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Pentecostalismo e Política / Revista Brasileira de História das Religiões / 2020
A chamada temática “Pentecostalismo e política” reuniu pesquisas que analisaram o fenômeno pentecostal e sua influência na política sob diversos ângulos. Os pentecostais como grupo específico do segmento evangélico-protestante brasileiro mantiveram relações políticas de diversos matizes desde seu surgimento no Brasil em 1910 até o atual governo bolsonarista. Composto de doze artigos, sendo onze deles sobre o Brasil e um sobre a Argentina, esta chamada contribui para o debate atual sobre o impacto do fenômeno pentecostal na política desde o início do século XX.
No primeiro artigo, “Igrejas pentecostais e sua atuação política recente no Brasil”, David Mesquiati de Oliveira critica algumas categorias utilizadas para análise da relação entre pentecostalismo e política, faz um panorama da atuação pentecostal e aproximações sobre a relação entre igrejas pentecostais e a política partidária.
No segundo, “Pentecostais na Política: da Constituinte aos dias atuais”, Wanderley Rosa analisa a mudança de postura dos pentecostais, mais perceptível desde os acontecimentos que cercaram a Constituinte em meados da década de 1980, e compara essa atuação com a de setores mais progressistas do protestantismo da época, indicando haver outras agendas possíveis. “Epistemologia pentecostal e presença política”, Kenner Terra afirma que o ethos carismático-pentecostal é experiencial e místico, e não ficou isolado em uma perspectiva pessoal, pois essa nova racionalidade descobriu sua ingerência no mundo, culminando em uma participação pública mais ativa, “seja para o bem ou mal”.
Em “Deus acima de todos? A construção da teo-política na crise das democracias”, Eduardo Gusmão analisa como a crença e a ideia de um divino soberano aplicada à política afeta na construção da subjetividade de uma nação. No artigo “Pentecostais, Fundamentalismo e Laicidade no Brasil: uma análise da atuação da bancada evangélica no Congresso Nacional”, Bertone de Oliveira Souza confrontou os conceitos de fundamentalismo e laicidade e buscou analisar alguns projetos de leis propostos pela bancada evangélica a partir da redemocratização.
“Religião e política: o pentecostalismo, o sínodo para a Amazônia e a política ambiental no Brasil”, escrito por Moab César Carvalho Costa, considera como a teologia pentecostal, sob influência do dispensacionalismo pré-milenista, definiu a perspectiva dos pentecostais em relação às questões políticas e ambientais, que em muitos casos é diametralmente opostas às concepções ecológicas adotadas pela Igreja Católica no Sínodo para a Amazônia. Samuel Pereira Valério, em “Pentecostalismo, catolicismo e bolsonarismo – convergências”, busca mostrar as convergências entre os conservadores, sejam eles evangélicos ou católicos, que se tornaram a base religiosa do eleitorado bolsonarista.
No sétimo artigo, “Governo Bolsonaro e o apoio religioso como bandeira política”, Fábio Falcão Oliveira reflete sobre a base do populismo evangélico do atual presidente do Brasil. Gedeon Freire de Alencar, em “Jair Messias Bolsonaro: o ‘eleito de Deus’?”, mostra o uso instrumentalizador que o presidente Bolsonaro faz da religião, especialmente dos evangélicos e pentecostais, indicando o quanto essas ações podem ser mimetizadas como ações divinas.
Em “Revista A Seara e o debate sobre a inserção da Igreja Assembleia de Deus na política partidária (1956-1958)”, André Dioney Fonseca resgata as publicações de um importante periódico religioso pentecostal que tratou da questão político-partidária já em meados do século XX com posturas bem diferentes do que efetivamente se veio adotar posteriormente. Esse registro é importante para perceber que nunca se viveu uma curva ascendente na questão dos posicionamentos oficiais das igrejas pentecostais. Nicolás Panotto, por outro lado, contribui com um estudo sobre a realidade argentina. Em “Liderazgo, carisma y procesos de identificación en el campo evangélico. El caso de una iglesia pentecostal en Argentina”, Panotto estuda a formação do carisma das lideranças e as relações de poder no campo pentecostal argentino.
Em “‘Pela paz de Jerusalém’: a origem do sionismo cristão, sua influência na igreja protestante brasileira e sua atuação no Congresso Nacional”, Wilhelm Wachholz e André Daniel Reinke analisam o sionismo cristão e a influência das posições direitistas norte-americanas no posicionamento de alguns agentes da bancada evangélica. O número ainda conta uma resenha.
Não temos dúvidas de que os artigos compilados nesta chamada temática oferecerão novas proposições, gerando diálogos profícuos e contribuindo de maneira relevante para o fortalecimento do Estado democrático de Direito. E que todos nós, reforcemos o compromisso da pesquisa constante, da persistência e da certeza de um dos eu líricos de Mario Quintana:
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho
Eles passarão…
Eu passarinho!
Adriano Lima
David Mesquiati
LIMA, Adriano Souza; OLIVEIRA, David Mesquiati. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.13, n.37, maio / ago. 2020. Acessar publicação original [DR]