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Foucault, a genealogia, a história da educação / Cadernos de História da Educação / 2020
Nietzsche, a genealogia, a história é um dos textos mais célebres de Michel Foucault. Por meio de uma espécie de homenagem e, ao mesmo tempo, uma apropriação teórico-prática, o pensador francês tributa a Nietzsche seu empreendimento de uma história genealógica, no qual passam a ocupar lugar – a par do que nomeia sentido histórico ou história efetiva – a inconstância e a provisoriedade dos acontecimentos, em oposição tanto à restituição essencial das coisas, quanto ao reencontro de uma identidade perpétua ou, ainda, ao reconhecimento da unidade universal do sujeito antropológico.
A proposição deste dossiê Foucault, a genealogia, a história da educação busca, em alusão direta ao texto de Foucault, congregar abordagens e reflexões em íntima articulação à análise histórico-genealógica proposta por Foucault, de maneira a focalizar criticamente os jogos veridictivos envolvidos na investigação educacional contemporânea.
Margareth Rago – uma das pesquisadoras brasileiras pioneiras no que se refere não apenas à utilização do referencial teórico-prático da genealogia de Foucault, mas também ao enfrentamento do debate historiográfico, deslocando a análise dos fatos e dos acontecimentos para os fundamentos epistemológicos do discurso com vistas à compreensão dos campos de relações de força em que os jogos de poder se constituem – é a responsável pelo texto que abre o dossiê, o qual revisita, 25 anos depois, o texto As Marcas da Pantera: Michel Foucault na Historiografia Brasileira [1] , também de sua autoria. Por se tratar de uma das primeiras iniciativas desse tipo de discussão no Brasil, o referido texto tornou-se uma leitura obrigatória para estudiosos e pesquisadores que buscam fazer apropriações das formulações genealógicas nas diversas ramificações de campos da História e em outros campos afins.
Desse modo, desdobrando as discussões e ampliando as reflexões a partir de escritos e ditos de Foucault que foram publicados nos últimos anos, Rago atualiza, de maneira bastante abrangente, a análise acerca do conceito de poder nos deslocamentos operados por Foucault: da disciplina, do biopoder e da biopolítica para o governo de si e dos outros na condução das condutas, a partir do que aponta para os modos de subjetivação e para as contracondutas, permitindo a percepção de outros modos pelos quais as práticas da liberdade são experimentadas em face da governamentalidade cristã ou neoliberal. Por isso, As marcas da pantera, 25 anos depois…, ao abrir o dossiê, funciona como uma espécie de patamar a partir do qual são lançadas as reflexões dos outros artigos que o compõem, buscando cumprir com seu propósito de reunir um conjunto de discussões capazes de contribuir para o debate sobre a genealogia de Foucault na História da Educação.
O texto seguinte, A genealogia de Michel Foucault e a história como diagnóstico do presente: elementos para a História da Educação, tomando como base o próprio texto de Foucault que inspira este dossiê, busca desenvolver questões relativas ao projeto de uma história genealógica. A partir disso, traça uma discussão sobre a articulação de marcos teóricos da genealogia foucaultiana com a efetivação da História da Educação, desenvolvendo um argumento que aponta para a pertinência do uso do referencial genealógico no campo da história e da historiografia da educação. Considera, por fim, que a incorporação de noções genealógicas na pesquisa e na produção do conhecimento em História da Educação pode trazer ampliações teórico-metodológicas que, certamente, representam uma contribuição para o delineamento de outros contornos no que diz respeito à compreensão das formas de organização e funcionamento da educação em nossa sociedade, assim como ao entendimento da genealogia como ferramenta histórico-crítica da atualidade, naquilo que Foucault propõe como ontologia do presente, como interrogação da verdade sobre seus efeitos de poder e do poder sobre os discursos de verdade, especialmente no campo educacional.
Inés Dussel com o objetivo realizar uma análise tanto das perspectivas historiográficas como de contribuições para uma compreensão mais abrangente da emergência e dos efeitos da instituição escolar, associando Foucault com o autor pós-foucaultiano Ian Hunter, propõe em seu artigo uma releitura das posições de Foucault sobre a história da escola e uma abordagem do livro Repensando a escola. Subjetividade, Burocracia, Crítica, de Ian Hunter. Assim, a autora opera uma breve reconstituição da história da escolarização na abordagem foucaultiana, assim como apresenta a sua leitura do texto de Ian Hunter, o qual hipotetiza sobre o surgimento da instituição escolar. Em seguida, são apresentados alguns debates suscitados por essa obra entre historiadores e filósofos educacionais. Por fim, a autora propõe perspectivas de linhas de trabalho para a contunuidade do aprofundamento do diálogo com o empreendimento genealógico de Foucault a partir da história da escolarização.
Sob o argumento de que “Uma história da educação em chave genealógica é uma genealogia das práticas pedagógicas”, assim como o de que “uma genealogia das práticas pedagógicas modernas é, finalmente, uma história da modernidade em chave genealógica”, Carlos Ernesto Noguera-Ramírez e Dora Lilia Marín-Díaz apresentam sua contribuição para o dossiê com o propósito de discutir o conceito de “educacionalização do mundo” estabelecido por Tröhler, segundo o qual a modernidade corresponderia à educacionalização do mundo. Reconhecem, assim, a importância e o potência do conceito de educacionalização tanto para a História da Educação quanto para a Pedagogia como um todo. O texto dos dois pesquisadores objetiva realizar a descrição da origem e da emergência de matrizes normativas da modernidade que sustentam o que Tröhler denomina “virada educacional”; esta relida à luz de ferramentas arqueológicas estabelecidas por Foucault. Como principal resultado da investida, os autores afirmam, dierentemente de Tröhler, que o surgimento da educação do mundo não não se deu entre os séculos XVIII e XIX, mas entre os séculos XVI e XVII, no marco daquilo que Foucault cunhou como “era da governamentalidade”. Desse modo, Noguera-Ramírez e Marín-Díaz realizam um exercício histórico-filosófico por meio do qual evidenciam uma perspectiva valiosa para a reflexão sobre a educação e a pedagogia, bem como para a análise das práticas pedagógicas, segundo a problemática posta pela governamentalidade e pelo ascetismo.
Por sua vez, José G. Gondra realiza uma crítica genealógica ao pôr em questão as relações de poder que atravessam as narrativas discursivas. Dessa forma, ele explora alguns princípios narrativos que constituem o manual Noções de História da Educação, de autoria do polígrafo, Afrânio Peixoto, reeditado sucessivamente nos anos de 1933, 1936 e 1942, o qual se apresenta como resultado dos três anos (1932-1934) que o autor se dedicou ao ensino de História da Educação no Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Na narrativa construída no manual, Peixoto lega para as futuras professoras o que chama de “história da civilização”, uma espécie de capital cultural que ele considerava fundamental para a compreensão do passado mais remoto e outros presentes, definindo assim uma condição para a obtenção de uma maior profissionalização da docência. Gondra investe no trabalho do registro de algo como uma origem da escola, uma fundação original que operaria com marcos fundamentais, cujo propósito seria a comprovação da substância e das funções desse acontecimento primordial. Assim, o exercício realizado busca desfazer a imobilidade de uma identidade e funcionamento da escola, perpetuando uma essência e suspendendo o tempo. Busca, pois, pensar as opções e operações historiográficas, assim como o movimento pedagógico ao qual o manual de Peixoto se conecta e que, por sua vez, também ajuda a legitimar e reproduzir. Gondra conclui que as tantas (des)continuidades que atravessam e regulam o nosso tempo presente e de modos bastante diversos são possíveis de serem observadas tanto na sociedade assim como nas escolas e, especificamente, na formação de professores, o que pode indicar que aquilo que o passado ensina, por intermédio de noções de história da educação, é o traçado de itinerários nada previsíveis e fora de qualquer teleologia predestinada.
O último artigo do dossiê, intitulado Foucault e a História da Educação brasileira: dos usos possíveis do procedimento genealógico, tendo como horizonte o procedimento investigativo foucaultiano delineado no texto Nietzsche, a genealogia, a história, propõe-se a pôr em perspectiva as repercussões do legado de Michel Foucault, no que diz respeito à utilização de ferramentas genealógicas na produção bibliográfica em História da Educação no período de 1997 a 2017, nos três periódicos brasileiros voltados especificamente ao campo histórico-educacional. A análise recaiu sobre 42 artigos selecionados, de maneira a dar a ver movimentos simultâneos, numa análise de conjunto. Na dissecação do corpus analítico escolhido, não se pretendeu realizar nenhuma comparação entre o que Foucault realizou e os traçados investigativos dos historiadores da educação brasileiros, de sorte que foi realçada a potência da circulação de novas narrativas históricas, por meio da qual desponta a reinvenção de ferramentas já tantas vezes utilizadas e reutilizadas. Desse modo, as conclusões voltam-se para as condições de tempo, lugar e modos que cercam os exercícios de investigação histórica que buscam inspiração teórico-prática em Michel Foucault.
Por fim, é preciso sublinhar que o presente dossiê reúne um conjunto de textos que apresentem repercussões possíveis da questão genealógica no campo da história da educação: as contingências das formas educacionais; os deslocamentos da organização e do funcionamento do aparelho escolar; as estratégias de governamento dos sistemas de ensino, assim como as concepções de conhecimento que sustentam os fazeres pedagógicos e, em última instância, aquelas próprias da História da Educação. Articulando a análise genealógica ao campo específico da história da educação, a intenção é, de algum modo, dispor chaves outras de compreensão do presente educacional e suas interpelações tantas.
Nota
1. Disponível em: https: / / periodicos.sbu.unicamp.br / ojs / index.php / resgate / article / view / 8647987 . Acesso em 06 abr. 2020.
Haroldo de Resende – Universidade Federal de Uberlândia (Brasil) https: / / orcid.org / 0000-0001-9379-111X http: / / lattes.cnpq.br / 5363115483274501 E-mail: haroldoderesende@ufu.br
Julio Groppa Aquino – Universidade de São Paulo (Brasil) https: / / orcid.org / 0000-0002-7912-9303 http: / / lattes.cnpq.br / 1124623998211027 E-mail: groppaq@usp.br
RESENDE, Haroldo de; AQUINO, Julio Groppa. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 19, n.2, maio / ago., 2020. Acessar publicação original [DR]
Foucault e anarquia: histórias do presente / História – Questões & Debates / 2019
Foucault e a história da anarquia no presente
O filósofo Michel Foucault, em curso proferido em 1979-1980, O governo dos vivos, comentou possuir uma certa relação com a anarquia e com o anarquismo. Sua demolidora analítica do poder e suas proposições sobre a estética da existência como um “trabalho paciente que dá forma à impaciência da liberdade” interessam aos anarquistas. Informado dessa via de mão dupla, o leitor mais apressado poderia dizer que a relação entre Foucault e a anarquia é “evidente” e até mesmo “natural”. Mas não é assim que essa relação se dá.
A relação entre Foucault e a anarquia existe em tensão, se dá no agonismo das forças. Se apresenta, assim, como um campo de batalha, mas não dado ao extermínio do outro. Ela produz diferenças, onde se quer similitudes. Este dossiê propõe um diagnóstico dessa relação e de suas diferenças a partir da exposição de uma história do presente. Para isso, convidou pesquisadores de diversas áreas que lidam nessa peleja há mais de três décadas e os que se lançaram nessa batalha mais recentemente para produzirem artigos inéditos acerca dessa relação.
Um inicial registro dessa relação pode ser encontrado no volume 5 da revista MargeM da Faculdade de Ciências da PUC-SP, de 1996, na qual aparece um conjunto de textos assinados por Edson Passetti, Wilhelm Schmid, Salvo Vaccaro e Todd May que se dedicam, de perspectivas bastante diversas, às intersecções entre o pensamento anarquista e a obra do filósofo francês. Mas, ao menos no Brasil, essas relações já apareciam nos trabalhos da historiadora Margareth Rago (Unicamp), nas pesquisas em educação de Silvio Gallo (Unicamp) e, um pouco mais adiante, nas análises de Salete Oliveira (PUC-SP). Desde então, desdobramentos dessa relação aparecem em trabalhos de mestrado e doutorado orientados por esses iniciais instauradores. Um registro mais contínuo, de quase duas décadas, pode ser encontrado nos 35 números da verve – revista autogestionária do nu-sol. Em 2015, a pesquisadora da obra do Foucault no Brasil e professora da UERJ, Heliana de Barros Conde Rodrigues, fez uma primeira sistematização dessa população em verve no artigo “anarqueologizando Foucault”, in verve, 28: 2015, 91-123.
Ao retomar essas relações nesse dossiê da revista História: Questões & Debates não se buscam continuidades, tampouco rupturas, mas marcar um registro dessa história no presente. Outras escritas para que se possa passar, para que se possa avançar, para que se possa fazer caírem os muros. São artigos de pesquisadores e militantes da anarquia que, cada a um à sua maneira, não se furtam ao campo de tensão entre a obra de Foucault e a vida anarquista.
Abre esse dossiê o ensaio de Edson Passetti, professor na PUC-SP e coordenador do nu-sol (núcleo de sociabilidade libertária), “A presença de Michel Foucault nos anarquismos”, que situa, a partir da genealogia do poder e de uma instigante leitura da obra do artista chinês Ai Weiwei, os riscos dos anarquismos serem tragados pelo ativismo da atual democracia neoliberal que convoca todos a participar e busca empoderar os vulneráveis e afirma a diferença da anarquia como militantismo, que desvia da dissidência e da convocação à participação.
Em seguida, Camila Jourdan, professora de filosofia da UERJ, no artigo “Foucault e a ruptura com a representação”, sustenta que a aproximação possível entre os anarquistas está na recusa da lógica da representação. Ao retomar a dialética serial proposta por Proudhon, afirma uma ontologia do múltiplo que se dispensa da dialética sintetista hegeliana, do conceito marxista de ideologia e do materialismo com a verdade de real. Afirma a tensão, o corpo e a imanência da ação como pontos de intersecção do pensamento de Michel Foucault com os anarquistas, afastando os dois do liberalismo e do socialismo de Estado, que são, por sua vez, colocados à lógica dualista e unidirecional da representação.
O somaterapeuta e psicólogo João da Mata apresenta, em seu ensaio “Anarquismos e Foucault”, a anarquia como uma pratica éticopolítica que encontra nas formulações de Michel Foucault elementos que sacodem-nos da anarquia contemporânea reminiscências iluministas e identitárias para a produção de um ethos ingovernável, fazendo do corpo um campo de batalha contra a autoridade e as hierarquias. O autor ainda indica na obra de Michel Onfray uma via de atualização possível da relação entre anarquismos e crítica da modernidade e com isso, sugere uma prática anarquista cotidiana que começa no corpo.
Thiago Rodrigues, internacionalista e professor na UFF, sugere um percurso sobre a noção de agonismo na obra de Foucault que teria, genealogicamente, como ponto de inflexão o curso de 1974, O poder psiquiátrico. Além de afirmar o agonismo como condição da vida em liberdade, a conexão com a anarquia se dá pela recusa do Estado como fonte de poder e as conexões, traçadas no artigo, entre a genealogia foucaultiana de inteligibilidade guerreira e a obra do instaurador da anarquia, Pierre-Joseph Proudhon, A guerra e a paz. Em resposta aos universais do poder, sugere que é preciso revirar-se agonicamente.
A historiadora Maria Clara Pivato Biajoli, no artigo “Lendo a experiência e a memória das Mujeres Libres em um diálogo com Foucault”, revira as memórias das lutadoras Mujeres Libres de uma perspectiva da genealogia da história. A autora destaca, na obra de Michel Foucault, as noções de cuidado de si, estéticas da existência e biopolítica para pensar a atuação do grupo para a libertação feminina. Sem apologias ou panegíricos, realiza a retomada de uma história menor em meios a batalhas libertárias da Revolução Espanhola (1936- 1939). Acusa ainda a própria transformação como historiadora ao lidar, libertariamente, com o referencial foucaultiano e mulheres anarquistas.
E o silêncio.
O músico, compositor e politólogo Gustavo Simões, no ensaio “john cage e a vida como arte de escrever anarquista”, apresenta a escrita musical de John Cage e as vidas libertárias como formas de escrita de si como ação direta. Uma escrita que se afasta da historiografia como erudição inútil e se afirma como história-efetiva que, à maneira dos cínicos, se faz como escândalo. Essa forma de escrita anarquista, catada em Cage e nos anarquistas, recusa o conteúdo doutrinário “para sobressair demolições-invenções em cada acontecimento da existência contra a história factual e a dialética, tão apreciadas pela História”.
O conjunto de seis artigos desse dossiê compõe um registro heterogêneo e heterodoxo fincados no presente das lutas. Não sugerem, mesmo que reunidos em proximidade, nenhuma lógica de afinidade, tampouco reclamam filiação. Nada reclamam entre os verdadeiros intérpretes dos ditos e escritos de Michel Foucault, tampouco engrossam as fileiras dos que entendem o anarquismo como doutrina ou ideologia política. São textos de práticas de liberdade, já que liberdade não é uma ideia ou um valor tanto para os anarquistas quanto na analítica do poder proposta por Foucault. A Anarquia aqui registrada é uma história do presente que das atuais reformas, conservações, inovações e restaurações se afirma pela revolta como atitude antipolítica que sabe bem que a política é tecnologia de governo moderna de si e dos outros.
O volume ainda conta com uma seção aberta bastante diversificada em seus temas, e contempla quatro artigos, uma tradução e uma resenha. No primeiro artigo, “Flávio Suplicy de Lacerda: aliado das forças armadas e combatente contra comunistas e estudantes”, os autores Névio de Campos e Eliezer Feliz de Souza discutem a relação de Flávio Suplicy de Lacerda com as representações e as práticas sociais das forças armadas brasileira, no governo civil-militar de 1964 a 1985. No segundo, “Jean Giono e a reinvenção da Odisseia na literatura francesa do pós-guerra”, a autora Lorena Lopes da Costa analisa a relação entre guerra, experiência e ficção, a partir de Naissance de l’Odyssée, uma releitura francesa da Odisseia. No terceiro, “Nos tempos da mudança. Aberturas possíveis, acordos revistados e concepções sobre consumo (1808-1821), a autora Rosângela Ferreira Leite trata das relações diplomáticas entre Portugal e Grã-Bretanha, no período já referido no título. No quarto e último artigo, “As mulheres dos governadores das colônias portuguesas na segunda metade do século XVIII e início do XIX”, o autor Magnus Roberto de Mello Pereira, investiga o papel exercido por tais mulheres nas colônias portuguesas, apontando uma mudança de mentalidade em relação à família, nas últimas décadas do século XVIII.
Temos, ainda, a tradução do artigo do classicista Ray Laurence, intitulado “Saúde e curso da vida em Herculano e Pompeia”, de autoria de Martha Helena Loeblein Becker Morales e Alexandre Cozer. Para finalizar a publicação, contamos com a resenha “Histórias que seguem atuais: sobre infâncias e juventudes”, de Chirley Beatriz de Silva Vieira e Otoniel Rodrigues Silva, ao livro Infâncias e juventudes no século XX: histórias latino-americanas, que foi organizado por Silvia Arend, Esmeralda de Moura e Susana Sosenski, e publicado em 2018.
Que seja uma boa, mas desestabilizadora leitura.
Saúde e anarquia!
Acácio Augusto – Departamento de Relações Internacionais da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios – UNIFESP.
AUGUSTO, Acácio. Introdução. Apresentação. História – Questões & Debates. Curitiba, v.67, n.2, jul./dez., 2019. Acessar publicação original [DR]
Foucault: Jogos e dialógos / Anos 90 / 2004
Datas. Mas o que são datas?
Datas são pontas de icebergs.
Alfredo Bosi
A revista Anos 90 – cujo título é uma referência à década em que foi criada – prossegue, pelo século XXI adentro, com seu objetivo de contribuir para o debate qualificado sobre temas e questões teóricas, metodológicas e historiográficas relevantes ao campo do conhecimento histórico. Neste número, apresentamos dois dossiês que aludem a datas bastante lembradas em 2004: o cinqüentenário do suicídio de Getulio Vargas e os vinte anos do falecimento de Michel Foucault. Poderíamos acrescentar ainda, à lista dos eventos motivadores de nossos dossiês, a morte de Leonel Brizola, ocorrida também em 2004.
Pensando em tais datas como “pontas de icebergs”, queremos convidar nossos leitores a refletirem, inicialmente, com Angela de Castro Gomes, Lucia Hippolito e João Trajano Sento-Sé, sobre os diversos “trabalhismos” que, na esteira do legado de Vargas, encontraram em Brizola seu último grande representante. A seguir, na trilha dos “jogos e diálogos” sugeridos por Durval Muniz de Albuquerque Júnior, Fernando Nicolazzi e José Carlos dos Anjos, propomos que atentem para os desafios colocados pela obra de Foucault aos historiadores e as suas convergências e divergências com o pensamento de E. P. Thompson e o de Pierre Bourdieu.
Os demais artigos abordam facetas e temáticas distintas e instigantes do conhecimento histórico. Roberto Wu e Enrique Serra Padrós examinam questões teórico-metodológicas referentes, respectivamente, às noções de experiência e tradição em Benjamin e Gadamer e aos desafios da chamada história do tempo presente. Eliane Cristina Deckmann Fleck apresenta as reduções jesuítico-guaranis do século XVII como um espaço de reinvenção de significados, tendo em vista a apropriação seletiva e criativa e a ressignificação de expressões da cultura indígena guarani e da cultura cristã ocidental. Marcelo Basile trata de revoltas ainda pouco conhecidas ocorridas na Corte no período regencial brasileiro. Renato Amado Peixoto realiza um criativo exercício de análise da Carta Niemeyer de 1846, a primeira Carta Geral do Brasil, discutindo a leitura dos produtos cartográficos pelos historiadores. Ricardo Luiz de Souza investiga as noções de tradição, identidade nacional e modernidade na obra de Joaquim Nabuco. Finalmente, Letícia Borges Nedel enfoca as disputas de memórias relacionadas ao “herói missioneiro” Sepé Tiaraju.
Como os leitores poderão notar, a revista apresenta um novo projeto gráfico, fruto da criatividade de Daniel Clós e da contribuição do talentoso cartunista Santiago, a quem agradecemos. Agradecemos igualmente às profissionais de Letras Nara Widholzer, que revisou os textos, e Marília Marques Lopes, que traduziu os títulos para o inglês e revisou os abstracts; aos alunos Evandro dos Santos e Sandro Gonzaga, pelo apoio na organização da revista; à Pró-Reitoria de Pesquisa da UFRGS, na pessoa da Pró-Reitora Marininha Aranha Rocha, pelo imprescindível auxílio financeiro, através do programa de apoio à editoração de periódicos; e aos pareceristas ad hoc dos artigos enviados para este número, Eliane Colussi (da UPF), João Adolfo Hansen (da USP), Carla Brandalise, Carla Simone Rodeghero, Céli Regina Jardim Pinto, Cesar Augusto Barcellos Guazzelli, José Augusto Avancini, Paulo Vizenti, Regina Célia Lima Xavier, Temístocles Cezar e Benito Schmidt (da UFRGS).
Desejo a todos uma boa leitura…
Benito Bisso Schmidt – Editor.
SCHMIDT, Benito Bisso. Apresentação. Anos 90, Porto Alegre, v.11, 19 / 20, jan. / dez., 2004. Acessar publicação original [DR]