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A integração multidisciplinar e interdisciplinar
Atividade interdisciplinar em cenário imaginário de Caatinga 2 | Imagem: IA-MJ
Na aula anterior, relembramos definições e modos de integração multi, inter e transdisciplinar. Aqui, vamos expandir e exemplificar a integração, explorando o potencial multi e interdisciplinar de projetos de intervenção, currículos e programas.
1. A integração multidisciplinar
Na integração multidisciplinar, promovemos a colaboração simultânea ou sucessiva de métodos, conhecimentos e princípios de uma disciplina à outra disciplina. O objetivo é resolução um problema para a sociedade.
Neste caso, experimentamos uma ruptura entre as fronteiras disciplinares. Uma disciplina ajuda a outra. Aqui, um especialista recebe o auxílio do outro especialista em termos de conceitos, princípios, questões, temas, métodos de processamento de dados ou resultados acumulados em sua área.
No tópico 1.2 desta aula, exemplificaremos esse caso típico, mas antes vamos tocar em um tipo multidisciplinar bastante raro que é o modo intradisciplinar de integração.
1.1. Várias subdisciplinas reforçam uma disciplina
No modo intradisciplinar, mobilizamos várias subdisciplinas para dar respostas a um obstáculo, um problema, um dilema, enfim, um desafio que emerge no ambiente escolar. Mas ela também pode ser planejada, simultaneamente, para desconstruir na mente do estudante ideia de que uma disciplina das CHSA, no primeiro ano do EM, é independente e autônoma e reforçar uma identidade disciplinar.
No caso hipotético abaixo, a discussão entre os estudantes se dá em torno de uma prescrição do CS: os conceitos de diversidade e de identidade cultural (quadro 1, coluna 3). A questão que mobiliza é a seguinte: “É a buchada de bode um prato típico da culinária sergipana?”
Para cumprir a expectativa de aprendizagem (quadro 1, coluna 4), o professor demonstra que a natureza da comida, o ato do consumidor ou a disposição do mobiliário são elementos integrados à determinada paisagem. Ele reitera que tais elementos podem ser desintegrados/compartimentados para enfrentar eficazmente um problema.
Buchada de bode no Recanto do Agrestreiro. Aracaju-SE, 2022 | Imagem: Rio4fun
Ao observar virtualmente o “Recanto Agresteiro”, um estudante investido com as ferramentas de sociólogo pode se interessar pela produção, examinando a divisão do trabalho entre cozinheiros e garçons; pelos processos de produção da buchada ou pelos significados da comida para trabalhadores e clientes; e/ou pelos papeis de gênero, interações entre funcionários e clientes e assim por diante. (Best, 2020, p.47–48).
Neste caso, o professor espera que o estudante perceba a distinção entre uma subdisciplina e outra (entre um sociólogo e outro) a partir da natureza da pergunta. Também neste caso, o professor espera que o estudante compreenda que quanto mais multifacetada for a observação, mais sofisticados serão o conhecimento e a compreensão de um fenômeno no interior de uma mesma disciplina.
Por mais contraditório que possa parecer, atividades reforçadoras de uma disciplina são também reforçadoras da identidade interdisciplinar das CHSA e do caráter integrativo da atividade dos seus especialistas.
Isso ocorre porque a divisão do trabalho a partir das questões e métodos em Sociologia é idêntica à divisão do trabalho a partir de questões e métodos em Filosofia, Geografia e História.
1.2. Uma disciplina ajuda outra(s) disciplina(s)
A integração multidisciplinar por soma ou colaboração é, provavelmente, a estratégia mais comum. Com mínimo gerenciamento entre dois professores, por exemplo, pode-se promover a integração de disciplinas das CHSA entre si e, ainda, de qualquer disciplina das CHSA com elementos disciplinares de outras áreas do EM (quadro 2).
O que vemos na expectativa de aprendizagem de História (quadro 2, coluna 4) é o auxílio legitimado pelo CS das disciplinas de Filosofia e Língua Portuguesa no cumprimento da meta de compreender a pluri perspectividade sobre o fenômeno do nacionalismo brasileiro, no século XIX.
Durante uma ou duas aulas/semanas, a atividade se desenvolve, provavelmente (com ou sem a participação dos professores de Filosofia e Língua Portuguesa) por meio da crítica filosófica dos conceitos de “estética” e “arte” e o conhecimento das figuras de estilo e de linguagem empregadas pelos escritores românticos. A meta é ampliar a compreensão do fenômeno do nacionalismo, sem que a tarefa deixe de ser considerada “de História”.
2. A integração interdisciplinar
Na integração interdisciplinar (a exemplo da integração multidisciplinar), promovemos a colaboração simultânea ou sucessiva de métodos, conhecimentos e princípios de uma disciplina à outra disciplina com o objetivo de resolver um problema.
Contudo, diferentemente da integração multidisciplinar, as disciplinas veem suas fronteiras rompidas em função de expectativas de aprendizagem que lhes são comuns, mas são, em muitos casos, pautadas no exterior de cada uma delas. Não raro, esse tipo de integração gera uma nova disciplina.
2.1. Várias disciplinas ajudam a cumprir uma demanda escolar exterior a cada uma delas
Observe esse exemplo hipotético, inspirado em uma situação real.
Em estudos recentes, realizados sob orientação do CAED/UFMG, constatou-se que um sério problema dos estudantes sergipanos em termos de habilidades linguísticas básicas era a incapacidade de a maioria comparar “informações sobre um mesmo fato” e distinguir “fatos de opiniões”.
Essa insuficiência poderia, inclusive, ser uma das responsáveis pelo assentimento de parte desses estudantes às fake News veiculadas, sobretudo, nas redes sociais das quais usufruem cotidianamente.
Uma das soluções seria mobilizar todas as disciplinas durante duas semanas, no início de cada semestre letivo, para dar a conhecer a importância e ampliar essas duas habilidades típicas do pensamento crítico, como descrito no quadro 3.
2.2. Várias disciplinas ajudam a cumprir uma demanda escolar de uma nova disciplina
Observe, agora, esse segundo exemplo de integração interdisciplinar, ilustrado pelo vídeo abaixo que lança uma questão: “Lampião, herói ou bandido?”.
Esse problema atrai estudantes sergipanos para uma discussão, em geral, conduzida de modo maniqueísta. Mobilizados por uma “Semana da Cultura Local”, que faz parte do programa de um hipotético componente transversal, intitulado “Cultura Sergipana”, por exemplo, um ou vários professores podem submeter a questão a distintos domínios das CHSA, gerando uma interpretação sofisticada e apoiada pelo CS, como podem acompanhar no quadro 2.
Debate entre professores: Lampião, herói ou bandido? | Imagem: Micael Almeida dos Santos
Em posse de um plano, a turma pode visitar espaços especializados que proporcionem auxílios multidisciplinares à resolução do problema inicial. Salas-ambiente, laboratórios, memoriais, museus, centros de documentação e biblioteca, dentro ou fora da escola, servem a esse propósito.
O inverso também pode ocorrer. Professores especialistas podem ser revezar em uma mesma turma, oferecendo conhecimento e experimentação em seus específicos campos para observar, analisar, interpretar e dar respostas ao mesmo problema.
Essa integração mental, com vistas a dar respostas à questão (via comparação de abordagens disciplinares) ocorre, em grande parte, sob o interesse e o protagonismo do aluno.
Conclusões
Nesta aula, definimos integração multidisciplinar como o auxílio mútuo entre disciplinas em termos de questões, objetos, meios e teses, sem que a identidade da promotora seja apagada.
Definimos, ainda, a integração interdisciplinar como a colaboração simultânea ou sucessiva de questões, meios e teses de disciplinas, resultando o apagamento instrumental das suas fronteiras.
Demonstramos, por fim, que, em geral, o primeiro padrão ocorre no interior de uma disciplina, enquanto o segundo realiza-se na implantação de disciplinas transversais ou temporárias que exigem esforços coletivos.
Na próxima aula, trataremos de definições e exemplos de integração transdisciplinar (Acesso o texto aqui).
Sugestão de atividade
Como atividade avaliativa final desta aula, convido vocês a produzirem sequência(s) didática(s) que exemplifiquem integrações multidisciplinar e interdisciplinar. Tentem fazer em pares. Em seguida, compartilhe o trabalho com a turma.
Referências
SANTOS, Isabela Silva dos; SOARES, Mariana Fátima Muniz (Org.) Currículo de Sergipe: Integrar e construir — Ensino Médio. Aracaju: Secretaria de Estado da Educação do Esporte e da Cultura, 2022.
TOLENTINO, Luana. Outra educação é possível: feminismo, antirracismo e inclusão em sala de aula. Sdt.: Mazza, 2017.
OLIVEIRA, Zaqueu Vieira; ALVIM, Márcia Helena (Orgs.). Propostas didáticas para o Ensino de Ciências e de Matemática: abordagens históricas. Santo André: UFABC; GIHCEC; CAPES, 2020.
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Para citar este texto:
FREITAS, Itamar. Integrações multidisciplinar e interdisciplinar. Resenha Crítica. Aracaju/Crato, 26 mar. 2023. Disponível em <https://www.resenhacritica.com.br/a-cursos/a-integracao-multidisciplinar-e-interdisciplinar/>
Integração disciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
Atividade interdisciplinar em cenário imaginário de Caatinga 3 | Imagem: IA-MJ
O que significa a expressão “integração disciplinar”? Nesta aula, vou apresentar definições e padrões de integração, exemplificando-os com disciplinas, princípios e conceitos das ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
Também tentarei convencê-los de que o valor de cada disciplina pode ser medido pelo seu potencial de elevar a compreensão dos estudantes sobre a vida, do senso comum ao pensamento crítico, sobretudo quando empregadas de modo integrado.
O texto resulta de uma iniciativa de formação continuada de professores do Ensino Médio em Sergipe, solicitada recentemente pela Fundação Getúlio Vargas. Contudo, não há adaptações, além da exclusão das sequências didáticas sugeridas na aula original. A intenção é dar a conhecer aos alunos da pós-graduação a informação disponibilizada aos professores da escolarização básica, promovendo uma conexão entre interesses de informação e formação e avaliando os graus de apropriação pelos dois públicos.
Vamos discutir a referida integração a partir de uma definição instrumental, da discussão dos conceitos de “multidisciplinaridade”, “interdisciplinaridade” e “transdisciplinaridade” e do anúncio de propostas de integração de conceitos, princípios e disciplinas para a escolarização básica.
1. Significado e valor da integração disciplinar na educação escolar
Raimundo Fagner (2013.Traduzir-se | Imagem: Mateus Brandão
Tomemos a metáfora de Ferreira Goulart: “traduzir uma parte na outra parte” pode ser uma questão de arte. Tomemos também os sentidos de “integrar” como “incluir um elemento num conjunto, formando um todo coerente” e “integração” significando a “incorporação de um elemento num conjunto” (Houaiss, sd.).
Ferreira Goulart (2016). A história da construção de Traduzir-se | Imagem: Fronteiras do Pensamento
Com esses parâmetros, já reconhecemos integração nas finalidades dos currículos do Ensino Médio (EM), como o Currículo de Sergipe (CS). Ali, o “todo coerente” é uma ideia de estudante a formar (um ser humano) e os elementos desse todo são idealmente as capacidades éticas (decidir e agir conforme regras), estéticas (sentir conforme regras) e cognitivas (conhecer conforme regras).
Com esses parâmetros, também reconhecemos a integração no conteúdo das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHSA) e a integração desse conteúdo nas finalidades do CS. Ali, as CHSA representam insumos do ser humano. As CHSA são um “todo” e o conteúdo das disciplinas Filosofia, Geografia, História e Sociologia são as suas “partes”.
O CS, contudo, não detalha a integração no interior de cada disciplina, tampouco as práticas dos especialistas disciplinares em seu conjunto. É o que vamos fazer aqui, começando com a boa notícia de que a maioria dos professores concebe Filosofia, Geografia, História e Sociologia como processos científicos particulares de conhecer, integráveis no exame dos fenômenos com os quais os estudantes se defrontam na vida prática (Ingram, 1979, p.23–24). Disciplinas são literalmente modos de ver a realidade. Isso é bom!
Para a maioria dos estudantes, contudo, as disciplinas são um repositório de fenômenos disciplinares (fatos, comportamentos, crenças) isolados e, em muitos casos, alienados da vida prática. Essa compreensão dos estudantes deve ser modificada.
É necessário induzir os estudantes a perceberem as disciplinas como modos mais complexos de ver as coisas que os rodeiam. É nossa tarefa induzi-los a conceber as atividades de ensino e aprendizagem escolar como processos de desintegrar os “todos” que eles percebem simploriamente e reintegrá-los com método, no sentido de elevar a sua compreensão sobre a realidade a um patamar bem mais sofisticado.
Durante quase dois séculos, Filosofia, Geografia, História e Sociologia deram conta das suas tarefas isoladamente. Quem quisesse conhecer o perfil dos moradores da primeira capital de Sergipe, bastava ler o Laudas da História de Aracaju, de Sebrão Sobrinho. Quem quisesse conhecer os padrões de comportamento dos empresários sergipanos, frente aos trabalhadores urbanos, bastava ler um ensaio do sociólogo Florentino Menezes e assim por diante. Tanto a consulta como a pesquisa eram marcadas por interações disciplinares.
Contudo, mesmo nesses tempos disciplinares, sociólogos eram um pouco filósofos e historiadores um pouco geógrafos, se considerarmos as consultas que faziam aos colegas e as respostas que acrescentavam aos seus trabalhos, produzidas fora das fronteiras da Sociologia e da História, respectivamente. Em resumo, a disciplinaridade já convivia em certa dose com as interações multidisciplinares e interdisciplinares.
Com o hiperespecialismo dos saberes, a partir da segunda metade do século XX, e o estreitamento político entre mundos (supostamente) estanques do interior e do exterior da escola, as interações entre especialistas, em questões, métodos e respostas efetuadas, até então, de modo ocasional, tornaram-se uma necessidade.
Hoje, um sociólogo sozinho (e um professor de Sociologia, pior ainda) não explica mais uma briga das torcidas do Clube Esportivo Sergipe e da Associação Desportiva Confiança.
Um geógrafo, do mesmo modo, sem o auxílio de biólogos e filósofos, não explica a contento, por exemplo, um derramamento de óleo na praia de Pirambu ou uma mortandade de peixes no Rio do Sal.
A intervenção dos agentes públicos e das organizações da sociedade civil nos projetos de investigação e ensino, demandando mais profunda, segura e legítima informação, instaura os tempos das interações transdisciplinares.
2. Multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade
Disciplinas são dominantemente modos de dar sentido a realidade. Em alguns casos, o professor dá conta da demanda. Em outros ele necessita do auxílio do colega de outra disciplina.
Em outra situação, dois especialistas colaboram sem que nenhum deles assuma o resultado como seu. Em outras, ainda, vários professores se engajam no cumprimento de uma tarefa, sem terem pautado, isolada ou colaborativamente os problemas, meios e conteúdo da aprendizagem. Cada uma dessas situações representa um tipo de integração, como as exemplificadas a seguir.
Se a expectativa de aprendizagem é identificar os meios de orientação espacial, empregando, por exemplo, mapas celestes e aplicativos digitais, o professor pode usar representações bidimensionais em papel e representações na tela do computador. Os instrumentos da Geografia resolvem bem o problema, configurando exemplo típico de ensino disciplinar.
Mas, se a expectativa de aprendizagem é fazer o aluno compreender os usos de diferentes meios de orientação e comparar as mudanças ao longo do tempo, o professor pode chamar as narrativas da História das grandes navegações e da chegada dos europeus ao atual território sergipano, demonstrando o valor das constelações em alto mar. Aqui, a Geografia escolar foi auxiliada pela História escolar, configurando exemplo de integração multidisciplinar. (Oliveira; Alvin, 2020, p.22).
Se a intenção do professor é fazer o estudante compreender como as plantas da sala de aula produzem a energia de que necessitam para sobreviver, não vão bastar os conhecimentos e experimentos da Biologia. Ele lançará mão de modelos explicativos da Física e da Química de modo sintético, estimulando-os a observar o desenvolvimento dos brotos plantados em copos descartáveis e depositados em lugares de sobra e de luz. Nesta situação, os conhecimentos e procedimentos das três disciplinas se fundiram em um novo domínio: as “ciências”.
Se, por fim, a atividade de fazer plantios de sementes em viveiros no interior da escola serve para interiorizar nos estudantes o valor da flora e da fauna do agreste sergipano, como reação à devastação das matas ciliares, noticiada pela imprensa e denunciada pelo Ministério Público, as disciplinas já não são as únicas protagonistas. O esforço conjunto, de escola, comunidade e poder público esboroa os limites entre ciência e sociedade, configurando uma integração transdisciplinar. Com base nesses exemplos, e com o auxílio de especialistas (Rezaei; Seyedpour I2022, p.2–5; Rezaei; Saghazadeh, 2022, p.3), podemos listar as seguintes definições instrumentais:
- Multidisciplinaridade — Colaboração simultânea ou sucessiva de métodos, conhecimentos e princípios de uma disciplina com outra disciplina, visando a resolução de um problema para a sociedade, sem o rompimento de fronteiras disciplinares. Uma disciplina ajuda a outra;
- Interdisciplinaridade — Colaboração simultânea ou sucessiva de métodos, conhecimentos e princípios visando a resolução de um problema para a sociedade, com o rompimento de fronteiras disciplinares. Uma nova disciplina é gerada;
- Transdisciplinaridade — Colaboração simultânea ou sucessiva de métodos, conhecimentos e princípios disciplinares, com saberes, estratégias, valores e atitudes extradisciplinares (sociais), visando a resolução de um problema com a sociedade, com o rompimento de fronteiras científicas. As disciplinas desaparecem.
Os exemplos acima são voltados para o ensino dos anos iniciais. Vamos avançar agora para o EM, demonstrando que alguma integração curricular já está prescrita nos currículos estaduais e envolve conceitos e princípios no interior e entre as disciplinas das CHSA.
3. Integração de conceitos, princípios e disciplinas
Figura 3 (esquerda). Rizoma é um termo originado da botânica, utilizado pelos filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari, para descrever uma maneira de encarar o indivíduo, o conhecimento e as relações entre as pessoas, ideias e espaços, a partir de uma perspectiva de fluxos e multiplicidades, que não possui uma raiz ou centro. (Carrasco, sd.). Figura 4. A árvore da vida, como ilustrada por Ernst Haeckel em A Evolução do Homem (1879), simboliza a visão característica do século XIX de que a evolução era um processo progressivo, com o ser humano como objetivo (Wikipedia, sd.)
A integração de conceitos disciplinares é a mais básica. Na vida, eles formam conjuntos em demandas várias, como a identidade disciplinar.
A emergência das disciplinas, por repartição, fusão e outros, ao longo dos séculos XIX e XX, explica também o necessário compartilhamento de conceitos (embora, ressignificados).
Considerem o quadro 1. Ele apresenta os conceitos mais abstratos e gerais que frequentam as CHSA. Eles são representações mentais das coisas que cercam o mundo, adquiridas de modo consciente (Damásio, sd., p.38–39) pelos estudantes, professores e pais.
No quadro 2, o conceito de “ética” vale isoladamente e como núcleo de um conteúdo epistêmico da Filosofia, empregado em vários outros domínios científicos.
Além de sua função nuclear, os conceitos do quadro 1 são elementos de ligação entre disciplinas, como efetuado pelo emprego de “território” entre a Geografia e a História, que por sua vez apresentam significados similares (Quadro 3).
Os conceitos destacados do quadro 1 também podem revelar as relações de interdependência entre disciplinas. Observe que o conceito de “tempo” está empregado como pontos móveis/sucessão que subjazem uma cronologia (quadro 4). Esse mesmo “tempo” pode provocar discussão e entendimento mais sofisticado quando a Filosofia é chamada a participar do debate.
O próprio CS (Santos; Soares, 2022, p.139) fornece essa possibilidade quando contrastamos ideias de mudança temporal como presente/passado/futuro e suas projeções dialética, cíclica, caótica, prescritas em diversas filosofias, desde S. Agostinho, passando por F. Hegel, até chegar em A. Camus.
Conclusão
Nesta aula, tentamos convencê-los de que o valor de uma disciplina está contido, principalmente, no seu potencial de elevar a compreensão dos fenômenos que nos cercam, de uma consciência ingênua a uma consciência sofisticada.
Essa dinâmica pode ser atingida quando abordamos conceitos, proposições, narrativas, valores e atitudes de modo integrado, resultando em modalidades de corte multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar.
No próximo texto, vamos explorar a integração multidisciplinar e interdisciplinar (Acesso o texto aqui).
Sugestão de atividade
Figura 5. Momento em que policial é derrubado do cavalo por bolsonaristas durante o ataque de 8 de janeiro de 2022, em Brasília-DF | Foto: Sergio Lima/AFP/Estado de Minas.
Observem a figura 5 e tentem produzir sequência(s) didática(s) que viabilizem a compreensão mais sofisticada do fenômeno representado.
Referências
DAMÁSIO, António. O mistério da consciência. São Paulo: Companhia das Letras, sd.
DRAKE, Susan; BURNS, Rebecca. Meeting standards through integrated curriculum. Alexandría: ASCD, 2004.
INGRAM, James B. Curriculum intetration and lifelong education: A contribution to the improvement of school curricula. Oxford: Pergamon Press, 1979.
LITTLE, Catherine A. The use of overarching concepts in the integrated curriculum model. VAN TASSEL-BAKA, Joyce; LITTLE, Catherine A. (Ed.). Content-based curriculum for high-ability larners. 3ed. New York: Routledge, 2021. Snp.
SANTOMÉ, Jurjo Torres. Os motivos do currículo integrado. In: Globalização e interdisciplinaridade: o currículo integrado. Porto Alegre: Artmed, 1998. p.26–94.
REZAEI, Nima; SEYEDPOUR, Simin. Introduction to integrated science: transdisciplinarity. In: REZAEI, Nima (Ed.). Transdiscilinarity. Cham: Springer, 2022. p. 1–11.
REZAEI, Nima; SAGHAZEDH, Amene. Introduction on integrated science: multidisciplinarity and interdisciplinarity in Healt. REZAEI, Nima (Ed.). Multidisciplinarity and Interdisciplinarity in Healt. Cham: Springer, 2022. p.1–39.
Astronomia, Arqueologia e História em uma só lição. Trailer do filme “Nostalgia da Luz”, de Patricio Gúzman (2015) | Imagem: Vimeo
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Para citar este texto:
FREITAS, Itamar. Integração disciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Resenha Crítica. Aracaju/Crato, 26 mar. 2023. Disponível em <https://www.resenhacritica.com.br/todas-as-categorias/integracao-disciplinar-em-ciencias-humanas-e-sociais-aplicadas/>