Leituras de Áfricas: epistemologias, ancestralidades, corporiedades e processos educativos em tempos pandêmicos | Perspectivas e Diálogos: Revista de História Social e Práticas de Ensino | 2021

2021 foi um ano de muitos enfrentamentos. Até o momento, 619.065 mil pessoas morreram de COVID-19. Um número assustador e motivo de indignação em qualquer país. O Brasil, no entanto, não se configura como qualquer país. Todo e qualquer indicador social necessita ser atravessado pela questão étnica e de gênero para se atingir as camadas mais profundas da realidade e o problema ser desnudado.

Estudo realizado pela Rede de Pesquisa Solidária (Jornal da USP, 2021) apontou que as desigualdades raciais e de gênero aumentam a mortalidade da COVID-19 no mesmo grupo ocupacional, sendo que as mulheres negras morrem mais que homens negros, homens brancos e mulheres brancas na base do mercado de trabalho. Leia Mais

História, Educação e Intelectuais Brasileiros | Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino | 2021

TEIXEIRA e SARTRE Intelectuais
Anísio Teixeira e Jean Paul Sartre: Fotos: A Tarde //Gisele Freund

Como definir um intelectual? Qual a sua função? Essas perguntas sartrianas, em seu livro Em Defesa dos Intelectuais, nos levam a problemas de método. O estudo sobre intelectual se constitui quanto categoria dentro de uma estrutura de investigação científica não muito bem delineada. Mesmo tratando-o, epistemologicamente, em uma visão multidisciplinar, em que os instrumentos teórico-metodológicos consolidados de vários campos, como Sociologia, Filosofia, História e Educação, contribuem academicamente de forma indelével, a análise sobre intelectual pode-se incorrer em armadilhas. Um dos desafios, por conseguinte, é perquirir o lugar do intelectual na sociedade. A relação entre sujeito intelectual e estrutura institucional pode ser concebida a partir de sua formação, de suas diversas filiações e suas tessituras de sociabilidade política, cultural, econômica, educacional etc.

Este prisma auxilia o ponto de partida para uma análise da pluralidade das suas funções possíveis na sociedade hoje. Portanto, a pesquisa sobre os intelectuais, enquanto “categoria teórica movediça”, nos conduz a assinalar a sua importância como agentes orgânicos em determinada conjuntura histórico-política, que têm funções sociais na condição mais de vínculo a uma classe ou grupo social do que à personalidade individual marcante. Assim sendo, tentamos construir a premissa de Sartre na qual “o intelectual é o homem que toma consciência da oposição, nele e na sociedade […]. Produto de sociedades despedaçadas, o intelectual é sua testemunha porque interiorizou seu despedaçamento. É, portanto, um produto histórico. Nesse sentido, nenhuma sociedade pode se queixar de seus intelectuais sem acusar a si mesma, pois ela só tem os que faz.” [4] Leia Mais

Leituras de Áfricas: epistemologias, ancestralidades, corporiedades e processos educativos em tempos pandêmicos | Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino | 2021

2021 foi um ano de muitos enfrentamentos. Até o momento, 619.065 mil pessoas morreram de COVID-19. Um número assustador e motivo de indignação em qualquer país. O Brasil, no entanto, não se configura como qualquer país. Todo e qualquer indicador social necessita ser atravessado pela questão étnica e de gênero para se atingir as camadas mais profundas da realidade e o problema ser desnudado.

Estudo realizado pela Rede de Pesquisa Solidária (Jornal da USP, 2021) apontou que as desigualdades raciais e de gênero aumentam a mortalidade da COVID-19 no mesmo grupo ocupacional, sendo que as mulheres negras morrem mais que homens negros, homens brancos e mulheres brancas na base do mercado de trabalho. Leia Mais

História Antiga e Medieval no Brasil: pesquisa e prática de ensino / Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino / 2020

As pesquisas em História Antiga e Medieval ganham o Brasil de uma ponta a outra. Partindo de centros de excelência, como a Universidade de São Paulo, a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Universidade Federal Fluminense, espalharam-se por todo o país, graças ao trabalho incansável e audacioso de muitos pesquisadores / professores que acreditaram que é possível fazer uma História Antiga e Medieval de excelência no Brasil. Teçamos loas a essas pessoas admiráveis, que passaram por nossas vidas, que nos inspiraram e continuam a fazê-lo.

O trabalho pujante da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, a SBEC, a formação dos Grupos de Trabalho (GTs) da Associação Nacional dos Professores de História (ANPUH), os inúmeros laboratórios reunindo pesquisadores de diferentes estados e os muitos congressos e revistas científicas especializadas na área têm proporcionado uma rica troca de experiências, que impulsiona a pesquisa brasileira.

As atuais pesquisas em História Antiga e Medieval propõem modelos interpretativos diversos, o alargamento das fontes documentais, o uso da tecnologia em benefício da pesquisa e do Ensino e o diálogo com outras ciências, especialmente com a Arqueologia. Novas questões estão na ordem do dia a nos desafiar, intimando-nos a pensar, a tecer novas proposições para a construção de uma História Antiga, viva, em movimento.

Toda sorte de problemas que afetam direta e indiretamente a todos nós, conduzem-nos a reflexões importantes para o repensar do mundo antigo e do nosso próprio mundo. Entre tais problemas está a inquietação com as questões do tempo presente de um mundo globalizado, com problemas igualmente globais, como a pandemia do novo coronavírus a nos fragilizar; enfraquece-nos também a intolerância, a grassar em suas diversas faces, principalmente, no que se refere à discriminação contra as minorias.

Diante de tal quadro, os artigos desse dossiê devem contribuir para a valorização da diferença, da diversidade, da heterogeneidade, da tolerância e combate à discriminação, rejeitando qualquer tipo de preconceito, seja de qual natureza for, por seu potencial de abordagem multiculturalista e de diversidade presente em seus conteúdos. Dialogando com pesquisadores de vários centros de pesquisa, o dossiê apresenta trabalhos de novos e experientes pesquisadores demonstrando, que os estudos de História Antiga e Medieval estão bem dinamizados na Bahia e em outros estados da Federação.

Estes artigos são exemplos de que as pesquisas brasileiras em História Antiga e Medieval estão conectadas com as discussões levadas a termo no cenário internacional, mas evidenciando as especificidades de um “olhar” local que contribuem nos debates em ambientes hegemônicos. Os artigos também espelham a proximidade das pesquisas com a nossa realidade, propiciando-nos uma fecunda possibilidade de compreender melhor o presente, com uma visão menos limitada, linear e por vezes distorcida. No âmbito do ensino, tal perspectiva deve ajudar os discentes a enxergarem a nossa realidade de forma transitória, contrastando-a com os seus modos de vida, observando as persistências e mudanças ao longo do tempo, dissipando a distância entre o saber científico, produzido nas Universidades, e o saber escolar, produzido em salas de aula do Ensino Fundamental e Médio. Aos docentes, os artigos apresentam instigantes possibilidades de refletir sobre a História Antiga, de repensá-la em sua prática de sala de aula, de fazer novas experimentações, tornando essa História mais próxima, mais viva e prenhe de sentido. Muitos artigos visam instrumentalizar o professor, oferecendo-lhe ferramentas úteis para diminuir o descompasso entre aquilo que é produzido no meio acadêmico e o que é ensinado nas escolas.

Compõem o dossiê um total de dez artigos. Alexandre Galvão Carvalho, em seu texto Diálogos entre a História Antiga e o ensino de História, tece reflexões em torno da alteridade, multiculturalismo, eurocentrismo e da relação entre Ocidente e Oriente nos debates acerca do ensino da História Antiga. Procura repensar as formas e modelos da História Antiga e o ensino de História com o objetivo de aproximar a disciplina História Antiga de nossa realidade e superar preconceitos, articulando artigos atuais sobre as formas e modelos teóricos da área com as propostas curriculares para o ensino de História, acentuando os caminhos para a inserção da disciplina História Antiga na construção e fortalecimento da cidadania.

No artigo Saberes arqueológicos na escola pública: ações educativas do Labeca aplicadas ao “Projeto Minimus Intersdiciplinar”, Maria Cristina Nicolau Kormikiari, Felipe Perissato e Felipe Leonardo Ferreira destacam a contribuição do Laboratório de Estudos sobre a Cidade Antiga (LABECA) para o avanço das pesquisas sobre a cidade antiga grega no Brasil. Apresentam, a partir de um rico e instigante projeto, um relato de experiência dos desdobramentos dos estudos desenvolvidos no LABECA em escola pública da Educação Básica de São Paulo. O objetivo do projeto é aproximar o conhecimento produzido no espaço da universidade da escola secundária, preocupação constante do Laboratório.

No terceiro artigo, O livro didático e o Ensino de História Antiga – desafios no presente e problemas do passado, Luis Filipe Bantim de Assumpção e Carlos Eduardo da Costa Campos partiram da experiência como docentes no Ensino Médio, em colégios particulares do Rio de Janeiro, para demonstrar como os materiais didáticos ali utilizados detêm uma visão conservadora sobre a História Antiga. Os autores aproveitam a oportunidade para apresentar, com muito esmero, uma metodologia de análise do livro / material didático utilizado, com a qual se objetiva desenvolver uma análise crítica do conteúdo de Antiguidade.

Na sequência, o artigo História dos cristianismos nos livros didáticos: considerações sobre a narrativa histórica escolar, de autoria de José Petrúcio de Farias Júnior e Ramonn Gonçalves de Moura, apresenta uma discussão necessária e importante sobre a História dos Cristianismos a partir de preocupações atuais, como o fundamentalismo religioso e a intolerância religiosa, tão presentes em nosso cotidiano. Os autores analisam a apresentação da história dos cristianismos nos livros didáticos e chegam à conclusão do quanto ainda é profundo o fosso entre aquilo que é ensinado nas escolas e as discussões recentes sobre a temática.

No quinto artigo “Mitologia, História e Cinema”: um projeto de extensão sobre recepção do mundo-greco romano em curso, Igor Barbosa Cardoso e Maria Cecília de Miranda Nogueira Coelho brindam-nos com a apresentação de um projeto amplo e audacioso (como todos devem ser) envolvendo Mitologia, História e Cinema, realizado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Muito mais do que a apresentação do projeto, os autores oferecem um magnífico quadro teórico de análise da produção cinematográfica e de importantes questões atinentes ao estudo da recepção da cultura clássica. Trata-se de um convite desafiador (e tentador) àqueles que desejam repensar a História sobre novos e promissores alicerces, inserindo, sob bases acertadas, o cinema em sala de aula.

Em O Mediterrâneo Antigo: uma proposta didática Manuel Rolph Cabeceiras apresenta, em seus aspectos teórico-metodológicos e práticos, os resultados da construção de uma proposta de aprendizagem compartilhada nas turmas de “História Antiga” no 1º Período do Curso de Graduação em História da UFF de 2013 a 2019, centrada no Mediterrâneo como categoria de análise histórica nas áreas por ele abrangidas dos séculos XXIV a.C. a III d.C. O artigo além de apresentar análise inovadora sobre o Mediterrâneo Antigo, abre a possibilidade para um novo modo de se pensar e trabalhar em sala de aula o mundo antigo.

No artigo seguinte O II Concílio de Braga e Da Correção dos Rústicos contra o paganismo: entre a cultura escrita e a oralidade, de autoria de Vitor Moraes Guimarães e Márcia Santos Lemos, os autores apresentam uma análise muito rica sobre as formas utilizadas pela Igreja no processo de evangelização e difusão do cristianismo no Reino Suevo do VI século. A partir de múltiplas estratégias de conversão ao cristianismo, a Igreja alcançava tanto as baixas camadas do clero quanto as populações humildes e afastadas, na busca da consolidação do cristianismo e eliminação do paganismo.

O oitavo artigo, A pesquisa sobre Império Romano no Brasil: a Numismática e a Coleção do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro (RJ), de Cláudio Umpierre Carlan, apresenta uma das mais instigantes e frutíferas fontes de pesquisa: a moeda. A partir da Coleção do Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro, o estudioso presenteia-nos com uma análise do Império Romano. Passeando pela história da Numismática, apontando suas possibilidades de pesquisa, ofertando-nos exemplos de como é possível extrair da fonte imagética um conhecimento profundo e sob diferentes aspectos da história dos romanos.

O artigo seguinte: Os sepultamentos secundários dos judeus e os ossuários judaicos: um breve debate sobre continuidades e rupturas dos padrões funerários na região da Judeia, dos autores Carolina Mattoso e Vagner Carvalheiro Porto, apresenta uma história que vem da província romana da Judeia, pouca conhecida entre nós. Tem o mérito de discorrer com profundidade sobre o sepultamento secundário de judeus e o uso de ossuário como modo para esse tipo de sepultamento. Sob tais bases os autores tentam ampliar o conhecimento das interações entre a província e os romanos e entender o próprio passado judaico.

Fechando o dossiê, no artigo O espaço como um contributo para a compreensão da tragédia e para a interpretação da História, Márcia Cristina Lacerda Ribeiro propõe a utilização do ‘espaço’ como categoria de análise útil para ampliar o entendimento sobre a tragédia grega e sobre a História. A partir de uma leitura antropológica do espaço, tomada de empréstimo de Amos Rapoport, o texto discute a interação entre espaço e comportamento, exemplificado a partir da análise do espaço da gruta, presente na tragédia Íon de Eurípides.

Com esse dossiê, reforçamos nossa perspectiva de que o estudo da História Antiga e Medieval deve ser encarado como um laboratório, com uma enorme diversidade de formas socioculturais das experiências dos homens e mulheres ao longo da história. O afresco de Luca Giordano, “O barco de Caronte, o Sono da noite e Morfeu”, do século XVII, capa da nossa revista, é uma leitura da Antiguidade formulada em outro contexto histórico, por meio de uma linguagem própria, uma forma de apropriação e usos do passado que coloca em tela o interesse que o antigo e o medievo têm despertado ao longo do tempo. Que assim continue….

Nossos agradecimentos a todos os autores que nos presentearam com seus belíssimos trabalhos.

Boa leitura!

Alexandre Galvão Carvalho – Doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense. Professor Pleno do Departamento de História da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Brasil. E-mail: alexandre.galvao@uesb.edu.br

Fábio de Souza Lessa – Doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor Titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, vinculado ao Laboratório de História Antiga e ao Programa de Pós-Graduação em História Comparada (PPGHC) do Instituto de História da UFRJ e ao Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas (PPGLC) da Faculdade de Letras da UFRJ. Brasil. E-mail: fslessa@uol.com.br

Márcia Cristina Lacerda Ribeiro – Doutora em História Econômica pela Universidade de São Paulo; Pós- doutora em Arqueologia Clássica pela Universidade de São Paulo. Professora da Universidade do Estado da Bahia (na Graduação em História e no Programa de Pós-Graduação em Ensino, Linguagem e Sociedade). Pesquisadora do LABECA / MAE / USP e do NHIPE / CNPq. Brasil. E-mail: mclribeiro@uneb.br


CARVALHO, Alexandre Galvão; LESSA, Fábio de Souza; RIBEIRO, Márcia Cristina Lacerda. [História Antiga e Medieval no Brasil: pesquisa e prática de ensino]. Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino. Caetité, v.2, n.6, jul. / dez., 2020. Acessar publicação original [DR]

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Educação, Cultura e Identidade em perspectiva / Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino / 2020

Atônitos, fomos surpreendidos por poderoso inimigo a atacar por todos os lados. Não se trata de nenhuma nação com seu poderoso arsenal nuclear, mas de estranho organismo, letal e microscópico, a igualar – em um mundo de desiguais – todos os seres humanos, com sua carga mortífera: o Sars-CoV-2. Aos graves problemas que o nosso país enfrenta, somaram-se a Pandemia do Novo Coronavírus e suas trágicas consequências. Findando 2020, o ano que marcará indubitavelmente a primeira metade do século, assistimos desolados ao aumento das mortes a bater novos recordes, passando de mil por dia. Mas a esperança chega em pequenas doses – uma vacina. Nesta manhã de 18 de dezembro de 2020 acompanhamos, pela televisão, um avião pousando no aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo, trazendo dois milhões de doses de vacina contra a covid 19. Tendo escapado os males do mundo, na caixinha de Pandora restava a esperança, tal qual nessa aeronave a transportar a combatente aniquiladora do inimigo. Rendamos homenagem àqueles heróis, anônimos ou não, que em seus laboratórios dedicaram todo o seu tempo ao estudo do vírus e dos meios de combatê-lo, e seguem sem desanimar. Acreditemos na CIÊNCIA e na EDUCAÇÃO.

Nesse turbilhão, chamado 2020, tivemos de nos adaptar, de descobrir meios de continuar contando as nossas histórias. A universidade, cujo espaço físico está silente, carente do fulgor dos seus jovens, devido ao isolamento social, continua a pulsar. Pulsa firmemente, apesar de todas as dificuldades: em seus vários projetos em andamento, nos inúmeros congressos virtuais, em suas bancas examinadoras de graduação, mestrado e doutorado, em suas aulas remotas, e na publicação de suas revistas científicas. Pulsa, enfim, com o símbolo que é seu por natureza – o da resistência.

É nesse cenário que apresentamos mais um número da nossa revista – Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino.

Condizente com sua proposta de tornar-se um espaço diverso, em que diferentes áreas do conhecimento dialoguem, apresentamos, em seu primeiro número de 2020, um conjunto de artigos e uma entrevista em que a interlocução entre História, Educação, Antropologia e Sociologia ficam evidentes e se atualizam em temáticas instigantes.

A Seção de Artigos conta com oito trabalhos. Abre a edição o artigo magistral – Axel Honneth e Paul Ricoeur su identità personale e lotta per il riconoscimento – de autoria de Vereno Brugiatelli. O artigo, que trata do conceito e das implicações da identidade pessoal e da luta por reconhecimento, descreve como Axel Honneth e Paul Ricoeur enfrentaram tal tema, focando na questão do Outro e da percepção ética de si mesmo, desembocando em conclusões sobre os desdobramentos sociais do reconhecimento mútuo. O artigo seguinte – Caetano Veloso, Gilberto Gil E Jorge Mautner: desafetos nas páginas d’O Pasquim – de autoria de Givanildo Brito Nunes e Milene de Cássia Silveira Gusmão – versa sobre a relação de disputa simbólica entre o jornal O Pasquim e os músicos brasileiros exilados durante a Ditadura Militar. O terceiro artigo, Linhas doutrinárias traçadas por Cubberley em gestões de Anísio Teixeira, assinado por Lívia Maria Goes de Britto e Jaci Maria Ferraz de Menezes, discute a influência de Ellwood Patterson Cubberley no pensamento de Anísio Teixeira. O quarto artigo, As políticas educacionais e a Educação de Jovens e Adultos, de Milene de Macedo Sena e Isabel Cristina de Jesus Brandão, discute as políticas educacionais para a Educação de Pessoas Jovens e Adultas no Brasil a partir de bibliografia especializada. Na sequência temos o artigo, A emergência da intelectualidade conservadora no sertão da Bahia: Alfredo Silva e João Gumes, assinado por Danielly Pereira dos Santos e Diego Raian Aguiar Pinto, analisa o pensamento de duas personalidades que atuaram em Caetité em períodos diferentes, mas conectados em seus escritos e intelectualidade. Segue o artigo Educação, música reggae e direitos sociais no Brasil, tendo como autores Iancarlo Almeida da Silva e Olívia Morais de Medeiros Neta, com abordagem inovadora sobre o Reggae, enquanto manifestação cultural brasileira, e seu diálogo com a crítica social e a com a Educação. O artigo seguinte – O ser e o fazer docente no ensino superior no Brasil: desafios contemporâneos, assinado por Laís Paula de Medeiros Campos Azevedo; Nara Lidiana Silva Dias Carlos; Arthur Cássio de Oliveira Vieira, toma como objeto de investigação a docência no Ensino Superior no Brasil, enfatizando o percurso formativo e as práticas pedagógicas. Encerrando a seção temos o artigo Direitos humanos e religiões: e se Deus fosse mesmo um ativista dos direitos humanos?, em que a autora, Ana Luiza Salgado Cunha, reflete sobre a obra de Boaventura de Souza Santos e a relação entre direitos humanos, religião e justiça social.

Na Seção de Entrevista, Edna Pinheiro Santos e Lília de Jesus Nascimento brindam o público apresentando a entrevista concedida pela professora e pesquisadora Dra. Elizabete Conceição Santana, uma das mais importantes pesquisadoras da atualidade no campo da História da Educação. Suas publicações constituem leitura obrigatória para àqueles que desejem conhecer esse campo do conhecimento.

Em tempos de pandemia e isolamento social que a leitura da Revista Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino seja um alento. Boa leitura!

Márcia Cristina Lacerda Ribeiro

Antonieta Miguel

Equipe Editorial


RIBEIRO, Márcia Cristina Lacerda; MIGUEL, Antonieta. Editorial. Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino. Caetité, v.1, n.5, jan. / jun., 2020. Acessar publicação original [DR]

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Domínios Teóricos da História Social e da Educação Histórica / Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino / 2019

Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino tem o prazer de apresentar ao público mais um número. São sete artigos e uma entrevista com temas que refletem os domínios teóricos da História Social e da Educação Histórica. Convém realçar que os textos aqui reunidos traduzem a atenção e o cuidado dos seus autores em provocar discussões que contribuam para o avanço e difusão de informações atinentes aos domínios teóricos.

Compõem a Seção de Artigos textos inéditos que reforçam a perspectiva interdisciplinar deste periódico, sendo eles: “A Representação da Cavalaria Medieval na Trilogia “O Senhor dos Anéis”, assinado por Geisy Stephany Lauton da Silva e Daniela Moura Rocha de Souza; “Há uma Lei específica que cria a profissão de professor no Brasil?” Escrito por Genivaldo Cruz Santos; “Alegorias da Justiça e a República Brasileira (Exercício de Leitura Iconológica), de autoria de Manuel Rolph Cabeceiras, Hiram Alem, Mateus Martins do Nascimento, Douglas Magalhães Almeida, José Luiz Rebelo e Renan Cardoso Galvão; “Espaço Urbano de Vitória da Conquista: lugar de oportunidades. Para quem?”, texto que tem como autores Priscilla Sandes Ferraz e Vilomar Sandes Sampaio; “Evolução e Expansão da Educação Superior no Brasil: uma revisão bibliográfica”, de autoria de Iracema Oliveira Lima e Sandra Regina Arruda; “O Sistema de Seleção Unificada (SISU) e a ausência de políticas de permanência estudantil: análise sobre o crescimento do número de convocações na Universidade do Sudoeste da Bahia – UESB, Campus de Vitória da Conquista – BA”, tendo como autores Ari Fernandes Santos Nogueira, Sheila de Araújo Paiva e Iracema Oliveira Lima; o artigo “Uma dose de História: cachaça de alambique e aguardente de coluna”, Tendo como autores Leonardo Milani Avelar Rodrigues, Andrea Gomes da Silva, Patrícia Beltrão Lessa Constant, Cristiane Patrícia de Oliveira e Alexandre Galvão Carvalho.

Além da seção de artigos, a Revista apresenta uma entrevista com o Professor Demerval Saviani. Fruto de uma conversa estabelecida com a professora Sidnay Fernandes dos Santos, por ocasião do V Seminário Interdisciplinar de Ensino, Extensão e Pesquisa, ocorrido na Uneb, Campus VI, Caetité, nos dias 28, 29 e 30 agosto de 2019, a entrevista apresenta sua trajetória como pesquisador e militante da educação, além de uma série de considerações sobre a importância da Educação como um campo relevante de pesquisa e combate por uma sociedade justa.

Como sempre, desejamos a todos aqueles que acessam e colaboram com a Revista uma excelente leitura! Nossa expectativa habitual é a de facultar aos leitores e aos pesquisadores debates que interessem às Ciências Sociais como a cultura, as diversas linguagens, a educação, dentre outros temas que se encontram em consonância com o que se propõe este periódico.

Genilson Ferreira da Silva

Márcia Cristina Lacerda Ribeiro


SILVA, Genilson Ferreira da; RIBEIRO, Márcia Cristina Lacerda. Editorial. Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino. Caetité, v.2, n.2, jul. / dez., 2019. Acessar publicação original [DR]

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História e memória da educação / Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino / 2019

Este volume da Revista Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino é dedicado ao tema “História e memória da educação”. Para tanto, tecemos algumas considerações a respeito das próprias noções de história e de memória. O alargamento e a aceleração da produção de estudos em ambos os campos, tem engendrado uma certa fusão e confusão entre as mesmas (SILVEIRA, 1996, p. 15).

Pierre Nora nos demarca que memória e história não são sinônimos, mas conceitos opostos. Na força de suas palavras:

A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está sempre em evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a todos os usos e manipulações, susceptível de longas latências e de repentinas revitalizações. A história é a reconstrução sempre problemática e incompleta do que não existe mais (NORA, 1993, p.1).

Autores que estudam a memória (BOSI, 1979; NORA, 1984; HALBWACHS, 1990; POLLAK, 1992; LE GOFF, 1996; KESSEL, 2016) assinalam que a rememoração individual se faz na tessitura das memórias dos diferentes grupos com que nos relacionamos. O indivíduo carrega em si a lembrança, mas a ação de lembrar é feita na interação com a sociedade, com grupos e instituições em que participa. É no contexto destas relações que construímos as nossas memórias.

A produção da história, por outro lado, ultrapassa o registro do depoimento, das informações contidas nas mais diversas materialidades, e se volta para a reflexão teórica e metodológica na construção do conhecimento. Para André Burguière o que confere valor ao trabalho do historiador não é a qualidade das fontes que ele conseguiu descobrir, mas a capacidade praticamente infinita de interrogá-las (1993, p. 54).

No campo da história e memória da educação podemos tratar da cultura difundida e praticada na instituição, enfocando também as práticas educacionais. Podemos igualmente pensarmos na reconstrução da memória audiovisual e documental por meio da seleção de fontes iconográficas, como fotografias, plantas arquitetônicas, filmes, entrevistas e documentação escrita. Há a possibilidade também de valorizarmos a rede de configurações socioculturais estabelecidas pelo corpo docente e discente, trabalhando-se com a memória coletiva.

Pari pasu, neste volume são apresentados 13 (treze) artigos que discorrem sobre história e memória a partir de temáticas alusivas aos acervos e fontes, a história do ensino e suas práticas pedagógicas, agentes e instituições educativas.

Aproveitamos para desejar uma boa leitura a todos e que a temática do volume inspire novos pesquisadores a realizarem investigações no campo da história da educação.

Referências

BOSI, Ecléa. Memória & sociedade: lembrança de velhos. São Paulo: T.A. Editor, 1979.

BURGUIÈRE, André. Dicionário das Ciências Históricas. Rio de Janeiro: Imago, 1993.

HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.

LE GOFF, J. História e Memória. 2. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 1996.

KESSEL, Zilda. Memória e memória coletiva. Disponível em: acesso em 28 / 04 / 2016

NORA, Pierre. Les Lieux de mémoire. Paris: Gallimard, 1984, v. 1.

NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Proj. História, São Paulo, (10), dez. 1993.

POLLAK, M. Memória e identidade social. Estudos Históricos, v. 5, n.10, 1992

SILVEIRA, Rosa Maria Godoy. Recuperar a memória, fazer história. In: Debates Regionais III: Fazer História, (des) construção e (in)certeza. João Pessoa: Almeida Gráfica e Editora Ltda / NDIHR / ANPUH,1996.

Olivia Morais de Medeiros Neta

Maria Inês Sucupira Stamatto

Genilson Ferreira da Silva

Marcia Cristina Lacerda Ribeiro


MEDEIROS NETA, Olivia Morais de; STAMATTO, Maria Inês Sucupira; SILVA, Genilson Ferreira da; RIBEIRO, Marcia Cristina Lacerda. Apresentação. Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino. Caetité, v.1, n.3, jan. / jun., 2019. Acessar publicação original [DR]

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Tempo presente: História, Educação e Educação Histórica / Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino / 2018

O nosso objetivo com o dossiê, Tempo presente: História, Educação e Educação Histórica, foi apresentar aos nossos leitores trabalhos acadêmicos que podem trazer o Presente à reflexão enquanto temporalidade histórica e objeto de interesse historiográfico, com as perspectivas e abordagens temáticas e metodológicas suscitadas. Atendendo ao nosso chamado, pesquisadoras e pesquisadores, de diferentes origens geográficas, agraciaram-nos com estes trabalhos que nos dão a dimensão da importância dos estudos e discussões nos campos da História, História da Educação e Educação Histórica.

O texto, Entre consciência histórica e narrativa mestra: a identidade na narrativa de jovens graduandos em história da cidade de Ponta Grossa, Paraná, de Giuvane de Souza Klüppel e Luís Fernando Cerri apresenta resultados parciais do projeto de pesquisa: O país e o mundo em poucas palavras: narrativas de jovens sobre seus pertencimentos – implicações para o ensino de Ciências Humanas. Os pesquisadores aplicaram questionários qualitativos a estudantes de diferentes níveis de ensino na cidade de Ponta Grossa – faixa etária entre 12 e 24 anos – para conhecer suas narrativas sobre “a história do seu país” e sobre “o desenvolvimento da democracia”. Os dados, produzidos pelos 277 questionários aplicados, foram analisados com o auxílio de softwares que tornaram possível sistematizar, em formato de gráfico, dados como: frequência no uso de determinados termos, com potencial para desvelar sentidos de conjuntos discursivos. A análise foi realizada à luz de reflexões teóricas sobre Consciência Histórica, baseada nas pesquisas do historiador Jörn Rüsen; e sobre Narrativa Mestra, com base no trabalho de Mario Carretero e Floor Van Alphen. As reflexões dos autores nos apresentam elementos para melhor compreender os processos de construção de narrativas sobre a nação e o mundo por parte de jovens de diferentes idades e em diferentes etapas de escolarização. Também nos possibilitam compreender sobre os sentidos que eles atribuem às inter-relações entre passado, presente e futuro na construção de suas narrativas em temas como identidade nacional e democracia / convivência democrática.

Maryana Gonçalves Souza e Antonieta Miguel, em A docência em Guanambi durante a ditadura militar: uma análise sobre o Colégio Luiz Viana Filho, investigam as características dos professores e permitem discutir sobre instrução, formação docente e composição escolar do referido Colégio, sob o recorte temporal da ditadura militar brasileira. Segundo as autoras, a ditadura militar foi uma forma de governo que interferiu diretamente em diversos públicos e, em razão de os docentes terem sido um dos principais agentes de combate ao regime, o trabalho docente pode se tornar uma fonte de pesquisa sobre esse período histórico. As autoras apresentam o resultado da pesquisa em que fizeram o cruzamento entre os dados bibliográficos sobre a História da Educação, instituições escolares e corpo docente com a documentação do arquivo da instituição, seguida da catalogação das fontes. A partir da análise dos documentos, em particular das instituições escolares da cidade de Guanambi, Estado da Bahia, as pesquisadoras esboçam um panorama do campo educacional brasileiro no período ditatorial.

O terceiro texto que compõe este dossiê é de autoria de Polliana Moreno dos Santos e se intitula: Religiosos e a «não-violência ativa» na memória mediatizada dos 50 anos do golpe civil-militar no Brasil (1964-1985). A autora aborda questões que possibilitam o diálogo da História do Tempo Presente com a História Pública. Discute, com propriedade, a participação de religiosos na resistência contra a Ditadura Civil-Militar (1964-1985). Apresenta como eixo a memória mediatizada presente na série jornalística “Silêncios da Ditadura” exibida pelo jornal SBT Brasil, considerando o contexto da justiça de transição no Brasil e os estudos da História do Presente. O episódio analisado é a Operação Gutemberg, organizada pelos militares com o objetivo de controlar a missa em memória do jornalista Vladimir Herzog, assassinado nos porões do DOI-CODI, evitando, destarte que se transformasse num ato político. Esta cerimônia religiosa foi realizada por três figuras importantes da resistência à Ditadura: o rabino Henry Sobel, o arcebispo Dom Evaristo Arns e o reverendo Jaime Nelson Wright. A disputa de narrativas, tão característica dessa História, fez-se relevante por revelarem os contextos nos quais cristãos, ou não, estiveram envolvidos, construindo uma memória mediatizada. A autora sinaliza que, cada vez mais, é importante aceitar os desafios de disputar memórias e narrativas da História.

Fruto de sua pesquisa de mestrado, o artigo de Vânia Muniz dos Santos, Orientando crianças, jovens e adultos: ações da Bahia na promoção da Educação Moral e Cívica durante o regime militar, faz algumas considerações sobre ações impostas no Estado da Bahia, durante o Regime Militar, no que concerne à organização da Coordenação de Educação Moral e Cívica – COMOCI / BA –, responsável, no âmbito estadual, por coordenar e fiscalizar as ações desenvolvidas nas instituições escolares na disciplina Educação Moral e Cívica. Através da análise de documento, que elucidam a forja das políticas educacionais pelo Conselho Estadual de Educação, o texto traz elementos para a reflexão sobre a importância desta disciplina escolar para atingir os propósitos do regime ditatorial.

E, para finalizar, contamos com o artigo A área de estudos sociais no uso dos estudos dirigidos no ginásio vocacional Oswaldo Aranha (SP, 1962- 1964), colaboração de Yomara Feitosa Caetano de Oliveira Fagionato. A autora apresenta as múltiplas apropriações dos docentes da área de Estudos Sociais do uso dos Estudos Dirigidos na cultura escolar da mencionada instituição educativa de 1962 até o golpe de 1964. Chamando a atenção para a importância da discussão sobre o conceito de cultura escolar e de como este conceito pode ser ampliado para outras análises, a exemplo da cultura escolar vocacional de 1964, que transformou a disciplina Estudos Sociais em área, quando passou a enfrentar novos dilemas a ponto de se produzir uma nova cultura escolar. Para tanto, a autora recorta seu estudo no período inicial da Ditadura Civil Militar, 1962 até 1964. De forma responsável, a autora faz usos de fontes como relatórios, planejamentos e práticas educativas dos professores de Estudos Sociais, que são analisadas metodologicamente de forma qualitativa sustentada pela noção de apropriação cunhada por Roger Chartier (1988; 2002). A autora organiza o texto em duas seções, na primeira, analisa os Estudos Dirigidos nos planejamentos da cultura escolar vocacional em uma sociedade democrática; e, na segunda parte, analisa essa mesma prática registrada nesse conjunto de fontes escolares docentes do ano 1964, quando se forja uma nova cultura escolar. Os resultados possibilitam perceber as inquietações docentes ao refletirem sobre esses saberes voltados para uma sociedade brasileira democrática.

A História nos diz muito sobre a sociedade contemporânea, desde as suas prioridades e de seus valores até sobre comportamentos e atuações dos diversos grupos sociais que a compõe. A História do Tempo Presente reafirmou, no século XX, que testemunhos históricos são fonte histórica legítima, a história contemporânea pode ser objetiva, a memória oral não é mais problemática que a escrita, a função política da História em formar cidadãos pode partir de fatos de passados recente como remotos e, finalmente, o compartilhamento do tempo histórico do historiador com aqueles que fazem a história pode ter um lado positivo, visto que o historiador deve dividir “(…) com os que fazem a história, seus atores, as mesmas categorias e referências. (…) a falta de distância, ao invés de um inconveniente, pode ser um instrumento de auxílio importante para um maior entendimento da realidade estudada (…). (CHARTIER, 1993 apud FERREIRA, 2000, p.10).

Referências

CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Tradução: Maria Manuela Galhardo. Lisboa, Portugal: DIFEL, 1988.

______. À beira da falésia: a história entre incertezas e inquietudes. Porto Alegre: Editora da Universidade / UFRGS. 2002

FERREIRA, Marieta de Moraes. História do tempo presente: desafios. Cultura Vozes, Petrópolis, v.94, n.3, p.111-124, maio / jun., 2000.

Celia Santana Silva – Doutora em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Professora da Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias, Campus XVIII / Eunápolis. E-mail: celiasantanauneb@gmail.com

Luciana Oliveira Correia – Doutora em Educação pela Universidad de Alcalá. Professora da Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências Humanas, Campus VI / Caetité. E-mail: lcorreia@uneb.br


SILVA, Celia Santana; CORREIA, Luciana Oliveira. Apresentação. Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino. Caetité, v.1, n.2, jul. / dez., 2018. Acessar publicação original [DR]

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História e Educação: sujeitos e práticas / Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino / 2018

O Dossiê “História e Educação: sujeitos e práticas” reúne artigos que versam sobre temáticas educacionais numa perspectiva histórica, com abordagens que dialogam com a historiografia e a pesquisa educacional. O papel e a importância da Educação (formal e não-formal) para a emancipação dos sujeitos e para a construção de uma sociedade mais igualitária é quase um consenso entre os intelectuais comprometidos com valores humanistas. Assim, é sempre relevante que as pesquisas sobre esse objeto (a Educação) possam circular através dos meios de comunicação científica como esse periódico, em cujo escopo está presente a preocupação em levar ao leitor reflexões sobre a História, a História da Educação e as Práticas do Ensino de História.

O artigo de autoria de Fabiano Moreira da Silva – “Professoras do ensino primário de Salvador: queixas, pedidos e reivindicações (1912-1918)” – exibe a capacidade de luta e mobilização das professoras e dos professores no início do século XX contra a precarização das condições de ensino, a falta de recursos financeiros e a baixa remuneração da categoria. A realidade educacional e a atuação política de professores descritas, mesmo distante no tempo, permite ao leitor verificar muitas permanências no sistema educacional brasileiro atual.

No artigo – “A teia entretecida entre Educação e Religiosidade: uma análise a partir da trajetória de Albertino Marques Barrêto (Brumado, 1954 – 1974) – Rui Marcos Moura Lima trata das relações entre educação e religião no âmbito do Centro Espírita Fraternidade, na cidade de Brumado, Bahia, a partir da narrativa da trajetória de Albertino Marques Barrêto. Migrante mato-grossense, chegou à cidade de Brumado na década de 1940 e foi um dos fundadores do referido Centro, em 1951, e de dois cursos de alfabetização de adultos, que funcionou na sede do Centro. Figura de destaque na sociedade brumadense, tanto pelo seu pioneirismo na comunidade espírita quanto pela obra educativa realizada, sua trajetória de vida nos deixa entrever como esse sujeito pensou e sentiu a educação em sua bem “entretecida teia” com a religiosidade.

Em “O aprendizado pela paisagem: questões para uma abordagem no ensino de História”, Eudes Maciel Barros Guimarães apresenta a dimensão histórica da categoria “paisagem” e aponta possibilidades teórico-metodológicas para a abordagem de documentos visuais nas aulas de História do Ensino Médio. O foco da discussão incide nas representações visuais da “caatinga”. O autor utiliza ilustrações de desenhistas, como Percy Lau e Von Martius, presentes nas páginas da Revista Brasileira de Geografia de1949. A análise das representações visuais leva em consideração expoentes teóricos dos campos da Geografia, da semiótica e das análises iconográficas.

Em contexto mais atual, o artigo “A política de formação continuada para professores da Educação Infantil no contexto capitalista”, de Isabel Cristina de Jesus Brandão e Jorsinai de Argolo Souza, aborda a formação continuada de Professores. Com o recorte voltado para a realidade da cidade de Itapetinga, na Bahia, e focalizando a formação continuada dos professores da Educação Infantil, as autoras propõem uma abordagem dialética, relacionada com o processo de reestruturação do capitalismo e com as reformas neoliberais que impactaram sobremaneira as políticas educacionais.

Na conjuntura de crise política vivenciada atualmente no nosso país, com recuo das práticas democráticas consolidadas nos últimos 30 anos e o simultâneo avanço de ideologias conservadoras em diversos setores, a Educação formal tornou-se alvo de propostas de reformas curriculares que pouco traduzem o conhecimento científico acumulado na área. Nessa conjuntura pouco animadora, é importante um veículo de difusão e reflexão sobre os caminhos da Educação no Brasil, capaz de colocar na ordem do dia os debates fundamentais.


Editores. [História e Educação: sujeitos e práticas]. Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino. Caetité, v.1, n.1, jan. / jun., 2018. Acessar publicação original [DR]

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