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Luiz Costa Lima / Fato & Versões / 2018
O dossiê que agora se apresenta está intimamente ligado ao Simpósio Luiz Costa Lima: um Teórico nos Trópicos, que teve lugar no XV Congresso Internacional da ABRALIC, realizado na UERJ em 2017. Essa íntima ligação se verifica evidentemente pela temática e pelo fato de que grande parte dos autores desse dossiê ali estiveram presentes. Mas, ainda mais importante é o fato de que o simpósio e o dossiê compartilham a mesma disposição: ampliar o alcance de reflexões desenvolvidas ao longo de décadas por Luiz Costa Lima e, ao mesmo tempo, imprimir visibilidade ao percurso percorrido por um autor que, sem dúvida, ao longo do último século, é uma das figuras de maior destaque no caminho empreendido pelos estudos literários no Brasil, ao lado de Silviano Santiago e Antônio Cândido.
A profícua variedade de motivos e abordagens que encontramos nos textos aqui reunidos corroboram essa afirmação e nos informam acerca do ponto de partida para quem deseja compreender a obra de Luiz Costa Lima: em seus trabalhos, a crítica e a teoria da literatura alçam largo voo, indo ao encontro da antropologia, do pensamento histórico-sociológico, da teoria psicanalítica e da reflexão filosófica. Além disso, contemplam a força e de intensidade que transforma certas inquietudes intelectuais em sulcos e marcas duradouras, recônditas e viscerais. Esses traços arraigados traduzem-se nas ramificações do trabalho de um autor que se recusa a se descomplexificar.
O fio condutor da obra de LCL é o trabalho, atento e ostensivo, acerca das condições de possibilidade do discurso ficcional, em busca de um entendimento mais esclarecido de seu estatuto e de um melhor tratamento analítico de seus meandros. Conduzida pela noção de que a experiência estética se dá pela ambiência sociocultural em que se processa, a análise literária de Costa Lima demanda uma interpretação crítica da história da literatura e de seus representantes. Convencido de que, para o estudo da escrita ficcional, a dimensão textual é insuficiente sem perspectiva teórica, o autor constrói uma reflexão sobre a cultura intelectual na qual emerge a ficção, suas surpresas, delícias e impasses. Nesse sentido, as reiteradas tentativas de melhor definir o objeto da crítica literária resultam em formulações que visam destrinchar as diferentes faixas e modalidades discursivas. A poesia, a prosa, o romance, o autobiográfico, as memórias ou as narrativas historiográficas, isso é, do núcleo daquilo que entendemos como literatura até às suas periferias, são pensadas de forma a projetar a ficcionalidade em sua relação com a temporalidade, com a subjetividade e com os regimes de verdade que regulam as formas discursivas no Ocidente.
O impulso teorizante presente nos textos que giram ao redor da obra de LCL conformam o entendimento do espaço do ficcional como aquele em que as imagens dão contorno à presença do vazio sem esgotá-lo. A relação entre ficção e vazio – entendido, no sentido que lhe conferiu W. Iser i.e, como horizonte de sentido em aberto – nos informa tanto a respeito do paradoxal trabalho de irrealização do imaginário quanto da plasticidade intrínseca à subjetividade. Por isso mesmo, o entendimento do discurso da ficção requer cuidado às mediações simbólicas que se produzem entre as dimensões da razão e da imaginação. Diferente de outras formações discursivas, a ficção trabalha embaralhando esses campos, numa apropriação que entrega uma verdade singular, oblíqua. A perspectivação da verdade consolida-se como traço básico e ao mesmo tempo fundamental para a compreensão do estatuto do ficcional. Ao demonstrá-lo, Costa Lima, configurou teoricamente uma trilha que nos permite entender melhor as relações entre linguagem e realidade. Os textos que lemos reunidos nessa oportunidade são, a um só tempo, diálogos com esse trabalho e aberturas que esperam por vir.
Aline Magalhães Pinto – Professora da Faculdade de Letras / UFMG.
Eduardo Henrique Barbosa de Vasconcelos – Professor de História / UEG.
PINTO, Aline Magalhães; VASCONCELOS, Eduardo Henrique Barbosa de. Apresentação. Fatos e Versões. Campo Grande, v.10, n.19, 2018. Acessar publicação original [DR]