Negação e poder: do desafio do niilismo ao perigo da tecnologia – OLIVEIRA (RFA)

OLIVEIRA, J. R. Negação e poder: do desafio do niilismo ao perigo da tecnologia. Caxias do Sul: Educs, 2018. Resenha de: VIOLA, Geovani. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba, v.31, n.54, p.986-992, out./dez, 2019.

As ideias de Hans Jonas não representam “apenas” o pensamento de um filósofo clássico do século XX, mas remetem a uma das vozes mais importantes da ética contemporânea. O inventário de sua filosofia demonstra que seu interesse, no âmbito teórico, esteve voltado para a filosofia da religião e à filosofia da natureza (a partir dos interesses em torno da vida), e, em âmbito prático, para os efeitos da técnica e o despertar de uma nova ética.

No Brasil, o interesse pela obra de Jonas decorre inicialmente de sua proposta ética e pode ser demarcado pela tradução precursora do capítulo Por que a técnica moderna é um objeto para a ética? da obra Technik, Medizin und Ethik. Zur Praxis des Prinzips Verantwortung (Frankfurt a/M, Insel, 1985, pp. 42-52, mais tarde traduzido pelos membros do GT Hans Jonas da ANPOF), realizada pelo professor Oswaldo Giacoia Júnior. Posteriormente, a tradução da obra O Princípio Responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica (Contraponto, PUCRio, 2006) abriu caminho para uma série de publicações acerca do autor. Outros trabalhos de divulgação e interpretação foram se somando às traduções, mas é com a obra Negação e Poder, o “fascinante livro de Jelson Oliveira”1, que o pensamento de Jonas tem um novo e significativo capítulo impresso no cenário nacional.

O texto é fruto de pesquisa de pós-doutorado realizada na Universidade de Exeter, no Reino Unido, em 2016, sob supervisão do professor Michael Hauskeller. Sua publicação em 2018, estabelece definitivamente um marco no cenário filosófico brasileiro, sobretudo pelo protagonismo das conexões feitas por Oliveira entre o tema da técnica com os desafios do niilismo, atrelando o pensamento jonasiano ao de Nietzsche e de Heidegger. Se Jonas não explicitou a unidade teórica de seus textos, Oliveira demonstra que o conceito de niilismo é o traço característico e ao mesmo tempo um fio condutor da obra de Jonas (p. 24).

É sabido que as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial e o crescimento exponencial da tecnologia impactaram e redirecionaram o interesse de Jonas, pois representavam um problema que advinha, sobretudo, de um âmbito eminentemente prático. A obra Negação e Poder segue as pistas de Jonas para demonstrar que, embora tais fatos fossem novos como fenômenos da modernidade, eles partilham com a Antiguidade o mesmo sentido daquela negação do mundo já identificada por Jonas nos movimentos gnósticos do cristianismo primitivo. Se na tradição gnóstica tal negação era expressa na forma hostil com a qual o homem se relacionava com o mundo, segundo a tradição existencialista, tal negação era revelada pela via da indiferença, cujo resultado é o mesmo — e talvez até mais grave: o antinomismo, o amoralismo, o libertinismo, o ascetismo, a crise da temporalidade e a abertura para a exploração da natureza como resultado daquela indiferença (p. 24

Se o uso de armas químicas e biológicas já tinha sido razão para preocupação na ocasião da Primeira Guerra Mundial, o desfecho da Segunda Grande Guerra deixou um legado ainda mais ameaçador com relação ao emprego da técnica para fins nocivos: as explosões das duas bombas atômicas no Japão e os experimentos com seres humanos nos campos de concentração alemães alertaram o mundo quanto ao descompasso que havia sido perpetrado pelas ações humanas. Esse contexto conservou o tema do gnosticismo, tratado como uma tipologia existencial, no horizonte das análises jonasianas durante toda sua vida. Oliveira evidencia que os textos sobre o assunto continuaram sendo revistos e produzidos, uma vez que a “forma existencial gnóstica” assumiu uma “dimensão paradigmática” no seu pensamento, tanto do ponto de vista teórico, quanto ético. Mais do que isso, o niilismo moderno é apresentado por Oliveira como chave de leitura para o diagnóstico jonasiano da era moderna, pois uma vez que a ciência esvaziou o sentido que antes era oferecido pelas crenças e superstições, ela própria seria um desdobramento do niilismo. Eis uma marca relevante da sociedade ocidental.

Digno de nota é o argumento de Oliveira acerca da diferença do homem gnóstico com o homem técnico. Se o primeiro lutava contra o mundo para fugir dele, o segundo trabalha no mundo para explorá-lo como fonte de recursos, amparado em um avanço do progresso que cresce proporcionalmente ao distanciamento do homem em relação à natureza (p. 25), um distanciamento tomado não apenas em relação ao mundo, mas também do ser humano perante si mesmo e em relação à sua imagem. O que a análise alcança é precisamente o despertar para o fato de que a posição de distanciamento que adviria, sobretudo do antropocentrismo moderno, teria por consequência um tratamento com a vida que não passaria por uma “inclusão”, mas, ao contrário, seria marcado por uma intensa “exclusão”.

Se o primeiro tipo de niilismo negava o mundo, o segundo exerce um poder sobre ele: negação e poder, por isso, antes de serem pares contrapostos, devem ser entendidos como elementos confluentes e intercomplementares (p. 25), pois conforme já havia indicado Jonas, em The phenomenon of life (p. 250), a filosofia existencialista — com seu “gnosticismo moderno” — produziu uma separação abissal entre o homem e a natureza. Para Oliveira, as duas formas de niilismo representam o modus operandi da cultura ocidental, segundo o qual a civilização cresce em sentido proporcionalmente contrário à natureza. Coadunando, assim, com a análise de Jonas quando afirma que essa separação chegou ao ponto em que “nunca uma filosofia preocupou-se tão pouco com a natureza quanto o existencialismo, para quem ela não conservou nenhuma dignidade” (PV, p.250), a obra Negação e Poder elucida com a acuidade peculiar do autor, como a natureza, na modernidade, foi destituída de qualquer dignidade quanto a fins e valores e transformada em um grande laboratório de experimentações. Desse modo, na medida em que a perda da dignidade humana ocorre como desligamento do homem em relação à natureza, ou seja, um erro avaliativo sobre o seu próprio lugar no âmbito da vida, tal situação “leva-nos mais uma vez de volta ao dualismo entre ser humano e physis, como fundo metafísico da situação niilista” (PV, p.251).

Negação e Poder está metodologicamente estruturada em cinco partes, sendo que cada novo capítulo representa, segundo o próprio autor, “um incremento aprofundado da abertura teórica anterior” (p. 30). No primeiro, Oliveira demonstra que Jonas, embora parta de suas próprias perspectivas teóricas acerca do niilismo, retoma o conceito a partir de Nietzsche e Heidegger, sobretudo na sua associação ao diagnóstico de decadência e declínio da civilização ocidental (p. 34), processo que culminará com a ruptura entre homem e o mundo. Mais do que isso, na concepção do mundo como um lugar inóspito e a natureza como um corpo morto, o que faz com que a ciência moderna se apoie em uma “ontologia da morte” (PV, p.30) e o homem defina-se enquanto ser, negando seu pertencimento ao âmbito da vida. Oliveira demonstra, no primeiro capítulo, que há um fio condutor na obra de Jonas em torno do tema do niilismo que pode ser organizada em três eixos temporais e temáticos (p. 125-126): a dimensão cósmica-gnóstica com seus estudos acerca da natureza, a dimensão onto-antropológica com seus estudos acerca do homem e a dimensão ética com seus estudos acerca da tecnologia. Em cada dimensão há em comum o diagnóstico de um dualismo latente. O niilismo, derivado desse dualismo, torna-se uma rejeição do mundo físico, que, pela via da ciência moderna, trouxe um afã de exploração humana da res extensa tida como inerte, sem preocupação e responsabilidade, sendo essa também a marca da ciência e da tecnologia moderna, as quais, legitimadas pela filosofia existencialista, compreendem o mundo pela vida da indiferença.

Oliveira finaliza o primeiro capítulo demonstrando que, embora Jonas tenha recebido influências de Nietzsche e Heidegger acerca da análise do niilismo, ele possui uma formulação própria do problema, ligada à atitude de negação do mundo na forma da hostilidade, da indiferença ou da exploração tecnológica. Em seguida, no segundo capítulo, o autor aborda três Formas do niilismo, sendo eles o niilismo cósmico, compreendido como negação do mundo; o niilismo antropológico, isto é, a negação da “imagem” do homem ou da própria ideia do que seja o homem propriamente dito; e o niilismo ético, amparado no diagnóstico do niilismo técnico, que deixou a humanidade sem um critério moral capaz de orientar a técnica. A técnica, nesse contexto, promove muitos êxitos, mas, desamparada eticamente, não é capaz de “julgar a sua eficácia do ponto de vista do bem da espécie”, apresentado por Oliveira como uma nova versão da ideia de “bem comum”, posto que ampliado para o âmbito extra-humano (p. 247).

O tema do terceiro capítulo é justamente O niilismo da técnica, que teria como característica a “desumanização e a desominização na forma de um acosmismo” (p. 260) e tratado por Oliveira a partir de quatro aspectos que demonstram como a técnica se apresenta em sua forma niilista: a sua dinâmica formal, a sua “vontade de ilimitado poder”, a ignorância dos fins e dos valores e a utopia do progresso. Esses quatro aspectos evidenciam, como produto da utopia tecnológica, a negação do caráter autêntico da humanidade atual em função de uma nova humanidade, culminando com uma “natureza desnaturalizada e um homem desumanizado” (p. 340). Dessa forma, o capítulo cumpre o objetivo de demonstrar os resíduos niilistas da técnica, movida por uma dinâmica própria e impulsionada por uma perspectiva utópica.

No quarto capítulo, denominado O transumanismo é um niilismo, Oliveira apresenta o transumanismo como último reduto das utopias e herdeiro do niilismo por três razões (p. 341): partem de uma “neutralização da imagem de homem” (SDD, 120); [2] que o ser humano, tal como ele foi até agora, permaneceu preso aos limites impostos pela natureza, portanto, a natureza ou mesmo a condição humana devem ser superadas para que o homem seja melhor no futuro — trata-se ainda de uma “ontologia do ‘ainda não’”; [3] a tecnologia ofereceria a possibilidade de melhoramento, mas sua ação permanece sempre atirada a si mesma, dado que lhe falta uma imagem ou modelo e mesmo um objetivo claro capaz de orientar o seu fazer. Embora Jonas não utilize o termo transumanismo, Oliveira elucida que sua reflexão inaugura a possibilidade de uma análise desse fenômeno, principalmente a partir da atividade reconfiguradora da biotecnologia, eis que o chamado movimento transumanista coloca-se no cerne no debate a respeito da reconfiguração do ser humano (e da vida em geral), posto que pretende corrigir e alterar (melhorar) a performance e obter total controle sobre a natureza, mesmo diante da ausência de um modelo (ou mesmo de objetivos claros) para tal. O quarto capítulo é finalizado demonstrando que as promessas do transumanismo, de prolongamento da vida ou cura da morte, acabam assumindo ares religiosos, na medida em que um dos pontos centrais da religião sempre foi a promessa da imortalidade.

No quinto e último capítulo, Oliveira detalhará que “ao pensar o niilismo como marca principal da história ocidental” (p. 395), a proposta de Jonas se apresenta, portanto, tanto como um diagnóstico de suas consequências, quanto como uma tentativa de formulação de três perspectivas esboçadas por Hans Jonas para o Enfrentamento do niilismo, sendo elas: a articulação de uma nova ontologia, uma nova antropologia e uma nova proposta ética baseada na responsabilidade. Sua ontologia é constituída a partir de uma compreensão biológicofilosófica do fenômeno da vida, o que seria uma nova interpretação do fenômeno da vida, por meio de um monismo de terceira via, ou de um monismo integral. A partir de tal ontologia, Oliveira explana como Jonas, embora não tenha desenvolvido uma nova antropologia, aponta para essa perspectiva a partir de um religamento do homem com a natureza/mundo/cosmos. Por fim, a terceira forma apresentada para o enfrentamento do niilismo está constituída em sua proposta ética, que é baseada na responsabilidade e seu fundamento é declaradamente metafísico, uma vez que se apoia em uma nova formulação para a pergunta sobre o Ser. Nesse sentido, o princípio responsabilidade nasce tanto de uma nova visão a respeito do homem (uma nova antropologia), quanto de uma nova perspectiva a respeito dos seus poderes tecnológicos, sendo que o princípio ético fundamental, do qual o preceito extrai sua validade, é o seguinte: “a existência ou a essência do homem, em sua totalidade, nunca podem ser transformadas em apostas do agir” (PR, p.86).

O Epílogo, por sua vez, resgata, na forma ensaística, um personagem tornado central por Camus na interpretação existencialista da condição humana. Diferente de Camus, o interesse de Oliveira é pelo Sísifo que ergue a pedra. “O que me interessa em Sísifo não é a sua tomada de consciência sobre o absurdo, mas o fato de que, diante da falta de sentido, ele continue trabalhando” (p. 473). Sísifo serve de fonte mítica para a interpretação do tecnologismo, que revela a condição existencial de nossa era, que da mesma forma, ao fazer, deixa de pensar e sem pensar, “seu fazer é redundante, sem finalidade, fechado no ato presente e, por isso, irresponsável diante do futuro” (p. 473). A condição de Sísifo serve de metáfora para a moderna tecnologia, na qual a atividade se torna obrigação por excelência, e, nesse caso, serve como uma espécie de conclusão do livro, na qual Oliveira, mais do que analisar o niilismo e seu desdobramentos, apresenta uma tarefa à filosofia: encontrar meios de contribuir para construir uma convivência que minimize as suas consequências. Aqueles que se interessam pela obra de Jonas certamente encontrarão neste livro um valioso subsídio para o melhor entendimento desse autor, pois se trata de um texto criterioso e original. Jelson Oliveira sempre desenvolveu intensa e extensa publicação de cunho filosófico, com grande dedicação à pesquisa. Essa é sua 31ª obra publicada. Se a quantidade impressiona, é a egrégia qualidade de sua pesquisa e maturidade de seu texto que lhe proporcionam respeito e reconhecimento junto à comunidade da área. Negação e Poder, sem a menor dúvida, posiciona o autor, no cenário nacional e internacional, entre o rol de experts dos estudos jonasianos.

Nota

1 Expressão utilizada por Michael Hauskeller, professor da Universidade de Liverpool, no prefácio (p. 15) da obra Negação e Poder.

Geovani Viola – Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba, PR, Brasil. Doutor em Filosofia. E-mail: geovani.moretto@pucpr.br

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Paraconsistent Logic: Consistency, Contradiction and Negation – CARNIELLI; CONIGLIO (M)

CARNIELLI, W.; CONIGLIO, M.. Paraconsistent Logic: Consistency, Contradiction and Negation. Logic, Epistemology, and the Unity of Science Series. New York: Springer, 2016. Resenha de: ANTUNES, Henrique; CICCARELLI, Vicenzo. Manuscrito, Campinas, v.41 n.2 Apr./June 2018.

The principle of explosion (also known as ex contradictione sequitur quodlibet) states that a pair of contradictory formulas entails any formula whatsoever of the relevant language and, accordingly, any theory regimented on the basis of a logic for which this principle holds (such as classical and intuitionistic logic) will turn out to be trivial if it contains a pair of theorems of the form A and ¬A (where ¬ is a negation operator). A logic is paraconsistent if it rejects the principle of explosion, allowing thus for the possibility of contradictory and yet non-trivial theories.

Among the several paraconsistent logics that have been proposed in the literature, there is a particular family of (propositional and quantified) systems known as Logics of Formal Inconsistency (LFIs), developed and thoroughly studied within the Brazilian tradition on paraconsistency. A distinguishing feature of the LFIs is that although they reject the general validity of the principle of explosion, as all other paraconsistent logics do, they admit a a restrcited version of it known as principle of gentle explosion. This principle asserts that a contradiction that concerns a consistent formula logically entails any other formula of the language. The expression ‘consistent’ here is a generic term susceptible to several alternative interpretations (not necessarily coinciding with non-contradiction), depending on the particular LFI under consideration. Another (related) feature that distinguishes the LFIs from other paraconsistent logics is that they internalize this unspecified notion of consistency inside the object language by means of a unary sentential operator ○ (called ‘consistency operator’ or simply ‘circle’). When prefixed to a formula A, ○ expresses that A is consistent or well behaved, however these expressions are to be interpreted in each particular case.

Paraconsistent Logic: Consistency, Contradiction and Negation, by Walter Carnielli and Marcelo Coniglio, is entirely devoted to the Logics of Formal Inconsistency. The book covers the main achievements in the field in the past 50 years or so, presenting them in a systematic and (to a great extend) self-contained way. Although the book is mostly concerned with particular logical systems, the relations among them, and their corresponding metatheoretical properties, it also sets the basis of a new philosophical interpretation of paraconsistent logics.

The book contains nine chapters, which altogether cover several topics about the LFIs. In Chapter 1 the authors explain the rationales behind paraconsistent logics in general and the LFIs in particular, and discuss the philosophical problems related to paraconsistency under the light of some general issues in the philosophy of logic (such as the nature of logic and the nature of contradictions). It is argued that since there are some real life situations in which contradictions do actually turn up, paraconsistent logics are justified, no matter how those contradictions are interpreted – whether they are seen as concerning reality or knowledge. The chapter also discusses the relation between paracomplete and paraconsistent logics and analyzes some key notions related to paraconsistency, such as consistency, contradiction (and the principle of non-contradiction) and negation.

In Chapter 2 the concept of LFI is precisely defined, as well as other basic technical notions employed throughout the book. A minimal propositional LFI, called mbC, is introduced by means of an axiomatic system. mbC results from positive classical propositional logic by the inclusion of two additional axioms: the principles of excluded middle and gentle explosion – A ∨ A and ○A → (A → (¬A → B), respectively. mbC is then provided with a valuation semantics with respect to which it is proved to be sound and complete. The relations between mbC and classical propositional logic are carefully analyzed. The analysis reveals that mbC can be viewed both as a sublogic and as an extension of classical logic, when these terms are suitably qualified.

Chapter 3 presents several extensions of mbC and analyzes the relations between the notions of consistency/inconsistency and contradictoriness/non-contradictoriness – formally expressed by the formulas ○A/¬○A and A ∧ ¬A/¬(A ∧ ¬A), respectively. As it turns out, although consistency and non-contradictoriness (and inconsistency and contradictoriness) are partially independent in mbC, they may or may not coincide in some of its extensions. In addition, the notion of a C-system is introduced. Despite the complexity of the relevant definition, a C-system simply amounts to an LFI within which the consistency operator is definable in terms of the other connectives of the language. Da Costa’s hierarchy of paraconsistent logics – a family of paradigm examples of C-systems – is briefly presented and explained. The chapter also deals with the important notions of propagation and retro-propagation of the consistency operator.

The first part of Chapter 4 is devoted to the problem of the algebraizability of some LFIs, and the second part discusses some many-valued LFI-systems. In Section 4.1 some preliminary concepts concerning logical matrices are introduced. Section 4.2 contains a Dugundji-style proof of the uncharacterizability by finite matrices of the LFIs presented so far. Section 4.3 contains a proof of the algebraizability of some extension of mbC in the broader sense of Block and Pigozzi. The remaining sections deal separately with different many-valued LFIs, most of which were proposed several decades before the emergence of the concept of Logic of Formal Inconsistency.

Chapter 5 represents a partial detour from the main exposition, for the systems presented therein are not extensions of positive classical propositional logic. The first case considered by the authors is that of intuitionistic logic: more specifically, it is shown how a consistency operator ○ can be defined within Nelson’s logic N4 in terms of a strong negation ~ operator (i.e., ○A ≡ ~(A ∧ ¬A)). Another interesting case covered by the chapter is that of modal logic, where the consistency operator is shown to be interpretable as having a sort of “modal flavor”. In particular, the definition ○A ≡ A → □A can be introduced in normal non-degenerate modal logics. Some systems of fuzzy logic are also analyzed in the chapter. In all of the aforementioned logics, the strategy pursued by the authors consists in defining a consistency operator within the system in question and then showing that it satisfies the general definition of an LFI.

Chapter 6 is devoted to the problem of defining non-deterministic semantics for non-algebraizable systems (even in the broader sense of Block and Pigozzi). It presents three main formal semantics – based, respectively, on F -structuresnon-deterministic logical matrices, and possible translations. Of particular interest, especially from a more philosophical point of view, is the so-called possible translation semantics, whose main idea is to translate a given logic into logics whose semantics are well known and deterministic. The relevant notion of translation is that of a mapping preserving logical consequences and the rationale for this approach is the interpretation of a logic as a combination of “possible world views”.

Chapter 7 concerns first-order LFIs. The chapter is mainly devoted to two systems: QmbC, the first-order extension of mbC, and QLFI1. Due to the non-deterministic nature of mbC, a non-standard semantics is defined for its first-order extension: the authors introduce the notion of a Tarskian paraconsistent structure, defined as an ordered pair composed of a Tarskian structure (in the classical sense) together with a non-deterministic valuation. Concerning QLFI1, the approach is twofold: on one hand, it is shown how the language may be interpreted in a suitable Tarskian paraconsistent structure; on the other hand, a different semantics is proposed, given that the propositional fragment of QLFI1 can be characterized by a three-valued matrix. The semantics is represented by a partial structure, defined in a similar way to a classical Tarskian structure, except for the fact that all predicate symbols are interpreted as partial relations. Both QmbC and QLFI1 are proved to be sound and complete with respect to the corresponding semantics. Compactness and Lowenhëim-Skolem theorems are proved for QmbC.

Chapter 8 concerns one of the most straightforward applications of paraconsistent logics: set theory. Nevertheless, the authors’ approach to the subject is substantially different from what has been traditionally done in the field of paraconsistent set theory – namely, to formulate a non-trivial naïve set theory countenancing the unrestricted comprehension principle for sets. The systems presented in the chapter include all of Zermelo-Fraenkel set theory’s axioms (except for the axiom of foundation, which is replaced by a weaker version of it) with an LFI as the underlying logic. Another distinguishing feature of those systems is that they include a consistency predicate for sets whose behavior is governed by a set of additional axioms. Hence, whereas in a propositional LFI the property of consistency applies only to formulas, in the corresponding paraconsistent set theories it applies to both formulas and sets. The main results of the chapter are the derivability adjustment theorem (establishing that any derivation in ZF can be recovered within its paraconsistent counterpart) and a proof of the non-triviality of the strongest system presented in the chapter.

Chapter 9 discusses the significance of contradictions for science, describing some historical paradigm examples where contradictions seem to have played an important role in the development of scientific theories. It also proposes an interpretation of paraconsistent logics according to which they are better viewed as possessing an epistemological, rather than an ontological, character; in a nutshell, this means that they are not supposed to deal primarily with reality and truth (as in the case of classical logic), but with the epistemic notion of evidence. This interpretation is meant to be a more palatable alternative to dialetheism (the thesis that there are true contradictions), since it neither affirms the existence of true contradiction nor rejects classical logic as incoherent – adhering thus to logical pluralism.

One of the main virtues of Paraconsistent Logic: Consistency, Contradiction and Negation is that it keenly highlights the pervasiveness and generality of the notion of logic of formal inconsistency. Firstly, because it shows through the definition of an LFI how several systems of paraconsistent logic proposed in the literature – which at first sight might have appeared to be quite unrelated with one another – can be framed under a single unifying concept. Secondly, because it emphasizes that the definition of an LFI is applicable to systems based on logics of various different kinds, such as classical, intuitionistic, fuzzy, and modal logic. The resulting multiplicity of systems allows for various alternative semantic approaches, which are carefully described in several chapters of the book (e.g., valuation semantics, deterministic and non-deterministic matrices, F-structures, swap structures, possible translations semantics).

The book is mainly devoted to the taxonomy of LFI-systems, leaving little room for a more detailed discussion of the intrinsic properties of each particular system. This is understandable, though, since it is not meant to be a textbook. However, it is possible to use the book as an introductory text on formal paraconsistency by skipping some of the more technical chapters (e.g., a reader merely interested in those LFIs based on positive classical propositional logic may well skip chapters 5, 6 and possibly 8).

Concerning the more philosophical chapters of the book (chapters 1 and 9), the reader might think that the issues discussed therein would have deserved a more extended and rigorous analysis, especially when compared to the painstakingness of the other chapters. In particular, she might find the epistemic interpretation of paraconsistent logics wanting, despite its initial plausibility, this view in not sufficiently argued for. Moreover, specific relations between the epistemic interpretation and the particular features of the LFIs are missing. Nevertheless, this apparent shallowness is presumably due to the fact the purpose of those chapters is not to thoroughly develop a philosophical theory about paraconsistency, but merely to indicate some conceptual possibilities. After all, Paraconsistent Logic is mainly a technical piece of work.

So much for the general considerations. There are two specific points that we think would deserve a more detailed discussion. The first one concerns the cumbersome notation employed in the characterization of the semantics of first-order LFIs (Chapter 7): the strategy adopted by the authors in that chapter consists in extending the (non-deterministic) propositional valuations to the first-order case, combining these with a (classical) Tarskian structure – characterized, as usual, by a non-empty domain together with an interpretation function. The resulting first-order valuations apply thus only to sentences and the notion of truth, as in the propositional case, is not defined in terms of assignments, sequences, or any other technical device usually employed in order to interpreted the variables. The absence of any of these devices leads the authors to locally indicate all the relevant substitutions of individual constants for the free variables of a given formula. In the case of QmbC, for example, the semantic value of a quantified formula ∀xA (under a structure ? and a valuation v) is defined by means of the following clause:

v(∀xA) = 1 iff v(A[x / ā]) = 1, for every a in the domain of ?

where A[x / ā] denotes the result of substituting the constant ā for all free occurrences of x in A, and where the language is supposed to have at least one individual constant ā for each elements a of the domain of ? (that is, the language is supposed to be diagrammatic). At first sight, the use of the notation [x / ā] (and its generalization [x 1,…, x n / ā 1,…, ā n] to multiple simultaneous substitutions) does not seem to compromise readability at all – in fact, they are usually employed in the definition of substitutional semantics for first-order logic. However, matters become much more complicated when it comes to the additional clauses introduced in the definition of v(A) in order to guarantee that the substitution lemma holds for Tarskian paraconsistent structures. One of these clauses, which concerns the negation operator, is formulated as follows:

(sNeg) For every contexts (x ; z) and (x ; y), for every sequence (a ; b ) in the domain of ? interpreting (x ; y ), for every A L(?) x ; z and every t T(?) x ; y such that t is free for z in A, if A[z/t] L(?) x ; y and c = (t[x ; y / a ; b ]) ? then:

If v((A[z/t])[x ; y / a ; b ]) = v(A[x ; z / a ; c]) then

v((¬A[z/t])[x ; y / a ; b ]) = v(¬A[x ; z / a ; c])

Without attempting to individually explain every piece of notation above, (sNeg) merely expresses that if the substitution lemma holds for a formula A, then it holds for its negation as well (the introduction of this clause, absent in the definition of classical first-order structures, is necessary given the non-deterministic behavior of the negation operator in mbC). Now, it is quite clear that the reader would probably take several minutes to read and understand (sNeg). Moreover, this situation is not restricted to (sNeg), but it also happens with the similar clause concerning the consistency operator and the formulation and proof of various semantic theorems enunciated in Chapter 7. The notational cumbersomeness of the chapter is further worsened by the introduction of the notion of extended valuation, which assigns a truth value to an arbitrary formula A (not necessarily a sentence) by indicating a sequence of individual constants with respect to which A is to be evaluated. More precisely, if the free variables in A are among x 1,…, x n (abbreviated by x → ) then the truth value of A under the extended valuation v x a is simply v(A[x 1,…, x n / ā 1,…, ā n]). This notion represents a simile of the notion of satisfaction and is necessary in order to provide an interpretation for the open formulas.

The notation of Chapter 7 could, however, be greatly simplified in the following way: instead of importing the notion of valuation from the corresponding propositional LFI, the authors could well have defined a new notion of valuation which assigns one of the truth values 0 or 1 to each pair (sA), where s is an assignment of objects of the domain to first-order variables and A is an arbitrary formula (open or closed). All definitions and theorems of the chapter could then be easily adapted according to this strategy, yielding much simpler formulations. In particular, clause (sNeg) above would become:

(sNeg’) Let A be a formula with at least one free variable z and let t be a term free for z in A. Let s be an assignment in a structure ? and let s’ be the assignment which is just like s except that is assigns the interpretation of t under s to the variable z. Then:

If v(s’A) = v(sA[z / t]) then v(s’, ¬A) = v(s, ¬A[z / t])

In addition to the evident simplicity of this new formulation, it is worth mentioning that since the notion of valuation above applies to any formula whatsoever of the language (open or closed), it is unnecessary to introduce extended valuations, resulting in a significant conceptual simplification.

Our second criticism concerns the paraconsistent set theories of Chapter 8. In general, the main motivation for a paraconsistent set theory is to recover the intuitive notion of set codified in the unrestricted principle of comprehension – i.e., the idea that every property P determines a set of all and only those objects having P. Of course, this can only be achieved by renouncing to classical logic, since that principle classically entails the existence of contradictory sets (e.g., Russell’s set, universal set, etc.). On the other hand, classical set theories (such as ZF) maintain classical logic at the cost of imposing what seems to be ad hoc restrictions to the comprehension principle and countenancing additional principles whose justification seems also ad hoc. Hence, paraconsistent and classical set theories are symmetrically opposed to one another: what the former tries to achieve (i.e., preserve the intuitive notion of set) is given up by the latter, and what the latter preserves (i.e., classical logic) the former revises.

Nevertheless, the approach to paraconsistent set theory adopted by the authors diverges significantly from these two trends. Firstly, because the attempt to recover the intuitive notion of set codified in the principle of comprehension is explicitly given up once they opt for ZF-like axiomatizations of their theories – ruling out well-known inconsistent collections from the outset. Secondly, given that those theories are variations of ZF based on one or another LFI, the revision of the underlying logical theory is achieved by extending classical logic, rather than renouncing to it. In fact, each of the set theories of Chapter 8 is equivalent to ZF under the assumption that all sets enjoy the property of consistency.

This particular take on paraconsistency may leave the reader wondering what is the point of having a paraconsistent set theory that does not explicitly countenance contradictory collections (‘Why not just stick with ZF?’, she might ask.). The book does not provide an explicit answer to this question, though. However, it would not be difficult to imagine a scenario in which the systems of Chapter 8 would be vindicated: suppose that ZF is someday shown to be inconsistent. Under this circumstance, any of those systems could be used to preserve the strength of ZF while avoiding its triviality. Even though a paraconsistent set theory of this kind may turn out to be fruitful, its fruitfulness turns on an unlikely possibility, though – namely, that ZF could be inconsistent. In view of such a possible application, we suggest that the approach to paraconsistent set theory adopted by the authors is aimed at presenting alternative versions of ZF that are more “cautious” in the sense that they would be able to withstand contradictions, should they ever arise within ZF. For this reason, we believe that those theories should not be viewed as competitors to classical set theories, but rather as interesting and possibly useful variations of it, whose mathematical properties are nonetheless worth investigating.

Paraconsistent Logic: Consistency, Contradiction and Negation is a comprehensive text on the LFIs and fulfills an important gap in the literature on paraconsistency. A huge amount of significant results is presented for the first time in a single text, providing the reader with an extensive survey of the research in the area. Moreover, the content of the book is not limited to the achievements of the so-called Brazilian school of logic, but also encompasses contributions coming from other areas and research groups. As a result, it is highly recommended for everyone interested in both the formal and the philosophical aspects of paraconsistency, including mathematicians, linguistics, computer scientists, and philosophers of language, mathematics and science.

References

CARNIELLI, W., CONIGLIO, M. Paraconsistent Logic: Consistency, Contradiction and Negation. Logic, Epistemology, and the Unity of Science Series. New York: Springer, 2016. [ Links ]

Henrique Antunes – State University of Campinas, Department of Philosophy, Campinas, SP, Brazil, antunes. E-mail: henrique@outlook.com

Vincenzo Ciccarelli – State University of Campinas, Department of Philosophy, Campinas, SP, Brazil. E-mail: ciccarelli.vin@gmail.com

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