Mulheres no mundo antigo/Mythos – Revista de História Antiga e Medieval/2021

A História é sempre escrita no presente, em mudança relacionada ao tempo, cultura, circunstâncias. Essa constatação tem sido feita também em diferentes momentos. O filósofo italiano Benedetto Croce é referência recorrente, mas Heráclito (πάντα χωρεῖ καὶ οὐδὲν μένει, “tudo muda, nada fica parado” (Platão Crátilo 402ª) e Ovídio (Met. 15, 165: omnia mutantur, nihil interit, “tudo muda, nada morre” tradução de Brunno Vieira) já iam na mesma linha. E o presente é sempre objeto de projetos de futuro, de busca de manutenção da situação ou de mudanças, em anseio de destruição ou de convivência, sem desconsiderar as gradações (Hartog 2020). As mulheres fazem parte dessa disputa (Harding et aliae 2019). No momento, contrapõem-se perspectivas e interesses a esse respeito. Há muitas variações, mas convém reconhecer ao menos algumas das posições mais relevantes e influentes, para além do bem e do mal. Umas pessoas consideram que as mulheres sempre foram dominadas, ao menos desde há milhares de anos (Beechey 1979). Outras defendem que elas foram beneficiadas pelos homens (Campagnolo 2019), desde sempre (sic!). Outras, ainda, que foram protagonistas, ainda que nem sempre reconhecidas como tal (Patou-Mathis 2020). Há todo tipo de meio termo entre essas perspectivas, na medida em que a realidade é sempre muito mais complexa do que qualquer abordagem possa dar conta (Weber 1949). Neste dossiê, tendo em conta isso tudo, enfatizamos o protagonismo feminino, em geral, e na Antiguidade, em particular. Leia Mais