Transvaloração e redenção na filosofia de Nietzsche: o niilismo tornado história | Ildenilson Meireles

Ildenilson Meireles Filosofia de Nietzsche
Ildenilson Meireles | Imagem: PPGDS/UNIMONTES

O que torna um texto entendível? Existe relação entre inteligibilidade e qualidade de uma obra? Por que aparenta que nem sempre filósofos fazem questão de se compreender? Não são essas perguntas que se quer responder aqui, mas elas têm ligação com a forma dada à narrativa produzida por Ildenilson Meireles ao publicar como livro o resultado de seu doutoramento, em 2009, pela Universidade Federal de São Carlos.

Anos após a defesa da tese, a obra Transvaloração e Redenção na Filosofia de Nietzsche: o niilismo tornado história, pode ser uma potente ferramenta de “tradução”, talvez até de “simplificação”, de elementos que compuseram parte da filosofia nietzscheana que, por vezes, é colocada como coisa “nebulosa”, rodeada por entraves e complicações, “coisa para poucos”. Como bem reconhece Meireles, a publicação vai a público como “uma necessidade de devolver a estudantes de graduação, pelo menos, o fruto de um trabalho acadêmico sobre um Nietzsche que ainda se pode ler com interesse e curiosidade” (p. 10). Parece ser esse, inclusive, o sentido da circularidade e repetição, ao longo da narrativa, de algumas noções que antes já haviam sido explicitadas por ele. Repetir não para fixar ou ser redundante, mas para esmiuçar mais, por cuidado com quem lê. Não se trata, porém, de “mastigar”, de “pegar na mão” do leitor. Trata-se, sim, de conduzir a leitura, de apresentar conceitos e termos, de destacar como tal noção se apresenta em tal obra de determinado período, de ir e voltar quando convém, de passar por outros nomes que, de algum modo, atravessam o entendimento da filosofia de Nietzsche. Leia Mais

A formação da coleção latino-americana do MoMA: Arte, cultura e política (1931- 1943) | Eustáquio Ornelas Cota Junior

Publicada pela Paco Editorial em 2019, a obra Formação da Coleção Latino-Americana do MoMA: Arte, cultura e política (1931-1943), propõe historicizar os primeiros anos de funcionamento do Museu de Arte Moderna de Nova York, refletindo sobre a criação e trajetória do acervo de obras latino-americanas da instituição. O livro em questão é uma versão revisada da dissertação de Eustáquio Ornelas Cota Jr., defendida no Programa de Pós-graduação em História da Universidade de São Paulo em 2016. Mobilizando um grande levantamento de documentos institucionais do MoMA, o historiador problematiza a constituição da coleção latino-americana do museu, entrecruzando esse processo às dimensões culturais e políticas das relações entre Estados Unidos e América Latina.

Eustáquio Ornelas Cota Jr. defende a articulação da instituição com a política da Boa Vizinhança, especialmente pela atuação da família Rockfeller, tendo Nelson Rockfeller sido presidente do MoMA. Além da relação política e consonância com um projeto de imperialismo estadunidense instaurado na gestão de Franklin D. Roosevelt, o historiador também aborda a problemática das identidades latino-americanas ao considerar que a formação dessa coleção de arte foi fundamental para a construção de discursos e representações sobre as culturas latinas sob a perspectiva dos Estados Unidos. Como tese central, a obra defende “a confluência entre as diretrizes da chamada política da Boa Vizinhança vigente nos Estados Unidos desde 1933 e a decisão de ampliar a inicial coleção de arte moderna mexicana, transformando-a em latino-americana”. (p. 215).

Estruturada em três capítulos, para além de introdução e conclusão, a obra se insere no campo da História da Arte nas Américas, em interface com a História Cultural e a nova História Política. A partir dos estudos de Peter Burke, Eustáquio Ornelas Cota Jr. considera que a arte não pode ser “desconectada do contexto e dos conflitos culturais do momento histórico, nem tampouco ela se configure apenas como um mero reflexo do contexto social. A arte atua para a construção de sentidos e se torna um importante testemunho do processo histórico” (p. 19). Neste sentido, sua abordagem parte de um estudo ampliado da arte, considerando-a como uma produção humana e um produto de seu tempo, mas que é constantemente ressignificada sob o olhar e a ação do “presente” dos sujeitos que a mobilizam. Essa perspectiva, parte de leituras contemporâneas do historiador da arte Georges Didi-Huberman, influenciada pelas teorias da montagem de Aby Warburg, compreendendo a existência de múltiplas relações entre imagem e tempo.1 Como destaca Maria Bernardete Ramos Flores, essa abordagem considera que “as imagens têm uma história, mas o que elas são, seu movimento próprio, seu poder específico, só aparecem na história como ‘sintoma’ de durações heterogêneas: a abertura repentina para um tempo pretérito e a aparição de uma latência ou de uma sobrevivência; da estranha conjugação entre diferença e repetição”. 2

O primeiro capítulo da obra, “O MoMA e a formação de sua coleção latino-americana”, aborda a criação do projeto do Museu de Arte Moderna de Nova York a partir de documentos institucionais disponíveis no próprio acervo da instituição, como press releases e publicações oficiais. Ao analisar o início do projeto do museu, Cota Jr. defende o protagonismo feminino na fundação, com destaque para três mulheres da elite estadunidense: Lillie P. Bliss, Mary Quinn Sullivan, Abby Aldrich Rockefeller. O MoMA, que abriu as portas oficialmente em 07 de novembro de 1929, tinha como pretensão ser uma das instituições de referência mundiais sobre arte moderna, projeto que foi capitaneado pelo historiador da arte Alfred Barr Jr., convidado a ser o primeiro diretor do museu. Segundo o autor, Alfred Barr Jr. possuía uma visão bastante ampla sobre o que seria a arte moderna, defendendo que as características desta classificação só poderiam ser percebidas pelas próprias obras.

Alfred Barr foi central para o estabelecimento do projeto do MoMA como um espaço aberto a experimentações artísticas, o que afastou o museu de outras instituições já consolidadas na mesma cidade como o Metropolitan Museum of Art. Apesar desse perfil, isso não significou que o MoMA estivesse fora de seu contexto social e político. Mesmo com o financiamento de elites locais e o apoio da família Rockfeller, o museu foi criado em um período de recessão econômica e da crise de 1929, o que contribuiu para que se criassem projetos de exposições temporárias e circulares em diferentes regiões do país e do continente americano. A ideia das exposições de circulação foi fundamental, segundo o historiador, não apenas para a manutenção financeira da instituição, mas também para a divulgação do MoMA e, principalmente, para constituição de seu acervo criado a partir de dois perfis de aquisição de obras: doações e compras.

Neste primeiro capítulo, Eustáquio Ornelas aborda os primeiros passos da constituição da coleção latino-americana do MoMA, iniciada em 1935 com a doação da obra Subway de Orozco pela Sra. John D. Rockefeller. Destacando a aquisição de obras de países como México e Brasil, o historiador aponta para o alinhamento da formação da coleção com as diretrizes da política externa estadunidense para o continente latino-americano. Uma das contribuições principais do autor neste capítulo é a observação da tentativa de construção de representações sobre a América Latina visando a trabalhar um imaginário sobre as culturas latino-americanas pela população (em especial a elite) estadunidense. Além disso, o acervo do museu (que continha também obras de artistas estadunidenses) foi utilizado na criação de exposições itinerantes específicas para a América Latina, integrando os projetos do Office of the Coordinator of Inter-American Affairs.

O segundo capítulo da obra, intitulado “O catálogo da coleção e a história da arte latinoamericana contada por Lincoln Kirstein” analisa a principal fonte na qual se baseia o estudo: o catálogo da exposição “The Latin-American Collection of the Museum of Modern Art” (1943). A partir da publicação, o historiador problematiza a narrativa e o projeto cultural de criação da coleção latino-americana no MoMA, com destaque para o ensaio sobre a história da arte latina publicado por Lincoln Kirstein, consultor de arte latino-americana, no catálogo. Reflete-se sobre a construção do próprio acervo, e da equipe que dirigia o museu em 1943, defendendo que tal formação não pode ser vista como um empreendimento individual ou excluído de seu contexto, para em seguida se pensar quais eram os principais países representados no MoMA.

Países como México e Brasil seguiram ocupando as primeiras posições na nacionalidade das obras presentes na coleção, mas foi registrado um crescimento no número de obras argentinas e cubanas. Ao analisar os países de origem das obras, Cota Jr. considera que a coleção em 1943 estava “longe de ser um conjunto amplamente representativo no que se refere à arte produzida nos países da América Latina” (p. 104). Esse aspecto problemático é um dos pontos de tensão entre o acervo existente e o discurso que o próprio museu procurava elaborar, no qual se defendia um “empreendimento pioneiro” da instituição e do qual a instituição seria referência global.

Com relação à análise do texto de Lincoln Kirstein, intitulado “Latin-American Art”, o historiador afirma que sua publicação no catálogo “possui grande importância para os nossos estudos, pois as ideias nele contidas colaboraram substancialmente para embasar as visões da instituição sobre o tema, afinal, o editor era o consultor de arte latino-americana do MoMA na época”. (p. 106). Dividido em nove partes e em dois recortes temporais (antes e após as independências latino-americanas), o texto de Kirstein abordaria as produções de artistas latino-americanos, juntamente aos norte-americanos e europeus. Essa aproximação com artistas estadunidenses e europeus ocorria, principalmente, como forma de comparação e relação visando a explicar a arte latino-americana, produzindo uma representação sobre as identidades culturais e artísticas do continente. Um dos principais aspectos a esse respeito é a construção de uma visão dicotômica, apesar de por vezes aproximadas, entre latinos e estadunidenses, referenciados muitas vezes como “nós” e “eles” ou “os daqui” e “os de lá”.

Em “A arte moderna na América Latina”, terceiro e último capítulo, o autor prossegue com a análise do catálogo The Latin American Collection of The Museum of Modern Art, com foco nas análises de Lincoln Kerstein sobre a arte moderna na América Latina. O texto de Kerstein, que parte das próprias obras do acervo, é analisado por Cota Jr. juntamente as imagens presentes no catálogo, em articulação com outras fontes institucionais como relatórios e comunicados. Como questão central, o autor problematiza as “escolhas realizadas para compor a coleção, preferencialmente as indicações de artistas e obras ressaltadas nos textos e imagens no documento e que justificaram artisticamente o empreendimento do MoMA”. (p. 159). O historiador observa também a construção de textos específicos para definir a arte moderna em cada país da América Latina, que foram construídos a partir de biografias, comparações e relações de influência entre a arte latino-americana e o que seria definido como uma arte “mundial”, visando a orientar o leitor do catálogo e o visitante das exposições que usaram dessa coleção nos debates.

Segundo Cota Jr., os escritos de Lincoln Kerstein sobre a arte moderna na América Latina procuraram pontuar aspectos gerais e datas marcantes dos movimentos em cada país, como no caso do muralismo mexicano. Sobre as obras de artistas como Diego Rivera, José Clemente Orozco e David Alfaro Siqueiros, o responsável pelo departamento de arte latinoamericana do MoMA construiu uma narrativa que “demonstra a preocupação do autor em indicar a relação entre a produção artística mexicana e o processo histórico ocorrido a partir de 1910”. (p. 166). Ainda sobre o México, o autor destaca que, na perspectiva do catálogo produzido pelo MoMA, os Estados Unidos seriam os principais colecionadores e consumidores de arte mexicana, conferindo ao país um lugar de patrono e principal divulgador desse gênero.

Tais aspectos, problemáticas e contradições sobre a representação da arte latinoamericana são observados também nas análises sobre outros países como Brasil, Argentina e Cuba. Neste sentido, Cota Jr. percebe a dimensão não apenas discursiva presente na constituição da coleção, mas também a centralidade da curadoria no processo de seleção e aquisição de obras que foram “guiadas pela avaliação do MoMA sobre a relação entre os países e seus respectivos estágios de desenvolvimento e produção da arte moderna local, considerando as opiniões dos principais especialistas representantes do museu, que definiam o que deveria ou não ser valorizado na arte moderna de cada país”. (p. 178). A respeito dos processos de curadoria e da própria coleção, o autor encerra o capítulo analisando três conjuntos do acervo: o muralismo mexicano, as obras de Candido Portinari e as “novas” perspectivas para a arte moderna.

O livro de Eustáquio Ornelas Cota Jr. contribuiu diretamente para os estudos sobre a História das Américas e da Arte Latino-americana. Ao tematizar a formação de uma coleção do MoMA a obra possibilita perceber as relações entre arte, política e construção das representações de identidades latino-americanas nos Estados Unidos como forma de problematizar as relações entre o país e o restante do continente. Destaca-se, em especial, o esforço do autor em demonstrar que, como um projeto das elites que integrou as políticas da Boa Vizinhança e do imperialismo estadunidense, o MoMA contribuiu diretamente para formação de imaginários sobre as Américas a partir da arte, sendo a função da curadoria e a reflexão sobre a arte moderna elementos centrais de reflexão.

Notas

1 Cf.: DIDI-HUBERMAN, Georges. Ante el tiempo: historia del arte y anacronismo de las imágenes. Buenos Aires: Adriana Hidalgo, 2015.

FLORES, Maria Bernardete Ramos. Olhar para as imagens como arquivos de histórias. Territórios e Fronteiras (Online), v. 8, p. 239-255, 2015, p. 250.

Igor Lemos Moreira – Doutorando no Programa de Pós-graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina. Mestre e Licenciado em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina. E-mail: igorlemoreira@gmail.com  https://orcid.org/0000-0001-6353-7540 http://lattes.cnpq.br/2889830742673964  O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, Brasil. Código de Financiamento 001.


COTA JUNIOR, Eustáquio Ornelas. A formação da coleção latino-americana do MoMA: Arte, cultura e política (1931- 1943). Jundiaí, SP: Paco, 2019. Resenha de: MOREIRA, Igor Lemos. Revista Maracanan. Rio de Janeiro, n. 25, p. 397-401, set./dez. 2020. Acessar publicação original [DR]

A Revolução do Haiti e o Brasil Escravista: O que não deve ser dito / Marco Morel

A obra do historiador Marco Morel intitulada: “A Revolução do Haiti e o Brasil Escravista: O que não deve ser dito” é dividida em três partes, e se debruça sobre os efeitos da Revolução Haitiana de 1791 no Brasil. Na primeira parte do livro, o autor apresenta um esboço da história haitiana e um quadro cronológico dos principais eventos ocorridos a partir de 1492 na antiga colônia francesa quanto na portuguesa, fazendo referência à chegada dos espanhóis na “Hispaniola” e ao fim do tráfico negreiro a partir do tratado entre Brasil e a Grã-Bretanha, em 1826. Em seguida, o autor delineia o perfil de todos os líderes haitianos e suas ascensões no cenário revolucionário, analisando concomitantemente, as primeiras constituições do país caribenho, com destaque à classificação racial elaborada pelo colono Moreau de Saint-Méry, um dos aspectos fundamentais no processo revolucionário de 1791. A segunda parte apresenta uma visão panorâmica do olhar ocidental sobre a revolução, através das ideias dos abades franceses Henri Grégoire, François Raynal e De Prat, os mais influentes do período revolucionário. Além disso, o autor destaca a relação e os impactos do pensamento dos abades sobre o período colonial na América, especialmente no Brasil e no Haiti.

Na terceira e última parte do livro, Morel desenvolve o principal objetivo de seu trabalho, ou seja, uma investigação por meio de jornais sobre os efeitos da revolução haitiana no Brasil, ressaltando as atuações de vários brasileiros letrados e não escravizados que tiveram contato com os eventos da pérola das Antilhas. A menção final do título dessa obra chama nossa atenção “o que não deve ser dito” deixando subentendido que há ocorrências que não deveriam ser ditas [2]. Essa perspicácia da obra traz uma motivação a uma compreensão destes fatos latentes, muito embora, questões relativas à Revolução do Haiti de 1791, ainda são pouco estudadas no meio acadêmico brasileiro. Portanto, isso contribui de certa forma na relevância deste livro, que é considerado um dos primeiros (em sua maior parte) a compreender a Revolução de São Domingos de 1791.

Marco Morel é historiador e professor associado da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, formado em Jornalismo e possui mestrado e doutorado em História. É importante sublinhar que o livro aqui resenhado vem apenas aumentar a quantidade de publicações do autor sobre o Haiti. Em 2005 publicou-se nos anuários dos Estudos Bolivarianos sua primeira produção a respeito do Haiti cujo trabalho estipulado A Revolução do Haiti e o Império do Brasil: intermediações e rumores. No mesmo ano, publicou na revista Almanaque Braziliense O abade Grégoire, o Haiti e o Brasil: repercussões no raiar do século XIX, onde parece ter iniciado os estudos sobre as relações dos eventos entre Haiti e o Brasil.

Ao dedicar mais de trezentas e quarenta páginas a revolução haitiana, suas diversas facetas e suas conexões, o autor discute os impactos e as influências da revolução haitiana no contexto do Brasil escravista. A referência aos impactos dos ocorridos da revolução liderada por Toussaint Louverture e Jean Jacques Dessalines da antiga colônia francesa na colônia portuguesa da América não é algo novo, pois, autores brasileiros como Sidney Chalhoub (1990) em Visões de liberdade[3], Luiz Mott (1988) em Escravidão, homossexualidade e Demonologia [4], Patrícia Valim em sua tese de doutorado de (2007) Da sedição de mulatos a conjuração baiana de 1798: a construção de uma memória histórica [5] e João José Reis (1986) em Rebelião escrava no Brasil [6], dentre outros e também inúmeros artigos, já haviam destacado a presença do que é chamado por Eugène Genovese [7] (1983) de “inspiração negra” em vários estados brasileiros durante o período escravista. Entretanto, a obra A Revolução do Haiti e o Brasil Escravista: O que não deve ser dito baseia-se em uma bibliografia diversificada e com uma presença significativa de documentos e autores haitianos, trazendo em seu conteúdo uma análise inovadora, além de ser um importante estudo dos efeitos causados pela Revolução do Haiti sobre a antiga colônia portuguesa, sobretudo no período pós-independência. Não por acaso, o autor estende suas análises até o período de 1825, um período importante na história pós independente do Haiti, que se viu obrigado a pagar uma alta indenização para que a antiga metrópole francesa pudesse reconhecer a independência da nova nação haitiana.

A obra traz para os leitores, especialmente os do meio acadêmico brasileiro, um debate sobre a classificação racial, um aspecto fundamental na compreensão dos principais eixos da revolução de 1791. A questão racial relembra Morel (2017) representa um ponto chave tanto na história de São Domingos como colônia, quanto na história do Haiti independente, ou seja, o autor reconhece, de certa forma, o papel central da questão racial no cenário colonial e revolucionário haitiano. No entanto ao analisar os conflitos internos (negros escravizados e mestiços livres de cor) e externos (contra a escravidão) na colônia, o autor mostra seu desacordo com o historiador Pauléus Sannon, no que se refere à ênfase dada por este autor aos aspectos raciais. Para Sannon [8] (1938) as inúmeras lutas sociais e políticas que se deram na colônia nesse período tiveram suas origens nos conflitos raciais ocorridos em São Domingos. Do mesmo modo, o historiador Gérard Barthelémy que publicou em 1989 Le Pays en de hors [9] na qual analisa o espaço rural haitiano do período pós-escravagista, alega que na colônia para o emancipado, a cor da pele constituiu-se em um estigma, marca indelével da infâmia, embora juridicamente ele fosse considerado livre. Nesta fronteira, onde os limites de cores são tão incertos quanto os limites das condições, às pessoas de etnias diferentes (do branco) entram no centro das contradições. Entretanto, segundo Morel [10] os diversos conflitos que ocorreram na parte francesa da ilha deveriam ser analisados a partir de perspectivas sociopolíticos. Isto é, esta visão enfatiza que a luta da população negra escravizada contra o sistema escravista e contra as políticas europeias eram centradas na luta pela ascendência social e político.

As notícias não fizeram esperar para chegar aos períodos luso-brasileiros, nos jornais como o Correio Braziliense e a Gazeta do Rio de Janeiro. A presença de vários traços dos eventos da revolução de 1791 já circulava nos territórios brasileiros e o nome do Haiti era referenciado tanto como exemplo de defesa da soberania quanto como exemplo de combate à escravidão. Morel nota que em 1805, um ano após a proclamação da Independência de São Domingos, as notícias já circulavam em terras brasileiras, especificamente no Rio de Janeiro onde os soldados de milícias usaram o retrato de Jean Jacques Dessalines, a maior figura nacional do movimento revolucionário haitiano. Nessa onda de inspiração haitiana em terras brasileiras, o cenário não era diferente nas regiões do Nordeste como Pernambuco e Sergipe. Entre 1818 e 1822, um pouco antes do surgimento da expressão haitianismo, foram registradas diversas referências ao Haiti. As referências expressam duas visões opostas. De um lado, expressava um certo desespero da parte dos senhores porque representava uma ameaça para o sistema escravista. De outro lado, ela simbolizava esperança aos escravizados.

A resistência de Emiliano Mundurucu e de seus próximos, o pastor Agostinho Pereira na cidade de Recife na Confederação do Equador contra a escravidão e o preconceito racial, confirmam as lutas e as ideias empregadas pelos líderes haitianos do período pós-independência de libertar as colônias ainda sobre a dominação europeia. Entre 1804 e 1816 os líderes da revolução de 1791 participaram de forma ativa à medida que ofereciam armas e munições na batalha para erradicar a escravidão na América espanhola. Isto permite entender que os líderes da revolução haitiana não limitavam as suas batalhas contra a colonização e a escravidão apenas no seu país, tratava-se de uma luta contra a escravidão, a desigualdade racial e contra todos aqueles que violavam os princípios gerais da liberdade humana. Em outras palavras, como assinala Buck-Morss, contra o sistema colonial no seu conjunto [11].

A leitura da obra em questão, instiga a perceber que as influências e a presença dos eventos da Revolução do Haiti resultaram em diversas consequências para o Brasil. O haitianismo no Rio de Janeiro, com efígie de Jean Jacques Dessalines nos peitos de escravizados, as notícias nos periódicos lusos brasileiros, as referências aos heróis da revolução entre pretos e pardos nas terras brasileiras, o medo causado nas elites econômicas, foram entre outros, indicadores que sugerem a pluralidade nas formas influenciadoras da revolução haitiana de 1791.

Notas

2. É importante sublinhar que na historiografia francesa e/ou haitiana, a referência a algo ocultado no processo revolucionário é geralmente relacionado à última batalha pela Independência do Haiti onde as tropas napoleônicas foram derrotadas em Vertières em 18 de novembro de 1803. Este fato foi ocultado pela historiografia francesa durante séculos, como é apontado por vários autores como Marcel Dorigny e Jean-Pierre Le Glaunec, em estudos mais recentes.

3. CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

4. MOTT, Luiz R. B. Escravidão, homossexualidade e demonologia. São Paulo: Ícone, 1988.

5. VALIM, Patrícia. Da sedição de mulatos a conjuração baiana de 1798: a construção de uma memória histórica. Tese (Doutorado em História) – Universidade de São Paulo: São Paulo, 2007.

6. REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês, 1835. São Paulo, SP: Brasiliense, 1986.

7. GENOVESE, Eugene D. Da rebelião a revolução. São Paulo: Global, 1983.

8. SANNON, Pauléus. Histoire de Toussaint Louverture. Port au-Prince, Haiti, 1938.

9. GERARD, Barthelémy. Le Pays en dehors; essai sur l’univers rural haïtien. Cidhca, Canada 1989.

10. MOREL, Marco. A Revolução do Haiti e o Brasil Escravista: O que não deve ser dito. 1. ed. Jundiaí. São Paulo: Paco, 2017, p. 96.

11. BUCK-MORSS, Susan. Hegel e Haiti. Novos estudos. 90-julho, 2011.

Breno Logis – Doutorando em História pela Universidade Estadual Paulista – Câmpus Assis-UNESP. Correio eletrônico: lesaged18@yahoo.fr.


MOREL, Marco. A Revolução do Haiti e o Brasil Escravista: O que não deve ser dito. 1. ed. Jundiaí. São Paulo: Paco, 2017. 348, p. Resenha de: LOGIS, Berno. História.Com. Cachoeira, v.7, n.13, 2020. Acessar publicação original [IF].

A Revolução do Haiti e o Brasil escravista: o que não deve ser dito | Marco Morel

O livro, como todos eles, tem um itinerário que extrapola em muito o tempo consumido em sua escrita. Marco Morel começou a pensar na temática ainda muito jovem, em 1989, quando apresentou um trabalho nas comemorações do bicentenário da Revolução Francesa organizadas por Michel Vovelle na Sorbonne. Naquela oportunidade, o historiador expôs uma hipótese original, a de que a revolução Haitiana tinha influenciado mais o Brasil que a própria Revolução Francesa. Vinte e sete anos depois, Morel permite que o público conheça os desdobramentos daquela primeira inquietação.

A Revolução do Haiti e o Brasil escravista se inscreve em um conjunto maior de publicações que aborda os “rumores”, influências, conexões e ecos da Revolução de Saint-Domingue no espaço do Caribe ou do continente americano. Revolução que se desenvolveu entre 1791 e 1804, quando finalmente foi declarada a independência, e a porção ocidental da ilha, que tinha sido chamada por Cristóvão Colombo de “La Española”, tomou o nome de Haiti [3]. Embora balizada entre esses dois anos, os desdobramentos da Revolução e do abolicionismo se estenderam por muitos mais. O livro propõe uma dupla temporalidade: a de 1791-1825 para o Haiti e a de 1791-1840 para o Império do Brasil. No primeiro caso, o período se delimita entre o início da Revolução no território insular e o reconhecimento francês da independência. No segundo, entre o mesmo início e o fim do período regencial.

Apesar de a perspectiva da conexão Haiti-Brasil ter uma longa tradição na história do pensamento social brasileiro, o viés “positivado” da Revolução foi muito menos explorado que o do temor senhorial ou administrativo ao chamado haitianismo [4]. O próprio vocábulo, neologismo do século XIX, surgiu carregado de negatividade, como sinônimo de anarquia, subversão (inversão da ordem), “governo dos negros”.

Morel inscreve seu livro na perspectiva do acolhimento dos acontecimentos caribenhos, mas o ponto de vista é o da história do Brasil.

A admissão/adoção do ideário haitiano no Brasil como modelo social (igualitarismo racial, abolicionismo, direitos de cidadania, redistribuição da terra) ultrapassa, segundo o autor, o âmbito da escravidão, incluindo sectores letrados e não letrados livres. Como se propõe a tratar da recepção da Revolução de Saint-Domingue, principalmente de sua aceitação, já não no formato de artigos, como tinha feito antes, mas numa obra de maior fôlego, o autor estrutura o livro em três capítulos: “A Revolução do Haiti – breve apresentação”, “Entre batinas e revoluções” e “Os fios de uma teia”.

No primeiro, é-nos advertida sua necessidade. Apesar de não ser um livro sobre o Haiti, considera o autor que uma introdução à Revolução é fundamental como protocolo ou pré-requisito de leitura, para o qual adota uma morfologia pouco frequente em livros acadêmicos: uma cronologia de 16 páginas exposta em forma de tabela; breves biografias das lideranças revolucionárias; um apanhado do vocabulário de época; uma descrição de ocupação e exploração da parte ocidental da ilha; a análise de um projeto de classificação racial do fazendeiro e escritor colonial Médéric Louis Élie Moreau de Saint Méry publicado em 1796, comparando-o com o do maranhense Raimundo José de Souza Gayoso, que em seu Compêndio histórico-político dos princípios da lavoura do Maranhão propunha uma classificação adotando a de Saint Méry; e, por último, uma tabela comparando as diferentes constituições desde 1801 – ainda como colônia autônoma – até 1816.

Um primeiro capítulo tão heterodoxo em sua composição nos lembra o romance de Daniel Maximin, L’Isolé soleil, analisado por Laurent Dubois. A personagem Marie Gabriel tenta escrever a história da ilha, Guadalupe, para a qual utiliza o diário de Jonathan, peça elaborada e abandonada por um antepassado seu – o texto não é um diário propriamente dito, mas um álbum de recortes de distintas fontes [5]. Para escrever a história dessa outra ilha, Haiti, Morel recorre a esse gênero constituído por recortes, fragmentos que são necessários para a recomposição do todo.

O segundo capítulo busca tecer as relações entre a França revolucionária, Saint- Domingue e o Brasil a partir dos escritos de três abades: Raynal, Grégoire e de Pradt. Nas páginas do livro, vemos surgir um Raynal idealizado: antiescravista, anticolonialista. As predições do abade sobre o futuro da escravidão africana podem ser interpretadas mais como advertência do que como condenação. Ou, nas palavras de Trouillot, como um “projeto de administração colonial. De fato [o pensamento de Raynal] incluía a abolição da escravidão, mas a longo prazo e como parte de um processo que aspirava a um melhor controle das colônias” [6]. O mesmo pode ser dito da apresentação do abade Grégoire. De qualquer forma, os três funcionam como mediadores letrados das revoluções atlânticas. Os três mantêm algum tipo de relação com o Brasil, presente em seus escritos sobre a escravidão/situação colonial. A busca de Grégoire por um escritor negro em língua portuguesa para sua obra De la Littérature des nègres (1808) o levou a estabelecer contatos no Brasil com Monsenhor Miranda, com quem manteve relação epistolar. A segunda parte do capítulo reconstitui certa formalização de ideias sobre o Haiti e sobre a Revolução do ponto de vista de letrados brasileiros. Afora os três abades, um punhado de escritos locais serve ao autor para evidenciar as conexões revolucionárias atlânticas, sobretudo no nível das ideias.

É no final deste capítulo e a partir da fala do terceiro abade, de Pradt, que Morel nos introduz no subtítulo do livro: “o que não deve ser dito”. Morel atribui a de Pradt a autoria sobre as estratégias comunicativas a respeito da Revolução do Haiti assentadas sobre dois eixos: “a rejeição dos horrores de São Domingos e a ocultação da densidade e das múltiplas possibilidades de seu exemplo histórico” [7]. Para Morel, esses dois eixos podem ser sintetizados como “o maldito e o não dito”.

Embora os silêncios e as ausências tenham nas ciências sociais uma base sólida de conceitualização e análise, foi o antropólogo Michel-Rolph Trouillot quem lhe deu a forma mais acabada em relação ao Haiti com seu livro Silencing the past: “a revolução era impensável no Ocidente embora tampouco fosse verbalizada entre os próprios escravos”, em grande medida porque as reivindicações seriam radicais demais para se expressar em palavras: abolição, expropriação, distribuição da propriedade etc. Esses princípios “só poderiam reivindicar-se quando impostos pelos fatos”. Nesse sentido, diz, “a revolução estava realmente nos limites do concebível” [8]. Mas Trouillot consegue romper o silêncio e encher o livro de alocuções.

O terceiro capítulo começa com a instigante frase: “Poucos personagens encarnam no Brasil a proximidade com o exemplo da Revolução do Haiti como Emiliano Felipe Benício Mundurucu”. O documento principal para apresentar Mundurucu é o texto autobiográfico breve que o brasileiro publicara em Caracas em 1826, mas, para certa decepção de Morel, Mundurucu não fala nada sobre o que seria uma pauta haitiana, senão da pauta do momento nas repúblicas americanas: republicanismo, liberdade, antidespotismo. Utiliza metáforas como “algemas do despotismo” para referir-se aos presos de 1817. Com isso, ele não foi mais longe do que a filosofia política ocidental. Disse Susan Buck-Morss que, no século XVIII, a escravidão havia se tornado a metáfora fundamental da filosofia política ocidental, enquanto a liberdade era considerada o valor político fundamental [9].

Mundurucu foi major do batalhão de pardos durante a Confederação do Equador. Como o autor diz, seu nome se apresenta em fugazes registros na historiografia, vinculado a uns versos sediciosos naquele contexto da revolta:

Marinheiros e caiados

Todos devem se acabar

Porque só pardos e pretos

O país hão de habitar

{…}

Qual eu imito Cristóvão

Esse Imortal haitiano

Eia! Imitai o seu povo

Oh meu povo soberano.

O capítulo traz outra trajetória singular, a do pastor negro, protestante, Agostinho José Pereira, “que alfabetizava negros e pregava contra o catolicismo na década de 1840” e, nessa tarefa, introduzia algumas ideias favoráveis ao Haiti. Nesse caso, como no anterior, trata-se de um haitianismo (no sentido positivo) difuso, próximo daquele que assumia o republicanismo hispano-americano. Um caráter difuso análogo ao da enunciação “mata caiados” para lembrar (timidamente) dos milhares de espanhóis mortos pelo Padre Hidalgo e seus seguidores na sua jornada. É provável que Mundurucu tenha refinado ainda mais sua pauta haitiana em sua estadia na Venezuela, onde o “haitianimo” teve forte influência desde o final do século XVIII.

Como evidencia Morel na última parte do livro, no século XIX fica difícil pensar num único Haiti. As divisões internas entre o Reino de Henri Christophe (1807-1820) ao norte e a República mulata de Alexandre Pétion (1807-1818) ao sul, posteriormente liderada por Jean-Pierre Boyer, deixam patente a complexidade de ecoar, refletir ou se conectar com uma realidade haitiana, sem falar na pertinência de se referir a um único haitianismo.

Escrito de maneira didática e clara, o livro é leitura obrigatória para os alunos de graduação em história que queiram ter uma primeira aproximação à Revolução do Haiti e suas conexões com o Brasil do século XIX.

Notas

3. FERRER, Ada. A sociedade escravista cubana e a Revolução Haitiana. Almanack, Guarulhos, n. 3, p. 37-53, jan./jun. 2012; GÓMEZ, Alejandro. La Revolución Haitiana y la Tierra Firme hispana. Nuevo Mundo Mundos Nuevos [En ligne], Débats, mis en ligne le 17 février 2006, Disponível em: <http://journals.openedition.org/nuevomundo/211>. Acesso em: 7 nov. 2018; GONZÁLEZ-RIPOLL, María Dolores Navarro et al. El rumor de Haití en Cuba: Temor, raza y rebeldía (1789-1844). Madri: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 2004, entre outros.

4. SILVA, Luiz Gerardo. El impacto de la revolución de Saint-Domingue y los afrodescendientes libres de Brasil. Esclavitud, libertad, configuración social y perspectiva atlántica (1780-1825). Historia, Santiago, v. 49, n. 1, p. 209-233, jun. 2016. NASCIMENTO, Washington Santos. São Domingos, o grande São Domingos: repercussões e representações da Revolução Haitiana no Brasil escravista. Dimensões, Vitória, v. 21, p. 125-142, 2008; SOARES, Carlos Eugênio Líbano; GOMES, Flávio. Sedições, haitianismo e conexões no Brasil escravista: outras margens do atlântico negro. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, n. 63, p. 131-144, jul. 2002; REIS, João José. Quilombos e revoltas escravas no Brasil. Revista USP, São Paulo, v. 28, p. 14-39, dez./fev. 1995/1996.

5. DUBOIS, Laurent. Los cimarrones en los archivos: los usos del pasado en el Caribe Francés. JBLA, [S.l.], v. 46, n. 5. p. 60-82, 2009.

6. TROUILLOT, Michel-Rolph. Silenciado el pasado. El poder y la producción de la história, Granada: Comares, 2017, p. 68

7. MOREL, Marco. Op. cit., p. 160.

8. TROUILLOT, Michel-Rolph. Op. cit., p. 74.

9. BUCK-MORSS, Susan. Hegel e Haiti. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, v. 90, p. 131, jul. 2011.

Referências

BUCK-MORSS, Susan. Hegel e Haiti. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, v. 90, p. 131, jul. 2011.

DUBOIS, Laurent. Los cimarrones en los archivos: los usos del pasado en el Caribe Francés. JBLA, {S.l.}, v. 46, n.5. p. 60-82, 2009.

FERRER, Ada. A sociedade escravista cubana e a Revolução Haitiana. Almanack, Guarulhos, n. 3, p. 37-53, jan./jun. 2012.

GÓMEZ, Alejandro. La Revolución Haitiana y la Tierra Firme hispana. Nuevo Mundo Mundos Nuevos {En ligne}, Débats, mis en ligne le 17 février 2006, Disponível em:<Disponível em:http://journals.openedition.org/nuevomundo/211 >. Acesso em:7 nov. 2018.

GONZÁLEZ-RIPOLL, María Dolores Navarro et al. El rumor de Haití en Cuba: Temor, raza y rebeldía (1789-1844). Madri: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 2004.

MOREL, Marco. A Revolução do Haiti e o Brasil escravista: o que não deve ser dito. Jundiaí: Paco, 2017.

NASCIMENTO, Washington Santos. São Domingos, o grande São Domingos: repercussões e representações da Revolução Haitiana no Brasil escravista. Dimensões, Vitória, v. 21, p. 125-142, 2008.

REIS, João José, Quilombos e revoltas escravas no Brasil. Revista USP, São Paulo, (28), 14-39, dez. fev.1995/1996.

SILVA, Luiz Gerardo. El impacto de la revolución de Saint-Domingue y los afrodescendientes libres de Brasil. Esclavitud, libertad, configuración social y perspectiva atlántica (1780-1825). Historia, Santiago, v. 49, n. 1, p. 209-233, jun. 2016.

SOARES, Carlos Eugênio Líbano; GOMES, Flávio. Sedições, haitianismo e conexões no Brasil escravista: outras margens do atlântico negro. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, n. 63, p. 131-144, jul. 2002.

TROUILLOT, Michel-Rolph. Silenciado el pasado. El poder y la producción de la história, Granada: Comares, 2017.

María Verónica Secreto – Universidade Federal Fluminense. Niterói – Rio de Janeiro – Brasil. Possui graduação em História – Universidad Nacional de Mar Del Plata – Argentina (1991), mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense (1995) e doutorado em Ciência Econômica/História Econômica pela Universidade Estadual de Campinas (2001). Foi professora efetiva na Universidade Federal do Ceará (2002-2004) e na Federal Rural do Rio de Janeiro (2004-2008), atuando nessa última no programa de pós-graduação em Desenvolvimento Agricultura e Sociedade. Atualmente é professora Associada da Universidade Federal Fluminense, atuando na graduação em História da América e no Programa de Pós-graduação.


MOREL, Marco. A Revolução do Haiti e o Brasil escravista: o que não deve ser dito. Jundiaí: Paco, 2017. Resenha de: SECRETO, María Verónica. A Revolução de Saint-Domingue e sua conexão continental: de Toussaint a Mundurucu. Almanack, Guarulhos, n.20, p. 287-290, set./dez., 2018. Acessar publicação original [DR]