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MPB / História – Questões & Debates / 1999
A revista História: Questões & Debates chega ao número 31 com a tarefa de manter e aprimorar o padrão editorial e acadêmico que a colocou entre as cinco principais publicações brasileiras na área de História. Neste número, aceitamos o desafio de organizar um dossiê sobre um tema de vanguarda da pesquisa histórica: a Música Popular Brasileira.
Os estudos históricos em torno da música brasileira, assim como de outras áreas das Ciências Humanas, vêm conhecendo notável crescimento a partir da segunda metade da década de 80, apesar de os principais trabalhos acadêmicos (teses e dissertações) permanecerem inéditos para o grande público leitor. Numa área tradicionalmente dominada por um tipo de história factual, por crônicas e biografias, começam a se firmar certas linhas de investigação propriamente acadêmicas, marcadas por uma busca de conceitos explicativos, análise de fontes primárias e procedimentos teórico-metodológicos mais rigorosos. Reconhecemos que este dossiê ainda está longe de representar toda a riqueza dos estudos sobre a música brasileira, que vem ganhando espaço nos principais programas de pós-graduação do País, mas nos propusemos a organizá-lo justamente para incrementar o debate e a troca de idéias sobre o tema, tarefa fundamental para consolidarmos essa nova área de estudos.
Nos quatro artigos do dossiê, seguido pelo importante instrumento de pesquisa bibliográfica elaborado pelo pesquisador Tiago de Melo Gomes, podemos ter uma amostra de algumas linhas de pensamento acadêmico sobre a MPB: no artigo de Marcos Napolitano, discute-se o conceito strictu sensu de MPB nos anos 60, buscando entender o lugar histórico e social que esse gênero ocupou na agitada cena histórica brasileira do período. Maria Izilda Matos analisa a trajetória e a produção musical de Adoniran Barbosa, resgatando sua visão peculiar sobre o processo de urbanização de São Paulo, entre os anos 40 e 60. Alberto Moby revisita o tema do seu livro Sinal fechado para analisar as estratégias e idiossincrasias do personagem-compositor Julinho da Adelaide (pseudônimo usado por Chico Buarque nos anos 70) para burlar a censura do regime militar brasileiro e manter viva a palavra cantada numa época de repressão. Tânia Costa Garcia nos apresenta um painel crítico da questão do nacional (e do popular) na trajetória de Carmem Miranda, um dos símbolos da música popular no Brasil, a partir de documentos escritos e do seu consagrado repertório.
Este dossiê conseguiu reunir pesquisadores e professores de alguns dos mais importantes programas de pós-graduação em História do país, um dos aspectos fundamentais para elevar a qualidade de uma publicação acadêmica. Esperamos que ele seja apenas o início de uma troca ainda mais ampla e urgente sobre o tema.
A seção Artigos teve a feliz coincidência de reunir dois estudos no campo da história intelectual. Anita Schelesner analisa a forma editorial, acadêmica e política como foi recebida a obra de Antonio Gramsci no Brasil, e como essa foi fundamentalmente uma leitura marcada pela hegemonia leninista do comunismo internacional.
Circunscrito ao cenário intelectual francês dos anos 70, o texto de Helenice Rodrigues da Silva nos apresenta um itinerário intelectual e político de Claude Lefort. A partir de discussões políticas como a democracia, a burocracia e o totalitarismo, a autora debate questões fundamentais para a compreensão da efervescência intelectual e política do período.
Encerrra o volume a resenha sobre a recente publicação de Walter Garcia, um dos mais aprofundados estudos sobre o violinista e cantor João Gilberto, um dos ícones da moderna cultura brasileira.
Marcos Napolitano – DEHIS / UFPR
NAPOLITANO, Marcos. Apresentação. História – Questões & Debates. Curitiba, v.31, n.2, jul./dez., 1999. Acessar publicação original [DR]