Identidades e representações: pensamentos e práticas históricas / Oficina do Historiador / 2014

O século passado foi o mais mortífero de toda a história documentada, o número de mortes causadas pelas guerras foi estimado em 187 milhões de pessoas e mesmo tendo essa consciência o que o homem faz para conter? Eric Hobsbawm, um dos maiores historiadores contemporâneos, questiona como haveremos de viver neste mundo perigoso, desequilibrado e explosivo, em meio a grandes deslizamentos das placas tectônicas nacionais e internacionais, sociais e políticas? Tendo como centro do mundo uma política megalomaníaca dos Estados Unidos, principalmente após o 11 de setembro.[1]

Segundo o mesmo historiador: todo ser humano tem consciência do passado e na maioria das vezes lidamos com sociedades para as quais o passado é essencialmente o padrão para o presente. Para Hobsbawm, o historiador não pode ser apenas um simples reprodutor, deve ser criador. [2]

Em busca de criações e interpretações historiográficas, a Equipe Editorial da Oficina do Historiador: revista discente do Programa de Pós-Graduação em História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, apresenta ao público acadêmico a edição Identidades e representações: pensamentos e práticas históricas.

Criada em setembro de 2009 como resultado de um projeto coordenado pela Doutora Janete Silveira Abrão, a primeira edição foi lançada no 1º semestre de 2010 e desde então, contou com edições regulares a cada 6 meses. Posteriormente, o Doutor Marçal de Menezes Paredes, ocupou o cargo de editor até o 1º semestre de 2014, momento em que assumi a direção do periódico. Mantendo a tradição da autonomia discente, a OH que é classificada pela Qualis / CAPES como B1, define-se como um espaço de veiculação de produção científica e pesquisas desenvolvidas por docentes e principalmente, por alunos dos diversos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em História do país.

Com a nova gestão editorial algumas mudanças foram implementadas na intenção de aprimorar a qualidade da revista em busca da internacionalização. A partir de agora os artigos em formato eletrônico da revista OH estão indexados no Directory of Open Access Journals (DOAJ), para acesso pela comunidade científica internacional. Com uma nova composição do Conselho Consultivo, formada por pesquisadores da Alemanha, Argentina, Brasil, França, Hungria, Portugal e Uruguai, o periódico possui uma excelente Equipe Editorial que é formada por doutorandos e mestrandos do PPGH / PUCS. Através da árdua dedicação acadêmica dos discentes a revista é mantida e projetos futuros são organizados de forma cada vez mais ativa. Dessa forma, parabenizo a equipe composta pelos doutorandos (as): Daniela Garces de Oliveira, Fernanda de Santos Nascimento, Geandra Denardi Munareto, Geneci Guimarães Oliveira, José Oliveira da Silva Filho, Leonardo Oliveira Conedera, Luciana da Costa de Oliveira e Priscila Weber, além da mestranda Egiselda Charão e do mestrando Waldemar Dalenogare.

A edição desse semestre apresenta algumas mudanças, como a ampliação do número de artigos, totalizando 12 sérios estudos que são resultado de pesquisas acadêmicas de vários institutos de investigação do Brasil (FEEVALE, PUCRS, UEG, UFMG, UFPE, UFPR, UFRJ, UFRN e UFSJ) e da Europa (Université Paris Diderot – Paris 7 – Università di Bologna). A diversificação das instituições demonstra o impacto do periódico e a aceitação entre os acadêmicos, contribuindo assim, com a possibilidade de ter acesso a pesquisas recentes e cada vez mais atualizadas no âmbito historiográfico. A nova edição da OH apresenta ao leitor duas resenhas, oriundas de pesquisadores da UFRGS e UNICAMP que trazem à baila reflexões de novas publicações editoriais.

A principal novidade está na última seção da revista. Em todos os números, haverá um espaço destinado à divulgação de um material extra que contribua com o debate e pesquisas universitárias. No v. 7, n. 2, temos a satisfação de contar com uma excelente entrevista do Presidente da Associação Nacional dos Historiadores (ANPUH), Doutor Rodrigo Patto de Sá Motta, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que esclarece uma série de questões sobre a profissionalização do historiador, que é ainda hoje umas das poucas atividades sem regulamentação. Desde a década de 1960, o assunto é debatido no Congresso Nacional e sempre caiu no esquecimento.[3] A retomada do debate ocorre após um intenso envolvimento dos historiadores no processo de regulamentação através da ANPUH, principalmente na gestão dos últimos presidentes da associação, Doutor Durval Muniz de Albuquerque Júnior (UFRN), Doutor Benito Bisso Schmidt (UFRGS) e agora com o nosso atual representante, que mantém viva a esperança da profissionalização.

Agradecemos a todos os que fizeram possível mais este número, em especial aos autores que escolheram a OH para exporem suas pesquisas, à equipe editorial, à coordenação do PPGH / PUCRS por todo apoio e principalmente aos leitores, que correspondem ao principal objetivo da revista.

Notas

1. HOBSBAWM, Eric. O terror. In: ______. Globalização, democracia e terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

2. HOBSBAWM, Eric. Tempos Interessantes: uma vida no século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

3. GONÇALVES, Leandro Pereira. Historiador. In: SCHWARZ, Rodrigo Garcia. (Org.). Dicionário de Direito do Trabalho, de Direito Processual do Trabalho e de Direito Previdenciário aplicado ao Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2012, p. 517-519.

Leandro Pereira Gonçalves – Professor do PPGH / PUCRS e Editor da Oficina do Historiador


GONÇALVES, Leandro Pereira. Apresentação. Oficina do Historiador. Porto Alegre, v. 7, n. 2, jul. / dez., 2014. Acessar publicação original [DR]

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História e pensamento histórico / Tempo e Argumento / 2014

Esta edição da Revista Tempo & Argumento circula com duas mudanças que consideramos importantes: ela passa a ser de publicação trianual e, ao mesmo tempo, inaugura a sistemática de apresentar, em cada número, alguns artigos em duas línguas. Este número, em especial, contou com a colaboração dos professores Cosme Jesús Gómez Carrasco, Jorge Ortuño Molina e Sebastián Molina Puche da Universidade de Murcia (Espanha) que propuseram e organizaram o dossiê História e Pensamento Histórico que reuniu artigos de professores pesquisadores de universidades tanto da Espanha, como da França, EUA, México, Brasil e Austrália.

Com o artigo intitulado Aprender a pensar historicamente. Retos para la historia en el siglo XXI, os professores organizadores do dossiê discutem a necessidade de aprofundar as discussões sobre a epistemologia da história de forma a contribuir para a compreensão histórica. Seus argumentos são desenvolvidos de forma a entender que a história não se resume a acumular informações sobre o passado, mas sim a desenvolver processos complexos de pensamento que possibilitam interpretar os conhecimentos sobre o passado a partir de estratégias próprias da história, como área de conhecimento.

No artigo intitulado Crenças epistêmicas em mudança? Um estudo investigativo do conhecimento entre futuros professores de história, Bruce VanSledright e Kimberly Reddy, a partir de pesquisa com futuros professores de história que frequentaram um curso oferecido em uma universidade dos Estados Unidos, investigam quais as suas crenças em relação ao estatuto epistemológico da história e se estas se modificaram no decorrer deste curso.

Sebastián Plá, professor da Universidad Nacional Autónoma de México, discute os impactos no ensino de história a partir das mudanças implementadas pelo governo nacional nos anos 2000 e 2012. Segundo ele, essas mudanças foram desenvolvidas a partir de avaliações nacionais e internacionais que estabeleceram conteúdos históricos a partir de padrões mensuráveis com a finalidade de desenvolver competências e habilidades para formar um sujeito cognocente universal. Em seu artigo intitulado Qualidade educativa e ensino da história nos governos neoconservadores no México (2000-2012), conclui que “a qualidade educativa e a ideia de sujeito universal são profundamente excludentes em relação a outras formas de pensar o passado dentro da escola”.

Na mesma temática, Benoit Falaize, professor da Universidade de Cergy Pontoise, em seu artigo O ensino de temas controversos na escola francesa: os novos fundamentos da história escolar na França?, discute as transformações no ensino de história na França nas últimas décadas e o rompimento com uma tradição escolar e acadêmica francesa de uma história imóvel e chauvinista, marcada por figuras heróicas cuja história se confundia com a história nacional. Segundo o autor, as mudanças na educação escolar francesa, têm relação com a virada memorial dos anos 1980 que colocou em discussão questões traumáticas da história nacional como o holocausto e a colonização.

No artigo La Historia Social de la familia en España y su repercusión en la Didáctica de las Ciencias Sociales, Juan Hernández Franco e Raimundo A. Rodríguez Pérez fazem uma reflexão sobre os impactos dos estudos de história social da família, desenvolvidos tardiamente na Espanha em relação a outros países, no ensino das ciências sociais. Já Raquel Sánchez Ibáñez e Pedro Miralles Martínez no artigo intitulado Pensar a las mujeres en la historia y enseñar su historia en las aulas: estado de la cuestión y retos de futuro, também se propõem a refletir sobre a produção acadêmica sobre a história das mulheres e seus ecos na educação secundária obrigatória e nos materiais didáticos produzidos, principalmente livros textos. Em ambos os artigos, os autores concluem sobre a dificuldade de levar para os espaços não acadêmicos as contribuições dos estudos dos especialistas de cada área.

O artigo As concepções de verdade histórica e intersubjetividade no conhecimento histórico de jovens estudantes do ensino médio, de Marcelo Fronza, fecha o dossiê História e Pensamento histórico. Nele são investigados como os estudantes de ensino médio entendem a verdade histórica e a intersubjetividade do conhecimento histórico. Para isso, o autor analisou a resposta de jovens de quatro escolas públicas à pergunta: Para você, o que é história?

Além dos artigos do dossiê, este número da Tempo & Argumento traz outras importantes contribuições na forma de quatro artigos, uma entrevista e uma resenha. Renata Meirelles em seu artigo intitulado A Anistia Internacional e o Brasil: o princípio da não violência e a defesa de presos políticos, analisa a partir do conceito de compaixão de Hannah Arendt com foi a atuação da Anistia Internacional durante os governos militares no Brasil. No artigo O retorno do imortal: D. Pedro I mitificado pelos militares nas representações imagéticas das Revistas O Cruzeiro e Manchete no Sesquicentenário da Independência (1972), Cristina Ferreira e Evander Ruthieri Saturno da Silva problematizam as imagens veiculadas por ocasião das comemorações desse acontecimento em 1972. Para isso, os autores utilizaram as reportagens veiculadas nas revistas O Cruzeiro e Manchete, a fim de analisar o esforço empreendido pelo governo brasileiro à época em reconstruir a imagem de D. Pedro I a partir de suas façanhas militares. Memórias e representações dos estudantes secundaristas desaparecidos durante a última ditadura civil-militar argentina (1976 – 1983), discute as representações e memórias produzidas na Argentina pós-ditatorial sobre os desaparecidos. Para sua análise, Marcos Tolentino foca o estudo nos estudantes secundaristas a fim de analisar quais os elementos e os silenciamentos que vão formar as memórias sobre este grupo durante o período ditatorial e também no período democrático. E, fechando a sessão de artigos, Luiz Augusto Mugnai Vieira Júnior, em seu texto intitulado Os debates em torno da ilegalidade do aborto: da luta pela autonomia reprodutiva feminina à esfera legal dos projetos de leis, interpreta as disputas discursivas em torno do tema do aborto no Brasil. O tema, muito atual, dá possibilidades para refletir sobre os discursos em relação à mulher no Brasil, especialmente, os discursos morais sobre esta questão.

Na resenha Ditadura e democracia: entre memórias e história, os mestrandos Hudson Campos Neves e Luisa Rita Cardoso analisam o livro de Daniel Aarão Reis Filho, Ditadura e Democracia no Brasil: do Golpe de 1964 à Constituição de 1988, publicado este ano pela editora Zahar. O livro, escrito por um especialista no tema, traz uma importante contribuição para o debate no ano em que se completam 50 anos da deposição do poder de João Goulart.

Para fechar esta edição, apresentamos a entrevista com a historiadora María del Mar del Pozo Andrés, da Universidade de Alcalá-de-Henares, na Espanha. Em Escribir una biografia es una experiencia investigadora fascinante, a professora espanhola dialoga com o Norberto Dallabrida sobre a experiência de escrever uma biografia, dos documentos utilizados e das escolhas teórico-metodológicas para acessar o passado a partir de uma perspectiva micro-macro da história.

A todos e todas desejamos uma boa leitura.

Luciana Rossato

Maria Teresa Santos Cunha

Editoras- Chefe


CUNHA, Maria Teresa Santos; ROSSATO, Luciana. Editorial. Tempo e Argumento, Florianópolis, v.6, n.11, 2014. Acessar publicação original [DR]

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Pensamento histórico: teorias, métodos, conceitos / Revista de Teoria da História / 2011

Consolidando o debate sobre a pertinência da Teoria da História para o desenvolvimento do pensamento histórico, este número visa instigar reflexões acerca de sua relação com o trabalho conceitual e metodológico.

Abrindo o Dossiê Pensamento histórico: teorias, métodos, conceitos, o artigo do Professor convidado José Carlos Reis, O lugar da teoria-metodologia na cultura histórica, trabalha a necessidade da reflexão teórico-metodológica em todos os âmbitos do pensamento histórico, evitando restringi-la a etapas isoladas do fazer historiográfico, incorrendo em uma compartimentação estanque na própria pesquisa historiográfica e na cultura histórica em geral. Para o professor, tal reflexão deve ultrapassar as demandas institucionais da História como disciplina acadêmica. Leia Mais