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Morte, Funeral e Vida Após a Morte: Explorando Atitudes em Relação à Mortalidade, Ritual e a Concepção de Outro Mundo. Da Europa da Idade do Ferro à Alta Idade Média / Brathair / 2008
Mortalidade é tema que povoa a mente humana em toda sua existência. As atitudes humanas diante da morte e do desconhecido após a morte têm despertado grande interesse de pesquisadores, não só por revelarem uma gama de visões e rituais, mas, sobretudo, por demonstrarem ser fundamentais na compreensão de aspectos sócio-culturais, isto é, de visões de mundo, construção da memória, de ancestralidade e da própria vida em sociedade. Morte e o Outro Mundo são, pois, temas freqüentes na literatura, mitologia e achados arqueológicos de todas as sociedades.
Durante as últimas décadas, as produções culturais vinculadas à morte e ao além têm despertado particular interesse dos acadêmicos, que têm, por conseguinte, enveredado pelo estudo dos ritos funerários, concepções e crenças ligadas à morte e ao Outro Mundo, suas representações na literatura e no folclore, assim como xamanismo, dentre outros temas. Os sentimentos a respeito dos mortos aparecem, ao lado das representações mitológicas e religiosas, como consolidação das relações sociais e de parentesco. Assim é que a seção Dossiê desta edição da revista BRATHAIR, visa trazer diferentes olhares acerca dessas temáticas, atreladas aos temas mais recentes de investigação sobre os celtas e germanos.
O primeiro trabalho, Dvergar and the dead, de autoria do medievalista argentino Santiago Barreiro, apresenta uma original pesquisa a respeito das concepções escandinavas, os interpretando como agentes neutros do estranho e refletindo laços sociais dentro do universo mítico nórdico. Ao mesmo tempo, realiza uma crítica à Escandinavística francesa que interpreta os dvergar como representações dos mortos.
Em seguida, o historiador Jorge Ricado da Câmara em seu artigo Fons Sulis: a água e o outro mundo celta, não somente investiga as crenças relativas às populações celtas e suas estratégias culturais de resistência à dominação romana, mas também oferece algumas perspectivas das novas problemáticas e metodologias concernentes às interpretações materiais de antigas áreas de culto, especialmente as da Inglaterra da Idade do Ferro.
Outra abordagem material dos cultos e representações sobre os mortos nos é concedida pelo arqueólogo espanhol Andrés Pena Graña, desta vez investigando a área ibérica no artigo Túmulos, mouros, gigantes, salvaje caza. Através de uma perspectiva comparativa de conjuntos mitológicos europeus, especialmente dos celtas e germanos, Pena Graña procura interpretar os vestígios de tumbas megalíticas e suas manifestações rupestres, contrapondo-se, às teorias de migrações indo-européias.
Na seção Artigos, quatro artigos de medievalistas apresentam várias contribuições para os estudos celtas e germânicos. O primeiro, Isidoro de Sevilha: natureza e valorização de sua cultura pela Hispânia tardo antiga, de Ronaldo Amaral, apresenta um viés original dos estudos sobre o importante intelectual alto-medieval ao analisar como o mesmo foi percebido ainda em sua época por outros intelectuais visigodos. Logo a seguir, Entre a Gallia e a Francia, de Edmar Checon de Freitas, analisa as transformações da Gália romana para a França Merovíngia. Os estudos germano-medievais ainda são contemplados por um artigo do medievalista alemão Klaus Militzer, O caminho dos peregrinos: do Sacro-Império Romano Germânico a Santiago de Compostela, onde ele reflete sobre as peregrinações dos germanos em direção ao importante centro religioso de Compostela, na Espanha. Encerrando a seção, temos um estudo de literatura céltica de Rita Pereira, A literatura arturiana na Idade Média: fontes, transformações, permanências. Dando continuidade ao debate do dossiê da edição anterior da revista – Brathair 7 (2) 2007, a pesquisadora demonstra a reapropriação identitária da literatura arturiana por nobres e cavaleiros, como forma de reafirmar a sua identidade e seu espaço na sociedade medieval.
A seção Resenhas apresenta duas reflexões sobre obras cujo tema é correlato ao presente dossiê. A primeira, Runas e magia, realizada pelo escandinavista Johnni Langer, apresenta uma crítica a dois lançamentos no país, tratando de reapropriações esotéricas da religiosidade dos antigos vikings. Em contra partida, em Arqueologia funerária francesa: Novas perspectivas, a arqueóloga / historiadora Adriene Baron Tacla comenta o lançamento de nova coletânea francesa sobre práticas funerárias, organizada por Luc Baray, Patrice Brun e Alain Testart e que traz o resultado de um seminário de pesquisa realizado no Collège de France no período de 2001 a 2003.
Por fim, e também relacionada com o tema do dossiê, a seção Entrevistas traz um encontro com o renomado medievalista brasileiro Hilário Franco Júnior, pensando algumas questões metodológicas e temáticas acerca das concepções da morte e do além celto-germânico.
Esperamos que o presente número da BRATHAIR possa incentivar novos estudos celto-germânicos em nosso país, mas também servindo como foco de discussão para os estudos humanísticos em geral. Com este intento, os próximos dossiês contemplarão, respectivamente, os debates acerca de: A mulher celta e germânica: novas perspectivas (Brathair 8 (2) 2008) e Sagas islandesas (Brathair 9 (1) 2009).
Adriene Baron Tacla – Professora Doutora. Pós-doutoranda LABECA, MAE / USP. E-mail: adrienebt@yahoo.com.br
Johnni Langer – Professor Doutor. Departamento de História (UFMA). E-mail: johnnilanger@yahoo.com.br
TACLA, Adriene Baron; LANGER, Johnni. Editorial. Brathair, São Luís, v.8, n.1, 2008. Acessar publicação original [DR]