaração de San José que “nenhum Estado americano pode intervir em outro Estado americano com o propósito de impor-lhes suas ideologias ou princípios políticos, econômicos e sociais”[8] .
Leonardo Botega reconstitui a trajetória política de Arturo Frondizi além de discutir teoricamente a ideologia de seu projeto de desenvolvimento conhecido por desarrollismo, que visava superar tanto os entraves patrocinados pelo latifúndio quanto pela exploração imperialista. Também analisa a difícil situação do presidente argentino que se encontrava sob fogo cruzado, entre a extrema-direita patrocinada pelos militares anticomunistas e antiperonistas e pelos peronistas que o consideravam um traidor, pelo fato de ter permitido que o capital estrangeiro explorasse o petróleo de seu país.
Nesse capítulo primeiro, o autor também, analisou a polarização vivida pelo Brasil no “tempo da experiência democrática (1945-1964)”,[9] culminando com a eleição de Jânio Quadros – quando Afonso Arinos de Melo Franco implementou a Política Externa Independente (PEI) – e sua intempestiva renúncia que “permanece ainda alvo de debates. Porém, mesmo sem provas documentais, a literatura de história e ciências sociais concorda que o presidente desejava dar um golpe de Estado”.[10] Aborda a Campanha da Legalidade, o governo parlamentarista com o reatamento de relações diplomáticas com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e o turbulento período presidencialista de João Goulart, com sua desestabilização patrocinada pelos EUA e o golpe civil-militar de 1964.
Fechando esse capítulo, é realizada detida exposição acerca do desenvolvimento histórico de Cuba, partindo de sua conquista em 1511 até o período da luta revolucionária – enfatizando a relação com os Estados Unidos. Recupera a trajetória de Fidel Castro, desde sua juventude nos anos 1940, passando pelo malogrado assalto ao Quartel de Moncada e seu discurso de defesa intitulado A História me absolverá até chegar a luta em Sierra Maestra e a revolução sair vitoriosa. A partir desse momento, o autor se concentra no esgotamento da relação com os EUA, principalmente, em função da reforma agrária e da “nacionalização de todas as propriedades norte-americanas (…) 36 engenhos de açúcar, todas as refinarias de petróleo e instalações telefônicas e de fornecimento de energia elétrica”[11] e do episódio da Baía dos Porcos, onde as forças de Castro vencem os invasores. Com isso, tem início a verdadeira obsessão dos irmãos Kennedy sobre Cuba, não faltando planos de assassinar Castro operados diretamente por Robert Kennedy através da Operação Mangusto,[12] bem como a pressão cada vez mais intensa para excluir Cuba do convívio com os demais estados americanos.
O segundo capítulo nos aproxima das políticas externas independentes da Argentina e do Brasil. Através da análise da documentação produzida naquele período – discursos e pronunciamentos dos responsáveis pelas políticas externas e dos presidentes dos dois países – e de dois livros – um de autoria de Frondizi e outro de San Tiago Dantas [13] – o autor procurou responder às seguintes questões:
Quais as fundamentações da política externa independente do governo Arturo Frondizi e da política externa independente do Brasil? Quais suas bases conceituais? Que leituras tinham da realidade latino-americana e mundial? Que pontos de vista as aproximavam?[14]
Botega conclui que há muitos pontos de aproximação entre as duas políticas externas: ambas estão calcadas no nacionalismo, buscam um paradigma de maior autonomia para suas relações exteriores, procuram fazer da política externa uma ferramenta na busca pelo desenvolvimento econômico-social, criticam a deterioração dos termos de troca nas relações econômicas entre os países mais industrializados e os países em vias de industrialização, frisam que não são neutralistas mas que procuram a independência dentro do bloco ocidental (ambos são acusados pelos adversários de estarem a serviço de Moscou), pretendem manter boas relações com os EUA (Frondizi e Goulart discursaram no Congresso dos Estados Unidos), e, por fim, que são defensores dos princípios de autodeterminação dos povos e de não-intervenção.
É justamente sobre os princípios de autodeterminação dos povos e de não-intervenção que trata o terceiro capítulo do livro, ao analisar de que forma Argentina e Brasil colocaram em prática suas políticas externas independentes quando da crise da “questão cubana”.
Por “questão cubana” se entendia a adoção do socialismo a partir da declaração de que “o que os imperialistas não podem nos perdoar é que fizemos uma Revolução Socialista debaixo do nariz dos Estados Unidos e que defenderemos com nossos fuzis esta Revolução Socialista (…) Viva a Revolução Socialista! Viva Cuba Livre”[15] feita por Fidel Castro, e sua incompatibilidade com o sistema interamericano. Ressalte-se que essa modificação no estatuto da Revolução Cubana se deu em 16 de abril de 1961, um dia após tropas de exilados cubanos financiados pela CIA terem realizado um ataque com grande saldo de vítimas fatais em Cuba e um dia antes da tentativa de invasão conhecida como Baía dos Porcos, o que permite entender essas palavras como um pedido de socorro à URSS para a defesa da Revolução Cubana.
Em razão de Cuba ter se declarado socialista, primeiro o Peru e posteriormente a Colômbia (ambas com apoio estadunidense) invocaram o Tratado Interamericano de Aliança Recíproca (TIAR) para convocar uma Reunião de Consulta dos Chanceleres da Organização dos Estados Americanos (OEA) com o objetivo de “intervir coletivamente através da OEA em Cuba”[16]. Tanto o Brasil, como a Argentina e também o México, se posicionaram de forma contrária até que “o próprio Fidel Castro acabou dando munição para os seus adversários. No discurso de inauguração da Universidade Popular, em 2 de dezembro de 1961, declarou ‘sou marxista leninista e serei marxista-leninista até o último dia de minha vida’”[17]. Desse modo, ficava muito difícil, em termos políticos, barrar a convocação da Reunião.
Dado a polêmica da questão, nenhum país quis sediar a Reunião de Consulta, exceto o Uruguai. Assim, a VIII Reunião de Consulta dos Chanceleres Americanos se realizou em Punta del Este entre 23 e 31 de janeiro de 1962. San Tiago Dantas, representando o grupo composto por Brasil, Argentina, México, Bolívia, Chile e Equador e Haiti (o Uruguai oscilava entre a posição brasileira e a posição colombiana pela expulsão de Cuba), defendeu que a ilha não fosse excluída do sistema americano sob o risco de estarem-na jogando aos braços dos soviéticos.
Os Estados Unidos, sob a liderança do Secretário do Departamento de Estado, Dean Rusk, exerceram pressões sobre o Brasil, a Argentina e os outros países que eram contra a expulsão de Cuba. Outras pressões eram exercidas pelos setores mais à direita internamente nos países, como o fez o exército argentino e alguns ex-chanceleres brasileiros. Contudo, foi um dos mais fracos países do continente que acabou sucumbindo às pressões dos EUA: o Haiti foi o necessário 14º voto para a aprovação da íntegra do texto de resolução apresentado por Rusk.
Leonardo Botega analisa as repercussões internas das posições do Brasil e da Argentina, que acabaram se abstendo de votar o texto completo de Rusk. Percebeu os apoios e as oposições às políticas externas independentes. No caso brasileiro, de forma mais imediata, a posição em Punta del Este acabou sendo um empecilho para San Tiago Dantas ser aprovado pelo Congresso como primeiro-ministro em junho daquele mesmo ano. No caso argentino, a pressão foi tão intensa que o país rompeu relações diplomáticas com Cuba em 8 de fevereiro e, mesmo cedendo desse modo aos militares, o presidente Frondizi foi deposto em 29 de março de 1962. Dois anos depois, tendo como uma das justificativas salvar o Brasil do comunismo, João Goulart também foi golpeado por militares e por civis.
Do belo trabalho de pesquisa realizado por Leonardo da Rocha Botega fica uma questão em aberto: até que ponto os golpes militares não foram, também, resultado das políticas externas independentes, ou talvez, resultado da posição frente a questão cubana?
Notas
1. BOTEGA, Leonardo da Rocha. Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a questão cubana (1959-1964). Porto Alegre: Letra & Vida, 2013.
2. Basta lembrar que a Operação Pan-americana (OPA) proposta por Juscelino Kubitschek em maio de 1958 não despertou maior interesse de Eisenhower. CERVO, Amado Luiz; BUENO, Clodoaldo. História da política exterior do Brasil. 3ª edição ampliada. Brasília: Editora da UNB, 2010, p.293-294.
3. BOTEGA, op.cit., p.29.
4. HOBSBAWM, Eric. Nações e nacionalismo desde 1780. 3ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
5. MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. O nacionalismo latino-americano no contexto da Guerra Fria. In: Revista Brasileira de Política Internacional. Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, ano 37, nº 2, 1994, p.55-56.
6. BOTEGA, op.cit., p.43.
7. As posições da política externa independente mexicana, em especial com sua relação com a questão cubana, são abordadas em profundidade por Altmann. ALTMANN, Werner. México e Cuba: revolução, nacionalismo, política externa. São Leopoldo: Unisinos, 2001, p.77-86.
8. BOTEGA, op.cit., p.44.
9. A expressão é de Jorge Ferreira e Lucília Delgado. FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida Neves (orgs.). O Brasil Republicano: o tempo da experiência democrática. Vol. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
10. FERREIRA, Jorge; GOMES, Angela de Castro. 1964: o golpe que derrubou um presidente, pôs fim ao regime democrático e instituiu a ditadura no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014, p.25.
11. GOTT, Richard. Cuba: uma nova História. Rio de Janeiro: Zahar, 2006, p.211.
12. WEINER, Tim. Legado de Cinzas: uma história da CIA. Rio de Janeiro: Record, 2008, p.208-217.
13. FRONDIZI, Arturo. A Luta Antiimperialista: etapa fundamental do processo democrático na América Latina. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1958. DANTAS, San Tiago. Política Externa Independente. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1962.
14. BOTEGA, op.cit., p.104.
15. Fidel Castro apud MÁO JÚNIOR, José Rodrigues. A Revolução Cubana e a Questão Nacional (1868-1963). São Paulo: Núcleo de Estudos D’O Capital, 2007, p.354.
16. BOTEGA, op.cit., p.184.
17. Idem, p.185.
Charles Sidarta Machado Domingos – Doutor em História pela UFRGS. Professor de História no IFSUL- Campus Charqueadas. E-mail: csmd@terra.com.br
BOTEGA, Leonardo da Rocha. Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a questão cubana (1959-1964). Porto Alegre: Letra & Vida, 2013. Resenha de: DOMINGOS, Charles Sidarta Machado. Os primeiros anos 60 nas relações internacionais de Brasil e Argentina: a Revolução Cubana e a latino-americanização da Guerra Fria. Aedos. Porto Alegre, v.7, n.16, p.496-501, jul., 2015.Acessar publicação original [DR]
Teerã/ Ramalá e Doha: memórias da política externa ativa e altiva | Celso Amorim
Após a publicação de Conversas com jovens diplomatas (2011) e Breves narrativas diplomáticas (2013), a Benvirá lançou, neste ano, o novo livro de Celso Amorim, Teerã, Ramalá e Doha: memórias da política externa ativa e altiva. O livro se divide em três partes, que se propõem a analisar três aspectos da política externa brasileira considerados centrais por Amorim durante a sua chancelaria no governo Lula: as negociações acerca do programa nuclear iraniano, que redundaram na proposta turco-brasileira que ficou conhecida como Declaração de Teerã; a aproximação do Oriente Médio, em especial do mundo árabe; e a participação do Brasil nas tratativas das Rodada Doha.
Fortemente baseado em notas do próprio ex-ministro à época dos acontecimentos narrados, o livro apresenta os “bastidores” de diversas ações da diplomacia brasileira e de alguns outros países, inclusive expondo o modus operandi das grandes potências. Por meio da detalhada narrativa, torna-se possível vislumbrar as motivações brasileiras nas três grandes iniciativas apresentadas, além das percepções dos outros negociadores e líderes sobre as posições e a inserção internacional do Brasil durante o governo Lula. Leia Mais
Nunca antes na diplomacia…A política externa brasileira em tempos não convencionais | Paulo Roberto de Almeida
Nunca antes um governo mereceu tanto destaque nem foram empreendidos tantos estudos acerca do seu plano de atuação e suas medidas de política externa quanto o governo do Partido dos Trabalhadores no poder central do Brasil. Tal governo, iniciado em 2003 com a posse de Luís Inácio Lula da Silva e que teve plano de continuidade com a eleição de Dilma Rousseff, em 2010, representou e representa uma ruptura diplomática com a linearidade de atuação do Itamaraty. O livro “Nunca antes na diplomacia … A política externa brasileira em tempos não convencionais”, do diplomata e acadêmico Paulo Roberto de Almeida, procura analisar essa transição. Como uma coletâneas de artigos, o livro traça o plano da diplomacia brasileira dando destaque de forma crítica à atuação do governo petista e à chamada era do “Nunca antes”.
Desde o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), a diplomacia brasileira tem passado por mudanças. De fato, a partir de FHC o Brasil inaugura, mais fortemente, a chamada diplomacia presidencial que apresenta ininterrupção com Lula. A figura do presidente, nestes períodos, ganhou destaque e projeção no cenário internacional, mas foi o governo de Luís Inácio que administrou de forma grandiloqüente essa imagem presidencial. Leia Mais
Quebra de Protocolo: a política externa do governo Lula (2003-2010) | Moisés da Silva Marques
Dentre as várias análises sobre as mudanças na política externa do Brasil notadamente iniciadas a partir da eleição e da chegada ao poder do ex-presidente Lula, em 2003, destaca-se a leitura de Moisés Marques em seu trabalho recém-publicado sob o título de Quebra de Protocolo: a política externa do governo Lula (2003-2010).
Estruturado em seis capítulos, Expectativas e primeiros movimentos, Relações Sul-Sul, Questões econômico-financeiras, Relações ao Norte, Temas contemporâneos, e Polêmicas à parte, nesse breve estudo das relações exteriores praticadas durante o período dos oito anos de governo, é situado um argumento central que teria marcado e alavancado o exercício da política externa brasileira, descrito pelo autor como o momento maquiaveliano. Segundo essa proposição, a política externa desse período deve ser considerada inicialmente a partir do fato dela ter se beneficiado de uma especial conjuntura de fatores que proporcionou um cenário favorável para sua execução. Leia Mais
Parcerias Almejadas: Política Externa/ segurança/ defesa e história na Europa | Estevão C. de Rezende Martins
Parte da série Parcerias Estratégicas do Brasil, publicada pela editora Fino Traço, Parcerias Almejadas: Política Externa, Segurança, Defesa e História na Europa, de Estevão Chaves de Rezende Martins, professor do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB), apresenta uma versão atualizada das políticas externa, de segurança e de defesa gestadas sob a égide da União Europeia (UE), sem silenciar o peso das dinâmicas históricas do continente no desenvolvimento da integração europeia.
O livro divide-se em duas partes. Em um primeiro momento, uma análise do ponto de vista das Relações Internacionais, com ênfase nos temas de integração regional, em que se discute de modo profundo o desenvolvimento da integração europeia, iniciado na década de 1950, nos campos da política externa, segurança e defesa. Na segunda parte, a influência do historiador Estevão Martins fala mais alto por meio da construção de um panorama histórico do continente europeu, desde 1840 (período de intensas transformações econômicas, políticas e sociais na Europa) até a atualidade, perspectiva sem a qual não é possível compreender as reais motivações e limitações da construção da Europa, que deixa de ser uma ficção política, emanada por pensadores como Saint-Simon, Kant e Mazzini, para se tornar uma realidade parcialmente cumprida. Diferentemente do que é atualmente concebido, primeiro apresenta-se o desenvolvimento da Política Externa e de Defesa europeia e depois é ilustrado o quadro histórico que compõe e complementa o entendimento das causas estruturais dos caminhos trilhados pela integração europeia. Leia Mais
Cuba e a Eterna Guerra Fria: mudanças internas e política externa nos anos 90 | Marcos Antonio da Silva
Cuba, certamente, enquadra-se entre os países-chave para se entender parte da história do século XX. Mesmo sendo uma pequena Ilha do Caribe, este país, a partir da ruptura com a ditadura de Fulgencio Batista, em janeiro de 1959, transformou-se em um dos principais agentes políticos mundiais, em especial para a América Latina e demais regiões periféricas do capitalismo.
Neste seu trabalho, Marcos Antonio da Silva demonstra como Cuba teve protagonismo nas relações internacionais durante as décadas de 1960-70-80. E isso tanto do ponto de vista cultural quanto do político-militar. Entretanto, apesar dessa sua força, a Ilha possuía um elemento de fragilidade para a sua organização social: o aspecto econômico. Em grande medida, será essa situação de debilidade econômica que criará para os cubanos um vínculo de dependência em relação à URSS. A partir da década de 1990, com a crise soviética, ocorre uma radical mudança nas relações exteriores de Cuba, forçando-a para uma postura mais diplomática. E é essa transformação o eixo central do livro. Leia Mais
Relações Internacionais e Política Externa do Brasil: a diplomacia brasileira no contexto da globalização | Paulo Roberto de Almeida
O livro “Relações Internacionais e Política Externa Brasileira: a diplomacia brasileira no contexto da globalização” traz uma herança de outros tempos para as pesquisas atuais em política externa. Tanto que, na primeira parte da obra, é apresentado ao leitor o tratamento dado ao estudo das relações internacionais no Brasil, que segundo Almeida, é um campo ainda não totalmente mapeado.
Os anos 1980 foram palco do crescimento notável dos estudos de relações internacionais no Brasil, principalmente, com a criação de vários cursos de graduação nessa área. Porém, no período em que ainda era estudante, Paulo Roberto de Almeida, aprendeu a compreender o meio internacional estudando-o na prática, por conta própria. Como jovem diplomata pôde consolidar essa ampla formação através de sua atuação no exterior. Leia Mais
The Quest: Energy/ Security and the Remaking of the Modern World | Daniel Yergin
Não há menor dúvida de que os assuntos sobre energia se integraram completamente nos estudos de relações internacionais. Nos encontros e congressos, como os organizados pela ABRI e pela ANPOCS, sempre há grupos propensos a debater os efeitos do álcool combustível na política externa brasileira, do papel das jazidas do pré-sal no possível desenvolvimento brasileiro e as razoes que levaram os Estados Unidos ao Iraque em 2003.
Este interesse dos estudos de relações internacionais, ciência política e economia pela energia é algo salutar, uma vez que se preocupam com setor que influencia em grande monta a vida doméstica dos Estados, bem como o relacionamento entre eles. Energia, caso dos hidrocarbonetos, não é apenas uma commodity qualquer, é uma expressão de poder que perdura desde a Antiguidade chinesa, grega e romana e deverá perdurar enquanto o mundo for dividido por Estados e dentro deles houver sociedade produtiva. Leia Mais
Monções | UFGD | 2012
A revista eletrônica Monções – Revista de Relações Internacionais da UFGD (Dourados, 2012-) tem por objetivo contribuir para o desenvolvimento das Relações Internacionais e seus campos afins a partir da publicação de artigos inéditos submetidos por pós-graduandos ou pós-graduados.
O público alvo da Monções são pesquisadores, acadêmicos e público interessado nas áreas de Política Externas, Política Internacional, Integração Regional, Economia Internacional, Teoria das Relações Internacionais, História das Relações Internacionais, Organizações Internacionais, Meio Ambiente, Direitos Humanos, Direito Internacional e Dinâmicas da Fronteira, entre outras.
Periodicidade semestral.
Acesso livre.
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O dia em que adiaram o Carnaval: política externa e a construção do Brasil – SANTOS (RBH)
SANTOS, Luís Cláudio Villafañe G. O dia em que adiaram o Carnaval: política externa e a construção do Brasil. São Paulo: Ed. Unesp, 2010. 278p. Resenha de: DULCI, Tereza Maria Spyer. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.31, n.62, São Paulo, dez. 2011.
O livro de Luís Cláudio Villafañe G. Santos impressiona desde o começo, pelo título, que relaciona a festa popular do carnaval à política externa, e também pela capa, uma imagem do vitral da Catedral Nacional de Washington retratando o barão do Rio Branco. Imediatamente somos levados a perceber que o livro tem como ponto de partida José Maria Paranhos da Silva Júnior, o barão do Rio Branco, responsável pela consolidação do território brasileiro, que figura naquele conjunto de vitrais, com Bolívar e San Martín, entre os heróis da América do Sul.
O autor, diplomata de carreira, mestre e doutor em História pela Universidade de Brasília, desenvolveu neste livro, O dia em que adiaram o Carnaval: política externa e a construção do Brasil, publicado pela Editora Unesp, um excelente estudo sobre as relações entre nacionalismo, identidade e política externa. Partindo de Rio Branco, Villafañe percorre o panorama histórico do país, do século XIX até os dias atuais, para investigar como foi construída a ‘consciência nacional’, a ‘ideia de raça brasileira’, a ‘consciência do atraso nacional’ e a ‘liderança natural’ do Brasil na América Latina.
O adiamento das festividades populares de 1912 em razão da morte do barão do Rio Branco, ocorrida na véspera do carnaval, demonstra o prestígio e o poder do diplomata não só diante das autoridades, mas também perante a população. Este seria, para Villafañe, um caso único na história, no qual a figura de um diplomata torna-se referência para a construção da nação ao obter importantes vitórias nas disputas de fronteiras.
Embora não sejam contemporâneos, Bolívar, San Martín e Rio Branco teriam sido, cada um a seu modo, responsáveis pela consolidação das nacionalidades na América do Sul. O que salta aos olhos é que, no caso do Brasil, uma figura da República, e não do Império, foi protagonista desse processo de construção da nação brasileira. Mas como explicar o lugar ocupado por Rio Branco na memória e no imaginário da nação brasileira, quase um século depois do processo de independência?
Villafañe afirma que a independência brasileira se fez sem a presença dos famosos ‘libertadores’ dos demais países americanos, e que o Império teria criado um sentimento de pátria comum ainda atrelado à legitimidade dinástica, nos moldes dos Estados europeus do Antigo Regime, o que explica a pequena adesão da sociedade ao sentimento de identidade nacional. Isso teria mudado com a República, momento em que se buscou desenvolver um sentimento nacional brasileiro vinculado à ‘comunidade imaginada’, conceito de Benedict Anderson, do qual o autor se vale muitas vezes ao longo do livro.
Ao argumentar que a política externa é um dos aspectos mais característicos da ação do Estado na construção do nacionalismo, Villafañe destaca que a questão do território conformou o ‘interesse nacional’ brasileiro, já que é um dos elementos essenciais daquilo que o autor denomina “santíssima trindade do nacionalismo”, composta por “Estado, Povo e Território”.
Por sua vez, a identidade de um Estado, auxiliada pela política externa, se constrói muitas vezes a partir de sua relação com os demais Estados, daí a importância do conceito de ‘alteridade’, que leva o pesquisador a investigar, não apenas quais foram os ‘outros’ externos, mas também os ‘outros’ internos. Segundo Villafañe, na tentativa de criar uma ‘comunidade imaginada’ brasileira, o “outro pode assumir várias formas: brasileiros versus portugueses, brasileiros versus africanos, América versus Europa, império versus república, civilização versus barbárie, americanismo continental versus nacionalismos particulares”.
Sendo assim, o objetivo central das primeiras gerações de intelectuais da República foi reinserir o Brasil na América e superar o ‘atraso’ gerado pela colonização e pela monarquia portuguesa. O autor identifica, nesse contexto, duas vertentes de debate sobre a identidade brasileira, as quais engendraram as ideias do ‘atraso nacional’: uma baseada nas relações entre o meio e a raça (que valorizava a mestiçagem) e outra assentada numa visão antilusitana e antiafricana (que valorizava o americanismo).
O historiador afirma que, com o advento da República, transformou-se o lugar do Brasil no continente, especialmente a partir da incorporação das premissas do pan-americanismo, caras à política externa brasileira, principalmente durante a gestão de Rio Branco como chanceler, entre 1902 e 1912.
Segundo o autor, a diplomacia de Rio Branco é paradigmática para compreender a relação entre nacionalismo e territorialidade, pois buscava definir as fronteiras, aumentar o prestígio internacional do Brasil e afirmar a liderança ‘natural’ de nosso país na América do Sul, deixando como herança um ‘evangelho’ que descrevia o Brasil como “um país pacífico, com fronteiras definidas, satisfeito territorialmente”. Um exemplo interessante, analisado pelo historiador, foi a presença do Brasil nos trabalhos da Liga das Nações, participação que tinha como meta aumentar o prestígio internacional do país, mas que contribuiu, ao mesmo tempo, para a sustentação política do governo e para fortalecer as rivalidades entre Brasil e Argentina na disputa pela preponderância política e militar no Cone Sul.
Villafañe destaca ainda o Estado Novo como forte instrumentalizador da identidade nacional, já que nesse período ocorreu o processo de consolidação dos dois símbolos culturais da identidade brasileira atual: o carnaval e o futebol. Através do Departamento de Imprensa e Propaganda – órgão responsável por auxiliar as “festas populares com intuito patriótico, educativo ou de propaganda turística” – Getúlio Vargas institucionalizou o carnaval, tornando-o oficialmente símbolo da nacionalidade brasileira, e profissionalizou o futebol, com o intuito de difundir um conjunto de valores supostamente pertencentes a um caráter nacional, “produto de uma alma brasileira”.
Também a partir da Era Vargas, o nacionalismo teria se vinculado à ideia de desenvolvimento econômico e social, o que, segundo o autor, teria “acrescentado um novo elemento ao evangelho do Barão”. O desenvolvimento patrocinado pelo Estado levaria à superação do atraso e projetaria o Brasil para o futuro, ao desenvolver uma ‘autonomia da dependência’, componente ausente da política externa, tanto do Império, quanto da República Velha.
É nesse momento que, segundo Villafañe, a retórica diplomática brasileira incorpora de fato o pertencimento à América Latina, ao se perceber membro do grupo de países menos desenvolvidos e buscar a superação do ‘atraso nacional’. Dessa fase, o historiador destaca o nacional-desenvolvimentismo, característico dos governos de Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart; analisa a teoria da modernização, criada pela academia norte-americana no pós-Segunda Guerra Mundial (que contrapõe as sociedades ‘modernas’ às ‘tradicionais’) e explica por que os Estados Unidos se tornaram o ‘outro’, em contraste com a identidade latino-americana.
A partir da Política Externa Independente, do início da década de 1960, o Brasil abandonou a ‘aliança não escrita’ com os Estados Unidos, reforçou a identidade latino-americana e desenvolveu as afinidades com a África e com a Ásia, que viviam o processo da descolonização. O autor ressalta esse período, sem deixar de considerar o fato de a identidade continental americana ter sido utilizada pelos Estados Unidos como forma de controle, ao excluir Cuba do sistema interamericano em função de seu sistema político, ‘incompatível’ com os demais países da América.
Por fim, ao analisar a Ditadura Militar, o historiador realça a posição de alinhamento do Brasil com os Estados Unidos (uma volta aos velhos padrões da política externa) e enfatiza o discurso anticomunista e nacionalista dos militares (que percebem o Brasil como ‘potência regional’). Além disso, Villafañe destaca o retorno e o fortalecimento da identidade latino-americana entre o final do século XX e o princípio do século XXI, discutindo como as nações são inventadas e reatualizadas de acordo com os diferentes contextos históricos.
O autor termina o livro em tom levemente provocativo, questionando se houve ou não um rompimento com o ‘evangelho’ de Rio Branco. O grande panorama apresentado cuidadosamente por Villafañe nos permite comparar os variados períodos da nossa história, levando-nos a entender as complexas relações de poder dos diferentes projetos identitários e da ‘comunidade imaginada’ que é o Brasil. Mesmo para aqueles que discordem das premissas e das teses do autor, esta obra lúcida e instigante aponta novos caminhos de reflexão sobre a imbricada relação entre a política externa e a longa e incessante ‘construção’ do Brasil.
DULCI, Tereza Maria Spyer.- Doutoranda, Departamento de História, FFLCH/USP; bolsista Fapesp, Av. Prof. Dr. Lineu Prestes, 338 – Cidade Universitária. 05508-000 São Paulo – SP – Brasil, E-mail: terezaspyer@hotmail.com.
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[IF]India’s Foreign Policy: Retrospect and Prospect | Sumit Ganguly
In this stimulating collection of scholarly essays, edited by Sumit Ganguly, the fifteen authors provide a balanced and insightful overview over India’s foreign policy. In Chapter 1, Ganguly argues that systemic (e.g., the Cold War), national (e.g., the experience of colonialism) and personal factors (e.g., Nehru) have contributed to the country’s foreign relations. It is this concept of three levels that structures the chapters in the book, helping the reader to navigate through often unwieldy and often unfamiliar issues.
In Chapter 2, Basrur analyzes India-Pakistan relations, arguing that domestic politics pose the major obstacles to finding a lasting resolution. However, he strikes an optimistic tone arguing that through increased cooperation and communication, the Line of Control (LoC) could be “transcended”, and that we can expect cumulative improvement rather than a dramatic and unexpected peace deal. In Chapter 3 on India-Sri Lanka relations, Devotta shows that New Delhi’s concerns about security have outweighed Tamil Nadu’s particular preferences when dealing with the war-torn island to the South of India. The chapter is full of important details -e.g. mentioning China’s growing presence in Sri Lanka – but t is unclear to the reader why this chapter is considerably longer and more detailed than the previous one, particularly since Pakistan plays a much more important role than Sri Lanka. In Chapter 4, Thakar sheds light on India-Bangladesh ties, arguing that despite no obvious obstacles relations are difficult mainly because of structural asymmetries and the suspicions that result from this unequal relationship. Recurring domestic instability on both sides further complicated matters. In Chapter 5, Garver elegantly summarizes the history of India-China relations in the context of shifting alliances during the Cold War, describing, among other aspects, the important role the Soviet Union played as one of India’s most reliable allies and a counterweight against the Pakistan – China alliance starting in the 1960s. Chapter 6 on India- Southeast Asia relations shows how difficult it has been in the past for India to exert influence in the region given its low economic integration due to its autarkic model. Despite these limitations, worries about Indian hegemony in the region have surfaced numerous times in the past decades. Leia Mais
Os arquitetos da política externa norte-americana | Reginaldo Mattar
Como entender o papel dos EUA no sistema internacional? A política externa do país seria expressão da busca de poder? Em que medida os operadores da política externa determinam a inserção internacional do país? Essas são questões sempre importantes, ainda mais em momentos de alternância na presidência, como no caso de Bush e Obama. Como avaliar e o que esperar da política externa dos EUA? O livro de Reginaldo Nasser aborda essas questões em um momento especialmente relevante: os anos entre a guerra contra a Espanha, em 1898 e o estabelecimento da Liga das Nações, em 1919. Esse é um período riquíssimo da história norte-americana, em que o país desponta como grande potência e passa a participar de forma decisiva dos assuntos relativos à ordem internacional. Muitas das raízes da política externa dos EUA encontram-se nesse intervalo e seu exame demonstra que análises que desprezem ideias e percepções de seus principais atores em troca de modelos teóricos mais abstratos podem ficar seriamente limitadas. Leia Mais
Brazilian Foreign Policy in Changing Times: the quest for autonomy from Sarney to Lula | Tullo Bigevani e Gabriel Cepaluni
Ao final da primeira década do século XXI, a visibilidade do Brasil no sistema internacional tornou-se mais evidente, graças, em grande medida, ao sucesso alcançado pelo país nos campos econômico e político-diplomático. Percebeu-se, em contraste, a existência de uma grande carência na literatura internacional, a qual, muito ocasionalmente, desvia seu foco dos países centrais do sistema internacional. Neste sentido, a obra de Tullo Vigevani e Gabriel Cepaluni aqui apresentada preenche uma importante lacuna editorial não apenas por ser publicada em língua inglesa, mas sobretudo por permitir que o público estrangeiro conheça as grandes linhas da política externa brasileira tanto do ponto de vista teórico quanto empírico, por meio do estudo de vasta literatura produzida por pesquisadores latino-americanos.
O tema central do livro é a busca brasileira por autonomia, desde a segunda metade dos anos 1980 – com a inauguração do regime democrático – até 2009. Segundo os autores, a noção de autonomia (capítulo 1) é entendida pelos latino-americanos como a capacidade de se proteger contra os efeitos mais nocivos do sistema internacional e dos constrangimentos impostos por países poderosos. Vigevani e Cepaluni explicam que a autonomia se expressa por meio de três táticas distintas: pela distância perante países dominantes; pela participação ativa em instituições internacionais; e pela diversificação de parcerias e fóruns de atuação. Leia Mais
The Foreign Policy of Russia: changing system/ enduring interests | Robert H. Donaldson e Joseph L. Nogee
Próximo a completar dois anos de gestão, o presidente russo Dmitri Medvedev, à frente do Kremlin desde maio de 2008, herdou, juntamente com sua equipe de governo, o debate característico do século XIX sobre o futuro da Federação Russa e a melhor ordem social e política que incorpore o espírito nacional. Tal debate se intensificou nos anos 1990, quando o mundo se tornou mais complexo a partir do fim da Guerra Fria e as transformações globais e nacionais pelas quais passou a antiga União Soviética (URSS). A nova Rússia que emergiu lidava com problemas estruturais como a perda de seu espaço geopolítico e influência diante dos Estados Unidos (EUA) e a desintegração do seu bloco soviético em 1991. Tal situação culminou, em dias recentes, com a percepção de um plano político-social incipiente e uma dinâmica russa combinada em sucessos e falhas dos governos de Boris Yeltsin, Vladimir Putin e, hoje, o citado Medvedev. Com isso, essas questões vieram à tona novamente, devido à necessidade de redefinir a identidade e os padrões da Rússia na era pós-soviética.
Assim, para compreender a procura russa por novos caminhos e os seus dilemas contemporâneos, faz-se necessário remontar ao seu passado recente, reconstituindo as variáveis de sua trajetória e os fatores que influenciaram e modelaram a política do país, como os culturais, econômicos, geográficos, demográficos, dentre outros. Frente a tal contexto e somada a uma ausência de fórmulas ou modelos que elucidem com precisão a política externa de uma nação, a obra “The Foreign Policy of Russia: changing system, enduring interests”, já em sua quarta edição (2009), publicada pela M.E.Sharpe de New York e escrita pelos norte-americanos Robert Donaldson e Joseph Nogee, se aventura a analisar essas mencionadas variáveis que, de acordo com os autores, influenciaram na mudança de direção da política do país ao longo de sua historia. Leia Mais
Apologia dos bárbaros: ensaios contra o império – DAVIS (RBH)
DAVIS, Mike. Apologia dos bárbaros: ensaios contra o império. São Paulo: Boitempo, 2008. 351p. Resenha de: RAMPINELLI, Waldir José. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.29, n.58, dez. 2009
O livro Apologia dos bárbaros, do historiador estadunidense Mike Davis, professor da Universidade da Califórnia, reúne escritos publicados entre 2001 e 2007 que analisam, sob diferentes perspectivas, a política interna e externa dos Estados Unidos, especialmente após os atentados de 11 de setembro de 2001.
Davis divide o trabalho em cinco partes, tendo por critério temas afins. No entanto, a linha de continuidade que perpassa a estrutura do livro é uma crítica perspicaz e fundamentada à Casa Branca, ao Congresso, ao Poder Judiciário, ao Pentágono, aos partidos políticos e às organizações sindicais que estão a serviço do grande capital e não dos interesses da população dos Estados Unidos.
Davis não acredita na afirmação de que “os estadunidenses colheram o que semearam” com os atentados às Torres Gêmeas, já que as principais vítimas daquela tragédia foram as secretárias, os contadores, os entregadores de lojas de conveniências, os lavadores de janelas, os corretores da bolsa e os bombeiros, pessoas que “não conceberam ou implementaram nossas políticas secretas, antidemocráticas e criminosas no mundo muçulmano” (p.24). Responsáveis diretos pelos atentados, entre tantos, seriam, por exemplo, Madeleine Albright, secretária de Estado de Bill Clinton, que, ao responder a uma pergunta em rede nacional de TV sobre as 500 mil crianças mortas no Iraque como resultado das sanções impostas pelo governo dos Estados Unidos, asquerosamente afirmou: “Acredito que o custo compensou”. E o maior responsável de todos – George W. Bush – foi escolhido presidente por uma maioria na Suprema Corte e não pelos eleitores, tendo adotado poderes de guerra contra todos, em toda parte e para sempre, sem precedentes na história nacional dos Estados Unidos e, quiçá, mundial.
O autor de Apologia dos bárbaros não vê grandes diferenças entre o Partido Republicano e o Democrata, já que ambos estão ligados aos donos do poder econômico. Os socialistas estadunidenses, diz Davis, há anos vêm de monstrando que os democratas não passam de um partido capitalista com verniz social-democrata. No entanto, as elites formadas por sindicalistas e por militantes dos direitos civis encontram sempre um pretexto para o velho vício, qual seja, a opção pelo mal menor. A história mostra, por exemplo, que a maioria democrata no Senado 1) vendeu a Bill of Rights (a Constituição dos Estados Unidos aprovada em 1787); 2) endossou cortes marciais e campos de concentração; 3) acatou a não assinatura do Protocolo de Kyoto e do Tratado sobre Mísseis Antibalísticos; 4) apoiou a militarização da fronteira mexicana e deu carta branca ao presidente George W. Bush para intervir na guerra suja da Colômbia; 5) aprovou, por meio do Comitê de Inteligência do Senado, a opção do uso de armas nucleares de ‘pequeno alcance’ contra o dito Eixo do Mal. Por fim, o democrata Joe Lieberman, ex-candidato à vice-presidência de Al Gore, defendeu com mais ênfase que os próprios republicanos o direito de invadir o Iraque, e Carl McCall promoveu sua campanha para governador de Nova York exibindo fotos em que aparecia disparando um fuzil M-16 em um campo de treinamento ‘antiterrorismo’ israelense.
Uma política externa intervencionista compromete a própria democracia interna dos Estados Unidos. John Hobson, em seu Estúdio del imperialismo, criticava, no início do século XX, a voracidade da classe dominante inglesa em suas colônias espalhadas pelo mundo, ao tempo em que mostrava que essa mesma elite, no afã de acumular sem limite, destruía a democracia interna londrina. O ‘Ato Patriota’, aprovado em 26 de outubro de 2001, 45 dias após os ataques do 11 de setembro, nada mais é que um conjunto de leis destinadas a aumentar a regulação, o controle e a fiscalização das atividades cotidianas dos cidadãos estadunidenses, exacerbando o poder de policiamento do governo. James Petras o denominou de “fascismo amistoso”. Noam Chomsky vai mais longe, chegando a dizer que “não devemos nos esquecer que os próprios Estados Unidos são um Estado líder do terrorismo”.
Mike Davis, ao analisar a destruição de New Orleans pelo furacão Katrina, mostra que todos os aspectos da catástrofe foram moldados por desigualdades de classe e raça. Pesquisadores de várias universidades do sul dos Estados Unidos vinham chamando a atenção das autoridades para a possibilidade do rompimento dos diques por falta de manutenção. No entanto, nada se fez para sanar o problema, já que a cidade era povoada por 75% de afro-americanos e tinha altos índices de pobres, criminosos e desempregados. Foi a negligência federal, e não a fúria da natureza, a maior responsável pelo assassinato de New Orleans.
Utilizando-se do desastre natural, políticos inescrupulosos, especuladores imobiliários gananciosos e brancos racistas apostaram em uma higienização da metrópole do jazz. Um deles, Finis Shellnut, afirmou que “o furacão obrigou os pobres e os criminosos a saírem da cidade, e esperamos que eles não voltem. A festa dessa gente está quase no fim e agora eles terão de encontrar outro lugar para morar” (p.237). Outro, Joseph Canizaro, com laços pessoais que o ligam ao círculo interno da Casa Branca, disse que “essas pessoas pobres não têm condições de voltar para nossa cidade, assim como não tiveram condições de deixá-la. Então, não traremos todas de volta” (p.236).
O governo Bush também aproveitou o pretexto do Katrina para atacar os sindicatos independentes, sobretudo aqueles que defendiam os direitos dos trabalhadores e pressionavam pela contratação de moradores para recuperar New Orleans. Com isso, favoreceu as grandes corporações, como o Wal-Mart, que, combinando a tecnologia just in time com as características mais selvagens do capitalismo, tornou-se a empresa-símbolo da exploração. “Conhecida por pagar salários miseráveis e fraudar as horas extras de seu 1 milhão de empregados nos Estados Unidos”, comenta Davis,
o Wal-Mart age de forma ainda mais sinistra no estrangeiro, pressionando incessantemente seus milhares de fornecedores em Bangladesh, na China e na América Central para que reduzam os custos do trabalho e suprimam direitos trabalhistas. O Wal-Mart é, sem dúvida, o maior empregador indireto de mão de obra semiescrava ou infantil do planeta. A ‘walmartização’ tornou-se, portanto, sinônimo de ‘corrida ao fundo do poço’, completa abolição dos direitos do trabalhador e da cidadania. (p.158)
O historiador Mike Davis critica os livros didáticos das escolas estadunidenses por sua ocultação da história. A “Operação Bagration”, de junho de 1944, por exemplo, que leva esse nome em homenagem a um herói russo de 1812, foi um ataque soviético decisivo contra a retaguarda da poderosa Wehrmacht de Hitler. Para Davis, foi a batalha decisiva pela libertação da Europa do nazifascismo. No entanto, não se encontra uma palavra sobre essa operação nos livros básicos de história nos Estados Unidos. E isso tudo, apesar de essa ofensiva de verão soviética – chamada pelo historiador Jon Erickson de “o grande terremoto militar” – ter sido muito mais grandiosa que o desembarque na Normandia, tanto em escala de forças envolvidas quanto em custo direto infligido aos alemães. “Na luta contra o nazismo, cerca de quarenta Ivans morreram para cada soldado Ryan“. “De fato”, diz Davis que
a maioria dos norte-americanos é espantosamente ignorante a respeito dos ônus dos combates e das baixas da Segunda Guerra Mundial. E mesmo a minoria que compreende algo da grandiosidade do sacrifício soviético tende a julgá-lo nos termos dos estereótipos crus do Exército Vermelho: uma horda bárbara conduzida por um sentimento cruel de vingança, um frenesi por estupros e um nacionalismo russo primitivo. (p.282)
O Pentágono, diz Davis, deveria estudar a história das colônias conquistadas e perdidas, dos impérios erguidos e derrubados, evitando, assim, a atual carnificina iraquiana. Bastava ler as cartas de Gertrude Bell e os diários de Winston Churchill, os homens que transformaram três prósperas e etnicamente distintas províncias do Império Otomano em um infeliz território britânico. Churchill, então secretário de Estado de Guerra e da Aeronáutica (1920), utilizou a estratégia dos bombardeios com armas químicas, como as bombas de gás mostarda, para economizar dinheiro e soldados na dominação do Iraque. Graças ao gás venenoso e aos tanques, os britânicos recuperaram o controle da região, em setembro de 1920, sem deixar de lado as expedições punitivas pelos territórios rebeldes, queimando vilarejos, executando suspeitos, confiscando mantimentos e aplicando multas. Mais tarde, a força aérea britânica bombardeou regiões do Iraque, como o baixo Eufrates, já não para reprimir tumultos e sim para pressionar os vilarejos a pagar seus impostos. Em fins de 1921, Churchill observou com satisfação que seus aeroplanos haviam passado a ser temidos e continuou a defender o uso do gás venenoso no Iraque e em toda a região. Questionado por um coronel, subordinado seu, sobre os horrores causados pelos efeitos dos bombardeios, Churchill o repreendeu severamente dizendo que “não entendo essa aversão ao uso de gás. Sou totalmente a favor do uso de gás venenoso contra tribos incivilizadas” (p.114). Certamente, foi esse o mestre maior de Saddam Hussein. Apesar de tais métodos genocidas, a Grã-Bretanha saiu derrotada da região.
Algumas ausências sentidas no trabalho foram as de Noam Chomsky, James Petras, Michael Klare e Immanuel Wallerstein, que trabalham igualmente as relações dos Estados Unidos no mundo.
Apologia dos bárbaros mostra como a revolução revoluciona a contrarrevolução. Por isso, o livro é importante para entender a política interna e externa dos Estados Unidos. Enfim, um livro que ajuda a entender os meandros do império.
Waldir José Rampinelli – Professor do Departamento de História da UFSC; doutor em Ciências Sociais – Política (PUCSP). Depto. de História. Centro de Filosofia e Ciências Humanas – UFSC. Cidade Universitária. 88040-900 Florianópolis – SC – Brasil. E-mail: rampinelli@globo.com.
[IF]The post-American World (T), Norton & Company | Fareed Zakaria
Uma intrigante narrativa acerca dos prognósticos da política internacional no século 21 se mescla a uma abordagem de futurologia no mais recente livro de Fareed Zakaria. Notório pelo teor crítico de suas análises na revista norte-americana NewsWeek, contra a política externa do governo Bush, Zakaria pendula entre o fascínio pelos novos poderes emergentes e o otimismo acerca do futuro da democracia liberal no mundo. O argumento central de Zakaria é que estamos entrando em um mundo pós-americano, no qual China e Índia representam uma nova perspectiva na configuração global de poder, muito mais disseminado, diluído e até certo ponto democratizado. Não se trata de uma obra sobre o declínio dos Estados Unidos, mas sobre “the rise of the rest”.
O objetivo da obra é instigar estudiosos e leitores interessados nas relações internacionais, e nas ciências humanas em geral, a vislumbrar os delineamentos e formas de um mundo novo: inventado não na ruína imaginada de um império colossal, mas na ascensão de uma ordem de grandes possibilidades. Para tanto, o autor divide The Post-American World em sete capítulos, que evoluem da emergência do novo até a continuidade do tradicional propósito norte-americano de preponderância. A narrativa inclui experiências pessoais de vida, desde sua saída da Índia em 1982 até suas recentes viagens de trabalho pelos países asiáticos, onde pôde constatar as transformações operadas naquelas sociedades. Apresenta ao longo do livro um enfoque globalista muito pertinente às explicações atuais das Ciências Humanas, mas que carece de uma visão acurada da realidade brasileira e sul-americana. Leia Mais
Le diplomate et l’intrus. L’entrée des sociétés dans l’arène internationale | Bertrand Badie
A obra “Le diplomate et l’intrus” demonstra como as categorias tradicionais de ação internacional evoluíram nos últimos anos, com especial ênfase na diplomacia. Em fato, nenhuma delas foi abolida, mas nenhuma delas pode ser considerada eficaz ou suficiente. A diplomacia, último refúgio da razão do Estado, é confrontada a uma demanda social crescente por maior participação nas questões de política externa. Deste modo, a diversificação dos atores na política internacional conduz a uma grande reflexão sobre o futuro da diplomacia e, principalmente, sobre o futuro do multilateralismo.
Bertrand Badie é professor de Ciência Política no Institut d’études politiques de Paris, e autor de várias obras, como L’État importé (1992); Un monde sans souveraineté (1999); Le retournement du monde. Sociologie de la scène internationale ; La diplomatie des droits de l’homme (2002); L’impuissance de la puissance (2004). Em Le Diplomat et l’intrus, Badie discute como os diplomatas precisam, hoje em dia, aprender a trabalhar com os novos atores internacionais. Partindo da hiperpotência norte-americana, passando por potências médias e emergentes, como França e Brasil, e as constestatárias, como Irã e Venezuela, o autor argumenta que analisar as relações internacionais implica não só estudar a política externa dos Estados, mas analisar também as relações entre sociedades e as forças sociais emergentes. Para tanto, definiu oito tipos diferentes de diplomacia: autárquicas, autônomas, clientelizadas, contestatárias, cooperativas, integradoras, soberanistas e burden-sharing. Com a globalização e os novos desafios políticos, anomias, conflitos e crises, todas oito construíram novas parcerias econômicas, culturais, associativas e até religiosas, constituindo uma “diplomacia privada” cada vez mais poderosa. Leia Mais
Tan lejos de Dios… Ensayos sobre las relaciones del Caribe con Estados Unidos | Antonio Gaztambide-Geigel
Ao nomear ensaios aparentemente dispersos sob o título de um dito popular, ainda mais estando este incompleto, uma idéia de unidade se entrelaça com o omitido e suspenso pelas reticências: “… e tão perto dos Estados Unidos”. A invocação de um dito popular não se dá de forma gratuita, dela decorre um sentido que expressa a novidade deste trabalho. Mesmo o dito sendo de origem mexicana, como Gaztambide-Geigel faz questão de ressaltar, este dito expressa uma condição de existência comum a países do continente meso e sul americano: a proximidade física em relação aos Estados Unidos, potência esta que teve uma sobressalente mudança hierárquica no cenário econômico mundial, na qual se elevara ao avatar de maior poderio atual. E a novidade deste trabalho é justamente se adentrar no conjunto de relações que presidiram o processo de emergência da potência norte americana em relação aos vizinhos do sul, particularmente os antilhanos. A atualidade do dito faz-se clara.
Seu sentido coloca em xeque o paradoxo implicado na bandeira política norte americana: um imperialismo salvífico quase natural que na prática é muito distante disso—a recente investida democrática em terras iraquianas é exemplo atual de peso. Além levar este paradoxo acerca da política americana com meticulosidade, e se servir de um avantajado corpo material, a apresentação do presente trabalho se releva não só entre os pesquisadores caribenhos, radicados no Brasil ou não, como também para interessados no tema da “identidade” na contemporaneidade.
É certo que as discussões identitárias provêem de pesquisas inscritas metodicamente no campo dos estudos culturais. Entretanto, o conceito de identidade não deixou de se atravessar por objetos os mais distintos, oriundos de outros campos de saber. De modo que tal temática fora incorporada nas ciências humanas, em geral, história, antropologia, sociologia, geografia e mesmo, a filosofia. O que atesta seu estatuto de relevante acontecimento no pensamento das ditas “ciências humanas”. Todavia, seria uma ingenuidade supor que seus métodos permaneceriam os mesmos submetidos a objetos tão singulares. Hoje oferece tal diversidade, que consuma ainda mais o seu valor analítico. São muitas as perspectivas de utilização.
E, apoiado em uma massa documentária de fôlego e decorrente de vários anos de pesquisa, Gaztambide-Geigel abordou tal temática numa dimensão bem delimitada. Seu problema foi como se construiu o termo Caribe em relação à política internacional norteamericana para os vizinhos antilhanos. Desse modo, se se pode falar de um tema central coordenador dos setes ensaios constituintes da presente coletânea, este sem dúvida é o jogo implícito em vista das circunstâncias pelas quais se forma o conceito Caribe, ou melhor, se formam as identidades postas em jogo ao evocar os Caribes.
No primeiro ensaio, “La invención del Caribe a partir de 1898”, submete o termo Caribe à sua análise historiográfica. Situa seu caráter enquanto invenção. Desse modo, tomado como invenção, o Caribe não é um objeto fixo e estático, que bastaria ao historiador expor suas formas e conteúdos, e sim um objeto inventado, que não cessa de se recriar e reiterar-se. E ao inquirir quanto às relações políticas embutidas no momento de sua construção, busca-se ver justamente as circunstâncias em jogo no momento de sua criação, as contingências e encontros que marcaram sua emergência.
O que o jogo em torno da criação do termo Caribe revela é que não há um Caribe, pronto e acabado, e sim como houve, e há, vários Caribes de maneira que, em cada situação histórica em que é invocado, o termo não se refere às mesmas coisas, não falam dos mesmos objetos. Em vista disso, o autor propôs uma historicização do termo, e pôde ver suas diversas usagens mediante as situações próprias e específicas à história antilhana: de um arquipélago atlântico fragmentado submisso à metrópoles coloniais ao “Gran Caribe” em vias de emancipação cultural, foram decorridas enunciações bem diversas para o conceito “caribe”.
Por conseguinte, Gaztambide cunhou quatro momentos que são decisivos para a significação do termo caribe, do final do século XIX aos dias atuais: o caribe insular, o caribe geopolítico, o Gran Caribe ou Cuenca del Caribe e o caribe cultural.
No segundo ensaio, “La geopolítica del antillanismo de fines del siglo XIX”, procura-se destacar as forças motrizes do latinoamericanismo, sob as luzes antilhanas. Mostra como, por volta da metade do século XIX, começa-se a convergir às idéias de hispanoamericanismo e de latinoamericanismo, numa engrenagem à qual as Antilhas estariam em função otimizada, dado sua localização estratégica em relação ao mercado mundial internacional. Assim, as Antilhas espanholas, Cuba, Porto Rico e República Dominicana, encabeçariam o sonho da “nuestra América”. Situação que muda, já na década de 90 deste mesmo século, diante da ameaça imperial norteamericana.
Gaztambide avalia as idéias antilhanas a partir de figuras históricas inseridas no redemoinho hispanoamericano e antilhano: Marti, Hostos e Betonces. Personagens que dedicaram à luta emancipatória dos territórios coloniais da metrópole espanhola.
Mesmo que uma primeira onda de independência arrebatara o continente décadas antes, persistia uma colonialidade já dita como “cultural” e combatida pelos libertários antilhanos. O papel deles expressam um movimento, cujo sentido atravessaria a história latinoamericana. E a emancipação devia ser alçada nem tanto em relação aos velhos impérios europeus, bem como devia ser buscada em vista da potência emergente: a República norte americana. A política imperial desta potência emergente aos fins do século XIX, que a partir da compra da Lousiana começou a deferir ações com finalidade de expandir sua soberania, estava constituída às voltas de ambigüidades visíveis. E a emergência dos Estados Unidos, como defende Gaztambide, foi fator de grande determinação no caso de invenção do Caribe, já que é das ambigüidades geradas no interior da política imperial americana a razão das variações acerca deste processo de invenção.
E explorar as ambigüidades por detrás das políticas internacionais norte americana é o tema central do terceiro ensaio: “El imperio ‘bueno’ del 98”. Pois ao mesmo tempo em que o final do século XIX foi marcado por projetos políticos de cunho expansionista, encontrava-se também mostras de uma ação não imperialista, defendida como verdadeira representante do ideal republicano. São ambigüidades deste tipo que se alocam no cerne da campanha norte americana rumo à ascensão econômica e que foi aplicada aos vizinhos do Sul, continentais e antilhanos. O conceito de ambigüidade, como atributo qualitativo da política externa norte americana, marca de maneira decisiva a postura específica de seu imperialismo.
Em “La Buena vencidad y populismo”, como o título mesmo diz, trata das relações da política internacional norte americana, posta em prática no terço inicial do século XX e alterada com o término da Segunda Guerra Mundial, com a práxis política do populismo. Ressaltando a particularidade do populismo caribenho, seguindo assim o exemplo do populismo de Porto Rico, este ensaio propõe a hipótese de como os efeitos da política de boa vizinhança fizeram valer no modo de organização interno dos países atingidos por tal postura ambígua.
Entretanto, passada a Segunda Guerra Mundial e com a efetivação do poderio norte americano, a política da boa vizinhança cede lugar à política do bom sócio. Essa transição é o tema dos ensaios “Hacia uma historia social de las relaciones interamericanas: El camino del desarrollismo: 1946-1960” e “Estados Unidos, la idea del desarrolismo y el Caribe: Los orígenes”. A política do bom sócio nada mais é que a adaptação da política externa norte americana no momento em que esta nação acede ao topo econômico da economia mundial. O projeto desenvolvimentista que esta política visa suplantar nos sócios do sul adapta-os aos moldes do capitalismo mundial integrado sob a égide do desenvolvimento econômico, ajustando de forma a assegurar ainda mais a supremacia americana.
O tema do ultimo ensaio, “Identidades internacionales y cooperación regional en el Caribe”, é o modo como a política do bom sócio criou um imaginário internacional que abaixo suas variações locais possibilitou a criação de identidades multiculturais, o Gran Caribe e o latinoamericano.
Desse modo o que o trajeto destes ensaios evidenciam é como as políticas internacionais não são exercidas de forma aleatória, e sim são efeitos da historicidade que perpassam as formações históricas. E também que não é simplesmente a modulação dos estratos interiores de uma sociedade por um fora, e sim o que se dá é um complexo jogo no qual relações de forças heterogêneas se interagem incessantemente.
Leonardo de Melo Rodrigues
GAZTAMBIDE-GEIGEL, Antonio. Tan lejos de Dios… Ensayos sobre las relaciones del Caribe con Estados Unidos. San Ruan: Edicines Callejón, Porto Rico; 2006. 242 p. Resenha de: RODRIGUES, Leonardo Melo Rodrigues. Revista Brasileira do Caribe, São Luís, v.8, n.15, p.283-287, 2007. Acessar publicação original. [IF].
Carta Internacional | ABRI | 2006
A Carta Internacional (Belo Horizonte, 2006-) é uma revista da Associação Brasileira de Relações Internacionais, dedicada à publicação de trabalhos científicos da área. Seu objetivo é promover o debate intelectual qualificado a respeito de temáticas fundamentais do meio internacional que, no âmbito da ABRI, se organizam em sete eixos analíticos: Teoria das Relações Internacionais; Instituições Internacionais; Segurança Internacional, Estudos Estratégicos e Política de Defesa; Economia Política Internacional; Análise de Política Externa; História das Relações Internacionais e da Política Externa; Ensino e Pesquisa em Relações Internacionais.
O escopo da Revista observa esses eixos analíticos e são muito bem-vindos trabalhos de pesquisadores brasileiros e estrangeiros que tratem de questões e problemas a eles relacionados. A Carta Internacional publica artigos originais e inovadores, consideradas essas áreas temáticas, e é aberta a uma ampla variedade de tradições teóricas e metodológicas. As contribuições que não enfatizem questões, problemas e fenômenos internacionais ou transfronteiriços, definidos como pertencentes à agenda de estudos internacionais, estão fora do escopo da revista.
Periodicidade quadrimestral.
Acesso livre.
ISSN 2526-9038 (Online)
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A diplomacia do interesse nacional: a política externa do governo Médici | Cíntia Souto || As mudanças da política externa brasileira nos anos 80: uma potência média recém industrializada | Ricardo Sennes || A política externa do governo Sarney: a nova república diante do reordenamento internacional (1985-1990) | Analúcia Pereira
Esses são os três primeiros títulos da coleção Estudos Internacionais, coordenada pelo Professor Paulo Fagundes Vizentini e editada pelo Núcleo de Estudos de Estratégia e Relações Internacionais (Nerint) do Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em parceria com a Editora da Universidade/UFRGS. A coleção é destinada a divulgar estudos, teses, dissertações e seminários produzidos ou orientados pelos pesquisadores do núcleo, bem como textos relevantes na área de relações internacionais.
Embora trabalhando com temporalidades diferenciadas, de certa forma os três livros têm uma linha de continuidade, pois discutem a mesma matriz de inserção internacional, formulada nos anos 1970 no Brasil e que vigorou até o final da década de 1980, mais conhecida pelo seu ápice, o Pragmatismo Responsável do governo Geisel. Mas a estruturação dessa matriz já vinha ocorrendo no período do Governo Médici, assim como, embora o regime militar tenha formalmente acabado em 1985, seu modelo de inserção internacional duraria até 1990. Nesse sentido, esses autores trabalham com os seus primeiros ensaios (no Governo Médici) e sua crise (já no final do governo Sarney). Leia Mais
Política externa da Primeira República: os anos de apogeu (1902 a 1918) | Clodoaldo Bueno
Nas últimas décadas, o grande historiador Clodoaldo Bueno vem se destacando como um dos mais abalizados sobre a política externa brasileira, fenômeno que agora se repete com o lançamento de sua mais nova obra. Esta já surge como leitura essencial para os que militam no campo da história das relações internacionais, uma vez que o autor, demonstrando amplo conhecimento do tema em questão, narra, de forma celebrável, o desenrolar da formulação da política externa nos anos seguintes à década do nascedouro da República brasileira. O prefácio do professor Amado Luiz Cervo fala por si: a obra “compõe, ademais, a tríade de obras hoje indispensáveis ao conhecimento da evolução da política exterior durante a denominada República Velha”, juntamente com outro livro de Bueno, A República e sua política exterior, 1889-1902 (São Paulo: Ed. Unesp, 1995) e a Tese de Doutorado defendida por Eugênio Vargas Garcia, Entre América e Europa: a política externa brasileira na década de 1920 (Universidade deBrasília, 2001).
Apresentando recorte temporal de 1902 a 1918, Bueno seduz o leitor com a forma que o argumento principal de seu livro é exposto. Tendo como desafio principal “reconstruir o sistema de idéias de Rio Branco” (p. 23), o autor a ele dedica a parte mais longeva da obra, sem que haja, no entanto, a ausência de uma correta exploração da formulação da política externa brasileira nos anos que antecederam e precederam a chancelaria do Barão (1902-1912). Leia Mais
Discurso da Dissidência / Noam Chomsky
Talvez Chomsky seja mais lembrado por sua rica produção acadêmica na área da lingüística. Lecionando esta disciplina no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA), desde 1955, tornou-se seguramente uma das maiores expressões no campo da lingüística. Hoje, através de seus inúmeros discursos políticos se credencia como uma das mais importantes vozes contra o establishment. Trata-se portanto de um especialista no estudo da linguagem com reconhecimento internacional que ora contribui com seus escritos e palestras para diminuir as injustiças sociais através de contundentes análises sobre a conjuntura mundial, particularmente sobre as conseqüências das políticas externas estadunidense e européia. Levando-se em conta o alcance que têm seus estudos face à problemática política atual pode-se dizer que é um autor relativamente pouco conhecido do grande público e, no caso brasileiro, também do público intelectual. Tendo em vista o seu indiscutível comprometimento em todas as situações que envolvem disputas internacionais e também a competência em tratar temas contemporâneos, mereceria maior atenção destes diferentes públicos.
O livro que escolhemos para comentar aqui é uma coletânea de diferentes artigos e entrevistas que apresentam um Chomsky ativista de direitos humanos e desmistificador da propaganda que objetiva controlar as pessoas nas mais diversas situações de exploração política e social.
Um exemplo do seu vanguardismo no tratamento de questões internacionais e do pragmatismo do seu trabalho pode ser ilustrado através da forma como abordou fatos da história recente do Timor Leste. Há quase três décadas não se via qualquer perspectiva de solução para os conflitos naquela região, tampouco qualquer voz entre os intelectuais que os denunciasse. Foi exatamente Noam Chomsky quem mais uma vez entrou em cena, denunciando a falta de comprometimento internacional para resolver problemas desta natureza. O silêncio jornalístico e literário mantido face aos desmandos indonésios no Timor foi quebrado através das palavras do nomeado autor. Para ele este terrível crime do século, pois: “…o assalto indonésio a Timor está nos lugares cimeiros, não só pela sua dimensão de holocausto – talvez o mais elevado número de mortes da população civil – mas porque poderia ter sido facilmente previnido ou pelo menos interrompido a tempo”, é um exemplo de como um pacto estabelecido entre governos e imprensa termina por beneficiar os agressores, colocando as vítimas na escuridão do esquecimento deliberado.
Nesta coletânea de textos pode-se portanto apreender muito da sua forma de pensar questões sóciopolíticas em perspectivas novas, que trazem às vezes consigo certo valor de previsão. Dizemos isso porque Chomsky escreve para intelectuais sem esquecer daqueles que estão fora de tal grupo, uma vez se tratar aqui também de pessoas interessadas em compreender o que de fato está acontecendo nas circunstâncias e regiões abordadas.
O autor afirmava já nos idos de 1996 que, ao contrário de outros conflitos como na Bósnia, Angola, Ruanda e Iraque-Kuwait, no caso do Timor, não havia ambigüidade nem complicações sobre a solução apropriada e nem necessidade da ameaça do uso de força para alcançá-la, nem mesmo a necessidade de sanções.
Fazia-se necessário, portanto, apenas o reconhecimento da mea culpa e a desistência dos cúmplices daquele crime. Certamente hoje se vê após toda a humilhação e sofrimento pelo qual passou o povo timorense, que aquelas nações outrora coniventes com a situação se viram acuadas pela opinião pública, cedendo espaço para a força de resistência da pequena população local. Mas o livro de Chomsky não se reduz ao problema do Timor. Há pois uma explanação de seus posicionamentos seguros face à política externa das nações ricas, em especial da norteamericana, encontrando novos paradígmas para analisar ações criminosas contra populações, muitas vezes esquecidas pela mídia. Os posicionamentos diferenciados “rebeldes e independentes” nos seus escritos e na sua fala mostram a distância que cultiva da maioria dos seus pares norte-americanos, o que não poderia deixar de lhe render grandes dificuldades no mercado editorial de peso daquele país e venha a justificar inclusive a dificuldade de difundir suas obras em língua portuguesa.
Além da reportagem onde mostrou à imprensa inglêsa a farsa dos países ricos envolvidos no genocídio de Timor Leste, alertando para a iminente extinção de um povo, caso países como os Estados Unidos, Inglaterra, Austrália continuassem cúmplices das investidas indonésias, Chomsky nos traz nesta obra outros critérios para compreender diversas problemáticas emergentes das relações internacionais como por exemplo, a investida das forças da OTAN no Kosovo ou do NAFTA na América Latina. Um tratamento detalhado é dado à reestruturação do livre mercado imposta pelas potências industriais cusadora de uma contínua deteriorização sócio-econômica dos países latino-americanos. Aborda os falaciosos benefícios da grande vitória do capitalismo mostrando suas verdadeiras conseqüências: (…) a porção dos bens do mundo controlada pelos países pobres e de rendimento médio desceu de 23 para 18 por cento entre 1980 e 1988. O informe do Banco Mundial de 1990 acrescentava que, em 1989, os recursos transferidos dos ‘países em vias de desenvolvimento’ para o mundo industrializado alcançaram um novo recorde. Calcula-se que o pagamento do serviço da dívida ultrapassou os novos caudais de fundos em 49,2 mil milhões de dólares, um aumento de cinco mil milhões de dólares desde 1988, e os novos fundos fornecidos pelos credores caíram ao nível mais baixo da década.
As imensas oportunidades do “novo mundo” pós Guerra Fria para a expansão e consolidação da democracia de mercado e vitória dos mercados abertos foi parte da retórica do governo Clinton no início da década de noventa e encontram uma análise no capítulo do livro intitulado de “Democracia e Mercados na nova Ordem Mundial.” A idéia da Guerra Fria como bloqueadora da política externa americana de dominação é contraposta ao fato de que no mesmo período nada impediu a continuidade e manutenção desta política.
No texto sobre “O acordo de Paz Para o Kosovo” busca esclarecer os denominados efeitos colaterais dos bombardeamentos americanos e da OTAN que se disseram vitoriosos após 10 semanas de luta com a rendição de Milosevic. Foi com esta ação bélica que os auto-proclamados “Estados esclarecidos” (Estados Unidos, GrãBretanha e alguns outros associados) afirmaram ter dado início a uma nova era na história da humanidade, guiados por ‘um novo internacionalismo, em que a repressão brutal de grupos étnicos não voltará a ser tolerada.'” Outros temas menos específicos, porém de igual intensidade, importância e atualidade no que tange às relações desiguais entre os denominados países ricos com aqueles do hemisfério sul e Europa Oriental encontram espaço no livro. O estrangulamento destas nações pelo rápido crescimento da dívida externa; os interesses de elementos de dominação interna naquilo que a Organização Mundial do Comércio defende; a política antidrogas norte-americana e sua relação com o terceiro mundo encontram análises à luz de novas vertentes. O livro é concluído com uma entrevista sobre “O Poder das Elites e a Responsabilidade dos Intelectuais” que concedeu a David Barsamian em fevereiro de 1988. Barsamian compilou posteriormente (no ano de 1993) três entrevistas por ele feitas com o autor em um trabalho intitulado “A minoria próspera e a Multidão Inquieta” traduzido por Mary Grace Figheira Perpétuo, editado no Brasil pela Universidade de Brasília (2a. edição, 1999). Trata-se de idéias complementares àquelas presentes no livro ora comentado e em especial às de seu último capítulo versando sobre temas diversos como o das minorias, do sionismo, da religião, dos limites da responsabilidade intelectual, do controle da informação pelas elites, dentre outros de semelhante envergadura.
As entrevistas, os artigos acadêmicos e as reportagens que formam o conjunto de textos interagem e se complementam. Anarquista confesso, Chomsky pode ser lido inclusive por não-anarquistas, pois sua linguagem é universal e não por menos é hoje considerado um dos mais conhecidos e influentes pensadores norteamericanos, apesar do ceticismo com que o trata a grande imprensa de seu país. Não por menos encontra o autor uma audiência cada vez maior e mais fiel para suas palestras sobre temas políticos, sejam elas proferidas nos Estados Unidos ou noutros países. Encontra-se ainda em anexo ao livro uma lista com os principais trabalhos de cunho político do autor, embora muitos deles acessíveis apenas em seu idioma de origem.
Antonio Caubi Ribeiro Tupinambá – Universidade Federal do Ceará.
CHOMSKY, Noam. Discurso da Dissidência. Tradução de Ana Barradas e Isabel Palha. Lisboa: Edições Dinossauro, 2000. Resenha de: Revista Trajetos, Fortaleza, v.1, n.2, 2002. Acessar publicação original. [IF].
Foreign Policy and Political Regime | José Flávio Sombra Saraiva
Resultado de um seminário internacional, que ocorreu na Universidade de Brasília em maio de 2003, a obra Foreign Policy and Political Regime, organizada por José Flávio Sombra Saraiva, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, reúne contribuições de teóricos e historiadores das relações internacionais – europeus, brasileiros, argentinos e americano – acerca do controverso debate sobre a existência de uma relação causal entre o tipo de regime político e a política externa dos Estados no contexto das relações internacionais.
Adotando uma posição de desconfiança em relação à correspondência automática entre democracia e uma atitude cooperativa em política externa, por um lado, e autocracia e propensão para a guerra, por outro; os autores são quase unânimes em suas conclusões sobre a necessidade de serem avaliadas outras variáveis, além do regime político, para explicar a política externa de um Estado, uma vez que nem sempre se pode estabelecer um nexo causal entre os dois temas. Leia Mais
Meridiano 47 | UnB | 2000
Meridiano 47 – Journal of Global Studies (Brasília, 2000-) é uma revista do Centro Estudos Globais da Universidade de Brasília dedicada a promover a reflexão, a pesquisa e o debate acadêmico sobre os temas da agenda internacional contemporânea.
Meridiano 47 publica artigos científicos cuja temática se situe na grande área de Relações Internacionais, e mais particularmente sobre Política Internacional, Política Externa, Economia Internacional, Instituições e Regimes Internacionais, História das Relações Internacionais e da Política Externa e sobre questões envolvendo áreas geográficas e países.
Periodicidade anual.
Acesso livre.
ISSN 1518-1219
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Relações internacionais e política externa do Brasil: dos descobrimentos à globalização | Paulo Roberto de Almeida || A política externa do regime militar brasileiro: multilateralização/ desenvolvimento e construção de uma potência média (1964-1985) | Paulo G. Fagundes Vizentini || Mercosul: fundamentos e perspectivas | Paulo Roberto de Almeida
As relações internacionais enquanto objeto de estudo vêm desenvolvendo-se de maneira amplamente satisfatória nos últimos anos no Brasil, com o acúmulo quantitativo e o progresso qualitativo dos trabalhos divulgados nesse campo. Muito desse avanço é devido ao surgimento de cursos de pós-graduação nem todos stricto sensu que colocam as relações internacionais de modo geral e a inserção externa do Brasil de modo particular no centro das preocupações de pesquisa e de elaboração de monografias. Outro tanto pode ser visto como o resultado de iniciativas propriamente editoriais, com a tradução de bons livros publicados no exterior e a publicação, isoladamente ou em coleções especializadas, dos trabalhos produzidos por cientistas sociais e historiadores do Brasil.
Os dois primeiros livros aqui resenhados inauguram, precisamente, uma nova coleção editorial, a “relações internacionais e integração” da UFGRS, ao passo que o terceiro é veiculado por uma editora mais tradicional no campo das letras jurídicas. Os dois autores militam, um de modo pleno, o outro em tempo parcial, nas pesquisas e na docência acadêmica, combinando a interpretação sociológica com uma visão histórica das relações internacionais do Brasil. Essa visão histórica é mais centrada no caso da pesquisa de Paulo Vizentini, enfocando a política externa do regime militar no Brasil entre 1964 e 1985, e mais dispersa no caso de Paulo Almeida, indo dos séculos XV-XVI (“diplomacia dos descobrimentos”), passando pela emergência do multilateralismo contemporâneo, a partir do século XIX, até o recente surgimento (1995) da Organização Mundial de Comércio (“diplomacia do desenvolvimento”). Leia Mais
O lugar da África: a dimensão atlântica da política externa brasileira (de 1946 a nossos dias) | José Flávio Sombra Saraiva
A coleção Relações Internacionais (da Editora da Universidade de Brasília), coordenada pelo professor Amado Luiz Cervo, acaba de lançar uma importante obra sobre a política africana do Brasil e as relações Brasil-África, de autoria do africanista e especialista em relações internacionais José Flávio Sombra Saraiva. Este livro vem, em primeiro lugar, cobrir uma grave lacuna existente sobre o tema em nossos manuais universitários, atualizando, aprofundando e inovando o trabalho iniciado pelo professor José Honório Rodrigues com Brasil e África, outro horizonte (2 volumes) e pelo diplomata Adolpho Justo Bezerra de Menezes com Ásia, África e a Política Independente do Brasil e O Brasil e o mundo ásio-africano, todos eles trabalhos publicados no início dos anos 60.
Evidentemente os cursos de Pós-Graduação de Relações Internacionais, História e Ciência Política têm propiciado a elaboração de vários estudos específicos sobre este tema, mas não um abrangente, de síntese. Neste caso, merece referência o excelente trabalho geral do diplomata Fernando Marroni de Abreu, L’évolution de la politique africaine du Brésil, tese defendida na Sorbonne em 1988, mas não publicada. Assim, o livro recém lançado pelo Dr. Flávio Saraiva constitui o primeiro manual universitário sobre o conjunto das relações contemporâneas do Brasil com a África. Não se trata, contudo, de um simples manual, pois, se está apresentado com este perfil, nem por isso deixa de constituir uma obra de análise aprofundada, baseada também numa ampla documentação, bibliografia e entrevistas realizadas tanto no Brasil como na África. Leia Mais
The Foreign Policy of Zimbabwe | Ulf Engel
Com este estudo sobre a política exterior do Zimbábue, desde a independência em 1980 até o ano de 1993, Ulf Engel, cientista político alemão com especialização em África, criou uma obra extremamente relevante.
Como referenciais paradigmáticos e metodológicos, o autor recorre a uma mescla de fragmentos de abordagens diferentes. Na análise do quadro estrutural, ele tenta combinar elementos das teorias do sistema mundial, da dependência e da política econômica com conceitos chaves do neo-realismo. Na análise do processo da formulação e implementação da política exterior, ele toma empréstimos do behaviourismo e das teorias de burocracia, chegando a um modificado black box model (Easton). Mas, embora uma influência deste conjunto paradigmático seja perceptível, o estudo no seu corpo principal contém poucas reflexões teóricas ou paradigmáticas. Trata-se de um profundo estudo empírico da política exterior do Zimbábue. Leia Mais
Política Internacional | UnB | 1997
A Revista Brasileira de Política Internacional – RBPI (Brasília, 1997-) publica artigos sobre temas relacionados às Relações Internacionais em geral (Política, Economia, Sociologia, Segurança, História, Política Externa, Meio Ambiente e outras questões relevantes da agenda internacional contemporânea). A Revista é aberta a uma ampla variedade de tradições metodológicas.
Periodicidade semestral.
Acesso livre
ISSN 1983-3121 (Online)
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