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O longo século XIX e as estratégias em economia, política e sociabilidades / Clio – Revista de Pesquisa Histórica / 2018
A CLIO: Revista de Pesquisa Histórica tem uma longa tradição na publicação de estudos sobre os oitocentos, e recebemos sempre artigos livres sobre o período. Neste volume, apresentamos aos leitores alguns artigos recebidos que tem em comum o estudo do século XIX, abordando estudos sobre economia e crédito, sobre política liberal e sobre sociabilidades. De uma forma não tão sutil, o leitor verá que os estudos se imbricam em várias questões, como a escravidão e a discussão sobre o trabalho, as estratégias do mercado para conseguir capitais que financiassem atividades econômicas para além da economia de exportação, tudo isso permeado pela discussão política na qual o liberalismo aparece como matriz ideológica, apesar da diversidade de posições que poderia encetar.
Nesse sentido, apresentamos aos leitores o artigo de Andréa Lisly Gonçalves, As “várias Independências”: a contrarrevolução em Portugal e em Pernambuco e os conflitos antilusitanos no período do constitucionalismo (1821-1824), no qual objetiva refletir sobre a complexidade das opções políticas, na província de Pernambuco, tomando como recorte temporal a conjuntura da Independência do Brasil. Andrea argumenta que as ações e debates ocorridos em Pernambuco “não se esgotam com o debate historiográfico sobre o alinhamento com Lisboa (“a outra independência”) ou com o Rio de Janeiro (“a mesma independência”)”, estimulando, assim, os estudos e pesquisas para compreender como os atores políticos definem suas estratégias a partir de conjuntura e interesses específicos e locais.
O artigo de Leonardo Milanez de Lima e Leandro Renato Leite Marcondes, “Capital nativo e estruturação produtiva na praça do Recife: crédito hipotecário entre 1865 e 1914”, tem como ponto de partida a questão sobre como se financiavam as atividadeseconômicas no Recife frente à diminuição do ritmo de crescimento da economia pernambucana, com a perda do mercado consumidor de açúcar e algodão. Ao compulsarem uma vasta documentação sobre contratos de hipoteca registrados em cartórios do Recife, buscam compreender a dinâmica e as características do crédito hipotecário recifense.
O artigo demonstra que o crédito foi disponibilizado majoritariamente a partir de poupanças nativas, que deram suporte à expansão da rede de serviços públicos da cidade, mantiveram o funcionamento do comércio e financiaram indústrias. A mesma questão foi proposta por Vitória Schettini de Andrade, em seu artigo, “A alocação da riqueza na zona da mata mineira. São Paulo do Muriahé, 1846-1888.”. A fim de entender essa região de forma mais complexa, o artigo objetiva analisar a alocação da riqueza produzida em São Paulo do Muriahé, durante meados a finais do século XIX, momento em que a autora constata na documentação consultada, principalmente inventários, um crescimento econômico, baseado, sobretudo na produção de gêneros agrícolas, como milho, cana de açúcar e mais tarde o café. Estes produtos foram fundamentais para o acúmulo de capital e o ingresso de Muriahé numa economia mais dinâmica. O estudo demonstra as estratégias de outras aplicações monetárias que são percebidas ao final da escravidão, o que nos projeta para uma sociedade em franca mudança e crescimento.
As estratégias também são perceptíveis no estudo de Gabriel Navarro de Barros, “Muito além do abandono: infâncias perigosas e a “justiça tutelar em Pernambuco (1888-1892).”. O estudo tem por objetivos analisar a atuação da justiça tutelar diante do universo de meninas e meninos compreendidos pelo Estado como “potencialmente perigosos”, em Pernambuco. Ao analisar as fontes jurídicas e jornais, o autor sugere uma reflexão sobre o conceito de abandono, muitas vezes aplicado de forma estratégica. Nesse sentido, o artigo permite compreender a diversidade de categorias de infantes na época, reconhecidas pela justiça e por instituições assistenciais a fim de identificar uma variedade de meninos e meninas como “riscos sociais”. Uma forma de manter controle sobre a mão de obra? Estratégias também parece ser o conceito que explica o estudo de Ipojucan Dias Campos, no artigo “Divórcio, conjugações acusatórias e laços de solidariedade (Belém, 1895-1900).”. O autor demonstra como laços de solidariedade e de conjugações acusatórias, ao analisar processos de divórcio em Belém, foram estratégias centrais nessas ações. As reflexões concentraram-se em descortinar como pessoas próximas aos divorciandos se posicionavam no seio dos desarranjos conjugais, formando laços de solidariedade e, ao mesmo tempo, corroborando à formação de conjugações acusatórias. Assim sendo, amigos, parentes, vizinhos foram convidados, recorrentemente, a darem suas versões a respeito da vida a dois de seus conhecidos.
Uma pequena amostra da complexidade que perpassa os oitocentos, e que não deixam de instigar novas pesquisas.
Isabel Guillen – Editora da Revista. Professora do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: icmg59@gmail.com
Augusto Neves – Vice-editor da Revista. Professor da Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: augustonev@gmail.com
GUILLEN, Isabel; NEVES, Augusto. Apresentação. CLIO – Revista de pesquisa histórica, Recife, v.36, n.1, jan / jun, 2018. Acessar publicação original [DR]
Lugares e Memória do Século XX / Clio – Revista de Pesquisa Histórica / 2017
O presente número da Revista Clio se inicia com os textos reunidos no Dossiê “Lugares e Memória da Cultura” organizado pelos Professores Antônio Paulo Rezende (UFPE) e Augusto Neves (UNINABUCO). Seu objetivo é reunir artigos que analisem historicamente as relações culturais, destacando a sua temporalidade e como elas influenciam na construção do poder na sociedade ao longo do século XX.
No primeiro texto, Janaína Cardoso de Mello toma como objeto de estudo as representações do poder régio ilustrado a partir das relações entre arquitetura, mobiliário e história no âmbito da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra. Na sequência, Luciana Penna-Franca aborda a cena cultural do teatro amador carioca no final do século XIX e início do XX a partir das publicações de “assuntos teatrais” nos periódicos do Rio de Janeiro, observando sua influência na vivências artísticas e no cotidiano da cidade.
O terceiro texto do dossiê foi elaborado por Aldo José Morais Silva a partir dos debates sobre a escolha de um hino para a cidade de Feira de Santana (BA) entre o final do século XIX e o início do XX. O artigo enfoca as razões das escolhas e como elas representavam as expectativas da sociedade local em relação à sua autoimagem. A partir dos escritos de Manuel Quirino e à luz das concepções propostas por Nora, Morse e Spivak, Bruno Pinheiro analisa os lugares de memória na fase do pósabolição em Salvador (BA).
O quinto texto da coletânea especial enfoca a organização sindical dos trabalhadores em São Paulo. Alzira Lobo de Arruda Campos, Marília Gomes Ghizzi Godoy e Rafael Lopes Souza discutem as conexões e antagonismos entre as influências teóricas europeias e as características históricas do Brasil no processo de construção das organizações de luta em defesa dos trabalhadores.
O sexto texto é foi escrito por Márcio Rogério Olivato Pozzer e analisa o papel histórico das políticas públicas de patrimônio cultural para os museus no México ao longo do século XX, mas precisamente a partir da Revolução Mexicana de 1910. O dossiê, neste número, se encerra com o texto de Carolina C. de Souza Martins e Elio de Jesus Pantoja Alves sobre a experiência de pais e mães de santo no Terreiro do Egito, no Maranhão, na busca pela ancestralidade numa região do município de São Luís que desde os anos 1980 vem sendo ameaçada pela expansão do complexo portuário da capital maranhense.
Para além dos artigos que compõem o dossiê, o presente número da Revista Clio veicula também mais cinco artigos livres e duas resenhas. O primeiro artigo livre foi escrito por Anne Karolline Campos Mendonça e se intitula “As mulheres sem nome: o desenvolvimento de argumentos jurídicos baseados no estatuto feminino. Comarca das Alagoas – Capitania de Pernambuco (1716-1765)”. Nele a autora analisa como as elites coloniais faziam valer seus interesses se apropriando do discurso jurídico sobre aqueles que eram considerados inferiores, no caso específico, sobre as mulheres. Avançamos então para o século XIX, com um estudo sobre a imigração italiana no Rio Grande do Sul intitulado “As Companhias Colonizadoras no processo da imigração italiana em territorialidades do Vale do Taquari / Rio Grande do Sul”, apresentado por Janaine Trombini, Luís Fernando da Silva Laroque e Ana Paula Castoldi, com especial atenção para a atuação das firmas Bastos & Companhia, Cia Colonizadora Rio-Grandense e Tchener & Cia, que existiram do final do século XIX até meados da década de 1920.
Gabriela Fernandes de Siqueira é a autora do terceiro artigo livre veiculado neste número e intitulado “A questão da salubridade em Natal nas primeiras décadas do século XX na ótica dos periódicos A República e Diário do Natal”. Para elaborar seu texto, a autora utilizou, além dos periódicos citados, outras fontes tais como mensagens de governadores, leis e decretos municipais e estaduais. O artigo enfoca as contradições do processo de modernização e aplicação de medidas de higiene na capital do Rio Grande do Norte nas primeiras décadas do século XX. No quarto artigo da série, nos deparamos com a história de um trabalhador tentando fazer valer seus direitos mediante uma ação na Justiça do Trabalho em 1965. Trata-se dos resultados da pesquisa realizada por Márcio Ananias Ferreira Vilela e Marcelo Goés Tavares no acervo de processos trabalhistas conservados na Universidade Federal de Pernambuco. O artigo se intitula “A peleja de João Amaro: um trabalhador rural na luta por direitos (Pernambuco, anos 1960)”. O quinto artigo livre foi escrito por Lourival dos Santos, se intitula “Por uma história do negro no sul do Mato Grosso: história oral de quilombolas de Mato Grosso do Sul e a (re)invenção da tradição africana no cerrado brasileiro”. O texto aborda uma das mais candentes questões da atualidade no Brasil. O autor analisa a oposição surgida entre o Instituto Histórico do Mato Grosso do Sul e a Fundação Palmares sobre a identificação de comunidade quilombolas naquele estado, na primeira década do atual século.
Fechando o presente número, Clio veicula uma resenha, escrita por Wallas Jefferson de Lima e enfoca o livro As origens do sexo: uma história da primeira revolução sexual, escrito por Faramerz Dabhoiwala e publicado no Brasil pela Editora Globo, em 2013, com a tradução de Rafael Mantovani.
A Equipe Editorial da Revista Clio agradece a todos os autores, pareceristas, revisores e colaboradores que contribuíram para a preparação deste número e deseja uma boa leitura.
George Cabral – Editor da Revista. Professor do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: georgecabral@yahoo.com
Antônio Paulo Rezende – Organizador do Dossiê. Professor do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: cielo77@uol.com.br
Augusto Neves – Organizador do Dossiê. Professor da Faculdade Uninabuco. E-mail: augustonev@gmail.com
Rômulo Nascimento – Vice- editor da Revista. Professor do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: romuloxavier7@hotmail.com
CABRAL, George; REZENDE, Antônio Paulo; NEVES, Augusto; NASCIMENTO, Rômulo. Apresentação. CLIO – Revista de pesquisa histórica, Recife, v.35, n.2, jul / dez, 2017. Acessar publicação original [DR]
Patrimônio Intangível: debates e questões / Clio – Revista de Pesquisa Histórica / 2013
Este volume da revista Clio, que contêm o dossiê Patrimônio Intangível: debates e questões, apresenta artigos que giram em torno do tema patrimônio cultural (imaterial), e em especial do carnaval, no Brasil. O tema do patrimônio tem sido intensamente debatido na historiografia brasileira nas últimas décadas. Acompanhando as mudanças que podem ser percebidas nas políticas públicas voltadas para o patrimônio, em especial o patrimônio imaterial, que tantos debates têm suscitado, a historiografia tem revisitado a história do patrimônio cultural no Brasil, assim como tem contribuído para adensar as questões que o tema tem suscitado.
Assim, é com enorme satisfação que apresentamos ao leitor este volume que contêm um profícuo debate em torno do carnaval, entendido como patrimônio imaterial do Brasil, já tantas vezes referido como importante aspecto na definição de nossas identidades culturais, seja nacionalmente, seja em seus desdobramentos locais. Com certeza, ninguém poderá negar ser o carnaval uma festa que encetou grandes debates historiográficos em torno da identidade nacional, mas não foi ainda pensado como patrimônio cultural, apesar de ser reconhecido como tal.
Abre o volume o artigo A folia de Momo na cidade de São Paulo na percepção da imprensa e dos artistas do traço: 1960 / 1964, de Zélia Lopes da Silva, que discute o modo como a imprensa paulista apresenta o carnaval, como se em São Paulo não existisse um real interesse pelas atividades momescas, preferindo o paulistano fugir para o interior e as praias nesses dias. Representação esta que, em grande medida, não só marginaliza as manifestações populares existentes no período, tais como cordões e escolas de samba, mas que também parece contribuir para torná-las invisíveis, como se os paulistanos não “gostassem” de carnaval. Enquanto isso, esses mesmos cordões e escolas de samba buscavam incentivos municipais para criarem visibilidade às suas agremiações, ao mesmo tempo em que paulatinamente construíram espaços de sociabilidade e legitimidade para suas atividades carnavalescas.
O segundo artigo do dossiê, Carnavais cariocas sob a ótica da revista O Cruzeiro (1943-1945), de Danilo Alves Bezerra, não só recua no tempo, para buscar compreender como o carnaval carioca foi representado na referida revista durante os últimos anos do Estado Novo, momento em que o Brasil encontrava-se envolvido na Segunda Guerra Mundial e que supostamente não haveria “clima” para se voltar ao carnaval. Mesmo assim houve quem não resistisse aos apelos de Momo, e o artigo discute as estratégias encetadas para manter o espírito carnavalesco vivo e atuante nesses dias de guerra.
O tema do carnaval continua presente no artigo Paradoxos carnavalescos: A presença feminina em carnavais da Primeira República (1889-1910), de Eric Brasil Nepomuceno. Ao centrar foco nas primeiras décadas da República e no carnaval carioca, o autor busca entender as tensões que a presença feminina em diversos espaços durante o carnaval gerou, e as negociações que precisou entabular para não só garantir sua presença nos espaços públicos, mas também para convertê-la em ganhos ainda que a primeira vista simbólicos. O artigo de Guilherme José Motta Faria, História e Memória: a construção do mito Isabel Valença, a Chica da Silva do GRES Acadêmicos do Salgueiro pela imprensa carioca, permite estabelecer um profícuo cruzamento entre a história do carnaval carioca com as questões raciais, ao discutir o modo como se constrói paulatinamente o mito de Chica da Silva entre as agremiações carnavalescas, destacando o modo como a imprensa foi fundamental para transformar essa mulher de “origem humilde, negra e moradora da periferia numa das referências na luta pela igualdade de direitos e do respeito que as mulheres exigiam a partir das lutas feministas dos anos 1960”. Desse modo, os dois últimos artigos nos permitem também fazer uma importante reflexão de como as questões de gênero se cruzam como a história do carnaval, e nos permitem discutir os modos como as mulheres foram conquistando espaços públicos e lutando contra os preconceitos não apenas de gênero mas também os raciais.
O tema da festa religiosa, e suas imbricações como o tema do patrimônio imaterial foram esboçados no artigo O religioso e o profano na festa de São Bernardo em Alcobaça – BA (1990 – 2010), de Jonathan de Oliveira Molar e Ítala Serafim Almeida, que se dedica a pensar as transformações ocorridas numa festa centenária, interrogando-se se a mesma teria perdido seu caráter identitário ao se adaptar ao mercado cultural. Através de entrevistas o autor nos apresenta uma festa que comporta diferentes modos de compreendê-la bem como múltiplas identificações, aspecto que, segundo o autor, pode ser pensado para outras festas religiosas, para além de Alcobaça.
O dossiê se encerra com o artigo de Luiz Gonzaga Baião Filho, Parque Nacional Serra da Capivara e gestação interdisciplinar das narrativas do patrimônio cultural, em que toma como desafio discutir as imbricações interdisciplinares ao se pensar o tema do patrimônio cultural, notadamente na gestão de parques nacionais em que o patrimônio imaterial está interelacionado com o ambiental, histórico e arqueológico. O autor discute o tema a partir de um rico referencial teórico proposto por Reinhart Koselleck e François Hartog, deixando patente os entrecruzamentos temporais que o tema do patrimônio cultural promove.
O volume ainda contém, além dos artigos livres, resenha que analisa criticamente o livro de Maria Lúcia Bressan Pinheiro, Modernismo e Preservação do Patrimônio no debate cultural dos anos 1920 no Brasil, elaborada por Marília de Azambuja Ribeiro e Angélica Cristina de Paula Botelho. Inebriados com esses ares carnavalescos, desejamos que apreciem a leitura!
Isabel Guillen
Augusto Neves
GUILLEN, Isabel; NEVES, Augusto. Apresentação. CLIO – Revista de pesquisa histórica, Recife, v.31, n.1, jan / jun, 2013. Acessar publicação original [DR]