Interdisciplinaridade e Meio Ambiente – Módulo I

Alunos em atividad interdisciplinar em cenario imaginario de Caatinga IA MJ Interdisciplinaridade
Atividade interdisciplinar em cenário imaginário de Caatinga 1 | Imagem: IA-MJ

Olá,

Bem-vindos ao módulo que discute conceitos básicos de multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Esta parte do curso é composta por três aulas de três horas cada e uma avaliação somativa.

Aqui, vamos apresentar definições de multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, apresentar padrões e exemplos de abordagem multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar e desenvolver habilidades de crítica aplicada a livros-tese e livros coletâneas sobre a matéria.


Programação e Conteúdo:

  • Aula 1 — Integração disciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (Acesse o texto aqui) e integração multidisciplinar e interdisciplinar (Acesso o texto aqui);
  • Aula 2 — Integração transdisciplinar (Acesso o texto aqui);
  • Aula 3 — A crítica à comunicação em livro que veicula de resultados de pesquisa multi, inter e transdisciplinar com abordagens memorialísticas e/ou historicizadas.

Avaliação:

Resenha individual, em dupla ou em trio, de livros publicados entre 2020 e 2023, cuja abordagem multi, inter ou transdisciplinar incorpore os domínios da história e/ou da memória, com autorização para a publicação na revista acadêmica Crítica Historiográfica.

Acesse aqui o plano de composição e os critérios de avaliação da resenha.


Método de ensino-aprendizagem:

Leitura e discussão de texto didático produzido pelo professor sobre os temas das respectivas aulas 1, 2 e 3;

Oficina de produção de textos do gênero resenha acadêmica.


Referências

DRAKE, Susan; BURNS, Rebecca. Meeting standards through integrated curriculum. Alexandría: ASCD, 2004.

INGRAM, James B. Curriculum intetration and lifelong education: A contribution to the improvement of school curricula. Oxford: Pergamon Press, 1979.

MORAN, Emilio. Nós e a natureza: Uma introdução as relações homem-ambiente: uma Introdução às Relações Homem-ambiente. São Paulo: Senac, 2008.

REZAEI, Nima; SAGHAZEDH, Amene. Introduction on integrated science: multidisciplinarity and interdisciplinarity in Healt. REZAEI, Nima (Ed.). Multidisciplinarity and Interdisciplinarity in Healt. Cham: Springer, 2022. p.1–39.

REZAEI, Nima; SEYEDPOUR, Simin. Introduction to integrated science: transdisciplinarity. In: REZAEI, Nima (Ed.). Transdiscilinarity. Cham: Springer, 2022. p. 1–11.


Para citar este texto

FREITAS, Itamar. Interdisciplinaridade e Meio Ambiente. Resenha Crítica. Aracaju/Crato, 26 mar. 2023. Disponível em <https://www.resenhacritica.com.br/a-cursos/interdisciplinaridade-e-meio-ambiente-modulo-i/>.

Viagem a bordo das Comitivas Pantaneiras | Débora Alves Pereira

Débora Alves, jornalista, mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional pela Uniderp – Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal –, trabalha no SBT MS desde dezembro de 2001 exercendo a função de repórter desde outubro de 2013 e é editora e apresentadora do jornal SBT MS 1º Edição da mesma emissora. Dentre os seus principais destaques em premiações está o prêmio de Melhor Vídeo Étnico Social no II Festival Social Latino Americano de Cisne, Vídeo e TV com a produção do vídeo Conceição dos Bugres em 2001.

O livro intitulado Viagem a bordo das Comitivas Pantaneiras (2014) é resultado do desenvolvimento de sua pesquisa no Mestrado de Meio Ambiente da Uniderp (hoje pertencente ao grupo Anhanguera). Composto de 192 páginas intercaladas de textos e imagens que buscam retratar a realidade das comitivas pantaneiras e o meio ambiente em que estão inseridas. Leia Mais

Agua Y Territorio (2013-2015) | Universidad de Jaén

A revista Agua y Territorio surgiu em 2013 como uma publicação editada pela Universidade de Jaén (Espanha) e patrocinada pelo Seminario Permanente Agua, Territorio y Medio Ambiente (ATMA), vinculado a Escuela de Estudios Hispanoamericanos de Sevilla, centro dependente do Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC). A revista nasceu com uma vocação essencialmente eletrônica e pretende demarcar seu espaço no terreno acadêmico e científico internacional. O seu âmbito de influência é o mundo ibero americano e europeu, porém a sua aspiração, é abordar os problemas relacionados à água em qualquer parte do planeta.

O momento escolhido não poderia ser mais oportuno para o projeto lançado pela revista. A crise econômica atual e a incapacidade do sistema político fomentar a recuperação mediante uma decidida aposta por educação e investigação científica, produziram um pessimismo sem precedente na história da ciência espanhola. Considerando está conjuntura, a revista Agua y Territorio merece “boas vindas” por dois motivos: primeiro porque o projeto editorial e a equipe humana que promovem a publicação, contam com um importante apoio institucional; e em segundo lugar, porque mostra a audácia e generosidade de todos os envolvidos nesta aventura editorial. Leia Mais

Meio ambiente e Antropologia – WALDMAN (RMPEG-CH)

WALDMAN, Maurício. Meio ambiente e Antropologia. São Paulo: Editora SENAC, 2012. (Série Meio Ambiente, n. 6). 233 p. Resenha de: LELIS, Michelle Gomes; FERREIRA NETO, José Ambrósio. Um olhar antropológico sobre a questão ambiental. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v.9, n.2, mai./ago. 2014.

O homem contemporâneo está em conflito permanente com o outro de si mesmo, visto como uma espécie de intruso alojado no seu interior, um ‘invasor de corpo’ preocupado em devorá-lo por dentro e, quem sabe, assumir de vez sua corporalidade (Waldman, 2012, p. 185).

Maurício Waldman, brasileiro, docente na Universidade de São Paulo (USP), onde leciona as disciplinas Administração dos recursos ambientais, Sociedade e meio ambiente, Ética profissional, Geografia da África negra e Introdução aos estudos africanos, é sociólogo, geógrafo e antropólogo pela USP. Possui Doutorado em Geografia Humana (2006) e Mestrado em Antropologia Social (1997), ambos pela USP. Com uma importante reflexão na área de antropologia social, escreveu “Meio ambiente e antropologia”, entre outros livros. Neste texto, seu objetivo central foi discutir as relações que conjugam a antropologia com a questão ambiental. Paralelamente a essa preocupação, outra intenção foi alinhavar as possíveis contribuições do enfoque antropológico, no sentido de aprofundar a compreensão da temática relacionada ao meio ambiente.

Na introdução, esclarece que somente a partir das três últimas décadas do século passado é que a defesa da natureza passou a inspirar crescentes manifestações, envolvendo os mais diversos segmentos sociais ao redor do mundo. Tal mobilização, explicitamente posicionando-se em favor de uma relação equilibrada com o meio ambiente, configurou-se por intermédio de um rol de reivindicações impensáveis, mesmo em passado histórico não muito distante. É nesse contexto que o autor justifica a importância da análise do meio ambiente, um tema contemporâneo e urgente de mudanças.

Como foco da sua reflexão, ele ressalta que a antropologia tem se voltado, cada vez mais abertamente, para o estudo dos processos sociais e culturais na sua acepção mais ampla, independentemente da localização no espaço ou no tempo. Na antropologia, a cultura distingue um modo de vida típico de um grupo de pessoas, fundamentado em comportamentos apreendidos e transmitidos de geração a geração, por meio da língua e do convívio social.

O primeiro capítulo do livro explana sobre a relação entre “Antropologia, questão ambiental e cultura”, trazendo algumas considerações relacionadas com as potencialidades da antropologia enquanto ciência da cultura. Waldman detalha o debate a respeito das possíveis contribuições da antropologia e sua particularidade diante das demais disciplinas. Para o autor, tanto a biologia quanto a geografia desconsideram a abordagem social e cultural, não as utilizando para analisar a questão ambiental.

O autor evidencia a proeminência dos estudos clássicos desenvolvidos no âmbito da antropologia relativamente às potencialidades da disciplina para o entendimento da questão ambiental. Ele aponta que uma grande produção teórica efetivou-se em termos do paradigma da oposição entre cultura e natureza, atentando para a postura do antropólogo.

No segundo capítulo, denominado “Cultura, mundo tradicional e meio ambiente”, a análise centra-se no homem tradicional e nas implicações do seu relacionamento com o meio natural. O autor deixa claro que, qualquer que seja o tipo de relacionamento estabelecido pela sociedade tradicional com o meio natural, este, no geral, mantém seus grandes ciclos em funcionamento. Ao contrário da sociedade contemporânea, o mundo da tradição pautou-se por uma convivência com a esfera do natural, e não pela sua exclusão.

No terceiro capítulo, “Temporalidade, modernidade e natureza”, visando sublinhar o que há de descontínuo nas duas grandes esferas da cultura humana que define como objeto da discussão – quais sejam, o mundo da tradição e o da modernidade -, o autor analisa as mudanças que o mundo contemporâneo instaurou na forma de compreensão do meio natural, assim como no relacionamento mantido com este. Isso sem perder de vista o mundo tradicional, cujo estranhamento conduz a se colocar em questão o que aparenta ser autenticamente novo.

Ele destaca que o tempo linear e progressivo, emanação de forças sociais que subentendiam os humanos e a natureza como elementos à disposição do progresso, excluiu todas as acepções sensíveis porventura existentes. Por isso mesmo, o homem contemporâneo está em conflito permanente com o outro de si mesmo, visto como uma espécie de intruso alojado no seu interior, um “invasor de corpo”, preocupado em devorá-lo por dentro e, quem sabe, assumir de vez sua corporalidade. Separado física e psiquicamente dos seus semelhantes, fica comprometido para o homem moderno qualquer vínculo duradouro e sincero do indivíduo com o coletivo e com o espaço público.

Até o quarto capítulo, “Antropologia, humanidade e questão ambiental”, o autor percorre um caminho que conduz o leitor desde os tempos mais remotos até as cintilantes metrópoles da modernidade. Nesse momento, Maurício Waldman traça alternativas, propõe enfoques e costura proposições referentes ao tema primordial. Conclui, nesta parte, que a diversidade cultural não pode estar dissociada da diversidade biológica, sendo redobrado o interesse pela perpetuação dos estilos de vida que se mantiveram regrados pela tradição.

A partir da análise construída por Waldman, ressalta-se que o conceito de cultura, além de materializar-se como um instrumental de indispensável importância para a análise das sociedades tradicionais, mantém, de igual modo, seu vigor operatório e sua eficácia na avaliação do dinamismo cultural contemporâneo. A cultura perpassa por todo um rol de comportamentos relacionados com o meio ambiente e, na ausência dessa perspectiva, necessariamente qualquer avaliação estaria prejudicada na sua fundamentação, nas suas propostas e nas suas conclusões.

Na “Conclusão”, o autor ressalta que o esforço de sua análise foi muito mais direcionado para construir uma perspectiva de avaliação, ao invés de pensar sobre formas de gestão, atividades gerais ou aplicadas da disciplina. Por outro lado, argumenta que essa opção em nada seria impeditiva da indicação de problemáticas com as quais a antropologia pode, com toda distinção possível, prontificar-se a destinar sua contribuição no que se refere à questão ambiental.

Para tanto, ao longo do texto, Waldman dialoga com diversos autores, entre eles François Laplantine (1988), “Aprender antropologia”, Edward Evans-Pritchard (1978), “Os Nuer: uma descrição do modo de subsistência e das instituições de um povo nilota”, e Walter Neves (1996), “Antropologia ecológica: um olhar materialista sobre as sociedades humanas”, para argumentar e refletir sobre a relação da antropologia com o meio ambiente. Ele apresenta uma abordagem educativa interdisciplinar por meio de duas áreas, meio ambiente e antropologia, transformando-as em uma antropologia ambiental, empenhada em revelar o caráter transformador do homem em sociedade diante do ambiente natural, instigado particularmente pela dimensão da cultura, da sociedade e das suas dinâmicas.

A antropologia, tendo por objetivo estudar a mais vasta gama possível da diversidade humana nos modos de vida, nas formas de organização social, nos comportamentos e nas crenças, foi levada a privilegiar a observação das sociedades que permanecem (ou que permaneceram) fora do quadro unificador, representado pela civilização técnica e científica corporificada no Ocidente moderno. Dessa forma, estudos antropológicos privilegiam permanentemente a periferia do sistema dominante.

Segundo o autor, é justamente nos marcos da modernidade que os problemas ecológicos se especificaram na sua plenitude. Dessa forma, esclarecer e discutir as perspectivas da antropologia, enquanto disciplina, para com este mesmo mundo moderno abre caminhos para evidenciar o alcance das possíveis contribuições, assim como da eficácia operacional das abordagens que agitam o interior do seu campo teórico.

A capacitação da antropologia em identificar opções diversas das que regram o mundo moderno pode, de igual modo, prontificar-se para consolidar propostas alternativas aos desafios criados ao longo do processo de expansão da civilização ocidental, entre esses evidentemente os de ordem ambiental.

Waldman discute os conceitos de cultura e de natureza, além de reforçar a importância da diferença entre etnografia e etnologia. Afirma que a antropologia cultural teve sua consolidação enormemente apoiada no paradigma da oposição entre cultura e natureza.

Outro argumento do autor é que o leque de consequências da modernidade possui rebatimentos inquestionáveis no relacionamento com o meio natural. Basicamente em razão de que, com a modernidade, o fruir do tempo se materializa a partir de uma sobreposição globalmente desarmoniosa para com o tempo da natureza, o dos homens e com todos os demais tempos sociais, entendidos como obstáculos à implantação dos ritmos e das sequências da temporalidade moderna.

O autor destaca que o conceito de meio ambiente diz respeito aos elementos habilitados a influenciarem o dinamismo social, a repercussão das intervenções culturais e o conjunto das condições que permitem o estabelecimento e a reprodução da vida humana. Assim, ele propõe a construção de uma antropologia ambiental, preocupada em identificar os vínculos indissociáveis que a crise do meio ambiente sustenta com o padrão civilizatório, que é origem da sua manifestação. Tanto no passado do homem quanto nos dias de hoje, a questão ambiental relaciona-se sumamente com um sistema de poder econômico, social, político e ideológico, não podendo ser aquilatada na sua devida extensão na ausência desses referenciais.

Este ensaio, ao mesmo tempo desafiador e aberto aos questionamentos, apresenta a importância de abordar diálogos entre duas áreas abrangentes, como meio ambiente e antropologia, reforçando a possibilidade e a necessidade do trabalho interdisciplinar, com o intuito de minimizar os problemas ambientais causados pelo homem. O autor manifesta nas entrelinhas sua esperança e expectativas de que a humanidade consiga construir um oikos comum a todas as pessoas, um mundo socialmente justo e ecologicamente responsável, no qual o homem não mais permaneça artificialmente dividido e encontre-se na sua totalidade.

Referências

EVANS-PRITCHARD, Edward E. Os Nuer: uma descrição do modo de subsistência e das instituições de um povo nilota. São Paulo: Perspectiva, 1978. (Coleção Estudos, n. 53).         [ Links ]

LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1988.         [ Links ]

NEVES, Walter. Antropologia ecológica: um olhar materialista sobre as sociedades humanas. São Paulo: Cortez, 1996. (Coleção Questões da Nossa Época, v. 59).         [ Links ]

Michelle Gomes Lelis – Universidade Federal de Viçosa. E-mail: michelle.lelis@ufv.br

José Ambrósio Ferreira Neto – Universidade Federal de Viçosa. E-mail: ambrosio@ufv.br

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[MLPDB]

 

Monções | UFGD | 2012

Moncoes Interdisciplinaridade

A revista eletrônica Monções – Revista de Relações Internacionais da UFGD (Dourados, 2012-) tem por objetivo contribuir para o desenvolvimento das Relações Internacionais e seus campos afins a partir da publicação de artigos inéditos submetidos por pós-graduandos ou pós-graduados.

O público alvo da Monções são pesquisadores, acadêmicos e público interessado nas áreas de Política Externas, Política Internacional, Integração Regional, Economia Internacional, Teoria das Relações Internacionais, História das Relações Internacionais, Organizações Internacionais, Meio Ambiente, Direitos Humanos, Direito Internacional e Dinâmicas da Fronteira, entre outras.

Periodicidade semestral.

Acesso livre.

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Desenvolvimento, justiça e meio ambiente | José Augusto de Pádua

O livro Desenvolvimento, justiça e meio ambiente, concebido sob a orientação de Eliezer Batista e do professor Ignacy Sachs, é parte da coleção Humanitas, da Editora UFMG, e foi organizado por José Augusto Pádua, doutor em Ciências Políticas pelo Iuperj e professor de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde coordena o Laboratório de História e Ecologia. Pádua é ainda autor de O que é ecologia e Ecologia política no Brasil, e de vários artigos em livros, periódicos científicos, revistas e jornais publicados no Brasil e no exterior.

O livro reúne dez artigos de autores de diversas áreas do conhecimento – Economia, Direito, Arquitetura, Pedagogia, Relações Internacionais, Filosofia e Ciências Políticas. Entre os autores, há professores universitários, gestores públicos e diplomatas, além de uma promotora de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e um ativista, sócios do Instituto Socioambiental (ISA). A variedade de perspectivas se adéqua bem ao eixo central do livro – desenvolvimento e sustentabilidade social e ambiental –, que convida a um olhar trans, multi e interdisciplinar e interessa ao conjunto da sociedade, não apenas a uma ou outra especialidade. Esse olhar se reflete no estilo dos artigos, que podem ser compreendidos por qualquer leitor leigo. Leia Mais

Proteção à natureza e identidade nacional no Brasil – FRANCO (VH)

FRANCO, José Luiz de Andrade; DRUMMOND, José Augusto. Proteção à natureza e identidade nacional no Brasil, anos 1920-1940. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2009, 272 p. Resenha de: MENARIN, Carlos Alberto. Varia História. Belo Horizonte, v. 26, no. 43, Jun. 2010.

A proteção ao meio ambiente é dos temas mais atuais. Diariamente são veiculadas pelos meios de comunicação notícias relacionadas à degradação ambiental registradas em regiões e cidades do Brasil e no mundo. Desde a década de 1980 vemos um número crescente de ONGs propondo ações para amenizar tais impactos sobre populações e ambientes. Numa leitura apressada poderíamos reduzir essa questão ao descaso dos Estados. Entretanto, se a atuação dos governos tem deixado a desejar, vale lembrar que no Brasil, o Estado tem sido o principal indutor de políticas de proteção a natureza. Portanto, torna-se importante compreender a atuação desse Estado frente a essa questão ao longo do tempo.

O objetivo do livro Proteção à Natureza e Identidade Nacional no Brasil, anos 1920-1940, (2009) de José Luiz de Andrade Franco e José Augusto Drummond, é analisar a atuação de um grupo de cientistas preocupado com a proteção da natureza no Brasil da primeira metade do século XX, os quais tiveram papel importante na elaboração dos primeiros textos normativos sobre essa questão. Se a atuação do Estado não é o foco da obra, sua importância está presente em todo o volume, da incorporação das discussões e implementação dos códigos e leis às contingências impostas pelos interesses privados quanto à exploração dos recursos naturais. Sob essa perspectiva, sem dúvida, o livro oferece um rico debate sobre a constituição do campo de políticas públicas voltadas à proteção da natureza no país.

Com um texto de agradável leitura, articulado com fartas e longas citações das obras dos cientistas analisados, o livro se presta tanto ao público especializado quanto aos interessados de modo geral sobre o tema. O cerne da obra é fruto da pesquisa de doutoramento em História, realizado por Franco na UnB. Parte do conteúdo foi apresentado em forma de artigos em revistas acadêmicas, como Vária História, (n.26, jan.2002 e n.33, jan. 2005), Textos de História (v.12, n.1 e 2, 2004), revista Ambiente e Sociedade (v.08, n.01, 2005), História, Ciências, Saúde – Manguinhos (v.12, n.03, 2005 e v.14, n.04, 2007), dentre outras, já contando com a parceria de Drummond. Desse período de “maturação” eis que emerge uma obra coesa e vigorosa na análise e interpretação que propõe.

O grupo de cientistas e intelectuais estudado pelos autores era constituído pelo botânico Alberto José Sampaio, o jornalista e artista plástico Armando de Magalhães Correa, o zoólogo Candido de Mello Leitão – todos tiveram passagem como professores no Museu Nacional do Rio de Janeiro – e Frederico Carlos Hoehne, que, inicialmente prestando serviços como jardineiro naquele Museu, autodidata em botânica, chegou a acompanhar a Comissão Rondon pelo Brasil. Hoehne, posteriormente fixou residência em São Paulo participando na criação do Instituto de Botânica e do Jardim Botânico. Embora houvesse particularidades quanto às concepções de proteção à natureza entre esses cientistas, um traço que lhes garantiu certa coesão dizia respeito à necessidade de construção de um Estado nacional forte e de uma identidade nacional.

O livro proporciona um instigante passeio pela história da emergência de áreas protegidas, como os Parques Nacionais, em diversas partes do mundo. No índice remissivo presente ao final do volume, temos acesso às diversas instituições, temas, personagens e ao grande número de conferências internacionais ocorridas de fins do século XIX até a primeira metade do século XX; pouco conhecidas e estudadas, constituindo relevante entrada para análise das diversas concepções sobre a proteção à natureza em voga naquele período.

Ressalta-se dessa obra, além da recuperação e exame crítico das discussões e projetos de proteção à natureza do referido grupo de cientistas, a importância de instituições como o Museu Nacional do Rio de Janeiro. Um espaço de articulação e atuação desses intelectuais na promoção e difusão de pesquisas, capaz de influenciar setores da burocracia varguista sobre a proteção do patrimônio natural, bem como oferecendo apoio e infra-estrutura para a realização da Primeira Conferência Brasileira de Proteção à Natureza, realizada entre os dias 08 e 15 de abril de 1934. Na análise desse evento, Franco e Drummond identificaram duas formas de valorização da natureza que o permearam: o mundo natural como recurso econômico a ser usufruído racionalmente e o seu culto e fruição estética.

Essa análise permitiu aos autores apresentarem de forma abrangente o contexto de circulação de idéias sobre a proteção à natureza, os debates entre “preservacionistas” e “conservacionistas” e a ressonância das diversas conferências, reuniões e encontros internacionais realizados no período e a prática de criação de Parques Nacionais, inspirados no modelo norte americano de Yellowstone (1872). Perceberam que, no Brasil, as discussões entre as concepções de preservação e conservação apareciam de maneira “intercambiáveis”.

Não circunscrito ao grupo analisado, mas partindo dele, Franco e Drummond, estabelecem ligações com instituições e cientistas de outros países e mesmo de período anterior, mostrando como circulavam idéias e concepções de proteção à natureza. O livro apresenta quão relevante foi para o referido grupo, a recuperação do pensamento de Alberto Torres como matriz teórica para pensar a proteção à natureza naquele momento, concebendo-a como bem nacional, e, para protegê-la, a importância de atrelá-la, tanto do ponto de vista científico, como de divulgação, com o processo de construção de uma identidade comum.

Com argúcia e sutileza, os autores perscrutaram o pensamento desse grupo de intelectuais que vinculava preocupações de proteção à natureza e o estabelecimento de reservas naturais a um projeto de construção da nacionalidade, alcançando espaço nas instâncias deliberativas do governo Vargas, mostrando-se, ainda, em sintonia com as discussões, idéias e práticas que vigoravam nos demais países quanto à proteção da natureza.

Outras instituições como o Museu Paulista, a Comissão Geográfica e Geológica e sua seção de Botânica, instalada na Serra da Cantareira, tiveram atuação destacada no Estado de São Paulo. Mesmo com a presença estrangeira característica no âmbito dessas instituições, o brasileiro Edmundo Navarro de Andrade teve atuação relevante, contando com o aval do governo para empreender ações e agindo com cautela para não contrariar os interesses dos grandes proprietários de terras. Traço que revela a importância da compreensão das relações entre as políticas públicas e os interesses privados.

Nesse sentido, é significativo o aspecto apontado por Warren Dean, citado pelos autores, de que muitos funcionários públicos, entravam em conflito com o próprio governo que os empregava “dominados como eram pelos grandes proprietários de terra, cujas premências especulativas, técnicas destrutivas de manejo e zelo por seus direitos de propriedade iriam constituir barreiras à implementação de políticas conservacionistas”. Ou seja, um componente imprescindível que deve ser considerado para compreendermos o processo de formulação, a abrangência e os limites das políticas de proteção ambiental e as relações de poder regidas a partir de interesses privados.

Ao alargarmos um pouco os horizontes dessa obra, chegaríamos á geração de 1830-1870 que teve o romantismo como base para construção de uma idéia de nação e buscou estabelecer os aspectos que caracterizariam o Brasil, dos quais se destacou a singularidade da natureza, processo argutamente analisado por Bernardo Ricupero. Ou o trabalho da historiadora Cláudia Heynemann, sobre a região que viria a ser a Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, colocando em evidência o papel da natureza no processo de constituição de um ideal de civilização almejado pela classe dirigente imperial. Com o reflorestamento de tal área, a partir de 1861, a elite política refletia sua proposta de organização do Estado Imperial a partir do ordenamento da natureza.

O grupo estudado por Franco e Drummond se inseriu no contexto político intelectual da época, tendo o seu relativo alcance dado pelo fato de terem relacionado proteção à natureza com a questão da identidade nacional, além de demonstrarem uma sensibilidade romântica em relação ao mundo natural. Nesse aspecto, a análise empreendida por Ricupero poderia dar maior profundidade a essa constatação. Não se trata de precisar e afirmar a valorização da natureza no pensamento romântico do século XIX, mas de problematizar essa sensibilidade como objeto de intervenção política; a classe dirigente imperial, a partir de um programa orientado para produção de obras literárias e historiográficas que dessem conta da articulação dos elementos considerados constituintes da identidade nacional, empreendia um projeto político de afirmação do poder e de construção do Estado nacional. De certa forma, esse projeto político da classe dirigente do Segundo Reinado tornou-se hegemônico, e em grande medida, a concepção de natureza como elemento característico da nação brasileira utilizada pelos cientistas e intelectuais do início do século XX, emerge desse projeto.

O Epílogo “A incompatibilidade entre o desenvolvimento e o uso racional dos recursos naturais” reafirma a importância da obra e dá o tom de intervenção crítica sobre a realidade atual, ao apontar os motivos pelos quais foram pontuais os efeitos dos regulamentos editados nos anos de 1930, dado, sobretudo, pela prevalência do “desenvolvimentismo, como ideologia que galvanizou todos os componentes do espectro político e todos os grupos sociais”. Ideal que ainda apresenta grande vitalidade no discurso político contemporâneo.

A periodização trabalhada pelos autores definiu-se por um momento de reorganização do Estado brasileiro, em busca de eliminar as instituições herdadas da Primeira República, inspiradas no liberalismo, impondo a intervenção de um Estado forte. Questão que, na atualidade, reveste-se de significativa importância, dada a ascensão da política neoliberal no Brasil dos anos de 1990 em diante, e a conjuntura daí decorrente, onde se impõe para o novo século a compreensão dos papéis desse Estado, particularmente, frente à proteção ambiental e exploração dos recursos naturais. Ou seja, a leitura de Proteção à Natureza e Identidade Nacional no Brasil, anos 1920-1940, nos dá o alento necessário para continuarmos pensando alternativas para o modelo político-econômico vigente, ainda calcado no ideal desenvolvimentista excludente e dilapidador do patrimônio ambiental do país.

2 Cf. HEYNEMANN, Claudia. Floresta da Tijuca: natureza e civilização no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura/Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural/Divisão de Editoração, 1995.

Carlos Alberto Menarin – M stre e Doutorando em História Faculdade de Ciências e Letras – UNESP Av. Dom Antonio, 2.100 – Parque Universitário. Assis – São Paulo – 19806-205. menarin@bol.com.brcmenarin@gmail.com.

A água, a lei, a política…e o meio ambiente | Christian Guy Caubet

Em um país com a riqueza natural do Brasil, a publicação de obras relacionadas à sua proteção e utilização deveria ser sempre cercada de interesse por parte da mídia, da comunidade acadêmica e das pessoas que têm responsabilidades na área de meio ambiente e desenvolvimento. Infelizmente ainda estamos longe dessa situação, mas a publicação do livro A água, a lei, a política…e o meio ambiente, do professor Christian Guy Caubet, da Universidade Federal de Santa Catarina, nos dá motivos para sermos otimistas sobre as reflexões a respeito da importância estratégica dos recursos naturais e da sua conservação e usos sustentável no Brasil. Aqui, a discussão sobre o meio ambiente tem historicamente ecoado preocupações e conceitos forâneos. A globalização e a velocidade do fluxo das informações com o advento da internet induzem a uma incorporação, às vezes a crítica, de idéias, valores e propostas que desconhecem a realidade e os desafios do Brasil.

No caso dos recursos hídricos, estar atento ao que eles representam para o desenvolvimento brasileiro é muito importante. Segundo o Plano Nacional de Recursos Hídricos, “cerca de 13,7% do total mundial de água doce estão disponíveis no Brasil, tornando-o, em termos quantitativos, um dos mais ricos em água doce no mundo.”1 Leia Mais

El Mundo Andino. Población, Medio Ambiente y Economía – MURRA (C-RAC)

MURRA, John V. El Mundo Andino. Población, Medio Ambiente y Economía. Lima: Fondo Editorial Pontificia Universidad Católica del Perú e Instituto de Estudios Peruanos IEP, 2002, 511p. Resenha de: PETERS, Ann; SANTORO, Calogero.  Chungara – Revista de Antropología Chilena, Arica, v.36 n.1, p. 241-245, ene., 2004.

Comentado por Ann Peters*

Esta nueva edición de los ensayos principales de John Murra, publicada por el Instituto de Estudios Peruanos en conjunto con la Pontificia Universidad Católica del Perú, es un tesoro. No solamente porque reúne su obra en una forma hermosa, duradera y legible, sino porque nunca antes se ha podido apreciar bien la dialéctica de su desarrollo a través de cincuenta años de investigación.

Murra nunca ha tenido paciencia por quienes toman su planteamiento, por ejemplo, acerca del manejo Inka de poblaciones mitimaes o acerca de la estrategia productiva del “archipiélago vertical”, para criticarlo, al demostrar que el modelo publicado no encuadra precisamente con los detalles de un nuevo caso. Cada planteamiento, modelo o corrección del modelo en la obra de Murra, surge del encuentro con un conjunto específico de textos y evidencias. Habrá que esperar siempre, al encontrar un nuevo texto o al estudiar la historia de otro lugar, un planteamiento modificado acerca de la organización social andina. Este principio de la especificidad de cada análisis es básico al estudio “sustantivo” de formaciones económicas particulares a cada tiempo, lugar y sociedad. Por lo mismo, los trabajos de Murra se consideran entre los más contundentes de la escuela de Karl Polanyi. Al repasar los trabajos reunidos en El Mundo Andino, es notorio el constante proceso de considerar nuevas evidencias en que Murra prueba y modifica sus conceptos acerca de la sociedad Inka y las sociedades andinas.

Cuando quise seguir antropología al nivel de posgrado, vivía en Lima. Estaba estudiando español, arqueología y métodos de investigación textil. Para mis amigos, en su mayoría estudiantes de San Marcos, solamente había un antropólogo en Norteamérica que valía la pena. Sus trabajos sobre la historia Inka tuvieron relevancia tanto para los etnógrafos como para los arqueólogos, tanto para quienes profundizaron en aspectos ideológicos como para los que buscaban entender las relaciones económicas andinas. Y era de los pocos investigadores extranjeros que publicaban sus análisis en la letra chica y papel gris entonces accesibles a los estudiosos en el Perú.

Así fue que postulé a ser estudiante de John Murra. Al escuchar su conferencia pública en Lima en 1980 y las discusiones apasionadas que siguieron después, me sentí contenta con ese compromiso. Al llegar a Cornell, supe recién de su origen rumano, emigrante joven a Chicago, y voluntario en la guerra civil española. Supe que vivió lo duro y contradictorio de las Brigadas Internacionales, así como la persecución anticomunista en EE.UU. Aunque aquellas experiencias lo marcaron en personalidad y en perspectiva, el factor más importante en su práctica como investigador y como profesor era su compromiso apasionado con “lo andino”.

En sus clases, nos introdujo al gremio de andinistas, por referir a todos los últimos estudios como si nosotros, por supuesto, hubiésemos ya leído todo. “Como recordarán, por lo que nos dice Olivia…”, declaró Murra, y nosotros fuimos buscando entre revistas y libros (aún no existía internet) para saber de Olivia Harris y de sus trabajos entre los Laymi de Bolivia, publicados en Bolivia o en Francia. Coleccionamos grises fotocopias, entre ellos los ensayos que el mismo Murra había publicado en fuentes diversas, casi todos en los países andinos y casi todos en español.

Para mi trabajo final de su clase de etnohistoria andina, Murra me hizo un tremendo favor. Me pasó las fotocopias de sus fichas originales de todas las fuentes históricas en las cuales basó el capítulo de su tesis doctoral acerca del tejido en el estado Inka, con la sugerencia que yo las usara para escribir sobre otro aspecto o argumento distinto de lo que él había desarrollado. Entusiasmada, empecé la tarea. Descubrí que no pude encontrar ningún aspecto de las fuentes que había quedado fuera de su discusión, ni argumento bien fundado por una conclusión distinta. El análisis de la tesis de Murra corresponde nítidamente a las fuentes existentes en el momento que él la escribió. Sentí su favor como una trampa y me avergoncé del ensayo poco novedoso que pude escribir para la clase. Me costó un tiempo darme cuenta que él, en ese momento, me dio la oportunidad de aprender la base de su método y el principio de su trabajo meticuloso de incorporar cada dato, y visión realmente nueva al esfuerzo constantemente renovado y renovador de comprender el mundo andino.

Comentado por Calogero M. Santoro*

El Mundo Andino, Población, Medio Ambiente y Economía, de John V. Murra, es una obra largamente esperada por el propio autor, quien por varios años trabajó junto a Franklin Pease, para conseguir una edición corregida y aumentada del libro Formaciones Económicas y Políticas del Mundo Andino, que se publicó, igualmente, en el IEP (Matos 1975Murra 1975Pease 1975). Esta edición, sin embargo, se debe al esfuerzo final de Mariana Mould de Pease, Carlos Contreras, director de publicaciones del mencionado Instituto y Heather Lechtman (presidenta del Instituto de Investigaciones Andinas de New York; Mould de Pease 2003:17).

El libro Formaciones fue comentado por Jorge Hidalgo (1975) en el volumen 5 de Chungara, lo que hace propicio reseñar esta nueva versión ampliada y actualizada del libro, publicado por el Fondo Editorial de la Pontificia Universidad Católica del Perú y el Instituto de Estudios Peruanos. John Murra ha acompañado a esta revista desde sus comienzos y ha sido un visitante permanente de este rincón de la costa centro sur de los Andes, donde hasta hace poco tiempo tuvo la ilusión de establecer un refugio temporal, en un esquema de “verticalidad transcontinental”. En cualquier caso, su presencia en Arica y, en particular, en el Departamento de Arqueología y Museología en San Miguel de Azapa, fue siempre un encuentro estimulante. A través de este comentario, quiero agradecer al autor por el envío de un ejemplar del libro desde su departamento del tercer piso de un edificio en la calle Bufallo en Ithaca, New York, hace menos de un año.

Esta obra representa uno de los pilares más importantes para los estudios de la organización económica, social y política andina y por esta razón: “Murra es reconocido como uno de los etnohistoriadores más importantes, quien iniciara una `una nueva era’ en el estudio de los incas” (Pärssinen 2003:29). Murra prefiere hablar de historia andina lo que define como “una disciplina que trata de juntar en una misma actividad tanto el logro precolombino, a través de la arqueología, la lingüística y la etnografía, en estrecha colaboración con el estudio de los textos escritos durante los siglos coloniales” (Murra 2002:438).

La preocupación por las instituciones sociales andinas se perfila en el autor, desde los años cuarenta cuando trabajaba en su tesis doctoral. Durante este período reconoce la influencia de la etnología de grupos africanos como los barotse (estudiados por Gluckman) cuyo manejo social de excedentes de producción se corresponden con el concepto de “redistribución” de Polanyi. En este marco Murra define una de las instituciones que caracterizan el sistema político-económico andino, la m’ita (Murra 1978:11-12) y el fenómeno de la redistribución a nivel del estado Inka, que explica el bienestar social destacado por los cronistas y que atribuyeron a señores generosos preocupados de todos los miembros de la comunidad. La propuesta de Polanyi (1957) de una antropología económica se cruza con el empeño de Murra de desarrollar la “táctica” de la etnohistoria para tratar de entender la organización económica del estado Inka, plasmado primero en su tesis doctoral, defendida en el año 1955, publicada en inglés el año 1980 y en castellano el año 1978.

En el libro Formaciones se compilaron doce ensayos publicados entre 1958 y 1973, en diferentes revistas, o leídas en distantes reuniones antropológicas, tanto en inglés como en español, pero tienen como hilo conductor la preocupación “por comprender la organización económica y política del Tawantinsuyu” (Murra 1975:19). Esta nueva compilación es mucho más contundente, puesto que encierra un total de 26 obras escritas y publicadas entre 1958 y 1998, donde más de una tercera parte se escribió con posterioridad al año 1975. Además tres de los artículos de la edición del año 1975 fueron revisados por el autor. Por lo tanto se trata de una obra renovada que revitaliza su vigor intelectual original.

El “Mundo Andino”, consecuentemente, mantiene una tremenda coherencia interna, puesto que profundiza en la línea argumental desarrollada por el autor, definida en el título del primer libro, vale decir, las formas de organización económica y política propias de los Andes. Instituciones sociales que permitieron el funcionamiento del macrosistema del Tawantinsuyu que integraba importantes soportes tecnológicos para el manejo de la agricultura, los metales, la textilería y todo un sistema de organización social que articuló el trabajo productivo, con el fin de obtener las rentas necesarias para mantener la operación del estado. En esta oportunidad Murra no agregó un nuevo prólogo y deja que los lectores descubran los avances de los años posteriores a 1975.

Los 26 artículos se separan en ocho capítulos, referido el primero a poner de relieve las primeras impresiones de los conquistadores europeos, sorprendidos y admirados por los logros andinos, que grafica con la expresión “nos hazen mucha ventaja”, atribuida a Pedro Cieza de León (Murra 2002:32). Con estos términos titula el artículo de apertura de la obra. Murra ha insistido en esta y otras circunstancias que la búsqueda y estudio de los primeros documentos generados por la administración europea es clave para mejorar la comprensión acerca de la historia andina (ver Pärssinen 2003:29, quien reconoce la influencia de Murra en esta materia). El segundo capítulo encierra tres artículos dedicados al sistema de organización política del estado Inka, sus estrategias de expansión y funcionamiento. Destaca los principios fundamentales de la mit’a, un sistema que, aunque tiene parangones en otros estados preindus-triales, como se menciona anteriormente, Murra la define como una institución típicamente andina y un factor clave en la operación del estado, lo que ha sido reconocido por varios autores (D’Altroy 1992:10Morris y Thompson 1985:93-95Moseley 1992:67-69). El sistema no impuso impuestos en especie a los comuneros como ocurre en otros estados preindustriales. Éstos debieron entregar, en cambio, una cuota de fuerza de trabajo que el Estado utilizaba para obtener “las rentas públicas que permitieran la existencia del ejército, la burocracia, una corte y demás funciones estatales” (Murra 2002:153).

El tercer capítulo encierra tres artículos relacionados con el modelo de verticalidad desde su versión clásica publicada en 1972 (Murra 1972) y sus propias reconsideraciones para darle un contexto geográfico más limitado al modelo original. El modelo evidentemente ha influido fuertemente en las interpretaciones arqueológicas de los Andes del sur (ver, por ejemplo, Covey 2000Santoro et al. 2003msSchiappacasse et al. 1989Stanish 1992), como así también estudios etnohistóricos provinciales (Durston e Hidalgo 1997Hidalgo y Durston 1998). En particular, estudios arqueológicos realizados en el valle de Lluta permiten sostener un posible caso de verticalidad manejado por poblaciones de los valles costeros asimilable al “tercer caso: etnias pequeñas, con núcleos en la costa central” (Murra 2002:101Santoro et al. 2003ms).

El cuarto capítulo encierra tres artículos destinados a describir la función política, económica e ideológica de la producción, distribución e intercambio de sistemas de producción agrícola relacionada con tubérculos y maíz, la producción de tejidos y tráfico del mullu. El sistema de producción de tubérculos, realizado en el ámbito de las propias comunidades y orientado básicamente a la subsistencia, se contrapone al sistema de producción del maíz que cumplió funciones principalmente ceremoniales. Estos dos sistemas no habrían alcanzado a integrarse en un sistema único estatal al ser interrumpido el proceso por la invasión europea (Murra 2002:151-152). Después de la producción agrícola, la segunda mayor preocupación del estado fue la producción textil a través, igualmente, de la mit’a. Los tejidos fueron un elemento clave en la reproducción de la vida cotidiana como así también en ceremonias funerarias y en ropajes vinculados a personajes del aparato religioso y gobernante Inka. El Estado necesitaba de gran cantidad de tejidos para funciones políticas e ideológicas, por lo que mantenía reservas de lana, derivadas de hatos de camélidos controlados por el Estado, que proveían a las tejedoras de cada comunidad. Los kurakas locales habrían jugado un rol fundamental en la producción textil, lo que les habría permitido adquirir ciertos privilegios en el proceso de la redistribución y reciprocidad involucrados en este circuito productivo estatal. El último artículo de este capítulo esta dedicado al tráfico del mullu desde la costa sur del Ecuador. El mullu tiene una gran demanda ritual al considerarse alimento de los dioses. Además, fue un elemento clave en ceremonias para la lluvia, en comunidades que dependían fuertemente de la agricultura, en los Andes centrales. Este capítulo deja abiertas una serie de preguntas con desafíos importantes hacia la arqueología, para encontrar no sólo las huellas de los que procesaban las conchas en la costa de Ecuador, sino también obtener ciertos indicios respecto de los clientes que demandaban estas conchas (Murra 2002:173).

El capítulo quinto integra tres artículos sobre autoridades étnicas tradicionales, referidos a las estructuras políticas anteriores al Inka. Se trata de grupos étnicos como los lupaca que representan uno de los ejemplos clásicos del sistema de manejo espacial andino, en su relación con el Estado. Se trata de casos donde los documentos muestran procesos dinámicos de cambio antes, durante y después de los Inka. Como en los capítulos anteriores, Murra tiene una serie de preguntas para la arqueología, como la relación entre los reinos lacustres y el Tawantinsuyu, cuestión que ha sido revisada por varios autores (Covey 2000Pärssinen y Siiriäinen 1997Stanish 1992, 1997).

El sexto capítulo encierra la mayor cantidad de artículos vinculados con la organización económica andina. Seis de los nueve artículos fueron publicados el año 1975. Destaca en la nueva versión la profundización en el tema de la mit’a (Murra 1983), una de las instituciones que distinguen el sistema político-económico andino y traspasa gran parte del análisis de los distintos aspectos de la organización del Estado. La discusión se centra en la ausencia de tributo y mercado en los Andes, rasgo consustancial a otras formaciones estatales de América y otros continentes. La búsqueda de Murra por descubrir las particularidades del sistema se cruza con los conceptos de redistribución y reciprocidad propuestos por Polanyi (1968 [1944] citado por van Buren 1998:340Polanyi 1957).

Tanto en sus escritos y presentaciones orales, Murra ha insistido en que no se puede entender el sistema andino con los principios de la economía capitalista. La búsqueda por identificar diferencias fundamentales del sistema andino (“lo andino”; van Buren 1998:340) ha sido el foco central de sus críticos, que insisten que la preocupación por la especificidad inhibe la identificación de principios generales comunes a otros sistemas estatales. Murra insistirá en que no se pueden explicar los sistemas de organización económica a base de los principios de la economía capitalista y junto con Polanyi (1957) insistirá en la necesidad de estudiar los sistemas preca-pitalistas para entender sus principios fundamentales. El análisis de Murra, como se puede ver en casi todos los capítulos, está lejos de quedarse exclusivamente en la particularización ciega del sistema andino.

El capítulo siete contiene dos artículos dedicados a autores de época colonial, como Guamán Poma de Ayala, a quien Murra destaca como el autor que representa una visión indígena más interna del sistema. Luego está un personaje de origen español, el doctor Barros, y otros oidores o juristas, como Polo de Ondegardo y Matienzo. Murra estima que las “opiniones y gestiones pro-indígenas” del doctor Barros permiten “ampliar nuestra visión del debate que acompaña la temprana instalación colonial” (Murra 2002:426). Principalmente, porque su posición insistía en que era necesario “comprender la organización autóctona”, cuestión que desaparece con la reforma de Toledo (Murra 2002:428). El doctor Barros, dice Murra, merece la atención de los estudiosos de la historia andina, que debiera integrar a arqueólogos, lingüistas y etnógrafos.

Los dos artículos del capítulo ocho y final del libro reflejan el espíritu multidisciplinario que debieran tener los estudios andinos. En este contexto aparece la figura del ingeniero Kosok dedicado a documentar los sistemas de riego en los Andes, una de las tecnologías que sostuvieron una base económica sólida para el funcionamiento de las sociedades prehispánicas. “El estudio de la etnología contemporánea y de la lingüística debería complementarse con los resultados de las excava-ciones y con el examen crítico de las fuentes escritas.

Para ello es necesario crear equipos interdisciplinarios que integren las tres tácticas; de lo contrario, los esfuerzos aislados seguirán siendo marginales e inadecuados al gran tema del desarrollo de las civilizaciones americanas” (Murra 2002:172). La discusión final se centra en la necesidad de realizar estudios comparativos con otras sociedades de complejidad similar en otras partes del mundo, como lo sugiriera Cunow (1981, 1896 citado por Murra 2002:460). Para llegar a estas comparaciones generales, es necesario tener una comprensión equivalente de las distintas instituciones y sistema de organización política, económica e ideológica desarrollados en los Andes con una perspectiva diacrónica que integre las tácticas disciplinarias señaladas antes.

El libro está lleno de referencias complementarias referidas a la arqueología que puede entregar nexos importantes para tratar temas de continuidad y transformación social. En este contexto, cabe destacar la manera como Murra construye sus argumentos en los que integra una amplia diversidad de fuentes. Éstas no son sólo documentales, sino también literatura del ámbito arqueológico, buscando evidencias y expresiones materiales del funcionamiento de las instituciones andinas de organización social, política y económica. Sorprende su búsqueda, por ejemplo, en reportes arqueológicos del siglo XIX, para la zona de Arica (Safford 1887, citado por Murra 2002:97), la utilización de manuscritos que nunca se publicaron formalmente, reconociendo las ideas y datos de cada uno de los consultados, agregando incluso comunicaciones personales, ponencias o debates en congresos y seminarios. Este estilo tiende a desaparecer en la práctica profesional más reciente, donde la proposición de nuevos argumentos se construye a partir de señalar los vacíos o falencias de estudios previos. Esto forma parte de la lógica del método científico normativo, que no prescribe, sin embargo, que se desconozca el aporte de datos, ideas y proposiciones fundacionales de los mismos autores a los que se cita, principalmente, por sus falencias. La construcción del conocimiento se sustenta no sólo en los aciertos, sino también en los desaciertos. La literatura sobre la historia andina presenta omisiones de este tipo y afectan a Murra y otros autores que han sido fundamentales en la consolidación de la disciplina.

Agradecimientos: Proyecto Fondecyt 1030312 y a los estudiantes del seminario Complejización Social en Zonas Marginales del programa de Magíster en Antropología de la Universidad Católica del Norte y Universidad de Tarapacá, realizado entre noviembre 2003 y marzo 2004, con quienes discutimos algunos de los temas tratados en este comentario.
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Calogero M. Santoro – Centro de Investigaciones del Hombre en el Desierto, Departamento de Arqueología y Museología, Universidad de Tarapacá, Casilla 6-D, Arica, Chile. csantoro@uta.cl

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Política Internacional | UnB | 1997

RBPI Interdisciplinaridade

A Revista Brasileira de Política Internacional – RBPI (Brasília, 1997-) publica artigos sobre temas relacionados às Relações Internacionais em geral (Política, Economia, Sociologia, Segurança, História, Política Externa, Meio Ambiente e outras questões relevantes da agenda internacional contemporânea). A Revista é aberta a uma ampla variedade de tradições metodológicas.

Periodicidade semestral.

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ISSN  1983-3121 (Online)

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