A África que incomoda: sobre a problematização do legado africano no quotidiano brasileiro | Carlos Moore

A África que incomoda: sobre a problematização do legado africano no quotidiano brasileiro (2010) é um livro sobre uma diversidade de temas da contemporaneidade, não só brasileira, mas da totalidade dos países que se beneficiaram do tráfico de africanos escravizados e seus descendentes. Trata-se de uma obra de intervenção política que alia uma ampla fundação teórica à experiência de aproximadamente quatro décadas de observação de Carlos Moore em uma multiplicidade de ambientes sociais e no combate ao racismo, nas mais diversas partes do mundo. É um livro de fundamental importância, por trazer a contribuição do autor à compreensão da influência africana na cultura e no quotidiano sociocultural brasileiro.

O livro está dividido em três partes, sendo a primeira “África no cotidiano político: que tipo de cooperação”, a segunda, “A África no cotidiano educativo: bases práticas para o ensino da História da África”, e a terceira, “A África no cotidiano internacional: ou um governo federal continental, ou o caos”, composta por três entrevistas. Leia Mais

Poemas da recordação e outros movimentos – EVARISTO (REF)

EVARISTO, Conceição. Poemas da recordação e outros movimentos. Belo Horizonte: Nandyala, 2008. 72 p. (Coleção Vozes da Diáspora Negra, v. I). Resenha de: ALÓS, Anselmo Peres. O lirismo dissonante de uma afro-brasileira. Revista Estudos Feministas v.19 n.1 Florianópolis Jan./Apr. 2011.

A estreia de Conceição Evaristo nas letras brasileiras foi relativamente tardia, remontando aos inícios dos anos 1990, quando começa a colaborar em periódicos literários. Um dos principais meios nos quais Evaristo publica é a série Cadernos Negros, fundada pelo grupo Quilombhoje Literatura, coletivo de escritores fundado em 1980 com o objetivo de discutir e aprofundar a experiência afro-brasileira na literatura, incentivar o hábito da leitura e promover estudos, pesquisas e diagnósticos sobre literatura e cultura negra. Em 2003, a escritora publica o seu primeiro livro individual, Ponciá Vicêncio, romance que logo chamou a atenção da crítica, particularmente pela maneira com que a autora articula a reflexão sobre questões de gênero, raça e classe social. Três anos depois, Evaristo publica Becos da memória. Ainda que, em termos de publicação, este seja o segundo romance de Evaristo, a escrita dessa narrativa remonta à década de 1980. Tal como a própria escritora assinala, o livro se encontrava pronto desde 1988, mas acabou ficando no fundo da gaveta, adormecido. Chegou-se a cogitar uma publicação através da Fundação Cultural Palmares, ainda em 1988, mas “o livro já havia se acostumado ao abandono. E só agora, quase 20 anos depois de escrito, acontece sua publicação”.1

Em seu mais recente livro, Poemas da recordação e outros movimentos (2008), aparecem os motivos da diáspora negra, da autoria feminina e da construção da identidade negra como temas recorrentes. Em seu exercício de expressão, o lirismo dos poemas de Evaristo trabalha explicitamente no sentido de instaurar uma retórica da resistência, dando especial atenção ao desmantelamento dos estereótipos em torno do negro e da mulher (e mais especificamente, da mulher negra) no imaginário brasileiro. Tal como já afirmou Eduardo de Assis Duarte, as constantes temáticas da obra de Conceição Evaristo a inserem em um continuum de autores afrodescendentes, para os quais as questões étnico-raciais não são apenas um aspecto da realidade brasileira a ser incorporado em sua escrita, mas uma experiência constitutiva de suas subjetividades, signo indelével da diferença corporificado por tais autores: Leia Mais