Posts com a Tag ‘Mundos do Trabalho (MTd)’
Entre assistências e conflitos: políticas empresariais nas comunidades operárias da América Latina no século XX | Mundos do Trabalho | 2021
Durante muitos anos, as interpretações sobre a industrialização na América Latina enfatizaram seu caráter tardio, a relativa fraqueza (ou mesmo ausência) do empresariado local, a dependência do capital e das tecnologias estrangeiras.O incontestável desenvolvimento de estudos sobre os mundos do trabalho a partir das perspectivas da história social em nossa região, com os avanços no conhecimento das experiências dos trabalhadores, suas formas de protesto e envolvimento político, estimulou revisões sobre esse universo empresarial, suas características, maneiras de organização e associação, suas estratégias e identidades. Nesse percurso, este dossiê aborda uma dimensão desse universo: aquela referente ao assistencialismo empresarial na Argentina, no Chile e no Brasil. Seu objetivo é reconsiderar sua complexidade e relevância, com base em investigações cuja riqueza empírica estimula o debate sobre as categorias com as quais esse tema foi conceitualizado: paternalismo, “company welfare” assistencialismo empresarial, entre outros. Trata-se, portanto, de reconstruir alguns dos capítulos da complexa relação entre capital e trabalho nessas nações, em que conflitos e harmonias convergem em espaços de trabalho heterogêneos e diversos atores sociais. Leia Mais
Os mundos do trabalho e suas interfaces com a ciência, a saúde e a doença | Mundos do Trabalho | 2020
Vivemos um presente distópico, de pandemia e mudança repentina de hábitos, paradigmas, maneiras de compreender a realidade e lidar com suas consequências em nossa vida cotidiana. Uma realidade que foi pincelada, de maneira mais ou menos próxima ao que vivenciamos, por autores de ficção do século passado. O historiador Sidney Chalhoub se referiu ao momento que enfrentamos neste ano de 2020, com a pandemia da covid-19, como uma distopia neoliberal. Uma doença desconhecida, um vírus novo, e em poucos meses o mundo inteiro parou – e se trancou em casa. Ao menos quem pode. A pandemia obrigou os mercados a reduzir sua atividade, forçou o isolamento, encerrando viagens locais e internacionais, fechando fronteiras, na contramão da defesa exagerada do consumo e das propostas de um neoliberalismo privatista de extrema direita que se instalou em grande parte do mundo neste começo de século. A tão ovacionada globalização que, como descreveu Frederick Cooper, é sempre invocada para incentivar os países ricos a diminuir o Estado social e os países pobres a reduzir as despesas sociais, sofreu um forte abalo com a covid-19.1 Mais do que nunca, ficou explícita a importância de um sistema de saúde público e eficiente, de um Estado consistente que centralize a organização de todas as forças possíveis para salvar vidas. Leia Mais
Trabalhadores de construção: por estradas, ferrovias, açudes e outras obras | Mundos do Trabalho | 2020
De fato, como podia
um operário em construção
compreender por que um tijolo
valia mais do que um pão?1
Em várias partes do mundo, ao longo do tempo, grandiosas obras e empreendimentos desafiaram a capacidade humana, exigiram vultosos materiais e recursos e, sobretudo, demandaram o recrutamento de extensa força de trabalho. As construções de estradas, ferrovias, linhas telegráficas, canais, açudes, portos e usinas compõem algumas dessas expressões de engenhosas intervenções humanas, e se constituiu a base do desenvolvimento e dos processos de modernização econômica da maioria dos países, promovendo sensíveis impactos sociais e ambientais.
É comum que as cerimônias de lançamento e de inaugurações dessas grandes obras e empreendimentos sejam marcadas por pomposas celebrações festivas, com o objetivo de construir uma narrativa oficial em reconhecimento da importância e do prestígio de empresários, de engenheiros, das autoridades e dos governantes, reservando ao esquecimento e à invisibilidade personagens fundamentais: a classe trabalhadora. Leia Mais
Trabalhadores e Segunda Guerra Mundial | Mundos do Trabalho | 2019
Diversas vertentes da história do trabalho no Brasil convergem na identificação da conjuntura situada entre 1941 e 1945 como um momento marcante tanto para a consolidação institucional do sistema varguista de relações de trabalho quanto para a emergência de um padrão de participação popular na política que viria a se constituir em base do projeto político trabalhista. Na maior parte da historiografia dedicada a esses temas, entretanto, a coincidência desses processos com o progressivo envolvimento do Brasil na Segunda Guerra Mundial costuma ser ignorada, ou, quando muito, tratada como um mero pano de fundo. Permanece imensamente influente, até os dias de hoje, por exemplo, a abordagem cunhada por Francisco Weffort, que enfatiza a reorganização do movimento operário no pós-guerra e afirma que a ditadura do Estado Novo havia apagado completamente a memória das lutas anteriores.1 Entretanto, já em 1981, o trabalho pioneiro de Alem2 demonstrou que as greves e as transformações vividas pelo sindicalismo no período de redemocratização tiveram origem no próprio contexto da guerra. Como comentaremos posteriormente, as conexões entre “esforço de guerra” e “pós-guerra” vêm sendo exploradas de forma pontual por diversos trabalhos nas últimas décadas. Até recentemente, porém, raros eram os autores que colocavam a conexão entre guerra e mundos do trabalho no centro de suas análises. Leia Mais
Beatriz Ana Loner: mundos do trabalho e pós-abolição | Mundos do Trabalho | 2019
A análise das associações negras mereceu um estudo à parte. Isso porque, em razão do forte preconceito e discriminação que enfrentavam na sociedade, os negros foram obrigados a desenvolver uma rede associativa completa e diferenciada das demais. Eles formaram desde entidades recreativas até entidades de classe, para organizarem-se na luta pelos seus direitos como trabalhadores e de resistência contra o preconceito e a dominação branca. Nesse processo, provaram possuir um alto grau de criatividade e determinação que a simples enunciação de suas entidades deixa entrever.1
Embora o fragmento disposto acima evoque uma epígrafe, damos início à apresentação explicitando que ele é bem mais que isso. Aquilo que entendemos como a síntese da unidade entre o campo de estudos dos Mundos do Trabalho e aquele que viria a se constituir como campo de estudos sobre as Emancipações e o Pós- -Abolição, foi escrito pela pesquisadora e professora que dá nome ao dossiê, Beatriz Ana Loner. O excerto foi retirado de seu livro, “Construção de Classe: operários de Pelotas e Rio Grande, 1888-1930”, de 2001, com segunda edição em 2016. O livro é oriundo de sua tese de doutorado, defendida em 1999, junto ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Leia Mais
Variedades de História do Trabalho | Mundos do Trabalho | 2018
Esta edição especial de Mundos do Trabalho reúne artigos e resenhas que elucidam, cada um a seu modo, a vitalidade e os caminhos recentes da história e da historiograia do trabalho. As contribuições (algumas delas apresentadas no V Seminário Internacional Mundos do Trabalho – “Trabalho, democracia e direitos”, realizado em Porto Alegre entre 25 e 28 de setembro de 2018) demarcam, inequivocamente, um discurso histórico crítico e engajado, que pauta o dossiê “Variedades de História do Trabalho”. Afora a diversidade de temas explorados em cada artigo, o dossiê convida-nos a reletir seriamente sobre os desaios políticos, sociais e teóricos que se impõem à construção de abordagens mais sensíveis às diferenças e desigualdades raciais, de gênero, de classe e suas interrelações (experiências que constituem o alvo privilegiado de um campo da ciência histórica preocupado com o social, sendo este o elemento a caracterizar uma prática historiográica genuinamente crítica1 ), sem perder de vista a enredada problemática do global, das escalas e suas conigurações na abrangência da dinâmica espaço-temporal. Leia Mais
Trabalho doméstico: sujeitos, experiências e lutas | Mundos do Trabalho | 2018
Nas últimas décadas, muito foi discutido, entre historiadores sociais brasileiros e estrangeiros, sobre as renovações ocorridas no campo da História Social do Trabalho. Em já conhecidos balanços historiográicos reconheceu-se o fato de que, após um período de crise nos anos 1990, os estudos acadêmicos reunidos em torno da História do Trabalho, no Brasil e no mundo, aumentaram em termos de pesquisas e publicações e passaram por signiicativas mudanças nas primeiras décadas do século XXI.1 De modo geral, tais transformações foram marcadas por uma ampliação de temas e problemas e por uma abertura para novos métodos e abordagens. No Brasil, até os anos 1980, aproximadamente, pode-se dizer que se predominou o interesse pelo movimento operário e pelas relações dos trabalhadores organizados com o patronato e o Estado, a partir daquele momento, a historiograia do trabalho passou a abranger também outras dimensões das experiências dos trabalhadores, as quais envolvem, por exemplo, o cotidiano de vida e de trabalho e todo o universo da cultura operária.
Um dos aspectos mais evidentes desse processo de renovação na História do Trabalho é a mudança de perspectiva em relação ao seu objeto, que, inequivocamente, deixou de ser a história do operariado fabril (branco, masculino, imigrante, urbano e organizado). Conforme apontaram Alexandre Fortes e John French, “a exploração da complexidade da formação da classe, com atenção para a diversidade de culturas e identidades entre os trabalhadores” e “a redeinição do campo através de um esforço consciente para incluir aqueles que estão fora do mundo urbano-industrial”, implicou em “um recuo no tempo para incluir o trabalho escravo e outras formas não assalariadas de trabalho”.2 Leia Mais
História Social do Trabalho na Amazônia | Mundos do Trabalho | 2017
Até́ o início dos anos 1970, a teḿtica do trabalho ocupou, de modo geral, uma posição ambígua nas análises sobre história da Amazônia.1 Embora considerado um aspecto fundamental no processo de conquista socioeconômica e cultural da região, sua importância esteve frequentemente reduzida a um mero instrumento das ações políticas e alegados interesses civilizatórios dos colonizadores.2 Tal como em outras narrativas semelhantes, índios, negros e a maioria da população pobre livre e liberta figuravam como coadjuvantes de uma história que parecia ocorrer alheia às suas presenças, não obstante os constantes esforços para torná-los mão de obra disponível a quem pudesse reivindicá-la.
Desde entã̃o, muito se avançou nos estudos sobre história e historiograia da Amazônia, cujo escopo se ampliou significativamente, rumo aos mais diferentes temas. Num primeiro momento, entre o fim da dé́cada de 1960 e meados dos anos 1980, algumas pesquisas realizaram densas análises sobre as estruturas e relações econômicas da região, enfatizando os principais projetos políticos e atividades produtivas ali realizadas, desde a Colônia at́é o início da fase republicana.3 Já naquele mesmo período, surgiram estudos preocupados em interpretar as diferentes formas de exploração de trabalhadores indígenas, migrantes (principalmente cearenses) e os chamados “caboclos”, em recortes temporais que abrangiam desde o sé́culo XVIII at́é o final do XIX.4 Leia Mais
Cidadania, política e história do trabalho | Mundos do Trabalho | 2017
A revista Mundos do Trabalho é fruto do empenho de pesquisadoras e pesquisadores do GT Mundos do Trabalho, da Associação Nacional de História (ANPUH), em construir um espaço de divulgação e diálogo em torno desse campo de estudos. O projeto editorial colocado em prática desde o segundo número, lançado em 2009, previa a publicação semestral de dossiês, artigos livres e resenhas, afora entrevistas e comentários críticos sobre fontes e acervos documentais. Assim, o desaio assumido pelas equipes que conduziram os trabalhos editoriais ao longo de quase uma década foi o de contemplar a diversidade de problemas de investigação que atualmente pautam a produção acadêmica nessa área. A revista conseguiu reunir contribuições de autores nacionais e estrangeiros sobre relações de gênero; mundo urbano; experiências indígenas; mutualismo operário; embates entre trabalhadores e o poder municipal; processos e condições de trabalho; medicina e a saúde dos trabalhadores na América Latina; conlitos em torno do trabalho e da terra; trabalhadores em mineração; trabalhadores e a ditadura militar; biograia; perspectivas em torno da obra de E. P. Thompson; história social do trabalho na Amazônia; e trabalhadores livres no Atlântico oitocentista. Leia Mais
Biografia e História do Trabalho | Mundos do Trabalho I |2016
Organizadores
Benito Bisso Schmidt
Aldrin Castellucci
Referências desta apresentação
SCHMIDT, Benito Bisso; CASTELLUCCI Aldrin. A título de apresentação: biografia e história do trabalho. Mundos do Trabalho. Florianópolis, v. 8, n. 15, p. 5-8, jan./jun. 2016. Acesso apenas pelo link original [DR]
Biografia e História do Trabalho II | Mundos do Trabalho | 2016
Organizadores
Benito Bisso Schmidt
Aldrin Castellucci
Referências desta apresentação
A título de apresentação: biografia e história do trabalho. Mundos do Trabalho. Florianópolis, v. 8, n. 16, p. 5-7, jul./dez. 2016. Acesso apenas pelo link original [DR]
Trabalhadores e Ditadura | Mundos do Trabalho | 2014
Os cinquenta anos do golpe de 1964 têm assistido a um verdadeiro boom de publicações e estudos acadêmicos sobre a Ditadura Civil-Militar. Surpreendentemente, no entanto, os trabalhadores, personagens decisivos naquela conjuntura, têm sido razoavelmente negligenciados nas análises sobre o período. Nos numerosos eventos e atividades sobre o cinquentenário do golpe esta ausência é notável. Contudo, a presença pública e a luta por direitos, crescentes desde o final do Estado Novo, atingiriam um ápice justamente no início da década de 1960, mobilizando sindicatos, partidos, associações de moradores e outras formas de associação, como clubes de bairros e grêmios culturais. No campo e na cidade, os trabalhadores estavam no centro do cenário político.
A derrubada de João Goulart pelos militares representou a interrupção deste processo de ascensão da mobilização da classe trabalhadora brasileira. A elaboração de uma nova política trabalhista encetada pelo governo de Castello Branco (1964-1967), aplicada em conjunto com as medidas repressoras, assim como as intervenções nos sindicatos, possibilitou uma verdadeira revanche patronal. A aliança entre empresários e a polícia tornou-se ainda mais sólida e disseminada. Um clima de medo e perseguições passaria a dominar o interior das empresas. No campo, um número ainda não calculado de trabalhadores rurais foi expulso de suas terras e muitos foram mortos. Uma política econômica antitrabalhista proibiu greves, comprimiu salários, acabou com a estabilidade no emprego, facilitando demissões e a rotatividade da mão de obra. O deliberado enfraquecimento dos sindicatos facilitou em muito a superexploração dos trabalhadores, uma das marcas do regime autoritário, elevando o número de acidentes e mortes nos locais de trabalho. Leia Mais
Os mineiros e o trabalho em mineração | Mundos do Trabalho | 2015
Organizadora
Clarice Gontarski Speranza
Referências desta apresentação
SPERANZA, Clarice Gontarski. Os mineiros e o trabalho em mineração: experiências, lutas e identidades. Mundos do Trabalho. Florianópolis, v. 7, n. 14, p. 5-9, jul./dez. 2015. Acesso apenas pelo link original [DR]
Trabalho, saúde e medicina na América Latina | Mundos do Trabalho | 2015
Na primeira metade do século XX, consolidou-se na medicina um campo de conhecimento diretamente preocupado com a saúde dos trabalhadores. Em contraste com a higiene social e os esforços característicos da saúde pública, a medicina do trabalho visava prevenir os acidentes de trabalho e diagnosticar doenças que afetavam especiicamente os trabalhadores. Embora as razões para o surgimento da medicina do trabalho variem de um país para outro, as pesquisas recentes sugerem que houve avanços deinitivos nesse campo a partir da década de 1930.
A medicina do trabalho contrasta com outras áreas da medicina, principalmente porque seu objeto de estudo são cidadãos-trabalhadores, amparados por certos direitos sociais. Pode-se contestar essa ideia dizendo que a igura do operário doente se espalha pela literatura médica desde o século XIX, ou que crianças, mulheres e operários estiveram no âmago das discussões médico-sociais de todo o período. Ou ainda, que no quadro das polêmicas sobre a degeneração da raça, não havia muita diferença na abordagem de todos esses setores sociais, de modo que as fronteiras entre a deinição de trabalhadores e de pobres não estava muito clara. Leia Mais
Trabalhadores e Poder Municipal | Mundos do Trabalho | 2013
Organizadores
Cristiana Schettini – Pesquisadora do CONICET com sede no Instituto Interdisciplinario de Estudios de Género – Universidad de Buenos Aires. Professora no Instituto de Altos Estudios Sociales da Universidad Nacional de San Martín. E-mail: cschettini@hotmail.com
Paulo Terra – Professor da Universidade Federal Fluminense, Polo Campos dos Goitacazes. E-mail: p003256@yahoo.com.br
Referências desta apresentação
SCHETTINI, Cristiana; TERRA, Paulo. Apresentação. Mundos do Trabalho. Florianópolis, v. 5, n. 9, p. 5-8, jan./jun. 2013. Acesso apenas pelo link original [DR]
E. P. Thompson | Mundos do Trabalho | 2013
Em 2013, dezenas de eventos acadêmicos e publicações ao redor do mundo registraram os 50 anos da publicação do livro A formação da classe operária inglesa e os 20 anos da morte de seu autor, o historiador inglês Edward Palmer Thompson. Homenagens que revelaram a amplitude verdadeiramente global da repercussão da obra thompsoniana. Algo que não deixa de ser curioso, visto que uma das características mais marcantes do seu trabalho como historiador tenha sido sua preocupação com o estudo das particularidades de cada contexto histórico, o que o fez circunscrever suas obras de análise histórica ao estudo de uma formação social específica e “peculiar”, a Inglesa. Por certo que a história da Inglaterra, primeira grande potência imperialista do mundo capitalista industrial, afetava e era afetada pela presença global do Império Britânico, o que poderia explicar porque a história das lutas sociais na Inglaterra dos séculos XVIII e XIX, estudadas por Thompson, interessaram a tanta gente. Além disso, como aquela foi a primeira sociedade a experimentar a formação de uma classe trabalhadora assalariada em sua forma contemporânea, talvez muitos dos leitores de Thompson levassem a sério a proposta internacionalista, explicitamente comprometida com o presente e o futuro, que ele apresentou no prefácio de A formação, quando escreveu que “causas que foram perdidas na Inglaterra poderiam ser ganhas na África e na Ásia”.1 Leia Mais
Movimentos sociais urbanos | Mundos do Trabalho | 2012
O que delimita, o que abrange, afinal, a história social do trabalho: os seus temas/problemas próprios ou os modos específicos de abordá-los? A questão persistiu ao logo de toda a organização do dossiê Movimentos sociais urbanos, ora apresentado. A dúvida é ainda mais cabível pelo fato de o convite para organizar o presente número nos ter sido feito supondo-se que o anterior seria dedicado aos movimentos sociais rurais; esse era, portanto, nosso horizonte de expectativas (por razões técnicas, os editores optaram pela inversão dos dossiês).
Nos últimos anos, a história social do trabalho /orienta-se pela superação de dicotomias que demarcaram nosso campo de pesquisas. Nesse movimento, os estudos sobre pós-emancipação reconfiguraram os limites, por exemplo, entre “trabalho escravo” e “trabalho livre”, escravidão e imigração. Do mesmo modo, parece haver o esforço para ultrapassar divisões pouco elucidativas entre rural e urbano, arcaico e moderno, nacional e estrangeiro. Num certo sentido, os pesquisadores caminham para isso, enfatizando as continuidades entre práticas recorrentes nas fazendas escravistas e nas indústrias de ponta do capitalismo mais avançado; as conexões entre o rural e o urbano; as permanências do trabalho dependente, precário ou em condições análogas às da escravidão na chamada I República – apenas para citar exemplos caros aos estudiosos dos mundos do trabalho. Leia Mais
Terra, trabalho e conflitos | Mundos do Trabalho | 2012
Em 1981, foi publicado o livro História da agricultura: combates e controvérsias, de autoria de Maria Yedda Leite Linhares e Francisco Carlos Teixeira da Silva, que se tornou um divisor de águas nos estudos sobre a história agrária no Brasil. A obra era o resultado de um projeto de pesquisa sobre a história da agricultura brasileira desenvolvido por Linhares, a partir de 1976, no curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento Agrícola da Fundação Getúlio Vargas. Na década do período mais difícil da Ditadura, Linhares havia instituído um programa de estudos acerca da realidade agrária do país. A publicação de História da agricultura, em 1981, coincidiria com o início do processo de abertura política, durante o governo do último presidente militar, João Figueiredo. O livro era, assim, o resultado de uma trajetória marcada pelo engajamento político e por um otimismo manifesto em relação às questões que envolviam o problema agrário do país. Linhares e da Silva buscavam mostrar as múltiplas possiblidades de investigar o campo brasileiro, ajudando o leitor com informações – hoje tão acessíveis – sobre as características e as possibilidades de pesquisa dos documentos diretamente relacionados à estrutura fundiária, e sobre as fontes para o estudo das estruturas sociais, as de natureza cartorial, as de natureza econômica e políticoinstitucional, e os documentos oficiais, como atas, correspondências e legislações. O livro era ,desse modo, uma janela que se abria para o universo rural, desconhecido da grande maioria dos jovens universitários que haviam sido criados na Ditadura. Inseridos num período historiográfico cuja marca era a utilização do método quantitativo, eles desejavam contribuir para a consolidação de metodologias e modelos capazes de estimular os estudos sobre o tema no Brasil. Passados muitos anos após a criação daquele campo científico, ainda estão presentes muitas das questões inauguradas pelos autores. Leia Mais
Processos e condições de trabalho | Mundos do Trabalho | 2010
Ao idealizarmos o dossiê “Processos e condições de trabalho”, tivemos o objetivo de retomar o que se pode definir como um dos temas clássicos das pesquisas em História Social do Trabalho. Em meio à diversidade temática que tem caracterizado a recente produção acadêmica nessa área, as pesquisas a respeito da industrialização e, especificamente, sobre os processos e as relações de trabalho não deixaram de ser realizadas, mas talvez estejam ocupando cada vez menos a atenção dos pesquisadores.
Particularmente, tenho grande interesse pela análise dos processos, das relações e das condições de trabalho e aponto diferentes motivos que justificam a relevância de se continuar a pesquisar esse tema: em primeiro lugar, o fato de que a maioria das trabalhadoras e trabalhadores dedicou a maior parte de suas existências trabalhando e não militando em instituições classistas. Dessa maneira, conhecer em detalhes como eram suas lidas diárias me parece por si só um objeto relevante de pesquisa. Não obstante, não pretendo edificar uma barreira entre as pesquisas dedicadas à compreensão do trabalho, em suas variadas formas, e aquelas voltadas para o conhecimento e a interpretação da atuação política pública da classe trabalhadora. Minha intenção é afirmar que essa temática relaciona-se diretamente à proposta de uma História Social que busca compreender os múltiplos aspectos do processo de formação das classes trabalhadoras. Leia Mais
Os trabalhadores e o mutualismo | Mundos do Trabalho | 2010
Em pouco mais de vinte anos, a historiografia brasileira dedicada ao “mundo do trabalho” conheceu significativas mudanças de paradigma. Aqui, na apresentação deste dossiê dedicado ao “fenômeno mutual”, não é preciso reforçar a importância das publicações e das análises de E. P. Thompson para a referida renovação. Sem abandonar categorias como “classe” ou “luta de classes”, o marxista inglês entendeu que era preciso compreendê-las como algo processual, dependente da agência (existe como atividade, trabalho) dos sujeitos históricos1 . Através de um novo olhar, fundado na experiência, perdiam espaços as concepções mais ortodoxas e mais estruturalizantes, que eram tão caras aos “velhos” marxistas. Contudo, é necessário destacar que, no Brasil, a introdução e a recepção da obra de E. P. Thompson também dialogaram com novas conjunturas. A História ganhava contornos mais profissionais, o país se redemocratizava, os sindicatos mais combativos se (re)organizavam e os movimentos sociais (re)emergiam, impondo suas agendas aos intelectuais de esquerda2 . Nesse movimento, portanto, as classes subalternas faziam pressão por legitimidade política, direito à memória e à ampla participação social. Leia Mais
Perspectivas de gênero nos mundos do trabalho | Mundos do Trabalho | 2009
Os artigos reunidos neste dossiê trilham diferentes caminhos frente ao desafio comum de articular perspectivas de gênero num exercício de história social. A categoria analítica de gênero é neles empregada para rever e ampliar os limites do mundo do trabalho e seus sujeitos. As e os protagonistas das histórias contadas nos artigos que se seguem nem sempre cerraram fileiras em partidos políticos ou em sindicatos, e muitos deles não realizaram greves nem motins. Suas experiências sociais são aqui tomadas para problematizar os limites e a abrangência do conceito de classe trabalhadora, que não se expressa e não se esgota apenas em sua organização institucional.
As autoras deste dossiê escolheram enfocar primordialmente a complexidade da composição e do relacionamento de diversos grupos de trabalhadores, levando em conta as múltiplas noções identitárias que permeiam suas experiências. Leia Mais
Mundos do Trabalho | UFBA/Unicamp/UFSC/UFRRJ | 2009
A Revista Mundos do Trabalho (Salvador…, 2009-) é uma publicação digital da Associação Nacional de História do Trabalho – “GT Mundos do Trabalho/ANPUH”. Tem por objetivo a divulgação da produção acadêmica brasileira e internacional da área de História Social do Trabalho.
Mundos do Trabalho recebe o apoio da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com a hospedagem de seus serviços no Portal de Periódicos UFSC. A revista é financiada pelos Programas de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Periodicidade contínua.
Acesso livre.
e-ISSN 1984-9222
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