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A Presença da História Cultural nas Pesquisas em História da Educação Matemática / HISTEMAT – Revista de História da Educação Matemática / 2017
O que você lerá, nas páginas que se seguem, compõe o segundo número temático da Revista em História da Educação Matemática – HISTEMAT e coube a mim o convite para ser seu editor. A principal ideia, dessa publicação, foi reunir um grupo de estudos que mostrassem “A Presença da História Cultural nas Pesquisas em História da Educação Matemática”, seja nas análises de seus resultados, seja para auxiliar nas reflexões e / ou discussões dos argumentos acionados ao longo do seu desenvolvimento. Para tanto, fez-se mister o movimento de algumas etapas para que se chegasse a esse produto final. Etapas que se consolidavam, cada uma a seu tempo, à medida que permitiam, aos 23 articulistas convidados, revisitarem o encadeamento de suas ideias. Nesse sentido, apresento-lhe, em 13 artigos, o pensamento de pesquisadores que, em seus trabalhos, conjugam aspectos relacionados a diferentes contextos, sobretudo, políticos e educacionais. Passo, então, a delineá-los, brevemente, na ordem de sua aparição.
Hoffmann e Costa (David) analisam, apoiados nas referências da história, história da educação, bem como da história da educação matemática, a tese oficial n. 06 presente nos Anais da Primeira Conferência Estadual de Ensino Primário ocorrida em Santa Catarina em 1927, a qual tratou, especificamente, dos trabalhos manuais nas escolas primárias e complementares.
Costa (Reginaldo) apresenta, sob seis categorias de análise – recorte temporal; personagens e educadores matemáticos; instituições; metodologia; conteúdos matemáticos; fontes e níveis de ensino – um panorama das pesquisas agrupadas no Eixo História da Educação Matemática, nos Anais do XI ENEM, ocorrido em Curitiba em 2013, cujos setenta e um trabalhos contemplam desde o período colonial até os dias atuais, entretanto, a maioria concentra-se nas décadas de 1950 e 1960.
Duarte explicita as produções realizadas pelo Grupo de Pesquisa em História da Matemática e da Educação Matemática (GHMEM) e que estabelecem interações com projetos impulsionados pelo Grupo de Pesquisa de História da Educação Matemática no HISTEMAT – Revista de História da Educação Matemática Sociedade Brasileira de História da Matemática Brasil (GHEMAT), destacando a relevância de estudos que preconizam os saberes e práticas presentes no cotidiano escolar.
Búrigo analisa as críticas de pesquisas acerca do movimento da matemática moderna no Brasil e suas conexões com processos ocorridos em outros países, no mesmo período, sinalizando que o diálogo entre pesquisadores e suas produções tem permitido o refinamento das narrativas do movimento da matemática moderna como um processo complexo, resultante da interveniência de múltiplos atores e das condições em que se moveram.
Pontello e Gomes têm por principal objetivo analisar as ações realizadas pela Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES), detendo-se sobre as potencialidades das narrativas de sujeitos participantes para a formação de professores de Matemática no Ceará, nas décadas de 1950 e 1960.
Santos, Bezerra e Carvalho apresentam os aspectos históricos acerca da origem, da organização e do processo de estruturação do Liceu Alagoano, entre 1930 a 1970 e, além de refletirem sobre o currículo, a formação do professor e os métodos de ensino, destacam a evolução do Ensino Secundário, com ênfase no Curso Normal.
Almeida e Pinto procuram compreender como as tabuadas foram apropriadas pelos autores de livros didáticos de Aritmética que tiveram ampla repercussão, nas primeiras décadas do século XX, tais como Georg Büchler (Arithmetica Elementar, 1919) e Antônio Trajano (Aritmética Elementar, 1922) os quais apresentam registros de novos usos das tabuadas que, em tempos de protagonismo do método intuitivo, expressam contraponto com as práticas de memorização da tabuada de períodos anteriores.
Alves e Ripe, a partir da coleção “Nossa Terra Nossa Gente” e da reelaboração da coleção “Estrada Iluminada”, produzidas no estado do Rio Grande do Sul, no período de 1960-1978, identificam quais conteúdos da Matemática Moderna foram contemplados nessas coleções e o desenvolvimento e a influência do Movimento na produção didática gaúcha.
Rocha e Siqueira Filho, subsidiados por questões que preconizam saberes elementares matemáticos, prescritos e praticados por sujeitos inseridos em contextos educacionais, sumarizam a produção dos integrantes do GHEMAT-ES, os quais tomam a cultura como parte essencial da vida social, sobretudo, acerca do papel que desempenham como intérpretes do passado nas narrativas que constroem.
Souza et al. apresentam um breve inventário das pesquisas desenvolvidas pelo grupo COMPASSODF, ressaltando a importância do entrelaçamento da história da educação matemática do Distrito Federal (DF) com as demais histórias narradas por pesquisadores de outras localidades, para ampliação da visão de representações, apropriações e práticas relativas à história da educação matemática do Brasil.
Zuin, situando-se no século XIX, com destaque para a segunda metade dos Oitocentos, procura captar as representações e práticas, individuais ou coletivas, que refletiram o modo de ler o mundo, bem como os prós e contras, no interior das escolas no Brasil, com relação à legitimação do sistema métrico decimal como saber escolar e, portanto, um componente dos conteúdos de formação geral.
Santos aponta as intencionalidades em se construir representações e os caminhos seguidos para compreender a matriz da apropriação, a partir de trabalhos de conclusão de curso (TCC) e dissertações de mestrado produzidos, respectivamente, no âmbito dos Cursos de Licenciatura em Matemática e do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática, da Universidade Federal de Sergipe.
Kuhn e Bayer analisam exercícios de cálculo oral encontrados nas séries Ordem e Progresso e Concórdia, duas coleções de livros de aritmética, destinadas às escolas paroquiais luteranas do século passado, no Rio Grande do Sul, e identificam que os autores propuseram exercícios orais para que os alunos desenvolvessem habilidades de cálculo mental para que as utilizassem na administração do orçamento familiar e gerenciamento da propriedade rural.
Assim posto, na análise dos textos aqui publicados, penso ser possível postular que a vinculação entre história da educação matemática e história cultural ocorre por meio de vieses que permitem aos pesquisadores, da educação matemática, encontrar na história cultural a execução do ofício de historiadores, cujas reflexões apontam possibilidades de contribuições efetivas e significativas para compreendermos as perspectivas e lógicas de ações individuais ou coletivas, advindas de discursos e / ou intencionalidades imersas em documentos produzidos no passado, seja para legislar a formação de professores, seja para reformar a instrução pública em determinado tempo e espaço.
Moysés Gonçalves Siqueira Filho – Editor Adjunto
SIQUEIRA FILHO, Moysés Gonçalves. Apresentação. HISTEMAT – Revista de História da Educação Matemática. São Paulo, v.3, n.2, 2017. Acessar publicação original [DR]