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Pesquisa e Práticas do Ensino de História / Caderno de História / 2006
É com prazer que faço a apresentação deste Cadernos de História publicado pelo Laboratório de Ensino e Aprendizagem em História e pela Escola de Educação Básica da Universidade Federal de Uberlândia. Posso afirmar que este exemplar é estruturado em três momentos bem distintos com enfoques e temáticas que não se distanciam entre si. Elas se entrecruzam e se complementam, como se pode observar na própria apresentação. A História Local é identificada na primeira parte, onde é tratada a História da Educação em Uberlândia. Na segunda parte, a História da Educação é complementada nos textos referentes a educação no momento contemporâneo e, finalmente, na terceira parte – Dossiê “Pesquisa e Práticas do Ensino de História”, os autores se debruçaram sobre a formação docente, as práticas pedagógicas e os sujeitos históricos, fazendo um recorte a respeito do Ensino de História na atualidade.
No primeiro momento há uma série de artigos sobre História da Educação e o uso de fontes primárias como Actas da Câmara Municipal e jornais. Estes artigos têm um locus comum – a cidade de Uberlândia, antiga Uberabinha, no período de transição entre os finais do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Época marcada, em nossa História, pela afirmação do ideário positivista da ordem, do progresso e a construção de uma cidadania nacional. Outra marca deste período foi o desenvolvimento de Uberlândia sobre o manto do progresso e da modernidade. No artigo Educação e Progresso: evidências oficiais em Uberabinha de 1911, os autores Guilherme, Carvalho e Neto tiveram a preocupação de investigar o ideal de ordem e progresso, na administração de Uberabinha no inicio do século passado, e utilizaram como referencial de investigação e análise a aplicação de verbas públicas na educação. Há que se destacar que tais ideais de ordem e progresso que compunham o ideário positivista constituíam as metas a serem alcançadas pelas nações naquele período. Para desenvolver os seus estudos os autores consultaram fontes primárias como actas da Câmara Municipal.
O texto Representações do Ensino Rural em Uberabinha – 1888 a 1930, escrito por Ribeiro, Silveira e Inácio Filho, caracteriza-se por apresentar os passos de uma pesquisa referente ao Ensino Rural em Uberabinha, em um período de transição entre a permanência dos valores rurais para os valores de uma vida e educação urbanas. Este processo acontece sob a influência das idéias de modernidade e progresso.
Araújo e Souza, ao escreverem o texto Imprensa e Educação na Primeira República: Uberabinha, 1888-1930, tiveram a preocupação, ao investigar na imprensa local as questões educacionais, de evidenciar a importância da imprensa como fonte de pesquisa e análise.
No texto A forma(ta)ção da Cidadania: os debates em torno da Educação em Uberabinha, MG (1892-1920), o autor Ching, pesquisando fontes primárias como as Atas da Câmara Municipal e os jornais da época, teve a preocupação de refletir a respeito da formação e da formatação que era dada, através da educação, ao conceito de cidadania.
Outra particularidade deste caderno é o conjunto de textos que se seguem, cuja marca é a reflexão política sobre os desafios presentes na educação contemporânea, como a intolerância, a formação de atitudes democráticas nas aulas de História e, sobretudo, as dificuldades de inclusão social dos sujeitos com deficiências físicas e mentais.
As autoras Peres e Inácio, no texto Intolerância à alteridade na conquista da América Latina: enfoque da questão nos livros didáticos, refletiram a respeito de atitudes de intolerância que expressam a não aceitação do outro, ao não reconhecimento das diferenças. A intolerância com relação ao diferente marcou as atitudes dos conquistadores da América e tem marcado na contemporaneidade aquele que não é o nosso espelho. O propósito deste artigo é refletir sobre estas questões no interior da sala de aula.
Qual Cidadania? Que Democracia? são questionamentos que Jeanne Silva faz para discutir e analisar a função do Ensino de História na formação da democracia no Brasil. A autora analisa os obstáculos presentes nas salas de aula de História, o deterioramento das relações sociais e a resignificação, na atualidade, dos conceitos de cidadania e democracia.
O texto Educação do Campo: Novas Abordagens Pedagógicas, escrito por Pombo, chama-nos a atenção para a importância da Educação do Campo, no interior do Movimento Terra Trabalho e Liberdade (MTL), em um Pré-Assentamento na Fazenda Tangará. Esta educação baseia-se em uma prática pedagógica que se caracteriza pela diversidade, pelo idealismo e, sobretudo, pelo desafio.
Willian Vaz de Oliveira, no texto Educação Especial e Inclusão Escolar no Brasil: entre teorias e práticas, discute a construção das políticas educacionais públicas relativas a educação especial e a inclusão escolar. Mostra a importância da Constituição federal de 1988 e da LDB de 1996, no processo de promoção de uma educação direcionada as pessoas portadoras de necessidades especiais e considera, também, o distanciamento existente entre a teoria e a prática, evidenciando as dificuldades da inclusão, na escola e na sociedade, dos sujeitos “portadores” de necessidades especiais.
Para ampliar os estudos sobre linguagens alternativas para o ensino de História e outras fontes de investigação, os autores Ferreira e Ventura no texto Ensino de História e a informática educacional: alguumas possibilidades, evidenciam possibilidades do uso da Informática no ensino de História.
O próximo conjunto de textos que compõem este Caderno de História foi denominado apropriadamente, pelos organizadores, de Dossiê: “Pesquisas e Práticas do Ensino de História”, porque tem como ponto central de reflexão o ensino de história. Foram focalizados neste dossiê a prática docente, a formação de professores, a memória docente, a sala de aula como campo de pesquisa, os livros didáticos, a música, a literatura e o rádio como linguagens alternativas no ensino de História.
O texto – Profissão Docente: Representações e práticas educativas nas primeiras séries do Ensino Fundamental, escrito por Oliveira, é uma reflexão sobre as práticas escolares de profissionais que atuam nas primeiras séries do ensino fundamental. Neste artigo, a autora assinala a importância dos conceitos de cultura e de representações sociais para se compreender e analisar as práticas pedagógicas neste segmento de ensino.
O estágio supervisionado como campo de pesquisa: As narrativas escolares sobre o conhecimento histórico, de Cainelli, evidencia a importância da prática da pesquisa nas disciplinas Metodologia do Ensino de História e do Estágio Supervisionado. A autora organizou uma investigação para conhecer a natureza dos conhecimentos sobre a História dos alunos do ensino fundamental, tendo como objetivo identificar os conceitos adquiridos e como interpretam textos históricos. Os dados obtidos subsidiaram os estágios dos licenciados.
Franco, no artigo: Os Livros Didáticos de História para séries iniciais do Ensino fundamental (PNLD/2004) e as Representações de Pluralidade Cultural, contextualiza a pluralidade cultural presentes nas reflexões historiográficas e educacionais, assim como nos documentos oficiais ( PNLD e PCNs) produzidos pelos órgãos gestores da política educacional. Concomitante a esta reflexão, a autora se ocupa em analisar as representações de pluralidade cultural veiculadas em dois livros didáticos de História destinados ao primeiro segmento do Ensino Fundamental, distribuídos pelo PNLD/2004.
Música e Radiofonia: uma experiência interdisciplinar de prática de ensino é um artigo de Noadia Munhoz e Rodrigo de Paula Morais. Este texto é resultante de pesquisas feitas na Prática de Ensino e Estágio Supervisionado dos cursos de Pedagogia e História. Teve como objetivo mostrar a importância do uso de linguagens alternativas para o ensino de História, como a música e o rádio, além de evidenciar a necessidade de se aplicar, na escola, projetos interdisciplinares.
O texto de Paim – Rememorações dos professores de História em relação às Práticas de Ensino desenvolvidas na graduação, é o resultado de uma pesquisa cujo objetivo foi recuperar memórias e experiências, através de depoimentos orais, do fazer-se professor (a) de História. Neste artigo, ele recupera as rememorações dos professores na forma de estágio docente.
Paula e Motta apresentam-nos no texto intitulado Literatura de Cordel – uma porta para o Brasil Real, um estudo sobre o uso de uma outra linguagem alternativa para o ensino de História que é a Literatura de Cordel. Esta prática pedagógica foi vivenciada pelos alunos de uma 8ª série e objetivou o trabalho com as habilidades operatórias como interpretação, compreensão e assimilação importantes para compreensão do conhecimento histórico.
Finalmente, quero agradecer o convite recebido para fazer a apresentação deste número, destacar a riqueza deste Cadernos de História pela variedade temática e diversidade de autores, e desejar aos leitores muitas reflexões a partir das leituras feitas.
Ernesta Zamboni – Professora da F.E – UNICAMP.
ZAMBONI, Ernesta. Apresentação. Caderno de História. Uberlândia, v.14, n.1, set. 2005 / set. 2006, 2006. Acessar publicação original [DR]