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A Companhia de Jesus e a política da Ilustração / História Unisinos / 2009
Em 1759, o Império Português expulsava de seu Reino e de suas colônias, a Companhia de Jesus. Logo depois, em 1767, esta medida seria seguida pela Espanha. Por ocasião da passagem dos 250 anos da expulsão dos jesuítas do Brasil –, o Dossiê A Companhia de Jesus e a política da Ilustração se propõe a reflexão sobre a construção discursiva de que foi alvo este tema tão caro às historiografias europeia e americana, sobre seus condicionantes históricos e sua inserção nos debates científicos e político-filosóficos que caracterizaram o Iluminismo na segunda metade do século XVIII. Há algum tempo, os esforços de reflexão sobre a temática têm se valido da renovação teórica e metodológica do campo historiográfico para atualizar sua agenda de pesquisa, o que pode ser observado nos artigos a seguir.
O primeiro artigo, de Adone Agnolin, enfoca a batalha antijesuítica travada no Oriente no contexto da Ilustração, a partir da análise da tragédia A Viúva do Malabar ou o Império dos Costumes, escrita pelo poeta e dramaturgo francês Antoine-Marin Le Mierre, em 1770. Nesta peça, segundo o autor do artigo, estaria refletida a disputa relativa ao projeto da missionação jesuítica na Índia do começo do século XVII, o qual teria se encerrado drasticamente – vinte e seis anos antes da encenação da tragédia – com a Constituição Apostólica Omnium Sollicitudinum, do papa Bento XIV.
Beatriz Helena Domingues e Breno do Santos avaliam a influência do pensamento ilustrado – em voga na Europa em meados do século XVIII – nas cartas escritas pelo padre David Fáy aos seus familiares húngaros, desde a Vice-Província Jesuítica do Maranhão e Grão-Pará, durante o ano de 1753. Nelas, os autores se propõem a diagnosticar a ocorrência de uma assimilação – ainda que seletiva e católica – de algumas ideias caras à Ilustração, visando relativizar a tradicional abordagem que atribui, à Companhia de Jesus, uma visão retrógrada e resistente às mudanças, tributária de uma tradição “medieval católica” e “barroca”.
O artigo de Carlos Engeman, Cláudia Rodrigues e Marcia Amantino se detém na análise da documentação relativa à administração da Fazenda de Santa Cruz – com sede no Rio de Janeiro – referente aos anos de 1793 a 1804, procurando evidenciar e justificar a retomada de algumas práticas administrativas jesuíticas num contexto de Ilustração e de anti-jesuítismo, por seu administrador Manuel Martins do Couto Reis.
Carlos Paz parte de uma caracterização das transformações sociais e econômicas experimentadas pelas populações indígenas que ocupavam as fronteiras santafesinas do Chaco argentino devido à instalação das reduções jesuíticas na região, durante a primeira metade do século XVIII, para refletir sobre as rupturas e as continuidades que as relações sociais engendradas entre os Abipones – delineadas durante o período jesuítico – sofreram após a expulsão da Companhia de Jesus.
O artigo de Antônio Astorgano Abajo enfoca os efeitos que a política repressiva pombalina exerceu sobre a produção literária dos jesuítas portugueses expulsos, a partir do exame da Biblioteca jesuítico-española, organizada pelo padre jesuíta Lorenzo Hervás y Panduro, e do Diário escrito pelo também jesuíta Manuel Luengo. Apresenta-nos não apenas um criterioso levantamento da literatura produzida por membros da Companhia de Jesus no exílio, como também uma ampla caracterização do panorama intelectual europeu da segunda metade do século XVIII.
Na seção Notas de Pesquisa, Josefina Cargnel apresenta a investigação que vem desenvolvendo sobre as obras Historia de la Conquista del Paraguay, Río de la Plata y del Tucumán, escritas por dois eminentes historiadores jesuítas do século XVIII – Pedro Lozano e José Guevara –, a partir das reflexões teórico-metodológicas propostas por Roland Barthes para a análise da escrita jesuítica.
Duas resenhas sobre obras recentemente publicadas completam o dossiê.
O presente número publica ainda, na seção Artigos, o texto A inserção dos pentecostais na política: uma ameaça à democracia? de autoria de Valdir Pedde e Everton Santos.
A Comissão Editorial
Comissão Editorial. Apresentação. História Unisinos, São Leopoldo, v.13, n.3., setembro / dezembro, 2009. Acessar publicação original [DR]